OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


sexta-feira, 30 de junho de 2017

A PROMESSA DE ILUMINAÇÃO (PARTE FINAL)

"(...) Pelo fato de que em nossa cultura supervalorizamos o intelecto, imaginamos que tornar-se iluminado exige uma inteligência excepcional. Na realidade, vários tipos de agilidade mental não são mais do que obscurecimentos ainda maiores. Há um provérbio tibetano que diz: 'Se você é muito esperto, pode deixar de ver inteiramente o ponto básico'. Como disse Patrul Rinpoche: 'A mente lógica parece interessante, mas ela é a semente do engano e da ilusão'. As pessoas podem ficar obcecadas com as suas próprias teorias e deixar de ver o ponto básico de tudo. Dizemos, no Tibete: 'As teorias são como remendos num casaco, um dia se desfazem'. Deixe-me contar-lhe uma história animadora:

Um grande mestre do século passado tinha um discípulo que era muito obtuso. O mestre ensinou-lhe as mesmas coisas muitas e muitas vezes, tentando introduzi-lo à natureza da sua mente, mas foi inútil. Afinal, o mestre ficou furioso e lhe disse: 'Olhe, quero que leve esse saco de cevada até o alto daquela montanha ali. Mas você não deve parar para descansar. Continue simplesmente subindo até chegar ao alto'. O discípulo era um homem simples, mas possuía uma inabalável devoção e confiança em seu mestre, de modo que fez exatamente como lhe foi recomendado. O saco era pesado; pegando-o, partiu montanha acima, não ousando parar. Simplesmente seguiu e seguiu. O saco foi ficando cada vez mais pesado. Demorou um tempão. Por fim, ao chegar ao alto da montanha ele jogou o saco no chão. Atirou-se no chão, dominado pela exaustão mas profundamente relaxado. Sentia o ar fresco da montanha em seu rosto. Toda sua resistência se dissolvera, e com ela sua mente ordinária. Tudo parecia ter parado. Naquele exato instante ele, de súbito, obteve a realização da natureza de sua mente. 'Ah, era isso que meu mestre esteve me mostrando todo o tempo', pensou. Desceu correndo a montanha e, contrariando todas as convenções, invadiu o quarto do mestre.
- Acho que agora pesquei... Pesquei mesmo!'
Seu mestre lhe sorriu como quem sabe das coisas: 'Então a subida da montanha foi interessante, não foi?'

Você também, seja quem for, pode ter a experiência que o discípulo teve no alto da montanha e é essa experiência que lhe dará a coragem para transpor a vida e a morte. Mas qual é a melhor, mais rápida e mais eficiente maneira de chegar a isso? O primeiro passo é a prática da meditação. É a meditação que lentamente purifica a mente ordinária, desmascarando e exaurindo seus hábitos e ilusões, de maneira que possamos, no momento certo, reconhecer quem de fato somos."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 83/84

quinta-feira, 29 de junho de 2017

A PROMESSA DE ILUMINAÇÃO (2ª PARTE)

"(...) A iluminação, como já disse, é real; cada um de nós, seja quem for, pode nas circunstâncias certas e com o treinamento adequado realizar a natureza da mente, e assim conhecer em si mesmo o que é imortal e eternamente puro. Essa é a promessa de todas as tradições místicas do mundo, e ela foi e está sendo cumprida em milhares e milhares de vidas humanas.

Essa promessa é ainda mais maravilhosa porque não se trata de alguma coisa exótica ou fantástica, nem para uma elite, mas para toda a humanidade. E quando nós a realizamos, dizem os mestres, é inesperadamente comum. A verdade espiritual não é algo elaborado e esotérico, mas é um profundo bom senso. Quando você tem a realização da natureza da mente, camadas de confusão são removidas. Você de fato não 'se torna' um buda, mas simplesmente deixa pouco a pouco de viver no engano e na ilusão. E ser um buda não é ser um onipotente super-homem espiritual, mas tornar-se um verdadeiro ser humano.

Uma das maiores tradições budistas chama a natureza da mente de 'a sabedoria do ordinário'. Por mais que se diga, não é o bastante: nossa verdadeira natureza e a natureza de todos os seres nada têm de extraordinárias. A ironia é que este mundo que chamamos de ordinário é que é extraordinário, uma alucinação fantástica e complexa da visão enganosa do samsara. É essa visão 'extraordinária' que nos deixa cegos para a natureza 'ordinária', natural e inerente da nossa mente. Imagine se os budas estivessem olhando agora para nós, aqui embaixo: como eles se admirariam, com tristeza, da letal engenhosidade e complexidade da nossa confusão!

Às vezes, porque somos tão desnecessariamente complicados, quando a natureza da mente é introduzida por um mestre ele parece simples demais para que acreditemos nela. Nossa mente ordinária nos diz que não pode ser, que deve haver alguma coisa a mais do que isso. Com certeza deve ser alguma coisa mais 'gloriosa', com luzes fulgurando no espaço ao nosso redor, anjos de cabelos doirados esvoaçantes vindo ao nosso encontro e a voz profunda de um Mágico de Oz anunciando: 'Agora você foi introduzido à natureza da sua mente'. Não há esse drama todo. (...)"

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 82/83

quarta-feira, 28 de junho de 2017

A PROMESSA DE ILUMINAÇÃO (1ª PARTE)

"No mundo moderno há poucos exemplos de seres humanos que encarnam as qualidades que advêm da realização da natureza da mente. Então nos é difícil até imaginar a iluminação ou as percepções de um ser iluminado, e mais ainda começar a pensar que nós mesmos podemos nos tornar iluminados.

Apesar da jactância com que celebra o valor da vida humana e da liberdade individual, nossa sociedade nos trata como indivíduos obcecados pelo poder, o sexo e o dinheiro, que precisam ser constantemente afastados de todo contato com a morte ou com a vida real. Se nos falam ou começamos a suspeitar de nossa profunda potencialidade, não podemos crer nela. E se imaginamos de algum modo a transformação espiritual, nós a vemos como sendo possível apenas para os grandes santos e mestres espirituais do passado. O Dalai Lama fala frequentemente na falta de verdadeiro amor próprio e respeito por si mesmo que vê em muita gente no mundo moderno. Subjacente a toda a nossa perspectiva há uma convicção neurótica das nossas próprias limitações. Isso nos nega toda esperança de despertar e contradiz de maneira trágica a verdade central dos ensinamentos do Buda: a de que já somos todos essencialmente perfeitos.

Mesmo se pensássemos na possibilidade de iluminação, um simples olhar para aquilo que compõe a nossa mente comum - raiva, cobiça, ciúme, rancor, crueldade, luxúria, medo, angústia e confusão - minaria para sempre toda esperança de alcançá-la, se não nos tivessem falado sobre a natureza da mente e sobre a possibilidade de vir a realizar essa natureza que está para além de toda dúvida.

Mas a iluminação é real, e ainda há mestres iluminados na terra. Se você encontra um deles, será sacudido e tocado no fundo do seu coração, e perceberá que todas as palavras tais como 'iluminação' e 'sabedoria', que você pensou serem só ideias, são de fato verdades. Apesar de todos os seus perigos, o mundo de hoje é também muito empolgante. A mente moderna está se abrindo lentamente para diferentes visões da realidade. Pode-se ver na televisão grandes mestres como o Dalai Lama e Madre Teresa de Calcutá; muitos mestres do Oriente agora visitam e ensinam no Ocidente, e livros de todas as tradições místicas estão ganhando um número cada vez maior de leitores. A situação desesperada do planeta está despertando as pessoas para a necessidade de transformação em escala global. (...)"

