OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


quinta-feira, 4 de novembro de 2021

A MORTE NO MUNDO MODERNO (PARTE FINAL)

"Mesmo quando alguém que conhecemos ou amamos está morrendo, muito frequentemente percebemos que não temos quase nenhuma ideia sobre como ajudar; e quando morre, não nos animamos a pensar no futuro do morto, como seguirá, ou como poderemos continuar a ajudá-lo. De fato, toda tentativa de pensar sobre essas coisas corre o risco de ser rejeitada como disparatada e ridícula.

O que tudo isso nos mostra, com uma clareza dolorosa, é que agora mais do que nunca estamos precisando de uma mudança fundamental em nossa atitude em relação à morte e aos que estão morrendo. (...)

As pessoas que estão morrendo precisam de amor e carinho, porém também precisam de alguma coisa ainda mais profunda. Precisam descobrir um significado real para a morte e para a vida. Sem isso, como podemos dar-lhes conforto definitivo? A ajuda aos que estão morrendo, então, deve incluir a possibilidade de ajuda espiritual, porque só com conhecimento espiritual podemos de fato encarar e compreender a morte. 

Sinto-me encorajado com a abertura que ocorreu no Ocidente, nos últimos anos, para o tema morte e do morrer, graças a pioneiros como Elisabeth Kübler-Ross e Raymond Moody. Olhando profundamente para o modo como cuidamos dos que estão morrendo, Elisabeth Kübler-Ross mostrou que, com amor incondicional, a morte pode se tornar uma experiência pacífica e até transformadora. Estudos científicos dos muitos diferentes aspectos da experiência da morte, que se seguiram ao corajoso trabalho de Raymond Moody, deram à humanidade forte e viva esperança de que a vida não acaba com a morte, e de que há, de fato, uma 'vida após a vida'.

Alguns, infelizmente, não entenderam o significado completo dessas revelações sobre a morte, e cheguei a ouvir falar de casos trágicos em que jovens cometeram suicídio porque acreditaram que a morte era bela, e uma saída para a depressão de suas vidas. Mas, quer tenhamos medo da morte e nos recusemos a encará-la, quer a romantizemos, ela é banalizada. O desespero e a euforia diante da morte são formas de evasão. Ela não é nem deprimente nem excitante, mas tão somente um fato da vida.

Como é triste que a maioria de nós apenas comece a apreciar a vida quando estamos a ponto de morrer! Penso sempre nas palavras do grande mestre budista, Padmasambhava: 'Os que creem ter muito tempo, preparam-se somente na hora da morte. Aí são devastados pelo remorso. Mas já não será tarde demais?' Não há comentário mais desalentador sobre o mundo moderno do que esse: a maioria das pessoas morrer despreparada para morrer, como viveu despreparada para viver." 

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 27/28


terça-feira, 2 de novembro de 2021

A MORTE NO MUNDO MODERNO (2ª PARTE)

"O medo da morte e a ignorância sobre a vida após a morte estão alimentando essa destruição do meio ambiente que está ameaçando tudo em nossas vidas. O mais perturbador nisso tudo não é o fato de que as pessoas não recebam instrução sobre o que é a morte, ou como morrer? Ou que não tenham esperança alguma no que vem após a morte, no que está por trás da vida? Pode alguma coisa ser mais irônica do que a existência de jovens altamente educados em todos os campos do conhecimento, exceto naquele que detém a chave do sentido global da vida, e talvez até da nossa sobrevivência?

Sempre me intrigou que alguns mestres budistas que eu conhecia fizessem uma simples pergunta às pessoas que se aproximavam deles buscando ensinamento: 'Você acredita numa vida depois desta?' Não se trata de saber se a pessoa acredita nisso como uma proposição filosófica, mas se sente isso no fundo do seu coração. O mestre sabe que, se alguém acredita numa vida futura, sua visão de mundo será diferente e terá um outro sentido de responsabilidade e moralidade pessoal. O que os mestres suspeitam é que aqueles que não têm uma crença firme numa vida após a morte, vão criar uma sociedade fixada em resultados a curto prazo, sem qualquer preocupação com as consequências dos seus atos. Seria essa a principal razão pela qual criamos um mundo brutal como este em que vivemos, um mundo em que a verdadeira compaixão está quase ausente?

