OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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quarta-feira, 1 de março de 2017

HABILIDADE PARA LIDAR COM A DOR (PARTE FINAL)

"(...) Annie Besant afirmou certa vez que, fazendo uma retrospectiva de sua vida, concluiu que poderia ter vivido sem todas as alegrias e prazeres, mas não sem as dores e os sofrimentos. Por meio dessas dores ela se tornou a grande mulher que foi. 'Muitos homens devem a grandeza de suas vidas às tremendas dificuldades por que passaram', disse Charles Spurgeon. (...)

Uma vida de tranquilidade traz decadência. Uma vida de dificuldades estimula o crescimento. Francis Bacon observou que 'a prosperidade revela melhor o vício e a adversidade revela melhor a virtude'. Ele escreveu também: 'A virtude da prosperidade é a temperança; a virtude da adversidade é a firmeza, que em termos de moral é a mais heróica virtude.'

Vencendo as adversidades comuns da vida - grandes e pequenas -, começamos a compreender o que está vinculado à busca daquela meta final de todo ser humano: a libertação total, a autorrealização; tornar-se um ser perfeito, livre da roda de nascimentos e mortes.

Não é de se admirar que os grandes instrutores não recomendem seguir o caminho estreito do discipulado a não ser que tenha chegado a hora em que o discípulo esteja pronto, tendo atravessado as dores e as lições da vida humana e sido aprovado. Somente então ele estará preparado para os testes finais da vida - testes tão formidáveis capazes de esmagar até mesmo homens de coragem e firmeza.

Numa carta a A. P. Sinnett, o mestre K. H. descreveu esse desafio em poucas palavras: 'Permitimos que nossos candidatos sejam tentados de milhares de maneiras diferentes, para extrair a totalidade de sua natureza interior e permitir-lhes a oportunidade de permanecerem conquistadores de uma maneira ou de outra. (...) Todos nós fomos testados assim. A coroa da vitória é apenas para aquele que prova ter valor para usá-la. (...) Não foi uma frase sem significado do Tathagata [Buda] que 'Aquele que domina o eu é maior que aquele que vence milhares de homens em batalha': não existe outra batalha tão difícil.'

Devemos, portanto, dar o valor devido a cada adversidade e a cada desafio por que passamos. Deixemos que sejam o fogo que forja o aço em nosso caráter, o polimento que é necessário à pedra preciosa de nossas almas."

(Vicente Hao Chin Jr - Oportunidades para crescer - Revista Sophia, Ano 7, nº 26 - p. 34/35)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

PROCESSO EGOICO (1ª PARTE)

"Krishnamurti afirmou o seguinte: 'Você cultivou a investigação com relação ao mundo externo, como a ciência investigando a natureza; você cultivou a pesquisa quanto aos problemas sociais para resolvê-los; mas você não cultivou a pesquisa para compreender a si próprio. Você é tão ignorante de si mesmo!'

No livro A Educação e o Significado da Vida, ele disse também: 'O homem ignorante não é o homem sem cultura, mas aquele que não conhece a si mesmo. E o homem culto é estúpido quando confia no seu conhecimento para obter compreensão.'

Ideias semelhantes foram ensinadas por Buda, Sócrates e vários outros. Nós os temos em alta estima; entretanto, damos ouvido a eles? Não. Por quê? Será que não estamos realmente convencidos da verdade do que eles dizem, mesmo após conhecermos todos os argumentos?

Logicamente, pode-se demonstrar o quanto o ego é destrutivo. Se escolhermos qualquer virtude, qualquer qualidade, e acrescentarmos a ela o ego, vejamos no que se torna. Escolhemos o amor, juntamos a ele o ego e temos apego, possessividade, ciúme, dependência. Escolhemos a humildade, juntamos a ela o ego e temos complexo de inferioridade, servilismo, humilhação. Escolhemos o poder e a habilidade de fazer as coisas, juntamos a eles o ego e teremos dominação e exploração. Escolhemos a sexualidade, juntamos a ela e ego e temos a pornografia.

O ego é a fonte de todos os problemas tanto em nossa vida pessoal quanto na sociedade, porque nós somos o mundo. Se compreendermos esse fato, o que quer que aconteça na sociedade passará a ser um reflexo do que acontece dentro de nós, em nossa consciência.

Será possível nos libertarmos desse processo egoico? Se ele for algo que a natureza criou em nós, como os rins ou os pulmões, não poderemos nos livrar dele, mas apenas lidar com ele. Mas se for algo que criamos a partir do nosso próprio pensamento, ou da maneira como abordamos a vida, então poderemos aprender a abordar a vida de outra maneira. (...)"

(P. Krishna - Novas maneiras de ver o mundo - Revista Sophia, Ano 7, nº 25 - p. 6/7)

sábado, 7 de janeiro de 2017

O HOMEM NOS TRÊS MUNDOS (PARTE FINAL)

