OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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terça-feira, 29 de março de 2022

FONTE DE SABEDORIA

"Uma das formas duradouras do interesse próprio é a presunção, que pode se manifestar de maneiras grosseiras ou muito sutis. O trecho seguinte é uma advertência de
A Voz do Silêncio referente a este outro inimigo daqueles que buscam trilhar a senda do autoconhecimento: 'Evita o aplauso ó devoto. O aplauso conduz à autoilusão. Teu corpo não é o Ser, teu Ser é, em si mesmo, sem corpo, e o elogio ou a censura não o afeta. O Autoconvencimento, ó discípulo, é como uma torre altíssima à qual subiu um arrogante tolo. Ali ele se senta em orgulhosa solidão, despercebido de todos salvo de si mesmo.'

Quando se é imaturo, qualquer comentário trivial feito por alguém a respeito de nossa aparência física, por exemplo, pode gerar fortes reações emocionais. O mesmo se aplica às tarefas que fazemos. Se há crítica ou falta de apreciação, podemos nos sentir magoados. Mas é importante compreender que nutrir a presunção contribui para nosso senso de separação de outros, e em muitos casos pode levar a um senso mais profundo de isolamento, frequentemente nutrindo sentimentos de má-vontade e de ira para com os outros e o restante do mundo. Talvez muitos atos terroristas tenham surgido de uma mentalidade assim. 

Mas apesar de todos esses perigos não precisamos nos desesperar, pois certamente o caminho está dentro de nós, como mostram os trechos seguintes de A Voz do Silêncio: 'O caminho para a liberdade final está dentro do Ser. O caminho começa e termina fora do Ser.'

O autoconhecimento foi definido por um dos instrutores da tradição Advaita Vedanta como 'a mais longa viagem ao lugar mais próximo'. Em outra tradição é chamado de a busca pelo Santo Graal, cuja descoberta, após muitas provações, tribulações e fracassos, leva tanto à completa transformação interior da mente humana quanto à restauração da 'terra devoluta', que é o mundo. 

O puro ser, o Atman interior, é a fonte de toda cura, de toda sabedoria, de toda felicidade, e contudo tendemos a buscar essas coisas fora, através da atuação do eu pessoal. É inevitável que no processo experimentemos muitas perdas, tanto físicas quanto psicológicas. Certa vez pediram a Sri Ramana Maharshi sua opinião sobre a doutrina teológica das almas perdidas. Sua resposta foi: 'Haverá algo a perder? O Ser jamais pode ser perdido.' Mas a jornada em direção a ele, que é basicamente um modo de vida, envolve abandonar tudo o que não é o Ser, naturalmente, sem qualquer senso de automortificação ou autocastigo, que podem muito bem ser, novamente, sutis formas de presunção. 

Eventualmente, segundo a tradição-sabedoria, após uma longa e necessária purificação, subitamente surge a realização do solo divino no qual 'vivemos, nos movemos e temos nossos ser', que é liberdade total do egoísmo e de sua teia de ilusões. As belas palavras do Viveka Chudamani reafirmam a essencial não separatividade de toda a existência como nossa verdadeira e eterna identidade, o Ser que nada quer: 'Como onda, espuma, redemoinho e bolha - tudo é essencialmente apenas água; assim tudo, começando com o corpo e terminando com o egoísmo, é apenas consciência, que é pura e absoluta felicidade.'"

(Pedro Oliveira - O ser nada quer - Revista Sophia, Ano 15, nº 65 - p. 19)
Imagem: Pinterest. 


quinta-feira, 24 de março de 2022

A TENTAÇÃO DA AMBIÇÃO

"Vale a pena examinar o que alguns livros de genuína instrução espiritual têm a dizer sobre o tema crucial do autoconhecimento. O primeiro é Luz no Caminho: 'A ambição é o primeiro defeito: a grande tentadora do homem que se eleva acima de seus semelhantes. É a forma mais simples de procurar a recompensa. É ela que continuamente desvia o homem de suas possibilidades superiores. Entretanto, é um instrutor necessário. Os seus resultados convertem-se em pó e cinzas na boca. Como a morte e o retraimento, demonstra finalmente ao homem que trabalhar para si é trabalhar para uma decepção inevitável.' 

A verdade dessa afirmação é autoevidente. O cenário mundial provê exemplos diários de como indivíduos e grupos guiados pela ambição causam destruição, instabilidade e medo. Uma mente dominada pela ambição está sempre procurando recompensa, reconhecimento. Mas por causa da maravilhosa sabedoria e inteligência no coração da existência, a ambição é também uma grande instrutora, mostrando que, mais cedo ou mais tarde, o interesse próprio é contraproducente. Num universo governado por interdependência e interrelacionamentos, toda forma de autointeresse está propensa a ceder, no decorrer do tempo, a um senso mais amplo de compaixão e compreensão universais, muito embora a angústia do crescimento possa ser às vezes dura de suportar. 

Um dos grandes textos da tradição mística cristã é Theologia Germânica, que contém um conselho valioso sobre esse assunto: 'Enquanto o homem estiver buscando seu próprio bem, ele não busca o que é melhor para si, e jamais irá encontrá-lo.'

Tudo que o eu pessoa busca - poder, posição, influência, dinheiro ou gratificação de algum tipo -, embora possa parecer bom no nível sensorial, não é necessariamente o que nossa natureza mais profunda aspira. É por isso que certas tradições afirmam que, antes de a pessoa poder alcançar aquilo que é verdadeiramente bom, num sentido universal, deve sofrer uma transformação, uma mudança fundamental. Pelo fato de os 'olhos' do eu pessoal conseguirem ver apenas seus próprios interesses, eles jamais conseguem ver aquilo que é muito mais vasto, a doçura na 'alma das coisas'. Isso requer uma percepção diferente, que H. P. Blavatsky chamou de uma 'percepção espiritual desvelada'. Este talvez seja um modo de ver a vida como ela é, em suas manifestações multiesplendorosas, sem a mediação de uma mente opiniática,  presunçosa e arrogante.

