"(...) Só quando somos capazes de ouvir a pequena voz do Espírito é que a história do passado pode desdobrar-se, porque só o Espírito pode recordar e lançar os raios da sua memória para iluminar a escuridão da efêmera natureza inferior à qual está ligado temporariamente.
Nessas condições, a memória é possível, vínculos do passado são vistos, velhos amigos são reconhecidos, antigas cenas são evocadas e uma força calma e sutil cresce, a partir da virtual experiência da imortalidade. Os transtornos presentes tornam-se leves quando vistos em suas verdadeiras proporções como acontecimentos comuns e transitórios de uma vida infinita. As alegrias presentes perdem suas cores brilhantes quando vistas como repetições de deleites passados, e ambas essas coisas são aceitas, igualmente, como experiências úteis, enriquecedoras da mente e do coração, que contribuem para o desenvolvimento da vida em expansão.
Contudo, só quando o prazer e a dor forem vistos à luz da eternidade é que o conjunto de memórias do passado poderá ser enfrentado com segurança. Quando encaradas dessa maneira, essas memórias acalmam as emoções do presente, e aquilo que de outra forma teria sido esmagador torna-se um apoio e um consolo.
Goethe regozijava-se com a ideia de que, em seu retorno à vida terrena, estaria inteiramente lavado de suas lembranças, e homens menos importantes podem ficar satisfeitos com a sabedoria que faz com que cada vida tenha início dessa maneira, enriquecida pelos resultados, mas sem carregar o peso de recordações do seu passado."
(Annie Besant - O Enigma da Vida - Ed. Pensamento)
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