OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

SABEDORIA

"O estudo dá cultura. A meditação dá sabedoria. A cultura enriquece o espírito. A sabedoria o eleva.

O enriquecimento do espírito o incha. Sua elevação o faz crescer, engrandecendo-o.

A inchação do espírito é vaidade, que se julga grande e vê tudo minguado em sua volta. O crescimento do espírito faz-lhe ver as coisas do alto, com discernimento.

A primeira produz distorção. A segunda acerta a perspectiva.

A cultura é acúmulo que vem de fora por justaposição. A sabedoria vem de dentro por crescimento próprio.

A cultura é adquirida nos livros pela inteligência. A sabedoria é haurida pelo coração, na natureza.

A cultura pode ser apanágio de um ignorante, tanto quanto a sabedoria pode ser coroamento de um iletrado.

Harvey foi taxado de louco quando expôs sua teoria da circulação do sangue na Academia de Medicina, Pasteur foi combatido pelos médicos por não ser médico; a Academia de Ciências de Paris classificou de chantagem a impostura o gramofone de Edison, e não tomou conhecimento do aparelho que tocava diante deles, sob a alegação de que a nobreza da voz humana jamais poderia ser reproduzida senão pelo homem. De quanto ridículo se revestem hoje essas apreciações dos doutores da ciência oficial.

Mas o homem não se emenda e teima em trilhar as mesmas estradas: dá muito valor à parte intelectual e quase nenhum ao coração.

Lamentavelmente confunde cultura com sabedoria, chamando sábios aos que apenas acumulam grossas bibliotecas em seus neurônios, sem, no entanto, assimilar em seus corações um grama de conhecimento da verdade divina, que é o amor a Deus através de seu representante visível: nosso próximo.

Precisamos ser sábios, mesmo que não possamos ter grande cultura." 

(C. Torres Pastorino - A Essência da Sabedoria - Ed. Martin Claret, São Paulo, 1998 - p. 49/50)
www.martinclaret.com.br


GUIANDO NOSSOS FILHOS (2ª PARTE)

"(...) 2. Conheçam seus filhos – Façam o máximo que puderem para se envolverem na vida de seus filhos. Reservem algum tempo da semana para fazer algo especial com eles. Fiquem atentos o bastante para serem capazes de saber se um filho está tendo problemas. Prestem atenção, confiem nos seus instintos e, acima de tudo, ouçam seus filhos e dialoguem com eles. Ajudem a resolver suas dificuldades. Isto não só estimulará a intimidade como reforçará a confiança.

3. Sejam os melhores amigos de seus filhos – O pai e a mãe devem conhecer seus filhos bem o bastante para serem seus melhores amigos. Estejam disponíveis para eles. Usem uma linguagem e conceitos que eles entendam, mantendo-se sempre conscientes da sua posição de pais. Ajudem seus filhos a refletir para fazerem escolhas saudáveis.

4. Ensinem o respeito próprio e a responsabilidade – Isto acompanha de perto a autoestima e a conquista da própria identidade. As crianças precisam aprender a ser responsáveis, e a melhor maneira de ensinar é através do próprio exemplo. Assumam a responsabilidade por suas ações em vez de culpar os outros quando as coisas dão errado. Crianças precisam ser suavemente formadas nas maneiras apropriadas e saudáveis de tratar a si mesmas e os outros. Ajudem seus filhos a tomar decisões, refletindo com eles sobre alternativas e resultados. Para ensinar seus filhos a serem responsáveis, primeiro deem a eles pequenas tarefas. Quando concluídas, elogiem seu esforço e seus sucessos, e examinem os fracassos de maneira positiva, para que possam aprender com eles, aceitando suas próprias limitações e as dos outros.

5. Tenham a mente aberta e estejam conscientes da espiritualidade – A vida espiritual das crianças costuma ser deixada de lado ou negada. Eduquem as crianças na noção de que são seres espirituais, ajudando-as a tomar consciência dessa dimensão. Caso elas relatem ‘visões’, ou sonhos, ou visitas de amigos ‘invisíveis’, por favor, não digam ‘É só um sonho’, ignorando o acontecido. Peçam-lhes que descrevam seus sonhos, mesmo que não os compreendam. As crianças são extremamente sensitivas e clarividentes. Acima de tudo, nunca invalidem ou desencorajem esse tipo de comportamento. (...)"

(James Van Praagh – Em busca da Espiritualidade – Ed. Sextante, Rio de Janeiro, 2008 – p.86/87)


quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

DEVOÇÃO

"Ainda que haja muitas religiões no mundo, cada qual servindo como um guia de conduta para seus seguidores, é necessário lembrar a natureza essencial e o propósito da religião na vida humana, que é tornar claro os meios de encontrar Deus. As concepções de Deus podem variar, os caminhos e as disciplinas podem variar, mas esse propósito essencial constitui a base comum a todas as religiões. Sem esse propósito a religião não é religião, é qualquer outra coisa. Os códigos de conduta e toda a parafernália da vida religiosa constituem um meio, e não um fim em si. O fato acima deve ser reiteradamente enfatizado, não só para tornar a vida religiosa mais significativa e determinada, mas também para capacitar os aspirantes a separarem o essencial do não essencial e a concentrarem-se no essencial.

A religião está relacionada mais estreitamente com o misticismo do que com o Ocultismo, e é a própria essência da vida mística. O verdadeiro místico não dá muita atenção a outras questões ligadas à vida humana, nem mesmo à natureza do universo em que ele se encontra. Seu único objetivo de conhecimento e devoção é Deus, e ele persegue este objeto de maneira sincera e atenção concentrada, excluindo tudo o mais." 

(I.K. Taimni - Autorrealização pelo Amor - Ed. Teosófica, Brasília, 2011 - p. 11/12)
www.editorateosofica.com.br/loja


GUIANDO NOSSOS FILHOS (1ª PARTE)

"Uma das maneiras mais importantes de transformar nosso mundo é estimulando o crescimento e o desenvolvimento de nossas crianças. Criar filhos no mundo tóxico da atualidade é extremamente difícil. As crianças são expostas à violência, às drogas e ao sexo como nunca. Os valores parecem ter sido destruídos. Mas também é verdade que vivemos num período de incrível potencial de iluminação e expansão. As crianças podem desenvolver suas capacidades mentais muito mais rápido do que antes. Quando as pessoas decidem ter filhos, assumem a responsabilidade não só de sustentá-los num nível físico como também de desenvolver seu corpo espiritual e emocional.

