OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


quinta-feira, 7 de outubro de 2021

A INVESTIGAÇÃO POR PRAZER - II

"É indubitável que muitos mais que aqueles que o fazem, o recorreriam ao suicídio com o fim de se livrar do fardo da vida, se pudessem convencer-se que daquele modo se pode lograr o olvido. Porém, aquele que duvida antes de esgotar o veneno, por ter medo de mudar unicamente de modo de existência e de se encontrar o sujeito a uma forma talvez mais ativa de miséria, é um homem de mais conhecimento que as almas temerárias que, de um modo selvagem, se atiram no seio do desconhecido, esperando seus favores. As águas do esquecimento são um tanto completamente diferentes das águas da morte e a raça humana não pode se extinguir pela morte, enquanto a lei do nascimento acione. O homem volta à vida física, do mesmo modo que o bebedor volta ao frasco de vinho; ele não sabe porque, sabe unicamente que deseja a sensação produzida pela vida, como o bebedor deseja a sensação pelo vinho originada. As verdadeiras águas do esquecimento existem longe, atrás da nossa consciência, e podem unicamente ser alcançadas, deixando de existir naquela consciência, fazendo cessar o exercício da vontade, que nos enche de sentidos e de sensibilidade.

Porque não volta a criatura-homem àquela grande e silenciosa matriz, da qual veio e permanece nela em paz, como o menino não nascido que goza da mesma antes que os impulsos da vida o tenham alcançado? Não o faz porque sua sede pelo prazer e a dor, pela alegria e a tristeza, pelo amor e a cólera lhe impedem. O homem desgraçado susterá que não tem o menor apego à vida; e, apesar disso, prova a falsidade das suas palavras, vivendo. Ninguém o obriga a viver; o galeote pode permanecer encadeado ao seu remo, porém sua vida não pode ser encadeada ao seu corpo. O soberbo mecanismo do corpo humano é tão inútil como uma máquina cujos fogos estão apagados, se a vontade de viver cessa; vontade que mantemos firme e continuadamente e que nos conduz às coisas, que, de outro modo, verificá-las nos encheriam de desalento, como, por exemplo, o momento da inspiração e da expiração. Esforços hercúleos, tais como estes, suportarmos sem lamentações e, na verdade, com prazer, com tanto que possamos existir no meio de sensações inúmeras.

E mais ainda: a maior parte de nós, nos contentamos com ir para diante sem objetivo, sem desígnio, sem a menor ideia de um motivo, sem compreender que caminho é que estamos investigando. Quando, pela primeira vez, o homem reconhece esta falta absoluta de objetivo e se convence profundamente de que está trabalhando com grandes e constantes esforços e sem nenhuma ideia a respeito do fim, na direção do qual sem esforço se dirige, então desce sobre ele a miséria do século dezenove, a miséria intelectual. Encontra-se perdido, desencaminhado e para ele não há esperança. Converte-se em cético, a desilusão e o aborrecimento apoderam-se dele e faz a pergunta em aparência incontestável: se, depois de tudo, merece a pena se tomar o trabalho de respirar, perante tais resultados desconhecidos e incognoscíveis, ao parecer. Porém, são incognoscíveis semelhantes resultados? Pelo menos, para perguntar algo de menor importância, é impossível fazer uma conjetura a respeito da direção na qual nosso fim existe?"

(Mabel Collins - Pelas Portas de Ouro - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 16/18)


