OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


quinta-feira, 31 de março de 2022

UM CAMINHO PARA A VERDADE

"Existe um caminho para a verdade? Esta foi uma pergunta feita por Krishnamurti, em 1929. Ao explorar novamente a questão, sem concordar ou discordar com nenhuma das conclusões precedentes, acredito que nós crescemos em compreensão e sabedoria. Assim, vemos investigar o assunto a partir das causas primárias, sem assumir conhecimento prévio, e começando pela observação.

Primeiramente devemos perguntar o que é verdade. No sentido comumente aceito, é uma descrição acertada de algo que verdadeiramente aconteceu, ou que é um fato. Usamos a palavra verdade com sentido diferente quando ela descreve uma lei da natureza ou um relacionamento de causa e efeito. Por exemplo, a lei de gravidade é verificável; ela se confirma como uma relação de causa e efeito em todo tipo de fenômeno à nossa volta. Os estudiosos afirmam a verdade ou falsidade de algo aplicando-lhe lógica e raciocínio; quando deduzem algo absurdo, dizem que a premissa não é verdadeira. Portanto, existe essa maneira de analisar uma afirmação e de chegar a uma conclusão sobre sua veracidade. 

A verdade tem um significado totalmente diferente da busca religiosa. Ela está no nível da percepção, não no da ideação. Por exemplo, ao estudar sobre o que Buda disse, e sobre o que vários indivíduos disseram que Buda disse, a pessoa se torna erudita ou professora de filosofia budista; mas o professor não é Buda. A diferença não está nas palestras dadas. O professor pode até explicar certas circunstâncias melhor do que Buda, mas sua consciência não é a consciência de buda. A não ser que haja uma transformação da consciência, não haverá sabedoria, apenas o conhecimento; o conhecimento pode transformar ideias, mas não transformar a consciência. 

No campo científico é diferente; pode-se, por exemplo, utilizar uma fórmula matemática sem ter uma percepção profunda de espaço, tempo, matéria e energia. O cientista que descobriu a lei pode ter tido um grande insight, mas os outros não precisam tê-lo para usar a fórmula; ela funciona. Na busca religiosa, porém, ideias e conhecimentos são apenas cinzas, porque a pessoa vive com temores, conflitos, desejos, problemas com o ego. Ela não é sábia. A busca religiosa é uma busca por sabedoria, e isso é diferente de adquirir conhecimento. Portanto, devemos perguntar: existe um caminho para a sabedoria, para a percepção profunda da  verdade por nós mesmos, a que Krishnamurti referiu-se como insight

Há um caminho analítico para o conhecimento e outros caminhos que no campo do conhecimento e da análise; nossa vida diária está no campo do pensamento, planejamento, imaginação e esforço. Mas existe um outro plano de existência, o plano da atenção, sabedoria, visão e percepção, A verdade está nesse plano - no nível da percepção, não da ideação. Há um estranho relacionamento entre esse plano de percepção e insight e o campo de nossas atividades, esforços e realizações diárias. 

Sendo assim, como ocorre a percepção, se não há caminho até ela? Na Escola Krishnamurti de Brockwood Park, na Inglaterra, conta-se uma piada. Um estudante pergunta a outro: 'Se a verdade é uma terra sem caminho, como se chega lá?' E o outro menino responde: 'Perdendo-se!' Há verdade nessa afirmação, pois o modo como a mente chega a uma percepção totalmente nova é um mistério. Sem uma percepção assim não há real transformação da consciência, nem mudança real e fundamental no nível do pensamento, da realização e do ego no dia a dia. Compreensão e transformação fundamentais têm origem em outro plano.

Se eu tenho uma percepção profunda e isso traz a realização de uma verdade - não o mero conhecimento dessa verdade -, ela se torna real para mim. Esse salto do conhecimento para a realização da verdade é o que chamamos de insight. O que bloqueia o insight? A verdade existe o tempo todo. Por que não sou capaz de percebê-la? A mente parece ver todos os fenômenos através de um véu, uma tela de ilusões, conclusões, afirmações, opiniões, etc., que chamamos de condicionamento. Cada um de nós está condicionado pela família, cultura e tudo o que nos faz ser o que somos. O condicionamento é mantido na memória, e a pessoa não consegue apagá-lo voluntariamente."

