OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

DE PATINHO FEIO A CISNE ENCANTADO (PARTE FINAL)

"(...) A reestruturação é algo que faz parte do cotidiano dos grandes seres. Napoleon Hill perguntou a Thomas Edison se sua surdez não lhe trazia dificuldades no seu trabalho de inventor, ao que ele respondeu 'Muito pelo contrário; a surdez me ajudou bastante. Poupou-me de ter que ouvir muitas conversas inúteis entre homens que não sabiam sobre o que estavam falando e ensinou-me a ouvir a voz interior.'

Gandhi transformou a não violência em sua arma mais poderosa. Ao propor para si mesmo e para mais de 100 milhões de seguidores que poderia vencer o maior exército da época sem usar armas, Gandhi fez uma magnífica resignificação. Ele acreditava que, quanto mais feroz fosse a agressão dos soldados ingleses, maior ainda teria de ser a capacidade de não violência do povo indiano. Com a desobediência civil e a resistência pacífica, levou a Índia a libertar-se do jugo britânico.

Ghandi convenceu seu povo de que a visão de mundo ocidental não se adaptava a realidade da Índia. Era necessário reafirmar sua própria realidade. Nas palavras de Gandhi, '...devemos reconhecer que competir com as nações ocidentais, nos termos deles, é um convite ao suicídio. Mas, se compreendermos que, apesar da aparente supremacia da violência, é a força moral que governa o universo, devemos, então, nos dedicar à não violência com uma fé total em suas possibilidades ilimitadas'.

Dependendo do contexto, o rosnado de seu cão pode significar coisas diferentes. Por exemplo, se você escuta o barulho durante o dia enquanto ele está brigando com o cão do vizinho por um pedaço de osso, você resolve facilmente o problema, dando-lhe um osso maior do que o do vizinho. Depois volta sua atenção para suas tarefas rotineiras. Mas se, no meio da madrugada, você está sozinho em casa e escuta o rosnado constante de seu cão, isso pode significar algo completamente diferente.

O mesmo ocorre com todas as nossas experiências. Elas só fazem sentido dentro de determinados contextos ou molduras. Se mudarmos a moldura, muda o significado da vivência."

(Dr. Ômar Souki - A Essência do Otimismo, Ed. Martin Claret, São Paulo, 2002 -  p. 85/87)
www.martinclaret.com.br 


terça-feira, 21 de novembro de 2017

A PERCEPÇÃO DA UNIDADE

"Como lhe será possível ir além? Vida após vida, ele aprendeu a identificar-se com o homem; vida após vida, aprendeu a responder a todo grito de dor. Pode, agora que é livre, prosseguir e deixar os outros acorrentados? Pode entrar na bem-aventurança deixando o mundo no sofrimento? Ele, a quem chamamos Mahatma, é a Alma liberta que tem o direito de prosseguir mas, em nome do Amor, regressa trazendo seu conhecimento para remediar a ignorância, sua pureza para absolver a infâmia, sua luz para afugentar a escuridão; aceita novamente o peso da matéria até que toda a humanidade seja libertada, e então prosseguirá, não sozinho, porém como o pai de uma grande família, levando com ele a humanidade para compartilhar do mesmo fim e da mesma bem-aventurança no Nirvana.

Esse é o Mahatma. Vidas sucessivas de esforço coroadas com a suprema renúncia; perfeição obtida através da luta e do trabalho, e depois o regresso para ajudar aos outros a chegarem onde ele chegou. Sua mão está pronta para ajudar a toda Alma que lhe estende as mãos à procura de ajuda. Seu coração responde à súplica de todo irmão que peça sua orientação; e eles estão lá, esperando o momento em que desejemos ser ensinados, dando-lhes a oportunidade de obter o Nirvana, ao qual renunciaram."

(Annie Besant - Os Mestres - p. 28/29)
Fonte: http://universalismoesoterico.blogspot.com.br/


segunda-feira, 20 de novembro de 2017

FRATERNIDADE (PARTE FINAL)

"(...) As explanações dadas aqui a respeito do que deve ser o discípulo, significam que ele deve ser como uma estrela que dá luz a todos sem tirá-la de ninguém; como a neve que recebe a geada e os ventos cortantes para proteger do frio as sementes que dormem na terra e permitir sua germinação quando chegar a estação do crescimento. Eis a instrução à qual os Mestres Divinos exigem obediência; eis o que eles pretendem dos homens que desejam tornar-se discípulos. Não a realização imediata, mas sim o empenho; não a perfeição imediata, mas sim o esforço; tampouco é exigida, certamente, a revelação do ideal, mas sim a luta por alcançá-lo superando fracassos e desacertos. E agora eu lhes pergunto: Acreditam que aqueles entre nós, que acatamos isto como um ideal e que reconhecemos ser uma exigência que nos é imposta por nossos Mestres, possamos prejudicar a sociedade ou que sejamos apenas os serventes da humanidade obedecendo àqueles cuja lei nos esforçamos em acatar?

Além disso, como já mencionei, vida após vida estas qualidades se desenvolvem, até chegar finalmente o momento em que as debilidades do homem tenham diminuído e as fraquezas da natureza humana tenham sido gradualmente superadas, quando haverá uma compaixão inabalável, uma pureza incorruptível, um imenso conhecimento e uma sensação de despertar espiritual; estas qualidades caracterizarão o discípulo que está se aproximando do limiar da libertação; despontará então o dia em que tiver chegado ao final do Caminho, quando o percurso estará terminado e a última possibilidade de transformar-se no Homem Perfeito surgirá diante de seus olhos. Nesse momento, a terra, tal como era concebida, passa a um segundo plano; mas ele – a Alma liberta (como é chamado), a Alma que conquistou sua liberdade, a Alma que conseguiu superar as limitações humanas – ele permanece no limiar do Nirvana, daquela consciência e bem-aventurança perfeitas que se encontram além dos horizontes do pensamento humano é das possibilidades de nossa consciência limitada. Foi dito que, enquanto ele permanece lá, há silêncio; silêncio na Natureza, pois um de seus filhos está transcendendo-a, silêncio que, por algum tempo, nada poderá perturbar, a Alma liberta conquistou sua liberdade. Finalmente, esse silêncio é quebrado por uma voz; uma voz que em uníssono representa o grito de angústia do mundo que foi deixado para trás. A súplica do mundo em sua escuridão, angústia, fome espiritual e degradação moral. Esse grito, que corta o silêncio que cercava a Alma liberta, é a súplica da raça humana à Alma que se ergueu para além de seus irmãos e encontrou a liberdade, enquanto eles permanecem acorrentados."