"(...) A lei é a seguinte: determinadas causas trazem determinados resultados. A lei é imutável, mas o jogo dos fenômenos está sempre mudando. A causa mais poderosa entre todas as causas é a vontade e a razão humanas, que, apesar disso, são omitidas, na maior parte das vezes, quando as pessoas falam em karma. Nós somos causas, porque somos a vontade divina, unos com Deus no nosso ser essencial, embora prejudicados pela ignorância e trabalhando através da matéria grosseira, que emperra a nossa ação, até que consigamos conquistá-la e espiritualizá-la. A imutabilidade do karma não é a imutabilidade dos efeitos, mas da lei, e é isso que nos torna livres. Seríamos escravos de verdade num mundo onde tudo acontece por acaso. Nossa liberdade e segurança dependem do conhecimento que temos desse mundo regido por leis. Na Idade Média, os alquimistas de forma alguma eram livres para chegar aos resultados que desejavam, mas tinham de aceitar os resultados como quer que viessem, imprevistos e, na maioria deles, indesejados, mesmo que isso representasse os seu mais sérios prejuízos. O resultado da experiência poderia ser um produto útil, ou reduzir o experimentador a fragmentos. Roger Bacon colocou em ação causas que lhe custaram um olho e um dedo, e, em certa ocasião, essas causas atiraram-no ao chão da sua cela, desacordado. Fora daquilo que conhecemos estamos sempre em perigo, e qualquer causa que ponhamos em ação pode nos desgraçar, porque, a maioria de nós, nos mundos mental e moral, somos Rogers Bacons. Dentro do nosso conhecimento podemos ter movimentos livres e seguros, tal como os bem treinados químicos modernos. Em todos os três mundos nos quais vivemos é igualmente verdade que, quanto mais sabemos, mais podemos prever e controlar. Visto que a lei é inviolável e imutável, o conhecimento é uma condição indispensável para a liberdade. Estudemos, então, o karma, e usemos o nosso conhecimento na orientação da nossa vida. São muitas as pessoas que dizem: 'Oh! Como eu gostaria de ser boa!', e não usam a lei criar as causas que têm como resultado a bondade. É como se um químico dissesse: 'Oh! Como eu desejo ter água!', e não fosse em busca das condições que produzissem essa água tão desejada.

Devemos recordar, novamente, que cada força atua em sua linha específica, e que quando certo número de forças se intrometem num ponto específico, a força resultante é a consequência de todas elas. Em nossos dias de escola, aprendemos como se constrói um paralelograma de forças e assim descobrimos a resultante de sua composição; o mesmo se dá com o karma, quando podemos entender o conflito de forças e sua composição para obter um único resultado. Ouvimos pessoas perguntando por que um homem bom fracassa nos negócios, enquanto um mau homem obtém sucesso. Não há, entretanto, uma conexão causal entre bondade e ganho de dinheiro. Bem, poderíamos dizer: 'Sou um homem muito bom, por que não posso voar pelos ares?' A bondade não é causa para o voo, nem para trazer dinheiro. Tennyson tocou numa grande lei, em seu poema: 'Salário', quando declarou que o salário da virtude não era o 'pó', nem o repouso, nem o prazer, mas a glória de uma imortalidade ativa. 'A virtude é a sua própria recompensa', no mais alto sentido dessas palavras. Se você for autêntico, sua recompensa está no fato de a sua natureza tornar-se mais verdadeira; isso acontece, sucessivamente, com cada virtude. Os resultados kármicos só podem ser da mesma natureza das suas causas. Eles não são arbitrários, como as recompensas humanas."

(Annie Besant - Os Mistérios do Karma e a sua Superação - Ed. Pensamento, São Paulo, 2009 - p. 46/48)

domingo, 27 de novembro de 2016

QUAL É O SEU DEVER

"Qual é exatamente seu dever? Deixe-me resumi-lo para você. Primeiro, cuide de seus pais com amor, reverência e gratidão. O segundo é falar a verdade (sathyam vada) e agir com virtude (dharmam shara). Terceiro, quando dispuser de algum tempo, repita, repita o nome do Senhor, imaginando Sua Forma. Quarto, não se permita falar mal dos outros, nem tente descobrir os erros deles. E, finalmente, o quinto, não cause dor, de qualquer forma, aos outros.

Reverencie a sabedoria (jnana), assim como o faz a seu pai. Adore o Amor (prema) como adora sua mãe. Movimente-se fundamentalmente em Retidão (dharma) como se a retidão fosse sua verdadeira irmã. Confie na Compaixão (daya) como sua própria filha. Tais são seus genuínos parentes. Mova-se com eles. Viva com eles. Não os abandone. Não negligencie."

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 161)


sexta-feira, 7 de outubro de 2016

A DEVOÇÃO DEVE SER COMPLETA (PARTE FINAL)

"(...) Alguns perguntam, às vezes: 'Se eu fizer todas essas coisas, quanto tempo levará para o Mestre me pôr à prova?' Não haverá nenhuma demora, mas nesta pergunta toda a virtude está na palavra 'se'. Não é fácil fazê-las perfeitamente, e se tal fosse necessário, sem dúvida só depois de muito tempo poderíamos contar com o discipulado. Mas um dos Mestres disse: 'Aquele que faz o melhor possível, basta-nos.' Se a alguém não lhe apraz o serviço por amor ao próprio serviço, mas está apenas na expectativa do prêmio do reconhecimento oculto, esse não está realmente animado do reto espírito. Se tem a atitude correta, ele prosseguirá incansavelmente com o bom trabalho, deixando que o Mestre anuncie a Sua satisfação quando e como o preferir.

Nesta matéria nossos irmãos hindus mantêm uma tradição certa. Eles diriam: 'Vinte ou trinta anos de serviço não é nada; na Índia há muitos que têm servido durante todas as suas vidas e nunca receberam qualquer reconhecimento externo, embora internamente sejam guiado por um Mestre.' Deparei-me com um exemplo destes há poucos anos atrás: Tive que fazer algumas pesquisas destas, referentes a alguns de nossos irmãos indianos, e a resposta do Mestre foi: 'Durante quarenta anos os tenho tido sob observação; que se contentem com isso.' E de fato ficaram mais do que contentes. Depois disso, posso mencionar, eles receberam ulteriores reconhecimento, e tornaram-se Iniciados. Internamente o nosso irmão indiano sabe que o Mestre está ciente de seus serviços; mas o discípulo não cogita se o Mestre toma ou não qualquer conhecimento externo disso. Certamente se sentiria sumamente feliz se o Mestre o mencionasse, mas se tal não acontece, ele continua exatamente o mesmo."

