OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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sábado, 21 de outubro de 2017

SOBRE O MEDO (PARTE FINAL)

"(...) Ora, de que temos medo? Temos medo de um fato ou de uma ideia relativa ao fato? Temos medo da coisa, tal qual, ou temos medo daquilo que pensamos que ela é? Consideremos, por exemplo, a morte. Temos medo do fato da morte ou da ideia da morte? O fato é uma coisa e a ideia outra. Tenho medo da palavra 'morte', ou do fato em si? Porque tenho medo da palavra, da ideia, nunca chego a compreender o fato, nunca considero o fato, nunca estou em relação direta com o fato. Só quando estou em completa comunhão com o fato, não há temor. Se não estou em comunhão com o fato, há temor. E não estou em comunhão com o fato enquanto tenho uma ideia, uma opinião, uma teoria, relativamente ao fato. É necessário, portanto, que eu me esclareça bem se estou com medo da palavra, da ideia, ou do fato. Se me vejo frente a frente com o fato, nada há que compreender, nele; estou em presença do fato, e sei como proceder. Se tenho medo da palavra, devo então compreender a palavra, examinar todo o processo do qual decorre a significação da palavra, do termo. 

Por exemplo: uma pessoa teme a solidão, a dor, o sofrimento da solidão. Ora, esse medo existe porque a pessoa, em verdade, nunca encarou a solidão, nunca esteve em comunhão direta com ela. No momento em que alguém está completamente aberto para o fato da solidão, compreende o que ela é; mas se só se tem uma ideia, uma opinião a respeito do fato, baseado em conhecimento prévio, essa ideia, essa opinião, esse conhecimento prévio relativo ao fato, cria o temor. O temor, evidentemente, é produto do dar nome, do designar, do projetar um símbolo para representar o fato; isto é, o temor não é independente da palavra, do termo. 

Tenho uma reação, digamos, ligada à solidão, isto é, digo que tenho medo de ser nada. Temo o fato em si, ou esse temor é despertado por um conhecimento prévio do fato, sendo esse conhecimento a palavra, o símbolo, a imagem? Como pode haver temor em relação a um fato? Quando estou frente a frente a um fato, em comunhão direta com ele, posso olhá-lo, observá-lo, por conseguinte, não há medo deste fato. O que causa medo é minha apreensão relativamente ao fato, o que o fato possa ser ou fazer. 

Minha opinião, minha ideia, minha experiência, meu conhecimento relativo ao fato é que cria o temor. Enquanto houver verbalização do fato, que significa dar um nome ao fato e por conseguinte identificar-se com ele ou condená-lo; enquanto o pensamento estiver julgando o fato, na qualidade de observador, haverá temor. O pensamento é produto do passado, só pode existir por efeito da verbalização, dos símbolos, das imagens. Enquanto o pensamento estiver considerando ou traduzindo o fato, tem de haver temor. 

Assim, é a mente que cria o temor, sendo a mente o processo do pensar. Pensar é verbalização. Não se pode pensar sem palavras, sem símbolos, imagens. Estas imagens, que são nossos preconceitos, que é o conhecimento antecipado, as apreensões da mente, projetam-se sobre o fato, gerando o temor. Só há um estado livre de temor, quando a mente é capaz de observar o fato sem o traduzir, sem lhe dar nome, sem lhe pôr um rótulo. Isto é deveras difícil, porque os sentimentos, as reações, as ansiedades que temos, são logo identificados pela mente e ligados a uma palavra. O sentimento de ciúme é identificado por esta palavra. É possível não identificar um sentimento, olhar um sentimento sem lhe dar nome algum? E a atribuição de um nome ao sentimento, que lhe dá continuidade, que lhe dá força. No momento em que dais um nome à coisa que chamais temor, dais-lhe força. Mas se puderdes encarar o sentimento sem lhe aplicar um termo, vê-lo-eis dissipar-se. Por conseguinte, se desejamos ficar completamente livres do medo, é essencial compreendermos integralmente este processo de projetar símbolos, imagens e dar nomes aos fatos. Só pode haver libertação do temor, quando há autoconhecimento. O autoconhecimento é o começo da sabedoria, a qual é o fim do temor."

(J. Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 157/159
http://www.pensamento-cultrix.com.br/


sábado, 14 de outubro de 2017

ABANDONANDO O TEMPO PSICOLÓGICO (PARTE FINAL)

"(...) O que percebemos como futuro é uma parte intrínseca do nosso estado de consciência do momento. Se a nossa mente carrega um grande fardo do passado, vamos sentir isso. O passado se perpetua pela falta de presença. O que dá forma ao futuro é a qualidade da nossa percepção do momento presente, e o futuro, é claro, só pode ser vivenciado como presente. 

Se é a qualidade da nossa percepção neste momento que determina o futuro, então o que é que determina a qualidade da nossa consciência? O nosso grau de presença. Portanto, o único lugar onde pode ocorrer uma mudança verdadeira e onde o passado pode se dissolver é no Agora.

Talvez seja difícil reconhecer que o tempo é a causa do nosso sofrimento ou de nossos problemas. Acreditamos que eles são causados por situações específicas em nossas vidas, e, de um ponto de vista convencional, isso é uma verdade. Mas, enquanto não lidarmos com a disfunção básica da mente - o apego ao passado e ao futuro e a negação do presente -, os problemas apenas mudarão de figura.

Se todos os nossos problemas, ou causas identificadas de sofrimento ou infelicidade, fossem milagrosamente solucionadas no dia de hoje, sem que nos tornássemos mais presentes e mais conscientes, logo nos veríamos com um outro conjunto de problemas ou causas de sofrimento semelhantes, como uma sombra que nos seguisse aonde quer que fôssemos. Em última análise, o único problema é a própria mente limitada pelo tempo.

Não há salvação dentro do tempo. Você não pode se libertar no futuro.

A PRESENÇA É A CHAVE para a liberdade. Portanto, você só pode ser livre agora."

