OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


terça-feira, 30 de novembro de 2021

O MEDO DA ENTREGA (PARTE FINAL)

"Ao contrário do devoto, o ser humano comum cria inúmeras imagens fantasiosas de Deus. Deus está além de todos os nossos modelos, imagens e imaginação. Ele é referido pelos cabalistas e discípulos Iniciados como O INCOGNOSCÍVEL, A FONTE, O TODO, O UNO. Assim, para chegar mais perto de Deus, é preciso abandonar todas as nossas fantasias e representações sobre a Divindade. A imagem que temos do Pai Celestial geralmente corresponde à projeção que fazemos de nosso pai terreno. Aqueles que tiveram um pai presente, amoroso e compreensivo, projetam essa imagem num Deus amoroso. Porém, muitas pessoas tiveram um pai disciplinador, sem sempre presente e, por isso, propenso a mentir, fazer barganhas e manipulações para conseguir ser aceito e obedecido.   

Aqueles que têm uma imagem de Deus, como sendo um pai amoroso estão mais propensos a se entregar a Deus. Porém, aqueles que têm uma imagem de Deus como disciplinador, sujeito a acessos de ira e propensos a fazer barganhas, terão medo de Deus. Consequentemente terão dificuldade para realmente se entregar a Deus. Portanto, a mudança em nossa crença de um Deus de medo para um Deus de amor é um dos requisitos essenciais para a vida espiritual, em geral, e para a entrega, em particular. 

Infelizmente, grande parte dos cristãos, sejam eles católicos ou evangélicos, é condicionada a crer em um Deus do medo. As pregações nessas igrejas enfatizam reiteradamente que todo pecador será castigado no inferno por toda a eternidade. Não é de se estranhar que os fiéis e crentes desenvolvam um 'temor' a Deus em vez de um 'amor' a Deus. A entrega a Deus, nesse caso, passa a ser um ato temerário.

Assim que entendermos, sem a menor dúvida, que a vontade de Deus, que é Amor e tudo Sabe (porque vive em nós mesmos), é que sejamos verdadeiramente felizes, não vamos sentir mais a necessidade de pedir qualquer outra coisa além de que Sua vontade seja feita. Nesse caso, ao pedir que seja feita a Vontade de Deus, instruímos nossas mentes a focar na beleza da vida, a ver todas as razões que temos para celebrar e repousar na certeza de que estamos protegidos e no caminho certo, em vez de lamentar.

Mas, ainda assim, o poder do ego é tão forte que temos receio de deixar tudo inteiramente nas mãos de Deus porque não temos certeza se Ele vai cuidar de todos nossos interesses e projetos. Essa atitude demonstra que nossos principais interesses ainda estão neste mundo. Como dizia o Mestre: 'Onde está o teu tesouro, aí estará o teu coração'. Nesse caso, a pessoa que ainda não está pronta para dar o grande passo da entrega, pois não confia em Deus."

(Raul Branco - A Essência da Vida Espiritual - Ed. Teosófica, Brasília, 2018 - p. 114/115)


quinta-feira, 25 de novembro de 2021

O MEDO DA ENTREGA (1ª PARTE)

"Além da insegurança criada pelo ego, outra importante razão para não nos entregarmos a Deus é o temor doentio de que talvez Deus não saiba realmente o que precisamos para ser feliz. Esse temor é um corolário de nosso apego à vida deste mundo, na forma de uma racionalização para justificar nossa insistência em fazer o que nossa personalidade quer. Temos uma série de desejos e anseios, na maior parte fantasias de gratificação dos sentidos e também de nos tornarmos importantes e poderosos, incitando a admiração e respeito das pessoas (o sonho do ego). Portanto, ainda estamos presos a este mundo. Por essa razão, nossa mente nos diz (corretamente) que uma possível entrega a Deus nos levará pra longe dos devaneios do ego.

