OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

PRATIQUES O DARMA AGORA (PARTE FINAL)

"(...) Algumas pessoas pensam que vão praticar o Darma quanto tiverem concluído seus afazeres mundanos. Isso é um erro, pois nosso trabalho neste mundo nunca acaba. Trabalho é como uma pequena ondulação de água movendo-se continuamente na superfície do oceano. É muito difícil ficar livre das nossas ocupações a fim de poder praticar o Darma. O trabalho interminável com o qual preenchemos a vida só se conclui no hora da nossa morte.

Ainda que sejamos jovens e saudáveis, bem alimentados, elegantes e livres de circunstâncias desfavoráveis, a vida pode repentinamente nos enganar. Nosso corpo é um objeto que nos foi emprestado por pouco tempo. Se quisermos gerar a preciosa bodichita, teremos de fazê-lo no decorrer desta vida. Dia a dia, hora a hora, minuto a minuto, nosa vida vai passando. Até enquanto dormimos, a vida está esvaindo. Não podemos ter certeza de que a morte não descerá subitamente sobre nós. Apesar de tudo isso, cada um de nós pensa: 'Não vou morrer hoje... nem amanhã'. Mesmo quando estamos doentes e acamados, continuamos a pensar dessa maneira. E até no dia em que nossa morte chegar, em vez de estarmos pensando na morte iminente, é provável que estejamos fazendo planos inúteis para um futuro que não viveremos para ver. Mas todos nós vamos morrer; é por isso que a vida é tão enganosa. 

Se nosso corpo nos pertencesse definitivamente, poderíamos levá-lo conosco ao morrer, mas na hora da morte vamos ter de deixá-lo para trás, assim como todas as nossas outras posses, que são meros empréstimos. Por que nos aferrar a esse corpo, nascido da união do óvulo da nossa mãe e do espermatozóide do nosso pai, como se fosse nosso, verdadeiramente nosso? Em vez disso, devemos pensar nesta vida como um engano transitório, compreendendo que a maré da vida reflui segundo a segundo. Devemos refletir profundamente sobre a certeza e a imprevisibilidade da chegada da nossa morte e lembrar que nosso corpo é simplesmente um objeto tomado de empréstimo. Se pudermos obter uma compreensão profunda desses pontos, por certo nossa mente se transformará. Deixaremos de desperdiçar nossos tempo e daremos uma nova direção e propósito à nossa vida. Do contrário, ficaremos simplesmente marcando passo à espera da morte.(...)"

(Geshe Kelsang Gyatso - Contemplações Significativas - Ed. Tharpa Brasil, 2009 - p. 153/154)


terça-feira, 26 de janeiro de 2021

PRATIQUES O DARMA AGORA (1ª PARTE)

"Buda disse que, enquanto os seres sencientes estiverem sob a influência da ignorância, terão de experienciar as quatro características do samsara: 1) o nascimento conduz inevitavelmente à morte; 2) aquilo que é reunido, por fim, deve se dispersar; 3) aqueles que ocupam posições elevadas, por fim, caem em estados inferiores; 4) todos os encontros, por fim, resultam em separação. Devemos examinar essas quatro características com muito cuidado. Quem quer que possua um status elevado, uma boa reputação ou riqueza verá isso, por fim, diminuir, decair e, em última instância desaparecer. Existe algum real prazer a ser extraído dessas aquisições e alguma delas pode nos ajudar na hora da morte? Quem pode nos ajudar nessa hora - nosso cônjuge, amigos, familiares, nossas posses ou o governo do nosso país? Pensar que viveremos neste mundo para sempre é enganar-se grosseiramente. Este mundo não possui moradores permanentes. Dos bilhões de indivíduos que hoje estão vivos, quem ainda estará aqui em cem anos? Somos simplesmente viajantes passando por este mundo e, como viajantes, devemos pensar em nos abastecer corretamente para a nossa jornada. O que precisamos levar conosco? Nenhum dos prazeres temporários antes mencionados terá qualquer valor na hora da morte; somente a prática do Darma - o treino, o controle e a purificação da nossa mente - pode nos proteger do sofrimento.

