
Tenho pena de ti, frágil homem de poder.
Eu vejo que não te sobra tempo
para ficar olhando as ondas franjadas de branco alastrando-se na areia,
alisando-a, embebendo-a.
Tenho pena de ti em teu maquinal
viver.
Perdeste a sensibilidade. Não
podes achar lindeza na gargalhada da menininha brincando com seu cão.
Larga um pouco teus compromissos
e vem apenas ver um simples pássaro, silhueta serena a cortar a vermelhidão do
ocaso.
Esquece teus lucros. Só um
pouquinho. Vem redescobrir encanto nas coisas triviais.
Repara naquelas camisas
coloridas, penduradas no varal. Vê como dançam com o vento brincalhão a
tangê-las.
Vamos, estafado e rico amigo,
larga um pouco tua ânsia por mais.
Volta-te – só um pouquinho! –
para este necessário ócio gostoso e sábio. Vem deslumbrar-te com as múltiplas
expressões do Onipresente.”
(Hermógenes – Mergulho na paz –
p. 58)
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