(Annie Besant - Os Mestres - p. 27/28)

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

O SENTIDO DA VIDA, SEGUNDO MOISÉS, BUDA, CRISTO (2ª PARTE)

"(...) Cerca de mil e quinhentos anos depois de Moisés e seiscentos anos depois de Buda apareceu o maior gênio humano sobre a face da Terra, Jesus de Nazaré, que cristalizou numa parábola esta mesma verdade: que o homem que vive e age na ilusão sobre si mesmo é um 'servo mau e preguiçoso' e perde até a sua natureza humana, ao passo que o homem que conhece e vive a verdade sobre si Mesmo é um 'servo bom e fiel', que entra no gozo da verdade Libertadora.

Esta verdade cósmica, reduzida a termos modernos, resulta nas palavras seguintes: quem pode, deve; e quem pode e deve, e não faz, cria débito – e todo o débito gera sofrimento.

Quando as eternas leis cósmicas dão a uma creatura uma potencialidade, esperam delas a atualização dessa potencialidade. Se o homem faz o que pode e deve, ele se realiza, faz a sua realização existencial; mas, quando o homem não faz o que pode e deve, sucumbe ele à sua frustração existencial.

Sendo o homem essencialmente o seu Eu racional (espiritual), ele pode e deve realizar esse Eu divino, esse seu Logos; é esta a sua realização existencial, que as leis cósmicas esperam dele. O homem é, potencialmente, o 'sopro de Deus', diz o Gênesis, que pode e deve atualizar-se na 'imagem e semelhança de Deus'; esta realização é a razão de ser da sua existência. O homem é dotado do poder do livre-arbítrio, e não há evolução sem resistência; por isto crearam as leis cósmicas no homem o ego mental, que o Gênesis chama a serpente, que deve manifestar-se e ser superado para que o homem se realize plenamente pelo poder do seu livre-arbítrio. Deus creou o homem o menos possível (sopro divino), creou o homem perfectível, para que o homem se possa crear o mais possível (imagem e semelhança de Deus) no estado do homem perfeito.

Enquanto o homem não atualizar a sua potencialidade, está ele sujeito ao sofrimento, porque não faz o que pode e deve; torna-se devedor e culpado em face das leis cósmicas. E a reação dessas leis contra o culpado é o sofrimento. 

Até hoje, quase toda a humanidade é culpada perante as leis cósmicas, porque todos os homens são realizáveis, e poucos são realizados. A humanidade sofre porque é culpada e devedora em face das eternas leis do Universo, e sofrerá sempre, enquanto não estiver quite com as leis da justiça cósmica.

Enquanto o servo não duplicar os talentos recebidos, as potencialidades que de Deus recebeu, continua ele devedor e sofredor, porque as leis cósmicas não distribuem potencialidade a esmo, mas exigem que o homem duplique por esforço próprio o que recebeu; quem apenas devolve o que recebeu é um servo mau e preguiçoso. (...)"

(Huberto Rohdem - O Homem, sua Natureza, sua Origem e sua Evolução - p. 38/39)

terça-feira, 24 de outubro de 2017

UMA TOTAL RECEPTIVIDADE

"'O Tao jamais faz qualquer coisa. Todavia, através dele todas as coisas são feitas." Esse é o significado de Sidartha tornar-se uno com o rio e Santiago com o vento do deserto. Não ação não é inércia, mas uma total receptividade àquilo que jorra da fonte através do indivíduo. É um modo de vida, não procurando coisas ou viajando para onde quer que seja, mas tornando-se uno com o todo e permitindo que a vida se expresse através de nós. 

Ramana Maharshi disse que 'não há mistério maior do que este: ficamos buscando a realidade, mas somos nós a realidade'. É por isso que a procura pelo Graal nos manterá presos a uma miragem. O conselho de Eckhart Tolle para sair dessa armadilha é o seguinte: 'Não busque tornar-se livre do desejo, nem busque a iluminação. Torne-se presente. Esteja aqui e agora, seja um observador de sua mente. Não faça citações do Budha, seja o Budha.'

Em outras palavras, nós já somos aquilo que procuramos. Temos apenas que perceber isso." 

(Christine Lowe - A miragem do Graal - Revista Sophia, Ano 2, nº 6 - p. 14)


sábado, 21 de outubro de 2017

SOBRE O MEDO (PARTE FINAL)

"(...) Ora, de que temos medo? Temos medo de um fato ou de uma ideia relativa ao fato? Temos medo da coisa, tal qual, ou temos medo daquilo que pensamos que ela é? Consideremos, por exemplo, a morte. Temos medo do fato da morte ou da ideia da morte? O fato é uma coisa e a ideia outra. Tenho medo da palavra 'morte', ou do fato em si? Porque tenho medo da palavra, da ideia, nunca chego a compreender o fato, nunca considero o fato, nunca estou em relação direta com o fato. Só quando estou em completa comunhão com o fato, não há temor. Se não estou em comunhão com o fato, há temor. E não estou em comunhão com o fato enquanto tenho uma ideia, uma opinião, uma teoria, relativamente ao fato. É necessário, portanto, que eu me esclareça bem se estou com medo da palavra, da ideia, ou do fato. Se me vejo frente a frente com o fato, nada há que compreender, nele; estou em presença do fato, e sei como proceder. Se tenho medo da palavra, devo então compreender a palavra, examinar todo o processo do qual decorre a significação da palavra, do termo. 

Por exemplo: uma pessoa teme a solidão, a dor, o sofrimento da solidão. Ora, esse medo existe porque a pessoa, em verdade, nunca encarou a solidão, nunca esteve em comunhão direta com ela. No momento em que alguém está completamente aberto para o fato da solidão, compreende o que ela é; mas se só se tem uma ideia, uma opinião a respeito do fato, baseado em conhecimento prévio, essa ideia, essa opinião, esse conhecimento prévio relativo ao fato, cria o temor. O temor, evidentemente, é produto do dar nome, do designar, do projetar um símbolo para representar o fato; isto é, o temor não é independente da palavra, do termo. 

Tenho uma reação, digamos, ligada à solidão, isto é, digo que tenho medo de ser nada. Temo o fato em si, ou esse temor é despertado por um conhecimento prévio do fato, sendo esse conhecimento a palavra, o símbolo, a imagem? Como pode haver temor em relação a um fato? Quando estou frente a frente a um fato, em comunhão direta com ele, posso olhá-lo, observá-lo, por conseguinte, não há medo deste fato. O que causa medo é minha apreensão relativamente ao fato, o que o fato possa ser ou fazer. 