terça-feira, 5 de outubro de 2021

A INVESTIGAÇÃO POR PRAZER - I

"Todos conhecemos aquele algo misterioso e severo, ao qual chamamos miséria, que ao homem persegue e de um modo bastante estranho, como a primeira vista parece; não o persegue vaga e incertamente, mas com pertinácia positiva e inquebrantável. Sua presença não é absolutamente contínua, pois de outro modo deixaria o homem de viver; porém sua pertinácia não cessa de modo algum. O sombrio fantasma da desesperação permanece por trás do homem, pronto para tocá-lo com seu dedo terrível, tão depressa como se tivesse sido demasiado tempo feliz. Quem deu a este horrível espectro o direito de vagar ao nosso redor desde que nascemos até que morremos? Quem lhe deu o direito de permanecer sempre à nossa porta, conservando-a entreaberta com sua mão invisível, mas não obstante horrível, pronta a entrar no momento oportuno? O maior filósofo de todos os que viveram sucumbe, afinal ante o mesmo; e unicamente é filósofo, no verdadeiro sentido da palavra, aquele que reconhece o fato de que é irresistível e sabe que, como todos os demais homens, deve sofrer cedo ou tarde. A dor e a miséria constituem uma parte da herança dos homens e aquele que julga que nada poderá fazê-lo sofrer, o que faz é revestir-se de um egoísmo frio e profundo. Esta vestidura poderá protegê-lo contra a dor; mas também o separará do prazer. Se a paz pode ser encontrada sobre a terra, ou alguma alegria existe na vida, não pode ser fechando as portas do sentimento, que nos admitem a porção mais elevada e mais vivida da nossa existência. A sensação, tal como a obtemos por intermédio do corpo físico nos proporciona tudo aquilo que nos induz a viver daquela forma. É inconcebível que nenhum homem se quisesse dar ao trabalho de respirar, a não ser que o ato levasse consigo um sentimento de satisfação. O mesmo acontece com relação a cada uma das ações em todos os instantes da nossa vida: vivemos porque até na mesma sensação da dor existe o prazer. Sensação é o que nós desejamos. De outro modo experimentaríamos de comum acordo as águas profundas do esquecimento e extinguir-se-ia a raça humana. Se isto acontece com a vida física, o mesmo se realiza com a vida das emoções, a imaginação, a sensibilidade, com todas aquelas esquisitas e delicadas formações que, com o maravilhoso mecanismo registrador do cérebro, constituem o sutil homem interno. Para eles o prazer reside na sensação; e uma série infinita de sensações, é para eles a vida. Destrua-se a sensação que faz que desejem perseverar na experiência da vida e nada se terá adiantado. Por esta razão, o homem que intenta obliterar a sensação da dor e que se propõe manter-se no mesmo estado, quando sofre como quando goza, fere a raiz da vida mesmo e destrói o objeto da sua própria existência. Deve-se aplicar isto o mais completamente que nossos poderes atuais, raciocinadores e intuitivos, nos permitam, em cada estado, até naquele do Nirvana ensinado pelos Orientais. Esta condição pode ser unicamente uma, dotada de sensações infinitamente mais sutis e esquisitas, se é, depois de tudo, um estado e não aniquilação: e em harmonia com a experiência da vida, da qual somos, na atualidade capazes de julgar, aumento na sutileza da sensação significa vitalidade acrescentada; como, por exemplo, um homem sensível e de imaginação, sente mais por causa da infidelidade ou fidelidade de um amigo, do que um homem da mais grosseira natureza física, por meio dos sentidos. Claro é, portanto, que o filósofo que recusa sentir, não se reserva lugar algum de refúgio; nem sequer o distante e inacessível Nirvana. Pode unicamente negar-se a si mesmo sua herança de vida, que é, em outras palavras, o direito de sensação. Se prefere sacrificar tudo aquilo que faz dele um homem, deve-se contentar com uma mera indolência de consciência, o que é uma condição que, comparada à vida da ostra, é esta uma vida ativa.