(Eckhart Tolle - Praticando o Poder do Agora - Ed. Sextante, Rio de Janeiro, 2016 - p. 35/36)


sexta-feira, 13 de outubro de 2017

ABANDONANDO O TEMPO PSICOLÓGICO (1ª PARTE)

"Aprenda a usar o tempo nos aspectos práticos da sua vida - podemos chamar de 'tempo de relógio' -, mas retorne imediatamente para perceber o momento presente, tão logo esses assuntos práticos tenham sido resolvidos. Assim, não haverá acúmulo do 'tempo psicológico', que é a identificação com o passado e uma projeção compulsiva e contínua do futuro.

Se estabelecemos um objetivo e trabalhamos para alcançá-lo, estamos empregando o tempo do relógio. Sabemos bem aonde queremos chegar, mas respeitamos e damos atenção total ao passo que estamos dando neste momento. Se insistimos demais nesse objetivo, talvez porque estejamos em busca de felicidade, satisfação ou de um sentido mais completo do eu interior, deixamos de respeitar o Agora. E ele é reduzido a um mero degrau para o futuro, sem nenhum valor intrínseco. O tempo do relógio se transforma então em tempo psicológico. Nossa jornada deixa de ser uma aventura e passa a ser encarada como uma necessidade obsessiva de chegar, de possuir, de 'conseguir'. Aí não somos mais capazes de ver nem de sentir as flores pelo caminho, nem de perceber a beleza e o milagre da vida que se revela em tudo ao redor, como acontece quanto estamos presentes no Agora.

Você está sempre tentando chegar a algum outro lugar além daquele onde você está? A maior parte do que você faz é apenas um meio para alcançar um determinado fim? A satisfação está sempre em outro lugar ou restrita a breves prazeres como sexo, comida, bebida e drogas, ou relacionada a uma emoção ou excitação? Você está sempre pensando em vir a ser, adquirir, alcançar, ou, em vez disso, está à caça de novas emoções e prazeres? Você acha que, quanto mais bens adquirir, uma pessoa se sentirá melhor ou psicologicamente completa? Está à espera de um homem ou de uma mulher que dê um sentido à sua vida?

No estado normal de consciência, o poder e o infinito potencial criativo do Agora estão completamente encobertos pelo tempo psicológico. Nossa vida perde a vibração, o frescor, o sentido de encantamento. Os velhos padrões de pensamento, emoção, comportamento, reação e desejo são encenados repetidas vezes, como um roteiro dentro da nossa mente que nos dá uma identidade, mas distorce ou encobre a realidade do Agora. A mente, então, desenvolve uma obsessão pelo futuro, buscando fugir de um presente insatisfatório. (...)"

(Eckhart Tolle - Praticando o Poder do Agora - Ed. Sextante, Rio de Janeiro, 2016 - p. 33/35)


terça-feira, 10 de outubro de 2017

TEMPO E TRANSFORMAÇÃO (1ª PARTE)

"Desejo falar um pouco a respeito do tempo, porque acredito que a riqueza, a beleza e significação daquilo que é atemporal, daquilo que é verdadeiro, só podem ser experimentadas quando compreendemos integralmente o processo do tempo. Afinal de contas, estamos buscando, cada um à sua maneira, um sentimento de felicidade, de enriquecimento. Ora, uma vida que tem significado, que tem as riquezas da verdadeira felicidade, não está em relação com o tempo. Qual o amor, essa vida é atemporal e para compreendermos o que é atemporal, não devemos considerá-lo através do tempo, porém antes, compreender o tempo. Não devemos utilizar o tempo como meio de alcançar, compreender, apreender o atemporal. No entanto, é o que estamos fazendo, na maior parte da nossa vida: consumindo tempo, procurando aprender o que é atemporal - e por isso é importante compreender o que se entende por 'tempo', pois creio que é possível ser livre do tempo. É importantíssimo compreender o tempo como um todo e não por partes.

É interessante compreender que quase toda nossa vida se consome no tempo - tempo, não no sentido de sequência cronológica de minutos, horas, dias e anos, mas no sentido de memória psicológica. Vivemos pelo tempo, somos resultado do tempo. Nossas mentes são o produto de muitos dias passados, e o presente é apenas a passagem do passado para o futuro. Nossas mentes, nossas atividades, nosso ser, fundam-se no tempo. Sem o tempo, não podemos pensar, porque o pensamento é resultado do tempo, o produto de muitos dias passados, e não há pensamento sem memória. Memória é tempo, pois há duas espécies de tempo: o cronológico e o psicológico. Há o tempo, o ontem do relógio, e o ontem da memória. Não se pode rejeitar o tempo cronológico, pois seria absurdo: poderiamos perder o trem. Existirá realmente tempo, fora do tempo cronológico? É claro que há o tempo, o ontem, mas existe o tempo tal como a mente o concebe? Existe tempo, separado da mente? Não há dúvida que o tempo, o tempo psicológico é produto da mente. Sem a base do pensamento, não existe o tempo - sendo 'tempo' apenas a memória do dia de ontem em conjunção com o de hoje, moldando o amanhã. Quer dizer, a memória da experiência de ontem, em reação ao presente, está criando o futuro - o que constitui ainda um processo de pensamento, uma senda da mente. O processo de pensamento determina progresso psicológico no tempo, mas esse tempo será real, tão real como o tempo cronológico? Podemos utilizar esse tempo produzido pela mente, como meio de compreender o eterno, o atemporal? Como disse, a felicidade não é produto de ontem, a felicidade não é produto do tempo, a felicidade está sempre no presente, é um estado atemporal. Não sei se já notastes, que quando tendes um êxtase, uma alegria criadora - uma série de nuvens radiosas cercadas de nuvens negras - nesse momento não existe o tempo: só há o presente imediato. A mente, interferindo depois desse experimentar, do presente, lembra-se dele e deseja continuá-lo, acrescentando-se a si mesma, mais e mais, e criando assim o tempo. O tempo é criado pelo 'mais'; o tempo é aquisição e, também, renúncia, que é por sua vez uma aquisição da mente. Logo, disciplinar apenas a mente no tempo, condicionar o pensamento dentro da estrutura do tempo, que é memória, por certo não nos revela o que é atemporal. 