O que significa na prática, nos entregarmos à vontade de Deus? Talvez seja mais proveitoso começarmos perguntando quem se entrega a quem? Essa questão vem recebendo a atenção dos sábios da humanidade desde tempos imemoriais: quem sou eu? Vivemos numa identificação errônea com o corpo e o ego. Num sentido prático, somos dois seres em um: por um lado nosso Ser verdadeiro e eterno, que é divino, é Cristo em nós e, por outro, o nosso ser impermanente e ilusório que é o ego que se identifica com o corpo. Falando sobre a natureza humana, Paulo afirmou em coríntios: Se há um corpo psíquico, há também um corpo espiritual'. Paulo também disse: 'Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?' Por muitos milhares, na verdade, milhões de anos nos identificamos com aquele ser que percebemos com nossos sentidos, o corpo governado pelo ego. 

O processo de entrega é a renúncia a este mundo, em que vivemos para a gratificação dos sentidos e do ego, para nos identificar com o Cristo interior e viver de acordo com a Vontade do Pai Celestial. Mas, qual é a vontade de Deus para conosco? Como somente os verdadeiros devotos têm total certeza sobre a beneficência da vontade de Deus para conosco, temos a tendência a criar fantasias sobre o que pode ser a vontade de Deus dependendo da imagem que temos Dele. 

Nesse ponto, será útil uma definição. Usamos várias vezes o termo 'devoto'. O que significa ser um devoto? É ser inteiramente devotado ou dedicado a um projeto, a uma causa, a uma missão ou a uma figura religiosa. Ele pode ser um místico, um herói nacional, um grande empresário, um verdadeiro artista ou um atleta olímpico. Eles sacrificam tudo por seu ideal. Num sentido, eles são verdadeiros obcecados. Para termos uma ideia da extensão desta 'devoção', o grande campeão de natação, Michael Phelps,  queimava 12.000 kcal/dia²⁹ em seus exercícios, só tirava um dia de folga por ano e treinava cerca de cinco horas por dia na piscina, além dos exercícios de musculação e o estudo dos mínimos detalhes de seu desempenho em vídeos. Portanto, os devotos vivem de acordo com as duas máximas ensinadas por Jesus: 'Ninguém pode servir a dois senhores' e 'Onde está o teu tesouro, aí estará o teu coração'.

A questão da dedicação na vida espiritual é tão importante que um Mestre instruindo um aspirante ao discipulado afirmou:

'Como você sabe, existem certas palavras em nosso vocabulário mais oculto que têm graus de significado em geral de acordo com a pessoa que usa essas palavras e, mais especificamente, a quem são aplicadas. A palavra 'dedicado' é um exemplo. Em seu significado pleno, para todos nós, ser dedicado a um ideal, a realização de uma meta e a seguir um modo de vida apropriado, significa aceitação total e exclusiva do objetivo e de trabalhar e viver para ele; nada mais tem realmente qualquer importância, em comparação. Caso um assunto associado esteja envolvido, então seu significado e o fato de ser desejável ou não seriam imediatamente julgados de acordo com o ideal e, reitero, exclusivamente. Tal, no significado mais elevado da palavra, é dedicação. Porém, as pessoas podem ser dedicadas em vários graus, não é verdade? Ou, o cumprimento que dão ao ideal pode ser somente parcial, hesitante ou algo nesse sentido. Elas também podem ser consideradas como, num sentido menor da palavra, dedicadas e assim respeitadas  por fazerem o melhor que podem, considerando sua evolução, posição espiritual, karma e outros interesses.'³⁰" ...continua

²⁹ Kcal/d é abreviação para quilocaloria por dia. Caloria é uma unidade de medição de energia. A caloria é geralmente usada para definir o valor energético dos alimentos. Os cientistas sugerem que a necessidade energética do ser humano depende do sexo, altura e intensidade de atividade. Por exemplo, um homem com 1,80m, pouco ativo, precisa de 2350 kcal/d, se for ativo de 2900 kcal/d e muito ativo de 3500 kcal/d. 
³⁰ Luz do Santuário - O diário Oculto, op. cit., p. 346.