(C.W. Leadbeater - Os Mestres e a Senda - Ed. Pensamento, São Paulo, 2004 - p. 77/78

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

CUMPRA O PRÓPRIO DEVER

"(3:35) Cumprir o próprio dever, mesmo sem sucesso, é melhor que cumprir com êxito o dever alheio. Mais vale morrer tentando realizar o que nos compete do que assumir as obrigações dos outros (sejam elas embora mais fáceis e seguras), pois esse caminho está semeado de perigos e incertezas.

O dever supremo de todo homem consiste, é claro, em encontrar o Eu único: Deus. Mas o caminho de uma pessoa para Deus pode ser muito diferente do caminho das outras e de quaisquer caminhos que as outras lhe imponham. Se ela não tiver um guru autêntico para lhe apontar a melhor direção, deverá seguir a voz interior que lhe sussurra: 'É por ali que deves ir a fim de conquistar a verdadeira liberdade.' O repúdio a qualquer envolvimento posterior com maya é o critério sumpremo da virtude. Podemos exclamar, por equívoco: 'Mas sinto mais alegria quando caminho rumo à satisfação dos sentidos!' Se não vivenciamos ainda a alegria divina, podemos com a maior facilidade ser ludibriados pela mera excitação dos prazeres sensuais. Há também quem diga, erroneamente: 'Todavia, quando contemplo esta mulher (ou este homem), sinto um amor profundo. Ora, um sentimento assim deve ser legítimo!' O resultado, na sequência das várias peripécias entre um nascimento e outro, muitas vezes leva esses entusiastas para bem longe de seus primeiros arroubos de paixão! A liberdade interior é, pois, o guia moral mais confortável. Pergunte a si mesmo: 'Encontrarei a liberdade no deleite desta contemplação? Sentir-me-ei livre nos anseios deste amor?'

A pergunta seguinte será, é claro: 'De que me sentirei livre?' Libertação do acicate do desejo não é libertação; é apenas alívio passageiro! A sensação de liberdade deve ser calma e garantir a plenitude interior. Ainda assim, como desabafou certa vez Yogananda, 'As pessoas são tão hábeis em sua ignorância!' Nem sempre convém à gente comum confiar demais em seu próprio tirocínio. A necessidade suprema de todo aquele que busca com sinceridade é a orientação de um guru autêntico.

Como fará para reconhecer seu dever principal quem não conta com essa bênção nem, talvez, anseia tanto por Deus? O único recurso é perguntar a si mesmo: 'Dar-me-á ele maior liberdade interior e a sensação de ter feito o que era certo para mim?'"

(A Essência do Bhagavad Gita - Explicado por Paramhansa Yogananda - Evocado por seu discípulo Swami Kriyananda - Ed. Pensamento, São Paulo, 2006 - p. 176/177


sexta-feira, 15 de julho de 2016

ABRINDO MÃO (1ª PARTE)

"Uma das coisas mais importantes que o ensinamento budista traz ao mundo, embora o mundo não lhe preste muita atenção, diz respeito à impermanência. A maioria das coisas não dura neste mundo; contudo, às pessoas sentem que há outras coisas a fazer e que nelas devem persistir.

No livrinho Luz no Caminho, há uma breve referência à Senda Verdadeira, que a pessoa pode trilhar logo que tenha deixado para trás o apego a tudo neste mundo. Isso significa desprender-se de cada pensamento, sentimento e preferência, até que a mente esteja completamente livre de apegos.

Só se pode ter apego a coisas que conhecemos; e só se pode adentrar o campo do desconhecido quando o conhecido deixa de existir. O desconhecido pode incluir elementos dos quais não fazemos qualquer ideia atualmente, mas nos aferramos a algo ou a outras pessoas na esperança de que sejam substitutos. Podem ser membros da família ou amigos com quem temos íntimo relecionamento. Numa certa parte do nosso cérebro, sabemos que é por isso que continua a existir o luto por pessoas que não mais existem. Esse apego é uma das sérias doenças enfrentadas pelos seres humanos, e as encarnações se passam antes que o desapego seja sequer considerado uma virtude.

Segundo se diz, J. Krishnamurti era muito apegado a seu irmão. A doutora Besant era como uma mãe para ele, mas havia também seu irmão mais novo que devia auxiliá-lo em sua obra. O irmão morreu na Califórnia quando Krishnamurti nem mesmo estava presente; durante duas ou três noites, ele teve que lutar, não com o fato, mas consigo mesmo. Dessa experiência saiu uma nova pessoa, pois entendera todo o problema do apego. O fato de que ele parecia não precisar de companhia foi um fato desconcertante a seu respeito. Isso pode acontecer a qualquer um de nós, mas não queremos abrir mão. As pessoas acham difícil aceitar a verdade da impermanência. Nada dura neste mundo. Quando chegamos a essa conclusão - de que tudo no mundo perece - perguntamos: haverá um Eu que transcende esta regra? (...)"