Minha opinião, minha ideia, minha experiência, meu conhecimento relativo ao fato é que cria o temor. Enquanto houver verbalização do fato, que significa dar um nome ao fato e por conseguinte identificar-se com ele ou condená-lo; enquanto o pensamento estiver julgando o fato, na qualidade de observador, haverá temor. O pensamento é produto do passado, só pode existir por efeito da verbalização, dos símbolos, das imagens. Enquanto o pensamento estiver considerando ou traduzindo o fato, tem de haver temor. 

Assim, é a mente que cria o temor, sendo a mente o processo do pensar. Pensar é verbalização. Não se pode pensar sem palavras, sem símbolos, imagens. Estas imagens, que são nossos preconceitos, que é o conhecimento antecipado, as apreensões da mente, projetam-se sobre o fato, gerando o temor. Só há um estado livre de temor, quando a mente é capaz de observar o fato sem o traduzir, sem lhe dar nome, sem lhe pôr um rótulo. Isto é deveras difícil, porque os sentimentos, as reações, as ansiedades que temos, são logo identificados pela mente e ligados a uma palavra. O sentimento de ciúme é identificado por esta palavra. É possível não identificar um sentimento, olhar um sentimento sem lhe dar nome algum? E a atribuição de um nome ao sentimento, que lhe dá continuidade, que lhe dá força. No momento em que dais um nome à coisa que chamais temor, dais-lhe força. Mas se puderdes encarar o sentimento sem lhe aplicar um termo, vê-lo-eis dissipar-se. Por conseguinte, se desejamos ficar completamente livres do medo, é essencial compreendermos integralmente este processo de projetar símbolos, imagens e dar nomes aos fatos. Só pode haver libertação do temor, quando há autoconhecimento. O autoconhecimento é o começo da sabedoria, a qual é o fim do temor."

(J. Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 157/159
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sexta-feira, 20 de outubro de 2017

SOBRE O MEDO (1ª PARTE)

"PERGUNTA: Como posso livrar-me do medo, que influencia todas as minhas atividades? 

KRISHNAMURTI: Que se entende por medo? Medo de quê? Há várias qualidades do medo, e não precisamos analisar cada uma delas. Pode-se ver que o medo nasce quando é incompleta nossa compreensão da vida de relação. Não existem relações só entre pessoas, mas também entre nós e a natureza, entre nós e a propriedade, entre nós e as ideias; enquanto não forem perfeitamente compreendidas estas relações, tem de haver medo. A vida é relações. Ser é estar em relação; sem relações não há vida. Nada pode existir no isolamento; enquanto a mente estiver em busca de isolamento, tem de haver temor. O medo não é uma abstração; ele só existe em relação com alguma coisa. 

A pergunta é a seguinte: como nos libertarmos do temor? Em primeiro lugar, qualquer coisa que é dominada, tem de ser dominada de novo, repetidas vezes. Nenhum problema pode ser dominado e vencido em definitivo; pode ser compreendido, mas não dominado. São dois processos completamente diferentes e o processo de dominar conduz a maior confusão, a um medo maior. Resistir, dominar, batalhar com um problema ou erguer defesas contra ele, significa apenas criar mais conflito; ao passo que se pudermos compreender o temor, examiná-lo profundamente, passo a passo, explorar-lhe todo o conteúdo, então o medo nunca mais voltará, sob forma alguma. 

Como disse, o medo não é uma abstração; só existe em relação. Que se entende por medo? Fundamentalmente, temos medo, não é verdade? — medo de não ser, medo de não vir a ser. Ora, quando há o medo de não ser, de não progredir, ou o medo do desconhecido, da morte, pode ele ser dominado pela determinação, por uma conclusão ou escolha? Não pode, decerto. O mero recalcamento, a sublimação, ou a substituição, gera mais resistência, não é exato? Por conseguinte, o medo nunca pode ser vencido por qualquer forma de disciplina, qualquer forma de resistência. Cumpre reconhecer este fato claramente, senti-lo, experimentá-lo: o medo não pode ser dominado por forma alguma de defesa ou de resistência, nem pode haver um estado livre de temor, como resultado da busca de uma solução ou de meras explicações intelectuais ou verbais. (...)"

(J. Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 156/157
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sábado, 14 de outubro de 2017

ABANDONANDO O TEMPO PSICOLÓGICO (PARTE FINAL)

"(...) O que percebemos como futuro é uma parte intrínseca do nosso estado de consciência do momento. Se a nossa mente carrega um grande fardo do passado, vamos sentir isso. O passado se perpetua pela falta de presença. O que dá forma ao futuro é a qualidade da nossa percepção do momento presente, e o futuro, é claro, só pode ser vivenciado como presente. 

Se é a qualidade da nossa percepção neste momento que determina o futuro, então o que é que determina a qualidade da nossa consciência? O nosso grau de presença. Portanto, o único lugar onde pode ocorrer uma mudança verdadeira e onde o passado pode se dissolver é no Agora.

Talvez seja difícil reconhecer que o tempo é a causa do nosso sofrimento ou de nossos problemas. Acreditamos que eles são causados por situações específicas em nossas vidas, e, de um ponto de vista convencional, isso é uma verdade. Mas, enquanto não lidarmos com a disfunção básica da mente - o apego ao passado e ao futuro e a negação do presente -, os problemas apenas mudarão de figura.

Se todos os nossos problemas, ou causas identificadas de sofrimento ou infelicidade, fossem milagrosamente solucionadas no dia de hoje, sem que nos tornássemos mais presentes e mais conscientes, logo nos veríamos com um outro conjunto de problemas ou causas de sofrimento semelhantes, como uma sombra que nos seguisse aonde quer que fôssemos. Em última análise, o único problema é a própria mente limitada pelo tempo.

Não há salvação dentro do tempo. Você não pode se libertar no futuro.

A PRESENÇA É A CHAVE para a liberdade. Portanto, você só pode ser livre agora."