Portanto, os pais precisam perceber que são responsáveis pelos sentimentos e pensamentos que transmitem, porque essa energia passa diretamente para a psique da criança e é levada como bagagem para a vida adulta. Devido à forte ligação mútua, precisamos começar a ensinar aos nossos filhos dignidade, valores e prioridades, através de nosso exemplo. A seguir, dou algumas diretrizes sobre a formação de uma criança numa atmosfera espiritualmente enriquecedora.

1. Encorajem e alimentem a autoestima – Nunca será excessivo insistir na importância de alimentar a autoestima. Em quase todas as leituras que realizei envolvendo suicídio ou vício em drogas ou álcool, as causas estão na falta de identidade e amor-próprio das pessoas. Quais são os pontos de referência que as crianças têm, a não ser os atos e palavras dos adultos ao seu redor? Como é que as nossas crianças vão saber quem são? O que dizemos a elas, pensamos sobre elas e fazemos com elas? São mensagens amorosas ou críticas? Nós validamos seus instintos ou as calamos? Se as crianças não têm compreensão e empatia em casa, elas irão certamente procurá-las com alguém fora da família. Quando começarem a se identificar com influências externas e ilusórias, irão crescer com atitudes e valores materialistas. A pressão externa vai forçá-las a se comportarem de determinadas maneiras para que se sintam aceitas. Sugiro aos pais e parentes que deem o máximo de reforço positivo para as crianças. Precisamos demonstrar amor em todas as etapas de seu crescimento. Elogios, compreensão, risos e amor fazem com que uma criança cresça para tornar-se um adulto feliz e competente. Que todos nós sejamos uma fonte de verdadeiro esclarecimento e orientação para a nova geração. (...)"

(James Van Praagh – Em busca da Espiritualidade – Ed. Sextante, Rio de Janeiro, 2008 – p.85/86)

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A PERSONA E O EGO

"Todos nós temos uma imagem que apresentamos ao mundo – é o que Jung chama de persona. O modo como nos vestimos, falamos, a personalidade que gostamos de apresentar, tudo isso é parte de uma persona que desenvolvemos desde nossos primeiros anos. A persona é influenciada pela educação. Família, escolas amigos, sociedade: todos esses elementos têm normas, valores e atributos, e o esperado é que nós os aceitemos e os tornemos nossos.

A persona não é o ‘eu’ real; é a expectativa da sociedade sobre como alguém no nosso papel deve se vestir, falar e se comportar. Se nos preocupamos demais com nossas personas, podemos terminar vivendo segundo as expectativas de nossos pais, de nosso grupo social ou religioso, ou de nossos cônjuges. Podemos não estar sendo verdadeiros e autênticos em relação a nós mesmos. Podemos estar vivendo a ideia de uma outra pessoa sobre como nossa vida deveria ser.

O ego é o que nós pensamos que somos. É a nossa personalidade como conscientemente a conhecemos. (...)

Ego não significa egoísta ou egocêntrico; é uma palavra latina que significa ‘eu’ (...)

Para compreender as necessidades que o ego tem em relação aos outros, devemos primeiramente entender a nós mesmos. Não podemos ter relacionamentos bem-sucedidos como amigos, amantes ou pais a não ser que tenhamos uma noção realista da nossa própria identidade. Se sabemos quem somos, podemos fazer melhores escolhas nos nossos relacionamentos."

(Viviane Crowley - A Consciência segundo Jung - Revista Sophia, Ano 7, nº 25 – Pub. da Ed. Teosófica - p. 33)


FAÇA DA CRENÇA UMA FERRAMENTA PARA O SEU PROGRESSO ESPIRITUAL (PARTE FINAL)

"(...) Transcendendo a mera filosofia, a meditação científica sintoniza a consciência com a mais elevada e poderosa verdade; a cada passo, o devoto progride para a autêntica percepção, evitando desnorteantes divagações. Perseverar nos esforços para constatar e experimentar as crenças por meio da percepção intuitiva, que pode ser alcançada pelos métodos da yoga, significa construir uma vida espiritual genuína, à prova de qualquer dúvida.

A crença é uma força poderosa quando leva o desejo e à determinação de alcançar a experiência de Cristo. É a isso que Jesus se referiu quando exortou as pessoas a crerem ‘no nome do Unigênito Filho de Deus’: por meio da meditação, retirem a consciência e a energia vital dos sentidos e da matéria a fim de intuírem o Om, o Verbo ou a Energia Cósmica Vibratória onipresente, que é o ‘nome’ ou a manifestação ativa da Consciência Crística imanente. Mesmo que alguém afirme incessantemente uma crença intelectual em Jesus Cristo, se ele jamais alcança a autêntica experiência do Cristo Cósmico – tanto onipresente quanto personificado em Jesus -, sua crença é desprovida de um caráter espiritualmente prático que seja suficiente para salvá-lo.

Ninguém pode ser salvo apenas pela repetição do nome do Senhor, ou louvando-O em crescendo de aleluias. Não é pela crença cega no nome de Jesus, nem pela adoração de sua personalidade, que se pode receber o poder libertador de seus ensinamentos. A verdadeira adoração de Cristo é a comunhão divina da percepção crística no templo sem paredes da consciência expandida.

Deus não refletiria Seu ‘Filho unigênito’ no mundo para que atuasse como um detetive implacável, capturando descrentes para puni-los. A Inteligência Crística redentora que habita o âmago de todas as almas – tenham elas, em sua forma física, acumulado pecados ou virtudes – aguarda com infinita paciência, até que cada uma desperte, no estado meditativo, do sono narcotizante da ilusão, para receber a graça da salvação. Aquele que crê nessa Inteligência Crística – e que cultiva, com ações espirituais, o desejo de buscar a salvação ascendendo a esse reflexo da consciência de Deus – não tem mais que vagar cegamente ao longo do ilusório caminho do erro. Com passos precisos, ele se move seguramente para a Infinita Graça redentora. Mas o descrente, que despreza o conceito desse Salvador, que é o único caminho da salvação, condena-se a ignorância própria das limitações do corpo e às suas consequências, até que desperte espiritualmente."