(Radha Burnier - O desafio da mudança - Revista Theosophia, Ano 101, Julho/Agosto/Setembro 2012 - Pub. da Sociedade Teosófica no Brasil - p. 9) 


domingo, 3 de julho de 2016

RELIGIÃO HUMANÍSTICA (PARTE FINAL)

"(...) Disse Swami Vivekananda a respeito do trabalho abnegado: 'É pura tolice da parte de qualquer pessoa supor que veio ao mundo para ajudar a humanidade. Isso não passa de vaidade; isso é egoísmo insinuando-se sob a forma de virtude...

'O desejo de fazer o bem é a mais alta força de motivação que possuímos, caso entendamos que se trata de um privilégio para ajudar os outros. Não te coloques num pedestal elevado, ofertando algumas míseras moedas com as palavras: Tome lá, pobre homem! Mas fica antes agradecido por estar ali o pobre homem, de tal modo que, dando-lhe uma esmola, achas meio de ajudares a ti mesmo. Não é o que recebe o abençoado, mas o que dá. ... O que podemos fazer de melhor? Construir um hospital, abrir estradas, ou erguer asilos de caridade... Uma erupção vulcânica pode arrasar com todas as nossas estradas, hospitais, cidade e edifícios.

'Coloquemos de lado todo esse palavreado tolo de fazer o bem para o mundo. Ele não está à espera nem da minha nem da tua ajuda. No entanto, é preciso que trabalhemos e façamos constantemente o bem, porque se trata de uma bênção para nós mesmos. Esse é o único meio de podermos alcançar a perfeição... Julgamos ter ajudado alguém e esperamos que ele venha nos agradecer; e, por não fazê-lo, enchemo-nos de tristeza. Por que devemos esperar seja lá o que for em troca do que fazemos? Sejas tu agradecido a quem ajudaste, pensa nele como sendo Deus. Não será enorme privilégio poder adorar a Deus através de nosso próximo?

'Não importa o que faças de bom, algum mal haverá de estar-lhe inerente; todavia, não vises a resultados pessoais em tudo quanto fizeres. Abandona todos os resultados a Deus, e então não serás afetado nem pelo bem nem pelo mal.'

A religião não deve ser egoísta nem altruísta e, sim, teocêntrica. Importa que centralizemos nossa mente toda em Deus, e, depois, abrindo nossos braços a todos, abracemos cada um no amor de Deus."

(Swami Prabhavananda - O Sermão da Montanha Segundo o Vedanta - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 130/131)


segunda-feira, 13 de junho de 2016

TRABALHE O SEU CARÁTER

"Reduza seus desejos; minimize seus anseios. Todas estas quinquilharias materiais têm vida curta. Quando a morte o privar do poder de defender-se, seus parentes arrancarão o anel de seu nariz (é comum nas indianas um anel na aba de uma das narinas) e, na pressa, podem mesmo cortar-lhe o nariz. Se você continuar amontoando desejo sobre desejo, ser-lhe-á impossível partir feliz quando o chamado vier. Torne-se rico, mas rico de virtude, rico de espírito de serviço, rico de devoção ao Poder Supremo. Isso é o que Me agrada e também o salva.

Uma barra de ferro afunda quando posta na água; mas a trabalhe até a transformar num vaso oco, e ela flutuará e até carregará algum peso a mais. Assim também acontece com a mente do homem, que facilmente afunda no mar da sensualidade. Trabalhe-a, martelando-a com o nome do Senhor; e ela flutuará no mar dos problemas. Não faça igual a um disco da vitrola a cantarolar a canção de alguém, enquanto ignora a genuína emoção da música. Cante, de sua própria experiência, a Glória e a Graça do Senhor."

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 151)


quinta-feira, 26 de maio de 2016

HUMILDAÇÃO

"Quedas...

Todos podemos cair. Chega a ser orgulho tolo sentir-se infalível, à prova de tombos.

Quando um que se supõe infalível escorrega ou tropeça e cai, machuca-se muito mais do que um outro, que humildemente se sente falível.

Perfeccionismo, isto é, a mania de ser perfeito sempre, é uma carga dolorosa. A mania de ser imaculado e modelo de virtudes é uma forma de neurose, que implica tensões desastrosas.

Todo perfeccionista é um doente egocentrado.

Aos maníacos perfeccionistas, minha sugestão é: passem a viver melhor reduzindo seu ego, isto é, humildando-se.

Que alívio toma conta do perfeccionista quando ele consegue se aceitar e largar a sofrida carga imposta pelo orgulho!

É claro que devemos aspirar à santidade e a sanidade, não por nosso vaidoso esforço, mas pela Graça de Deus, que está ao alcance daquele que se humilda.

Senhor. Eis-me humildemente pedindo Vossa Perfeição.

(Hermógenes - Deus investe em você - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1995 - p. 115/116) 


terça-feira, 10 de novembro de 2015

A EXPERIÊNCIA DE DEUS (PARTE FINAL)

"(...) Sadhu Vaswani não apenas sentia 'compaixão' pelos pobres; ele verdadeiramente sofria as dores deles como se fossem suas dores. Frequentemente chorava ao ver uma pessoa em aflição. 'Não existe morte', ele nos ensinou certa manhã: 'a morte é uma ilusão, e devemos aprender a transcendê-la'. Mais tarde, nesse mesmo dia, ele foi chamado a permanecer ao lado de uma mãe idosa que havia perdido seu único filho num acidente aéreo. Ela chorava amargamente, e os olhos dele marejavam. Posteriormente nós o questionamos: 'Esta manhã você nos ensinou que a morte é uma ilusão. Qual, então foi a razão das suas lágrimas?' E ele respondeu: 'Quando estava sentado ao lado da velha mãe, senti que eu era ela.' Terá sido também esta a razão pela qual Jesus chorou quando sentou ao lado da irmã de Lázaro? 