E é em A Voz do Silêncio, o último presente de H. P. Blavatsky ao mundo, que encontramos ulterior conselho abalizado sobre o tema do autoconhecimento: 'Pois a mente é como um espelho; acumula poeira enquanto reflete. Ela precisa da brisa genuína da sabedoria da alma para varrer a poeira de nossas ilusões. Busca, Ó iniciante, fundir tua mente e tua Alma.'

Por causa do forte elemento do autointeresse espreitando no interior da mente, cada uma de suas percepções logo envelhece, isto é, torna-se insípida, mecânica, condicionada, gerando relacionamentos 'eu-ele', como o chamou Martin Bubber, Então a aterradora realidade da natureza, com suas riquezas eternas, beleza e significado inesgotáveis, torna-se, para a mente egoísta, um mero objeto de exploração. Portanto, é essencial criar um espaço em nossas vidas para uma renovação interior que naturalmente ocorre quando nos abrimos àquela sabedoria inata que resida nas profundezas da alma. A reflexão profunda, o estudo, a meditação e a observação gradualmente nos ajudam a integrar mente e coração, um pré-requisito importante para a genuína percepção espiritual."

(Pedro Oliveira - O ser nada quer - Revista Sophia, Ano 15, nº 65 - p. 16/18)
Imagem: Pinterest.


terça-feira, 22 de março de 2022

O SER NADA QUER

"Muitas das análises divulgadas a respeito do estado em que se encontra o mundo frequentemente apontam para certos fatores predominantes, como a flutuação da economia dos países ricos, a instabilidade política em muitos países pobres, o crescimento do fundamentalismo religioso, os riscos ambientais de todo tipo e os conflitos armados que desalojaram centenas de milhares de pessoas de seus lares e de seus países. 

Isso certamente seria interpretado como invulgar, para dizer o mínimo, se quiséssemos sugerir aos mesmos analistas que a principal causa subjacente aos problemas enfrentados pelo mundo é a falta de autoconhecimento, tanto no indivíduo quanto no nível social, uma vez que o autoconhecimento não é uma categoria mensurável capaz de ser analisada. Mas as mensagens dos grandes instrutores espirituais do mundo em todas as idades parecem indicar que a falta de autoconhecimento é verdadeiramente a causa de muitas dores, tanto para os seres humanos individuais quanto para a humanidade como um todo.

É a falta de autoconhecimento que cria na mente falsas necessidades e expectativas de todos os tipos - o desejo de reconhecimento, de afeto, de subjugar e dominar os outros, de exercer controle sobre uma situação ou pessoa, para mencionar apenas algumas. Em outras palavras, a falta de autoconhecimento gera uma das principais causas de problemas no mundo: o egoísmo, que em alguns livros de instrução espiritual é comparado a uma gigantesca erva daninha que impede o desabrochar e o florescimento de nossa natureza mais profunda e verdadeira - a alma espiritual que reside profundamente dentro de nossa consciência, cuja essência é genuína felicidade e sabedoria. 

O egoísmo está sempre impelindo a mente a buscar, a querer e alcançar algo sem necessariamente fazer com que a mente se certifique se os objetos buscados correspondem a necessidades reais ou imaginárias. Por exemplo, administrar os próprios recursos financeiros de maneira sábia é um das mais importantes necessidades na vida. Mas estar sempre procurando a melhor maneira de aumentar a própria riqueza é certamente uma necessidade imaginária. Há coisas mais importantes do que acumular riqueza, mas muitas pessoas passam a maior parte de suas vidas fazendo isso, porque é o que dita o autointeresse. 

Buda, um dos grandes instrutores espirituais do mundo, conseguiu ver isso com a máxima clareza e consequentemente compreendeu o fato de que a causa do sofrimento é tanhâ, sede, desejo, avidez, anelo. A palavra sede é importante porque denota uma busca contínua de experiências e sensações, nenhuma das quais é verdadeiramente satisfatória e completa, pois após cada contato e experiência a sede reaparece, às vezes até mesmo mais forte do que antes. O falecido Walpola Rahula, eminente estudioso budista do Sri Lanka, em seu livro What the Buddha Taught, fez uma afirmação bastante aguçada sobre isso: 'Essa sede tem como centro a falsa ideia do eu elevando-se para fora da ignorância.' A mente, sob a oscilação do interesse próprio, cria para si um falso senso de identidade - um falso eu - que perpetua tanto o sofrimento quanto a ignorância." 

(Pedro Oliveira - O ser nada quer - Revista Sophia, Ano 15, nº 65 - p. 15/16)
Imagem: Pinterest.


quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

A FUNÇÃO DO RELACIONAMENTO

"O relacionamento é inevitavelmente doloroso, o que é mostrado na nossa existência cotidiana. Se no relacionamento não houver tensão, ele deixa de ser um relacionamento e se torna apenas um confortável estado de latência, um entorpecente - o que a maioria das pessoas quer e prefere. O conflito se dá entre esse desejo de conforto e o factual, entre a ilusão e a realidade. Se você reconhece a ilusão, então pode, colocando-a de lado, dar sua atenção ao entendimento do relacionamento. Mas se busca segurança no relacionamento, ele se torna um investimento no conforto, na ilusão - e a grandeza do relacionamento é sua própria insegurança. Se sua busca for por segurança no relacionamento, você está impedindo sua função, que é provocar suas próprias ações e infortúnios peculiares. 

Certamente, a função do relacionamento é revelar o estado de bem-estar da pessoa. O relacionamento é um processo de autorrevelação, de autoconhecimento. Essa autorrevelação é dolorosa e exige constante ajustamento, flexibilidade do pensamento e da emoção. É uma luta dolorosa, com períodos de paz iluminada. 

Mas a maioria de nós evita ou põe de lado a tensão no relacionamento, preferindo a calma e o conforto da dependência satisfatória, uma segurança não desafiada, um porto seguro. Então, a família e outros relacionamentos tornam-se um refúgio, o refúgio do imprudente.

