OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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sexta-feira, 23 de março de 2018

TEXTO ZAZEN WASAN

"Desde o princípio todos os seres são Budas.

Como a água e o gelo, sem água não há gelo,

Fora de nós não há Budas

Quão próximos da verdade, todavia quão longe a buscamos.

Como alguém dentro d'água gritando 'Tenho sede'.

Como uma criança de rica linhagem

vagueando neste terra como se fosse pobre,

nós vagueamos eternamente e damos voltas aos seis mundos.

A causa de nossa dor é a ilusão do ego.

De um caminho sombrio a outro vagueamos nas trevas,

Como podemos nos livrar da roda de samsara?

A passagem para a liberdade é o Samadhi Zazen,

além da exaltação, além de nossos louvores,

o puro Mahayana.

A observação dos preceitos, o arrependimento e o doar-se,

as incontáveis boas ações e o caminho do reto viver

surgem todos de Zazen.

Assim, um verdadeiro Samadhi extingue os males;

purifica o carma, dissolvendo as obstruções.

Então, onde estão os caminhos sombriso que nos fazem extraviar?


A Terra do Lótus Puro não é distante.

Ouvir esta verdade, coração humilde e agradecido,

louvá-la e abraçá-la, praticar sua sabedoria,

traz bênçãos intermináveis, montanhas de mérito.


Mas se nos voltarmos para o interior e provarmos de nossa Verdadeira natureza,

que o Verdadeiro eu é não eu,

que o nosso próprio Eu é não eu,

vamos além do ego e das palavras astutas.

Então o portal que leva à unidade de causa e efeito é aberto.

Nem dois e nem três, em frente segue o Caminho.

Sendo a nossa forma agora a não forma,

para virmos e irmos jamais saímos de casa.

Sendo o nosso pensamento agora não pensamento,

as nossas danças e as nossas canções são a voz do Dharma.

Como é vasto o céu de ilimitado Samadhi!

Como é claro e transparente o luar da sabedoria!

O que existe fora de nós, o que nos falta?

O Nirvana está totalmente aberto aos nossos olhos.

Esta terra onde estamos é a Terra do Lótus Puri.

É este mesmo corpo, o corpo de Buda."

(Hakuin Zenji - Além do Despertar - Ed. Teosófica, Brasília, 2006 - p. 27/28)


quarta-feira, 14 de março de 2018

COM SABEDORIA E DISCERNIMENTO, RESGATE SUA LIBERDADE

"Resgate sua liberdade. Você consegue cumprir as decisões que toma? Se não consegue, está preso ao karma. Mas se tem conseguido fazer o que se propõe a fazer, guiado pelo discernimento - e não pelas influências do karma passado ou presente -, então isto é liberdade. Julgue tudo de acordo com o ponto de vista do discernimento e da sabedoria. Não permita que suas ações sejam governadas pelo hábitos nem pela obediência cega aos costumes sociais ou ao que as outras pessoas pensam. Seja livre.

De vez em quando você vê uma pessoa livre - alguém que não vive a vida dos outros, que é livre porque suas ações só são influenciadas pela sabedoria. Esta é a marca da grandeza de Mahatma Gandhi. Quando ele foi à Inglaterra e visitou o casal real, não se vestiu formalmente como era o costume. Foi recebido pelos reis usando uma simples tanga de pano e um xale, como se usava nas aldeias indianas. Ele desfruta de grande liberdade porque vive seus ideais e não está preso aos costumes da sociedade.

Sempre que você fizer alguma coisa, pergunte a si mesmo se é só por causa do que os outros podem pensar de você ou se é porque está seguindo a sabedoria e o discernimento. Este é o critério que uso para agir. Mesmo como americanos nascidos livres vocês não conhecem a verdadeira liberdade. Muitos acham que fazer o que querem é a liberdade - mas a verdadeira liberdade está em fazer o que se deve fazer no momento em que aquilo deve ser feito. Do contrário você é um escravo. Seja influenciado apenas pela sabedoria. Se não conseguir isso, permanecerá escravo por séculos de encarnações.

Agora, seguir a verdade não quer dizer que você precia atacar os outros com suas convicções. Compartilhe a verdade somente quando for pedida ou bem-vinda. Do contrário, aprenda a ficar em silêncio, mantenha suas opiniões para si mesmo. Mas quando achar que deve falar, fale. Enfrente o mundo inteiro, se necessário. Galileu afirmou que a Terra gira em torno do Sol e foi crucificado por isto. Posteriormente se descobriu que ele estava certo. Mas nunca faça nada só por orgulho; isto o fará cair."

(Paramahansa Yogananda - Jornada para a Autorrealização - Self-Realization Fellowship - p. 234/235)


quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

VISÃO CÁRMICA

"Como é que chegamos a viver como seres humanos? Todos os seres que têm carma semelhante terão uma visão comum do mundo em torno deles, e esse conjunto de percepções que partilham é chamado de 'visão cármica'. Essa estreita correspondência entre o nosso carma e o tipo de reino em que nos encontramos também explica como diferentes formas surgem: você e eu, por exemplo, somos seres humanos devido ao carma básico comum que partilhamos.

Mas mesmo dentro do reino humano todos nós temos nosso carma individual. Nascemos em países, cidades e família diferentes; cada um de nós tem diferente criação, educação, influências e crenças, e todos esses condicionamentos incluem aquele carma. Cada um de nós é uma complexa somatória de hábitos e ações passadas, e assim não podemos ver as coisas senão da nossa maneira pessoal, única. Os seres humanos são muito parecidos, mas percebem as coisas de modo completamente diferente, e cada um de nós vive em seu próprio mundo individual, único e separado. Como disse Kalu Rinpoche: 
Se cem pessoas dormem e sonham, cada uma delas experimentará um mundo diferente em seu sonho. Pode-se dizer que os sonhos de todos são verdadeiros; não teria sentido afirmar que apenas o sonho de uma pessoa é o mundo verdadeiro e todos os demais são falsos. Há verdade em cada um que percebe, de acordo com os padrões cármicos que condicionam suas percepções.²"
² Kalu Rinpoche, Essence of the Dharma (Delhi, Índia: Tibet House), 206.