(Eckhart Tolle - Praticando o Poder do Agora - Ed. Sextante, Rio de Janeiro, 2016 - p. 35/36)


quarta-feira, 11 de outubro de 2017

TEMPO E TRANSFORMAÇÃO (PARTE FINAL)

"(...) Nosso problema é: pode um conflito, uma perturbação ser superada num período de tempo - de dias, de anos, de vidas? Que acontece quando dizeis: 'vou praticar a não violência durante certo período de tempo'? O praticar, em si mesmo, indica que estais em conflito, não é verdade? Não praticarieis se não estivésseis resistindo ao conflito; dizeis que a resistência ao conflito é necessária, para que se possa dominar o conflito, e para essa resistência necessitais de tempo. Mas a própria resistência ao conflito é ainda uma forma de conflito. Estais consumindo vossa energia resistindo ao conflito, sob a forma que chamais ambição, inveja ou violência, mas vossa mente continua em conflito, e por isso importa perceber a falsidade do processo de dependência do tempo, como meio de dominarmos a violência e de nos livrarmos daquele processo. Podeis então ser o que sois: uma perturbação psicológica, a própria violência.

Para compreender qualquer coisa, qualquer problema humano ou científico, o que é importante, o que é essencial? Ter a mente tranquila, não é verdade? — ter a mente toda aberta à compreensão. Esta não é mente exclusiva, mente que procura concentrar-se, pois isto é, também, esforço de resistência. Se desejo, na realidade, compreender uma coisa, apresenta-se logo um estado mental tranquilo. Quando desejais ouvir música, ou contemplar um quadro que amais, um quadro que apreciais, qual é o estado de vossa mente? Há imediata tranqüilidade, não há? Quando escutais música, vossa mente não está divagando em todas as direções; está escutando. Idênticamente, quando desejais compreender o conflito, já não estais na dependência do tempo, mas apenas em presença do que é, do conflito. Vem então, de pronto, a tranqüilidade, a serenidade da mente. Quando não mais dependeis do tempo como meio de transformar o que é, por verdes a falsidade desse processo, estais então frente a frente com o que é, e visto que estais interessados em compreender o que é, tendes naturalmente a mente tranquila. Nesse estado mental vigilante, e ao mesmo tempo passivo, há compreensão. Enquanto a mente está em conflito, reprovando, resistindo, condenando, não haverá compreensão. Se desejo compreender-vos, não posso condenar-vos, é claro. É essa mente quieta, essa mente tranquila, que efetua a transformação. Quando a mente já não está resistindo, evitando, rejeitando, ou reprovando o que é, mas se acha simplesmente, passivamente, vigilante, então, nessa passividade da mente vereis - se de fato examinardes o problema - vereis como vem a transformação. 

A revolução só é possível agora, e não no futuro; a regeneração é hoje, e não amanhã. Se experimentardes o que estou dizendo, vereis que há regeneração imediata, um estado novo, uma qualidade nova, porque a mente está sempre tranquila quando está interessada, quando tem o desejo ou a intenção de compreender. A dificuldade, no que respeita à maioria de nós, é que não temos a intenção de compreender, pois receamos que a compreensão produza uma ação revolucionária em nossa vida, e por isso resistimos. Está em ação o mecanismo de defesa, quando empregamos o tempo ou um ideal como meio de gradativa transformação. 

A regeneração, pois, só é possível agora, e não no futuro, não amanhã. O homem que conta com o tempo como meio de alcançar a felicidade ou de conhecer a verdade ou Deus, está simplesmente enganando a si mesmo, está vivendo na ignorância e, por conseguinte, em conflito. O homem que reconhece não ser o tempo o caminho por onde sairá de suas dificuldades e que, por conseguinte, está livre do falso, esse homem, naturalmente, tem a intenção de compreender. Sua mente, portanto, está espontaneamente tranquila, sem compulsão, sem disciplina. Quando a mente está tranquila, serena, quando não está buscando resposta ou solução alguma, quando não está resistindo nem evitando, só então pode haver regeneração, porque a mente é assim capaz de perceber o que é verdadeiro. A verdade é que liberta, não o esforço que fazemos para libertar-nos."

(J. Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 114/115
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terça-feira, 10 de outubro de 2017

TEMPO E TRANSFORMAÇÃO (1ª PARTE)

"Desejo falar um pouco a respeito do tempo, porque acredito que a riqueza, a beleza e significação daquilo que é atemporal, daquilo que é verdadeiro, só podem ser experimentadas quando compreendemos integralmente o processo do tempo. Afinal de contas, estamos buscando, cada um à sua maneira, um sentimento de felicidade, de enriquecimento. Ora, uma vida que tem significado, que tem as riquezas da verdadeira felicidade, não está em relação com o tempo. Qual o amor, essa vida é atemporal e para compreendermos o que é atemporal, não devemos considerá-lo através do tempo, porém antes, compreender o tempo. Não devemos utilizar o tempo como meio de alcançar, compreender, apreender o atemporal. No entanto, é o que estamos fazendo, na maior parte da nossa vida: consumindo tempo, procurando aprender o que é atemporal - e por isso é importante compreender o que se entende por 'tempo', pois creio que é possível ser livre do tempo. É importantíssimo compreender o tempo como um todo e não por partes.

É interessante compreender que quase toda nossa vida se consome no tempo - tempo, não no sentido de sequência cronológica de minutos, horas, dias e anos, mas no sentido de memória psicológica. Vivemos pelo tempo, somos resultado do tempo. Nossas mentes são o produto de muitos dias passados, e o presente é apenas a passagem do passado para o futuro. Nossas mentes, nossas atividades, nosso ser, fundam-se no tempo. Sem o tempo, não podemos pensar, porque o pensamento é resultado do tempo, o produto de muitos dias passados, e não há pensamento sem memória. Memória é tempo, pois há duas espécies de tempo: o cronológico e o psicológico. Há o tempo, o ontem do relógio, e o ontem da memória. Não se pode rejeitar o tempo cronológico, pois seria absurdo: poderiamos perder o trem. Existirá realmente tempo, fora do tempo cronológico? É claro que há o tempo, o ontem, mas existe o tempo tal como a mente o concebe? Existe tempo, separado da mente? Não há dúvida que o tempo, o tempo psicológico é produto da mente. Sem a base do pensamento, não existe o tempo - sendo 'tempo' apenas a memória do dia de ontem em conjunção com o de hoje, moldando o amanhã. Quer dizer, a memória da experiência de ontem, em reação ao presente, está criando o futuro - o que constitui ainda um processo de pensamento, uma senda da mente. O processo de pensamento determina progresso psicológico no tempo, mas esse tempo será real, tão real como o tempo cronológico? Podemos utilizar esse tempo produzido pela mente, como meio de compreender o eterno, o atemporal? Como disse, a felicidade não é produto de ontem, a felicidade não é produto do tempo, a felicidade está sempre no presente, é um estado atemporal. Não sei se já notastes, que quando tendes um êxtase, uma alegria criadora - uma série de nuvens radiosas cercadas de nuvens negras - nesse momento não existe o tempo: só há o presente imediato. A mente, interferindo depois desse experimentar, do presente, lembra-se dele e deseja continuá-lo, acrescentando-se a si mesma, mais e mais, e criando assim o tempo. O tempo é criado pelo 'mais'; o tempo é aquisição e, também, renúncia, que é por sua vez uma aquisição da mente. Logo, disciplinar apenas a mente no tempo, condicionar o pensamento dentro da estrutura do tempo, que é memória, por certo não nos revela o que é atemporal. 