Quando a insegurança desliza para a dependência, como inevitavelmente acontece, então esse relacionamento particular é posto de lado e um novo é assumido na esperança de encontrar uma segurança duradoura, Mas não há segurança no relacionamento, e a dependência só gera medo. Sem entender o processo da segurança e do medo, o relacionamento se transforma em um estorvo compulsório, e uma forma de ignorância. Então, toda a existência passa a ser luta e sofrimento, e não há saída para isso exceto no pensamento correto, que surge por meio do autoconhecimento."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 93/94)


quinta-feira, 13 de maio de 2021

JAMAIS ESQUEÇA SUA VERDADEIRA NATUREZA!

"Lembre-se de que, como filho de Deus, você é dotado de força muito maior do que jamais precisará, para vencer todas as provas que Deus possa mandar. 

Muitas vezes, ficamos sofrendo sem fazer um esforço para mudar. É por isso que não encontramos paz e contentamento duradouros. Se perseverássemos, certamente seríamos capazes de superar todas as dificuldades. Devemos nos esforçar, para passar da infelicidade à felicidade, do desespero à coragem.

Primeiro, é necessário sentir a importância de mudar nossa condição. Essa atitude estimula nossa vontade de agir. Tomemos a decisão de sempre fazer o esforço para melhorar o Autoconhecimento e, desse modo, melhorar continuamente nossa existência.

Os cientistas espirituais da Índia exploraram o reino da alma. Para benefício da humanidade nos deram certas leis universais de meditação por meio das quais os buscadores sinceros - podem, cientificamente, controlar a mente e alcançar a Autorrealização.

Ao desenvolver a natureza divina, você ficará completamente desapegado do corpo, não mais se sentirá identificado com o mesmo. Cuidará dele como se cuidasse de uma criancinha. À medida que perceber seu verdadeiro Ser, pela meditação, você se libertará de dores físicas e mentais. Jogará fora as limitações de uma vida inteira. Essa é a melhor maneira de viver seus dias na terra."

(Paramahansa Yogananda - A Eterna Busca do Homem - Self-Realization Fellowship - p. 152)


terça-feira, 17 de setembro de 2019

A MENTE DESPRENDIDA

"A transformação do mundo é provocada pela transformação de si mesmo, porque o self é o produto e uma parte do processo total da existência humana. Para haver transformação, o autoconhecimento é essencial; sem saber o que você é não há base para um pensamento correto, e sem conhecer a si mesmo não pode haver transformação. O indivíduo precisa se conhecer como ele é, não como deseja ser, pois é meramente um ideal e, por isso, fictício, irreal; só esse o que pode ser transformado, não aquele que você deseja ser.

Conhecer-se como se é requer uma mente extraordinariamente alerta, porque o que está constantemente sofrendo transformações, mudanças: e para segui-lo depressa a mente não deve estar presa a nenhum dogma ou crença particular; a nenhum padrão de ação. Se você quiser seguir qualquer coisa, não é bom estar preso. Para conhecer a si mesmo é necessário ter consciência, uma extraordinária atividade da mente em que há a liberdade de todas as crenças, de toda idealização, porque as crenças e os ideais só lhe proporcionam uma cor, pervertendo a  verdadeira percepção. Se quiser saber o que você é, não pode imaginar ou acreditar em algo que você não é. Se eu sou ganancioso, invejoso, violento, o simples fato de ter um ideal de não violência, de não ganância, é de pouco valor... O entendimento do que você é - seja feio ou bonito, malvado ou maligno -, sem distorção, é o início da virtude. A virtude é essencial, pois ela proporciona liberdade."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil, São Paulo, 2016 - p. 37)


terça-feira, 23 de janeiro de 2018

O CAMINHO DO CONHECIMENTO (1ª PARTE)

"O caminho do conhecimento é o caminho da luz, e aquele que deve trilhar esta vereda deve aprender a deixar de lado todos os atributos que toldem esta luz, pois seu destino é encher-se tanto de luz até que ela possa irradiar através de si para iluminar o mundo inteiro. Desde o início, portanto, deve despir-se de tudo possa velar a luz dos olhos daqueles que, mais tarde, irá iluminar. 

O preconceito é o grande lançador de véus, o maior inimigo de todos os que procuram conhecimento, a maior barreira à iluminação. Deixe-se que o neófito, em sua busca de conhecimento, comece a estudar a si mesmo, pois somente conhecendo a si vai um dia conhecer o grande Eu; somente pelo autoconhecimento ele poderá descobrir os muitos véus em que sua longa peregrinação o envolveu; somente pelo autoconhecimento ele poderá descobrir a maneira de lançar fora tais véus. Para dentro, pois, e não para fora, deve o estudante lançar-se nesta pesquisa; tendo encontrado o Eu dentro de si, o Eu externo lhe será revelado. 

Há um caminho levando do não-eu ao Eu, do material ao espirirtual, da ignorância para a iluminação; este caminho é o caminho do conhecimento; uma das extremidades está na carne, a outra, no espírito. O homem de carne deve procurar entrar na carne, enquanto sua contraparte espiritual - o homem interno - deve buscar a entrada no espírito. Encontradas as duas entradas, deve procurar o centro ao qual as duas entradas conduzem. Este centro comum é a Mansão de Luz, o lugar de iluminação, o Santo dos Santos, onde espírito e matéria são unidos pela luz. Não é um edifício, ou algum sacrário terreno, é o Templo da Luz, de onde brilha a 'verdadeira luz que ilumina cada homem no mundo'; é o vaso através do qual a Luz Única, que brilha eterna do sol espiritual, alcança a escuridão dos mundos materiais em sua caminhada em direção à iluminação. Dentro do templo há um altar, e no altar arde uma chama que acendeu quando sua alma foi formada, e arde continuamente até que um dia o próprio homem se transforme na labareda; então, como Sansão na antiguidade, ele investe com todas as forças contra os pilares do templo, que cai em ruínas ante seus pés; pois ele, que se tornou um Deus, não precisa mais de um altar para cultuar aquilo em que se tornou; assim o templo cai em ruínas, e os milhares de mortos soterrados são os inúmeros véus que ele agora aprendeu a descartar, para que a luz brilhe em plenitude sobre o mundo. 