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 153/154

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

ESTA VIDA: O BARDO NATURAL

"Vamos explorar o primeiro dos Quatro Bardos, o bardo natural desta vida, e todas as suas muitas implicações; (...) O bardo natural desta vida compreende todo o período da nossa vida que vai do nascimento à morte. Seus ensinamentos deixam claro para nós porque esse bardo é uma oportunidade tão preciosa, o que realmente significa ser um ser humano e o que há de mais importante - o único essencial - a ser feito com a dádiva desta vida humana. 

Os mestres nos dizem que há um aspecto das nossas mentes que é seu terreno fundamental, um estado chamado de 'a base da mente ordinária'. Longchenpa, o destacado mestre tibetano do século XIV, descreve-o deste modo: 'É um estado não iluminado e neutro que pertence à categoria da mente e dos eventos mentais, e que se tornou a base ou fundação de todos os carmas e 'engramas' do samsara e do nirvana'.¹ Ele funciona como um armazém em que são estocados como sementes todas as impressões das ações passadas causadas por nossas emoções negativas. Quando surgem as condições propícias, elas germinam e manifestam-se como circunstâncias e situações da nossa vida.

Imagine essa base da mente ordinária como um banco no qual o carma é depositado na forma de impressões e tendências habituais. Se temos o hábito de pensar seguindo um padrão característico, positivo ou negativo, então essas tendências serão acionadas e provocadas muito facilmente, repetindo-se de maneira contínua e recorrente. Com essa repetição constante, nossas inclinações e hábitos entrincheiram-se cada vez mais e persistem, acumulando mais e mais poder, mesmo quando estamos dormindo. É dessa forma que chegam a determinar nossa vida, nossa morte e nosso renascimento.

Sempre nos perguntamos: 'Como será quando eu morrer?' A resposta a isso é que seja qual for o estado da mente que temos agora, seja lá qual for o tipo de pessoa que somos agora, assim seremos no momento da morte, se não mudarmos. Por isso é de importância tão absoluta usar esta vida para purificar nosso fluxo mental e, por decorrência, nosso ser e nosso caráter fundamentais, enquanto podemos."

¹ Tulku Thondup, Buddha Mind (Ithaca, Nova York: Snow Lion, 989), 211.

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 152/153

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

O NASCIMENTO (PARTE FINAL)

"(...) Para determinar a qualidade de matéria etérica que entrará na constituição do corpo etérico, dois pontos devem ser considerados: primeiro, o tipo de matéria, encarado sob o ponto de vista dos Sete Raios ou divisões verticais, a seguir, a qualidade de matéria, encarada sob o ponto de vista de delicadeza ou grosseria, divisões horizontais. O primeiro tipo, o do raio, é determinado pelo átomo físico permanente, no qual estão impressos o tipo e o subtipo. O segundo é determinado pelo karma passado do indivíduo; o elemental construtor está encarregado de produzir um corpo adequado aos requisitos da pessoa. Em suma, o elemental representa a porção de karma (prârabda) individual que deve ser expresso no corpo físico. Da seleção operada pelo elemental construtor dependem, por exemplo, a inteligência natural ou a estupidez, a calma ou a irritabilidade, a energia ou a indolência, a sensibilidade ou a inércia do corpo. As potencialidades hereditárias estão latentes no óvulo materno e no espermatozoide paterno; o elemental extrai deles os elementos necessários ao caso. 

Embora o elemental esteja, desde o início, encarregado do corpo a construir, o EGO não entra em relação com sua futura habitação senão mais tarde, pouco antes de seu nascimento físico. Se as características a impor pelo elemental são poucas, ele pode retirar-se logo, e deixar o corpo a cargo do Ego. Pelo contrário, se for preciso muito tempo para desenvolver as limitações exigidas, o elemental pode permanecer com o encargo do corpo até o sétimo ano. 

A matéria etérica para o corpo da criança é extraída do corpo materno; daí a importância de a mãe só assimilar elementos muito puros. 

A não ser que o elemental esteja encarregado de obter um resultado especial nas feições, como a beleza excepcional ou o contrário, o principal trabalho neste sentido serão os pensamentos da mãe e as formas-pensamentos que flutuam ao redor dela. 

O novo corpo astral é posto em relação com o duplo etérico logo na primeira fase, e exerce grande influência sobre sua formação; por intermédio dele também o corpo mental age sobre o sistema nervoso." 

(Major Arthur E. Powell - O Duplo Etérico)

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

CLAREZA DE VISÃO (2ª PARTE)

"(...) Nós decidimos nosso destino através das escolhas e de como lidamos com as coisas. Essas escolhas refletem-se como oportunidades de crescimento na infalível lei do karma. O crescimento espiritual não é algo que somos compelidos a aceitar pelas circunstâncias. Ele deve vir como um ato de escolha, e o desenvolvimento posterior da nossa natureza só pode ser alcançado pelo esforço pessoal. Quando o véu da personalidade é reduzido, a escolha é feita por um aspecto mais profundo de nós mesmos.