A transformação depende do tempo? Quase todos estamos acostumados a pensar que o tempo é necessário para a transformação: sou 'tal coisa', e para modificar o que sou e transformá-lo naquilo que deveria ser, é preciso tempo. Sou ambicioso, e dessa ambição resulta confusão, antagonismo, conflito, aflição. Para realizar a transformação, que é a não ambição, pensamos ser necessário o tempo. Isto é, consideramos o tempo como meio de evolvermos para algo superior, como meio de nos tornarmos alguma coisa. O problema é este: sou violento, ambicioso, invejoso, irascível, vicioso, ou apaixonado. Para transformar o que é, há necessidade de tempo? Em primeiro lugar, por que desejamos modificar o que é, efetuar uma transformação? Por quê? Porque o que é não nos satisfaz, o que é cria conflito, perturbações, e, como não gostamos desse estado, desejamos algo que seja melhor, mais nobre, mais idealístico. Assim, desejamos a transformação porque existe sofrimento, desconforto, conflito. O conflito pode ser dominado pelo tempo? Se dizeis que sim, continuais em conflito. Podemos dizer que bastarão vinte dias, ou vinte anos, para nos livrarmos do conflito, para modificarmos o que somos, mas durante esse tempo continuaremos em conflito, e por conseguinte, o tempo não efetua transformação alguma. Quando nos servimos do tempo como meio de adquirir uma qualidade, uma virtude, ou um 'estado de ser', estamos apenas adiando, estamos evitando o que é. Julgo importante compreender este ponto. A ambição, ou a violência, causam sofrimento e perturbações no mundo das nossas relações, que constituem a sociedade; cônscios deste estado de perturbação, que denominamos ambição ou violência, dizemos para nós mesmos: 'sairei dele com o tempo; praticarei a não violência, praticarei a não inveja; praticarei a paz'. Ora, desejais praticar a não violência, porque a violência é um estado de perturbação, de conflito, e pensais que com o tempo alcançareis a não violência e dominareis o conflito. Que está realmente acontecendo? Achando-vos em estado de conflito, desejais alcançar um estado em que não haja conflito. Ora, esse estado de não conflito é resultado do tempo, de uma duração? evidentemente não é; porque enquanto estais alcançando o estado de não violência, continuais violentos e, por conseguinte, em conflito. (...)"

(J. Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 111/114)
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segunda-feira, 2 de outubro de 2017

RELAÇÕES E ISOLAMENTO (PARTE FINAL)

"(...) O processo de isolamento está ligado à busca de poder. Quer estejamos buscando o poder individualmente, quer para um grupo racial ou nacional, haverá isolamento, porque o próprio desejo de poder, de posição, é separatismo. Afinal, é isso o que cada um deseja, não é verdade? Cada um quer ocupar uma posição poderosa, uma posição de domínio, seja no lar, seja no escritório, seja num regime burocrático. Procura cada um o poder e nessa busca de poder fundará uma sociedade baseada no poder - militar, industrial, econômico, etc. - o que também é evidente. O desejo de poder não é, por sua própria natureza, causador de isolamento? Julgo muito importante compreender isso, porque o homem que deseja um mundo pacífico, um mundo em que não haja guerras, não haja destruição e miséria, em escala aterradora, imensurável, deve compreender esta questão fundamental. Um homem afetuoso, benevolente, não tem espírito de poderio e portanto não está ligado a nacionalidade nem a bandeira alguma. Esse homem não tem bandeira. 

Não há coisa tal como viver no isolamento; nenhum país, nenhum povo, nenhum indivíduo pode viver no isolamento. Entretanto, porque estais em busca de poder, de tantas maneiras diferentes, criais o isolamento. O nacionalista é uma praga, porque, com seu espírito nacionalista, patriótico, está construindo uma muralha de isolamento. Tão identificado está com seus país, que ergue uma muralha contra outro país. Que acontece quando construís uma muralha contra alguma coisa? Essa coisa fica a chocar-se constantemente contra vossa muralha. Quando resistis a uma coisa, essa própria resistência indica que estais em conflito com ela. O nacionalismo, por consequência, que é um processo de isolamento, que é um resultado da busca de poder, não pode trazer paz ao mundo. O homem que é nacionalista e fala de fraternidade, está mentindo, está vivendo em estado de contradição. 

Pode-se viver no mundo sem o desejo de poder, de posição, de autoridade? Pode-se, é claro. Vivemos assim quando não nos identificamos com uma coisa 'maior'. Esta identificação com uma coisa 'maior' - o partido, a pátria, a raça, a religião, Deus é busca de poder. Porque vós mesmos sois vazios, embotados, sois fracos, gostais de identificar-vos com uma coisa maior. Esse desejo de identificação com uma coisa maior é desejo de poder. 

As relações são um processo de autorrevelação e se, desconhecendo a nós mesmos, desconhecendo as tendências da nossa mente e do nosso coração, procuramos apenas estabelecer uma ordem externa, um sistema, uma fórmula engenhosa, o que estabelecermos terá muito pouca significação. O importante é que compreendamos a nós mesmos em relação com outros. As relações se tornam, assim, não um processo de isolamento, mas um processo no qual descobrimos nossos próprios 'motivos', nossos próprios pensamentos, nossos próprios desígnios; e esta descoberta é o começo da libertação, o começo da transformação."

(J. Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 91/92)
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quinta-feira, 14 de setembro de 2017

O GUIA SÁBIO (PARTE FINAL)

"(...) Tertön Sogyal, o místico tibetano, disse que não se impressionava com alguém que pudesse dar uma volta pelo teto, ou que acendesse fogo na água. Milagre de verdade, dizia ela, era alguém se libertar de uma emoção negativa.