(Raul Branco - A Essência da Vida Espiritual - Ed. Teosófica, Brasília, 2018 - p. 111/113)


terça-feira, 23 de novembro de 2021

A ENTREGA A DEUS (PARTE FINAL)

"(...) As tentativas de encontrar um meio termo entre esses dois mundos não dão certo. Apesar do alerta de Jesus, os seres humanos insistem em tentar servir a Deus e aos interesses materiais ao mesmo tempo (referidos nos Evangelhos como Mamon, ou o dinheiro). A razão para isso é a infantil crendice das pessoas nas promessas do ego. No entanto, verificamos, ao custo de muita dor, que não se pode confiar nas promessas do nosso inimigo sedutor, tais como: 'a vida é curta, vamos aproveitar as boas coisas da vida enquanto somos jovens e deixar a vida espiritual para quando ficarmos velhos'; 'essa coisa de ética é uma bobagem - vou aproveitar agora que ninguém está vendo e, além do mais, o que eu quero não faz mal a ninguém'; e muitas outras propagandas enganosas do nosso inimigo interior.

Uma escolha clara e firme tem que ser feita por quem almeja progredir na senda. O progresso acelerado só ocorre quando voltarmos as costas para o mundo. O ensinamento de Jesus ainda reverbera depois de dois milênios:

'Entrai pela porta estreita, porque largo e espaçoso é o caminho que conduz à perdição. E muitos são os que entram por ele. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho que conduz à Vida. E poucos são os que o encontram'.

Apesar de saber que precisamos viver no mundo material, ainda é válido o alerta de Paulo de que 'devemos estar no mundo sem ser do mundo.' Como é possível viver no mundo sem estarmos envolvidos nos valores e nos costumes deste mundo? Os místicos descobriram como resolver esse aparente impasse: entregando-se a Deus. Jesus já havia ensinado essa solução na parte mais espiritual da oração que ele mesmo nos ensinou: 'Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso Nome, venha a nós o vosso Reino, SEJA FEITA A VOSSA VONTADE, ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU'. No céu, ou seja, na consciência da unidade que reina nos planos superiores, a Vontade de Deus ocorre naturalmente como se fosse o alento eterno dos Logos. Mas na Terra, tudo deve ser feito de acordo com as decisões do ser humano, em virtude do seu livre-arbítrio: ele decide e colhe as consequência de suas escolhas. 

Jesus deu seu próprio exemplo no Getsêmani, quando ciente do sofrimento que o aguardava, mas movido pelo senso do dever, disse: 'Meu Pai, se é possível, que passe de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas como tu queres'.

Por que os 'buscadores espirituais' não seguem esta recomendação e insistem em fazer as coisas pela metade? Existem várias razões  para isso. A primeira é o poder limitante de nossos condicionamentos. Ao longo da vida desenvolvemos uma série de crenças que passam a agir em nós como um programa de computador. Elas tornam-se comandos automáticos e inconscientes para nossa mente. Passamos a agir como se nossa vida estivesse programada e depois, quando as coisas não dão certo, racionalizamos que aquilo realmente tinha que ser feito. Nosso desafio é quebrar esses condicionamentos negativos.

A tradição hinduísta dá grande importância à entrega a Deus . Nos Yoga-Sütras, um dos deveres ou observância (miyama) é referido como entrega a Deus (Ishvara-pranidhãna) ou, como preferem alguns autores, como Aspiração ao Alto, ou seja, a constante orientação para a meta escolhida."

(Raul Branco - A Essência da Vida Espiritual - Ed. Teosófica, Brasília, 2018 - p. 101/103)


quinta-feira, 18 de novembro de 2021

A ENTREGA A DEUS (1ª PARTE)

"A pessoa madura é consciente de que deve assumir a responsabilidade por construir a sua vida, sem sonhar e esperar que seus problemas sejam resolvidos por uma fonte externa. No entanto, um dos pilares da vida espiritual é a entrega a Deus. Será que estamos diante de mais um paradoxo da vida oculta? Esse não é o caso. As duas proposições são verdadeiras concomitantemente, pois Deus não é uma fonte externa, mas sim o âmago de nossa natureza interior. Na verdade somos uma expressão de Cristo, somos o Filho de Deus, mas a maior parte da humanidade ainda não tem consciência desta verdade profunda e eterna. 