A transformação depende do tempo? Quase todos estamos acostumados a pensar que o tempo é necessário para a transformação: sou 'tal coisa', e para modificar o que sou e transformá-lo naquilo que deveria ser, é preciso tempo. Sou ambicioso, e dessa ambição resulta confusão, antagonismo, conflito, aflição. Para realizar a transformação, que é a não ambição, pensamos ser necessário o tempo. Isto é, consideramos o tempo como meio de evolvermos para algo superior, como meio de nos tornarmos alguma coisa. O problema é este: sou violento, ambicioso, invejoso, irascível, vicioso, ou apaixonado. Para transformar o que é, há necessidade de tempo? Em primeiro lugar, por que desejamos modificar o que é, efetuar uma transformação? Por quê? Porque o que é não nos satisfaz, o que é cria conflito, perturbações, e, como não gostamos desse estado, desejamos algo que seja melhor, mais nobre, mais idealístico. Assim, desejamos a transformação porque existe sofrimento, desconforto, conflito. O conflito pode ser dominado pelo tempo? Se dizeis que sim, continuais em conflito. Podemos dizer que bastarão vinte dias, ou vinte anos, para nos livrarmos do conflito, para modificarmos o que somos, mas durante esse tempo continuaremos em conflito, e por conseguinte, o tempo não efetua transformação alguma. Quando nos servimos do tempo como meio de adquirir uma qualidade, uma virtude, ou um 'estado de ser', estamos apenas adiando, estamos evitando o que é. Julgo importante compreender este ponto. A ambição, ou a violência, causam sofrimento e perturbações no mundo das nossas relações, que constituem a sociedade; cônscios deste estado de perturbação, que denominamos ambição ou violência, dizemos para nós mesmos: 'sairei dele com o tempo; praticarei a não violência, praticarei a não inveja; praticarei a paz'. Ora, desejais praticar a não violência, porque a violência é um estado de perturbação, de conflito, e pensais que com o tempo alcançareis a não violência e dominareis o conflito. Que está realmente acontecendo? Achando-vos em estado de conflito, desejais alcançar um estado em que não haja conflito. Ora, esse estado de não conflito é resultado do tempo, de uma duração? evidentemente não é; porque enquanto estais alcançando o estado de não violência, continuais violentos e, por conseguinte, em conflito. (...)"

(J. Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 111/114)
http://www.pensamento-cultrix.com.br/



quinta-feira, 28 de setembro de 2017

IMAGEM DA ETERNIDADE

"A Teoria da Relatividade surgiu depois da época de Helena Blavatsky. Mas ela já considerava o tempo multidimensional, com muitos aspectos que dependem da nossa observação. Nossas ideias sobre o tempo, originadas das nossas sensações, estão 'inelutavelmente vinculadas à relatividade do conhecimento humano.' e vão se desvanecer quando evoluirmos ao ponto de ver além da existência fenomênica.

Segundo Blavatsky, a duração ilimitada, ou atemporalidade, além da relatividade, é o 'tempo incondicionalmente eterno e universal', o númeno do tempo, não condicionado pelos fenômenos que surgem e desaparecem periodicamente. A duração é 'eterna e, portanto, imóvel, sem começo, sem fim, além do tempo dividido e além do espaço'.

É esse aspecto da realidade que produz o tempo como 'a imagem móvel da eternidade', nas palavras de Platão. Os ciclos de manifestação ocorrem dentro da duração infinita, à medida que o atemporal dá origem ao tempo. Assim como ocorre com o espaço e o movimento, nosso mundo familiar de tempo 'dividido' é gerado a partir desse reino indiviso e informe.

A duração abarca tudo simultaneamente, enquanto o tempo que experimentamos precisa se adaptar à visão sequencial: uma coisa de cada vez. É difícil imaginar a realidade como um todo presente simultaneamente na duração, porque nossa mente é parte do processo do tempo. A atemporalidade nos escapa.

Blavatsky explica que aquilo que é visto em um momento específico é a soma de todas as suas diferentes condições, desde o seu surgimento em forma material até o seu desaparecimento da Terra. Ela compara esse somatório com uma barra de metal lançada ao mar. O momento presente de uma pessoa é representado pela seção transversal da barra, no ponto em que o oceano e o ar se encontram. Ninguém diria que a barra surgiu no momento em que deixou o ar ou que desapareceu quanto entrou na água. Da mesma forma, surgimos do passado para mergulhar no futuro, apresentando, momentaneamente, uma faceta de nós mesmos no presente."

(Tempo e atemporalidade - Do livro Sabedoria Antiga e Visão Moderna, Shirleu Nicholson, Ed. Teosófica - Revista Sophia, Ano 2, nº 7 - p. 17)
www.revistasophia.com.br


quarta-feira, 27 de setembro de 2017

UMA PROPRIEDADE DA MENTE (PARTE FINAL)

"(...) As crianças ficam à vontade com o tempo não linear; ao brincar, parecem abolir o relógio. Nós também podemos modificar nossas sensações sobre  o tempo e torná-lo mais lento. Com isso, os processos biológicos também ficam mais lentos e saudáveis. A 'doença da pressa' pode ser revertida através das chamadas 'terapias do tempo', de acordo com Dossey. Isso pode ser feito por meio de técnicas como biofeedback, meditação, hipnose, jogos criativos e visualização de fantasias.

Nessas experiências, passado, presente e futuro se fundem, o que libera as pressões do tempo e quebra momentaneamente o seu domínio sobre nossa vida. Essas práticas também tendem a modificar nosso conceito linear do tempo como algo que avança inexoravelmente para a frente. Podemos aprender a sair dessa prisão e viver um 'presente em fluxo eterno', sentindo a atemporalidade da duração.

