OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


quinta-feira, 5 de outubro de 2017

O DEVER

"O dever é aquilo que se deve à Humanidade, a nossos semelhantes, a nossos vizinhos, à nossa família e especialmente o que devemos a todos aqueles que são mais pobres e desamparados que nós mesmos. Esta é uma dívida que não satisfeita durante a vida nos torna espiritualmente insolventes e cria um estado de quebra moral em nossa próxima encarnação. A Teosofia é a quintessência do dever... O que chamais 'deveres cristãos' foi inculcado por todos  os  grandes reformadores  morais e religiosos séculos antes da Era Cristã. Não se tratava antigamente de tudo o que era grande, generoso e heróico, sendo objeto, como hoje, de prédicas no púlpito e até mesmo por nações inteiras. A história budista está repleta dos atos mais nobres e mais heroicamente generosos. 'Sede todos uma só vontade; compadecei-vos uns dos outros: querei-vos como irmãos; sede misericordiosos, afáveis; não devolvei mal ao mal, ou injúria por injúria mas, sede bondosos'. Observaram praticamente esses preceitos os discípulos de Buda, alguns séculos antes de Pedro. A ética do Cristianismo é indubitavelmente grande, mas é também inegável que não é nova, e que nasceu do mesmo modo que os deveres pagãos... 

Os que praticam seu dever para com todos e somente pelo dever são poucos e ainda menor número é contado entre os que cumprem esse dever pelo contentamento de sua própria consciência... Formosa, para leitura e discussão, é a ética moderna, porém que são as palavras quando não se convertem em atos? Finalmente, se me perguntais de que modo compreendemos o dever teosófico posto em prática e relacionado com Karma, posso responder que nosso dever é o de beber, sem a mínima queixa, até a última gota de qualquer conteúdo que o destino nos ofereça na taça da vida; colher as rosas da vida tão somente pelo aroma que possam exalar para os outros e nos contentarmos tão somente com os espinhos se não podemos gozar daquele aroma sem privar dele um outro ser. 

Não se trata do que nós, membros da Sociedade Teosófica, fazemos - ainda que alguns de nós façam tudo quanto possam - mas sim de que a Teosofia nos leva mais longe no caminho do bem do que o faz o Cristianismo moderno. A ação esforçada e leal é o que digo, não a simples intenção e as palavras! Um homem pode ser o que quiser; o mais mundano egoísta e duro de todos os homens e até o maior canalha e isto não lhe impedirá de arrogar-se o nome de cristão, nem tampouco a um outro de considerá-lo como tal. Porém nenhum teósofo tem direito a esse nome se não está inteiramente imbuído do axioma de Carlyle: 'O objeto do homem é um ato e não um pensamento, ainda que este fosse o mais nobre' e se não amolda sua vida diária a esta verdade... 

A felicidade, ou melhor, a satisfação pode ser consequência para o cumprimento do dever, mas não é nem deve ser o motivo para isso."

(H. P. Blavatsky - A Doutrina Teosófica - Ed. Hemus, São Paulo - p. 82/83)


quarta-feira, 4 de outubro de 2017

ALMA E ESPÍRITO

"Platão define a alma (Buddhi) como 'o movimento capaz de mover a si próprio'. 'A alma, acrescenta (Leis, X), é a mais antiga das coisas e o princípio do movimento', chamando assim a Atma (Buddhi) de 'alma' e a Manas de 'Espírito', o que também é feito por nós. 

'A alma foi criada antes que o corpo e este é posterior e secundário, sendo, de acordo com natureza, governado pela alma. A alma que rege todas as coisas que se movem em todas as direções, rege igualmente os céus. A alma, consequentemente, governa as coisas no céu e na terra, bem como no mar, por seus movimentos cujos nomes são: querer, considerar, vigiar, consultar, opinar justa ou erroneamente, ter alegria, confiança, medo, ódio, amor, juntamente com todos os movimentos primitivos unidos a estes. Sendo uma deusa, tem sempre a Noûs, um deus, como aliado e ordena as coisas de forma correta e feliz; porém, quando se une a Annóia (negação de Noûs) trabalha sempre em sentido oposto nas coisas.' 