Mais e mais, então, em lugar da tagarelice estridente e fragmentada que o ego tem murmurado junto a você ao longo da sua vida, você se verá ouvindo em sua mente a clara orientação dos ensinamentos, que inspiram, advertem, guiam e dirigem você a cada instante. Quanto mais ouvir, mais orientação receberá. Se seguir a voz do seu guia sábio, a voz da sua sabedoria discriminativa, e deixar o ego em silêncio, você experimentará a presença da sabedoria, da alegria e da felicidade que você realmente tem. Começa em você uma vida nova, profundamente diferente daquela em que se mascarava com seu ego. E quando a morte vier, já terá aprendido em vida como controlar aquelas emoções e pensamentos que nos estados da morte, os bardos, tornar-se-iam uma realidade esmagadora.

Quando sua amnésia sobre sua identidade começar a ser curada, entenderá afinal que o dak dzin - apego ao eu - é a causa-raiz de todo seu sofrimento. Você entenderá, finalmente, quanto mal ela fez a você a os outros e perceberá que a coisa mais nobre e mais sábia a fazer é proteger e acarinhar os demais, em vez de a si próprio. Isso trará cura ao seu coração, cura para sua mente e cura para seu espírito.

É importante lembrar sempre que o princípio da ausência de ego não quer dizer que havia um ego no começo e os budistas o afugentaram. Ao contrário, isso de fato significa que não havia ego algum desde o começo. Compreender isso é o que se chama 'ausência de ego'."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 164

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

ESFORÇO E PACIÊNCIA

"Tanto quanto os sankalpas ou desejos permaneçam no homem, é-lhe inviável escapar do nascimento (compulsório). No dia em que ele se tornar totalmente livre de seus sankalpas, nesse dia, estará liberto da reencarnação⁷². A fim de que possa tomar tal caminho sagrado, tornando-se isento de desejos, o homem deve render-se às mãos de Deus. Há alguns obstáculos para aquele que pretende se render.

Todos compreendem que neste mundo não é possível adentrar a residência de uma pessoa influente ou que tenha posição importante, sem esbarrar com dificuldades e questionamentos. Na entrada da casa encontrará um 'segurança', que perguntará sobre que negócio tem com o proprietário.

Uma pessoa de limitado poder e posição mundana enfrentará as restrições que regulam sua entrada na tal casa. Que estranheza pode haver quando se trata de Deus, que tem ilimitado poder? Para a entrada em Sua mansão, existem austeras normas restritivas. Se você deseja entrar no palácio de moksha ou libertação, saiba que, no portal de acesso, encontrará dois guardas. O portal é o lugar diante do qual você fará a oferenda de si mesmo, e o nome dele é 'portal da rendição'. Os dois guardas são chamados srama e dama. Isso significa que você deve fazer esforço e ter paciência. São estes os dois guardas do portal. Não obstante muitos de vocês terem se oferecido em rendição, não lhes tem sido possível ainda entrar na mansão de Deus, pois lhes falta esforço (srama) e paciência (dama)."

⁷² A 'Água Vida', que Cristo É e que Jesus ofereceu à samaritana, é aquela que mata definitivamente a sede (sankalpa), a sede que determina a volta inevitável ao 'poço-de-jacó' (re-nascimento).

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 179/180)


sexta-feira, 11 de agosto de 2017

RESISTÊNCIA À MUDANÇA (2ª PARTE)

"(...) O conceito de impermanência desempenha um papel crucial no pensamento budista, e a contemplação da impermanência é uma prática essencial. A contemplação da impermanência atende a duas funções de vital importância dentro do caminho budista. Num nível convencional, ou num sentido corriqueiro, quem pratica o budismo contempla sua própria impermanência - o fato de que a vida é frágil e de que nunca sabemos quando iremos morrer. Quando se associa essa reflexão a uma crença na raridade da existência humana e na possibilidade de se alcançar um estado de Liberação espiritual, de se estar livre do sofrimento e dos intermináveis ciclos de reencarnação, essa contemplação serve para aumentar a determinação do praticante para usar seu tempo com maior proveito, dedicando-se às práticas espirituais que propiciarão essa Liberação. Num nível mais profundo, o da contemplação dos aspectos mais sutis da impermanência, da natureza impermanente de todos os fenômenos, tem início a busca do praticante pela compreensão, pela dissipação da ignorância, que é a origem primordial do nosso sofrimento.

Portanto, embora a contemplação da impermanência tenha um enorme significado dentro de um contexto budista, surge a pergunta: será que a contemplação e compreensão da impermanência têm alguma aplicação prática no dia a dia também dos não budistas? Se encararmos o conceito de 'impermanência' a partir do ponto de vista da 'mudança', a resposta é um absoluto 'sim'. Afinal de contas, quer encaremos a vida de uma perspectiva budista, quer de uma perspectiva ocidental, permanece o fato de que a vida é transformação. E na medida em que nos recusemos a aceitar esse fato e ofereçamos resistência às naturais mudanças da vida, continuaremos a perpetuar nosso próprio sofrimento.

A aceitação da mudança pode ser importante fator na redução de uma boa proporção do sofrimento que criamos para nós mesmos. É muito frequente, por exemplo, que causemos nosso próprio sofrimento, recusando-nos a nos desapegar do passado. Se definirmos nossa própria imagem em termos da aparência que tínhamos no passado ou em termos do que costumávamos conseguir fazer e não conseguimos agora, é bastante seguro supor que não vamos ficar mais felizes quando envelhecermos. Às vezes, quanto mais tentamos nos agarrar ao passado, mais grotesca e deformada torna-se nossa vida. 

Embora a aceitação da inevitabilidade da mudança, como princípio geral, possa nos ajudar a lidar com muitos problemas, assumir um papel ativo, por meio do aprendizado específico sobre as mudanças normais na vida, pode prevenir uma proporção ainda maior da ansiedade rotineira que é a causa de muitos dos nossos problemas. (...)"

(Sua Santidade, O Dalai Lama e Howard C. Cutler - A Arte da Felicidade - Livraria Martins Fontes Editora Ltda., São Paulo, 2000 - p. 185/186)


sábado, 5 de agosto de 2017

O YOGA E A MORAL ESPIRITUAL

"As tradições religiosas e a liberalidade da sociedade contemporânea não são capazes de solucionar as dúvidas sobre a influência do comportamento moral da nossa felicidade. Sabemos que nem a repressão nem a entrega completa à satisfação dos desejos geram felicidade; é impossível encontrar alguém feliz em meio à devassidão moral ou a um rígido ascetismo.

Entretanto, se um homem comum, que segue com bom senso os costumes da sociedade e a ética religiosa, não consegue se sentir feliz, para que serve a moral, além de manter um convívio civilizado entre as pessoas? Podemos encontrar a resposta para essa pergunta nos comentários de Rohit Mehta aos Yoga-Sutras de Patañjali, um clássico do yoga escrito no século VI a.C. Essa obra aborda o caminho espiritual para a libertação da alma, e não deve ser confundida com a prática das asanas, ou posturas físicas.