Antes desta grande consumação, muitas vidas de estudo e pesquisa ainda há pela frente, para o neófito que anda pela trilha do conhecimento. Em suas muitas vidas, antes que a grande decisão tenha nascido, ele tem estado cercando a si mesmo com véu após véu, cada um velando mais e mais a luz que vem da chama sobre o altar de seu Eu Superior. Doravante ele deve entender-se como um desvelador, pois tal é sua missão no caminho do conhecimento. Primeiro ele deve romper os véus que lançou sobre si mesmo, e depois retirar os véus alheios, pois cada professor verdadeiro é um desvelador. O maior de todos os véus é o preconceito, e daqui em diante, em seu caminho, ele deve ser como uma criancinha, professando a mais chã ignorância, pois, possuindo nenhum conhecimento, ele não pode ter nenhum preconceito; para que, esvaziando-se, possa ser preenchido; para que, tendo uma mente aberta e desanuviada, possa oferecê-la como cálice perfeitamente traslúcido, para ser enchido com a luz do conhecimento. (...)"

(Geoffrey Hodson - Sede Perfeitos - Canadian Theosophical Association



domingo, 26 de novembro de 2017

AMOR PELA HUMANIDADE (1ª PARTE)

"Uma das maiores lições da vida, para mim, foi que a paz não surge do exterior, nem das pessoas ou das coisas. Após esse momento, meu trabalho verdadeiramente começou. Foi somente pelo meu contínuo olhar para o interior que a paz permitiu-se acontecer. Para fazer qualquer coisa, precisamos nos engajar. Isso é autoconhecimento. O engajamento é uma das lutas que permite que as nuvens se dissipem. Finalmente começamos a experimentar nossa natureza superior, resplandecente como é, foi e sempre será.

No entanto, isso é apenas parte da história. Nem tudo diz respeito a nós. Krishnamurti disse que 'a iluminação tem pouco a ver conosco e tudo a ver com o universo'. O verdadeiro despertar significa que não estamos sós, mas que 'tudo é um'.

Quando agimos em harmonia com o universo, começamos a ver a necessidade de auxiliar os outros. Contudo, estamos todos sempre tão ocupados... Como se pode mudar isso? Nossa ideia de ajuda geralmente é ver o nosso eu físico auxiliando os outros. Quando compreendemos o poder que temos, verificamos que podemos afetar qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, por meio dos nossos sentimentos e pensamentos. Toda vez que pensamos, empregamos parte do universo - o reino mental.

Nas Cartas dos Mahatmas, podemos ler: 'Todo pensamento do homem, ao ser criado, passa para o mundo interno e torna-se uma entidade viva associando-se - amalgamando-se, poderíamos dizer - a um elemental; o que equivale a dizer, com uma das forças semi-inteligentes dos reinos. Ele sobrevive como uma inteligência ativa, uma criatura gerada pela mente para um período mais longo ou mais curto, proporcional à intensidade original da ação cerebral que o gerou. Assim um pensamento bom perpetua-se como um poder benéfico ativo, e um pensamento mau como um demônio maléfico. E assim o homem está continuamente povoando sua corrente no espaço com seu próprio mundo apinhado com a projeção de suas fantasias, desejos, impulsos e paixões, uma corrente que reage sobre qualquer organização sensitiva ou nervosa com a qual entre em contato, proporcionalmente à sua intensidade dinâmica. Os budistas chamam isso skandha, os hindus, karma; o Adepto cria essas formas conscientemente, outros homens lançam-na fora inconscientemente.' (...)"

(Barry Bowden - Sabedoria: o tesouro oculto - Revista Sophia, Ano 13, nº 58 - p. 42)
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sábado, 21 de outubro de 2017

SOBRE O MEDO (PARTE FINAL)

"(...) Ora, de que temos medo? Temos medo de um fato ou de uma ideia relativa ao fato? Temos medo da coisa, tal qual, ou temos medo daquilo que pensamos que ela é? Consideremos, por exemplo, a morte. Temos medo do fato da morte ou da ideia da morte? O fato é uma coisa e a ideia outra. Tenho medo da palavra 'morte', ou do fato em si? Porque tenho medo da palavra, da ideia, nunca chego a compreender o fato, nunca considero o fato, nunca estou em relação direta com o fato. Só quando estou em completa comunhão com o fato, não há temor. Se não estou em comunhão com o fato, há temor. E não estou em comunhão com o fato enquanto tenho uma ideia, uma opinião, uma teoria, relativamente ao fato. É necessário, portanto, que eu me esclareça bem se estou com medo da palavra, da ideia, ou do fato. Se me vejo frente a frente com o fato, nada há que compreender, nele; estou em presença do fato, e sei como proceder. Se tenho medo da palavra, devo então compreender a palavra, examinar todo o processo do qual decorre a significação da palavra, do termo. 

Por exemplo: uma pessoa teme a solidão, a dor, o sofrimento da solidão. Ora, esse medo existe porque a pessoa, em verdade, nunca encarou a solidão, nunca esteve em comunhão direta com ela. No momento em que alguém está completamente aberto para o fato da solidão, compreende o que ela é; mas se só se tem uma ideia, uma opinião a respeito do fato, baseado em conhecimento prévio, essa ideia, essa opinião, esse conhecimento prévio relativo ao fato, cria o temor. O temor, evidentemente, é produto do dar nome, do designar, do projetar um símbolo para representar o fato; isto é, o temor não é independente da palavra, do termo. 

Tenho uma reação, digamos, ligada à solidão, isto é, digo que tenho medo de ser nada. Temo o fato em si, ou esse temor é despertado por um conhecimento prévio do fato, sendo esse conhecimento a palavra, o símbolo, a imagem? Como pode haver temor em relação a um fato? Quando estou frente a frente a um fato, em comunhão direta com ele, posso olhá-lo, observá-lo, por conseguinte, não há medo deste fato. O que causa medo é minha apreensão relativamente ao fato, o que o fato possa ser ou fazer. 