Nesta linguagem, bem como nos textos budistas considera-se o negativo como existência essencial. O aniquilamento é explicado de uma forma semelhante. O estado positivo é o ser essencial, porém não a manifestação como tal. Em linguagem budista quando o espírito entra no Nirvana perde a existência objetiva, porém conserva o ser subjetivo. 

Em sua dedução filosófica 'acerca dos sonhos', Aristóteles expõe com a maior clareza esta doutrina da alma dupla, ou seja, alma e espírito. 'É preciso que averiguemos em que porção da alma aparecem os sonhos', diz ele. Todos os antigos gregos acreditavam que no homem existia não uma alma dupla, mas sim tripla. E encontramos também a Homero designando por thumos à alma astral ou alma animal chamada 'espírito" por Draper e à divina: noûs, nome pelo qual também é denominado, por Platão, o espírito mais elevado. 

Os jainistas acreditam que a alma, à qual dão o nome de Jiva, tenha sido unida desde a eternidade a dois corpos etéreos e sublimados, um dos quais é invariável e formado dos poderes divinos da alma mais elevada; o outro variável e composto das mais grosseiras paixões do homem, de suas afecções sensuais e atributos terrestres. Quando a alma foi purificada depois da morte une-se a seu Vaycarica ou espírito divino e converte-se num deus. Os partidários dos Vedas, os sábios Brâmanes expõem a mesma doutrina nos Vedanta. A alma, segundo seus ensinamentos, como uma parte do divino espírito universal ou inteligência é capaz de se unir com a essência de sua Entidade mais elevada. 

Este ensinamento é explícito, os Vedanta afirmam que todo aquele que lograr conhecimento completo de seu deus se converte em deus, ainda que permaneça em seu corpo mortal, e adquire poder sobre todas coisas. Citando da teologia védica o verso que diz: 'Verdadeiramente existe apenas uma Divindade, o Espírito Supremo, ele é da mesma natureza que a alma do homem', Draper mostra como as doutrinas budistas chegaram à Europa Oriental através de Aristóteles. Consideramos esta afirmativa pouco digna de crédito, posto que Pitágoras e depois dele, Platão, ensinaram-nas muito anteriormente a Aristóteles. Se posteriormente os últimos platônicos admitiram em sua dialética os argumentos aristotélicos acerca da emanação foi unicamente porque suas opiniões coincidiam em alguns pontos com aquelas dos filósofos orientais."

(H. P. Blavatsky - A Doutrina Teosófica - Ed. Hemus, São Paulo - p. 49/51)


terça-feira, 3 de outubro de 2017

INDIVÍDUO E PERSONALIDADE

"Distinguimos entre o fato simples de nossa própria consciência o sentimento de que 'Eu sou' e o pensamento completo de que 'Sou o senhor Tal' ou 'A Senhora Tal'

Crendo como cremos, numa série de nascimentos para o mesmo Ego, ou reencarnação; esta distinção é o eixo fundamental de toda a ideia. Vemos que 'Senhor Tal', significa, na verdade, uma grande série de experiências diárias, todas reunidas pela continuidade da memória, formando aquilo que o senhor Tal chama 'meu eu'. Porém nenhuma dessas 'Experiências' é, realmente, o 'Eu' ou 'Ego', nem produz no Senhor Tal a sensação de ser ele mesmo, posto que esquece a maior parte de suas experiências diárias e produz o sentimento de ipseidade tão somente enquanto dura. Nós, os teósofos, distinguimos portanto, entre este conjunto de 'Experiência' que chamamos a falsa personalidade - por ser tão fugaz e finita - e aquele elemento do homem ao qual se deve o sentimento do 'Eu sou eu'

