"Por que é que esbarras sem cessar contra as vidraças da janela fechada, besouro estonteado?
Não sabes que esse vidro é duro demais para teu crânio?
O que acabará em pedaços não será o vidro, mas sim tua cabeça.
Ou perecerás de fome e exaustão no peitoril da janela.
Olha para o lado? Não vês essa porta aberta de para em par?
Por que não renuncias a essa louca teimosia de querer passar onde não há passagem, e desprezas o caminho aberto?
O besouro estonteado, porém, continuou a esvoaçar furiosamente contra a vidraça da janela fechada.
Não quis saber da porta indicada por outrem - só quis saber da janela descoberta por ele mesmo.
Esse insipiente sabichão ...
Esse teimoso egoísta cerebral ...
E tanto voou, e tanto esbarrou, e tanto se cansou que, finalmente, tombou, exausto e semimorto, no peitoril da janela.
Onde agonizou por mais um dia - e morreu ...
Morreu na prisão, a dois palmos da liberdade ...
* * *
Por que tentas, minha alma, abrir o teu caminho, quando está largamente aberto o caminho dele?
Dele, que é o caminho, a verdade e a vida? ...
Nunca ninguém achou a Deus, nem nunca ninguém achará a Deus - Deus, porém, pode achar o homem, suposto que o homem seja achável ...
Torna-te achável - e Deus te achará!
Despega o olhar da janela fechada do teu pequeno Eu humano e volta-o para a porta aberta do grande Tu divino!
E deixarás a escravidão que encontraste, ganhando a liberdade que te é oferecida ...
A 'gloriosa liberdade dos filhos de Deus' ..."
(Huberto Rohden - Imperativos da vida - Alvorada Editora e Livraria Ltda., São Paulo, 1983 - p. 35/36)
Nenhum comentário:
Postar um comentário