(P. Krishna - Um caminho para a verdade - Revista Sophia, Ano 15, nº 65 - p. 21/22)
Imagem: Pinterest. 


terça-feira, 29 de março de 2022

FONTE DE SABEDORIA

"Uma das formas duradouras do interesse próprio é a presunção, que pode se manifestar de maneiras grosseiras ou muito sutis. O trecho seguinte é uma advertência de
A Voz do Silêncio referente a este outro inimigo daqueles que buscam trilhar a senda do autoconhecimento: 'Evita o aplauso ó devoto. O aplauso conduz à autoilusão. Teu corpo não é o Ser, teu Ser é, em si mesmo, sem corpo, e o elogio ou a censura não o afeta. O Autoconvencimento, ó discípulo, é como uma torre altíssima à qual subiu um arrogante tolo. Ali ele se senta em orgulhosa solidão, despercebido de todos salvo de si mesmo.'

Quando se é imaturo, qualquer comentário trivial feito por alguém a respeito de nossa aparência física, por exemplo, pode gerar fortes reações emocionais. O mesmo se aplica às tarefas que fazemos. Se há crítica ou falta de apreciação, podemos nos sentir magoados. Mas é importante compreender que nutrir a presunção contribui para nosso senso de separação de outros, e em muitos casos pode levar a um senso mais profundo de isolamento, frequentemente nutrindo sentimentos de má-vontade e de ira para com os outros e o restante do mundo. Talvez muitos atos terroristas tenham surgido de uma mentalidade assim. 

Mas apesar de todos esses perigos não precisamos nos desesperar, pois certamente o caminho está dentro de nós, como mostram os trechos seguintes de A Voz do Silêncio: 'O caminho para a liberdade final está dentro do Ser. O caminho começa e termina fora do Ser.'

O autoconhecimento foi definido por um dos instrutores da tradição Advaita Vedanta como 'a mais longa viagem ao lugar mais próximo'. Em outra tradição é chamado de a busca pelo Santo Graal, cuja descoberta, após muitas provações, tribulações e fracassos, leva tanto à completa transformação interior da mente humana quanto à restauração da 'terra devoluta', que é o mundo. 

O puro ser, o Atman interior, é a fonte de toda cura, de toda sabedoria, de toda felicidade, e contudo tendemos a buscar essas coisas fora, através da atuação do eu pessoal. É inevitável que no processo experimentemos muitas perdas, tanto físicas quanto psicológicas. Certa vez pediram a Sri Ramana Maharshi sua opinião sobre a doutrina teológica das almas perdidas. Sua resposta foi: 'Haverá algo a perder? O Ser jamais pode ser perdido.' Mas a jornada em direção a ele, que é basicamente um modo de vida, envolve abandonar tudo o que não é o Ser, naturalmente, sem qualquer senso de automortificação ou autocastigo, que podem muito bem ser, novamente, sutis formas de presunção. 

Eventualmente, segundo a tradição-sabedoria, após uma longa e necessária purificação, subitamente surge a realização do solo divino no qual 'vivemos, nos movemos e temos nossos ser', que é liberdade total do egoísmo e de sua teia de ilusões. As belas palavras do Viveka Chudamani reafirmam a essencial não separatividade de toda a existência como nossa verdadeira e eterna identidade, o Ser que nada quer: 'Como onda, espuma, redemoinho e bolha - tudo é essencialmente apenas água; assim tudo, começando com o corpo e terminando com o egoísmo, é apenas consciência, que é pura e absoluta felicidade.'"