Quando não estamos mais dominados pelo tempo linear, vivemos em harmonia os aspectos cíclicos do tempo. Para as pessoas que vivem mais próximas à natureza, os ciclos das estações, do dia e da noite, as fases da lua, o plantio e a colheita - e nossos ciclos internos, como vigília e sono, respiração, menstruação - desempenham um papel importante. O tempo, para essas pessoas, é moldado por eventos recorrentes; a vida se ordena de acordo com ritmos naturais, em vez da segmentação artificial dos relógios.

Para essas pessoas, o tempo é um processo dinâmico e interminável, que retorna continuamente - uma espiral, em vez de um rio. O ritmo do viver representa a preservação do princípio dos ciclos, que a teosofia e a filosofia oriental traduzem como uma espécie de movimento circular por toda a realidade manifestada. Viver em harmonia com os ciclos é estar em harmonia com o universo."

(Tempo e atemporalidade - Do livro Sabedoria Antiga e Visão Moderna, Shirleu Nicholson, Ed. Teosófica - Revista Sophia, Ano 2, nº 7 - p. 16/17)


terça-feira, 26 de setembro de 2017

UMA PROPRIEDADE DA MENTE (1ª PARTE)

"Helena Blavatsky, assim como muitos filósofos, viu que o tempo, como sucessão de eventos, é tanto uma propriedade da nossa mente quanto uma parte da realidade. Nós percebemos de forma seriada e classificamos como passado, presente e futuro; os eventos, entretanto, simplesmente são.

O tempo é uma generalização, um conceito que formulamos a partir da experiência. Depois atribuímos a ele uma existência separada da nossa vivência dos eventos. Blavatsky, contrariando a noção de que o tempo flui e nós permanecemos parados, afirma que 'o tempo é apenas uma ilusão produzida pelos sucessivos estados da nossa consciência, à medida que atravessamos a duração eterna'.

A forte tendência de ordenar as coisas em sequência atua sobre a nossa percepção do mundo. O sentido de tempo linear fragmenta o panorama ininterrupto das mudanças interconectadas da natureza, percebido claramente pelos índios hopi.

Quando sonhamos ou mergulhamos em pensamentos o tempo pode se expandir, de modo que minutos ou segundos parecem horas, ou horas passam num relance. A sensação de passagem rápida ou lenta do tempo pode resultar de fatores físicos, como temperatura corporal, temperatura do ar ou influência de café, chá ou álcool, ou ainda fatores psicológicos como tédio ou interesse. É comum sentir que a semana de trabalho se arrasta, enquanto os fins de semana 'passam voando'.

A 'progressão ordenada, militar, do tempo medido' é muito diferente do 'tempo ilimitado da mente', segundo as expressões de Bérgson. Para alguns o tempo normalmente parece fluir mais lentamente do que para outros. Ao longo do dia, nossa percepção do passar do tempo também muda. Há momentos em que ele é uma corrente que se desloca montanha abaixo; depois, é como um rio sereno na planície. Nenhum dos padrões está 'correto'; o tempo não possui velocidade absoluta. Mas a pressa excessiva pode ser prejudicial e o ritmo lento pode ter efeitos curativos sobre nossa saúde. (...)"

(Tempo e atemporalidadeDo livro Sabedoria Antiga e Visão Moderna, Shirleu Nicholson, Ed. Teosófica - Revista Sophia, Ano 2, nº 7 - p. 16)


quarta-feira, 20 de setembro de 2017

TODOS OS PROBLEMAS SÃO ILUSÕES DA MENTE

"FOCALIZE SUA ATENÇÃO no Agora e verifique quais são os seus problemas neste exato momento. Não estou obtendo uma resposta porque é impossível termos problemas quando toda a nossa atenção está inteira no Agora. Pode ser que haja uma ou outra situação que você precise resolver ou aceitar. Por que transformar isso em problema?

A mente, inconscientemente, adora problemas porque eles podem ser de vários tipos. Isso é normal e doentio. A palavra 'problema' significa que estamos lidando mentalmente com uma situação sem que exista um propósito real ou uma possibilidade de agir no momento, e também que estamos inconscientemente fazendo dela uma parte do nosso sentido de eu interior. Ficamos tão sobrecarregados pela nossa situação de vida que perdemos o sentido da vida, ou do Ser. Ou então vamos carregando na mente o peso insano de uma centena de coisas que iremos ou poderemos ter de fazer no futuro, em vez de focalizarmos a atenção sobre uma coisa que podemos fazer agora.

QUANDO CRIAMOS UM problema, criamos sofrimento. Por isso, é preciso tomar uma decisão simples: não importa o que aconteça, não vou criar mais sofrimento nem problemas para mim.

É uma escolha simples, mas radical. Ninguém faz uma escolha dessas a menos que esteja verdadeiramente sufocado pelo sofrimento. E não se consegue levar esse tipo de decisão adiante a não ser acessando o poder do Agora. Se não criar mais sofrimento para si mesmo, você não criará também para aos outros. Deixará, assim, de contaminar nosso lindo planeta, seu próprio espaço interior e a psique humana coletiva com a negatividade da criação de problemas.

Caso apareça uma situação com a qual você precise lidar agora, sua ação vai ser clara e objetiva, se conseguir perceber o momento presente. Tem muito mais chances de dar certo. Não será uma reação vinda do condicionamento da sua mente no passado, mas uma resposta intuitiva à situação. Em situações em que a mente condicionada pelo tempo teria reagido, você vai achar mais eficaz não fazer nada. Fique só centrado no Agora."

(Eckhart Tolle - Praticando o Poder do Agora - Ed. Sextante, Rio de Janeiro, 2016 - p. 38/40)


segunda-feira, 28 de agosto de 2017

POSSO CONFIAR NA MINHA EXPERIÊNCIA?

"A maioria de nós está satisfeita com a autoridade porque ela nos proporciona uma continuidade, uma certeza, uma sensação de proteção. Mas aquele que entendesse as implicações dessa profunda revolução psicológica deveria estar livre da autoridade, não é? Não se pode buscar nenhuma autoridade, seja de criação própria ou imposta por outra pessoa. Isso é possível? É possível para não confiar na autoridade da própria experiência?