No livro Yoga, a Arte da Integração (Editora Teosófica, 1995), Mehta afirma que o comportamento e os mandamentos religiosos podem ser analisados sob dois pontos de vista: o externo, ou social, e o interno, ou psicológico. A moral religiosa cumpre seu papel social quando o homem segue as regras do bom comportamento civilizado. Porém, isso não é o suficiente para atingir a felicidade, ou o 'reino dos céus', que está dentro de nós.

É claro que uma pessoa que não consegue se ajustar minimamente ao convívio social também não será capaz de enfrentar as sutilezas muito mais desafiadoras do mundo psicológico. Mas aquele que quer dar um passo além e seguir o caminho da realização espiritual precisa saber encarar os problemas da vida e suportar os inevitáveis sofrimentos com autocontrole e serenidade. Isso, porém, não pode ser confundido com acumular tristezas e aborrecimentos nem renunciar às alegrias da vida, como sugerem algumas rígidas interpretações da moral religiosa.

'O propósito da disciplina do yoga', segundo Patañjali, é 'eliminar as impurezas causadas pelo processo de condicionamento, de modo que a luz do puro percebimento incondicionado possa brilhar.' A disciplina do yoga, portanto, não faz parte de um sistema de recompensa e punição por bons ou maus atos praticados, mas tem o objetivo de purificar a mente de seus próprios processos de condicionamento."

(Cristina Szynwelski - O yoga e a moral espiritual - Revista Sophia, Ano 2, nº 6 - p. 31)


quarta-feira, 26 de julho de 2017

O CORAÇÃO NA MEDITAÇÃO (PARTE FINAL)

"(...) Bom no Começo nasce da consciência de que nós e todos os seres sencientes temos como nossa essência mais profunda a natureza búdica, e do entendimento de que realizá-la é ficar livre da ignorância e acabar com o sofrimento. (...)

Bom no Meio é a atitude da mente com que entramos no coração da prática, inspirada na realização da natureza da mente, de onde surge uma disposição para o desapego livre de toda e qualquer referência conceitual, e surge também a consciência de que todas as coisas são inerentemente 'vazias', ilusórias e semelhantes ao sonho. 

Bom no Fim é o modo com que trazemos nossa meditação até o final, dedicando todo o mérito dela obtido e orando com real fervor: 'Possa qualquer mérito vindo desta prática conduzir à iluminação de todos os seres: possa tornar-se uma gota no oceano da atividade de todos os budas em seu incansável trabalho pela liberação de todos os seres'. Mérito é o poder positivo e benéfico, a paz e a felicidade que irradiam da sua prática. Você dedica esse mérito ao benefício supremo e a longo prazo de todos os seres, à sua iluminação. Num nível mais imediato, você o dedica a que haja paz no mundo, a que todos possam ser inteiramente livres do desejo e da doença, e possam experimentar total bem-estar e felicidade duradoura. Então, compreendendo a natureza de sonho e ilusão da realidade, você reflete sobre o fato de que, no sentido mais profundo, você que está dedicando a prática, aqueles a quem você a dedica, e mesmo o próprio ato de dedicação são todos inerentemente 'vazios' e ilusórios. Diz-se nos ensinamentos que isso fecha a meditação e assegura que nenhum dos seus poderes puros perca-se ou escape, e que nenhum dos méritos da prática jamais se desperdice. 

Esses três princípios sagrados - a motivação hábil, a atitude de despendimento que protege a prática e a dedicação que a fecha - são os que torna sua meditação verdadeiramente iluminadora e poderosa. Eles foram descritos com beleza pelo grande mestre tibetano, Longchenpa, como 'o coração, o olho e a força vital da verdadeira prática'. Ou como Nyoshul Khenpo diz: 'Para obter a completa iluminação, mais do que isso não é necessário; porém menos que isso é insuficiente'."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 89/91)

domingo, 23 de julho de 2017

TREINANDO A MENTE (1ª PARTE)

"Há tantas formas de apresentar a meditação, e devo ter ensinado isso milhares de vezes, mas a cada vez é diferente, de um modo direto e sempre novo.

Felizmente vivemos numa época em que pelo mundo todo muita gente se familiariza com a meditação. Tem sido cada vez mais aceita como uma prática que atravessa as barreiras culturais e religiosas e se eleva acima delas, permitindo àquele que a busca estabelecer um contato direto com a verdade do seu ser. É uma prática que a um tempo transcende o dogma e é a essência das religiões.

Via de regra desperdiçamos nossas vidas distraídos do nosso eu verdadeiro, numa atividade sem fim; a meditação é o caminho para trazer-nos de volta a nós mesmos, onde podemos realmente experimentar e provar nosso ser completo, além de todos os padrões habituais. Nossas vidas são vividas em intensa e ansiosa luta, num turbilhão de velocidade e agressão, competindo, apegando-nos possuindo e conquistando, sobrecarregando-nos sempre de atividades irrelevantes e de preocupações. A meditação é o exato oposto disso. Meditar é interromper por completo o modo como 'normalmente' operamos, em benefício de um estado isento de cuidados e tensões em que inexiste competição, desejo de posse ou apego a qualquer coisa, sem a luta intensa e ansiosa, sem fome de adquirir. Um estado desprovido de ambição onde não cabe nem o aceitar nem o rejeitar, nem a esperança nem o medo, um estado em que lentamente começamos a libertar-nos das emoções e dos conceitos que nos aprisionaram, até chegarmos a um espaço de simplicidade natural.

Os mestres da meditação budista sabem o quão flexível e maleável é a mente. Se a treinamos, tudo é possível. Na verdade, já somos perfeitamente treinados pelo samsara e para ele, treinados para ficar ciumentos, treinados para o apego, treinados para ser ansiosos e tristes e desesperados e ávidos, treinados para reagir com raiva ao que quer que nos provoque. Somos treinados, de fato, até o ponto dessas emoções negativas surgirem de modo espontâneo, sem que tentemos produzi-las. Assim, tudo é uma questão de treino e do poder do hábito. Dedique a mente à confusão e logo veremos - se formos honestos - que ela se tornará uma mestra sinistra na confusão, competente no seu vício, sutil e perversamente dócil em sua escravidão. Dedique a mente na meditação à tarefa de libertá-la da ilusão e veremos que com tempo, paciência, disciplina e o treinamento adequado, ela começará a desembaraçar-se e conhecer sua bem-aventurança e claridade essenciais. (...)"