Minha opinião, minha ideia, minha experiência, meu conhecimento relativo ao fato é que cria o temor. Enquanto houver verbalização do fato, que significa dar um nome ao fato e por conseguinte identificar-se com ele ou condená-lo; enquanto o pensamento estiver julgando o fato, na qualidade de observador, haverá temor. O pensamento é produto do passado, só pode existir por efeito da verbalização, dos símbolos, das imagens. Enquanto o pensamento estiver considerando ou traduzindo o fato, tem de haver temor. 

Assim, é a mente que cria o temor, sendo a mente o processo do pensar. Pensar é verbalização. Não se pode pensar sem palavras, sem símbolos, imagens. Estas imagens, que são nossos preconceitos, que é o conhecimento antecipado, as apreensões da mente, projetam-se sobre o fato, gerando o temor. Só há um estado livre de temor, quando a mente é capaz de observar o fato sem o traduzir, sem lhe dar nome, sem lhe pôr um rótulo. Isto é deveras difícil, porque os sentimentos, as reações, as ansiedades que temos, são logo identificados pela mente e ligados a uma palavra. O sentimento de ciúme é identificado por esta palavra. É possível não identificar um sentimento, olhar um sentimento sem lhe dar nome algum? E a atribuição de um nome ao sentimento, que lhe dá continuidade, que lhe dá força. No momento em que dais um nome à coisa que chamais temor, dais-lhe força. Mas se puderdes encarar o sentimento sem lhe aplicar um termo, vê-lo-eis dissipar-se. Por conseguinte, se desejamos ficar completamente livres do medo, é essencial compreendermos integralmente este processo de projetar símbolos, imagens e dar nomes aos fatos. Só pode haver libertação do temor, quando há autoconhecimento. O autoconhecimento é o começo da sabedoria, a qual é o fim do temor."

(J. Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 157/159
http://www.pensamento-cultrix.com.br/


domingo, 30 de julho de 2017

AMOR, CORAGEM E CONFIANÇA (1ª PARTE)

"Soube de um grupo de bombeiros que, ao combater um grande incêndio, experimentou um sentimento de grande unidade que eliminou todo o medo de perigo pessoal. Situações assim são frequentes. Numa crise súbita a pessoa pode esquecer de si mesma, deixar de defender sua posição autocentrada e mostrar uma extraordinária coragem. Mas nem sempre é assim. Quando ameaçadas de escassez, elas tendem a comprar provisões em quantidades ridiculamente grandes, porque a mente teve tempo para reagir e ocupar seu central.

Retirar-se do centro deve ser como uma surpresa, de algum modo iludindo o tempo. Isso não pode ser planejado de antemão. Mas há condições para essa retirada. Frequentemente menciona-se as virtudes. Podemos escolher algumas e nos examinar para ver se as desenvolvemos. Mas assim podemos fortalecer a posição autocentrada e nos afastar ainda mais da unidade, rumo a mais separatividade.

Ao examinar nossas virtudes, devemos atentar para todas elas, porque nenhuma pode florescer à custa das demais. Se isso ocorrer será um exagero que pode se tornar um vício. A virtude está na moderação.

Não pode haver regras rígidas e inalteráveis; cada um deve, como um bom mestre-cuca, juntar a quantidade certa de cada ingrediente. Isso significa que certas virtudes num determinado caso, devem ceder lugar a outras. Ao educar os filhos, tem-se que decidir quando o amor deve ceder à justiça e vice-versa. Todas as virtudes levadas à perfeição tornam-se uma só virtude. O amor perfeito expressa-se também como sabedoria perfeita.

A chave para manifestar as virtudes está na auto-observação e no autoconhecimento. Paradoxalmente, a preparação para deixar o centro pode ocorrer melhor de maneira inconsciente, ou pelo menos natural e espontânea. Todas as virtudes são expressões de uma atitude - e essa atitude nada tem a ver com estar no centro. Para ser virtuosa a pessoa precisa deixar o centro. (...)"

(Mary Anderson - Como superar o egocentrismo - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 40
www.revistasophia.com.br


sexta-feira, 31 de março de 2017

COMPREENDER, COMPARTILHAR E AMAR (2ª PARTE)

"(...) O que é compartilhar? Será doar coisas de que não mais precisamos, a sobra da nossa fartura? Kahlil Gibran diz, no livro O Profeta: 'Você doa apenas um pouco quando doa de suas posses. Quando doa de si mesmo é que você verdadeiramente doa. Pois o que são suas posses senão coisas que você mantém e guarda com medo de que possa precisar delas amanhã? E o que é o medo da necessidade senão a própria necessidade?'

Não podemos dar e partilhar nossa compreensão, e não podemos compreender os outros sem primeiramente compreendermos a nós mesmos. Podemos dar conhecimento aos outros, mas não sabedoria; o autoconhecimento é algo que devemos aprender de nós mesmos. 

As revistas dão conselhos sobre como se tornar um amante melhor. É uma questão de amor ou de alguma outra coisa? Eu te amo enquanto você puder satisfazer minhas necessidades e puder me dar o que eu quero. Quando eu cansar de você procurarei um novo amor. Popularmente se pensa que ciúme é sinal de amor. Se amássemos mais o nosso parceiro, não exigiríamos direitos exclusivos, não encontraríamos dificuldades em conceder liberdade de pensamento e de ação. Usamos a palavra amor também em outras conexões, quando não é questão de amor, mas de algo mais. Esperamos que a outra pessoa satisfaça nossos desejos, e quando ela não o faz, ficamos cansados e dizemos que não mais a amamos. Pensamos também que é amor quando somos dependente um do outro.

Somos todos iguais. Todo mundo busca o amor. Queremos ser felizes e evitar o sofrimento. Mas se olho para a outra pessoa como sendo eu, então é mais fácil compreendê-la e amá-la. Quando eu me vejo no outro, então posso começar a sentir amor e compaixão. (...)'