Mesmo tendo rejeitado todas as expressões externas da autoridade - livros, professores, sacerdotes, igrejas, crenças -, ainda tenho a sensação de que pelo menos posso confiar no meu próprio julgamento, em minhas próprias experiências, minha própria análise. Mas será que eu posso confiar na minha experiência, no meu julgamento, na minha análise? Minha experiência é o resultado do meu condicionamento, assim como o de qualquer pessoa, não é? Posso ter sido criado como muçulmano, budista ou hindu, e minha experiência vai depender dos meus antecedentes cultural, econômico, social e religioso. Eu posso confiar nisso? Posso confiar na orientação, na esperança, na visão que me dará fé no meu próprio julgamento, que mais uma vez é o resultado de lembranças acumuladas, experiências, o condicionamento do passado encontrando o presente?... Ora, quando eu coloco todas essas questões para mim mesmo e estou consciente do problema, vejo que pode haver apenas um estado em que a realidade e a novidade podem ser geradas, o que provoca uma revolução. Nesse estado a mente está completamente vazia do passado, não há analista, experiência, julgamento nem qualquer tipo de autoridade."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 35)


quarta-feira, 16 de agosto de 2017

A ORIGEM DO MEDO (PARTE FINAL)

"(...) Uma vez que não estejamos mais identificados com a mente, não faz a menor diferença para o nosso eu interior estarmos certos ou errados. Assim, a necessidade compulsiva e profundamente inconsciente de termos sempre razão - o que é uma forma de violência - vai desaparecer. Você poderá declarar de modo calmo e firme como se sente ou o que pensa a respeito de algum assunto, mas sem agressividade ou qualquer sentido de defesa. O sentido do eu interior passa a se originar de um lugar profundo e verdadeiro dentro de você, não mais de sua mente.

TENHA CUIDADO COM qualquer tipo de defesa dentro de você. Está se defendendo de quê? De uma identidade ilusória, de uma imagem em sua mente, de uma entidade fictícia. Ao trazer esse padrão à consciência, ao testemunhá-lo, você deixa de se identificar com ele à luz de sua consciência, o padrão de inconsciência irá se desenvolver rapidamente. Esse é o fim de todos os argumentos e jogos de poder, tão prejudiciais aos relacionamentos. O poder sobre os outros é a fraqueza disfarçada de força. O verdadeiro poder é interior e está à sua disposição agora.

A mente procura sempre negar e escapar do Agora. Em outras palavras, quanto mais nos identificamos com as nossas mentes, mais sofremos. Ou ainda, quanto mais respeitamos e aceitamos o Agora, mais nos libertamos da dor, do sofrimento e da mente.

Se não quer gerar mais sofrimento para você e para os outros, se não quer acrescentar mais nada ao resíduo do sofrimento do passado que ainda vive em você, não crie mais tempo, ou, pelo menos, não mais do que o necessário para lidar com os aspectos práticos da sua vida. Como deixar de criar tempo?

TENDO UMA PROFUNDA consciência de que o momento presente é tudo o que você tem. Faça do Agora o foco principal da sua vida. Se antes você se fixava no tempo e fazia rápidas visitas ao Agora, inverta essa lógica, fixando-se no Agora e fazendo visitas rápidas ao passado e ao futuro quando precisar lidar com os aspectos práticos da sua vida. Diga sempre 'sim' ao momento atual."

(Eckhart Tolle - Praticando o Poder do Agora - Ed. Sextante, Rio de Janeiro, 2005 - p. 26/28)

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

ABSTINÊNCIA E COMPREENSÃO

"As abstinências devem ser praticadas por meio da percepção e compreensão da nossa conduta e das nossas motivações. A não falsidade representa, além da eliminação de toda espécie de dissimulação, a capacidade de ver as coisas como elas são, e não como nós as projetamos. Mehta afirma que as projeções surgem de um passado mal resolvido; as frustrações das experiências passadas se projetam em situações novas e nos impedem de viver livremente cada momento da vida.

Não roubar abrange todas as formas de imitação, ainda que sutis. Quando estamos insatisfeitos com o que temos ou somos, passamos a desejar ou a imitar a condição de outras pessoas. Esse comportamento vem do sentimento de estarmos psicologicamente incompletos. Quando não desejamos ter o que não é nosso ou ser o que não somos, experimentamos um estado de preenchimento psicológico, de satisfação pela vida.

A não indulgência representa o abandono da busca de prazer. Isso não significa negar o prazer, mas parar de correr atrás dele. O prazer do paladar, por exemplo, não é nenhum mal em si; entretanto, ficar o tempo inteiro pensando em comida é ruim, pois gera uma distorção na mente que a impede de viver o momento presente. A não indulgência é viver o prazer quando ele acontece, e depois esquecê-lo.

A não possessividade é o desapego de todos os tipos de objetos. Isso não significa ser um mendigo, mas possuir as coisas sabendo que elas são transitórias e amanhã podem não estar mais conosco. Por objetos entendemos não apenas os bens materiais, mas todas as nossas condições de vida, que podem mudar a qualquer momento. Viver em função de memórias de fatos passados também é uma espécie de apego; é ficar preso a um conteúdo da mente."

(Cristina Szynwelski - O yoga e a moral espiritual - Revista Sophia, Ano 2, nº 6 - p. 32)


quinta-feira, 13 de julho de 2017

A RAIZ DE TODO O MEDO

"O anseio de se tornar causa medo. Ser, alcançar e depender também geram medo. O estado de ausência de medo não é a negação, não é o oposto do medo nem é coragem. Quando se entende a causa do medo, ele cessa. Não se trata de tornar-se corajoso, porque em tudo o que se torna há a semente do medo. A dependência de coisas, de pessoas ou de ideias gera medo. A dependência nasce da ignorância, da ausência de autoconhecimento, da pobreza interior. O medo causa incerteza na mente e no coração, impedindo a comunicação e o entendimento.