(Paramahansa Yogananda – A Yoga de Jesus – Self-Realization Fellowship – p. 76/77)


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

AÇÃO SEM AÇÃO

"Karma Yoga é o yoga da ação impessoal. A pessoa torna-se mais decidida, mais rápida na ação, mais sábia no julgamento. É a personalidade que obnubila a visão da pessoa e retarda a ação. São os nossos gostos e aversões que nos confundem. A realidade é muito maior do que nossas preferências pessoais.

Os chineses chamam isso de wei wu wei: ação sem ação. É um princípio fundamental do Taoísmo. Equivale a estar em harmonia com a realidade maior. O indivíduo é apenas parte dessa realidade total, uma realidade que estava lá antes de nascermos, e que lá estará muito depois de termos morrido.

Em Luz no Caminho podemos ler sobre a canção da vida com a qual precisamos estar harmonizados: ‘Ouve a canção da vida./ Guarda em tua memória a melodia que ouvires./ Aprende dela a lição de harmonia’.

A maioria das pessoas não ouve essa melodia. Ouve apenas a melodia da sociedade, das outras pessoas, da televisão, dos jornais. Esses ruídos sociais formam uma cacofonia que resulta em infelicidade, conflito guerras, pobreza e a lenta destruição da Terra.

Precisamos aprender a ouvir a canção da vida. No começo é uma melodia débil, que às vezes ouvimos, às vezes não. Porém, quando a ouvimos com mais frequência, descobrimos ser mais fácil reconhecer sua melodia, separada da melodia da sociedade. Então tem início um reajustamento na vida. Nós que fomos criados dançando segundo a música da sociedade, devemos agora começar a aprender um outro conjunto de passos. Pode ser doloroso. Pode significar mudança de carreira, de círculo de amizades. Mas essa harmonização precisa ser feita. (...)"

(Vicente Hao Chin Jr. - Espiritualidade no dia a dia - Revista Sophia, Ano 7, nº 25 – Pub. da Ed. Teosófica, Brasília - p. 22)


FAÇA DA CRENÇA UMA FERRAMENTA PARA O SEU PROGRESSO ESPIRITUAL (1ª PARTE)

"'Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado.’ Esta passagem também realça o papel da ‘crença’ na condenação ou não condenação do homem. As pessoas que não compreendem a imanência do Absoluto no mundo relativo tendem a tornar-se céticas ou, então, dogmáticas, pois em ambos os casos a religião torna-se uma questão de crenças cegas. Incapaz de conciliar a ideia de um Deus bom com as aparentes crueldades da criação, o cético rejeita a crença religiosa de forma tão obstinada quando o dogmático se apega a ela.

As verdades ensinadas por Jesus estavam muito além da crença cega, que aumenta e diminui sob a influência de pronunciamentos paradoxais de clérigos e céticos. A crença é um estágio inicial do progresso espiritual, necessário para admitir o conceito de Deus. Mas tal conceito tem de ser transformado em convicção, em experiência. A crença é o precursor da convicção; é preciso acreditar em algo a fim de se proceder a uma investigação imparcial. Se, porém, alguém se satisfazer apenas com a crença, esta se converte em dogma – estreiteza mental, um impedimento para a verdade e o progresso espiritual. O necessário é cultivar, no solo da crença, a safra da experiência direta e do contato com Deus. Tal conhecimento incontestável – e não a mera crença – é o que nos salva.

Se alguém me diz: ‘Creio em Deus’, eu lhe pergunto: ‘Por que você crê? Como sabe que Deus existe? Se a resposta é baseada em suposição ou conhecimento indireto, eu lhe digo que ele não crê realmente. Para manter uma convicção, é preciso per premissas que a sustentem; de outra forma, trata-se apenas de um dogma – uma presa fácil para o ceticismo.

Se eu apontasse para um piano e afirmasse que ele é um elefante, a razão de uma pessoa inteligente se revoltaria contra tal absurdo. Da mesma maneira, quando dogmas acerca de Deus são propagados sem a validação da experiência ou percepção direta, mais cedo ou mais tarde, quando forem submetidos ao teste de uma experiência contrária, a razão questionará com especulações a verdade acerca de tais ideias. Quando os raios abrasadores do sol da investigação analítica se tornam cada vez mais ardentes, as frágeis crenças insubstanciais murcham e secam, originando um ermo de dúvida, agnosticismo ou ateísmo. (...)"

(Paramahansa Yogananda – A Yoga de Jesus – Self-Realization Fellowship – p. 75/76)


segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O PRAZER NASCE DA ILUSÃO

"D: Se o Ser é sempre prazeroso e se também o são os objetos dos sentidos no momento da apreciação, eles também devem ser considerados prazerosos.

 M: O deleite em qualquer objeto não é duradouro; o que agora é prazeroso logo cede seu lugar a outro objeto ainda mais prazeroso. Há graus de prazer e uma sequência dos objetos apreciados. O prazer nos objetos é apenas caprichoso, e não estável. Isto porque o prazer nasce de nossa própria ilusão, e não do valor intrínseco do objeto. Por exemplo: observe como o cão rói um osso seco e sem tutano até sair sangue das feridas em sua boca; ele acha que o gosto de seu próprio sangue é o do tutano do osso, e não quer largá-lo. Se encontrar outro osso parecido, deixa cair o que tem na boca e pega o outro. Da mesma forma, sobrepondo a sua própria natureza bem-aventurada aos detestáveis objetos de sua fantasia, o homem deleita-se neles por engano, pois a alegria não é a natureza dos objetos. Devido à ignorância humana, os objetos que, na verdade, são dolorosos por natureza, parecem ser prazerosos. Esse prazer aparente não permanece estável em um objeto; normalmente se desloca para outros objetos; é desenfreado, possui níveis e não é absoluto, ao passo que a Alegria do Ser não é caprichosa. Mesmo quando o corpo, etc., são abandonados, a alegria do Ser dura para sempre, e também é absoluta. Portanto, o Eu Real é a Suprema Bem-aventurança. Até aqui, a natureza Ser-Consciência-Beatitude do Eu Real foi estabelecida." 