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 81/82

terça-feira, 27 de junho de 2017

A PAZ NASCE DA MANSUETUDE

"O Chefe de Estado que obedece a Tao
Não tenta dominar com violência,
Porque sabe que toda a violência
Recai sobre o próprio violento.
Nos campos de batalha,
Só medram espinhos e cardos.
Guerras geram angústias e miséria.
Por isto, o sábio vive sem armas,
Não obriga ninguém com violência,
Não conhece ambição nem glória,
Não alimenta presunção alguma,
Nem aspira ao poder.
Faz o que deve fazer,
Mas sem forçar ninguém.
Ele conhece o ritmo da evolução,
Sabe que tudo falha
Quando contradiz às leis da vida,
Porque todas as ilusões
Depressa se dissipam.

EXPLICAÇÃO: (...) Uma guerra justa não é essencialmente melhor do que uma guerra injusta, porque ambas têm por base a egoidade humana, que em si mesma é um fator negativo.

Quando se trata da alternativa de 'matar ou morrer', o ego opta pela primeira e a justifica, porque, para ele, morrer é deixar de existir, ao passo que, para o Eu divino no homem, morrer não é deixar de existir, e morrer para não matar equivale a existir melhor e mais verdadeiramente.

Mas o ego, essencialmente ilusório, não pode compreender tão grande verdade. O ego só conhece 'o direito', que é sinônimo de egoísmo, ao passo que o Eu se guia pela 'justiça', homônimo de verdade e amor, incompatíveis com o direito, como a luz é incompatível com a treva."

(Lao-Tse - Tao Te King, O Livro Que Revela Deus - Tradução e Notas de Huberto Rohden - Fundação Alvorada para o Livro Educacional, Terceira Edição Ilustrada - p. 89/90)


segunda-feira, 26 de junho de 2017

SABEDORIA NA PRÁTICA (PARTE FINAL)

"(...) Quando governo ou gerencio com efetividade, tenho como objetivo a melhoria na qualidade de vida das pessoas em primeiro lugar. Isso, no entanto, começa comigo. Estar bem comigo mesmo é condição para ser capaz de gerenciar com eficiência e qualidade. Não quero que as pessoas se impressionem com minhas palavras, quero estar satisfeito com minha vida para ser capaz de servi-las com integridade. Quem não respeita esse princípio pode até ser cheio de conhecimento, mas tem pouco autoridade no servir e vive uma relação interna esquizofrênica, frustrada e inquieta.

Vejo um profissional sábio quando enxergo a admiração de seus colaboradores, a serenidade de seus negócios, o sorriso de seus amigos, o cuidado de seus afetos, o acolhimento aos seus clientes. Há um ditado que diz: 'Tua vida me impede de crer no que dizes.' Sabedoria é ver no exterior meu mundo interior e melhorar meu mundo interior se o exterior não me traz felicidade. É ter menos papo e fazer aquilo que se propõe.

Terceio, ser sábio tem a ver com gratidão. A sabedoria revela-se no modo como sou grato porque vejo no outro a possibilidade de aprender. Salomão dá mais presentes à rainha de Sabá do que aqueles que dela recebeu. Ele entende que não se estava estabelecendo ali uma relação comercial. Sabedoria tem a ver com prazer da convivência. É nessa perspectiva que os demais interesses devem se pautar. Se tenho isso em mente, atendo melhor, produzo com qualidade, comercializo com honestidade, honro meus compromissos, relaciono-me com sinceridade, gerencio com integridade, meu ganho é justo e dele não me envergonho, e aprendo sempre.

É esse tipo de sabedoria que está faltando para que o que sabemos faça mais sentido prático na nossa vida e na vida daqueles que nos cercam."

(Homero Reis - Sabedoria, a competência perdida - Revista Sophia, Ano /10, nº 39 - p. 14/15)


domingo, 25 de junho de 2017

SABEDORIA NA PRÁTICA (2ª PARTE)

"(...) Primeiro, ser sábio significa ter um tipo de sabedoria capaz de organizar a vida e não apenas as ideias. Tem gente que consegue explicar tudo, falar sobre tudo, refletir exaustivamente sobre as coisas, mas não consegue realizar nada. Ou, na melhor hipótese, tem uma realização sofrida e angustiada. Tomar consciência disso e organizar a vida é um propósito sábio. A sabedoria não pretende encher nossas mentes de ideias e conhecimentos, mas abri-la para ver nossa coerência.

A rainha viu a coerência nas pessoas e nas coisas que cercavam Salomão. A vida real era um reflexo de sua vida interior e um convite ao aprendizado. O que Salomão falava estava presente no modo como vivia seu reino e como conduzia seu povo. O exemplo de vida e a vida exemplar lhe concediam a autoridade necessária para gerir com sucesso. Essa ideia nos mostra que a competência nas relações executivas não pode ser excludente das competências na vida privada e relacional.

Conheço vários executivos, 'cheios de sucesso' na vida profissional, cuja vida afetiva, familiar e emocional estão a ponto de explodir. Vidas sustentadas por doses diárias de antidepressivos, cuja intimidade mostra uma confusão totalmente antagônica ao aparente sucesso profissional. Autoridade se dá quando as pessoas conseguem enxergar o que eu falo, quando meus atos são reflexo das coisas em que creio, e isso tudo envolvido em qualidade de vida. 

Ser sábio significa ter um tipo de sabedoria que ajuda o outro a ser feliz a partir da própria felicidade. Essa é a razão pela qual nos relacionamos, trabalhamos, produzimos e nos reproduzimos - ser e fazer outros felizes. A rainha viu como eram felizes aqueles que se relacionavam com Salomão, suas esposas, seus servos, seus colaboradores e funcionários. Salomão não tinha o trabalho como um fim e si mesmo, mas como o modo pelo qual poderia melhorar a vida de seu reino e de sua comunidade. Não via o conhecimento que adquirira como algo desconectado de suas relações. Quando o saber encontra o outro, revela o que sou capaz de fazer para melhorar a mim mesmo e ao outro. (...)"

(Homero Reis - Sabedoria, a competência perdida - Revista Sophia, Ano /10, nº 39 - p. 14)


sábado, 24 de junho de 2017

SABEDORIA NA PRÁTICA (1ª PARTE)

"Cada época revela pessoas que se tornam ícones para a sua geração e as gerações futuras. São pessoas que inspiram por seus feitos, personalidade, genialidade... Enfim, inspiram porque são diferenciadas. Salomão foi o mais sábio dos governantes em todos os tempos. Sua vida é fonte de inspiração.

Transcrevo aqui um trecho da vida desse rei: 'Tendo a rainha de Sabá ouvido a fama de Salomão, veio prová-lo com perguntas difíceis. Chegou a Jerusalém com grande comitiva, camelos carregados de especiarias, muitíssimo ouro e pedras preciosas... Salomão lhe deu resposta a todas as perguntas e nada houve que não soubesse explicar. A rainha de Sabá, vendo toda a sabedoria de Salomão, o palácio que construiu, a comida de sua mesa, a casa de seus oficiais, o serviço de seus criados e as roupas deles e seus copeiros, (...) ficou perplexa e disse ao rei: 'Foi verdade a palavra que ouvi a teu respeito. Eu, contudo, não cria até que vim e vi com meus próprios olhos. E o que me contaram não é nem a metade de tudo o que vi e ouvi aqui. Felizes são teus empregados e todos aqueles que convivem contigo.' Salomão presenteou a rainha de Sabá com muitos presentes, mais do que ela lhe havia ofertado, e atendeu abundantemente a todos os seus desejos.'