Nosso progresso na Senda espiritual torna-se acelerado quando fazemos uma sincera entrega a Deus ou, como alguns estudiosos preferem dizer, uma entrega à nossa natureza divina. Com isso transferimos o centro de decisões de nossa vida, do ego, com suas limitações de todos os tipos, para nossa natureza superior, com seu amor, sabedoria e total comprometimento com nossa felicidade última. Com isso estaremos desativando o atual agente controlador de nossa vida, que não busca o nosso verdadeiro interesse, e entregando o controle para nosso Pai/Mãe Celestial, cujo propósito é a nossa libertação do sofrimento e Iluminação, ou seja, o nosso 'passaporte' para que, como filhos pródigos que somos, possamos retornar par a Casa do Pai.

Quando realmente nos entregamos a Deus sentimos que não estamos mais sozinhos. Passamos a ter acesso a toda a sabedoria e poder que SERÃO NECESSÁRIOS para superarmos as dificuldades e os desafios que todo aspirante enfrenta no caminho que leva à Verdade que nos liberta. Vista sob outro ângulo, a entrega a Deus acelera nosso progresso na Senda, justamente porque o objetivo da vida espiritual é alcançar a consciência da unidade com Deus. 

Sabemos, por experiência própria, que tudo conspira contra as mudanças necessárias na vida espiritual. As tentações vivem nos fazendo tropeçar. Os apegos dificultam nosso progresso. O ego usa de mil artimanhas para garantir a manutenção do status-quo, sendo uma das mais importantes, no mundo cristão, a crença errônea de que somos 'vis pecadores'. Essas dificuldades afetam buscadores novatos e avançados indistintamente, como indica a famosa passagem do Apóstolo Paulo:

'Eu sei que o bem não mora em mim, isto é, na minha carne. Pois o querer o bem está ao meu alcance; não, porém, o praticá-lo. Com efeito, não faço o bem que eu quero, mas pratico o mal que não quero. Ora, se eu faço o que não quero, já não sou eu que estou agindo, e sim o pecado (o ego) que habita em mim'.

Esse impasse também foi aludido por Jesus no Sermão da Montanha quando ele declarou: 'Ninguém pode servir a dois Senhores'. Temos que decidir se queremos tomar o caminho que nos levará às alturas espirituais ou permanecer nos vales sombrios deste mundo de ilusões, sofrendo sob o jugo do ego. Neste caso permaneceremos sujeitos às inesperadas virados do destino com suas amargas surpresas e desilusões. Nossas experiências são equiparadas a sonhos. Esses sonhos são de nossa criação. Como eles são a nossa percepção errônea da realidade, podemos mudá-los a qualquer momento. Temos o poder de criar o inferno e o poder de criar o céu. Por que não usar a nossa mente, nossa imaginação, nossas emoções e nossa determinação para criar o céu? Com isso passamos a perceber a paz, o amor e a alegria à nossa volta em tudo e em todos.(...)" ...continua.

(Raul Branco - A Essência da Vida Espiritual - Ed. Teosófica, Brasília, 2018 - p. 99/101)


terça-feira, 16 de novembro de 2021

AMAR AS PESSOAS DIFÍCEIS

"Em nossa vida diária, a aceitação nos levará a não sermos indiferentes e muito menos grosseiros com as pessoas que encontramos, mesmo que a atitude delas não seja amigável. Se nosso coração estiver realmente pleno de amor, essa vibração vai transparecer em nosso olhar e em nossa atitude para com as pessoas em todas as situações. O fluxo natural da vida é de dentro para fora. Não precisamos nos preocupar com o que dizer ou o que fazer. Como nos ensinou Jesus 'a boca fala daquilo de que o coração está cheio'. O mesmo podemos dizer sobre nossas ações; elas vão refletir a vibração de nosso coração se estivermos praticando sempre o que Jesus nos pediu: 'Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros.'