 (Advaita Bodha Deepika - A Luz da Sabedoria Não Dualista - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 108/109)

POR QUE REPETIR OS MESMOS ERROS (PARTE FINAL)

"(...) Conheci pessoas que viviam em grandes cidades e que jamais saíram dos arredores do seu bairro, jamais foram até o centro da cidade. Conheci também pessoas que viajaram ao redor do mundo, mas que nunca conheceram ou conversaram com as pessoas que sustentavam seus luxuosos estilos de vida, a quem viam como serviçais - cozinheiros, garçons, mensageiros de hotel, motoristas, etc. Tanto em nossa vida externa quanto na interna tendemos a sofrer de falta de exposição. Muitas vezes contentamo-nos em encontrar conforto na familiaridade da nossa condição atual, em vez de nos arriscarmos no desconhecido.

Há um raio de esperança para todos nós num fato simples. Quando ficar claro que é muito grande o sofrimento que experienciamos e o sofrimento colateral que causamos pelo nosso estúpido modo de viver, decidiremos que para nós basta. Nas palavras da ativista de direitos civis Fanie Lou Hammer, 'durante toda a minha vida estive doente e cansada, mas agora estou doente e cansada de estar doente e cansada'.

A condição do nosso desconforto nos leva a descobrir um caminho melhor. Quando essa compreensão finalmente surge em nós, embarcamos na grande experiência da autotransformação. É então que respondemos aos ensinamentos da sabedoria e começamos a nos familiarizar com dimensões mais profundas do nosso próprio ser. Estudamos o que tem sido dito a respeito dessas camadas mais profundas. Aquietamo-nos primeiramente para abordá-las, depois para imergirmos no campo que Rumi descreveu como 'além das ideias de malefício e benefício'. Gradualmente podemos estabelecer um 'normal novo' para nós mesmos, num estado que não mais exige conflito e competição para que nos sintamos vivos.

Essa possibilidade é algo que está disponível para nós a qualquer hora. Em nossos momentos de quietude, quando estamos sós e silentes, podemos às vezes senti-la. Como escreve Dane Rudhyar, em seu livro Occult Preparations for a New Age, 'o oceano de infinita potencialidade circundamos; nele vivemos, nos movemos e temos nosso ser, mas a maioria de nós se recusa a sentir, se recusa a ver, e assim ficamos envolvidos em nossa agitação frenética, em nosso medo, em nossa concentração masoquista sobre o quanto sofremos. Esse sofrimento é vão e exige repetição interminável. Devemos nos aquietar e sentir o som insonoro das vastas marés do espírito fustigando as praias de nossa consciência, ou talvez batendo nas rochas cheias de mossas de nosso orgulho e de nossa avidez. Devemos voltar nossa consciência para esse mar interior e tentar sentir o fim de um ciclo de experiência pacificamente transformando-se no início ainda impreciso e desfocado de um novo ciclo. Devemos ousar convocar a potencialidade de um início essencialmente novo e, para nós, sem precedente."

(Tim Boyd - Revista Sophia, Ano 11, nº 46 - Pub. da Ed. Teosófica, Brasília - p. 35)

domingo, 26 de janeiro de 2014

SEDE, POIS, PERFEITOS

Sede, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.

Com esta frase, dá-nos Jesus o tema central do Sermão da Montanha. Todo o sentido da vida humana resume-se nisso. E o mesmo tema acha-se no cerne de toda religião: Procura a perfeição! Tem consciência de Deus!

Temos ideia do que possa ser a perfeição quando se trata de objetos materiais ou de metas intelectuais ou morais, embora os padrões individuais possam variar. Mas, o que se entende por perfeição divina?  Uma vez que nossa mente se circunscreve num mundo de relatividade – dentro do tempo, do espaço e da causalidade – não temos condição de saber o que seja esta perfeição, porque ela é absoluta. Temos apenas a vaga ideia de que ela se refere a um estado de plenitude, de paz permanente e de realização. Todo ser humano deseja encontrar a realização e a perfeição – em suas relações com outros seres humanos, em seu trabalho, em cada segmento da vida. Todavia, ao atingir os objetivos que o mundo tem a oferecer, não se sente ainda satisfeito. Pode estar rodeado por uma boa família e por amigos leais, Pode gozar de riqueza e de boa saúde, de beleza e de fama – e, não obstante, ser perseguido por uma sensação de carência e de frustração.

Naturalmente, é verdade inconteste que nossos desejos podem ser aplacados temporariamente neste mundo. Podemos gozar de alguns prazeres e sucessos. Mas, esquecemo-nos sempre de que eles são passageiros. Se aceitamos os prazeres e o sucesso, devemos estar prontos a aceitar também a dor e o fracasso.

Kapila, filósofo da Índia antiga, expressou de forma negativa a perfeição, como ‘a cessação completa da desolação’. Os sábios védicos procuram exprimi-la positivamente, como Sat, a vida imortal; Chit, o conhecimento infinito, e Ananda, o amor e o êxtase eternos. Por detrás de cada esforço humano existe o desejo (por inconsciente e mal orientado que possa ser) de encontrar Sat-chit-ananda – noutras palavras, a realidade suprema, Deus. Mas, desde que a maioria de nós não tem consciência de que a finalidade real da vida é encontrar Deus, continuamos a repetir as mesmas alegrias e tristezas indefinidamente. Gastamos nossa energia em realizações efêmeras, buscando recompensa infinita no que é finito. Somente após passarmos por muitas experiências de prazeres e de dor, ocorre-nos o discernimento espiritual. Começamos então a ver que nada neste mundo pode dar-nos satisfação duradoura. Aí, entendemos que o desejo da felicidade permanente, de perfeição, só pode ser satisfeito na verdade eterna de Deus. (...)”