Lembremos que o significado de responsabilidade é 'dever'. No livro A Chave para a Teosofia (Ed. Teosófica), Blavatsky fala do dever em termos amplos e bastante duros: 'O dever é aquilo que é devido à humanidade, ao nosso próximo, nossos vizinhos, à família, e especialmente aquilo que devemos a todos aqueles que são mais pobres e mais impotentes. Esse é um débito que, se não for saldado durante a vida, deixa-nos espiritualmente insolventes e moralmente falidos na nossa próxima encarnação.'

Não se trata do tipo de dever restrito e opressivo contra o qual o eu pessoal poderia lutar. Ele é de uma cor diferente, porque se origina do aspecto de nossa natureza capaz de discernir nossas conexões universais com a vida. O dever ou responsabilidade, no seu sentido mais amplo, refere-se à nossa responsabilidade em relação à vida, um mandado sagrado para o indivíduo no caminho espiritual. Isso inclui cuidar de plantas e animais, envolver-se em assuntos éticos e assumir uma série de responsalidades para com a humanidade e a vida. 

No século XXI, quando a tecnologia torna nossas vidas tão mais fáceis, noções como esforço e dever não são muito palatáveis. Todavia, quando tivermos tocado nossa verdadeira individualidade, mesmo que uma única vez, de maneira pequenina, os esforços não parecerão tão pesados.

O autor contemporâneo Ken Wilber, que escreve sobre a Sabedoria Perene, explica como a agitação do eu relaxa durante a meditação ou a contemplação não dual. Certamente ele se refere à meditação autêntica, não a outras atividades comumente confundidas com práticas meditativas. (...)"

(Linda Oliveira - Os artistas do destino - Revista Sophia, Ano 13, nº 58 - p. 14/15)


domingo, 26 de novembro de 2017

AMOR PELA HUMANIDADE (1ª PARTE)

"Uma das maiores lições da vida, para mim, foi que a paz não surge do exterior, nem das pessoas ou das coisas. Após esse momento, meu trabalho verdadeiramente começou. Foi somente pelo meu contínuo olhar para o interior que a paz permitiu-se acontecer. Para fazer qualquer coisa, precisamos nos engajar. Isso é autoconhecimento. O engajamento é uma das lutas que permite que as nuvens se dissipem. Finalmente começamos a experimentar nossa natureza superior, resplandecente como é, foi e sempre será.

No entanto, isso é apenas parte da história. Nem tudo diz respeito a nós. Krishnamurti disse que 'a iluminação tem pouco a ver conosco e tudo a ver com o universo'. O verdadeiro despertar significa que não estamos sós, mas que 'tudo é um'.

Quando agimos em harmonia com o universo, começamos a ver a necessidade de auxiliar os outros. Contudo, estamos todos sempre tão ocupados... Como se pode mudar isso? Nossa ideia de ajuda geralmente é ver o nosso eu físico auxiliando os outros. Quando compreendemos o poder que temos, verificamos que podemos afetar qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, por meio dos nossos sentimentos e pensamentos. Toda vez que pensamos, empregamos parte do universo - o reino mental.

Nas Cartas dos Mahatmas, podemos ler: 'Todo pensamento do homem, ao ser criado, passa para o mundo interno e torna-se uma entidade viva associando-se - amalgamando-se, poderíamos dizer - a um elemental; o que equivale a dizer, com uma das forças semi-inteligentes dos reinos. Ele sobrevive como uma inteligência ativa, uma criatura gerada pela mente para um período mais longo ou mais curto, proporcional à intensidade original da ação cerebral que o gerou. Assim um pensamento bom perpetua-se como um poder benéfico ativo, e um pensamento mau como um demônio maléfico. E assim o homem está continuamente povoando sua corrente no espaço com seu próprio mundo apinhado com a projeção de suas fantasias, desejos, impulsos e paixões, uma corrente que reage sobre qualquer organização sensitiva ou nervosa com a qual entre em contato, proporcionalmente à sua intensidade dinâmica. Os budistas chamam isso skandha, os hindus, karma; o Adepto cria essas formas conscientemente, outros homens lançam-na fora inconscientemente.' (...)"

(Barry Bowden - Sabedoria: o tesouro oculto - Revista Sophia, Ano 13, nº 58 - p. 42)
www.revistasophia.com.br


sábado, 18 de novembro de 2017

O SENTIDO DA VIDA, SEGUNDO MOISÉS, BUDA, CRISTO (PARTE FINAL)

"(...) O homem que apenas desenvolve o seu ego mental, e não o seu Eu racional (espiritual), vive numa frustração existencial, e não pode deixar de ser sofredor, por ser devedor e culpado da sua não realização existencial.

Nos últimos tempos, a medicina conseguiu aumentar a longevidade da vida humana, por meio de medicamentos – mas não diminuiu os sofrimentos humanos porque essa longevidade artificial é um prolongamento da agonia do homem, que continua a ser culpado.

Enquanto o homem não se realizar, de acordo com as imutáveis leis cósmicas, não deixará ele de ser um sofredor, a despeito de todos os paliativos e camuflagens da medicina. Somente a realização existencial pode pôr termo ao sofrimento compulsório do homem.

Depois de deixar de ser devedor culpado perante as leis cósmicas, pode o homem continuar a sofrer algum tempo por seus débitos passados (karma), ou mesmo por culpa de seus companheiros ainda devedores. Só quando toda a humanidade estiver sem culpa, deixará o homem de ser um sofredor compulsório.

O sofrimento por débitos próprios é vergonhoso – mas o sofrimento por débitos alheios é glorioso.

Somente os grandes avatares da humanidade, isentos de sofrimentos compulsórios, podem, querer sofrer voluntariamente, porque sabem que sem resistência não há evolução – e eles são desejosos de evolução ulterior e autorrealização cada vez maior.

Nesse caso estava Jesus, que não sofreu por débito próprio, nem alheio, como ele mesmo diz, mas 'para entrar em sua glória'. O seu sofrimento voluntário foi um sofrimento crédito, a serviço da sua evolução superior, e não um sofrimento débito.