Precisamos não só ler ou ouvir os ensinamentos de Jesus, mas principalmente senti-los em nosso coração. Ao ouvirmos que devemos nos amar uns aos outro, nossa primeira reação pode ser de que eu já amo aqueles que estão comigo no Caminho em busca da autotransformação. No entanto, precisamos aprender a amar a TODAS as pessoas e não só nossos amigos e companheiros de 'busca'. Os ensinamentos de Jesus, apresentados a seguir, são os grandes desafios do verdadeiro cristão:

"Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; aquele que matar terá de responder no tribunal. Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encolerizar contra seu irmão, terá de responder no tribunal; aquele que chamar ao seu irmão 'Cretino!' estará sujeito ao julgamento do Sinédrio; aquele que lhe chamar 'Louco' terá de responder na Geena de fogo.
Ouviste que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; desse modo vos tornareis filhos do nosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o seu sol igualmente sobre maus e bons e cair a chuva sobre justos e injustos. Com efeito, se amais aos que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem também os publicanos [coletores de impostos] a mesma coisa? E se saudais apenas os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem também os gentios a mesma coisa? Portanto, deveis ter perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito."

O verdadeiro cristão deve ir além da tradição e além de não fazer o mal. É preciso obedecer ao principal mandamento do Mestre; amar-nos uns aos outros, sem excluirmos a maior parte dos membros da família humana que porventura não alcançam o padrão elevado que gostaríamos de encontrar em nossos companheiros de jornada. Se não transformarmos a nossa mente e nos conscientizarmos que somos TODOS filhos de Deus, ainda que alguns estejam profundamente adormecidos para a realidade fundamental da UNIDADE, seremos exatamente como o homem comum que nutre um profundo ódio, ainda que velado, para todos aqueles que não compartilham suas crenças e não agem de acordo com suas expectativas. São esses sentimentos de animosidade que fazem com que tantas pessoas cometam vandalismos e atos de crueldade contra os 'torcedores do outro time' ou os 'simpatizantes do outro partido,' O discípulo do Mestre deve ser diferente da multidão, deve considerar todos como 'irmãos' e tratá-los como tal.

Mas parece haver limites para a aceitação e o amor ao próximo. Muitos dirão que é impossível gostar das pessoas cujo comportamento vai contra a ética e tudo o que mais prezamos na vida social. Eles estão certos, não é possível gostarmos dessas pessoas. No entanto, não estamos falando de gostar, mas sim de amar. Há uma grande diferença entre gostar e amar, apesar da confusão que muitas pessoas fazem pensando que os dois termos são sinônimos. Realmente, precisamos ter empatia, afinidade, respeito e até mesmo admiração para gostar de alguém. No entanto podemos amar até mesmo os criminosos e aqueles que nos perseguem como Jesus nos ensinou.

Como isso é humanamente possível? Lembremos que dois pontos essenciais do amor são: desejar de coração o bem do outro e fazer o que estiver ao nosso alcance para que isso venha a ocorrer. Procuremos imaginar um criminoso que causa grande dano à sociedade, seja ele um político corrupto, um estuprador ou um assassino impiedoso. Qual o maior bem que poderemos desejar a esse criminoso?

Que ele DESPERTE para o sofrimento que está causando aos outros e, por isso, a ele mesmo, em virtude da Lei de Causa e Efeito. Todos nós podemos desejar esse despertar, essa mudança interior que, caso venha realmente a ocorrer, trará grandes benefícios para o criminoso e para a sociedade. Na verdade, é o que devemos sinceramente pedir a Deus, em vez de pedirmos vingança pelos crimes e maldades feitos por esses ignorantes da Grande Lei. O desejo de vingança, ainda que eufemisticamente o chamemos de justiça, só vai alimentar a vibração negativa da comunidade que está ciente dos crimes praticados e reforçar as atitudes negativas do criminoso. Algo que é geralmente ignorado é que nossos desejos geram karma, que neste caso pode ser bem pesado:

"Lembra-te de que a veste maculada que hoje evitais tocar pode ter sido tua ontem, ou pode ser tua amanhã. Não te iludas imaginando que podes apartar-te do mau ou do insensato. Eles são tu mesmo, embora em grau menor do que o teu amigo ou teu Mestre'.¹⁹"

¹⁹ Luz no Caminho, op. cit., p 36-38.