Um dos princípios chave para entender a sabedoria é a sua efemeridade. Quem a julga ter já a perdeu, e quem a busca encontra-a na própria busca. Sabedoria não é um destino; é antes um caminhar. o sábio deseja continuar a jornada cada vez mais, suavemente e em equilíbrio de vida. No entanto, para isso, acerca-se de um tipo de sabedoria muito necessária àqueles que desejam ser governantes e gestores efetivos. Num sentido amplo, a sabedoria é contagiante e expansiva. A rainha de Sabá saiu de sua terra e vai ao encontro de Salomão, atraída por aquilo que ouviu sobre ele. A fama do rei transbordou o limite de seu reino e gera admiração.

Até então, ela tinha o conhecimento dos fatos atribuídos a Salomão, que, de tão extraordinários, requeriam que fossem vistos. Desse encontro, impressiona-me alguns detalhes que fazem a diferença na qualidade do governo e da gestão. Salomão manifesta um tipo de sabedoria capaz de objetivar-se na vida. Não é um concurso de palavras e frases maravilhosas, é uma vida que se pode observar, que inspira e contagia. (...)"

(Homero Reis - Sabedoria, a competência perdida - Revista Sophia, Ano /10, nº 39 - p. 14)


sexta-feira, 23 de junho de 2017

PURIFICAÇÃO (3ª PARTE)

"(...) Depois desse momentâneo relancear de olhos, nunca mais aquele peregrino será o mesmo, porque embora apenas por um instante, compreendeu quais eram a meta e a finalidade. Viu o ápice rumo ao qual está galgando, e viu também o caminho íngreme, mas muito mais curto, que sobe diretamente do flanco da montanha até o lugar onde o templo resplandece. Compreende, naquele momento, que a estrada tem um nome - 'serviço' - e que os que enveredam pelo caminho mais curto devem entrar através de uma porta, onde as palavras 'Serviço do Homem' estão brilhando com letras douradas. A Alma compreende que, antes de poder alcançar pelo menos o Pátio Externo do Templo, deve passar através daquela porta e compreender que a vida é feita para o serviço e não para a autoprocura, que a única maneira de subir mais rapidamente é fazê-lo por amor dos retardatários, a fim de que o auxílio mais eficaz, vindo do Templo, possa ser enviado ao encontra dos que vêm subindo, o que de outra forma não seria possível. 

Essa visão não passou de um vislumbre fugaz, foi apenas um rápido olhar ziguezagueante, porque os olhos foram colhidos por um único dos raios de luz dimanados do alto da montanha. Há tantas coisas atraentes dispersas ao longo daquela estrada em espiral, que o relancear dos olhos da Alma facilmente se deixa atrair para elas. Mas, uma vez recebida aquele cintilação, existe a possibilidade de a alma obtê-la de novo, com maior facilidade. Quando a meta procurada, o dever e o poder do serviço lograram essa momentânea e imaginativa compreensão da Alma permanece ali o desejo de trilhar uma senda mais curta e encontrar o caminho que leve diretamente, pelo flanco da montanha, ao Pátio Externo do Templo.

Após aquela primeira visão, a Alma é visitada amiúde pelos raios de luz, cujo brilho vai se tornando cada vez mais intenso. Vemos que essas Almas, que apenas por um momento reconheceram que há um escopo, um propósito na vida, começaram a subir com maior resolução do que suas semelhantes. Embora ainda estejam dando voltas em torno da montanha, observamos que começam a agir com maior firmeza no que se refere às virtudes, e que se dedicam com maior persistência ao que reconhecemos como religião, essa religião que se esforça por ensinar-lhes como podem subir, e como o Templo pode finalmente ser alcançado. (...)"

(Annie Besant - Do Recinto Externo ao Santuário Interno - Ed. Pensamento, São Paulo 1995 - p. 11/13)


quinta-feira, 22 de junho de 2017

PURIFICAÇÃO (2ª PARTE)

"(...) A marcha se nos afigura muito lenta porque eles não veem seu ponto de chegada, a sua meta, e não percebem em que direção estão viajando. Observando alguns caminhantes, vemos que estão sempre se desviando para os lados, atraídos para cá e para lá, sem qualquer propósito em seu caminhar. Não andam diretamente para a frente, atentos ao que fazem, mas perambulam, como crianças, correndo atrás de uma flor ali, tentando apanhar uma borboleta acolá. Assim, temos a impressão de que todo seu tempo é desperdiçado, e apenas um pequeno avanço chega a ser consquistado quando a noite cai sobre eles e o dia de marcha termina. 

Não parece sequer que o próprio progresso intelectual, lento como também é, torne o passo mais rápido. Quando observamos aqueles cujo intelecto é escassamente desenvolvido, eles dão a impressão de que, depois de cada dia vivido, mergulham no sono e dormem quase que no mesmo lugar que ocuparam na noite anterior. E quando voltamos os olhos para aqueles que se mostram mais altamente evoluídos, no que se refere ao intelecto, também esses estão viajando devagar, muito devagar, e a cada dia de vida parecem fazer pequeno progresso. Olhando assim para eles, nosso coração sente-se fatigado com aquela subida, e ficamos a pensar por que não erguem os olhos e entendem em que direção seu caminho os está levando. 

Agora, o Pátio Externo, que alguns dos caminhantes da vanguarda estão alcançando, aquele Pátio Externo do Templo, dá a impressão de que pode ser atingido não apenas pelo caminho circulante, volta por volta, tão longo em torno da montanha, mas também por caminhos mais curtos que não a circundam, mas que podem ser escalados diretamente pelos flancos, se o coração do viajante for corajoso e suas pernas se mostrarem resistentes. Ao tentar ver como os homens encontram um caminho mais rápido para o Pátio Externo do que aquele que vem sendo trilhado por seus companheiros de viagem, parece que percebemos que o primeiro passo é dado para fora dessa longa espiral quando alguma Alma, que talvez por milênios tenha estado viajando volta por volta, compreende, pela primeira vez, o propósito da viagem, e vislumbra, por um momento, uma cintilação vinda do Templo, lá do ápice. Porque aquele Templo branco envia raios de luz sobre os flancos da montanha. De vez em quando um viajante levanta os olhos, afastando-os das flores, das pedrinhas e das borboletas que estão pelo caminho, e aquele cintilação atrai o seu olhar. Olha para cima, para o Templo, e, por um momento, ele o vê. (...)"

(Annie Besant - Do Recinto Externo ao Santuário Interno - Ed. Pensamento, São Paulo 1995 - p. 9/11)

quarta-feira, 21 de junho de 2017

PURIFICAÇÃO (1ª PARTE)

"Se nos fosse possível colocar-nos, em pensamento, num centro do espaço, do qual pudéssemos ver o curso da evolução, e estudar a história da nossa cadeia de mundos, tal como podem ser vistos pela imaginação mais do que pelo aspecto que apresentam, poderíamos interpretar o todo num quadro. Vejo uma grande montanha situada no espaço, com um caminho que vai girando em torno dela até atingir seu ápice. As voltas que esse caminho dá são sete, e em cada volta há sete estações onde os peregrinos ficam durante algum tempo. Dentro dessas estações eles têm de subir, volta por volta. Quando traçamos o caminho que sobe por aquela trilha em espiral, vemos que ele termina no topo da montanha, e leva a um majestoso Templo, como que feito de mármore, de uma brancura radiante, e que ali se ergue, cintilando contra o azul etéreo.