O grosso da humanidade vive no sofrimento débito, que pode converter-se em sofrimento crédito.

Somente a nova humanidade, liberta de débitos, estará liberta de sofrimento débito, e pode iniciar a gloriosa humanidade dos avatares, de que o Cristo foi o precursor.

'Haverá um novo céu e uma nova terra, e o Reino de Deus será proclamado sobre a face da terra'."

(Huberto Rohdem - O Homem, sua Natureza, sua Origem e sua Evolução - p. 39/40)

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

O CAMINHO SAGRADO DO AMOR E DA VERDADE

"O Karma, como foi ensinado no Gita e no Yoga Vasishta, significa atos e volições que procedem de Vanasa, ou desejo. É deixado bem claro naqueles códigos de ética que nada que é feito com um puro senso de dever, nada que é empreendido com um sentimento de 'obrigação', como se diria, pode macular a natureza moral daquele que o faz, mesmo que ele esteja equivocado em sua concepção de dever e adequação. O erro, é claro, deve ser expiado com sofrimento, que deve se proporcional às consequências do erro; mas certamente não pode degradar o caráter ou macular o Jivatma (o Eu Individualizado).

É bom usarmos todos os eventos da vida como lições a serem transformadas em vantagens, e a dor causada pela separação de amigos que amamos pode ser usada assim. O que são espaço e tempo no plano do Espírito? Ilusões do cérebro, meros nadas, que adquirem aspecto de realidade pela impotência da mente, o invólucro que aprisiona o Jivatma. O sofrimento meramente nos dá um impulso novo e mais potente de vivermos completamente no Espírito. No fim, da dor virá boa vontade para todos nós, de modo que não devemos resmungar. Antes, sabendo que para os discípulos não pode acontecer nada que não seja da vontade de seus Senhores, devemos olhar para cada incidente doloroso como um passo em direção ao progresso espiritual, como um meio para aquele desenvolvimento interno que nos capacita a servi-Los, e com isso à Humanidade, de um modo melhor. 

Se apenas pudermos servi-Los, se através de todas as tormentas e conflagrações nossas Almas se voltarem para os seus Pés de Lótus, o que importam a dor e os sofrimentos que elas impõem à nossa casca temporária? Entendamos um pouco o significado interno destes sofrimentos, destas vicissitudes das circunstâncias externas - entendamos como tamanha dor suportada significa muito mau Karma esgotado, muito poder de serviço adquirido, quão boa lição aprendida - não serão estes pensamentos suficientes para nos sustentar através de qualquer quantidade destas misérias ilusórias? Quão doce é sofrer quando se sabe e se tem fé! Quão diferente da miséria do ignorante, do cético, e do descrente. Quase poderíamos desejar que todo o sofrimento e miséria do mundo fossem nossos a fim de que o restante de nossa raça pudesse ser livre e feliz. A crucificação de Jesus simboliza esta fase na mente do discípulo. Você não pensa o mesmo? Somente esteja sempre firme na fé e na devoção, e não se desvie do caminho sagrado do Amor e da Verdade. Esta é a sua parte - o resto será feito por você pelos Senhores Misericordiosos a quem você serve. Você já sabe de tudo isso, e se eu falo sobre isso é apenas para fortalecê-lo em seu conhecimento; pois amiúde esquecemos de nossas melhores lições, e em tempos de aflição o dever de um amigo é mais o de lembrar a você suas próprias palavras, antes do que introduzir novas verdades. Foi assim que Draupadi frequentemente consolou seu sábio esposo Yudhisthira, quando terrível infortúnio por um momento abalava sua usual serenidade, e assim também o próprio Vasishtha teve de ser acalmado e confortado quando assolado pela dor da morte de seus filhos. Não é verdadeiramente inexplicável o lado Maya deste mundo? (...)"

(Annie Besant - A Doutrina do Coração - Ed. Teosófica, Brasília - p. 7)
www.editorateosofica.com.br


sexta-feira, 3 de novembro de 2017

O CARÁTER DE UM HOMEM

P 137: Considerando o primeiro fio da corda do destino, como é que o pensamento cria o caráter?  

R: O caráter de um homem é a totalidade de suas qualidades morais e mentais. 'Homem' significa 'O Pensador; e a relação entre pensamento e caráter acha-se reconhecida nas Escrituras de todas as nações. Uma escritura hindu diz: 'O homem é criado pelo pensamento; como um homem pensa, assim chega a ser'; e na Bíblia se lê: 'Tal como pensa um homem, assim é'; e também: 'Quem olhar cobiçosamente uma mulher, cometeu já adultério com ela em seu coração'; e 'Aquele que odeia seu irmão, é um assassino'.  

A razão desses fatos é que, quando a mente se ocupa de um pensamento particular, estabelece-se na matéria um tipo definido de vibração, e, quanto maior for a frequência com que se origina esta vibração, adquirirá maior tendência a repetir-se automaticamente na matéria do corpo mental, até que chega a constituir um hábito (...).  

Para criar um hábito de pensamento, deverá o homem escolher uma qualidade desejável (uma virtude, uma emoção), e pensar então persistentemente na qualidade escolhida. Deverá meditar deliberadamente nela todas as manhãs por alguns minutos, e persistir naquela criação mental até que se forme um hábito e se tenha criado a virtude dentro de seu próprio caráter, o que se efetua especialmente quando põe em prática o pensamento em sua vida diária. Como tudo se acha sob lei, não poderá obter habilidades mentais ou virtudes morais sentando-se a esperá-las; somente poderá edificar seu caráter mental e moral pensando esforçadamente e atuando de conformidade. Suas aspirações chegarão a ser capacidades; seus repetidos pensamentos se converterão em tendências e hábitos. No passado criou seu caráter com o qual nasceu nesta vida, e agora está criando o caráter com que morrerá, e com o qual renascerá; e o caráter é a parte mais importante do carma (...).  