Para todos os grandes seres, ajudar o próximo não era um dever, nem era, sequer, uma virtude: era uma pulsação da existência. Para eles, viver era amar e servir os pobres e necessitados. Para eles, os pobres eram retratos de Deus, e servi-los era adorar a Deus.

Deus está além do conhecimento. Contudo, Ele é conhecido na medida em que nós O amamos. Aqueles que amam a Deus encontram repouso somente em Deus. Eles O observam no templo do coração, e também nos corações  de todas as outras pessoas, pois todos estão em Deus, e Deus está em todos. Amando a Deus, eles vão em frente servindo os pobres, os desamparados e os abandonados. É para esse serviço desinteressado e amoroso que todos os grandes seres verdadeiramente nos chamam. Quantos ouvirão o chamado?"

(J.P. Vaswani - A experiência de Deus - Revista Sophia, Ano 13, nª 56 - Ed. Teosófica - p. 43)

terça-feira, 29 de setembro de 2015

LEALDADE (PARTE FINAL)

"(...) Quando falamos de sermos leais ou não, quem somos 'nós'? É a mente em nós que escolhe ou decide. A mente, embora associada a outros elos da cadeia da individualidade humana, é essencialmente o homem. Onde fica a natural lealdade ou centro de gravitação para a mente? Naquilo que chamamos de Espírito, o foco espiritual da consciência manifestada. Uma vez que o Espírito não é pessoal, mas vivo, onipenetrante, infinitamente centrado, a atração a ele é atração a tudo que seja espiritual. Somente nisso está a direção do progresso, se quisermos elevar-nos acima do plano de mera expansão da mentalidade que é ativa na vasta maioria dos homens. A mente tem de ser enxertada no princípio espiritual ou elevada até ele. Portanto, não pode haver lealdade na mente do homem, exceto aqueles valores, corporificados numa pessoa ou teoricamente contemplados, que são cristalizações da qualidade espiritual imperecível, presentes nele mesmo.

Mesmo quando a livre autoentrega do coração é a alguém em quem se vê perfeição, essa autoentrega é à sua própria raiz ou origem. A verdadeira lealdade, em todos os casos, só pode ser àquilo que pode reivindicar lealdade ao refletir a natureza do espírito, que tem uma atração inerente pelo coração e a mente puros. Numa tal lealdade não existe exclusão nem a possibilidade de contradições e conflitos futuros; não existe artificialidade nem aviltamento a um fim indigno ou por meios indignos. 

Nossa devoção e lealdade a uma pessoa são muitas vezes o desenho de um círculo em torno de nós mesmos, do qual os outros são excluídos. Nossa admiração por uma pessoa muitas vezes implica desprezo inconsciente do outro, mesmo quando ostensivamente não fazemos a comparação. A lealdade pode ser interesseira; às vezes adulamos nosso Deus para obter uma porção de seu reino. O cancro do eu pode permanecer oculto na mais bela das flores. Devemos estar de atalaia para extirpá-lo.

A lealdade é uma daquelas virtudes de que fala Luz no Caminho: "Em verdade as virtudes do homem são passos necessários, dos quais não se pode prescindir de modo algum. Contudo são inúteis se isolados. Toda a natureza do homem deve ser sabiamente empregada por aquele que deseja entrar no caminho'.

Quando toda a natureza é empregada sabiamente, a coisa torna-se sagrada. Nessa natureza não existe discriminação maléfica. Então a lealdade a Deus, ao homem, a si próprio e aos próprios ideais (ou pode ser a um cão) torna-se um fator estabilizante, unificado, a espinha dorsal de nosso desenvolvimento. Tornamo-nos para nós mesmos o caminho, a verdade e a vida, quando alcançamos o estado perfeitamente integrado." 

(N. Sri Ram - O Interesse Humano - Ed. Teosófica, Brasília, 2015 - p. 69/70)

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

LEALDADE (1ª PARTE)

"A lealdade, quando não maculada por qualquer variedade de egoísmo - seja a um cônjuge, a um colega que esteja comandando, a um ideal ou a um grande Instrutor - é um artigo raro. Sem lealdade não pode haver firme dependência num mundo interdependente. Sem lealdade não pode haver força nas afinidades, princípio de coerência entre fatores diferenciados. Como todas as virtudes, a lealdade possui um aspecto universal e um aspecto individual; e é fatal endurecer o apego individual em detrimento de seus valores universais; é fatal converter o amor em posse, uma crença em reserva, ou uma convicção numa clava. Nossas lealdades não devem tornar-se padrões sob os quais venhamos a constranger as liberdades dos outros, ou critérios por meio dos quais os condenemos. 

A lealdade não deve tornar-se exclusiva, não deve destruir a fraternidade nem a compreensão. Isto só é possível quando prestamos obediência a um ideal, que compreende todo interesse desejável como algo menor do que ele mesmo. A verdade à qual aspiramos deve incluir toda a verdade que percebemos com nossas mentes abertas; deve expandir-se, elevar-se e ser suscetível à transmutação, à medida que nossas percepções e experiências aumentem. A verdade, sendo maior do que imaginamos, precisará de muitos canais. O tema, sendo mais vasto do que a música que ouvimos, deve estar aberto a tratamentos em eterna variação. No desabrochar do plano de evolução são usados agentes para muitos propósitos. Nossas boas qualidades, inevitavelmente exageradas, precisam ser corrigidas e equilibradas pelos outros no desenvolvimento do trabalho.