Porém, nenhum homem é capaz de efetuar tal fato. Sua existência continuada prova plenamente que ele ainda deseja sensação, e a deseja tão positiva e ativamente, que o desejo deve ser concedido na vida física. Seria mais prático não se enganar a si mesmo com a falsidade do estoicismo, não tentar renunciar aquilo do qual nada o induza separar-se. Não seria um conduta muito mais intrépida, um modo de resolver o grande enigma da existência, abraçar-se a ele, retê-lo com firmeza, e perguntar-lhe o mistério de si mesmo? Se os homens quisessem tão só deter-se e considerar as lições que o prazer e a dor lhes ensinaram, muito se poderia conjeturar daquela coisa estranha que causa estes efeitos. Mas os homens se apressam em se afastar de tudo quanto os possa conduzir ao estudo de si mesmos ou de qualquer minuciosa análise da natureza humana. Apesar de tudo, deve existir uma ciência de vida tão inteligível como qualquer dos métodos que nas escolas se empregam; a ciência é desconhecida, é verdadeira e sua existência é meramente suspeitada por um ou dois de nossos mais avançados pensadores. O desenvolvimento de uma ciência é unicamente o descobrimento daquilo que já existe; e tão mágica e inacreditável é na atualidade, a química para o moço lavrador, como é a ciência da vida para o homem de ordinárias percepções. Apesar de tudo, pode e deve existir um iluminado que perceba o crescimento da nova ciência, do mesmo modo que os primeiros e torpes experimentadores nos trabalhos de laboratório, veem o sistema dos conhecimentos na atualidade obtidos, desenvolvendo-se por si mesmos do seio da natureza, para o uso e benefício do homem."  

(Mabel Collins - Pelas Portas de Ouro - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 13/16)


quinta-feira, 30 de setembro de 2021

OS QUATRO ERROS

"Por que as pessoas acham tão difícil até mesmo conceber a profundidade e a glória da natureza da mente? Por que ela parece para tantos uma ideia tão exótica e improvável"?

Os ensinamentos falam e quatro erros que nos impedem de realizar imediatamente a natureza da mente:
  1. A natureza da mente está próxima demais para ser reconhecida. Tal como não conseguimos ver nosso próprio rosto, a mente também tem dificuldade de ver sua própria natureza.
  2. É profunda demais para ser sondada. Não fazemos ideia de quão profunda pode ser; se fizéssemos, já a teríamos realizado até certo ponto.
  3. É fácil demais para acreditarmos nela. Na verdade, tudo o que precisamos é simplesmente repousar na consciência pura desnuda da natureza da mente, que está sempre presente.
  4. É maravilhosa demais para que nos adaptemos a ela. Sua absoluta imensidão é vasta demais para caber em nosso estreito modo de pensar. Simplesmente nós não podemos acreditar nela. Nem talvez imaginar que a iluminação é a natureza real da nossa mente. 
Se essa análise dos quatro erros era verdadeira numa civilização como a do Tibete, devotada quase por completo à busca da iluminação, quão mais formidável e pungentemente verdadeira seria ela em face da civilização moderna, que é dedicada em alto grau ao culto da ilusão. Não há informações gerais sobre a natureza da mente. Quase nunca é mencionada por escritores e intelectuais; os filósofos modernos não falam dela de modo direto; a maioria dos cientistas nega até que ela possa existir. O assunto não faz parte da cultura popular: não é cantado em canções, não é tratado nas peças de teatro; e não está na TV. De fato, somos educados na crença de que nada além daquilo que possamos perceber com os nossos sentidos comuns é real. 

Apesar dessa negação maciça e quase generalizada de sua existência, temos às vezes breves vislumbres da natureza da mente. Eles podem ser inspirados pela elevação de uma obra musical, pela serena felicidade que experimentamos por momentos no contato com a natureza, ou pela mais comum das situações do cotidiano. Podem surgir quando vemos a neve caindo lentamente, quando vemos o sol nascer por trás de uma montanha, ou quando observamos um raio de luz entrar na penumbra do quarto de modo misteriosamente tocante. Esses instantes de iluminação, de paz e sublime felicidade acontecem para nós todos e permanecem conosco de maneira estranha. 

