OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

O MISTÉRIO DO LIMIAR - 1

"Não há dúvida de que, ao ingressar em uma nova fase da vida, algo deva ser abandonado. A criança quando se torna um adulto deixa de lado as coisas infantis. São Paulo dá exemplo dessas palavras, como em muitas outras que ele nos deixou, de que havia provado do elixir da vida e que estava a caminho dos Portais de Ouro. A cada gota do elixir divino colocado no cálice do prazer, algo é purgado desse cálice, abrindo espaço para a gota mágica. Pois a Natureza lida generosamente com seus filhos: o cálice no ser humano está sempre cheio até a borda; e se ele decide provar a essência refinada e vivificante, deverá rejeitar algo da parte mais grosseira e menos sensível de si mesmo. Isso tem que ser feito diariamente, de hora em hora, com o tempo, a fim de que o projeto de vida possa aumentar constantemente. E para fazer isso com firmeza, o indivíduo deve ser seu próprio Mestre, deve reconhecer que está sempre carente de sabedoria, deve estar pronto para praticar quaisquer austeridades, usar contra si mesmo sem vacilação o bastão de bétula, a fim de atingir seu objetivo.  

Torna-se evidente a qualquer um que considera seriamente o assunto, que somente aquele indivíduo que tem em si as potencialidades, tanto as estoicas quanto as da sensualidade, possui alguma chance de entrar nos Portais de Ouro. Ele deve ser capaz de experimentar e apreciar a fração mais delicada daqueles prazeres que a existência tem a oferecer; e ao mesmo tempo negar a si mesmo todo prazer, sem, contudo, sofrer com a contradição. Quando ele realiza o desenvolvimento desta dupla possibilidade torna-se então capaz de afastar-se de seus prazeres e remover de sua consciência os que pertencem absolutamente ao indivíduo físico². Quando esses são removidos há outra classe de prazeres, ainda mais refinada, a ser tratada. Negociar com esses prazeres, que capacitarão um indivíduo a encontrar a essência da vida, não é o método defendido pelo filósofo estoico. O estoicismo não permite que no prazer haja alegria, e negando-se a si mesmo um, ele perde o outro. Mas o verdadeiro filósofo, que estudou a própria vida sem estar preso a qualquer sistema de pensamento, vê que o núcleo está dentro da casca e que, ao invés de esmagar completamente a noz, assim como faz um indivíduo grosseiro e indiferente, ele a obtém quebrando a casa e jogando-a fora. 

Todas as emoções e sensações aplicam-se a esse processo; caso contrário, não poderiam fazer parte do desenvolvimento do indivíduo, um elemento essencial da sua natureza. Para isso, diante de si há poder, vida, perfeição, onde cada porção de seu percurso está repleta de meios para ajudá-lo em seu objetivo; e negam esse fato somente aqueles que se recusam a reconhecer a vida como algo separado da matéria. 

Sua posição mental é tão absolutamente arbitrária que é inútil enfrentá-la ou combatê-la. Durante todo o tempo, o invisível tem oprimido o visível, o imaterial tem dominado o material; em todos os tempos, os sinais e símbolos daquilo que está além da matéria têm esperado pelos materialistas para testá-los e avaliá-los. Para aqueles que, arbitrariamente, escolhem a imobilidade, nada há a ser feito, a não ser deixá-los permanecer tranquilos, realizando aquele trabalho monótono, acreditando que nisso consiste a maior atividade da existência." ...continua. 

² No original em inglês: clay. (N.E.)

(Mabel Collins - Através dos Portais de Ouro - Ed. Teosófica, Brasília, 2019 - p. 49/52)


terça-feira, 7 de dezembro de 2021

SUPERE O NERVOSISMO ESCOLHENDO BOAS COMPANHIAS

"Há duas espécies de nervosismo: psicológico (ou superficial) e mecânico (ou orgânico). O psicológico, a variedade mais comum, nasce da agitação mental. Esta, se for contínua e acompanhada do convívio com pessoas destituídas de qualidades inspirativas, dieta errada e maus hábitos de saúde, causa as manifestações crônicas ou orgânicas das doenças nervosas.  