Se um homem é hábil para certas coisas, é porque numa vida anterior dedicou muito de seus esforços naquela direção. O gênio e a precocidade se explicam, assim, satisfatoriamente. As aspirações elevadas de uma vida florescem como capacidades na seguinte; e uma vontade decidida de serviço não Egoísta tem como resultado a espiritualidade." 

(Pestanji Temulji Pavri - Teosofia explicada em perguntas e respostas - fl. 122)


domingo, 29 de outubro de 2017

OS ARTISTAS DO DESTINO (PARTE FINAL)

"(...) O termo 'autorresponsabilidade' implica a necessidade de entender o significado de responsabilidade, eu e ego. Responsabilidade significa dever, compromisso, capacidade de conduta racional. Na literatura teosófica, a personalidade é frequentemente chamada de 'eu', e a individualidade, de 'ego'. Podemos diver que a refinada arte de autorresponsabilidade envolve vários aspectos:
  • possuir uma visão ou intuição daquilo que podemos nos tornar;
  • ser sensível a essa visão;
  • perceber as ferramentas do 'eu' com as quais temos que trabalhar; 
  • examinar nossas várias tendências;
  • suavizar essas tendências, de modo que as cores sutis de nossa verdadeira natureza posssam assumir forma.
 Esse processo deve pavimentar o caminho para as nossas ações, que vão se tornando cada vez mais equilibradas e cuidadosas, refletindo nosso dever ou missão de vida individual, de modo que nos tornemos conscientes e plenamente responsáveis por nossas ações.

Se tivéssemos total responsabilidade por nossas ações, não deveríamos nos encolerizar com o karma, nem nos irritar com as circunstâncias com que nos defrontamos. Existe um fenômeno que pode ser descrito como 'fenda', um hiato entre entender intelectualmente ensinamentos como o karma e de fato fundi-los em nosso ser. No livro A Voz do Silêncio (Ed. Teosófica), de Helena Petrona Blavatsky, os termos contrastantes 'aprendizagem intelectual' e 'sabedoria da alma' também se referem a esse hiato, que às vez pode parecer um abismo.

Como artistas do nosso próprio desabrochar, nossa primeira tarefa é ver o que realmente está aqui, identificar as ferramentas com que temos que trabalhar. Isso requer um exame da nossa personalidade que pode ser desconfortável. Nesse processo, os aspectos do eu pessoal que não são úteis se tornam aparentes, assim como os aspectos que não precisam ser mantidos por longo tempo." 

(Linda Oliveira - Os artistas do destino - Revista Sophia, Ano 13, nº 58 - p. 13)

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

O DEVER

"O dever é aquilo que se deve à Humanidade, a nossos semelhantes, a nossos vizinhos, à nossa família e especialmente o que devemos a todos aqueles que são mais pobres e desamparados que nós mesmos. Esta é uma dívida que não satisfeita durante a vida nos torna espiritualmente insolventes e cria um estado de quebra moral em nossa próxima encarnação. A Teosofia é a quintessência do dever... O que chamais 'deveres cristãos' foi inculcado por todos  os  grandes reformadores  morais e religiosos séculos antes da Era Cristã. Não se tratava antigamente de tudo o que era grande, generoso e heróico, sendo objeto, como hoje, de prédicas no púlpito e até mesmo por nações inteiras. A história budista está repleta dos atos mais nobres e mais heroicamente generosos. 'Sede todos uma só vontade; compadecei-vos uns dos outros: querei-vos como irmãos; sede misericordiosos, afáveis; não devolvei mal ao mal, ou injúria por injúria mas, sede bondosos'. Observaram praticamente esses preceitos os discípulos de Buda, alguns séculos antes de Pedro. A ética do Cristianismo é indubitavelmente grande, mas é também inegável que não é nova, e que nasceu do mesmo modo que os deveres pagãos... 

Os que praticam seu dever para com todos e somente pelo dever são poucos e ainda menor número é contado entre os que cumprem esse dever pelo contentamento de sua própria consciência... Formosa, para leitura e discussão, é a ética moderna, porém que são as palavras quando não se convertem em atos? Finalmente, se me perguntais de que modo compreendemos o dever teosófico posto em prática e relacionado com Karma, posso responder que nosso dever é o de beber, sem a mínima queixa, até a última gota de qualquer conteúdo que o destino nos ofereça na taça da vida; colher as rosas da vida tão somente pelo aroma que possam exalar para os outros e nos contentarmos tão somente com os espinhos se não podemos gozar daquele aroma sem privar dele um outro ser. 

Não se trata do que nós, membros da Sociedade Teosófica, fazemos - ainda que alguns de nós façam tudo quanto possam - mas sim de que a Teosofia nos leva mais longe no caminho do bem do que o faz o Cristianismo moderno. A ação esforçada e leal é o que digo, não a simples intenção e as palavras! Um homem pode ser o que quiser; o mais mundano egoísta e duro de todos os homens e até o maior canalha e isto não lhe impedirá de arrogar-se o nome de cristão, nem tampouco a um outro de considerá-lo como tal. Porém nenhum teósofo tem direito a esse nome se não está inteiramente imbuído do axioma de Carlyle: 'O objeto do homem é um ato e não um pensamento, ainda que este fosse o mais nobre' e se não amolda sua vida diária a esta verdade... 

A felicidade, ou melhor, a satisfação pode ser consequência para o cumprimento do dever, mas não é nem deve ser o motivo para isso."