(Pedro Oliveira - O ser nada quer - Revista Sophia, Ano 15, nº 65 - p. 19)
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quinta-feira, 24 de março de 2022

A TENTAÇÃO DA AMBIÇÃO

"Vale a pena examinar o que alguns livros de genuína instrução espiritual têm a dizer sobre o tema crucial do autoconhecimento. O primeiro é Luz no Caminho: 'A ambição é o primeiro defeito: a grande tentadora do homem que se eleva acima de seus semelhantes. É a forma mais simples de procurar a recompensa. É ela que continuamente desvia o homem de suas possibilidades superiores. Entretanto, é um instrutor necessário. Os seus resultados convertem-se em pó e cinzas na boca. Como a morte e o retraimento, demonstra finalmente ao homem que trabalhar para si é trabalhar para uma decepção inevitável.' 

A verdade dessa afirmação é autoevidente. O cenário mundial provê exemplos diários de como indivíduos e grupos guiados pela ambição causam destruição, instabilidade e medo. Uma mente dominada pela ambição está sempre procurando recompensa, reconhecimento. Mas por causa da maravilhosa sabedoria e inteligência no coração da existência, a ambição é também uma grande instrutora, mostrando que, mais cedo ou mais tarde, o interesse próprio é contraproducente. Num universo governado por interdependência e interrelacionamentos, toda forma de autointeresse está propensa a ceder, no decorrer do tempo, a um senso mais amplo de compaixão e compreensão universais, muito embora a angústia do crescimento possa ser às vezes dura de suportar. 

Um dos grandes textos da tradição mística cristã é Theologia Germânica, que contém um conselho valioso sobre esse assunto: 'Enquanto o homem estiver buscando seu próprio bem, ele não busca o que é melhor para si, e jamais irá encontrá-lo.'

Tudo que o eu pessoa busca - poder, posição, influência, dinheiro ou gratificação de algum tipo -, embora possa parecer bom no nível sensorial, não é necessariamente o que nossa natureza mais profunda aspira. É por isso que certas tradições afirmam que, antes de a pessoa poder alcançar aquilo que é verdadeiramente bom, num sentido universal, deve sofrer uma transformação, uma mudança fundamental. Pelo fato de os 'olhos' do eu pessoal conseguirem ver apenas seus próprios interesses, eles jamais conseguem ver aquilo que é muito mais vasto, a doçura na 'alma das coisas'. Isso requer uma percepção diferente, que H. P. Blavatsky chamou de uma 'percepção espiritual desvelada'. Este talvez seja um modo de ver a vida como ela é, em suas manifestações multiesplendorosas, sem a mediação de uma mente opiniática,  presunçosa e arrogante.

E é em A Voz do Silêncio, o último presente de H. P. Blavatsky ao mundo, que encontramos ulterior conselho abalizado sobre o tema do autoconhecimento: 'Pois a mente é como um espelho; acumula poeira enquanto reflete. Ela precisa da brisa genuína da sabedoria da alma para varrer a poeira de nossas ilusões. Busca, Ó iniciante, fundir tua mente e tua Alma.'

Por causa do forte elemento do autointeresse espreitando no interior da mente, cada uma de suas percepções logo envelhece, isto é, torna-se insípida, mecânica, condicionada, gerando relacionamentos 'eu-ele', como o chamou Martin Bubber, Então a aterradora realidade da natureza, com suas riquezas eternas, beleza e significado inesgotáveis, torna-se, para a mente egoísta, um mero objeto de exploração. Portanto, é essencial criar um espaço em nossas vidas para uma renovação interior que naturalmente ocorre quando nos abrimos àquela sabedoria inata que resida nas profundezas da alma. A reflexão profunda, o estudo, a meditação e a observação gradualmente nos ajudam a integrar mente e coração, um pré-requisito importante para a genuína percepção espiritual."

(Pedro Oliveira - O ser nada quer - Revista Sophia, Ano 15, nº 65 - p. 16/18)
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terça-feira, 22 de março de 2022

O SER NADA QUER

"Muitas das análises divulgadas a respeito do estado em que se encontra o mundo frequentemente apontam para certos fatores predominantes, como a flutuação da economia dos países ricos, a instabilidade política em muitos países pobres, o crescimento do fundamentalismo religioso, os riscos ambientais de todo tipo e os conflitos armados que desalojaram centenas de milhares de pessoas de seus lares e de seus países. 