A lealdade não deve tornar-nos rígidos, inadaptáveis ao propósito do desabrochar da vida. A lealdade a uma ideia pode ser também lealdade a uma convenção, preconceito, uma imagem abstrata que criamos para satisfazer nossos gostos e aversões. O homem cria Deus (a grande Ideia) segunda sua própria imagem para satisfazer seus temores e desejos.

Devemos evitar os perigos e embaraços de uma mentalidade dividida; recusar sermos colocados numa encruzilhada, como geralmente acontece com aqueles que são leais a uma ideia ou a uma pessoa e, contudo, acham que existe uma atração ou dever com o qual essa lealdade torna-se incompatível. (...)"

(N. Sri Ram - O Interesse Humano - Ed. Teosófica, Brasília, 2015 - p. 68/69)


quinta-feira, 17 de setembro de 2015

DESFRUTE O QUE LHE É DESIGNADO

"Os virtuosos que comem os restos do sacrifício estão livres de todos os pecados, mas os ímpios que preparam o alimento para seu próprio benefício - verdadeiramente comem pecado. 

Comer os restos do sacrifício, isso é que de fato está indicado na expressão tena tyaktena bhunjitha, desfrutar aquilo que nos cabe, aquilo que foi separado para nós. Por que cobiçamos a riqueza de outro? É porque não descobrimos nossos próprios tesouros. Essa descoberta é possível somente quando vemos o Repouso Infinito no Movimento Infinito. Quando o Movimento é separado do Repouso, torna-se um mal monstruoso, resultando na frustração do vir-a-ser.

Aceitar o que é dado não é um evangelho de passividade. É realmente a base da verdadeira felicidade e ponto de partida para a correta ação. Na Aceitação descobrimos o repouso Infinito. Quando o Movimento Infinito, que é o processo do vir-a-ser, está enraizado no Repouso Infinito, então todo o movimento está pleno de significado e felicidade. No Repouso Infinito descobrimos a Qualidade de nosso próprio Ser, a Qualidade de Atman que é idêntica à Qualidade de Brahman.

A aceitação daquilo que nos é designado também não é um evangelho da procrastinação. Muitas vezes uma pessoa adota uma atitude em que diz que deve aceitar o seu destino na esperança de que o futuro lhe traga felizes novidades. Isso não é aceitação de modo algum, é submissão, e, também, com ressentimento interior. Aceitar o que é dado, aquilo que está separado para nós, é comprometer-se com a correta Percepção. Muitas vezes o homem recusa receber aquilo que lhe é dado porque não vê o que é. Quando percebemos acertadamente, então vemos na coisa dada a qualidade da Verdade, Beleza e Felicidade, a qualidade do Próprio Brahman. Aceitar o que é dado é transformar a coisa em uma janela da qual olhamos para a beleza da própria vida. A experiência da felicidade vem com a própria percepção. E, portanto, a ação que emana dessa percepção está enraizada na felicidade. Esse é o motivo pelo qual o verso de abertura do Upanixade Ishavasya diz: 'Desfrute o que lhe é designado' - ele não diz - 'Suporte o que lhe é dado.' Aceitar o que é dado é perceber a Qualidade de nosso próprio Ser. O processo de vir-a-ser que emerge dessa percepção é naturalmente livre dos elementos da tristeza e frustração."

(Rohit Mehta - O Chamado dos Upanixades – Ed. Teosófica, Brasília, 2003 - p. 20
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quinta-feira, 20 de agosto de 2015

VERDADE

"O que é a verdade? Será meramente o que é conhecido como 'falando a verdade', evitar o fingimento, honestidade absoluta consigo próprio e com os outros? Estará ela no seguir uma linha de ação que se concebe como sendo correta, independentemente das consequências para si próprio? Será apenas uma abstração na qual buscamos amparo em meio ao insatisfatório fluxo do tempo? Haverá uma visão da verdade que abranja tanto nós quanto todas as outras coisas?

Quando dizemos 'Verdade', pensamos talvez num elemento do absoluto, na noção de que a verdade é primária, e não secundária ou derivada.

Quando uma pessoa se expressa como ela é, e parece como é, então, sem sombra de dúvida, ela é verdadeira em ação e verdadeira consigo mesma. Isto é fazer, que é o outro lado de ser. O que ela é dentro de si é a verdade de seu ser, e o que ela faz e parece aos outros deve fluir dessa verdade e ser modelado por ela. Sinceridade - toda falta de duplicidade - é, pelo menos, um elemento na expressão dessa Verdade que jaz no mais recôndito do ser, e não surge nas coisas externas.

Existe uma verdade em cada coisa, e essa é a verdade de seu ser; pode não ser a mesma como o que parece ser, ou mesmo o que parece fazer. É esta verdade em nós próprios que, primeiramente, temos de descobrir antes que possamos ver a verdade nos outros.

Toda virtude é uma forma de verdade. A virtude é essencialmente aquela qualidade por meio da qual uma coisa produz seu efeito, como quando dizemos. Há muita virtude nisto. É um efeito procedente da natureza mesma de uma coisa. Se a verdade é a natureza da coisa, então a virtude é a força que pertence a ela e a ela está relacionada, assim como Deus e Shakti (ou Poder) estão relacionados na filosofia indiana. Essa visão está em consonância com a raiz da palavra virtude, que é virtus ou vir, significando energia. É por meio desta construção que a virtude tem sido declarada (por Tuskin, por exemplo) como significando valor varonil. A virtude jaz no reto emprego e disposição de energia.