Mediante a autoconsciência começamos a descobrir e, assim, a compreender a causa do medo, não apenas a superficial, mas os profundos medos causais e acumulativos. O medo pode ser tanto inato quanto adquirido, está relacionado ao passado, e para libertar dele o pensamento-sentimento, o passado deve ser compreendido por meio do presente. O passado está sempre querendo dar origem ao presente, tornando-se a memória identificadora do 'eu' e do 'meu'. O self é a raiz de todos os medos."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 110)


terça-feira, 4 de julho de 2017

APRENDIZADO CONSTANTE (PARTE FINAL)

"(...) Os budistas acreditam que o caráter é a soma de nosso passado. Os ensinamentos teosóficos explicam essas ideias, dizendo que a memória é armazenada na parte superior de nossa natureza; ela é vislumbrada ocasionalmente e vista claramente no momento da morte. Livres dos embaraços terrenos, vemos em retrospectiva as causas, as inter-relações, o propósito e a justiça de tudo que ocorreu na vida. (...) 

Todos os seres vivos existiram antes de sua atual aparição na Terra. Orígenes, um padre da Igreja Primitiva, explicou que as almas humanas existiam no mundo espiritual dentro do ambiente divino, antes de encarnarem. Platão foi além, explicando que as almas não apenas existiam no universo antes de entrar neste reino de experiência, mas que, quando libertas dos vínculos de suas limitações, retornavam à morada anterior para repousar e assimilar as experiências terrenas. Depois de certo tempo, elas novamente seguem adiante, revigoradas e prontas para enfrentar as novas provações por meio das quais obtêm conhecimento da vida e visualizam as alturas que um dia alcançarão.

Quantas vidas vivemos? No livro Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach, a sábia gaivota expressa um ponto de vista interessante: 'Você tem alguma ideia de quantas vidas devemos ter vivido antes de sequer termos a primeira ideia de que existe mais coisas com relação à vida do que comer, lutar, ou o poder do rebanho? Mil vidas, Jon, dez mil! E depois outra centena de vidas até que comecemos a aprender que existe algo chamado perfeição, e mais cem vidas novamente até adquirirmos a ideia de que nosso propósito para viver è encontrar essa perfeição e manifestá-la.'

A mesma regra aplica-se a nós; escolhemos nosso próximo mundo através daquilo que aprendemos neste. Se não aprendermos nada, o próximo mundo será semelhante, com todas as limitações e pesos para superar."

(Eloise Hart - Os mistérios da reencarnação - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 30/31)


domingo, 21 de maio de 2017

A MEMÓRIA NEGA O AMOR

"É possível amar sem pensamento? O que você entende por pensamento? O pensamento é uma resposta às lembranças de sofrimento ou prazer. Não há pensamento sem o resíduo deixado pela experiência incompleta. O amor é diferente da emoção e do feeling. O amor não pode ser colocado no campo do pensamento; enquanto o felling e a emoção podem. O amor é uma chama sem fumaça, sempre fresco, criativo, alegre. Esse amor é perigoso para a sociedade, para o relacionamento. Então, o pensamento entra nele, o modifica, guia, legaliza e o coloca fora de perigo; desse modo, é possível viver com ele. Você não sabe que, ao amar alguém, ama toda a humanidade? Você não sabe que, é perigoso amar o homem? Não há barreira, não há nacionalidade; não há anseio por poder e posição, e as coisas assumem seus valores. Um homem assim é um perigo para a sociedade. 

Para o indivíduo de amor, o processo da memória deve ter um fim. A memória só aparece quando a experiência não é completamente entendida. A memória é apenas o resíduo da experiência, é o resultado de um desafio que não é totalmente compreendido. A vida é um processo de desafio  e reação. O desafio é sempre novo, mas a reação é sempre velha. Essa reação, que é condicionamento, resultado do passado, deve ser entendida, e não disciplinada ou condenada. Deve viver cada dia de maneira nova, integralmente. Esse viver completo só é possível quando há amor, quando seu coração está repleto, mas não de palavras nem com as coisas criadas pela mente. Só onde há amor a memória cessa; e, então, cada movimento é um renascimento."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 157)


sábado, 8 de abril de 2017

ENTRANDO NO AGORA (PARTE FINAL)

"(...) Uma presença intensa se faz necessária quando certas situações provocam uma reação de grande carga emocional, como, por exemplo, no momento em que acontece uma ameaça à nossa autoimagem, um desafio na vida que nos causa medo, quando as coisas 'vão mal' ou quando um complexo emocional do passado vem à tona. Nessas situações, tendemos a nos tornar 'inconscientes'. A reação ou a emoção nos domina, 'passamos a ser' ela. Passamos a agir como ela. Arranjamos uma justificativa, erramos, agredimos, defendemos... Só que não somos nós e sim uma reação padronizada, a mente em seu modo habitual de sobrevivência.

Identificar-se com a mente dá a ela mais energia, enquanto observar a mente retira a sua energia. Identificar-se com a mente gera mais tempo, enquanto observar a mente revela a dimensão do infinito. A energia retirada da mente se transforma em presença. No momento em que conseguimos sentir o que significa estar presente, fica muito mais fácil escolher simplesmente escapar da dimensão do tempo, sempre que o tempo não se fizer necessário para fins práticos, e entrar mais profundamente no Agora.

Isso não prejudica nossa capacidade de usar o tempo - passado ou futuro - quando precisamos nos referir a ele em termos práticos. Nem prejudica nossa capacidade de usar a mente. Na verdade, estar presente aumenta nossa capacidade. Quando você usar a mente de verdade, ela estará mais alerta, mais focalizada.

O principal foco de atenção das pessoas iluminadas é sempre o Agora, embora elas tenham uma noção relativa do tempo. Em outras palavras, continuam a usar o tempo do relógio, mas estão livres do tempo psicológico."