Algumas pessoas rezam para que sejam capazes de praticar o Darma na sua próxima vida, pois acham que não têm a oportunidade de praticar agora. Isso é tolice. Tivemos um renascimento humano perfeito, encontramos os ensinamentos mahayana e temos a rara oportunidade de praticar o Darma. Se não aproveitarmos essa oportunidade agora, quando reencontraremos outro renascimento humano perfeito no futuro? É raro que um Buda apareça neste mundo, raro ter um precioso renascimento humano plenamente dotado e raro gerar fé num ser iluminado. Portanto, visto que já obtivemos todas essas circunstâncias preciosas, devemos praticar o Darma agora.

Não devemos desperdiçar este precioso renascimento humano, conquistado a custa de muito esforço, em nome do conforto da vida atual. Em vez disso, precisamos usar essa rara oportunidade para gerar a preciosa mente do bodichita. Atualmente temos visão clara, audição acurada, mente lúcida e boa saúde. Se não praticarmos o Darma agora, quando tivermos oitenta ou noventa anos, se é que viveremos até lá, será tarde demais para fazê-lo. Ainda que tenhamos a intenção de praticar o Darma, nossos sentidos estarão em declínio, a nossa mente instável e o nosso corpo doente. Como diz um provérbio tibetano: 'Se não praticares o Darma enquanto és jovem, quando a velhice chegar, te arrependerás'.(...)" 

(Geshe Kelsang Gyatso - Contemplações Significativas - Ed. Tharpa Brasil, 2009 - p. 151/152)


quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

O QUE É RETA AÇÃO?


"Os budistas, de um ponto de vista puramente técnico, não podem pertencer a nenhum exército. O exército é liderado por pessoas com seus próprios motivos para criar uma guerra ou para produzir tensão. Os oficiais, soldados e quem quer que esteja preso nisso faz o que lhe é ordenado, sem questionar os objetivos. Por isso, uma pessoa que quer viver a vida espiritual, ou um correto tipo de vida, não entraria para o exército.

Muitas pessoas dirão que não é assim. O Bhagavad-Gita, por exemplo, diz: 'Continue a lutar, Arjuna.' Mas essas palavras se referem a lutar no nível físico, ou será que todo o Gita tem um significado diferente?

Milhões de pessoas estão engajadas em negócios ligados à guerra. A fabricação de armas é apenas um deles. Há mais cientistas trabalhando nesse comércio do que em propósitos pacíficos. Isso deve ser levado em consideração por todo aquele que queira trilhar o caminho espiritual: será que você quer se engajar em atividades que prejudicam os outros?

É bastante comum encontrar pessoas bebendo álcool. Isso quer dizer que muitas outras pessoas estão engajadas neste negócio, preparando a bebida e vendendo-a. Muitas coisas são produzidas sem levar em consideração o fato de que afetam a vida dos outros. Quando compramos algo de uma loja, o produto pode parecer bom, mas a história por trás de alguns produtos pode não ser boa. Animais são usados para experimentos cientifícos e para testar produtos de beleza. Será que nós somos cuidadosos a respeito daquilo que compramos? Ou compramos coisas que afetam as vidas inocentes de outras criaturas?

Os Estados Unidos cuidam para que nenhum dano seja causado aos seres humanos, mas, para garantir isso, atos horríveis são praticados contra outras criaturas vivas. Felizmente, na Inglaterra e em outros países europeus muitos experimentos com animais foram abandonados e substituídos por métodos mais humanitários. É possível descobrir se uma droga ou outro produto é útil ou não por meios que não causem danos aos animais, sem maltratar milhares de criaturas em nome do que chamamos de 'progresso'.

Se formos verdadeiros e éticos, usando nosso desenvolvimento interior, podemos compreender o que é útil e o que não é. Obviamente matar ou maltratar não são corretos meios de ganhar a vida. Mentir também não. A reta conduta não é fácil, mas um dos primeiros passos nesse caminho é jamais se envolver em más ações. Conforme Buda ensinou, quanto menos dano é causado, melhor.

A conduta está ligada à ideia do que é certo e errado. Muitas pessoas que praticam crueldades não são más, mas foram colocadas em situações em que sentem que precisam sacrificar os escrúpulos. Se o ser humano é superior às outras criaturas é uma questão importante sobre a qual cada um de nós deve ter clareza. Todas as coisas estão crescendo, e mais cedo ou mais tarde alcançarão o estágio humano.