A alimentação deve ser simples, equilibrada e não deve ser ingerida em excessiva quantidade. O exercício deve ser regular. Dormir demais entorpece os nervos, e dormir de menos prejudica-os. Importantíssima é a escolha das companhias. 'Diz-me com quem andas, e te direi quem és.' Bajuladores não nos ajudam. Devemos buscar a companhia de homens superiores - os que nos dizem a verdade e nos ajudam a progredir. O melhor amigo é quem, humildemente, sugere mudanças valiosas para melhorar nossa vida. 

A crítica veemente, expressa de forma insensível ou má, é como bater com um martelo na cabeça de alguém. O poder do amor é infinitamente mais eficaz. Sugestões bondosas, oferecidas com amor e compreensão, podem fazer milagres; simplesmente apontar defeitos nada produz. Uma pessoa estará em condições de julgar os outros somente quando aperfeiçoar seu próprio caráter. Até lá, julgar-se a si mesmo é a única análise proveitosa. 

O convívio com pessoas calmas e sábias é um dos meios mais rápidos de eliminar o nervosismo e atingir a percepção de nossa divindade inata. Pessoas nervosas deveriam conservar-se longe dos que têm problemas semelhantes."

(Paramahansa Yogananda - A Eterna Busca do Homem - Self-Realization Fellowship - p. 100/101)


quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

ILUMINAÇÃO INTERIOR

"A mais rica linguagem poética é evocada pelo recorrente fenômeno diário do nascimento do sol, uma maravilha da natureza equiparada em esplendor somente ao pôr do sol ao final do dia. No contexto da experiência religiosa, o nascimento do sol é usada como símbolo de iluminação espiritual; os raios do sol tipificam a luz divina vertida na consciência individual. Como o amanhecer assinala o início de um novo dia, o nascimento do sol é apropriadamente empregado para retratar a aurora de uma nova fase na vida interna do homem, uma iniciação a um modo de consciência tradicionalmente descrito na linguagem da luz. 

Mas na verdade o nascimento do sol é uma ficção poética, a transferência de movimento do espectador para o espetáculo. O sol nunca nasce ou se põe. Esses eventos, embora anotados com precisão nos almanaques, jamais ocorrem. A verdade, que quase nem se precisa dizer, é que a Terra gira, e nós com ela; mas tão completo é o nosso condicionamento ao mundo da experiência sensorial que habitualmente projetamos sobre um corpo externo o nosso próprio movimento. A Terra gira, o sol torna-se visível, e dizemos: ele nasce. A Terra gira, o sol some de nossa visão, e dizemos: ele se põe. 

Na literatura da vida espiritual, a adoção do nascimento do sol como símbolo de iluminação interior oculta a verdade de que a iniciação não é o resultado de um favor divino ou uma inspiração poética, mas é produzida por uma mudança no interior do indivíduo. Na verdade a mudança é um giro, uma verdadeira conversão para longe da vida do 'eu' e uma aproximação da vida de autodoação. Quando o aspirante é capaz de rasgar o véu do egoísmo, pode perceber a luz que jamais deixou de estar presente.

As figuras de linguagem têm sido a língua franca dos místicos de todas as eras. Conscientemente empregadas como o único meio verbal para expressar o inexpressável, eles não podiam ser mal interpretados por aqueles para quem a iluminação, o nascimento do sol interior, era um fato de experiência. Onde falta experiência, no entanto, é provável que a ignorância como único intérprete aceite o simbolismo verbal como uma afirmação de fato, perpetuando assim a ilusão que mantém o homem prisioneiro dos seus sentidos. 

Um trecho dos escritos de H. P. Blavatsky expõe vigorosamente um exemplo de nossa escravidão ao ponto de vista egocêntrico - isto é, centrado na personalidade. Ela diz: 'Se ao menos pudésseis apreender a ideia básica.' Lembrando seus discípulos da 'grande verdade axiomática da Realidade Una', acrescenta: 'Esta é a sempre existente Essência Raiz, imutável e incognoscível aos nossos sentidos físicos, mas manifesta e claramente perceptível às nossas naturezas espirituais.' Daí segue-se naturalmente que 'se Ela é onipresente, universal e eterna, Dela devemos ter emanado, e devemos, algum dia a Ela retornar'. 

Há uma consequência ulterior, da qual a ilusão do nascimento do sol pode lembrar-nos diariamente. 'Sendo assim', escreve ela, chamando a atenção mais uma vez para as implicações da grande verdade axiomática, 'então faz sentido que vida e morte, bem e mal, passado e futuro, sejam todas palavras vazias, ou na melhor das hipóteses, figuras de linguagem'. 