Às vezes penso que os países mais poderosos e influentes do mundo desenvolvido são como o reino dos deuses descrito nos ensinamentos budistas. Diz-se que esses deuses vivem suas vidas em meio a um luxo fabuloso, mergulhados em todos os prazeres imagináveis, sem um único pensamento sobre a dimensão espiritual da vida. Todos parecem muitos felizes até que a morte se aproxima, e aí alguns sinais inesperados de desintegração aparecem. Então, as esposas e amantes desses deuses não mais se atrevem a se aproximar deles, atirando-lhes flores à distância, com preces ocasionais para que eles renasçam novamente como deuses. Nenhuma de suas lembranças de felicidade ou conforto pode agora protegê-los do sofrimento que eles enfrentam; isso só faz com que fiquem mais desesperados, de tal modo que esses deuses são deixados para morrerem sozinhos e miseravelmente.  

O destino dos deuses me faz pensar na maneira com os velhos, os doentes e os que estão morrendo são tratados hoje. Nossa sociedade é obcecada por juventude, sexo e poder, e nós nos esquivamos da velhice e da decadência. Não é terrível que desprezemos as pessoas idosas quando sua vida de trabalho se encerrou e elas já não mais pareçam úteis? Não é perturbador que nós as joguemos em asilos, onde morrem solitárias e abandonadas? 

Não é tempo também de olharmos de um modo diferente a maneira como tratamos os que sofrem de doenças terminais como o câncer e a AIDS? Conheci um bom número de pessoas que morreram de AIDS, e sei como elas foram muitas vezes tratadas como párias, até por seus amigos, e como o estigma da doença levou-as ao desespero e fez com que achassem a vida horrível, sentindo que aos olhos do mundo já estavam acabadas." ... continua. 

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 26/27


quinta-feira, 28 de outubro de 2021

A MORTE NO MUNDO MODERNO (1ª Parte)

"Quando vim pela primeira vez ao Ocidente, fiquei chocado com o contraste entre as atitudes em relação à morte com que eu havia sido criado e as que então encontrei. Apesar de todas as suas conquistas tecnológicas, a sociedade ocidental moderna não tem uma compreensão real da morte ou do que acontece durante ou depois dela.

Aprendi que as pessoas hoje são ensinadas a negar a morte e a crer que ela nada significa, a não ser aniquilação e perda. Isso quer dizer que a maior parte do mundo vive negando a morte ou aterrorizado por ela. Até falar da morte é considerado mórbido, e muitos acham que fazer uma simples menção a ela pode atraí-la sobre si. 

Outros olham a morte de modo ingênuo, com uma jovialidade irrefletida, achando que por alguma razão desconhecida vão se sair bem ao passar por ela, não havendo motivo para preocupação. Quando penso neles lembro-me do que diz um mestre tibetano: 'As pessoas frequentemente cometem o erro de ser frívolas em relação à morte e pensam: 'Ora a morte chega para todo mundo. Não é nada de mais, é apenas natural. Tudo irá bem para mim'. Essa é uma bela teoria, até que se esteja morrendo'.²

Dessas duas atitudes diante da morte, uma a vê como algo de que se deve fugir correndo, outra como um fato que simplesmente irá cuidar de si próprio. Como ambas estão distantes da compreensão do seu verdadeiro significado!

Todas as grandes tradições espirituais do mundo, inclusive, é claro, o cristianismo, dizem explicitamente que a morte não é o fim. Todas falam em algum tipo de vida futura, o que infunde em nossa vida atual um sentido sagrado. Mas, não obstante esses ensinamentos, a sociedade moderna é em larga escala um deserto espiritual em que a maioria imagina que esta vida é tudo o que existe. Sem qualquer fé autêntica numa vida futura, a maioria das pessoas vive toda a sua existência destituída de um sentido supremo.

Cheguei a conclusão de que os efeitos desastrosos da negação da morte vão muito além da esfera individual; eles afetam o planeta inteiro. Crendo basicamente que esta vida é a única, as pessoas do mundo moderno não desenvolveram uma visão a longo prazo. Assim, nada as refreia de saquear o planeta em que vivem para atingir suas metas imediatas, e agem com um egoísmo que pode tornar-se fatal no futuro. (...)"

². Chagdud Tulku Rinpoche. Life in Relation to Death (Cottage Grove, OR: Padma Publishing, 1987), 7. [Traduzido para o português sob o título Vida e Morte no Budismo Tibetano (Porto Alegre: Paramita, 1994).]