(Swami Prabhavananda – O Sermão da Montanha Segundo o Vedanta – Ed. Pensamento, 15ª Edição – p. 73/74)


POR QUE REPETIR OS MESMOS ERROS (3ª PARTE)

"(...) Os ensinamentos da sabedoria perene fornecem uma indicação de como poderemos abordar esse problema. Eles descrevem o processo por meio do qual todas as coisas vêm à existência. Dito simplesmente, existe o espírito, a vida una, que se reveste de camadas cada vez mais densas de 'matéria', onde cada camada sucessiva serve como veículo para a expressão da camada prévia, menos material. Somos compostos de um todo que inclui desde o espírito mais elevado à matéria mais grosseira. Aquilo que descrevemos como nossas personalidades - a combinação dos corpos físico, emocional e mental - são os veículos mais densos do espírito oculto.

Uma variedade de termos tem sido usada para identificar esses diferentes veículos de consciência - koshas, princípios, planos, campos e até mesmo 'corpos'. Na terminologia teosófica temos a progressão atma (o espírito universal), budhi (mente ou alma universal) e manas (a faculdade mental do homem). A ideia principal é que esse processo tem seu princípio e fim no espírito - na vida una.

Assim, por que não conseguimos progredir? Um das razões foi expressa de diversas maneiras pelas tradições espirituais, e também na sabedoria dos ditados populares: 'quem não chora não mama', isto é, a voz mais alta será ouvida e atendida. No nosso caso, essa voz é o clamor dos desejos e pensamentos, constantemente pedindo para serem ouvidos e satisfeitos. O termo técnico usado para designar essa dimensão da consciência humana é kama-manas, a mente do desejo. Muito embora as dimensões mais poderosas do nosso ser estejam fora dessa estreita faixa de consciência, estamos habituados a servir às vontades dessa mente desejosa, que, por sua própria natureza, continuamente nos coloca em conflito com inúmeras outras pessoas, cujos diferentes desejos parecem competir com os nossos.

H.P. Blavatsky, no livro A Doutrina Secreta, coloca o dedo no problema e em sua solução: 'Em qualquer que seja o plano que nossa consciência esteja atuando, tanto nós quanto as coisas pertencentes a esse plano somos, sob as condições do momento, as únicas realidades. À medida que crescemos na escala de desenvolvimento, percebemos que nos estágios pelos quais passamos confundíamos as sombras com a realidade; o progresso ascendente do ego é uma série de despertares progressivos, cada avanço trazendo consigo a ideia de que agora, finalmente, alcançamos a 'realidade'; mas somente quando tivermos alcançado a consciência absoluta, e nela fundido a nossa própria consciência, estaremos livres das ilusões. (...)" 

(Tim Boyd - Revista Sophia, Ano 11, nº 46 - Pub. da Ed. Teosófica, Brasília - p. 35)

sábado, 25 de janeiro de 2014

UPANIXADE KENA

"Os Upanixades representam uma investigação – uma profunda investigação - da mente humana sobre os problemas fundamentais da existência. Seguem o método do discurso e da discussão no qual o Instrutor e o estudante exploram juntos os temas da investigação. Em nenhum lugar dos Upanixades o Instrutor fala com um ar definitivo, ele encoraja seus alunos para que façam tantas perguntas quanto possível, e quando as respostas são completamente satisfatórias, os estudantes não deixam de fazer mais perguntas para clarear pontos de investigação. A menos que compreendamos esse íntimo relacionamento entre Instrutor e o estudante, não entraremos no espírito do ensinamento upanixádico. Um estado de investigação constitui uma condição saudável da mente humana. Mas aqui precisamos fazer uma distinção entre investigação e curiosidade. Não é preciso dizer que a curiosidade surge de uma mente superficial. A investigação, por outro lado, emerge das profundezas da consciência humana. Uma investigação profunda se ocupa fundamentalmente com três questões: Como, Porque e O quê. Toda investigação científica, seja cobrindo as ciências físicas ou ocultas, relaciona-se com a questão: Como. (...) A filosofia tem sua investigação voltada para uma direção diferente, pois está interessada em conhecer por que as coisas ocorrem de uma maneira particular. Mas o Misticismo ou a experiência religiosa não se satisfaz meramente com o Como e Porquê, ele quer descobrir O que está por trás de todos os padrões e motivações do comportamento. No Upanixade Kena, a principal pergunta em discussão é: O que impele e motiva os modos e padrões particulares da ação?"

(Rohit Mehta - O chamado dos Upanixades – Ed. Teosófica, Brasília, 2003 - p. 33)


POR QUE REPETIR OS MESMOS ERROS (2ª PARTE)

"(...) Não faz muito tempo, enquanto limpava o terreno ao redor da minha casa, algo caiu no meu olho. Fiz tudo que pude para desalojá-lo. Não tinha ideia do que era, mas sabia que era grande. Honestamente, eu sentia como se um pedregulho tivesse entrado no meu olho. Depois de um dia e uma noite de constante desconforto, fui ao oftalmologista. Sentei-me em sua cadeira, ele colocou o foco de luz no meu olho, virou a pálpebra para trás e removeu o objeto ofensor.

O alívio foi imediato, Durante as vinte e quatro horas precedentes eu havia executado minhas tarefas normais, feito o possível para lhes dar a atenção devida, mas o tempo todo meus pensamentos estavam centrados no desconforto pulsante no meu olho. Quando pedi ao médico para me mostrar a partícula, fiquei atônito com o tamanho. Não era maior do que o ponto no final dessa oração. 

Posteriormente, quando pensei a respeito, toda a coisa pareceu-me incongruente. A partícula, que quase precisava de uma lupa para ser vista, algo talvez com um milionésimo do tamanho do meu corpo, tinha tomado totalmente o campo da minha atenção. O desconforto físico exigido fixou minha atenção, primeiramente na dor e depois no modo de me livrar dela. Idealmente eu estava buscando uma cura, mas em curto prazo teria feito qualquer coisa para diminuir a dor ou para desviar minha tenção do sofrimento. 

Quando Buda despertou, a primeira das Quatro Nobres Verdades ensinadas foi a verdade do sofrimento. Ele expressa o fato de que viver no reino do corpo, da emoção e da mente necessariamente envolve sofrimento em muitos níveis, desde as dores físicas mais grosseiras à percepção sutil e penetrante de que nada é constante ou seguro. Durante sua vida, muitas vezes ele se referiu a si mesmo como médico, dizendo que seu trabalho era prescrever uma cura para a maioria dos males humanos básicos. De inúmeras maneiras ele ensinou que nossos métodos para nos afastarmos do sofrimento ou diminuir nossa sensibilidade a ela não apenas eram improdutivos, mas assegurou que a condição básica continuaria e até mesmo cresceria. (...)"