(Pertti Spets - Compreender, compartilhar e amar - Revista Sophia, Ano 8, nº 29 - p. 19)


sábado, 11 de fevereiro de 2017

A IMPORTÂNCIA DA INVESTIGAÇÃO (PARTE FINAL)

"(...) É possível que não nos tenhamos devotado a esse autoconhecimento. Temos de fazer dele uma paixão. Não é uma questão de analisar e pensar, porque o pensamento vem da memória, e todo condicionamento está armazenado na memória. Portanto, o pensamento não é um instrumento livre. Ele tem o valor de comunicação, de criar a pergunta, mas não pode responder à pergunta, a não ser como uma conclusão intelectual.

Haverá outro instrumento em nós que não seja corrompido pelo condicionamento? A resposta é sim. É a percepção, sem a qual jamais teríamos capacidade de escapar ao condicionamento. É por isso que Krishnamurti falava a respeito da 'percepção sem escolha'. Observe sem escolha; não argumente; aceite o argumento apenas como questionamento. A resposta surge da observação, não da conclusão. A verdade não é uma conclusão lógica. Conclusões lógicas funcionam na ciência, não na busca espiritual.

Para observar sem escolha, a pessoa tem que surpreender a mente inquiridora. Krishnamurti costumava dizer: 'Você deve arar o campo com o pensamento, a análise, o questionamento; então, deixá-lo alqueivar.' Deixá-lo alqueivar é importante, porque nesse silêncio ele se regenera. O pensamento não é um instrumento da regeneração, mas tem o valor de criar o questionamento. Entretanto, devemos explorar esse questionamento em nossa própria vida, em nossa própria consciência, para dele receber a sabedoria que nos pode dar.

Cada um de nós precisa crescer em sabedoria. Isso significa que a investigação, a mente que aprende - que está investigando o que é verdadeiro e o que é falso - precisa estar ancorada em cada criança, em cada estudante. É mais importante, primeiramente, criar esse espírito de investigação na mente, para depois fomentar a investigação científica. Precisamos dar igual ênfase ao conhecimento e ao autoconhecimento, criando, dessa maneira, uma mente que seja tanto científica como religiosa."

(P. Krishna - Novas maneiras de ver o mundo - Revista Sophia, Ano 7, nº 25 - p. 11)

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

A IMPORTÂNCIA DA INVESTIGAÇÃO (1ª PARTE)

"Krishnamurti viajou pelo mundo dizendo: 'Investigue! Veja a importância de não continuar iludido!' Ilusão significa imaginar que algo é verdadeiro quando não é, ou dar muita importância a algo que realmente não é tão importante assim. Descobrir, por si próprio, o lugar correto de tudo na vida é descobrir a ordem. Isso é algo desconhecido; a verdade é o desconhecido. É por isso que Krishnamurti chamou a verdade de 'arte de viver'.

A arte é algo que não pode ser prescrito. Você não pode ter normas para fazer um belo quadro. Quando tudo está em proporções corretas, surge a beleza. Podemos não saber qual é a proporção correta, mas temos sempre como saber quando algo cria desordem, porque isso cria conflito interior.

Normalmente procuramos a causa externa do conflito, mas ela não é importante (embora socialmente possa ser necessário lidar com isso). O importante é descobrir a causa interna do conflito e usá-la para aprender a respeito de si próprio. Então o conflito se torna um instrumento de autoconhecimento.

Sem aprendermos a respeito de nós mesmos, não haveria base para nossa meditação e nossas práticas espirituais. Em outras palavras, seríamos seres humanos confusos escolhendo entre o que é agradável e o que é desagradável. A escolha de uma mente confusa somente aumenta a confusão. A busca da verdade e o encontro da clareza são mais importantes do que quaisquer escolhas. É a única cura, e nós somos capazes disso. (...)"

(P. Krishna - Novas maneiras de ver o mundo - Revista Sophia, Ano 7, nº 25 - p. 10)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

NOVAS MANEIRAS DE VER O MUNDO

"No decorrer da evolução, o ser humano distinguiu-se por uma melhoria na memória, uma maior habilidade para pensar e uma capacidade acentuada para a imaginação, adquirida por toda criança à medida que aprende a falar. Mas a natureza não revela como devemos usar esses dons. Fizemos uso dessas capacidades adicionais para sermos mais gentis, mais atenciosos, para melhor protegermos a Terra, nosso ambiente, e até mesmo nossa própria espécie?

Nos últimos dez anos os seres humanos mataram trinta milhões de seus próprios irmãos em guerras. Trata-se de um processo egoico horrendo. Ele é a causa principal da luta dentro da família, entre irmãos e entre marido e mulher, além de ser a atitude dominante. A causa dessa luta é o mesmo desejo por dominação que se projeta entre as nações. Mas a guerra é apenas uma manifestação numa escala maior, enquanto a sua raiz é a mesma.

Devemos examinar a causa de uma forma mais profunda.  Como ela começa? Se observarmos uma criança crescendo e tornando-se lentamente mais egoísta, veremos que sua imaginação, pensamento e memória, combinados com o seu instinto de buscar prazer e evitar a dor, resulta no prazer psicológico e no medo da dor psicológica. A mente está calculando se pode obter mais segurança e prazer. O desejo de acumular e de proteger a si próprio de qualquer tipo de dano futuro parece perfeitamente natural. Ele surge em toda criança.

Estaremos todos presos nessa armadilha ou poderemos nos libertar, se aprendermos a respeito dela? Os biólogos explicam como a violência chegou até nós por meio do nossa passado biológico; sua explicação não está errada. O ser humano pode se aliar à violência e se tornar um Hitler, ou eliminá-la e se tornar um Gandhi, um Krishnamurti. Há uma liberdade que a natureza deu ao homem, mas não aos animais.

Não podemos fazer com que um tigre se torne vegetariano, mas o ser humano, embora nascido num ambiente não vegetariano, pode deixar de comer carne, se vir a conhecer a compaixão. Temos essa capacidade de mudança. Toda a questão a respeito do que é moral e correto surge somente para o homem. Se ele fosse completamente determinado pelo seu passado biológico, não sendo por isso responsável pelo que faz, como poderia ser culpado? Mas não é esse o caso, realmente. Portanto, devemos exercitar a capacidade de aprender por nós mesmos e, assim, por meio do autoconhecimento, nos libertar da desordem na consciência."