Esse Templo é a meta da peregrinação, e os que estão no seu interior terminaram o seu percurso - no que se refere à montanha - e ali permanecem apenas para auxiliar os que ainda estão subindo. Se observarmos o Templo mais atentamente, constataremos, ao tentar ver a sua construção, que ele tem, ao centro, um Santo dos Santos. Em torno desse centro estão os quatro Pátios, circundando o Santo dos Santos como círculos concêntricos. Todos estão dentro do Templo.

Uma parede separa cada Pátio do que lhe é contíguo, e para passar de um Pátio para o outro o caminhante deve atravessar uma porta, apenas uma em cada parede circundante. Assim, todos os que alcançarem o centro terão de passar por aquelas quatro portas, uma por uma. Fora do Templo ainda há outro recinto fechado - o Pátio externo - e esse Pátio acolhe muitos peregrinos, mais do que os que estão dentro do Templo propriamente dito. 

Olhando para o Templo e para os Pátios, e para o caminho que sobe em espiral pela montanha, vemos esse quadro da evolução humana e a trilha ao longo da qual a raça está caminhando, bem como o Templo, que é a sua meta. Ao longo daquele caminho que dá voltas à montanha, vasta massa de seres humanos vai de fato subindo, mas subindo vagarosamente, passo por passo. Às vezes, tem-se a impressão de que cada passo para a frente corresponde a um passo para trás, e embora a tendência de toda aquela massa seja para subir, a ascensão é tão lenta que os passos mal se fazem perceptíveis. Essa evolução eônica da raça, subindo sempre, parece tão lenta, extenuante e dolorosa que nos perguntamos como podem os peregrino ter ânimo para subir durante tanto tempo. Dando voltas à montanha, milhões de anos se passam, e na marcha de milhões de anos o peregrino segue. Enquanto ele caminha por ali durante esses milhões de anos, uma infindável sucessão de vidas parece passar, todas despendidas na subida. Cansamo-nos só de observar as imensas multidões subindo tão lentamente, caminhando, volta por volta, na escalada daquela estrada em espiral. Observando-as, indagamo-nos: 'Por que sobem com tanto vagar? Por que esses milhões de homens empreendem uma viagem tão longa? Por que se esforçam para alcançar aquele Templo situado lá no ápice?' (...)"

(Annie Besant - Do Recinto Externo ao Santuário Interno - Ed. Pensamento, São Paulo 1995 - p. 7/9)


terça-feira, 20 de junho de 2017

O CARMA (PARTE FINAL)

"(...) Embora o resultado das nossas ações possa ainda não ter amadurecido, ele inevitavelmente virá quando se apresentarem as condições certas. Via de regra esquecemos o que fazemos e os resultados só nos atingem muito depois. E aí somos incapazes de ligá-los com suas causas. Imagine uma águia, diz Jikmé Lingpa. Voando alto no céu. Ela não faz sombra, e de fato nada revela sua presença. Então, de repente, ela avista sua presa e mergulha, célere, até o chão. No instante em que desce, sua sombra ameaçadora se revela. 

Os resultados de nossas ações aparecem comumente com atraso, até mesmo em futuras vidas; não podemos apontar uma causa porque cada evento pode ser uma soma extremamente complexa de muitos carmas amadurecendo juntos. Por isso, em nossos dias, tendemos a acreditar que as coisas nos acontecem 'por acaso', e quando tudo vai bem é simplesmente porque 'temos sorte'. 

Entretanto, o que mais, além do carma, pode explicar de modo satisfatório as diferenças extremas e extraordinárias entre todos nós? Ainda que tenhamos nascido na mesma família ou no mesmo país, ou em circunstâncias parecidas, todos temos personalidades diferentes, coisas totalmente diferentes nos acontecem e temos diferentes talentos, inclinações e destinos.

Como disse o Buda: 'O que você é, é o que você foi; o que será, é o que você faz agora'. Padmasambhava ia mais adiante: 'Se deseja conhecer sua vida passada, olhe para sua condição presente. Se quer conhecer sua vida futura, olhe para suas ações presentes'."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 129/130

segunda-feira, 19 de junho de 2017

O CARMA (1ª PARTE)

"Na segunda vigília da noite em que o Buda atingiu a iluminação, ele ganhou outro tipo de conhecimento que completou o que havia aprendido sobre o renascimento: o conhecimento sobre o carma, a lei natural de causa e efeito.

'Com o olho divino, purificado e situado além do alcance da visão humana, vi como os seres desaparecem e voltam a ser outra vez. Vi alto e baixo, brilhante e insignificante, e como cada um deles obtém, de acordo com seu carma, um renascimento favorável ou doloroso.'¹⁵

A verdade e a força propulsora que estão por trás do renascimento são o que se chama de carma. Frequentemente o carma é compreendido de modo totalmente errôneo no Ocidente, confundido com destino e predestinação; melhor seria entendê-lo como a infalível lei de causa e efeito que governa o universo. A palavra carma significa literalmente 'ação', e carma é tanto o poder latente que existe dentro das ações quanto os resultados que nossas ações trazem.

Há muitas espécies de carma: carma internacional, carma nacional, o carma de uma cidade, o carma individual. Todos estão intrincadamente relacionados e só podem ser entendidos na sua total complexidade por um ser iluminado.

Em palavras simples, o que significa carma? Significa que o que quer que façamos com nosso corpo, nossa fala ou nossa mente terá sempre um resultado correspondente. Cada ação, mesmo a menor delas, está prenhe de suas consequências. Os mestres costumam dizer que mesmo um pequeno veneno pode matar, e até uma sementinha pode transformar-se em uma grande árvore. Como disse o Buda: 'Não faça vista grossa às ações negativas só porque elas são pequeninas; por menor que seja a faísca, pode queimar um monte de feno do tamanho de uma montanha'. O Buda disse também: 'Não despreze as pequenas boas ações pensando que elas não ajudam em nada; mesmo pequenas gotas de água, no final, enchem o jarro'. O carma não se desgasta, como as coisas externas, e jamais se torna inoperante. Não pode ser destruído 'pela água, pelo fogo, pelo tempo'. Seu poder nunca cessa, até que amadureça. (...)"

¹⁵ H.W. Schumann, The Historical Buddha, 55.

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 128/129www.palasathena.org


domingo, 18 de junho de 2017

VIRTUDE

"Quando usamos a palavra 'virtude', qual é nosso conceito a seu respeito? Comumente ocorre-nos uma fórmula, princípio ou preceito ao qual precisamos adptar-nos. Ao procedermos desta maneira, sempre há uma lacuna entre aquela fórmula, que é o ideal, e a realidade, e isto passa a ser uma causa de conflito para a pessoa. O ideal pode ser verdadeiro, não apenas em palavras, mas também em conduta e pensamento. Se não se consegue alcançá-lo, a menos que se ame a verdade pelo que em si significa, sem um eu na busca do êxito, um sentido de realização e boa opinião de si mesmo, certamente haverá insatisfação, e isto poderá até mesmo ser transferido ao ideal. Tal insatisfação poderá conduzir a um questionamento do próprio ideal ou até mesmo resultar em uma revolta contra ele. Podemos notar este tipo de reação no caso de uma pessoa que deseja abrir mão de algo a que se sente fortemente vinculado, mas acha difícil fazê-lo. Depois de algum tempo, poderá até parecer-lhe que é bom entregar-se à fraqueza em determinada medida, pois alivia tensões, conduz a boas relações e assim por diante. 