Isso certamente seria interpretado como invulgar, para dizer o mínimo, se quiséssemos sugerir aos mesmos analistas que a principal causa subjacente aos problemas enfrentados pelo mundo é a falta de autoconhecimento, tanto no indivíduo quanto no nível social, uma vez que o autoconhecimento não é uma categoria mensurável capaz de ser analisada. Mas as mensagens dos grandes instrutores espirituais do mundo em todas as idades parecem indicar que a falta de autoconhecimento é verdadeiramente a causa de muitas dores, tanto para os seres humanos individuais quanto para a humanidade como um todo.

É a falta de autoconhecimento que cria na mente falsas necessidades e expectativas de todos os tipos - o desejo de reconhecimento, de afeto, de subjugar e dominar os outros, de exercer controle sobre uma situação ou pessoa, para mencionar apenas algumas. Em outras palavras, a falta de autoconhecimento gera uma das principais causas de problemas no mundo: o egoísmo, que em alguns livros de instrução espiritual é comparado a uma gigantesca erva daninha que impede o desabrochar e o florescimento de nossa natureza mais profunda e verdadeira - a alma espiritual que reside profundamente dentro de nossa consciência, cuja essência é genuína felicidade e sabedoria. 

O egoísmo está sempre impelindo a mente a buscar, a querer e alcançar algo sem necessariamente fazer com que a mente se certifique se os objetos buscados correspondem a necessidades reais ou imaginárias. Por exemplo, administrar os próprios recursos financeiros de maneira sábia é um das mais importantes necessidades na vida. Mas estar sempre procurando a melhor maneira de aumentar a própria riqueza é certamente uma necessidade imaginária. Há coisas mais importantes do que acumular riqueza, mas muitas pessoas passam a maior parte de suas vidas fazendo isso, porque é o que dita o autointeresse. 

Buda, um dos grandes instrutores espirituais do mundo, conseguiu ver isso com a máxima clareza e consequentemente compreendeu o fato de que a causa do sofrimento é tanhâ, sede, desejo, avidez, anelo. A palavra sede é importante porque denota uma busca contínua de experiências e sensações, nenhuma das quais é verdadeiramente satisfatória e completa, pois após cada contato e experiência a sede reaparece, às vezes até mesmo mais forte do que antes. O falecido Walpola Rahula, eminente estudioso budista do Sri Lanka, em seu livro What the Buddha Taught, fez uma afirmação bastante aguçada sobre isso: 'Essa sede tem como centro a falsa ideia do eu elevando-se para fora da ignorância.' A mente, sob a oscilação do interesse próprio, cria para si um falso senso de identidade - um falso eu - que perpetua tanto o sofrimento quanto a ignorância." 

(Pedro Oliveira - O ser nada quer - Revista Sophia, Ano 15, nº 65 - p. 15/16)
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quinta-feira, 17 de março de 2022

O GRÃO DE MOSTARDA

"Fizera Jesus ver na parábola do semeador que apenas uma pequena parte da semente evangélica chegava a produzir fruto, ao passo que o resto pereceria infrutífero. 

Mostrara ainda, na parábola do joio entre o trigo, que até essa pequena percentagem que encontrara terreno propício tinha os seus inimigos, a cizânia, que tentava roubar-lhe a seiva da terra e a luz do céu.

Certamente, não faltou entre os ouvintes, ou talvez entre os apóstolos, quem observasse com um suspiro de desânimo: Mestre, se tantos são os perigos e inimigos do reino de Deus, como se expandirá ele pelo mundo todo, como pretendes?...

Bem lembrados estavam os ouvintes do que lhes dissera o profeta de Nazaré na parábola da sementeira a crescer, que era de uma inesgotável vitalidade intrínseca à semente do Evangelho, e que não necessitava de uma nova intervenção do divino Semeador. 

Mas, ainda que não perecesse de todo a sementeira do reino de Deus, chegaria ela jamais a abranger o mundo todo? E quantos séculos não levaria essa expansão mundial?...

Resolveu o Mestre responder a essa interrogação tácita dos seus ouvintes, propondo a parábola do grão de mostarda. 