(H. P. Blavatsky - A Doutrina Teosófica - Ed. Hemus, São Paulo - p. 82/83)


segunda-feira, 3 de julho de 2017

APRENDIZADO CONSTANTE (1ª PARTE)

"O 'retorno' à vida terrena ocorre mais cedo para aqueles que criaram pouco karma psicológico e mais tardiamente para os mais espiritualizados, que precisam de tempo para assimilar todas as lições espirituais.

Também não é possível retornar à vida como um animal. Uma vez desenvolvida a autoconsciência, não podemos mais retroceder. Essa ideia surgiu de uma interpretação literal de figuras de linguagem, como era o caso de um índio norte-americano que falava em se tornar lobo, águia ou toupeira. Isso não queria dizer que ele se tornaria um desses animais, mas que seria tão esperto e dedicado à família quanto o lobo, com uma visão de alcance longo como a da águia, e tão próximo à terra quanto a toupeira, para sondar seus segredos. Seres humanos não podem voltar a ser animais, e animais não se transformam em seres humanos da noite para o dia, mas só após muito, muito tempo.

No entanto, mudanças psicológicas e físicas ocorrem o tempo todo. Nossos átomos estão constantemente transmigrando: sempre que acariciamos nossos animais de estimação, cheiramos uma rosa, ouvimos música ou pensamos num amigo, trocamos partículas de vida e força. Nossas almas também 'migram' continuamente de um estado de consciência para outro, do sono com sonhos para a percepção de vigília, do pensamento superficial para concentração profunda. E isso continua após a morte. Essas trocas podem ser benéficas ou danosas, dependendo da qualidade da energia. Sabendo disso, o sábio considera um dever pensar e viver tão gentilmente quanto possível.

Outra pergunta frequente é o que acontece àquilo que amamos e pelo qual trabalhamos. O que se perde quando morremos? A resposta é: nada. O conhecimento que obtemos e as habilidades que desenvolvemos permanecem no interlúdio pós-morte e desabrocham em vidas futuras com poder aumentado. Platão fez referência a isso ao dizer que todo conhecimento e sabedoria são memórias de existências prévias. À medida que essa sabedoria se desenvolve no presente, novas possibilidades são moldadas para expressar as características e necessidades de nossas condições internas e externas.

Shakespeare dizia a mesma coisa ao afirmar que um ator representa muitos papéis durante sua vida, identificando-se com eles. Assim como o ator sabe que está desempenhando papéis, nosso eu permanente também sabe, embora possa ser incapaz de transmitir esse conhecimento à 'máscara' ou personalidade temporária. (...)'

(Eloise Hart - Os mistérios da reencarnação - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 30)

domingo, 2 de julho de 2017

DESENVOLVIMENTO ESPIRITUAL

"O estudo do karma e da reencarnação ajuda a compreender que nossos problemas e os do mundo foram criados por nós mesmos, e só podem ser resolvidos por nós. Imersos em nossos problemas, estamos imersos também em suas soluções. Quando o indivíduo se esforça para se responsabilizar por sua vida, percebe cada vez mais as consequências de suas ações e sente-se impelido a transformar o que é egoísta em algo útil para o bem geral.

A mudança é intrínseca à vida: nada está parado. Nós mudamos de aparência, personalidade, perspectiva, tamanho, forma. Após a morte as mudanças continuam: quando retornamos, nossa alma estará transformada pela integração das experiências de vida e aspirações espirituais.

Muitos de nossos problemas atuais são consequências kármicas de encontros que deixamos pendentes na vida anterior. Mas, graças à bênção do esquecimento, estamos livres de envolvimentos emocionais e melhor equipados para resolver esses distúrbios.

Alguns têm medo de voltar como outra pessoa. Isso não é possível. Somos nós mesmos, eternamente. Quando uma alma reencarna e retorna à Terra, é atraída por familiares com traços semelhantes. O embrião retira do reservatório de genes de seus pais qualidades inerentemente suas, que pareçam ou não similares às de um membro da família. Por causa disso, em nossa próxima vida seremos muito semelhantes ao que somos hoje, porém enriquecidos pelas lições que agora estamos aprendendo.

Revigorados por nossas experiências pós-morte, retornaremos prontos e capazes de tocar adiante aquilo que deixamos inacabado e enfrentar os desafios que nos ajudarão a desabrochar nosso potencial espiritual. No epitáfio de Benjamin Franklin isso foi expresso de maneira clara: 'O Corpo de B. Franklin/como a capa de um velho livro/seu conteúdo arrancado/e despojado de suas inscrições e decoração/aqui jaz/alimento para os vermes/mas a obra não se perderá/pois, como acreditava/aparecerá mais uma vez/revisada e corrigida/pelo autor.'"

(Eloise Hart - Os mistérios da reencarnação - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 29)


sábado, 3 de junho de 2017

O MALTRATO DOS ASPIRANTES (1ª PARTE)

"Um dos piores erros em que o ocultista pode incorrer é frustrar o cumprimento da aspiração de alguém recentemente desperto para a vida espiritual.

Um exemplo extremo seria zombar de suas tentativas de vivenciar a mais alta moralidade, ridicularizar seus ideais e a ele por segui-los, distrair deliberadamente a sua atenção e seduzi-lo propositadamente para afastá-lo de sua meta, e de qualquer maneira impedir ou dificultar o seu engajamento na vida oculta. Isto não só é extremamente danoso para a vítima, mas é a causa do carma mais adverso para a pessoa que comete este erro.

Uma das fases mais críticas e maravilhosas da vida da Mônada é o período prolongado durante o qual a personalidade gradativamente se volta para a vida espiritual. Este é o período em que a influência da Mônada através do Ego pode direcionar sucessivas personalidades para a Senda, ou ser impedida de fazê-lo por pessoas ignorantes, invejosas ou voltadas somente para a materialidade.