Nossas vidas verdadeiramente afetam a vida dos outros seres. Eles também são ajudados pelo modo como nós nos comportamos. Ser mais atencioso, gentil e compassivo e menos egoísta pode produzir uma mudança em direção a uma sociedade menos brutal."

(Radha Burnier - O que é reta ação? - Revista Sophia, Ano 16, mº 73 - p. 43)


terça-feira, 19 de janeiro de 2021

A VERDADEIRA RELIGIÃO

"O sofrimento existe desde tempos imemoriais, sob a forma de pobreza, ignorância, solidão, falta de amor, etc. Haverá um estado de sabedoria na qual a humanidade possa ser feliz? Em todas as eras, pessoas profundamente religiosas inquiriram a respeito disso.

As instituições e os sistemas religiosos enfatizam rituais, formas de adoração e obediência ao clero, muitas vezes ignorando os verdadeiros valores da religião. No entanto, todo instrutor religioso genuíno foi um reformador, libertando as mentes ignorantes das práticas convencionais rígidas e inspirando-as a inquirir a respeito do mistério da vida, seu propósito e significado. 

A religião, no seu verdadeiro sentido, deve libertar as pessoas da superstição e do sofrimento, e não escravizá-las com ideias prontas e hierarquias. Ao retirar das religiões os dogmas e as supertições e atingir o âmago de seus ensinamentos, constata-se que a essência é o amor universal, baseado no conhecimento de que a vida é indivisível.

As religiões não devem ser aceitas como são apenas porque essa é a atitude mais fácil; elas devem ser examinadas criticamente para avaliarmos se criam inimizades e conflitos ou se unem as pessoas com abordagens de tolerância e boa vontade. Ajoelhar-se ou permanecer de pé para orar, cobrir ou não a cabeça são questões individuais que nada têm a ver com a verdadeira religiosidade.

O ser humano se caracteriza pelo desejo de compreender a vida. Se apenas comesse, dormisse e se multiplicasse, mal poderia ser chamado de humano, já que todas as criaturas fazem isso. A mente se estagnaria se ninguém tivesso o ímpeto de penetrar nas profundezas do significado da existência do homem e do universo. Felizmente sempre existiram corações desbravadores que buscaram a verdade, mesmo quando perseguidos e queimados na fogueira. 

Atualmente os mais graves problemas do planeta são os conflitos armados e a destruição do meio ambiente. Simultaneamente ao progresso da ciência, desenvolveu-se uma atitude de conquista, controle e exploração da natureza. A humanidade chegou ao ponto de 'brincar de Deus' para usar a frase de Jeremy Rifkin. Mas a ciência também está compreendendo que quanto mais o universo é explorado, maior se torna a dimensão desconhecida, não apenas no nível material, mas também nos campos sutis do espirito. Por trás de tudo que está manifestado e perceptível existe o intangível e o inexplicável. Grandes espíritos que experienciaram o mistério do desconhecido, como Einstein, puderam compreender a reverência que exala da mente religiosa.

Segundo os taoístas, o Tao (o Supremo) não pode ser ouvido; o que pode ser ouvido não é o Tao. O Tao não pode ser visto; o que pode ser visto não é o Tao. Os Upanishads e outras escrituras dizem o mesmo: existe uma dimensão de existência que está além do nosso alcance. Nunca vamos conhecê-la plenamente; podemos apenas fitá-la e admirar o ilimitado e vasto poder criativo da vida. 

Obviamente a mente finita não pode conhecer o infinito. Isso está indicado no Bhagavad-Gita, quando Krishna diz que não existe fim para o mistério Divino. Somente quando a mente se liberta de seu estado finito e torna-se una com a vasta harmonia da vida pode haver iluminação. Esse estado não vem quando se é um erudito nas escrituras ou se recebe um título numa instituição religiosa. Se as pessoas que seguem sistemas religiosos se tornassem verdadeiramente religiosas, incapazes de ganância, violência e egoísmo, não haveria mais guerras.