Se as três comparações tinham por cenário o campo amanhado pelo homem, esta, como também a seguinte, tem por teatro a horta e a casa, domínios da atividade feminina. 

Disse, pois, Jesus: 

- Com que coisa diremos se parece o reino dos céus? Ou sob que parábola o representaremos?

Depois de assim aguçar a atenção do auditório, lança um olhar sobre a cerca da horta vizinha e vê um pé de mostarda. E logo, numa inspiração súbita, prossegue:

- O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda que alguém tomou e semeou na sua horta. Quando semeado na terra, é ele o mais pequenino de quantos grãos de semente existem; mas, depois de crescido, faz-se maior que todas as hortaliças, chegando a ser árvore, e criando ramos grandes que as aves do céu vêm pousar à sua sombra. 

Corria entre os hebreus o provérbio popular: Tão pequeno como um grão de mostarda. Jesus se adapta a este modo de falar, ainda que haja sementes mais pequenas que a mostarda. Entre as hortaliças de que trata a parábola, dificilmente se encontrará semente tão minúscula e que produza arbusto tão grande, que até merece o nome de árvore; pois, às margens do Jordão, a mostarda atinge três a quatro metros de altura, e até hoje os árabes falam em árvore de mostarda. 

Mas somente em altura senão também em expansão e rapidez de crescimento leva de vencida a maior parte da suas congêneres; estende os seus frondosos ramos para todos os lados, convidando a passarinhada a descansar à sua sombra, beliscar as vagens e suspender os seus ninhos por entre verdes folhagem. 

Assim, diz o Mestre, há de acontecer com o meu reino. Ainda que é ele um grãozinho de mostarda; um punhado de homens, e nada mais. Mas a virtude que a semente evangélica encerra é grande, e o terreno em que foi semeada é de uma extraordinária fertilidade. Por isso, há de em breve expandir os seus ramos, muito além das balizas desta pequena horta doméstica da Palestina, e abranger todos os países do mundo, convidando milhares e milhares de almas a descansar à sombra de suas frondes, comer dos seus frutos e aninhar-se por entre a viridente folhagem."

(Huberto Rohden - Jesus Nazareno - Ed. Martin Claret, 2007 - p. 141/142)


terça-feira, 15 de março de 2022

A TRÍADE DO EU ESPIRITUAL

"O Eu Interior - Manas Superior e  Buddhi - existe como o poder, a energia por trás de toda ação. Ele está imóvel, em paz, em harmonia e em unidade. Não tem senso de existência separada por conta própria. Está em harmonia com seu Mestre, com a Hierarquia, com o Eu universal. Ele vive apenas para promover a vontade única, o Ãtmã.

O eu exterior é apenas a crosta do Interior, a máscara, a concha. É o oposto do caráter do Interno, pois nele a matéria predomina e está no arco descendente para a substância material. O Eu Interior é espiritual, o eu exterior, material. O interior está presente no exterior. Yoga leva à união desses dois, ao domínio do exterior pelo interior e à transferência da consciência das limitações do inferior para o superior. Portanto, o Yoga é a única solução para os problemas da vida.¹⁵

A justificativa para a disciplina é que, com a indulgência, a submissão ocorre em nível mais baixo, para a matéria, enquanto na disciplina, o espírito domina. Toda vitória na conduta da vida fortalece o poder do Eu Interior sobre o eu exterior e acelera o tempo de sua completa ascendência. Portanto, a disciplina deve fazer parte do Yoga. A disciplina enfrenta e resolve problemas a partir do exterior; a experiência da identificação os resolve a partir de dentro e, além disso, leva o aspirante constantemente em direção ao objetivo do Adeptado. 

Até o momento do despertar, o Eu Exterior tenta perpetuamente escapar do Eu Interior. Toda indulgência é uma escapada do 'cão de caça do céu'¹⁶. Mas o 'Grande Amante' sempre aparece e, no final, o eu exterior é capturado pelo Espírito. 