Alguns que já fizeram um certo grau de progresso, consciente ou inconscientemente, temem com inveja que os neófitos possam ultrapassá-los, e assim colocam obstáculos em seu caminho. O ocultista sábio faz exatamente o oposto. Ele percebe a grande importância para a Mônada-Ego e para a humanidade de cada novo aspirante desperto. Assim sendo, ele ajuda de todas as maneiras ao seu alcance, orientando, alertando, mostrando amizade e protegendo, especialmente durante as dificuldades iniciais quando a mudança está sendo efetuada. Na verdade, esta é uma parte muito importante da vida do ocultista, ajudar os outros a encontrar e a trilhar a Senda. Ainda que não tenham esta motivação, estes ajudantes geram um carma muito auspicioso durante sua própria ascensão na suprema realização espiritual através da ioga. (...)"

(Geoffrey Hodson - A Suprema Realização através da Yoga - Ed. Teosófica, Brasília, 2001 - p. 157/158


domingo, 23 de abril de 2017

COMO SEGUIR O CAMINHO (2ª PARTE)

"(...) Quando você continua procurando o tempo todo, a busca em si se torna uma obsessão que o domina. Você se torna uma espécie de turista espiritual, circulando muito sem nunca chegar a parte alguma. Como disse Patrul Rinpoche: 'Você deixa o elefante em casa e fica procurando as pegadas dele na floresta'. Seguir um ensinamento não é um modo de confinar você ou de, por ciúme, monopolizá-lo. É uma maneira compassiva e hábil de mantê-lo centrado e sempre no caminho, apesar de todos os obstáculos que você e o mundo inevitavelmente enfrentarão.

Assim, quando tiver explorado as tradições místicas, escolha um mestre e siga-o. Uma coisa é sair para a jornada da espiritualidade; outra completamente diversa é encontrar a paciência e a persistência, a sabedoria, a coragem e a humildade para ir até o fim. Você pode ter o carma para encontrar um professor, mas deve então criar o carma para segui-lo; pois poucos entre nós sabem verdadeiramente seguir um mestre, o que em si é uma arte. Assim, não importa quão grande seja o ensinamento ou o mestre, o essencial é que você encontre em si mesmo a percepção interior e a habilidade para aprender como amar e seguir o mestre e o ensinamento.

Isso não é fácil. As coisas nunca são perfeitas. Como poderiam ser? Estamos ainda no samsara. Mesmo quando você já escolheu seu mestre e está seguindo os ensinamentos tão sinceramente quanto possível, frequentemente irá se deparar com dificuldades e frustrações, contradições e imperfeições. Não se deixe abater por obstáculos e dificuldades mesquinhas. Em geral são apenas emoções infantis do ego. Não deixe que o ceguem para o valor fundamental e duradouro daquilo que você escolheu. Não permita que sua impaciência o afaste do seu compromisso com a verdade. Tenho me entristecido muitas vezes ao ver quantas pessoas adotam um ensinamento ou um mestre com entusiasmo promissor, apenas para desanimar quando surge o mínimo obstáculo, inevitável, caindo de volta no samsara e nos velhos hábitos, e desperdiçando anos, talvez a vida inteira. (...)"

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 177

sábado, 22 de abril de 2017

COMO SEGUIR O CAMINHO (1ª PARTE)

"Todos nós temos carma para encontrar algum caminho espiritual, e eu gostaria de encorajar você, do fundo do meu coração, a seguir com total sinceridade o caminho que mais o inspirar.

Leia os grandes livros sobre espiritualidade de todas as tradições, chegue a algum entendimento sobre o que os mestres querem dizer com liberação e iluminação e descubra qual é a abordagem da realidade absoluta que mais o atrai, que é mais adequada a você. Desenvolva sua busca com todo o discernimento de que for capaz; o caminho espiritual exige mais inteligência, mais sóbrio entendimento, mais poder sutil de discriminação do que qualquer outra disciplina, porque a mais alta verdade está em jogo. Use seu bom senso a todo instante. Venha para o caminho o mais espirituosamente consciente possível da bagagem que traz com você: suas carências, fantasias, fracassos e projeções. Combine, com elevada consciência do que sua verdadeira natureza pode ser, humildade realista e sensata com a clara avaliação de onde você está na sua jornada espiritual e o que ainda resta a ser entendido e realizado.

O mais importante é não se deixar cair na armadilha que tenho visto em toda parte no Ocidente, uma 'mentalidade de consumo', comprando por aí de mestre em mestre, de ensinamento em ensinamento, sem qualquer continuidade ou dedicação real e consistente a qualquer disciplina. Quase todos os grandes mestres espirituais de todas as tradições concordam que o essencial é dominar um caminho, uma trilha para a verdade, seguindo uma tradição com todo o coração e a mente até o final da jornada espiritual, mantendo-se ao mesmo tempo aberto e reverente em relação aos insights de todas as demais. No Tibete costumamos dizer: 'Conhecendo um, você realiza todos'. A ideia novidadeira dos nossos dias, de que podemos sempre conservar todas nossas opções em aberto e assim nunca precisar comprometer-nos com nada, é uma das maiores e mais perigosas ilusões da nossa cultura, e um dos modos mais efetivos do ego sabotar a nossa busca esprititual. (...)"