O nascer do sol é uma ilusão, pois a Terra gira, mas o sol não nasce. Vida e morte são ilusões, pois há apenas Existência, à qual nada pode ser acrescido, da qual nada pode ser retirado, na qual tudo eternamente é."

(Ianthe H. Hoskins - Iluminação Interior - Revista Sophia, Ano 15, nº 65 - p. 5/7)


terça-feira, 30 de novembro de 2021

O MEDO DA ENTREGA (PARTE FINAL)

"Ao contrário do devoto, o ser humano comum cria inúmeras imagens fantasiosas de Deus. Deus está além de todos os nossos modelos, imagens e imaginação. Ele é referido pelos cabalistas e discípulos Iniciados como O INCOGNOSCÍVEL, A FONTE, O TODO, O UNO. Assim, para chegar mais perto de Deus, é preciso abandonar todas as nossas fantasias e representações sobre a Divindade. A imagem que temos do Pai Celestial geralmente corresponde à projeção que fazemos de nosso pai terreno. Aqueles que tiveram um pai presente, amoroso e compreensivo, projetam essa imagem num Deus amoroso. Porém, muitas pessoas tiveram um pai disciplinador, sem sempre presente e, por isso, propenso a mentir, fazer barganhas e manipulações para conseguir ser aceito e obedecido.   

Aqueles que têm uma imagem de Deus, como sendo um pai amoroso estão mais propensos a se entregar a Deus. Porém, aqueles que têm uma imagem de Deus como disciplinador, sujeito a acessos de ira e propensos a fazer barganhas, terão medo de Deus. Consequentemente terão dificuldade para realmente se entregar a Deus. Portanto, a mudança em nossa crença de um Deus de medo para um Deus de amor é um dos requisitos essenciais para a vida espiritual, em geral, e para a entrega, em particular. 

Infelizmente, grande parte dos cristãos, sejam eles católicos ou evangélicos, é condicionada a crer em um Deus do medo. As pregações nessas igrejas enfatizam reiteradamente que todo pecador será castigado no inferno por toda a eternidade. Não é de se estranhar que os fiéis e crentes desenvolvam um 'temor' a Deus em vez de um 'amor' a Deus. A entrega a Deus, nesse caso, passa a ser um ato temerário.

Assim que entendermos, sem a menor dúvida, que a vontade de Deus, que é Amor e tudo Sabe (porque vive em nós mesmos), é que sejamos verdadeiramente felizes, não vamos sentir mais a necessidade de pedir qualquer outra coisa além de que Sua vontade seja feita. Nesse caso, ao pedir que seja feita a Vontade de Deus, instruímos nossas mentes a focar na beleza da vida, a ver todas as razões que temos para celebrar e repousar na certeza de que estamos protegidos e no caminho certo, em vez de lamentar.

Mas, ainda assim, o poder do ego é tão forte que temos receio de deixar tudo inteiramente nas mãos de Deus porque não temos certeza se Ele vai cuidar de todos nossos interesses e projetos. Essa atitude demonstra que nossos principais interesses ainda estão neste mundo. Como dizia o Mestre: 'Onde está o teu tesouro, aí estará o teu coração'. Nesse caso, a pessoa que ainda não está pronta para dar o grande passo da entrega, pois não confia em Deus."

(Raul Branco - A Essência da Vida Espiritual - Ed. Teosófica, Brasília, 2018 - p. 114/115)


quinta-feira, 25 de novembro de 2021

O MEDO DA ENTREGA (1ª PARTE)

"Além da insegurança criada pelo ego, outra importante razão para não nos entregarmos a Deus é o temor doentio de que talvez Deus não saiba realmente o que precisamos para ser feliz. Esse temor é um corolário de nosso apego à vida deste mundo, na forma de uma racionalização para justificar nossa insistência em fazer o que nossa personalidade quer. Temos uma série de desejos e anseios, na maior parte fantasias de gratificação dos sentidos e também de nos tornarmos importantes e poderosos, incitando a admiração e respeito das pessoas (o sonho do ego). Portanto, ainda estamos presos a este mundo. Por essa razão, nossa mente nos diz (corretamente) que uma possível entrega a Deus nos levará pra longe dos devaneios do ego.