O início do Yoga é a cessação das tentativas de fuga e o começo do casamento celestial. O início desse 'noivado', a prática do Yoga, é como a trajetória de um cometa, um sol para dominar, destruir e ainda assim criar. Mesmo assim o Eu Interior e a consciência elevada do exterior permanecem perfeitamente calmos, ainda que expectantes. Não há medo depois que o despertar ocorre, somente a ânsia alegre de se fundir no Espírito, de ser recriado de ser livre."

¹⁵ Yoga, the Path, and Selfess Serviço (Yoga, o Caminho e o Serviço Altruísta) p. 126-8.
¹⁶ Francis Thompson, O Cão de Caça do Céu.

(Geoffrey Hodson - A Vida do Iniciado - Editora Teosófica, Brasília, 2021 - p. 34/35)


quinta-feira, 10 de março de 2022

O TREINAMENTO DA MENTE

"Treinar a mente em qualquer direção é treiná-la completamente até certo ponto, pois qualquer tipo definido de treino organiza a matéria mental da qual o corpo mental é composto, e também chama a atenção para alguns dos poderes do Conhecedor. A capacidade aumentada pode ser direcionada para qualquer fim, e está disponível para todas as finalidades. Uma mente treinada pode ser aplicada a um novo assunto, e irá lutar com ele e dominá-lo de uma forma impossível para os não treinados, e isto é o uso da educação. 

Mas deve ser sempre recordado que a preparação da mente não consiste em abarrotá-la de fatos, mas sim em delinear os seu poderes. A mente não cresce ao ser abarrotada com os pensamentos de outras pessoas, mas sim ao exercer as suas próprias faculdades. Diz-se dos grandes Mestres, que se encontram à frente da evolução humana, que Eles sabem tudo o que existe dentro do Sistema Solar. Isso não significa que todos os fatos que aí se encontram estejam sempre dentro da Sua consciência, mas sim que eles desenvolveram o aspecto do conhecimento em Si mesmos que, sempre que viram Sua atenção em qualquer direção, Eles tomam conhecimento do objeto para o qual estão se virando. Isto é muito maior do que o armazenamento na mente de qualquer número de fatos, pois é uma grande coisa ver qualquer objeto sobre o qual se vira o olho, do que estar cego e conhecê-lo apenas pela descrição que lhe é dada por outros. A evolução da mente não se mede pelas imagens que ela contém, mas pelo desenvolvimento da natureza que é o conhecimento, o poder de reproduzir dentro de si tudo o que lhe é apresentado. Isto será tão útil em qualquer outro universo como neste, e, uma vez adquirido, é nosso para o utilizarmos onde quer que estejamos."

(Annie Besant - O Poder do Pensamento - Ed.; Teosófica, Brasília, 2021 - p. 85/86)


terça-feira, 8 de março de 2022

DESISTINDO DO RELACIONAMENTO CONSIGO MESMO

"Iluminado ou não, no nível da sua identidade com a forma você não está completo. Você á a metade do todo. E isso é percebido como a atração homem-mulher, o movimento em direção à polaridade oposta de energia, não importa qual seja o seu nível de consciência. Mas, nesse estado de conexão interior, você percebe essa atração em algum lugar sob a superfície ou na periferia da sua vida. 

Isso não significa que você não se relaciona profundamente com outras pessoas ou com o seu parceiro. Na verdade, você só consegue se relacionar se tiver consciência do Ser. Partindo do Ser, você é capaz de enxergar além do véu da forma. No Ser, homem e mulher são uma unidade. A sua forma pode continuar a ter algumas necessidades, mas o Ser não tem nenhuma. Já está completo e inteiro. Se essas necessidades forem preenchidas, será ótimo, mas não faz diferença para o seu estado interior mais profundo. 

Portanto, caso a necessidade de uma polaridade masculina ou feminina não seja preenchida, é perfeitamente possível para uma pessoa iluminada perceber que falta alguma coisa no nível externo e, ao mesmo tempo, sentir-se totalmente completa e satisfeita no nível interno.

Se você não consegue ficar à vontade consigo mesmo, vai procurar um relacionamento para encobrir o seu desconforto. Só que esse desconforto vai reaparecer de alguma outra forma no relacionamento, e você, provavelmente, atribuirá a responsabilidade ao seu parceiro.