A virtude pode ser considerada sob outro prisma, não como conformação a uma regra ou princípio que é colocado diante de nós e que aceitamos por uma ou outra razão, mas como a expressão espontânea e livre de uma natureza ou ser básico puro que se encontra em cada homem, uma natureza que é incorrupta e, de fato, incorruptível. Quando aquela natureza passa a agir, a forma pela qual age é em si mesma o caminho da virtude. É esta virtude que Lao-Tsé, o grande filósofo chinês, expõe em seu famoso clássico, mas ela requer um claro insight para que seja vista como um fato. Para nós a questão é a seguinte: Será que vislumbramos a existência de uma tal natureza em nós próprios como uma possibilidade? Se esta possibilidade existe, então, referindo-nos à virtude em geral ou às virtudes, todas elas são caminhos ou formas de ação assumidas pela energia que se origina daquela natureza pura, para sempre incondicionada, não modificada por qualquer influência exterior."

(N. Sri Ram - Em Busca da Sabedoria - Ed. Teosófica, Brasília, 1991 - p. 42/43)


sábado, 17 de junho de 2017

ADMINISTRAÇÃO DO TEMPO

"Tempo dedicado a nós mesmos, tempo dedicado ao próximo, tempo dedicado a Deus, tempo dedicado ao repouso - eis os quatro itens essenciais à boa administração de nossas vidas.

Os ignorantes, egoístas e materialistas empenham quase todo o tempo no preenchimento de seus desejos de posse e prazer. Até o repouso é visto como algo que atrapalha, que impõe suspensões inoportunas ao trabalhar e ao gozar. Tempo para Deus... absolutamente nenhum. Tempo para o próximo? Que é isto?! O próximo é aquele que estiver ao alcance da mão para ser explorado como um meio de se ganhar mais e mais intensamente curtir.

Que desequilíbrio!

Infelizmente, é o que mais se encontra.

Você não é desses... Ou é?!

Senhor, com Teu infinito Poder, muda tais pessoas, salvando-as das 'trevas exteriores'."

(Hermógenes - Deus investe em você - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1995 - p. 35/36)


sexta-feira, 16 de junho de 2017

O MEDO CESSA PELO CONTATO COM DEUS

"O medo persegue-o constantemente. E só se extingue pelo contato com Deus, nada mais. Por que esperar? Por meio da Ioga, você pode ter a comunhão com Ele. A Índia tem algo a dar, algo que nenhuma outra nação jamais ofereceu. Devo tudo a meu guru, Swami Sri Yukteswar; ele foi um mestre em todos os sentidos. Seguindo sua sabedoria, pude ter êxito em minha missão no Ocidente. Ele disse: 'Tudo o que fizer, procure fazê-lo como ninguém antes o fez'. Se você se lembrar desse pensamento, terá êxito. A maioria das pessoas imita outras. Você deve ser original, e o que quer que faça, faça-o bem. A natureza inteira comunga conscientemente com você quando está em sintonia com Deus.

Frequentemente pensamos em nós mesmos primeiro, mas deveríamos sempre incluir os outros em nossa felicidade. Assim agindo, com toda a bondade de nossos corações, difundimos um espírito de consideração recíproca. Se, em uma comunidade de mil pessoas, todos procedessem assim, cada um teria 999 amigos. Mas se nessa comunidade, cada um agisse como inimigo do outro, teria 999 inimigos.

Conquistar os corações alheios pelo poder do amor é a maior vitória que se pode alcançar na vida. Procure sempre considerar primeiro os outros e descobrirá o mundo inteiro a seus pés. Foi essa a grandeza de Jesus. Ele viveu e morreu por todos. Homens de grande poder material que vivem exclusivamente para si mesmos são logo esquecidos, mas os que vivem totalmente para os outros são lembrados para sempre. O Rei dos Reis não teve um trono de ouro, durante sua breve passagem pela terra; mas ele tem reinado por vinte séculos, em um trono de amor, nos corações de milhões de pessoas. É o melhor trono que se pode ter."

(Paramahansa Yogananda - A Eterna Busca do Homem - Self-Realization Fellowship - p. 95/96)


quinta-feira, 15 de junho de 2017

VOTO DO SILÊNCIO

"Algumas pessoas avançadas adotam mounam, isto é, o voto do silêncio. Para que serve? O que é exatamente mounam?

A iluminação da alma é mounam. Como pode então haver mounam sem o Atma (Espírito Divino) estar iluminado? Sem isto, meramente manter a boca fechada não é silêncio. Alguns adotam o voto de silêncio, mas se comunicam por escrever em papel ou lousa ou por apontar para as letras do alfabeto sobre um cartão. Tudo isso é pseudo-mounam. É somente uma outra forma de falar sem interrupção! Não é preciso atingir o silêncio. Ele está sempre com você. O que você tem de fazer é somente remover tudo que o perturba.

Não é correto dizer que pessoas, que não abrem a boca para falar, cumprem uma disciplina inútil.

Se você não usa a língua, se permanece silente, visando a isolar-se dos obstáculos externos à disciplina (sadhana), certamente pode desenvolver seus pensamentos, pode desistir de criticar e perturbar os outros, pode obter concentração e evitar a seu cérebro desnecessárias cargas e, assim, melhorar muito. Tendo o cérebro em tais condições, pode praticar, da melhor maneira, a evocação e repetição do Nome do Senhor (namasmarana). Estas vantagens todas você lucrará praticando disciplina (sadhana)."

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 174)


quarta-feira, 14 de junho de 2017

ENTENDER A PAIXÃO

"Ter uma vida religiosa é uma autopunição? A mortificação do corpo ou da mente é um sinal de entendimento? O martírio é um caminho para a realidade? A castidade é negação? Você acha que pode ir longe mediante a renúncia? Você realmente acha que pode haver paz por meio do conflito? Os meios não importam infinitamente mais do que o fim?

O fim pode existir, mas os meios existem. O real, o que existe, deve ser entendido, e não abafado pelas determinações, os ideais e as racionalizações inteligentes. O sofrimento não é o caminho para a felicidade. O que chamamos de paixão tem de ser entendida, e não reprimida ou sublimada, nem é bom encontrar um substituto para ela. Independentemente do que você faça, qualquer dispositivo que invente, só fortalecerá aquele que não foi amado e entendido. Amar o que chamamos de paixão é entendê-la. Amar é estar em comunhão direta. E você não pode amar algo do qual se ressente, sobre o qual tem ideias e conclusões. Como você pode amar e entender a paixão se fez um voto contra ela? Um voto é uma forma de resistência, e aquilo a que você resiste finalmente o conquista. A verdade não deve ser conquistada. Não se pode atacá-la, ela vai escapar entre os dedos se tentar agarrá-la. A verdade chega silenciosamente, sem você perceber. O que você percebe não é verdade, é apenas uma ideia, um símbolo. A sombra não é o real."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 133)


terça-feira, 13 de junho de 2017

UM PODER SUSTENTADOR (PARTE FINAL)

"(...) Há uma passagem no Bhagavad Gita que pode, a princípio, parecer um tanto insensível, contudo fala da força dentro de nós e não nega a verdadeira compaixão: 'A morte é certa para todas as coisas que nascem, e o renascimento é certo para todos os que morrem; daí não ser conveniente afligir-se a respeito do inevitável.'

Uma sabedoria tão iluminada como a contida nessas palavras jamais teria sido dada numa escritura que tem guiado as vidas de milhões de pessoas através dos séculos, a não ser que contivesse uma filosofia que pudesse ser compreendida e aplicada. Como seres humanos, conquistamos o direito, devido ao nosso potencial mental e espiritual, de lidar com a missão, por mais difícil que possa ser, de nos tornarmos cada vez mais universais e impessoais em perspectiva e compreensão.