Se a Verdade é da natureza de nosso ser, e todas as virtudes são modos nos quais a energia desse ser opera, então todas as virtudes são formas de Verdade. Verdade é ser; virtude é fazer ou ação. Mas ser e fazer não podem ser separados, pois não se pode fazer ou agir senão como se é, em qualquer nível."

(N. Sri Ram - O Interesse Humano - Ed. Teosófica, Brasília, 2015 - p. 63/64)


domingo, 21 de junho de 2015

A VERDADE E A EVOLUÇÃO

"Nós não podemos pensar em qualquer vício como uma parte do Ego em sua própria e verdadeira morada no plano mental superior. Um vício em uma personalidade aqui abaixo é ausência da virtude, que não tem contudo sido construída no Ego. (...) Não obstante, em princípio, todas as virtudes existem em cada Ego, mas elas existem adormecidas e não como realidades. Lendo as várias séries de 'Vidas', parece, certamente, que uma virtude é muito lentamente construída no Ego. Talvez no caso de Egos que cresceram muito em intuição, bastarão duas ou três experiências, mas com aqueles que não são assim dotados parece que são necessárias dúzias da mesma experiência para ensinar uma lição.

Um Mestre Adepto disse uma vez que a evolução é um processo lento, cuja velocidade pode ser comparada com uma progressão aritmética, por exemplo: 2 - 4 - 6 - 8 - 10 e assim por diante. Mas quando um homem conhece a verdade, e a vive, então, o seu progresso é como uma progressão geométrica: 2 - 4 - 8 - 16 - 32 e assim por diante. Aqui existe o valor para aquele que conhece o 'Plano de Deus, que é a Evolução' como se revela em Teosofia. Embora ele não possa mudar o seu caráter em perfeição por um milagre, tem mais poder de vontade para fazê-lo somente porque ele compreende. No momento em que alcança a compreensão, pode saber, se tentar, se a sua vontade é paralela ou não com a Grande Vontade. Assim vem a confiança para seguir 'o relâmpago interno' de sua intuição, uma força para resistir aos impactos do karma, e uma garantia de que ele não só viu a Meta, mas está trilhando a Senda que a ela conduz. Ele sabe, então, que de todas as coisas, é este conhecimento que unicamente vale, porque descobre, dentro de si mesmo, um reservatório inesgotável de poder com o qual abrir o seu caminho para o futuro na Eternidade."

(C.W. Leadbeater - As Vidas de Órion - Oriom Editora, São Paulo, 2002 - p. 18/19)


terça-feira, 7 de abril de 2015

A VIRTUDE ESSENCIAL

"O antídoto para o apego é o desapego, ou o abrir mão. O desapego é a essência da virtude, e o processo de desapego é a virtude de agir sem apego. O homem precisa ver primeiramente o modo como ele é apegado. Devido à ignorância ou ao egoísmo, ele é apegado à ação, e portanto está sujeito ao karma, que ele chama de fado, sorte ou destino. Ele é apegado ao corpo e é movido pelas emoções e pensamentos. Está psicologicamente isolado e vive cada vez mais para si, usando os outros simplesmente para vantagem própria. A ganância, o egoísmo e a desonestidade são suas características. Ele reage rapidamente, sem entender plenamente ou perceber de fato o que está acontecendo. A ideia de 'eu' e 'meu' predomina.

O ego é o pensamento 'eu e meu', mas o verdadeiro eu é o puro Eu. Se considerarmos o puro Eu como o ego, então nos tornamos egoístas. Se considerarmos o eu como a mente, tornamo-nos a mente; se considerarmos como o corpo, tornamo-nos o corpo. É o pensamento que erige as muralhas e os envoltórios, de muitas maneiras. Os homens são apegados a seus animais de estimação, ao seu jardim ou à sua fazendo, à sua posição, à sua mobília, aos seus filhos, aos seus deuses, à sua religião, ao seu país, e assim por diante. Sua vida é baseada no apego material e no apego a dogmas, crenças, ideias etc. Uma pessoa pode ser instruída e erudita, mas ainda assim gananciosa e mesquinha. Mas onde há verdadeiro conhecimento não há apego. Se o conhecimento do homem não o ajuda a se tornar desapegado e livre, então existe algo de errado com sua compreensão.

O que é preciso para o desapego é compreender e aceitar nossos apegos e aprender a ver e compreender que no apego existe dor, medo, inveja e ansiedade. É verdade que a pessoa não consegue evitar que as impressões se formem no cérebro e aí se acumulem, porque o cérebro registra automaticamente. Temos padrões de comportamento cerebral. Não precisamos nos dar o trabalho de parar esse registro automático de impressões no cérebro, mas precisamos dar plena atenção a esse processo de registro e aprender a ver nossas próprias reações. O verdadeiro conhecimento não conhece apego; identificar-se, por exemplo, com o corpo e a mente é uma ilusão. 

O corpo não é real. Cada partícula do corpo está constantemente mudando. O mesmo acontece com relação à mente. Num momento ela está feliz, noutro está infeliz. É como um redemoinho sempre a mudar. O homem precisa compreender que o corpo e a mente são uma série de fenômenos mutantes, para perder o apego e a identificação com eles. De posse do verdadeiro conhecimento, o homem, no nível físico, torna-se ativo, e não preguiçoso. No nível emocional ele não tem ira, luxúria ou ganância, e no nível mental não tem orgulho nem inveja. Ele se torna desapegado, e essa é a sua virtude essencial. Isso o ajuda a se corrigir, ao invés de querer corrigir os outros." 

