quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O HOMEM OCUPADO


“Tenho pena de ti, pobre homem abastado. Tua riqueza, seus negócios, tua empresa  não te deixam lazer; não te deixam aproveitar o contato fresco da aragem de primavera, que a montanha nos manda.

 Tenho pena de ti, frágil homem de poder.

Eu vejo que não te sobra tempo para ficar olhando as ondas franjadas de branco alastrando-se na areia, alisando-a, embebendo-a.

Tenho pena de ti em teu maquinal viver.

Perdeste a sensibilidade. Não podes achar lindeza na gargalhada da menininha brincando com seu cão.

Larga um pouco teus compromissos e vem apenas ver um simples pássaro, silhueta serena a cortar a vermelhidão do ocaso.

Esquece teus lucros. Só um pouquinho. Vem redescobrir encanto nas coisas triviais.

Repara naquelas camisas coloridas, penduradas no varal. Vê como dançam com o vento brincalhão a tangê-las.

Vamos, estafado e rico amigo, larga um pouco tua ânsia por mais.

Volta-te – só um pouquinho! – para este necessário ócio gostoso e sábio. Vem deslumbrar-te com as múltiplas expressões do Onipresente.”

(Hermógenes – Mergulho na paz – p. 58)


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