A vida não é uma estrada fácil, e a morte, que chega para toda a humanidade, é uma das muitas experiências de despertar através das quais provamos nosso vigor e penetramos em nós mesmos. Dentro de cada um está um poder sustentador que nos transporta através de qualquer provação. Não podemos nos permitir viver no passado; devemos nos mover para a frente com confiança e esperança, sabendo que, quando uma porta se fecha, outra se abre."

(Ingrid van Mater - A morte e o despertar - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 25)

segunda-feira, 12 de junho de 2017

UM PODER SUSTENTADOR (1ª PARTE)

"Os que sucumbem à ilusão de resolver seus problemas com o suicídio estão muitas vezes sob influência de drogas, não sabem o que estão fazendo ou estão oprimidos pelas pressões sobre eles exercidas, sentindo-se incapazes de lidar com elas. Mas a natureza, embora severa, é também misericordiosa. É simplesmente lógico que uma pessoa boa e consciente não importando qual o modo como morreu, no tempo devido receberá o repouso pacífico a que tem direito. Apesar de tudo, somos na morte como na vida, nós mesmos.

Certamente não se pode mudar o sentimento de tristeza, de solidão, daqueles que foram deixados para trás e perderam alguém pelas portas da morte. Se não houvesse carinho nesse mundo ele seria um local desolado. O verdadeiro amor tudo suporta ao longo da vida e da morte, e aqueles que se sentem atraídos uns pelos outros pelos laços do amor serão repetidamente reunidos em outras vidas. Na época da morte, a preocupação de amigos cerca e protege aquele que está sofrendo, sendo um auxílio tangível.

Quando estamos intimamente envolvidos com outra pessoa, há uma rede de pensamentos e sentimentos, uma troca. Depois que essa pessoa se vai, a troca é interrompida. É como se uma parte de nós morresse com aquele que se foi. A experiência é particularmente aguda para os que foram educados com a ideia de que a morte é o fim e que jamais haverá reencontro. No entanto, a natureza é infinitamente benigna. A plena compreensão do que aconteceu leva algum tempo para penetrar todos os níveis de nosso ser, mas chega gradualmente. Seria um choque grande demais se assim não fosse. Mas através da dor mais profunda brilha uma beleza inequívoca quando começamos mesmo a sentir a verdadeira natureza do que está ocorrendo, compreendendo que internamente não há separação, e que aquele que se foi está descansando. (...)"

(Ingrid van Mater - A morte e o despertar - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 25)

domingo, 11 de junho de 2017

A MORTE E O DESPERTAR (PARTE FINAL)

"(...) À luz do cenário maior de muitas vidas, cada vida é verdadeiramente apenas um ponto na eternidade, uma 'pequena vida' cercada ou temporariamente completada por um repouso e um interlúdio que são bem-vindos. Dependendo da qualidade de nosso pensamento e de nossa vida, esse sono mais longo, em seu derradeiro pós-morte, é cheio de sonhos maravilhosos que jamais foram realizados durante a vida aqui na Terra - uma realização de nossas aspirações mais elevadas.

Embora a alma humana esteja desfrutando seus sonhos de bem-aventurança, a parte mais elevada de nós, a divindade imortal, está livre para voar até seu lar estelar. Reconhecer esse elo entre sono e morte, e saber que nada completamente estranho ou assustador acontece quando morremos, é em si mesmo um alívio e um consolo tanto para aquele que está enfrentando a morte quanto para aqueles que são deixados para trás. Simplesmente compreendemos tudo que fomos e que esperávamos ser enquanto encarnados; compreendemos a essência do que somos.

É vital aprender o padrão subjacente à continuidade do espírito por trás do fluxo e refluxo da vida manifestada. Podemos nos ver como parte de um esquema divino de infinito desabrochar evolutivo, com horizontes cada vez mais amplos diante de nós. Um panorama assim oferece perspectiva à vida atual. Sabendo que nosso destino é feito por nós mesmos, vemos a justiça das circunstâncias nas quais nos encontramos, que foram criadas por nós no passado.

Nessa estrutura, podemos compreender que para cada um de nós existe o momento certo para nascer e o momento certo para morrer, e que isso está em consonância com as leis cíclicas da existência que transcendem o tempo e o espaço. Obviamente, se interferimos nessas leis, há problemas. Como é triste ver aumentar o número de suicídios entre os jovens de hoje, pois esse é um exemplo característico de que tirar a vida é um distúrbio da harmonia da natureza e do tempo interior. É uma agonia não apenas para aqueles que ficam, mas para aqueles que escolheram dar esse passo; em vez de trazer paz e repouso imediatos, a condição duvidosa e desesperada que levou a esse ato intensifica-se num sonho depois que o corpo se foi. Se eles ao menos pudessem saber a tempo como a vida é preciosa, e como as profundezas do desespero podem extrair de nós novas dimensões, novos insights, novas forças..."

(Ingrid van Mater - A morte e o despertar - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 23/24)

sábado, 10 de junho de 2017

A MORTE E O DESPERTAR (1ª PARTE)

"A morte é inevitável, familiar, e contudo ainda permanece um dos grandes mistérios da consciência. Nosso dilema humano é o de estarmos literalmente entre dois mundos. Prendemo-nos como escravos ao que podemos ver, e ficamos insatisfeitos. Queremos saber mais, mas nos sentimos inseguros a respeito do que podemos ver.

É lógico que aceitamos o nascimento com mais felicidade do que a morte, pois o nascimento é essencialmente um processo visível, uma soma, enquanto a morte é, para nosso mundo tangível, uma subtração. Além disso, para cada morte há dois aspectos: existe aquele que está morrendo e aqueles que ficam para trás. A iminência de nossa própria morte, ou a perda de um membro da família, costuma nos lançar de volta a nós mesmos, trazendo novamente questões essenciais: quem sou eu? Por que estou aqui? O que realmente acontece na morte?

Shakespeare, ao escrever sobre a impermanência deste mundo, responde à pergunta 'quem sou eu?' dessa maneira: 'Somos do mesmo material/de que são feitos os sonhos/e nossa pequena vida/está cercada de sono...' Que pensamento confortante é reconhecer que a morte está ligada ao sono, no qual penetramos com confiança, sabendo que despertaremos no dia seguinte. Mas o que sabemos realmente a respeito do sono? 'Sono', diz Shakespeare, é 'a morte de cada dia de vida'.

Se combinarmos esses dois pensamentos, temos o quadro revelador do sono como uma pequena morte, e a morte como um longo sono que circunda nossa 'pequena vida'. Entre os antigos, a morte era muitas vezes chamada de 'o sono maior', ou 'o sono perfeito'. Sabemos como o sono é necessário ao nosso bem-estar. É uma lei da natureza tanto para o homem quanto para o animal.

O 'material de que são feitos os sonhos' sugere que a verdadeira parte de nós não é o corpo nem a personalidade, pois ambos são transitórios, mas a consciência interior. Quando vamos dormir, estamos obviamente num estado de consciência diferente. Sonhamos, mas, via de regra, pouco nos lembramos do que aconteceu, exceto que quando despertamos estamos revigorados, e simplesmente reassumimos nossos afazeres no ponto em que os deixamos no dia anterior. Às vezes, no entanto, temos sonhos perturbadores, ou excepcionalmente belos, que nos parecem  mais intenso até mesmo do que aquilo que experienciamos no estado de vigília. Existem profundos mistérios sobre aonde vamos quando dormimos e sobre os vários estágios do sonho. (...)"

(Ingrid van Mater - A morte e o despertar - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 22/23)

sexta-feira, 9 de junho de 2017

COMO EU ENCARO A RAIVA?