(C. A. Shinde - Desapego e Sabedoria - Revista Sophia, Ano 13, nº 53 - p. 28)


segunda-feira, 2 de março de 2015

COMPAIXÃO E VOTOS DE BUDA

"3.  Buda educou-se, primeiro, em ser amável para com toda a vida animada e em evitar o erro de matar qualquer criatura, e depois então desejou que todos os homens pudessem conhecer a ventura da longa vida. 

Buda educou-se em evitar o erro do furto, para que, assim os homens pudessem ter tudo aquilo que desejassem.

Buda educou-se em evitar o adultério, e, com essa virtude, desejou que todos os homens pudessem conhecer a ventura de uma mente pura para que não sofressem com os desejos insatisfeitos.

Buda, quando buscava seu ideal, educou-se em evitar a mentira, e então, com esta virtude, desejou que os homens pudessem conhecer a tranquilidade da mente que advém com o cultivo da verdade.

Educou-se em evitar toda a falsidade, e desejou então que os homens pudessem desfrutar da alegria do coleguismo entre aqueles que seguiam o seu ensinamento.

Educou-se em evitar a ofensa a outrem, e então desejou que todos pudessem ter a mente serena que advém do viver em paz com os outros.

Evitou as vãs conversas, e então desejou que todos conhecessem a ventura da mútua e harmoniosa compreensão.

Buda, na busca de seu ideal, evitou a avareza, e então, com esta virtude, desejou que todos conhecessem a tranquilidade que advém de uma mente livre de toda a cobiça.

Evitou a ira, e então desejou que todos se amassem uns aos outros.

Educou-se em evitar a ignorância, e então desejou que todos pudessem entender e não nigligenciassem a lei da causalidade.

Assim, Buda, com sua misericórdia a todos envolvente, não almejava senão a felicidade dos homens. Ele ama a todos, assim como os pais amam seus filhos e a eles deseja a mais alta ventura, isto é, que eles possam transpor este oceano da vida e da morte."

(A Doutrina de Buda - Bukkyo Dendo Kyokai (Fundação para propagação do Budismo), 3ª edição revista, 1982 - p. 33/35)


sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

A CIDADE PERFEITA (PARTE FINAL)

"(...) A cidade perfeita deve começar a produzir o cidadão perfeito antes que a criança nasça. A partir do momento da concepção, as condições que cercam a mãe são sumamente importantes. O que a mãe sente e pensa produz um grande efeito sobre a criança em formação. Não apenas o que a mãe pensa e sente, mas o que pensam e sentem todos os que estão relacionados ao bebê. Todas as pessoas contribuem para ajudar ou atrapalhar a alma que tenta manifestar sua virtude por meio de um pequeno corpo físico.

Todo tipo de benefício social, especialmente os relativos ao bem-estar da mãe trabalhadora antes e após o nascimento da criança, não são meros sonhos dispendiosos de filantropos: são tão necessários à vida de uma cidade quanto a água pura.

Quando a criança nasce e sua consciência começa a reagir aos estímulos do mundo, tudo o que o olho consegue ver ou o ouvido consegue ouvir é de suma importância. Que se dê à criança belos parques, jardins com flores e árvores maravilhosas; que ela possa cantar, dançar e brincar com outras crianças; em outras palavras, que ela possa ser feliz todas as horas do dia; assim, em uma ou duas gerações é possível fechar todas as prisões.

Atualmente, em todos os países a educação é a gata borralheira da família. Há dinheiro para rodovias, portos, estradas de ferro, mas pouco dinheiro para a educação. Entre as profissões, existe alguma tão mal remunerada quanto a de professor?"

(C. Jinarajadasa - A Cidade Perfeita - Revista Sophia, Ano 5, nº 20 - p. 14)


quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

A CIDADE PERFEITA (2ª PARTE)

"(...) Para ajudar o indivíduo a manifestar a ‘virtude original’, existe um princípio a seguir. Devemos evocar a virtude da alma, cercando-a de virtudes. Esse princípio é o que Platão chamava de ‘reminiscência’. Segundo ele, quando uma alma admira uma bela flor, ela se lembra do mundo invisível que abandonou ao descer a Terra. Portanto, tudo que é bom, nobre e belo ao redor da alma que vive num corpo terrestre faz com que ela se lembre do seu verdadeiro lar, onde todas as virtudes são inseparáveis do seu ser. (...)

O princípio de que o desabrochar do caráter de uma criança é influenciado sutilmente pelo ambiente que a cerca mostra a necessidade de instituir uma ciência completamente nova de educação.

Os inspetores sanitários combatem o acúmulo de sujeira próximos às residências; entretanto, existe também a sujeira moral, onde um outro tipo de ‘bactéria’ cresce e infecta os cidadãos, especialmente as crianças, cuja sensibilidade é maior. O que sabemos sobre as emanações sutis dos barulhos do ônibus, dos motores, do trânsito? Estamos cientes de que, cada vez que uma criança passa por outdoors com anúncios inconvenientes, instalam-se dúvidas quanto ao valor da virtude? Gastamos milhões com a polícia, o sistema judiciário e as prisões; mas, se compreendêssemos os verdadeiros princípios da cidadania e evitássemos tudo que é infame em termos visuais e auditivos, logo daríamos fim ao surgimento de criminosos. (...)"

(C. Jinarajadasa - A Cidade Perfeita - Revista Sophia, Ano 5, nº 20 - p. 14)