Acho que às vezes temos uma meia compreensão desses vislumbres, mas a cultura moderna não nos fornece nenhum contexto ou estrutura que nos ajude a entendê-los. Pior ainda, em vez de nos encorajar a investigá-los mais profundamente para descobrirmos de onde nascem, somos aconselhados, de maneira óbvia ou sutil, a abafá-los. Sabemos que ninguém nos levará a sério se tentarmos partilhar esses momentos. Assim, ignoramos aquelas que poderiam ser as experiências mais reveladoras de nossas vidas, se ao menos pudéssemos entendê-las. Esse é talvez o mais sombrio e perturbador aspecto da civilização moderna - sua ignorância e repressão a respeito de quem realmente somos."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 77/79


terça-feira, 28 de setembro de 2021

UMA ESPIRITUALIDADE VERDADEIRA

"O Nobre caminho Óctuplo de Buda traz sugestões práticas não apenas para elevação espiritual, mas também para se viver de maneira correta, criando uma sociedade coesa e não violenta e promovendo, assim, a espiritualidade. O primeiro passo é ter uma clara percepção da sociedade materialista e egoísta de hoje, com todos os seus deméritos e saber como se dissociar dela.

O segundo passo é a correta determinação. A pessoa deve ter um modo de vida não violento, não consumista e autocontrolado, aceitando dificuldades e inconveniências, inclusive a dor física que pode ocorrer no caminho.

O terceiro passo é falar a respeito disso sem medo. Os dois primeiros passos pertencem ao indivíduo. Compartilhá-los com o próximo é comunicar a sua visão e determinação por meio da correta linguagem. Se a pessoa não fala dos males da nossa sociedade, pode ser considerada cúmplice dela.

O quarto passo é consolidar e estabilizar o esforço. Não se deve permitir que a preguiça e a negligência detenham o esforço de viver corretamente.

O quinto passo, e o mais importante, é o correto viver. Essa é a ação básica de 'pular fora' e implica uma verdadeira compreensão individual da responsabilidade universal.

Atualmente é muito difícil buscar o viver correto e sem mácula. Os ensinamentos práticos de Gandhi sobre a autossuficiência e os princípios do autogoverno de uma aldeia são as únicas respostas ao atual modo de vida consumista.

O sexto passo é a correta atenção. No mundo de hoje, a violência e a desonestidade são a norma. Sem a correta atenção, a pessoa pode cair no fosso materialista sem se dar conta.

Os passos sete e oito, a correta concentração e a correta ação, são também essenciais para um modo de vida não violento. Se o Nobre Caminho Óctuplo for posto em prática, a pessoa pode se livrar de um sistema pernicioso e levar uma vida exemplar.

Para ter uma disposição espiritual ou religiosa e chegar a uma verdadeira transformação da mente, devemos pôr em prática as seguintes sugestões: 
  • Perceber os deméritos da civilização moderna e sua violência direta, indireta, estrutural e exploradora. Isso é correta visão.
  • Estarmos determinados a permanecer dissociados desse modo de vida ganancioso e egoísta, apesar das inconveniências e dificuldades. Isso é correta determinação.
  • Reduzir as necessidades ao nível mínimo e evitar qualquer desperdício de recursos. Gandhi disse que a Mãe Terra é capaz de satisfazer as necessidades de todos, mas não consegue satisfazer a ganância de um único indivíduo. Para salvar o planeta, devemos compreender as necessidades e negar a ganância.
  • Renunciar ao moderno paradigma de abundância. Isso inclui o uso dos meios de comunicação, viagens, computadores e outros males menores sem os quais a pessoa pode não se sentir capaz de atuar no mundo moderno.
  • Inovar a tecnologia, nos meios e nos métodos apropriados de consumo sustentável, senão a Terra pode não sobreviver.
  • Promover uma mente genuinamente espiritual, que seja capaz de transformar o indivíduo e, assim, o universo. Esta é a meta última da vida humana, e não envolve seguir qualquer tradição religiosa.  
Atualmente, mesmo as pessoas que alegam ser autoridades em tradições religiosas tornaram-se mundanas e vis, maculadas por emoções negativas. A prática de uma religião se tornou ritualizada e institucionalizada, razão por que Krishnamurti consistentemente rejeitava todas as tradições. Ele não rejeitava a essência da tradição, apenas a tradição prevalecente. É necessário compreender o que é uma mente verdadeiramente religiosa e o que é a verdadeira religião, livre de dogmas e rituais, tradições e linhagens. 