(Tim Boyd - Revista Sophia, Ano 11, nº 46 - Pub. da Ed. Teosófica, Brasília - p. 32)


sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

ANIMAIS DOMÉSTICOS

"Os animais domésticos que vivem em nosso lar não são criaturas tão insignificantes, como as pessoas geralmente acham. A Vida Divina, que se encontra no homem, está igualmente no animal, mas nele se encontra num estado mais primitivo e, por conseguinte, menos evoluída. Esta vida deve acelerar o seu desenvolvimento pelo contato com o homem.

O dever do homem para com seus animais domésticos é o de suavizar a sua natureza selvagem e implantar neles os atributos humanos do pensamento, do afeto e da dedicação. Portanto, enquanto o animal nos dá sua força, trabalhando para nós, devemos usar essa força com a finalidade de humanizá-lo, porque há de chegar o dia em que conseguirá ser um homem. Ao treinarmos um cão para desenvolver sua inteligência, não devemos fazê-lo de modo a reforçar seus instintos animais, como quando treinamos nossos cães para a caça. Um gato doméstico pode ser ‘um bom caçador de ratos’, mas não foi por essa razão que Deus o guiou para a família onde vive. Quando treinamos cavalos, não deveríamos procurar apenas desenvolver a velocidade para participarem de corridas; os serviços que eles nos prestam deveriam ser recompensados, pela tentativa de desenvolver neles as qualidades que contribuirão mais para sua evolução em direção à humanidade do que a velocidade.

O princípio geral referente a nossas relações com os animais domésticos é que eles foram realmente enviados para junto de nós a fim de que, na medida do possível, os seus atributos animais de selvageria fossem substituídos por atributos humanos, porque o que hoje é um animal, algum dia será um homem, assim como no futuro o homem de hoje tornar-se-á um Deus. Aquele que contribui para que a Vida Divina progrida mais rapidamente pelo seu caminho ascendente, esse ajuda, com maior eficiência, a sua própria evolução."

(C. Jinarajadasa - Teosofia Prática – Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 22/23)


POR QUE REPETIR OS MESMOS ERROS (1ª PARTE)

"Recentemente descobri que estava a me questionar. O âmago da pergunta era algo como: 'por que continuamos a repetir esses mesmos erros?', ou 'quando finalmente aprenderemos?', ou, nas famosas palavras do falecido Rodney King, 'por que não conseguimos progredir?' O catalisador para essa linha de pensamento não é algum evento recente ou algum desalento sobre a condição do mundo. É apenas uma daquelas perguntas persistentes que reemergem de tempos em tempos. Escolhamos um dia, qualquer dia; olhemos à nossa volta e vejamos se não é uma pergunta pertinente a se considerar. Quer sejam as notícias do mundo, o escritório ou o lar, se de fato olhamos para a situação, veremos que há algo a ser feito. 

Qualquer pai ou mãe que tenha um filho pequeno pode dizer que a linha de inquirição do 'por que' é desafiadora. Quando se persiste nela, pode nos levar à porta do desconhecido. O porquê do céu ser azul, das moléculas da atmosfera da Terra dispersarem as ondas azuis mais do que o restante do espectro, da natureza do oxigênio e do hidrogênio absorverem as outras ondas - essas indagações levam a uma de duas respostas terminativas: ou 'eu não sei' ou 'foi Deus quem fez assim, e não me faça mais perguntas!'.

Como acontece com muitas outras coisas, talvez não sejam as respostas específicas que são valiosas, mas o processo de exploração e abertura que surge com o questionamento. (...) Nas palavras do poeta Robert Browning, 'o alcance de um homem deve ir além do alcance de seu braço, ou para que servirá o céu?'. 

A nossa busca pelo conhecimento começa com uma suposição - a de que é possível conhecer. Isso é realmente mais profundo do que uma mera suposição. Em algum lugar dentro de nós existe uma percepção intuitiva, incontestável, de que todo o conhecimento está disponível. (...)"

(Tim Boyd - Revista Sophia, Ano 11, nº 46 - Pub. da Ed. Teosófica, Brasília - p. 32)


quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

VÉUS DA IMANÊNCIA

“A face do Real está coberta

Com um véu dourado

Que tu Oh Pushan descubras

Que eu, devotado à verdade, possa ver.

De acordo com o verso acima, a experiência espiritual é um processo de descoberta. A Verdade ou Realidade foi encoberta. Existe véu após véu de manifestação cobrindo a Face da Verdade. Brahman ou a Realidade está na nossa frente, mas não podemos vê-La porque uma tela está encobrindo-A. Ao remover o véu, que é um processo negativo, vem a experiência intensamente positiva da percepção direta da Face de Brahman. E, por estranho que pareça, a Realidade está coberta com um véu dourado. O véu dourado tanto nos fascina e atrai que não estamos dispostos a removê-lo. Mas quem colocou esse véu dourado sobre a Face da Verdade? O véu foi na verdade lançado pelo pensamento, e o pensamento o teceu com o belo material que lhe foi suprido por sua própria experiência acumulada. O pensamento naturalmente lançou mão do melhor material disponível, ele crivou o véu com ouro e prata, com todas as joias que pôde encontrar em seu próprio depósito de riquezas. Mas o véu do pensamento precisa ser feito com material trazido do reino da continuidade. É essa tela de continuidade lançada pelo pensamento que oculta a face do Real que é para sempre Atemporal e, portanto, está fora do curso de continuidade da mente. Quando o véu das projeções da mente é removido, então aparece em toda sua majestade o Espírito Supremo."

(Rohit Mehta - O Chamado dos Upanixades – Ed. Teosófica, Brasília, 2003 - p. 30/31)

O CONHECIMENTO E A PERCEPÇÃO DIRETA

"13 - O conhecimento de um objeto é conquistado somente pela percepção, investigação ou instrução,¹ e não através de banhos purificadores, de dar esmolas ou de centenas de retenções da respiração [pranayamas].

