"(...) Só há o medo total, mas como pode a
mente que pensa fragmentariamente observar esse quadro total? Pode observá-lo?
Temos levado uma vida de fragmentação e só somos capazes de olhar o medo
através do processo fragmentário do pensamento. Todo o processo do mecanismo do
pensamento é dividir tudo em fragmentos: Eu te amo e eu te odeio; tu és meu
amigo, tu és meu inimigo; minhas idiossincrasias e inclinações, meu emprego,
minha posição, meu prestígio, minha mulher, meu filho, minha pátria e tua
pátria, meu Deus e teu Deus — tudo isso é fragmentação do pensamento. E o
pensamento olha o estado atual de medo, ou tenta olhá-lo, e o reduz a
fragmentos. Vemos, por conseguinte, que a mente só pode olhar esse medo total
quando não há movimentação do pensamento.
Podeis observar o medo sem nenhuma
conclusão, sem nenhuma interferência do conhecimento que a seu respeito
acumulastes? Se não podeis, então o que estais observando é o passado e não o
medo; se podeis, nesse caso estais, pela primeira vez, observando o medo sem a
interferência do passado.
Só se pode olhar com a mente muito
quieta, assim como só se pode ouvir o que alguém está dizendo, quando a mente
não está a tagarelar, a travar consigo um diálogo a respeito de seus problemas
e ansiedades. Podeis, da mesma maneira, olhar o vosso medo, sem procurardes
dissolvê-lo, sem trazerdes à cena o seu oposto, a coragem; olhá-lo de fato, e
não tentar fugir dele?
Quando dizeis: "Eu tenho de
controlá-lo, tenho de livrar-me dele, tenho de compreendê-lo" — estais
tentando fugir dele. (...)"
(J. Krishnamurti - Liberte-se do Passado - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 24)
Nenhum comentário:
Postar um comentário