Krishnamurti resumiu a totalidade do ensinamento religioso da seguinte forma: 'A religião é algo que inclui tudo. Ela não é exclusiva. A mente religiosa não tem nacionalidade, não é provinciana, não pertence a um grupo particular. Não é o resultado de dois mil anos de propaganda, não tem dogma nem crença. É uma mente que se move do fato para o fato. É uma mente que compreende a qualidade total do pensamento, não apenas o pensamento óbvio, superficial, o pensamento educado, mas também o pensamento não educado, o profundo pensamento inconsciente e seus motivos. É uma mente que investiga a totalidade de algo, quando compreende o que é falso e o nega porque é falso. Então a totalidade da negação produz uma nova qualidade na mente que é religiosa, que é revolucionária.'"

(Samdhong Rinpoche - Uma cura para o planeta - Revista Sophia, Ano 13, nº 54 - p. 36)


quinta-feira, 23 de setembro de 2021

COLONIZAÇÃO ECONÔMICA

"Se alguém acumula riqueza para consumir o que é desnecessário, ele retira essa riqueza daquilo que pertence a outros; portanto, nada mais é do que um ladrão. Mas, se uma pessoa é incapaz de acumular  riqueza segundo o modo moderno, ele não pode levar uma 'vida digna'. Uma pessoa assim é classificada entre aqueles que estão abaixo da linha de pobreza, que precisam de mais assistência, mais fundo de desenvolvimento e mais oportunidades de emprego. Portanto, mais empréstimos e mais know-how são necessários, segundo os termos determinados pelo Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a Organização Mundial de Comércio e os governos das chamadas ' nações desenvolvidas'. Assim, as nações do Terceiro Mundo estarão sempre curvadas. O sistema econômico não apenas nos priva de nossa sabedoria e discriminação; rouba-nos também nossa dignidade e autorrespeito. 

Hoje, todos os sistemas geopolíticos e socioculturais são governados por um fator único, que é a economia de mercado. Outros ideais políticos e sociais, como democracia, direitos humanos, diversidade cultural e liberdade de consciência são meras palavras, destituídas de significado, usadas de maneira ornamental e metafórica e, se necessário, como simulacro de apoio. 

O colonialismo político chegou ao fim devido ao despertar dos povos sujeitos a essa dominação durante os últimos séculos. Atualmente essa prática foi substituída pela colonização econômica, que é muito mais perigosa. A ocupação política pode ser derrubada em pouco tempo, mas serão necessárias várias décadas ou séculos para se recuperar da dominação econômica - presumindo-se que haja uma chance de reconquistar essa liberdade. 

Como as prioridades econômicas suplantaram tudo o mais, o indivíduo se tornou egoísta, violento e destituído de fundação moral e ética. O moderno estilo de vida também destruiu as inclinações espirituais da maioria das pessoas. A essência da religião tem sido ignorada; as religiões e suas instituições têm sido usadas para fortalecer a intolerância e o conflito. A maioria das pessoas pensa que espiritualidade, moralidade e ética são empecilhos ao desenvolvimento material. Muitos dizem abertamente que 'religião é veneno' em termos de progresso. Uma pequena minoria pode não concordar totalmente com isso, mas diz mansamente que não há solução senão se submeter.

Na ausência de sabedoria e coragem para se opor ao mal, a pergunta natural é: 'O que podemos fazer?' Esta é uma pergunta muito importante. Seguindo o princípio de satyagraha de Gandhi, recomendo aos indivíduos que 'pulem fora' do moderno estilo de vida materialista, com seu consumismo excessivo e imoral, e compreendam qual é a sua responsabilidade com relação ao bem-estar universal. O macrouniverso é construído de microuniversos de indivíduos; o que quer que o indivíduo faça tem relevância e produz efeitos sobre o universo. Portanto, quando um indivíduo se dissocia do mal, um microuniverso desarmonizado pode se sintonizar. Assim, o planeta em mais chances de recobrar sua harmonia com o universo."

(Samdhong Rinpoche - Uma cura para o planeta - Revista Sophia, Ano 13, nº 54 - p. 34/35)