COMENTÁRIO -O conhecimento é algo que decorre da percepção direta - o contato com a essência da 'coisa' em si. Para isso de nada servem os puros exercícios externos. O processo de onde decorre esse mergulho na Realidade transcendente não é lógico, nem decorre de ações puramente mecânicas. O Budismo Zen, ao mencionar Satori (Iluminação), está apontando para algo que está além da mente conceitual. Igual posição tem o Budismo da Terra Pura (Jodo Shinshu) quando menciona 'ocho' - o 'salvo transversal', súbito e direto para a coisa em si."

¹ Em outras traduções: "A convicção sobre a Verdade pode ser obtida através do raciocínio sobre os saudáveis conselhos de um sábio..." (N.E.)

(Viveka-Chudamani - A Joia Suprema da Sabedoria - Comentários de Murillo N. de Azevedo - Ed. Teosófica, Brasília, 2011 - p. 19/20)

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

CULTIVANDO UMA MENTE PACÍFICA

"A paz no ambiente onde se vive surge não pela submissão do mundo exterior, mas pela submissão da própria mente. A contribuição maior que um indivíduo pode fazer à causa da paz e da harmonia começa em casa. Se eu me tornar mais pacífico e amoroso, essas qualidades imediatamente se espalharão ao meu redor. O resultado é uma reação em cadeia que se expande sempre. 

Se, ao contrário, eu não cultivar uma natureza amorosa e compassiva, não poderei realmente contribuir para a paz na sociedade. Não importa o que eu diga em público ou quais sejam as minhas ações; nada do que eu faça em nome da paz terá qualquer significado enquanto o meu interior permanecer violento ou intolerante. 

Técnicas para desenvolver uma mente pacífica e amorosa foram preservadas e desenvolvidas em várias tradições budistas. Um escritor importante sobre o tema, na Índia clássica, foi Shantideva, cuja obra do século XVI, A Guide to the Bodhisattvas Way, ou Bodhisattva charya-avatara, é tão popular entre os instrutores budistas atuais quanto na época em que foi escrita há doze séculos. 

Shantideva afirma: ‘É impossível colocar o mundo em harmonia destruindo todos os seres maléficos que existem; mas, cobrindo a própria mente com a gentileza da paciência amorosa, o mundo inteiro torna-se harmonioso.’ (...) 

A importância da mente e da atitude mental é constantemente enfatizada na tradição budista. Shantideva indagou: ‘O que é a generosidade? Não é a ação de doar nem de afastar a pobreza. A perfeição da generosidade está na mente generosa, que deseja partilhar com os outros e vê-los livres de necessidades." 

(Glenn H. Mullin - A paz na visão budista - Revista Sophia, nº 26 – Pub. da Ed. Teosófica, Brasília - p. 39

APRENDA A ACESSAR UM PODER SUPERIOR (PARTE FINAL)

"Não preste atenção às agruras do caminho espiritual; elas nada são, uma vez que você tenha descoberto a paz interior, quando na meditação você esquece este corpo e este mundo. Quanta satisfação, que sensação de alegria e de perfeição do amor divino! Isso é o que Deus quer que todos vocês experimentem. Todos poderão compreender a sublime perfeição do amor de Deus se trabalharem para isso. Aqueles que experimentaram esse amor não são exceções; tiveram que se esforçar, como vocês precisam fazê-lo, para amar e conhecer a Deus. 

Faz-se esse esforço empenhando-se em conservar a mente fixa em Deus. Enquanto enfrenta os problemas que surgem a cada dia, ore interiormente: 'Senhor, se às vezes meu mar é escuro, sem estrelas no céu, ainda assim navego no rumo com Tua mercê.³ Faz o que quiseres fazer, comigo e com minha vida. Tudo o que sei é que Te amo. Ajuda-me a tornar o meu amor por Ti mais doce, perfeito sob todos os aspectos.' Que liberdade, que alegria isso traz! Tal relacionamento com Deus todos podem ter.

Não fiquem satisfeitos com nada menos do que o amor do Amado de suas almas. O amor Dele consome tudo, satisfaz completamente. A liberdade da alma surge quando você começa a conhecer-se como alma, unido ao único Amado, o divino Amante Cósmico, que é Deus."

(Sri Daya Mata - Só o Amor - Self-Realization Fellowship - p. 75/76)


terça-feira, 21 de janeiro de 2014

HERÓIS PACÍFICOS NO TIBETE

"Um dos mais populares heróis do folclore tibetano é um monge do século XI chamado Milarepa. Inúmeros episódios de sua vida são citados como evidência dos poderes do amor.

Um dia um caçador e seu cão saíram para caçar um veado. Na sua tentativa de escapar, o veado por acaso penetrou na campina onde Milarepa estava sentado em meditação. Observando sua profunda calma e sua aura de ternura, o exausto animal achegou-se e deitou-se ao seu lado, na esperança de encontrar refúgio. Momentos depois o cão caçador apareceu em cena, e também se deitou ao lado de Milarepa.

Finalmente chegou o caçador. Ele estava determinado a matar sua caça, mas, após um curto período na presença de Milarepa, ficou tão tocado pela santidade do sábio que fez voto de desistir para sempre do hábito cruel de matar animais. Pediu para ser aceito como discípulo e, pouco tempo depois, tornou-se um famoso iogue.

Outra figura budista popular é o terceiro Dalai Lama, que viveu no século XVI. Mesmo quando jovem, a fama de sua erudição e santidade tinham se espalhado por toda a Ásia. A notícia de sua grandeza chegou até os ouvidos de Altan Khan, o chefe guerreiro dos terríveis mongóis Tumed. Altan ficou intrigado pelo que ouvira falar desse famoso instrutor e o convidou a instruir o povo da Mongólia. O Dalai Lama chegou em 1578.

Sua sabedoria, compaixão e presença impressionaram o grande Khan, que pediu ao povo para abandonar a trilha de guerra e ódio, e em seu lugar cultivar o caminho da coexistência pacífica. Esse evento singular marcou o fim da era de terror que os mongóis infligiram a seus vizinhos da coreia e do Japão, no Oriente, e da Europa, no Ocidente. Dessa época em diante os habitantes da Mongólia têm seguido o legado espiritual que lhe foi passado pelo terceiro Dalai Lama."

