O autoconhecimento não pode ser dado por outros. O indivíduo precisa conhecer a si mesmo tal como é, e não como deseja ser, pois o que ele deseja ser é apenas um ideal imaginário. Para conhecer a si mesmo, o indivíduo precisa de extraordinária vigilância por parte da mente. Tudo está sujeito à constante mudança, por isso a mente não deve ser restringida por dogmas. Se você é ganancioso ou violento, o simples fato de nutrir um ideal de não violência ou de generosidade é de pouco valor. Mas compreender que somos violentos ou gananciosos requer um percebimento extraordinário. Requer honestidade e lucidez de pensamento, ao passo que simplesmente seguir um ideal representa uma fuga que nos impede de perceber e de atuar diretamente sobre o que somos.
Há diferença entre ser virtuoso de fato e o 'vir a ser' virtuoso. O ser virtuoso vem com a compreensão do que é, ao passo que o 'vir a ser' virtuoso é adiamento, ocultação do que é pelo cultivo de um ideal. Se observarmos atentamente, verificaremos que o ideal não tem essa qualidade. A virtude é essencial numa socidedade que se está desintegrando rapidamente. Para criar um novo mundo é preciso liberdade para descobrir; e para ser livre é indispensável a virtude, porque sem virtude não há libertação do medo do que se é.(...)"
A compreensão do que somos, não importa como - feios, bonitos, perversos, malignos - é o começo da virtude. A virtude é essencial, porque dá liberdade. É só na virtude que se pode descobrir e viver - mas não apenas no cultivo da virtude, que leva somente à respeitabilidade, porém não traz compreensão nem liberdade.
(J. Krishnamurti - Os Caminhos do Autoconhecimento - Revista Sophia, Ano 12, nº 49 - Pub. da Ed, Teosófica, Brasília - p. 06)
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