TUDO O QUE você precisa fazer é aceitar esse momento plenamente. Você estará então à vontade no aqui e agora e à vontade consigo mesmo.

Mas será que você precisa ter um relacionamento com você mesmo? Por que não ser apenas você? Quando se relaciona com você mesmo, já se dividiu em dois: 'eu' e 'eu mesmo', sujeito e objeto. Essa dualidade criada pela mente é a raiz de toda uma complexidade desnecessária, de todos os problemas e conflitos em sua vida. 

No estado de iluminação, você é você mesmo - 'você' e 'você mesmo' se fundem em um só. Você não se julga, não sente pena de si, não se orgulha de si, não se ama, não se odeia, etc. A divisão provocada pela consciência está curada; sua maldição, removida. Não existe um 'você mesmo' que seja preciso proteger, defender ou alimentar. 

Quando você está iluminado, não tem mais um relacionamento consigo mesmo. Uma vez que tenha aberto mão disso, todos os seus outros relacionamentos serão de amor."

(Eckhart Tolle - Praticando o Poder do Agora - GMT Editores Ltda., 2016 - p. 94/95)


quinta-feira, 3 de março de 2022

O NÃO EU COMO O COGNOSCÍVEL

"O Eu cuja 'natureza é conhecimento' encontra espelhado dentro de si um vasto número de formas, e aprende por experiência que não pode conhecer e agir e manifestar a vontade através delas. Estas formas, ele descobre, não são passíveis de controle como é a forma da qual ele primeiro se torna consciente, e que ele (erroneamente, e ainda assim necessariamente) aprende a identificar-se consigo mesmo. Ele sabe, e elas não pensam; ele manifesta a vontade, e elas não mostram nenhum desejo; ele energiza, e não há nelas nenhum movimento responsivo. Ele não pode dizer a partir delas: 'Eu sei', 'Eu ajo', Eu quero'; e reconhece-as longamente como outros eus, em formas minerais, vegetais, animais, humanas e super-humanas, e generaliza tudo isto sob um termo abrangente, o Não Eu, aquilo no qual como um Eu separado, não é, não sabe, mas age, e manifesta a vontade. Ele responde assim, durante muito tempo, à pergunta: 

'O que é o Não Eu?

Em tudo o que eu não conheço, não quero e não ajo.'

E embora verdadeiramente, em análises sucessivas, ele venha a descobrir que os seus veículos, um após outro, salvo de fato, a mais sutil película que faz dele um Eu - são parte do Não Eu, são objetos do Conhecimento, são o Cognoscível, não o Conhecedor, para todos os fins práticos a sua resposta é correta. De fato, ele nunca poderá conhecer, como separado de si mesmo, esta película mais sutil que faz dele um Eu separado, uma vez que a sua presença é necessária a essa separação, e conhecê-lo como o Não Eu seria fundir-se no todo." 

(Annie Besant - O Poder do Pensamento - Ed. Teosófica, Brasília, 2021 - p. 17/18)
Imagem; Pinterest.


terça-feira, 1 de março de 2022

O EU¹ COMO O CONHECEDOR

"Ao estudarmos a natureza do homem, separamos os veículo que ele utiliza: o Eu vivo do envoltório com o qual está revestido. O Eu é um, por mais variadas que sejam as formas da sua manifestação, quando trabalha através de, por meio dos diferentes tipos de matéria. É certamente verdade que existe apenas Um Eu no sentido mais completo das palavras: assim como raios irradiam do sol os vários 'Eus', que são os verdadeiros Homens, que são apenas raios do Eu Supremo, e cada Eu pode sussurrar: 'Eu sou Ele'. Mas para o nosso presente propósito, tomando um único raio, podemos afirmar também quanto à sua separação, à sua própria unidade inerente, ainda que esteja oculta pelas suas formas. A consciência é uma unidade, e as divisões que fazemos nela ou são para fins de estudo, ou são ilusões, devido à limitação do nosso poder perceptivo pelos órgãos através dos quais ela trabalha nos mundos inferiores. O fato das manifestações do Eu procederem diferenciadamente a partir dos seus três aspectos de conhecer, querer e energizar - dos quais surgem vários pensamentos, desejos e ações - não nos deve cegar quanto ao outro fato de que não há divisão de substância; o Eu todo conhece, o Eu todo quer, o Eu todo age. Nem as funções estão totalmente separadas; pois quando ele sabe, também age e quer; quando age, também sabe e quer; quando quer, também age e sabe. Uma função é predominante, e por vezes a tal ponto que veda totalmente as outras; mas mesmo na concentração mais intensa do conhecer - a mais separada das três - há sempre uma energização latente e uma vontade latente, que é tão discernível quanto presente através de uma análise cuidadosa. 