(Raul Branco - A Essência da Vida Espiritual - Ed. Teosófica, Brasília, 2018 - p. 79/83)


quinta-feira, 11 de novembro de 2021

DEUS É O AMANTE POR TRÁS DE TODO AMOR

"Enquanto buscava o amor duradouro, vim a compreender que Alguém Mais cuidava de mim por intermédio de todos os amores humanos. O Divino me tem amado como mãe, pai e amigo. Procurei o único Amigo por trás de todos os amigos, aquele Amante a Quem agora vejo brilhando nas faces de todos vocês. E esse amigo nunca me abandona.

Deus está por trás de tudo. 'Honrarás teu pai e tua mãe',³ mas 'amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força'.⁴ Vocês precisam compreender como é importante cultivar a amizade divina com Ele, sem mais perda de tempo. Ao dormir, como podem ter certeza de acordar no dia seguinte? Um a um, nós deixamos esta terra. Mas não se deve lamentar nada. Ao morrer, seremos chamados a renascer aqui, iniciando outra vida a partir do ponto em que interrompemos esta. 

Vejo a vida e a morte como o subir e o descer das ondas do mar. No nascimento, uma onda levanta-se da superfície e, na morte, ela cai adormecida no seio de Deus. Realmente percebi isto. Sei que jamais morrerei, pois, quer esteja dormindo no oceano do Espírito, quer desperto em um corpo físico, estou sempre com Ele. Essa suprema felicidade não pode ser encontrada no mundo; mas não precisamos fugir para a floresta para buscá-Lo. Podemos encontrá-Lo nesta floresta da vida cotidiana, na gruta do silêncio interior.

Não importa quantos erros tenham cometido; são apenas temporários. Vocês são feitos à imagem do Espírito. O Senhor criou o filme ilusório da terra e de todos os seus prazeres com um só objetivo: que vocês não se deixassem iludir pelo jogo de maya, abandonando-o para amar só a Ele. Esta é a verdade; não pode ser diferente. Por que somos levados a sentir amor pelos membros de nossa família, somente para vê-los partir, um a um? Essas coisas acontecem para ajudar-nos a compreender que é Ele quem nos ama, por detrás de todos os entes queridos. 

A dificuldade, no filme da vida, é que todas as irrealidades parecem reais e todas as realidades parecem irreais. Todas as noites, quando dormimos, o mundo desaparece de nossa consciência, para que possamos compreender que o universo material não é real. Essa lição do sono não é dada para amedrontar-nos, e sim para que busquemos a realidade de Deus. A alma jamais poderá satisfazer-se com coisa alguma, exceto com Ele e Seu amor. O espírito de Deus é a realidade que nada mais pode igualar.⁵"

³ Mateus 19:19.
⁴ Deuteronômio 6:5.
⁵ 'Para o irreal, não há existência. Para o real, não há inexistência. Os homens de sabedoria conhecem a verdade final a respeito de ambos' (Bhagavad Gita II:16).

(Paramahansa Yogananda - A Eterna Busca do Homem - Self-Realization Fellowship - p. 179/180)


terça-feira, 9 de novembro de 2021

EDUCAÇÃO PARA A PAZ

"Conheci um casal determinado a treinar seus quatro filhos no caminho da paz. Toda noite, na hora do jantar, davam um sermão sobre a paz. Mas certa noite eu ouvi o pai gritar com o filho mais velho. Na noite seguinte, ouvi o filho gritar com o irmão mais novo, no mesmo tom de voz. O que os pais diziam não causava qualquer impressão - os filhos seguiam o que eles faziam, os seus atos.

Implantar ideias espirituais nos filhos é muito importante. Muitas pessoas vivem toda a sua vida segundo conceitos que lhes foram implantados na infância. Quando as crianças aprendem que obterão mais atenção e mais amor ao fazer coisas construtivas, tendem a parar com as atitudes destrutivas. E o que é mais importante: as crianças aprendem pelo exemplo. Não importa o que você diz; o que as influência é o que você faz. 

