terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O FILHO PRÓDIGO

"A DOR FOI A SALVAÇÃO do filho pródigo.

Ele mesmo me contou:

- Sangraram-me os pés pelo muito que vaguei. Para trás ficaram caminhos e ilusões. Ficaram perdidos nos milênios, nos reinos, nas aldeias, albergues e mercados...

Do sangue de meus pés ficaram marcadas as pedras e a poeira. Meu rosto chorou onde passavam os porcos.

Naquelas mesmas estalagens onde, rico e forte, alegrei amigos, depois, desgraçado, passei fome, enquanto via os outros comerem.

O tinir de minhas moedas - as que me dera meu Pai - atraíra companhias prazerosas. Estas, depois, me viraram as costas, quando, em vez de moedas, lágrimas me restavam. Ficou-se somente a companhia da dor.

Dos subterrâneos de minha indigência, quase em desespero, consegui ainda ver uma luz.

Era a saudade de meu Pai. A reminiscência do Lar. Era o que Eu sou e me esquecera de ter sido.

Foi o extremo da desgraça que me descerrou os olhos, e me deixou ver novamente a luz: Convite - Esperança - Desafio - Salvação.

Revolvi-me na lama da servidão.

Rebelde e chorando, lutei.

E quantas vezes caí vencido!

E quantas vezes o charco me abraçou a convencer-me de que eu era dele! 

E quantas vezes minhas feridas sangraram com o atrito das correntes!

Mas, crescia em mim o apelo da Luz, do reencontro...

As correntes já ficaram no charco.

Eu volto para onde os milênios me viram nascer.

Bendita dor que me abriu o caminho das estrelas!"

(Hermógenes - Mergulho na Paz - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 114/115)
http://www.record.com.br/livro_sinopse.asp?id_livro=15991


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