O que significa na prática, nos entregarmos à vontade de Deus? Talvez seja mais proveitoso começarmos perguntando quem se entrega a quem? Essa questão vem recebendo a atenção dos sábios da humanidade desde tempos imemoriais: quem sou eu? Vivemos numa identificação errônea com o corpo e o ego. Num sentido prático, somos dois seres em um: por um lado nosso Ser verdadeiro e eterno, que é divino, é Cristo em nós e, por outro, o nosso ser impermanente e ilusório que é o ego que se identifica com o corpo. Falando sobre a natureza humana, Paulo afirmou em coríntios: Se há um corpo psíquico, há também um corpo espiritual'. Paulo também disse: 'Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?' Por muitos milhares, na verdade, milhões de anos nos identificamos com aquele ser que percebemos com nossos sentidos, o corpo governado pelo ego. 

O processo de entrega é a renúncia a este mundo, em que vivemos para a gratificação dos sentidos e do ego, para nos identificar com o Cristo interior e viver de acordo com a Vontade do Pai Celestial. Mas, qual é a vontade de Deus para conosco? Como somente os verdadeiros devotos têm total certeza sobre a beneficência da vontade de Deus para conosco, temos a tendência a criar fantasias sobre o que pode ser a vontade de Deus dependendo da imagem que temos Dele. 

Nesse ponto, será útil uma definição. Usamos várias vezes o termo 'devoto'. O que significa ser um devoto? É ser inteiramente devotado ou dedicado a um projeto, a uma causa, a uma missão ou a uma figura religiosa. Ele pode ser um místico, um herói nacional, um grande empresário, um verdadeiro artista ou um atleta olímpico. Eles sacrificam tudo por seu ideal. Num sentido, eles são verdadeiros obcecados. Para termos uma ideia da extensão desta 'devoção', o grande campeão de natação, Michael Phelps,  queimava 12.000 kcal/dia²⁹ em seus exercícios, só tirava um dia de folga por ano e treinava cerca de cinco horas por dia na piscina, além dos exercícios de musculação e o estudo dos mínimos detalhes de seu desempenho em vídeos. Portanto, os devotos vivem de acordo com as duas máximas ensinadas por Jesus: 'Ninguém pode servir a dois senhores' e 'Onde está o teu tesouro, aí estará o teu coração'.

A questão da dedicação na vida espiritual é tão importante que um Mestre instruindo um aspirante ao discipulado afirmou:

'Como você sabe, existem certas palavras em nosso vocabulário mais oculto que têm graus de significado em geral de acordo com a pessoa que usa essas palavras e, mais especificamente, a quem são aplicadas. A palavra 'dedicado' é um exemplo. Em seu significado pleno, para todos nós, ser dedicado a um ideal, a realização de uma meta e a seguir um modo de vida apropriado, significa aceitação total e exclusiva do objetivo e de trabalhar e viver para ele; nada mais tem realmente qualquer importância, em comparação. Caso um assunto associado esteja envolvido, então seu significado e o fato de ser desejável ou não seriam imediatamente julgados de acordo com o ideal e, reitero, exclusivamente. Tal, no significado mais elevado da palavra, é dedicação. Porém, as pessoas podem ser dedicadas em vários graus, não é verdade? Ou, o cumprimento que dão ao ideal pode ser somente parcial, hesitante ou algo nesse sentido. Elas também podem ser consideradas como, num sentido menor da palavra, dedicadas e assim respeitadas  por fazerem o melhor que podem, considerando sua evolução, posição espiritual, karma e outros interesses.'³⁰" ...continua

²⁹ Kcal/d é abreviação para quilocaloria por dia. Caloria é uma unidade de medição de energia. A caloria é geralmente usada para definir o valor energético dos alimentos. Os cientistas sugerem que a necessidade energética do ser humano depende do sexo, altura e intensidade de atividade. Por exemplo, um homem com 1,80m, pouco ativo, precisa de 2350 kcal/d, se for ativo de 2900 kcal/d e muito ativo de 3500 kcal/d. 
³⁰ Luz do Santuário - O diário Oculto, op. cit., p. 346.

(Raul Branco - A Essência da Vida Espiritual - Ed. Teosófica, Brasília, 2018 - p. 111/113)