Ele mesmo me contou:
- Sangraram-me os pés pelo muito que vaguei. Para trás ficaram caminhos e ilusões. Ficaram perdidos nos milênios, nos reinos, nas aldeias, albergues e mercados...
Do sangue de meus pés ficaram marcadas as pedras e a poeira. Meu rosto chorou onde passavam os porcos.
Naquelas mesmas estalagens onde, rico e forte, alegrei amigos, depois, desgraçado, passei fome, enquanto via os outros comerem.
O tinir de minhas moedas - as que me dera meu Pai - atraíra companhias prazerosas. Estas, depois, me viraram as costas, quando, em vez de moedas, lágrimas me restavam. Ficou-se somente a companhia da dor.
Dos subterrâneos de minha indigência, quase em desespero, consegui ainda ver uma luz.
Era a saudade de meu Pai. A reminiscência do Lar. Era o que Eu sou e me esquecera de ter sido.
Foi o extremo da desgraça que me descerrou os olhos, e me deixou ver novamente a luz: Convite - Esperança - Desafio - Salvação.
Revolvi-me na lama da servidão.
Rebelde e chorando, lutei.
E quantas vezes caí vencido!
E quantas vezes o charco me abraçou a convencer-me de que eu era dele!
E quantas vezes minhas feridas sangraram com o atrito das correntes!
Mas, crescia em mim o apelo da Luz, do reencontro...
As correntes já ficaram no charco.
Eu volto para onde os milênios me viram nascer.
Bendita dor que me abriu o caminho das estrelas!"
(Hermógenes - Mergulho na Paz - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 114/115)
http://www.record.com.br/livro_sinopse.asp?id_livro=15991
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