Isso é desafiador para os pais. Você está treinando seus filhos no caminho do amor, que é o caminho do futuro?

Preocupa-me ver uma criança pequena observar o herói atirar no vilão na televisão. Isso ensina que atirar nas pessoas é heroísmo. O herói acabou de fazê-lo e foi aplaudido.

Se um número suficientemente grande de pessoas encontrar a paz interior e quiser mudar essa instituição chamada televisão, as crianças verão o herói transformar o vilão em um cidadão de bem. Elas o verão fazer algo significativo, como servir ao próximo. E aprenderão que, se querem ser heróis, devem ajudar as pessoas. 

Um sacerdote que conheço passou algum tempo na Rússia. Ele não viu crianças brincando com armas. Visitou uma grande loja de brinquedo em Moscou e descobriu que não vendiam armas de brinquedo.

O treinamento pacífico é oferecido em algumas pequenas culturas. Conheci um casal que viveu mais de dez anos entre os índios Hopi, e me disseram: 'É surpreendente como eles jamais fazem mal a quem quer que seja.' Eu convivi com o povo Amish. Eles têm comunidades grandes, pacíficas, seguras, sem qualquer violência. Conversei com eles e compreendi que é porque aprendem desde criancinhas, que seria impensável fazer mal a qualquer ser humano. Portanto, eles jamais o fazem. 

Certa vez uma mulher trouxe-me sua filha de quatro ou cinco anos e perguntou se eu podia explicar à criança o que é bom e o que é ruim. Eu disse: 'Ruim é algo que fere alguém. Quando se come comida de má qualidade isso fere você, e assim isso é ruim.' Ela compreendeu. 'Bom é algo que ajuda alguém. Quando você cata seus brinquedos e os coloca de volta na caixa de brinquedos, isso ajuda sua mãe, assim isso é bom.' Ela compreendeu. Às vezes a explicação mais simples é a melhor.

Quando meus pais me punham para dormir, eles diziam: 'Está escurecendo, por isso é melhor você ir descansar. É hora de dormir na tranquila, boa e amiga escuridão.' Assim, para mim a escuridão sempre pareceu amiga. Quando estou caminhando à noite para me manter aquecida, ou quando estou dormindo à beira da estrada, estou na tranquila, boa e amiga escuridão."

(Peace Pilgrim - Educação para a paz - Revista Sophia, Ano 19, nº 92 - p. 20)

                                                

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

A MORTE NO MUNDO MODERNO (PARTE FINAL)

"Mesmo quando alguém que conhecemos ou amamos está morrendo, muito frequentemente percebemos que não temos quase nenhuma ideia sobre como ajudar; e quando morre, não nos animamos a pensar no futuro do morto, como seguirá, ou como poderemos continuar a ajudá-lo. De fato, toda tentativa de pensar sobre essas coisas corre o risco de ser rejeitada como disparatada e ridícula.

O que tudo isso nos mostra, com uma clareza dolorosa, é que agora mais do que nunca estamos precisando de uma mudança fundamental em nossa atitude em relação à morte e aos que estão morrendo. (...)

As pessoas que estão morrendo precisam de amor e carinho, porém também precisam de alguma coisa ainda mais profunda. Precisam descobrir um significado real para a morte e para a vida. Sem isso, como podemos dar-lhes conforto definitivo? A ajuda aos que estão morrendo, então, deve incluir a possibilidade de ajuda espiritual, porque só com conhecimento espiritual podemos de fato encarar e compreender a morte. 

Sinto-me encorajado com a abertura que ocorreu no Ocidente, nos últimos anos, para o tema morte e do morrer, graças a pioneiros como Elisabeth Kübler-Ross e Raymond Moody. Olhando profundamente para o modo como cuidamos dos que estão morrendo, Elisabeth Kübler-Ross mostrou que, com amor incondicional, a morte pode se tornar uma experiência pacífica e até transformadora. Estudos científicos dos muitos diferentes aspectos da experiência da morte, que se seguiram ao corajoso trabalho de Raymond Moody, deram à humanidade forte e viva esperança de que a vida não acaba com a morte, e de que há, de fato, uma 'vida após a vida'.