"Obviamente, eu encaro a raiva como um observador com raiva. Eu digo: 'Estou com raiva'. No momento da raiva não há 'eu', ele vem imediatamente depois, o que significa tempo. Consigo encarar o fato sem o fator do tempo, que é o pensamento, a palavra? Isso acontece quando há o olhar sem o observador. Veja aonde isso me levou. Agora começo a perceber uma maneira de olhar - a percepção sem opinião, conclusão, condenação, julgamento. Por isso, percebo que pode existir o 'ver' sem o pensamento, que é a palavra. Então, a mente está além dos aglomerados de ideias, do conflito da dualidade e de todo o resto. Desse modo, como posso encarar o medo sem que ele seja um fato isolado?

Se você isolar um fato que não abriu a porta para todo o universo da mente, então vamos voltar ao fato e começar de novo, considerando outro fato para que você mesmo comece a ver como a mente é extraordinária, para que você tenha a chave, possa abrir a porta e possa irromper dentro dela.

...A mera consideração de um medo - de morte, do vizinho, do seu cônjuge dominador, você conhece toda a questão da dominação - irá lhe abrir a porta? Isso é tudo o que importa - não como se livrar dele -, porque no momento em que você abre a porta, o medo é completamente varrido dali. a mente é o resultado do tempo, e o tempo é a palavra - como é extraordinário pensar nisso! Tempo é pensamento. Acredita-se que ele gera medo, que ele gera o medo da morte. E houve uma época em que se acreditava que ele tinha em suas mãos todas as complexidades e as sutilezas do medo."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 109)


quinta-feira, 8 de junho de 2017

A COMUNHÃO DOS SANTOS (PARTE FINAL)

"(...) Temos de aprender a nos doar em serviço, em todos os lugares e de todas as maneiras possíveis. À medida que assim fizermos, encontraremos o Senhor em cada forma, a cada momento, e sua presença estará refletida em nós em cada ângulo.

Além de honrar todos os santos - 'Não fazemos distinção entre profetas', disse o Profeta Maomé - é bom reconhecermos e compreendermos o valor do santo viver, isto é, uma vida de pureza e de serviço altruísta, especialmente nestes dias quanto a pressão do mundo é tão insistente e se lança sobre nós de tantas direções, que a beleza do outro mundo desaparece na obscuridade.

Não precisamos orar tanto para os santos no sentido de lhes suplicar favores, quanto a pensar em suas maravilhosas qualidades, para pôr seu exemplo perante nós e buscar sua inspiração. Na medida em que pensarmos neles, sua bênção certamente estará conosco.

O homem, segundo o conceito oriental, é, em seu ser interior, uma pequenina estrela que nasce e se põe muitas vezes na vida terrena, mas eventualmente - sua claridade aumentada a um poder mais elevado, e livre do apego a uma personalidade humana restrita - assume o lugar a ele alocado nos céus. Essas estrelas constituem a glória de nosso céu espiritual. Segundo a ordem de sua claridade, elas iluminam os degraus que levam ao altar de Deus."

(N. Sri Ram - o Interesse Humano - Ed. Teosófica, Brasília, 2015 - p. 61/62)

quarta-feira, 7 de junho de 2017

A COMUNHÃO DOS SANTOS (2ª PARTE)

"(...) Todas as coisas belas surgem da mesma fonte, e dizem que secretamente estão em afinidade entre si. No caso dos Homens Perfeitos, este elo secreto torna-se um vínculo vivo e consciente, resultando em perfeita cooperação mútua.

Os grandes santos são retratados trajando mantos brancos, por causa de sua pureza. No processo de evolução o conhecimento, a princípio, destrói a inocência, mas posteriormente, com a crescente perfeição do conhecimento, a inocência é recuperada e temos, com a sabedoria da idade, a combinação de todas as qualidades que marcam as fases prévias de nosso crescimento.

No momento oportuno, cada filho do homem atingirá esse estágio e herdará o reino preparado para ele, que não está fora, mas dentro de seu coração, 'preparado desde a fundação do mundo'; porque na consciência oniabarcante o futuro está simultaneamente presente com o passado.

Em cada um de nós existe o germe da bondade e da beleza espiritual; e, à medida que o nutrirmos assiduamente, ele se tornará uma bela planta e produzirá na plenitude do tempo a flor de sua unicidade, e lançará sobre o mundo um perfume diferente de qualquer outro que já tenha existido.

Uma maneira de nutri-lo é participar em serviços para Deus, de tal ordem que abram nos participantes cada canal espiritual e o inunde com vida crescente. Outra maneira está indicada nas palavras: 'Porquanto fizestes a um dos meus pequeninos, a mim o fizestes'. (...)"

(N. Sri Ram - o Interesse Humano - Ed. Teosófica, Brasília, 2015 - p. 61)


terça-feira, 6 de junho de 2017

A COMUNHÃO DOS SANTOS (1ª PARTE)

"Santos houve em todos os tempos, entre todos os povos e crenças. O santo é alguém em quem floresceu o germe da divindade ou Cristandade, oculto em cada um de nós. Essa divindade revela-se como bondade e perfeição; uma vez que a perfeição humana engloba todas as virtudes e graças, existem santos de muitos tipos, alguns se sobressaindo em devoção a Deus, outros em conhecimento da verdade, e outros ainda em ação altruística de acordo com a vontade de Deus. Todas essas sendas são igualmente sendas que levam ao ponto mais elevado. Deus, devemos compreender aqui, não é a imagem artificial, mas o supremo poder que tem sede no coração do próprio homem e também em todas as outras coisas, visíveis e invisíveis.

Houve grandes homens e mulheres que devem ter sido amados por Deus, embora não reconhecidos pelos homens; deve ter havido alguns, entre os assim chamados santos, sobre quem o halo foi lançado, por assim dizer, em antecipação, por seus ardentes seguidores. A grandeza nem sempre é reconhecida no seu tempo, nem sempre consiste no que parece ser.

Esses santos, embora possam não estar encarnados, ainda são presenças espirituais - como todos os homens - naquele aspecto de suas naturezas que está sempre voltado para Deus, só que ainda mais. Assim, eles estão unidos a nós de maneiras sutis, misteriosas. No reino do Espírito todas as suas manifestações formam uma unidade.

A ideia de que os santos, do passado e do presente, constituem uma comunhão ou associação é bela e consagra uma verdade maravilhosa. Mesmo em nosso mundo inferior, semelhante atrai semelhante. Muito mais ocorre naquele reino onde cada vida ou centro pulsa com magnetismo e poder. Deve haver perfeita concórdia onde existe perfeita compreensão e unidade de objetivo, que é a realização do plano de Deus. (...)"

(N. Sri Ram - o Interesse Humano - Ed. Teosófica, Brasília, 2015 - p. 60/61)


segunda-feira, 5 de junho de 2017

TODOS OS VIVOS NASCEM E MORREM - MAS A VIDA É IMORTAL

"Imperecível é o espírito da profundeza,
Como o seio profundo da maternidade.
Céus e terra radicam o seio da mãe.
São a origem de todos os vivos,
Que espontaneamente brotam da Vida.

EXPLICAÇÃO: Lao-Tse, na sua vidência cósmica, enxerga o Universo como um abismo de ilimitadas potencialidades, de cuja essência Infinita brotam sem cessar as existências finitas. Todos os seres vivos individuais surgem sempre de novo da Vida Universal, quando nascem; e regressam a esse mar imenso de Vida, quando deixam de ser indivíduos vivos - assim como as ondas do oceano nascem do seio das águas imensas e recaem a esse mesmo seio. O vivo nasce quanto emerge da Vida, e morre quando mergulha novamente nessa Vida. A Vida é sem princípio nem fim, mas os vivos têm princípio e fim.