(Glenn H. Mullin - A paz na visão budista - Revista Sophia, nº 26 – Pub. da Ed. Teosófica, Brasília - p. 39)


APRENDA A ACESSAR UM PODER SUPERIOR (1ª PARTE)

"O homem de mente materialista está sempre pensando em termos de dinheiro, casa, família ou outras responsabilidades e interesses; e as preocupações que os seguem! O homem espiritual pode ter as mesmas responsabilidades, mas ele as cumpre colocando a mente em um nível mais elevado de pensamento. Espiritualizando o pensamento, ele aprende a acessar um Poder Superior. Chega o tempo em que pode ir a qualquer lugar, misturar-se com qualquer pessoa, cumprir suas responsabilidades, e sua mente nunca descerá do plano da consciência divina. Cristo muitas vezes associou-se a 'publicanos e pescadores', a fim de ajudá-los, mas os pensamentos e ações deles não lhe rebaixaram a consciência. Como um cisne divino, ele deslizou intocado pelas águas da materialidade. Essa é a maneira como Gurudeva nos treinou a ser. Onde quer que esteja, fique sempre centrado interiormente, com a mente focalizada em sua estrela polar: Deus.

Os problemas que surgem diariamente nos dão a oportunidade de praticar a serenidade. Em vez de resistir, ficar aborrecidos e irritados e pensar que não estamos progredindo, deveríamos acolhê-los bem. Lembre-se disto: muitas vezes, o devoto faz o maior progresso no caminho espiritual quando está enfrentando terríveis obstáculos, quando está sendo forçado a empregar, até o limite, os músculos espirituais a fortaleza interior, da coragem e do pensamento positivo, para combater o assalto do negativismo, do mal ou da crueldade. Não é sempre que as coisas fluem facilmente que estamos crescendo. Naturalmente, todos nós prezamos aqueles dias em que as coisas vão bem; entretanto, tenho orado amiúde à Mãe Divina² para que me ponha à prova, porque desejo que meu amor por Ela seja incondicional. Não posso ficar satisfeita em Lhe oferecer qualquer coisa que não seja o amor perfeito. O devoto de Deus não quer fugir de nada. O aspirante pode ser imperfeito em muitos aspectos; ele não reivindica nenhuma perfeição, exceto uma: ele está se esforçando para aperfeiçoar seu amor por Deus. (...)"

² O aspecto pessoal de Deus que corporifica as qualidades maternais do amor e da compaixão.

(Sri Daya Mata - Só o Amor - Self-Realization Fellowship - p. 74/75)


segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

A PAZ NA VISÃO BUDISTA

"Durante a vida de Buda viveu também um assassino chamado Angulimala, ou ‘colar de polegares’. Ele era conhecido por esse nome porque de cada uma de suas vítimas arrancava um polegar, que usava num cordão em volta do pescoço.

Buda ouviu falar de Angulimala e decidiu trazê-lo para o caminho da paz. Nessa época dizia-se que Angulimala roubara e matara quase mil pessoas, e que seu colar continha 999 polegares humanos.

Para encontrar Angulimala face a face, Buda seguiu sozinho e a pé através da floresta onde se acreditava que o perigoso criminoso se escondia. Angulimala o viu aproximar-se. Ele saltou por detrás de Buda com um porrete na mão e tentou atingi-lo. O sábio, no entanto, tinha antecipado o movimento e destramente evitou o golpe. O ataque continuou durante longo tempo, mas Buda permaneceu destemido, com os olhos fixos no atacante, mantendo-se o tempo todo fora do seu alcance.

Finalmente Angulimala ficou tão exausto que caiu ao chão. Buda sentou-se ao seu lado, colocou a mão amorosamente no seu ombro e lhe falou de maneira consoladora. O aturdido criminoso começou a chorar violentamente, pois jamais alguém mostrara amor por ele antes. Eles permaneceram sentados durante horas, o corpo de Angulimala tremendo com soluços incontroláveis.

Essa experiência de compaixão transformou o criminoso completamente. Ele pediu a Buda que lhe ordenasse monge e que lhe permitisse viver com a comunidade Sangha. O Buda aceitou. Angulimala adotou as práticas de meditação e autopurificação."

(Glenn H. Mullin - A paz na visão budista - Revista Sophia, nº 26 – Pub. da Ed. Teosófica, Brasília - p. 39)


UMA MENTE LIVRE

"A criança cresce apegada a seus pais; cresce numa família e numa certa sociedade. Ela chama isso de ‘minha casa, minha religião, minha família’, e sente-se segura. Esse é um processo natural, mas que cerceia o pensamento, porque está o tempo inteiro preocupado em assegurar o lucro, em beneficiar a mim e àquilo que chamo de meu, que é a essência do processo egoico.
  
Consigo ver o perigo dessa armadilha? Se não consigo, meu processo mental não mais é livre para investigar; ele está o tempo todo buscando justificar o ‘eu’ e o ‘meu’. Isso significa que, enquanto estou buscando lucro ou satisfação, não estou buscando a verdade. Portanto, embora seja muito fácil dizer ‘sou um buscador da verdade’, estamos, de uma forma ou de outra, apenas buscando satisfação.

Poderá a paixão pelo aprendizado ser tão forte que consiga superar o instinto de buscar o prazer e evitar a dor? A verdade pode ferir. Ela sempre vem com uma revelação, com uma desilusão. Para alguém que vive numa ilusão confortável, a verdade choca. A não ser que desejemos enfrentar a dor psicológica, e talvez também a dor física, não podemos seriamente dizer que estamos em busca da verdade.

A mente diz que ‘tudo isso tem sentido para Buda, eu não sou um Buda, eu sou um homem comum’, e assim continua. Mas, se continuarmos assim, não temos o direito de reclamar da violência nem das guerras, porque tudo isso é consequência do modo egoísta de viver. Perceber isso é perceber também que toda desordem e toda divisão resultam da ilusão."

(P. Krishna - Novas Maneiras de ver o Mundo - Revista Sophia, Ano 7, nº 25 - Pub. da Ed. Teosófica, Brasília - p. 09)