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 24/25


terça-feira, 26 de outubro de 2021

A INVESTIGAÇÃO POR PRAZER - VII

"Qual é o remédio para esta miséria e para este consumo de esforços? Existe algum? Com certeza a vida possui uma lógica em si mesma e uma lei que faz a existência possível. De outro modo o caos e a loucura constituiriam o único estado a que se poderia chegar.

Quando um homem pela primeira vez bebe sua taça de prazer, sua alma fica cheia de indescritível gozo, que causa uma sensação primeira e nova. A gota de veneno que verte na segunda taça, se persiste naquela loucura, é dobrada e triplicada, até que, por fim, a taça inteira é veneno, o qual é o ignorante desejo de repetição e intensificação. Isto evidentemente significa morte, segundo da analogia se deduz. O menino se converte em homem; não pode reter sua infância e repetir e aumentar os prazeres da mesma, a menos de pagar o preço inevitável e de se converter num idiota. A planta crava suas raízes na terra e lança no ar suas verdes folhas; floresce depois e frutifica. A planta que unicamente lança raízes e folhas, detendo-se com persistência no seu desenvolvimento, é considerada pelo jardineiro como uma coisa inútil, e deve ser arrancada. 

O homem que escolhe o caminho do esforço e recusa ceder ao sonho da indolência, permitindo que esta endureça sua alma, encontra nos seus prazeres um novo e mais delicado gozo, cada vez que os experimenta; uma certa coisa sutil e indefinível que se levanta cada vez mais daquele estado em que a mera sensualidade domina; esta ciência sutil, é aquele elixir da vida que faz o homem imortal. Aquele que o experimenta e não quer beber a menos de que a taça o contenha, encontra a vida mais ampla e o mundo cresce ante os seus olhos ardentes. Reconhece a alma na mulher à qual ama e a paixão se converte em paz; ele vê no interior do seu pensamento as mais delicadas qualidades da verdade espiritual, a qual está fora da ação do nosso mecanismo mental e então, em vez de entrar no redemoinho confuso dos intelectualismos, permanece sobre o dorso vasto da águia da intuição e se deixa ficar no ar sutil, onde os grandes poetas sua intuição encontram. Ele vê no seu próprio poder de sensação, de prazer no ar fresco e na luz do sol, na comida e no vinho, no movimento e no repouso, as possibilidades do homem etéreo, daquilo que não morre nem com o corpo nem com o cérebro. Nos prazeres que a arte proporciona, na música, na luz, na beleza; nestas formas, vê ele a glória das Portas de Ouro e passa através das mesmas para encontrar a vida nova, que atrás delas existe e que embriaga e fortalece, do mesmo modo que o ar puro da montanha fortalece e embriaga, graças ao seu vigor. Mas se foi vertendo, gota a gota e cada vez mais, e elixir da vida em sua taça, é já suficientemente forte para respirar este ar intenso, para viver nele. Então, seja que morra, seja que viva na forma física, do mesmo modo avança e com novos e delicados gozos se encontra, experiências mais satisfatórias e perfeitas se lhe apresentam a cada golfada deste ar puríssimo que aspira."

(Mabel Collins - Pelas Portas de Ouro - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 28/29

 

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

A INVESTIGAÇÃO POR PRAZER - VI

"A indolência é, de fato, a maldição do homem. Assim como o lavrador irlandês e o cigano cosmopolita vivem na pobreza e na miséria por causa de sua completa ociosidade, do mesmo modo o homem do mundo vive contente pela mesma razão, no meio dos prazeres sensuais. Beber vinhos delicados, comer manjares esquisitos, o amor de cores e de sons brilhantes, de formosas mulheres e de magníficos objetos em seu redor, tudo isto, para o homem cultivado, nem tem mais importância nem é mais satisfatório como motivo final de gozo, do que são as grosserias, diversões e prazeres do moço da lavoura, para o homem não cultivado.

Não pode existir o ponto final, porque a vida em cada uma de suas formas é só uma vasta série de delicadas graduações e o homem que decide permanecer imóvel no ponto de cultura que alcançou e confessa que não pode ir mais longe, faz simplesmente uma arbitrária afirmação para desculpar sua indolência. 