(P. Krishna - Novas maneiras de ver o mundo - Revista Sophia, Ano 7, nº 25 - p. 5/6)
www.revistasophia.com.br


terça-feira, 6 de dezembro de 2016

A GRADUAL MUDANÇA NA ATITUDE (1ª PARTE)

"Fica assim claro que meditar é aproximar-se do Supremo que está no interior, e, devido a essa incursão o mundo interno cresce, fica mais vívido e real, enquanto o externo perde muito de sua influência e realidade. Isso fica bem evidente nos estágios mais avançados da meditação. 

Diz A Voz do Silêncio: 'Porque quando para si mesmo a sua própria forma parece irreal, como o parecem, ao acordar todas as formas vistas em sonhos. Quando deixar de ouvir os muitos, poderá perceber o uno - o som interior que mata o exterior'¹⁸. 

Santa Teresa d'Avila descreve um fenômeno similar: 'Olho para baixo, para o mundo, como se fora de uma grande altura e muito pouco me importa o que dizem ou sabem a meu respeito. Nosso Senhor tornou minha vida agora uma espécie de sonho, pois quase sempre o que vejo parece-me como um sonho, nem tenho grande sensação de prazer ou de dor'. 

Este é o começo da ida 'do irreal para o Real'. Nosso corpo nos parece real, nossas emoções nos parecem reais, nosso pensamento nos parece importante, porque ainda não percebemos a Divindade interior. O sábio Shankaracharia diz que assim como os sonhos parecem verdadeiros enquanto a pessoa não desperta, assim é a identificação de alguém com o corpo, etc. e a autenticidade das percepções sensoriais e de tudo mais pertencente ao estado de vigília continua, enquanto não houver o 'Autoconhecimento'. (...)"

¹⁸ Editora Teosófica, Brasília, 2012, pp. 89-90. (N.E.)

(Clara Codd - A Técnica da Vida Espiritual - Ed. Teosófica, Brasília, 2013 - p. 69/70)
www.editorateosofica.com.br


quinta-feira, 28 de julho de 2016

SOFREDORES PROFANOS E INICIADOS (PARTE FINAL)

"(...) A amargura máxima do sofrimento não está no fenômeno externo dele, mas na atitude interna do sofredor. E essa correta atitude interna supõe autoconhecimento. Quando o sofredor sabe que não é o seu Eu divino, mas apenas o seu ego humano que sofre, então pode ele sofrer serenamente, e mesmo sabiamente - talvez até jubilosamente, por saber que ele está construindo a 'única coisa necessária que nunca lhe será tirada'.

A maior acerbidade do sofrimento, como dizíamos, está na sua absurdidade, no seu aspecto paradoxal, no seu caráter antivital e antiexistencial - mas esse aspecto não vem do sofrimento em si, mas unicamente da falsa perspectiva do sofredor. O sofrimento do sofredor profano é necessariamente absurdo, paradoxal, antivital, antiexistencial, e é capaz de levar o sofredor à revolta, à frustração, ao suicídio, ou ao inferno em plena vida.

É pois de suprema sabedoria que o homem mude de perspectiva e atitude - e isto, não quando vítima de uma tragédia, mas em tempos de paz e bonança. Dificilmente, o sofredor alcançará essa serenidade durante o sofrimento, se, antes dele, não a tiver alcançado. O remédio contra as dores não deve ser tomado apenas na presença delas, mas antecipadamente, em tempo de saúde e tranquilidade. O remédio é, sobretudo, uma profilaxia, e não somente um corretivo. O homem deve vacinar, imunizar todo o seu ser com o soro da verdade sobre si mesmo, para que, na hora da tragédia, não sucumba ao impacto das bactérias mortíferas da revolta e do desespero.

Tenho assistido a cenas de desespero ao pé de um caixão mortuário ou de um túmulo aberto - e é inútil tentar aliviar o sofrimento dos sobreviventes, quando lhes falta uma base de longos anos, uma vivência na verdade do seu próprio ser. O remédio para a hora da tragédia tem de ser dado meio século antes da eclosão da tragédia, durante os meses e anos da sua incubação.

Quem enxerga o porquê da sua existência terrestre apenas nos gozos, já está em véspera de frustração. Quem confunde os objetivos da vida - fortuna, prazeres, divertimentos - com a razão-de-ser de sua existência - autoconhecimento e autorrealização - é um profano, um exotérico, e não pode encontrar conforto na hora do sofrimento. É suprema sabedoria iniciar-se na verdade do ser humano desde o princípio. Todos os objetivos da vida têm de ser integrados totalmente na razão-de-ser da existência."

(Huberto Rohden - Porque Sofremos - Ed. Martin Claret, São Paulo, 2004 - p. 33/34


sábado, 4 de junho de 2016

SAPIÊNCIA SUPREMA

"Inteligente é quem outros conhece;
Sapiente é quem se conhece a si mesmo.
Forte é quem outros vence;
Poderoso é quem se domina a si mesmo.
Ativo é quem muito trabalha,
Rico é quem vive contente.
Firme é quem vive em seu posto, 
Eterno é quem supera a morte.

EXPLICAÇÃO: Nestes aforismos paradoxais focaliza Lao-Tse a quintessência do autoconhecimento, que transborda em autorrealização. O correto agir segue infalivelmente à consciência do reto ser. Toda a mística do autoconhecimento transborda irresistivelmente na ética da autorrealização - assim como toda a árvore boa produz frutos bons. Nenhum homem pode agir eticamente se não teve a experiência mística do seu verdadeiro ser. 

O Agir segue ao Ser."

(Lao-Tse - Tao Te King, O Livro Que Revela Deus - Tradução e Notas de Huberto Rohden - Fundação Alvorada para o Livro Educacional, Terceira Edição Ilustrada - p. 95/96)


quinta-feira, 5 de maio de 2016

CONTROLE DA MENTE E AÇÃO CORRETA (PARTE FINAL)

"(...) No sonho não há escolhas - é preciso aceitar o papel que o sonho nos incumbe. A percepção sem escolha só ocorre quando a mente viu a futilidade de suas próprias escolhas. O estado de sonho é na verdade um estado de concentração, pois a concentração só é possível quando cessam todas as lutas para escolher. Essa é uma condição relaxada da mente; representa atenção sem distração.