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 176

domingo, 26 de março de 2017

CRIATIVIDADE (PARTE FINAL)

"(...) Tudo o que acontece conosco agora reflete nossa carma passado. Se sabemos disso e o sabemos realmente, sempre que sofrimento e dificuldades nos atingem não os vemos mais como falhas ou catástrofes, nem os vemos de modo algum como punição. Não nos culpamos mais, nem nos permitimos odiar a nós mesmos. Vemos que a dor que atravessamos é a culminância dos efeitos, a fruição de um carma passado. Os tibetanos costumam dizer que o sofrimento é 'uma vassoura que varre todo o nosso carma negativo'. Podemos até ser-lhes gratos porque um carma está chegando ao fim. Sabemos que a 'boa sorte', um fruto do bom carma, pode logo passar se não a usarmos bem, e a 'má sorte', o resultado do carma negativo, pode na verdade estar dando a nós uma maravilhosa oportunidade de evoluir.

Para os tibetanos, o carma tem um significidado realmente vivo e prático no seu cotidiano. Eles vivem de acordo com o princípio do carma, no conhecimento da verdade que contém, e essa é a base da ética budista. Eles o entendem como um processo justo e natural. O carma inspira neles, portanto, um sentido de responsabilidade pessoal em tudo o que fazem. Quando eu era jovem, minha família tinha um excelente empregado chamado A-pé Dorje, que gostava muito de mim. Ele era realmente um santo, e nunca fez mal a ninguém em toda sua vida. Sempre que, em minha infância, eu dizia ou fazia algo prejudicial, ele replicava gentilmente: 'Oh, isso não está certo'; desse modo, instilava em mim um profundo senso da onipresença do carma e um hábito quase automático de transformar minhas reações, caso algum pensamento nocivo me invadisse o coração.

É realmente tão difícil perceber o carma em ação? Não basta apenas olhar para trás em nossas vidas para ver com clareza as consequências de alguns de nossos atos? Quando aborrecemos ou ferimos alguém, isso não veio de volta contra nós? Não fomos deixados com uma amarga e negra recordação, e com as sombras da autodesaprovação? Essas recordações e sombras são o carma. Nossas hábitos e medos também provêm do carma, o resultado de ações, palavras e pensamentos que tivemos no passado. Se examinarmos nossas ações e tomarmos realmente consciência delas, veremos que há um padrão que se repete: sempre que agimos negativamente, isso resulta em dor e sofrimento; sempre que agimos positivamente, isso no final resulta em felicidade."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 133/134)


sábado, 25 de março de 2017

CRIATIVIDADE (1ª PARTE)

"O carma, assim, não é fatalista nem predeterminado. Carma significa a nossa habilidade de criar e mudar. É criativo porque podemos determinar como e por que agimos. Nós podemos mudar. O futuro está em nossas mãos, e nas mãos do nosso coração. (...)

Como tudo é impermanente, fluido e interdependente, o modo como agimos e pensamos inevitavelmente muda o futuro. Não há situação, por mais que pareça desesperançada ou terrível, como uma doença terminal, que não possa ser usada para crescermos através dela. E não há crime ou crueldade que o arrependimento sincero e a verdadeira prática espiritual não possam purificar.

Milarepa é considerado, no Tibete, o maior dos iogues, poetas e santos. Lembro-me, ainda criança, da emoção que sentia ao ler a história de sua vida e estudar minuciosamente as pequenas ilustrações pintadas em minha cópia manuscrita de sua biografia. Ainda jovem, Milarepa treinou-se para ser feiticeiro, e por vingança matou e arruinou incontáveis vidas com sua magia negra. Ainda assim, pelo remorso e com os sacrifícios que fez sob a orientação de seu grande mestre Marpa, conseguiu purificar-se de todas essas ações negativas. Finalmente iluminou-se, tornando-se aquele que inspirou milhões de pessoas através dos séculos. 

Dizemos no Tibete: 'A ação negativa tem uma qualidade boa: ela pode ser purificada'. Assim, sempre há esperança. Mesmo os assassinos e os malfeitores mais cruéis podem mudar e superar o condicionamento que os conduziu aos seus crimes. Nossa condição presente, se a usarmos com habilidade e sabedoria, pode servir de inspiração para nos libertar do cativeiro do sofrimento. (...)"

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 132/133)
www.palasathena.org


sexta-feira, 24 de março de 2017

O BOM CORAÇÃO (PARTE FINAL)

"(...) Como a lei do carma é inevitável e infalível, sempre que fazemos mal aos outros estamos diretamente fazendo mal a nós mesmos, e sempre que os fazemos felizes estamos trazendo futura felicidade para nós mesmos. Assim diz o Dalai Lama:
Se você tentar dominar seus impulsos egoístas - raiva e assim por diante - e desenvolver mais bondade e compaixão pelos outros, no fim você mesmo estará se beneficiando mais do que estaria de outra forma. Por isso às vezes digo que o egoísta sábio deveria praticar desse modo. Os egoístas tolos estão sempre pensando em si mesmos, e o resultado disso é negativo. Os egoístas sábios pensam nos demais, ajudam-nos o quanto podem, e o resultado é que também eles recebem benefícios.
A crença na reencarnação mostra-nos que há no universo uma espécie de justiça ou bondade suprema. É essa bondade que todos estamos querendo descobrir e libertar. Sempre que agimos positivamente, movemo-nos na direção dela; sempre que agimos negativamente, nós a obscurecemos e inibimos. E sempre que não podemos expressá-la em nossas vidas e ações sentimo-nos infelizes e frustrados. 

Assim, se tiver de tirar uma mensagem essencial do fato da reencarnação, seria esta: desenvolva esse bom coração que deseja ardentemente que os outros seres encontrem felicidade duradoura, e que age para assegurá-la. Nutra e pratique a bondade. Disse o Dalai Lama: 'Não há necessidade de templos; nenhuma necessidade de filosofias complicadas. Nosso próprio cérebro, nosso próprio coração é nosso templo; minha filosofia é a bondade'."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 131/132)