Nós temos chamado a estes três 'os três aspectos do Eu'; uma explicação um pouco mais profunda nos ajuda a compreender. Quando o Eu está tranquilo, então é manifestado o aspecto do Conhecimento, capaz de assumir a semelhança de qualquer objeto apresentado. Quando o Eu está concentrado, com a intenção de mudar de estado, aparece então o aspecto da Vontade. Quando o Eu, em presença de qualquer objeto, põe energia para contatar com esse objeto, então revela o aspecto da Ação. Ver-se-á assim que estes três não são divisões separadas do Eu, não são três coisas unidas em uma ou compostas, mas que existe um Todo indivisível, que se manifesta de três maneiras. 

Não é fácil clarificar a concepção fundamental do Eu mais além do que através da sua mera designação. O Eu é aquela consciência, sentimento, Um sempre existente, que em cada um de nós se conhece como existente. Nenhum homem pode jamais pensar em si próprio como não existente, ou formular-se a si próprio como não existente, ou formular-se a si próprio em consciência como 'Eu não sou'. Como Bhagavam Das expressou: 'O Eu é a primeira base indispensável da vida. ...  Nas palavras de Vachaspati-Mishra, no seu Comentário² (o Bhamati) sobre a Shariraka-Bhashya, de Shankaracharya: 'Ninguém duvida 'Sou Eu?' ou 'Não sou Eu?'. 'A Autoafirmação "Eu sou' 'vem antes de tudo, está acima e além de qualquer argumento. Nenhuma prova pode fazer isso; mais ainda, nenhuma contraprova pode enfraquecer isso. Tanto a prova como a contraprova se encontraram no 'Eu sou', o Sentimento de mera Existência não analisável, do qual nada pode ser afirmado, exceto o aumento e a diminuição. 'Eu sou mais' é a expressão do Prazer; 'Eu sou menos' é a expressão da Dor. 

Quando observamos este 'Eu sou', descobrimos que ele se expressa de três maneiras diferentes: (a) a reflexão interna de um Não Eu, CONHECIMENTO, a raiz dos pensamentos; (b) a concentração interna, VONTADE, a raiz dos desejos; (c) o ir para o externo, ENERGIA, a raiz das ações; 'Eu Sei' ou 'Eu penso', 'Eu quero', ou 'Eu desejo', 'Eu energizo' ou 'Eu ajo'. Estas são as três afirmações do Eu indivisível, do 'Eu sou'. Todas as manifestações podem ser classificadas sob uma ou outra destas três titulações; o Eu manifesta-se em nosso mundo apenas nestas três formas; como todas as cores surgem das três primárias, assim as inúmeras manifestações do Eu surgem todas da Vontade, da Energia, do Conhecimento.

O Eu como Aquele que Quer, o Eu como Energizador, o Eu como Conhecedor - ele é o Único na Eternidade e também a raiz da individualidade no Tempo e no Espaço. É o Eu no aspecto do Pensamento, o Eu como Conhecedor, que temos de estudar." 

¹ No original em inglês: Self, que foi traduzido neste livro por Eu (Eu superior). (Nota Ed. Bras.).
² The Science of the Emotions (A Ciência das Emoções), p. 20 da edição em inglês.

(Annie Besant - O Poder do Pensamento - Ed. Teosófica, Brasília, 2021 - p. 14/17)
Imagem: Pinterest, Cachoeira de Seljalandsfoss, na Islândia.