Enquanto no estado de vigília há o focar da mente, no estado de sonho há a observação da mente. À medida que observamos a mente, chegamos ao terceiro estado de percepção - o sono profundo. Nesse estado não há perturbação causada pelos movimentos do sono - na verdade, não há nem mesmo o meneio de pensamentos. Isso é verdadeiramente a não percepção na percepção - a pessoa não está sequer perceptiva de que está perceptiva. Essa condição está bem descrita no livro Luz no Caminho (Mabel Collins, Ed. Teosófica): 'Embora luteis, não sejais o guerreiro.' No sono profundo, a dualidade de sujeito e objeto desaparece. Onde essa dualidade não está, há perfeita quietude. Nesse quietude ocorre o quarto estado - o estado de pura percepção. E a pura percepção é realmente o conhecimento do ser.

O autoconhecimento é o ponto de partida da ação correta - não uma ação imitada, mas ação autoiniciada. Quando o movimento da mente cessa, somente então começa o movimento na mente. Quando há movimento na mente, e não da mente, ela se torna um instrumento perfeito. E somente quanto a mente está na condição de ser um instrumento perfeito é que surge a ação correta. No Bhagavad Gita, Krishna exorta Arjuna a se tornar um canal perfeito (Nimitta). Quando Arjuna compreende a profundidade desse ensinamento, ele se dirige a Krishna e declara: 'Seja feita a vossa vontade.' Quando a pessoa se torna um canal para a realização da vontade divina, é iniciada nos mistérios da correta ação. 

Isso é o yoga prático - o yoga praticado nas ocupações diárias da vida. Somente os praticantes desse yoga agem com sabedoria, pois estão livres da cadeia de reações. Eles se movem livremente na vida, pois nada consegue retê-los. Hoje em dia precisamos de homens e mulheres assim, pois é através deles que irá surgir a transformação fundamental na sociedade. Eles servirão como núcleos para a nova ordem das coisas nos diferentes ramos da atividade humana. O yoga não é a fuga da ação, como pensam muitos no Ocidente. Yoga e, na verdade, a base e o terreno para a correta ação."

(Rohit Mehta - Yoga prático - Revista Sophia, Ano 9, nº 36 - p. 8


quarta-feira, 4 de maio de 2016

CONTROLE DA MENTE E AÇÃO CORRETA (1ª PARTE)

"O problema da mente e da segurança só pode ser abordado com a compreensão do processo de modificação da mente. A mente e suas modificações são o tema central do raja yoga. Isso é conhecido como 'controle da mente'. Mas o que é uma mente controlada? É uma mente flexível e sensível. Uma mente estreita, rígida, fechada, obviamente que não é uma mente controlada. Pode parecer paradoxal, mas uma mente controlada é na verdade uma mente livre. Enquanto a mente tiver seus próprios comprometimentos e embaraços, ela não é livre. São esses comprometimentos e embaraços que a tornam incontrolável. Uma mente controlada não pode ter quaisquer interesses. Ela é um instrumento perfeito, um canal sem mácula. 

Existem dois pré-requisitos para um canal efetivo - ele não deve ter vazamentos e deve ser totalmente vazio. Como disse o grande filósofo chinês Lao Tzé, a utilidade de uma porta está no espaço vazio. De modo semelhante, a utilidade de um canal está na sua vacuidade, Patañjali diz, nos Yogas Sutras, que o yoga é o cessar das ondas de pensamentos na mente (vide livro A Ciência do Yoga. I. K. Taimni, Ed. Teosófica). Somente quanto a mente está aquietada é que nela se pode ver um claro reflexo do ser. Só a mente quieta pode ser uma mente verdadeiramente controlada. Somente na quietude da mente é que o sussurro da alma pode ser ouvido. O autoconhecimento não é possível sem a quietude. É aqui que a ciência da meditação vem em nosso auxílio.

De acordo com Patañjali e outras autoridades do yoga, a meditação é a condição onde cessa todo o movimento da mente. A meditação é um processo composto, com diferentes graus de percepção. O autoconhecimento é a percepção de nós mesmos no nível mais profundo. Uma vez que a meditação nos ajuda a chegar ao autoconhecimento, ela é um processo de aprofundamento da percepção. Os livros hindus sobre yoga mencionam quatro estados de consciência - os estados de crescente percepção: vigília, sonho, sono profundo e o estado transcendental.

É óbvio que a mente deve chegar primeiro ao estado de vigília, que é o estado de percepção com escolha. Ali a mente explora todas as escolhas referentes a uma situação. Quando ela não consegue mais perceber escolhas e alternativas, chega ao estado de sonho, que pode ser descrito como percepção sem escolha. (...)"

(Rohit Mehta - Yoga prático - Revista Sophia, Ano 9, nº 36 - p. 8


terça-feira, 29 de março de 2016

AUTOANÁLISE

"Para melhorar a sociedade - algo que todos desejamos - o método mais sábio e eficaz é começarmos a melhorar por nós mesmos.

É essencial que comecemos a assumir a coragem de pesquisar-nos, usando a mesma lente com a qual analisamos os demais.

Só conseguimos ver hipocrisia, ambição, incorreção, fraqueza, feiura, covardia, maldade, egoísmo, vaidade... nos outros, sempre nos outros. Facilmente lançamos sobre os outros a culpa de todas as crises, de todas as calamidades e injustiças, desta grande devastação... que está assolando a sociedade e o planeta.

É cômodo e fácil inculpar os demais. O difícil é exatamente o que pode melhorar tudo - conhecer-nos fria e objetivamente, para, depois, com a ajuda de Deus, oferecermos ao mundo mais um ser humano correto, que tanto 'falta na praça'.

Ensina-me, Senhor, a conhecer-me."

(Hermógenes - Deus investe em você - Ed. Nova Era, São Paulo, 1995 - p. 137)