(Eckhart Tolle - Praticando o Poder do Agora - GMT Editores Ltda., Rio de Janeiro, 2016 - p. 32/33)


sábado, 1 de abril de 2017

COMPREENDER, COMPARTILHAR E AMAR (PARTE FINAL)

"(...) Uma mente sossegada e calma pode nos tornar mais sensíveis, já que não somos perturbados pelos pensamentos. Então pode haver compreensão, compartilhamento e amor. Profundamente dentro de nós estão as raízes do amor e da compreensão. Não é tão fácil despertá-las. Precisamos experienciar profundamente, estar abertos e ser sensíveis, para dar preferência à outra pessoa. Isso não é fácil, já que esperamos tanto dos outros.

Amor é sabedoria, e sabedoria é amor. Mas a sabedoria e a compaixão verdadeiras não são possíveis a não ser que compreendamos toda a situação, os problemas, o sofrimento da pessoa e assim por diante. Só podemos amar quando esquecemos de nós mesmos e nos situamos além do eu.

'A caridade não busca a si própria', disse o apóstolo Paulo. Amor e compaixão são sentimentos ativos, não passivos. Amor e compaixão significam assumir e suportar o sofrimento dos outros, ajudando a suportar suas dores. Frequentemente buscamos o que é vantajoso para nós, o que pensamos poder nos trazer felicidade. Enquanto estivermos procurando vantagem pessoal, não encontraremos o amor. Agarrar-nos ao eu não nos permite experienciar o amor.

O eu deve morrer para o passado e viver no presente para que nossos corações se encham de amor. Existe amor quando não existe necessidade, quando não buscamos satisfação. Só a mente que está livre do passado, dos preconceitos e dos desejos consegue amar - compreender e compartilhar a vida com os outros. Sem amor e compaixão não conseguimos realizar plenamente nossos deveres mais importantes - não conseguimos ser uma pessoa completa."

(Pertti Spets - Compreender, compartilhar e amar - Revista Sophia, Ano 8, nº 29 - p. 19)
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quinta-feira, 30 de março de 2017

COMPREENDER, COMPARTILHAR E AMAR (1ª PARTE)

"Quando dizemos que compreendemos outra pessoa, o que realmente estamos dizendo? Talvez que compreendemos como ela pensa e o que diz. Mas quão profundamente compreendemos? A maioria de nossos problemas surge através do relacionamento com o próximo - quando não o entendemos. Podemos saber o que o outro está dizendo, mas não quais são seus motivos. Podemos entender intelectualmente, mas isso é realmente compreender?

Quando encontramos pessoas que conhecemos, geralmente já temos um quadro sobre elas na cabeça. Reagimos de acordo com nossas experiências prévias e com o quadro que formamos. Carregamos o passado conosco e compreendemos essas pessoas através do passado. Nossas opiniões influenciam nosso relacionamento e nossa compreensão. Mas quando vivemos no presente, e o passado não é parte da nossa visão, podemos realmente entender uns aos outros. A mente deve ser atenta e sem preconceitos.

A abordagem intelectual privou-nos de uma compreensiva visão da vida e também de um entendimento mais profundo das outras pessoas. Compreender os outros verdadeiramente significa compreender toda a pessoa, não apenas o que ela está dizendo, mas também seus pensamentos, valores, motivos, desejos e caráter. A verdadeira compreensão exige que amemos uns aos outros. Quando ouvimos com nossos corações, compreendemos melhor do que quando ouvimos com o intelecto.

Os preconceitos e o medo não nos permitem ver com clareza. Estamos sempre com medo dos fatos e da realidade. É necessário coragem para ver a pessoa sob uma nova luz, sem concepções prévias. Esperamos que nossos amigos ajam de uma certa maneira. Não queremos que eles mudem. Não os reconhecemos se mudarem muito. Isso nos faz ficar incertos. Os pensamentos e as concepções prévias obstruem nossa visão. Confiamos demasiadamente em nossa própria compreensão do que a outra pessoa está dizendo. Essa é a fundação da nossa educação e da nossa cultura, que não enfatiza outras formas de compreensão. (...)"

(Pertti Spets - Compreender, compartilhar e amar - Revista Sophia, Ano 8, nº 29 - p. 19)


domingo, 26 de março de 2017

CRIATIVIDADE (PARTE FINAL)

"(...) Tudo o que acontece conosco agora reflete nossa carma passado. Se sabemos disso e o sabemos realmente, sempre que sofrimento e dificuldades nos atingem não os vemos mais como falhas ou catástrofes, nem os vemos de modo algum como punição. Não nos culpamos mais, nem nos permitimos odiar a nós mesmos. Vemos que a dor que atravessamos é a culminância dos efeitos, a fruição de um carma passado. Os tibetanos costumam dizer que o sofrimento é 'uma vassoura que varre todo o nosso carma negativo'. Podemos até ser-lhes gratos porque um carma está chegando ao fim. Sabemos que a 'boa sorte', um fruto do bom carma, pode logo passar se não a usarmos bem, e a 'má sorte', o resultado do carma negativo, pode na verdade estar dando a nós uma maravilhosa oportunidade de evoluir.

Para os tibetanos, o carma tem um significidado realmente vivo e prático no seu cotidiano. Eles vivem de acordo com o princípio do carma, no conhecimento da verdade que contém, e essa é a base da ética budista. Eles o entendem como um processo justo e natural. O carma inspira neles, portanto, um sentido de responsabilidade pessoal em tudo o que fazem. Quando eu era jovem, minha família tinha um excelente empregado chamado A-pé Dorje, que gostava muito de mim. Ele era realmente um santo, e nunca fez mal a ninguém em toda sua vida. Sempre que, em minha infância, eu dizia ou fazia algo prejudicial, ele replicava gentilmente: 'Oh, isso não está certo'; desse modo, instilava em mim um profundo senso da onipresença do carma e um hábito quase automático de transformar minhas reações, caso algum pensamento nocivo me invadisse o coração.