Existe, sem dúvida, a possibilidade de declarar que o cigano vive contente no meio da sua pobreza e a sujidade e que, portanto, é tão grande homem como o mais perfeitamente cultivado. Para ele unicamente é assim enquanto permanece na ignorância; no momento em que a luz penetra na obscura inteligência, o homem se volta a ela inteiramente. Assim acontece na mais elevada plataforma, porém a dificuldade de penetrar na mente, de admitir a luz, é muito maior. O lavrador irlandês ama sua aguardente e, enquanto possa tê-la, para nada se preocupar das grandes leis de moralidade e de religião, que se supõe governam e humanidade e induzem os homens a viver com temperança. O gastrônomo culto se ocupa unicamente de sabores sutis e de esquisitos perfumes; porém, estão tão cego com o simples rústico a respeito do fato de que existe algo mais além de semelhantes gratificações. A maneira do lavrador, permanece enganado por um espelhismo que oprime sua alma e imagina que, uma vez obtido um prazer sensual no qual se deleita, pode obter a satisfação suprema, graças a uma interminável repetição, com o que, por fim é presa por demência. O bouquet de vinho que o deleita, penetra em sua alma e a envenena, não lhe deixa outros pensamentos além dos sensuais e se encontra na mesma situação desesperada do homem que morre louco devido a embriaguez. Que benefício obteve o bebedor, da sua demência? Nenhum; a dor devorou, por fim, completamente o prazer e a morte avança para terminar a agonia. O homem sofre o castigo final por sua persistente ignorância de uma lei da natureza, tão inexorável como aquela da gravitação; uma lei que proíbe ao homem permanecer imóvel. Nem sequer duas vezes a mesma taça de prazer se pode saborear; a segunda vez deve conter ou um grão de veneno ou uma gota do elixir da vida. 

O mesmo argumento conserva sua força quanto aos prazeres intelectuais; a mesma lei opera. Vemos homens que, quanto à inteligência, são a flor da sua época, que vão muito mais longe que seus irmãos, que a maneira de torres sobressaem entre eles, são arrastados enfim pela roda fatal, girar sobre a mesma, à maneira de manivelas, cedendo à indolência inata da alma e começando a se engar a si mesmos com a quimera da repetição. Então vem a debilidade e a falta de vida, aquele estado infeliz e enganoso no qual, com demasiada frequência, grandes homens entram, justamente quando a metade da sua vida transcorreu. O fogo da juventude, o vigor da inteligência jovem, vence a inércia interna e faz que o homem escale alturas de pensamentos e encha seus pulmões mentais com o ar livre das montanhas. Mas então, afinal, a reação física dele se apodera; o mecanismo físico do cérebro perde seus ímpetos poderosos e começam seus esforços a se debilitarem, simplesmente porque a juventude do corpo tem um fim. Então é o homem assaltado pelo grande tentador da raça, que sempre em vigia permanece junto à escada da vida, pronto a lançar-se sobre aqueles que a tais alturas chegam. Verte a envenenada gota em seu ouvido e desde aquele momento a consciência toda se converte em estupidez e fica o homem aterrorizado, receando que para ele a vida vai perdendo suas possibilidades. Lança-se então atrás, a um campo de experiência familiar e ali encontra alívio tocando a bem conhecida corda da paixão ou emoção. E muitos, por desgraça, tendo feito isto, dilatam assustados ao lançar-se ao desconhecido e se contentam com fazer soar continuamente aquela corda que com mais facilidade responde. Graças a isto, conservam a certeza de que a vida ainda arde no seu interior. Mas, por fim, seu destino é o mesmo do gastrônomo e do bebedor. O poder do feitiço vai sendo menor de dia para dia, à medida que o mecanismo sensitivo vai perdendo sua vitalidade, e pretende o homem ressuscitar o fervor e excitação antigos, fazendo com mais violência soar a nota, abraçando-se mais estreitamente àquilo que lhe faz sentir, esgotando até o fel a taça envenenada. Então está perdido: a loucura se apodera da sua alma, do mesmo modo que faz presa do corpo do borracho. A vida não tem já, para ele, significação alguma e ferozmente se lança nos abismo da demência intelectual. O menos importante dos homens que cometa esta grande loucura, arrasta os espíritos dos demais por uma triste adesão a um familiar pensamento, por um abraço persistente à roda do moinho que afirma ele ser o objetivo final. A nuvem que o rodeia é tão fatal como a própria morte e os homens que uma vez se prostraram a seus pés, se afastam dele pesarosos e têm que olhar atrás, ter presentes suas primitivas palavras se querem recordar sua grandeza." 

(Mabel Collins - Pelas Portas de Ouro - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 25/27)