A célebre questão sobre 'a origem da Vida', tão discutida pelos cientistas, é uma questão absurda porque a Vida não tem origem, nem terá fim; somente os vivos têm princípio e têm fim. Começar a existir como vivo é nascer e o morrer nada têm que ver com a Vida. A inexatidão da terminologia é causa de estéreis controvérsias.

A Vida é.

Os vivos existem e des-existem."

(Lao-Tse - Tao Te King, O Livro Que Revela Deus - Tradução e Notas de Huberto Rohden - Fundação Alvorada para o Livro Educacional, Terceira Edição Ilustrada - p. 36/37)


domingo, 4 de junho de 2017

O MALTRATO DOS ASPIRANTES (PARTE FINAL)

"(...) Os traidores e obstrutores, por outro lado, geram grandes adversidades para si mesmos que podem assumir duas formas particulares, entre outras. Uma é de atrair a atenção e tornarem-se instrumentos dos poderes das trevas, que procuram esmagar toda centelha de espiritualidade em cada ser humano. A outra adversidade consiste em obstruções em sua própria busca da verdade, da luz e do Instrutor. Em vez de ser claro, seu caminho é escuro e difícil. Isto pode ter sido causado não só pela ação direta de um caráter adverso, mas pela negligência, pela indiferença a um aspirante, por ter falhado em levar em consideração seriamente suas questões, seu apelo por ajuda e, em geral, deixar de ver a importância das mudanças interiores que estão ocorrendo no buscador. Este 'pecado de omissão' também gera adversidades, tais como o malogro em encontrar um auxiliar imediato e amigos mais avançados, e obstáculos domésticos, entre outros. 

Os ocultistas deveriam, com sabedoria e tato, estar à procura e ajudar toda a pessoa que encontram que está buscando a luz, mesmo que pareça que ela tenha começado mal. Pois é o fato de estar procurando que é de suprema importância.

Apesar deste conselho aplicar-se à vida oculta em particular, ele consiste na verdade no simples ato de ser amável em todas as ocasiões, mesmo quando a amabilidade tiver que ser firme. No entanto, estes fatos bastante simples e óbvios são muito negligenciados, e seria bom chamar a atenção dos teosofistas, especialmente dos principiantes, para eles. A verdade, infelizmente, é que muitas pessoas são afastadas da Senda, talvez por toda uma encarnação, pela intromissão de parte daqueles que deveriam saber como se portar corretamente."

(Geoffrey Hodson - A Suprema Realização através da Yoga - Ed. Teosófica, Brasília, 2001 - p. 158/159


sábado, 3 de junho de 2017

O MALTRATO DOS ASPIRANTES (1ª PARTE)

"Um dos piores erros em que o ocultista pode incorrer é frustrar o cumprimento da aspiração de alguém recentemente desperto para a vida espiritual.

Um exemplo extremo seria zombar de suas tentativas de vivenciar a mais alta moralidade, ridicularizar seus ideais e a ele por segui-los, distrair deliberadamente a sua atenção e seduzi-lo propositadamente para afastá-lo de sua meta, e de qualquer maneira impedir ou dificultar o seu engajamento na vida oculta. Isto não só é extremamente danoso para a vítima, mas é a causa do carma mais adverso para a pessoa que comete este erro.

Uma das fases mais críticas e maravilhosas da vida da Mônada é o período prolongado durante o qual a personalidade gradativamente se volta para a vida espiritual. Este é o período em que a influência da Mônada através do Ego pode direcionar sucessivas personalidades para a Senda, ou ser impedida de fazê-lo por pessoas ignorantes, invejosas ou voltadas somente para a materialidade.

Alguns que já fizeram um certo grau de progresso, consciente ou inconscientemente, temem com inveja que os neófitos possam ultrapassá-los, e assim colocam obstáculos em seu caminho. O ocultista sábio faz exatamente o oposto. Ele percebe a grande importância para a Mônada-Ego e para a humanidade de cada novo aspirante desperto. Assim sendo, ele ajuda de todas as maneiras ao seu alcance, orientando, alertando, mostrando amizade e protegendo, especialmente durante as dificuldades iniciais quando a mudança está sendo efetuada. Na verdade, esta é uma parte muito importante da vida do ocultista, ajudar os outros a encontrar e a trilhar a Senda. Ainda que não tenham esta motivação, estes ajudantes geram um carma muito auspicioso durante sua própria ascensão na suprema realização espiritual através da ioga. (...)"

(Geoffrey Hodson - A Suprema Realização através da Yoga - Ed. Teosófica, Brasília, 2001 - p. 157/158


sexta-feira, 2 de junho de 2017

A ALMA É LIVRE

"As almas foram 'feitas' à imagem e semelhança de Deus. Nem o pecador mais empedernido pode ser condenado para sempre. Causas finitas não geram efeitos infinitos. Por uso inadequado de seu livre-arbítrio, o homem talvez se julgue mau; mas, no íntimo, é uma criatura de Deus. O filho de um rei pode, sob a influência do álcool ou de um pesadelo, julgar-se mendigo; todavia, quando se recupera do estado de intoxicação ou acorda, constata que se iludiu. A alma perfeita, sempre livre de pecado, acaba por despertar em Deus quando recorda sua natureza real, eternamente virtuosa.

O homem, feito à imagem de Deus, só se ilude por pouco tempo. Esse engano passageiro o induz a julgar-se mortal. E, na medida em que se identifica com a mortalidade, ele sofre.

O equívoco da mortalidade, cultivado pela alma, às vezes se estende a várias encarnações. Contudo, graças ao esforço pessoal - sempre influenciado pela lei divina -, o Filho Pródigo aguça o tirocínio, recorda sua morada em Deus e obtém a sabedoria. Pela iluminação, a alma desgarrada evoca sua imagem eternamente divina e se reúne à consciência cósmica. Então o Pai lhe serve o 'gordo bezerro' da imorredoura bênção e sabedoria, libertando-a para sempre."

(Paramhansa Yogananda - A Sabedoria de Yogananda,  Karma e Reencarnação - Ed. Pensamento, São Paulo, 2012 - p. 14/15)
www.editorapensamento.com.br

quinta-feira, 1 de junho de 2017

NÃO SE OCUPE DO PASSADO

"Nunca se ocupe do passado. Quando a aflição o dominar, não rememore fatos similares em sua experiência de outrora, vindo assim a intensificá-la. Em vez disso, lembre-se daqueles incidentes quando a aflição não lhe bateu à porta e você foi feliz. Tire consolação de tais memórias, e se levante acima das águas crescentes do sofrimento. Dizem que as mulheres são fracas porque, mais facilmente que os homens, se rendem à raiva e à tristeza. Assim, a elas eu pediria que façam esforços extras para chegarem a vencê-las. Repetir o Nome de Deus e pensar em Sua Forma é o melhor antídoto.

Não faltam livros que lhes digam como se libertar da aflição. A Bhagavad Gita está em todas as línguas e a muito baixo custo o exemplar. O Bhavata e o Ramayana e todos os demais livros são vendidos aos milhares a cada dia, mas nada há que indique que eles tenham sido estudados e muito menos assimilados. O hálito na boca pode dar uma leve indicação sobre o alimento que foi consumido. Não é? Os hábitos, a conduta e o caráter dos leitores de tais livros, porém, não têm denotado quaisquer mudanças para melhor. O egoísmo e a ambição ainda estão desenfreados. O ódio não foi reduzido, e a inveja devora a vitalidade dos homens."

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interios - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 173)