Este 'Eu sou eu' é a verdadeira individualidade para nós e sustentamos que esse 'Ego' ou individualidade representa, como o autor nos palcos, muitos papéis no teatro da vida, consideramos cada nova vida do 'Ego' na Terra como uma representação distinta no palco de um teatro. Aparece o ator, ou 'Ego' uma noite como 'Macbeth', a seguinte como 'Shylock', a terceira como 'Romeu', a quarta como 'Hamlet' ou 'Rei Lear' e assim sucessivamente até que tenha percorrido todo o ciclo de encarnações. O Ego começa sua peregrinação vital em papéis muito secundários como aquele de um espectro, de um 'Ariel' ou um 'Duende', representa a seguir um papel coadjuvante: é um soldado, um criado, um corista; logo ascende a 'papéis falados'; desempenha papéis principais alternadamente com outros insignificantes, até que finalmente se despede da cena como 'Próspero', o mago."

(H. P. Blavatsky - A Doutrina Teosófica - Ed. Hemus, São Paulo - p. 47/48)


segunda-feira, 2 de outubro de 2017

RELAÇÕES E ISOLAMENTO (PARTE FINAL)

"(...) O processo de isolamento está ligado à busca de poder. Quer estejamos buscando o poder individualmente, quer para um grupo racial ou nacional, haverá isolamento, porque o próprio desejo de poder, de posição, é separatismo. Afinal, é isso o que cada um deseja, não é verdade? Cada um quer ocupar uma posição poderosa, uma posição de domínio, seja no lar, seja no escritório, seja num regime burocrático. Procura cada um o poder e nessa busca de poder fundará uma sociedade baseada no poder - militar, industrial, econômico, etc. - o que também é evidente. O desejo de poder não é, por sua própria natureza, causador de isolamento? Julgo muito importante compreender isso, porque o homem que deseja um mundo pacífico, um mundo em que não haja guerras, não haja destruição e miséria, em escala aterradora, imensurável, deve compreender esta questão fundamental. Um homem afetuoso, benevolente, não tem espírito de poderio e portanto não está ligado a nacionalidade nem a bandeira alguma. Esse homem não tem bandeira. 

Não há coisa tal como viver no isolamento; nenhum país, nenhum povo, nenhum indivíduo pode viver no isolamento. Entretanto, porque estais em busca de poder, de tantas maneiras diferentes, criais o isolamento. O nacionalista é uma praga, porque, com seu espírito nacionalista, patriótico, está construindo uma muralha de isolamento. Tão identificado está com seus país, que ergue uma muralha contra outro país. Que acontece quando construís uma muralha contra alguma coisa? Essa coisa fica a chocar-se constantemente contra vossa muralha. Quando resistis a uma coisa, essa própria resistência indica que estais em conflito com ela. O nacionalismo, por consequência, que é um processo de isolamento, que é um resultado da busca de poder, não pode trazer paz ao mundo. O homem que é nacionalista e fala de fraternidade, está mentindo, está vivendo em estado de contradição. 

Pode-se viver no mundo sem o desejo de poder, de posição, de autoridade? Pode-se, é claro. Vivemos assim quando não nos identificamos com uma coisa 'maior'. Esta identificação com uma coisa 'maior' - o partido, a pátria, a raça, a religião, Deus é busca de poder. Porque vós mesmos sois vazios, embotados, sois fracos, gostais de identificar-vos com uma coisa maior. Esse desejo de identificação com uma coisa maior é desejo de poder. 

As relações são um processo de autorrevelação e se, desconhecendo a nós mesmos, desconhecendo as tendências da nossa mente e do nosso coração, procuramos apenas estabelecer uma ordem externa, um sistema, uma fórmula engenhosa, o que estabelecermos terá muito pouca significação. O importante é que compreendamos a nós mesmos em relação com outros. As relações se tornam, assim, não um processo de isolamento, mas um processo no qual descobrimos nossos próprios 'motivos', nossos próprios pensamentos, nossos próprios desígnios; e esta descoberta é o começo da libertação, o começo da transformação."