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 87/88


terça-feira, 11 de julho de 2017

EVOLUÇÃO VERSUS INVOLUÇÃO

"Quando Deus viu que havia projetado os elementos da criação para fora de Si mesmo - das formas mais sutis às mais grosseiras -, o processo de involução entrou em funcionamento. Do ponto de vista do assunto de hoje, pense na evolução como o que viaja para longe de Deus, e na involução como o que volta para Ele. Para cada processo de evolução há um processo de involução. Quando os pensamentos criadores de Deus assumiram uma forma mais densa na matéria, teve início a involução, que está ocorrendo o tempo todo. A consciência onírica divina se manifesta primeiro nas pedras ou minerais inertes. Depois começa a vibrar na sensibilidade das plantas, mas não possui autoconsciência. E depois vêm todas as formas de vida sensiente do reino animal. A consciência e a vitalidade inata, então, encontram expressão no homem, com o seu poder inteligente superior de pensar e discernir. E finalmente a superconsciência divina se reflete plenamente no super-homem. Assim, a criação realmente se afasta de Deus e depois volta para Ele. Deus dará salvação não apenas ao homem mas também aos planetas, à Terra, às estrelas - a todos os que trabalham tão arduamente há bilhões de anos fornecendo os cenários para o drama cósmico onírico.

Voltar a Deus pelo processo involutivo da Natureza é um processo muito longo. Um dia, o homem de discernimento pergunta: 'Por que esperar milhões de anos antes de poder voltar para Deus?' Ele raciocina que, primeiramente, não pediu para ser criado - que Deus o criou sem pedir sua permissão e portanto o Próprio Deus devia libertá-lo. E se recusa a esperar mais. Quando chega este desejo o ser humano deu o primeiro e definitivo passo para voltar a Deus.

Quando você realmente quer ser libertado do sonho terreno, não há poder que possa impedi-lo de alcançar a libertação. Nunca duvide disto! Sua salvação não precisa ser alcançada - já é sua, pois você é feito à imagem de Deus; mas é preciso saber disso. Você esqueceu. O cervo almiscareiro busca desesperadamente o perfumado almíscar em todos os lugares. Nessa busca frenética, ele descuidadamente escorrega para a morte nas encostas das altas montanhas. Se o tolo cervo virasse o nariz para a bolsa de almíscar que está dentro de si mesmo, encontraria o que buscava. Da mesma forma, só precisamos interiorizar e encontrar a salvação na percepção de que a alma, nosso verdadeiro Eu, é feita à imagem de Deus."

(Paramahansa Yogananda - Jornada para a autorrealização - Self-Realization Fellowship - p. 57/58)


domingo, 9 de julho de 2017

O REAL E O IMAGINÁRIO (1ª PARTE)

"Quando falamos acerca dos caprichos da 'mente' e não de uma pessoa em particular, podemos ser bastante impessoais. Pensamos na mente como sendo um dos elementos da existência com determinada natureza. Ela está sujeita a ilusões, mas é possível para ela encontrar a verdade e libertar-se. Não precisamos identificá-la com alguém em particular e dirigir-lhe críticas, aberta ou veladamente. Pode-se criticar a si próprio bem como aos demais. Porém, a crítica, até mesmo dirigida para alguém, não precisa visar à descoberta de falhas, ela pode ser uma simples compreensão daquilo que não está certo ou daquilo que está errôneo ou falso no pensamento e comportamento da pessoa. É simplesmente como avaliar um quadro: é belo ou não? Este tipo de crítica é de valor, porém não visa à descoberta de falhas, culpando alguém ou si mesmo - tudo isto, por ser vão e infrutífero, torna-se mera autodecepção.

Referi-me ao julgamento de um quadro, mas aqui também deve-se fazer uma distinção entre o real e o irreal. O quadro pode ser realmente belo ou pode apenas ter uma assim chamada beleza superficial. A beleza de ordem mais elevada surge de uma profunda compreensão, surge da própria vida ou de uma fonte desconhecida em seu interior. Então terá o selo da verdade, mas poderá também existir aquela 'beleza' que é sintética, que é apenas uma aparência, uma mera apresentação.

Para nos aproximarmos ainda mais do cerne da questão: quando usamos a palavra 'amor' em relação a outro, será que realmente amamos, ou apenas achamos que amamos aquele outro? Existe uma grande distinção entre pensar que amamos e amar de fato. Meramente ensaiar a ideia do amor e usufrir o prazer que causa, não traz o amor, é apenas um exercício. Mas somos tão capazes de nos iludirmos, pensando que amamos toda a humanidade, até mesmo quando não amamos os indivíduos que a compõem. Precisamos traçar uma distinção clara entre aquilo que é real ou verdadeiro e aquilo que é apenas forjado pela mente. Isto requer uma inteligência muito aguçada e um constante discernimento da diferença entre o real e o imaginário. (...)"

(N. Sri Ram - Em Busca da Sabedoria - Ed. Teosófica, Brasília, 1991 - p. 29/30)
www.editorateosofica.com.br


quinta-feira, 1 de junho de 2017

NÃO SE OCUPE DO PASSADO

"Nunca se ocupe do passado. Quando a aflição o dominar, não rememore fatos similares em sua experiência de outrora, vindo assim a intensificá-la. Em vez disso, lembre-se daqueles incidentes quando a aflição não lhe bateu à porta e você foi feliz. Tire consolação de tais memórias, e se levante acima das águas crescentes do sofrimento. Dizem que as mulheres são fracas porque, mais facilmente que os homens, se rendem à raiva e à tristeza. Assim, a elas eu pediria que façam esforços extras para chegarem a vencê-las. Repetir o Nome de Deus e pensar em Sua Forma é o melhor antídoto.

Não faltam livros que lhes digam como se libertar da aflição. A Bhagavad Gita está em todas as línguas e a muito baixo custo o exemplar. O Bhavata e o Ramayana e todos os demais livros são vendidos aos milhares a cada dia, mas nada há que indique que eles tenham sido estudados e muito menos assimilados. O hálito na boca pode dar uma leve indicação sobre o alimento que foi consumido. Não é? Os hábitos, a conduta e o caráter dos leitores de tais livros, porém, não têm denotado quaisquer mudanças para melhor. O egoísmo e a ambição ainda estão desenfreados. O ódio não foi reduzido, e a inveja devora a vitalidade dos homens."

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interios - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 173)