Outro grande problema atual é o consumismo e a insensibilidade em relação ao valor e à dignidade dos seres vivos. É necessário um profundo respeito por cada forma de vida para reverter a maré de consumismo que destrói os recursos e a diversidade do planeta.

É essencial que nossos valores mudem, mas não em razão do que uma sociedade ou um sistema religoso diz. Os valores surgem a partir do sentimento de uma existência una e inter-relacionada, que faz nascer a gentileza e a não violência. Se nós não conseguimos amar o pequeno animal, o pássaro, o peixe ou a planta, como podemos amar a Deus, que é a fonte de toda a vida?

Temos que aprender a ser como criancinhas que experimentam maravilhas, cujas mentes não têm preconceitos e que não sabem o que é ser possessivo. Esse é o verdadeiro despertar religioso, que envolve abrir mão dos próprios interesses por amor aos outros, sem preconceitos, de modo que a mente seja ampla, tolerante e sensível."

(Radha Burnier - A verdadeira religião - Revista Sophia, Ano 12, nº 50 - p.20/21)


quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

A ARTE DE CUIDAR

"A arte de cuidar é a de saber escutar. Escutar não é só ouvir; é também interpretar, capaz daquilo que chamamos de ciência e arte da hermenêutica. Como diziam os antigos rabinos, cada frase biblíca é suscetível de pelo menos 72 interpretações. Ou seja, cada sintoma, cada sonho, cada crise que vivenciamos é suscetível de pelo menos 72 interpretações. Isso nos previne contra o flagelo contemporâneo do fundamentalismo e do fanatismo; não só o religioso, também o fundamentalismo mercadológico, ideológico, pedagósico, psiquiátrico, político etc.

Fundamentalismo é superficialismo e literalismo, é tomar a parte pelo todo; é o naufrágio da intepretação, o que nos torna objeto das circunstâncias, já que nós somos livres na justa medida da nossa capacidade de interpretar. Nós não somos livres com relação àquilo que nos chega, que pode ser um tsunami, um terremoto, uma crise econômica, uma perda. A nossa liberdade consiste no que somos capazes de fazer com aquilo que nos chega, e isso demanda interpretação.

Uma pessoa que aprendeu a interpretar não vai se deixar soterrar pelas adversidades, pois a única crise intolerável é aquela para a qual não temos como dar nenhum sentido. O único sofrimento que pode nos destruir é aquele que não interpretamos. Se você é capaz de interpretar, extrairá sentido do que quer que aconteça, e conseguirá se colocar de pé e prosseguir.

'Te vejo. Estou aqui'. Essa expressão vem da tradição xamanística da África do Sul. Quando as pessoas vão saudar umas às outras, no idioma zulu, dizem sawubona, que significa te vejo; e a resposta é sikhona, que significa estou aqui. Eis o coração de uma nova educação: educar para ver, para a presença, para cuidar, para escutar, para interpretar. É atender ao telefone que toca [um celular tocou na platéia]. Toda crise é um telefone que toca e nós precisamos atender, escutar e interpretar, senão ele vai continuar tocando, às vezes com outros números.

Infelizmente, no que denominamos de normose, a patologia da normalidade, afirmamos: 'Tomou doril, a dor sumiu'. Você vai ao médico com um problema e, quando normótico, a única atitude desse técnico será eliminar o sintoma. Certa vez uma pessoa me procurou no consultório com dor nos seios, depois de ter consultado muitos médicos em vão. Ela já estava com algumas fantasias catastróficas a respeito dessa dor. Indaguei se ela podia se colocar no lugar dos seios e falar como se fosse eles. Ao entrar em contato com essa parte do corpo, ela imediatamente se conectou com algo que tinha recentemente acontecido: havia se separado do marido e abriu mão da guarda do filho. Desde então, os seios da maternidade começaram a doer. Quando ela pôde fazer a catarse, redecidindo a tua atitude, saiu do consultório sem dor. Mas imagine se não tivesse escutado o seu sintoma, se não o tivesse interpretado... Um dia, faria uma doença física. Geralmente as doenças começam num plano mais sutil e depois contagiam o plano concreto, que é o físico."

(Roberto Crema - A arte de cuidar - Revista Sophia, Ano 11, nº 41 - p. 8/9)