É realmente tão difícil perceber o carma em ação? Não basta apenas olhar para trás em nossas vidas para ver com clareza as consequências de alguns de nossos atos? Quando aborrecemos ou ferimos alguém, isso não veio de volta contra nós? Não fomos deixados com uma amarga e negra recordação, e com as sombras da autodesaprovação? Essas recordações e sombras são o carma. Nossas hábitos e medos também provêm do carma, o resultado de ações, palavras e pensamentos que tivemos no passado. Se examinarmos nossas ações e tomarmos realmente consciência delas, veremos que há um padrão que se repete: sempre que agimos negativamente, isso resulta em dor e sofrimento; sempre que agimos positivamente, isso no final resulta em felicidade."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 133/134)


segunda-feira, 13 de março de 2017

A REENCARNAÇÃO E SUA NECESSIDADE (1ª PARTE)

"Há apenas três explicações para as desigualdades humanas, sejam de capacidade, de oportunidade ou de circunstância, 1: Criação especial por Deus, implicando que o homem é indefeso, seu destino sendo controlado por uma vontade arbitrária e incalculável. 2: Hereditariedade, conforme sugere a ciência, implicando igual impotência por parte do homem, sendo ele o resultado de um passado sobre o qual não teve controle. 3: Reencarnação, implicando que o homem pode tornar-se senhor do seu destino, o resultado do seu próprio passado individual, sendo, assim, o que fez de si mesmo. A criação especial é rejeitada por todos os que raciocinam, como explicação para as condições que nos rodeiam, a não ser na mais importante de todas elas, o caráter com o qual e o ambiente ao qual nasce uma criança. A evolução é tida como certa em tudo, menos na vida da inteligência espiritual chamada homem. Ele não tem passado individual, embora tenha um futuro individual infinito. O caráter que traz com ele – e do qual, mais do que qualquer outra coisa, depende o seu destino na Terra – é, segundo essa hipótese, especialmente criado para ele por Deus, e é imposto a ele sem qualquer escolha de sua parte, destino saído da sacola da sorte da criação, da qual ele pode retirar um prêmio ou um bilhete em branco, sendo este último a condenação ao infortúnio. Do jeito que for, ele deve aceitá-lo.

Se da sacola ele retirar uma boa disposição, ótima capacidade, uma natureza nobre, tanto melhor: ele nada fez para merecê-lo. Se tirar uma criminalidade congênita, uma idiotia congênita, uma moléstia congênita ou um alcoolismo congênito, tanto pior para ele: ele nada fez para merecê-lo. Se a eterna bem-aventurança está anexada a um e o tormento eterno a outro, o desafortunado deve aceitar sua má sorte como puder. O poder do oleiro não é maior do que o da argila? Isso pareceria triste, se a argila pudesse sentir.

Sob outro aspecto, a criação especial é grotesca. Um espírito é criado especialmente para um pequeno corpo que morre poucas horas depois de ter nascido. Se a vida na Terra tem algum valor educativo ou experimental, esse espírito será, para sempre, o mais pobre, ao perder a vida, e a oportunidade perdida jamais poderá ser recuperada. Se, por outro lado, a vida humana na Terra não é essencialmente importante e leva com ela a certeza de muitas ações más e de sofrimento, e a possibilidade de sofrimento eterno ao seu final, o espírito que vem para um corpo que dura até a velhice mal pode tratar dele, pois deve suportar muitas doenças que o outro pode evitar, sem qualquer vantagem equivalente. E pode ser condenado para sempre.

A lista das injustiças induzidas pela ideia da criação especial poderia ser ampliada ao infinito, porque tal ideia inclui todas as desigualdades. Ela faz miríades de ateus, que a consideram incrível para a inteligência e revoltante para a consciência. Ela coloca o homem na posição de inexorável credor de Deus, perguntando, estridentemente: 'Por que me fizeste assim?' (...)"

(Annie Besant - O Enigma da Vida - Ed. Pensamento)

sábado, 18 de fevereiro de 2017

KARMA INDIVIDUAL E KARMA COLETIVO (3ª PARTE)

"(...) Tendo considerado, de uma forma geral, a mútua interação de todos os seres humanos, e como a única forma de servir a Deus é servir o Homem — o Filho de Deus — agora iremos considerar os seis Grupos.

1. Karma Conjugal. O marido e a mulher partilham, cada qual, do Karma do outro, mas isso se dá especial­mente assim quando existe perfeita união entre marido e mulher, porque seus respectivos karmas podem mesclar-se, tanto mais se a união existiu em vidas passadas, como marido e mulher ou como amigos, e assim eles compar­tilham das alegrias e desgostos um do outro, sentindo da mesma maneira os interesses um do outro. Numa união espiritual do mais puro amor, o laço, uma vez feito, nun­ca mais é rompido, e duas almas assim ligadas serão tra­zidas de volta, vida após vida, embora não obrigatoria­mente como marido e mulher. Podem voltar como ami­gos íntimos. Essa doutrina do Karma Conjugal deu nas­cimento, na Índia e em partes da China, ao 'sutee', a autoimolação de uma fiel viúva sobre a pira funeral do ma­rido. Um triste costume, que felizmente está morrendo, porém que, não obstante, mostra uma alma de nobre elevação na mulher que o seguia e uma grande fé no en­contro após a morte. É uma pena que essa nobre quali­dade não pudesse ser transformada na paciência maior que o conhecimento do Karma deveria causar, e que a ensinaria a esperar o dia da morte, em vez de determiná-lo por si mesma. Não apenas no Oriente, mas também no Ocidente, tem acontecido com frequência que o so­brevivente perca todo o gosto pela vida, e a dor e o cora­ção despedaçado abram uma sepultura depressa demais. Quantos suicídios têm resultado de um amor perdido! O conhecimento da Lei do Karma tende a abrandar esses males e a tornar a vida mais suportável, mostrando que o dia do reencontro é mais bem determinado pelo Kar­ma, que atua pelo amor de Deus, e não por qualquer ato autossugerido, que, afinal, é egoístico. Existe grande nú­mero de pessoas cuja vida seria mais animada por um pouco de amor, e há espaço para o trabalho do enlutado. Assim é que eles podem adoçar sua perda, e mostrar que o amor por uma pessoa não obscurecia o amor pelo Se­nhor do Amor. (...)"

(Irmão Atisha - A Doutrina do Karma - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 31