(J. Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 91/92)
http://www.pensamento-cultrix.com.br/


domingo, 1 de outubro de 2017

RELAÇÕES E ISOLAMENTO (1ª PARTE)

"A vida é experiência, experiência em relação. Não se pode viver no isolamento; a vida, portanto, é relação, e relação é ação. E como adquirir a capacidade de compreender as relações, que é a vida? Não significam as relações, não só comunhão com pessoas, mas também intimidade com coisas e idéias? A vida são relações, que se expressam no contato com coisas, pessoas, ideias. Compreendendo as relações, teremos capacidade para enfrentar a vida de maneira completa, adequada. Nosso problema, portanto, não é ter capacidade — pois esta não é independente das relações — porém, antes, compreender as relações, o que naturalmente produzirá a capacidade de pronta flexibilidade, pronto ajustamento, pronta reação. 

As relações, sem dúvida, são um espelho em que nos descobrimos. Sem relações não existimos. Ser é estar em relação, estar em relação é existir. Só existis em relação, de outro modo não existis, a existência nada significa. Não é porque pensais, que existis, que vos tornais existentes.¹ Existis porque estais em relação, e é a falta de compreensão das relações que causa conflito. 

Ora, não há compreensão das relações porque nos servimos delas apenas como meio de promover alguma realização, promover transformação, promover o 'vir a ser'. Mas as relações são um meio de autodescobrimento, porque estar em relação é ser, é existência. Sem relações, não existo. Para compreender a mim mesmo, preciso compreender as relações. As relações são um espelho, em que posso ver-me, a mim mesmo. Esse espelho pode deformar ou refletir fielmente o que é. Mas a maioria de nós vê nas relações as coisas que prefere ver; não vê o que é. Preferimos idealizar, fugir, preferimos viver no futuro, a compreender aquelas relações no presente imediato. 

Ora, se examinarmos nossa vida, as relações existentes entre nós, veremos que elas constituem um processo de isolamento. Não estamos verdadeiramente interessados uns nos outros; embora falemos muito a esse respeito, não estamos de fato interessados. Só estamos em relação com alguém enquanto essas relações nos agradam, enquanto nos proporcionam um refúgio, enquanto nos satisfazem. No momento em que ocorre qualquer perturbação, causadora de desconforto para nós, abandonamos essas relações. Em outras palavras, só há relações enquanto estamos satisfeitos. Isso pode parecer uma maneira rude de falar, mas se examinardes realmente vossa vida, com muita atenção, vereis que é um fato. Evitar um fato é viver na ignorância, que nunca pode produzir relações corretas. Se examinarmos nossas vidas e observarmos nossas relações, veremos que elas são um processo de criação de mútua resistência, de uma muralha por sobre a qual nos olhamos e observamos, uns aos outros. Conservamos sempre a muralha e permanecemos atrás dela, quer seja da muralha psicológica, quer seja da material, da muralha econômica, da muralha nacional. Enquanto vivermos no isolamento, atrás da muralha, não há relações entre nós. Vivemos fechados, porque achamos muito mais agradável, muito mais seguro. O mundo está tão fracionado, há tanto sofrimento, tanta dor, guerra, destruição, miséria, que desejamos fugir e viver dentro das muralhas protetoras de nosso ser psicológico. As relações, pois, no caso de quase todos nós, são, de fato, um processo de isolamento, e é bem óbvio que tais relações criam uma sociedade, também causadora de isolamento. E isso, exatamente, o que está acontecendo no mundo inteiro: vós permaneceis no vosso isolamento, e estendeis a mão por cima da muralha, chamando a isso nacionalismo, fraternidade, ou o que quiserdes, mas o fato é que continuam a existir os governos soberanos, com seus exércitos. Enquanto apegados às vossas limitações, pensais poder criar a unidade mundial, a paz mundial — coisa de todo impossível. Enquanto tiverdes uma fronteira nacional, econômica, religiosa, ou social, é bem claro que não pode haver paz no mundo. (...)"

¹ Foi o que disse Descartes: Penso, logo existo. (cogito ergo sum) (N. do T.)

(J. Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 89/91)
http://www.pensamento-cultrix.com.br/