Alguns, infelizmente, não entenderam o significado completo dessas revelações sobre a morte, e cheguei a ouvir falar de casos trágicos em que jovens cometeram suicídio porque acreditaram que a morte era bela, e uma saída para a depressão de suas vidas. Mas, quer tenhamos medo da morte e nos recusemos a encará-la, quer a romantizemos, ela é banalizada. O desespero e a euforia diante da morte são formas de evasão. Ela não é nem deprimente nem excitante, mas tão somente um fato da vida.

Como é triste que a maioria de nós apenas comece a apreciar a vida quando estamos a ponto de morrer! Penso sempre nas palavras do grande mestre budista, Padmasambhava: 'Os que creem ter muito tempo, preparam-se somente na hora da morte. Aí são devastados pelo remorso. Mas já não será tarde demais?' Não há comentário mais desalentador sobre o mundo moderno do que esse: a maioria das pessoas morrer despreparada para morrer, como viveu despreparada para viver." 

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 27/28


terça-feira, 2 de novembro de 2021

A MORTE NO MUNDO MODERNO (2ª PARTE)

"O medo da morte e a ignorância sobre a vida após a morte estão alimentando essa destruição do meio ambiente que está ameaçando tudo em nossas vidas. O mais perturbador nisso tudo não é o fato de que as pessoas não recebam instrução sobre o que é a morte, ou como morrer? Ou que não tenham esperança alguma no que vem após a morte, no que está por trás da vida? Pode alguma coisa ser mais irônica do que a existência de jovens altamente educados em todos os campos do conhecimento, exceto naquele que detém a chave do sentido global da vida, e talvez até da nossa sobrevivência?

Sempre me intrigou que alguns mestres budistas que eu conhecia fizessem uma simples pergunta às pessoas que se aproximavam deles buscando ensinamento: 'Você acredita numa vida depois desta?' Não se trata de saber se a pessoa acredita nisso como uma proposição filosófica, mas se sente isso no fundo do seu coração. O mestre sabe que, se alguém acredita numa vida futura, sua visão de mundo será diferente e terá um outro sentido de responsabilidade e moralidade pessoal. O que os mestres suspeitam é que aqueles que não têm uma crença firme numa vida após a morte, vão criar uma sociedade fixada em resultados a curto prazo, sem qualquer preocupação com as consequências dos seus atos. Seria essa a principal razão pela qual criamos um mundo brutal como este em que vivemos, um mundo em que a verdadeira compaixão está quase ausente?

Às vezes penso que os países mais poderosos e influentes do mundo desenvolvido são como o reino dos deuses descrito nos ensinamentos budistas. Diz-se que esses deuses vivem suas vidas em meio a um luxo fabuloso, mergulhados em todos os prazeres imagináveis, sem um único pensamento sobre a dimensão espiritual da vida. Todos parecem muitos felizes até que a morte se aproxima, e aí alguns sinais inesperados de desintegração aparecem. Então, as esposas e amantes desses deuses não mais se atrevem a se aproximar deles, atirando-lhes flores à distância, com preces ocasionais para que eles renasçam novamente como deuses. Nenhuma de suas lembranças de felicidade ou conforto pode agora protegê-los do sofrimento que eles enfrentam; isso só faz com que fiquem mais desesperados, de tal modo que esses deuses são deixados para morrerem sozinhos e miseravelmente.  

O destino dos deuses me faz pensar na maneira com os velhos, os doentes e os que estão morrendo são tratados hoje. Nossa sociedade é obcecada por juventude, sexo e poder, e nós nos esquivamos da velhice e da decadência. Não é terrível que desprezemos as pessoas idosas quando sua vida de trabalho se encerrou e elas já não mais pareçam úteis? Não é perturbador que nós as joguemos em asilos, onde morrem solitárias e abandonadas? 

Não é tempo também de olharmos de um modo diferente a maneira como tratamos os que sofrem de doenças terminais como o câncer e a AIDS? Conheci um bom número de pessoas que morreram de AIDS, e sei como elas foram muitas vezes tratadas como párias, até por seus amigos, e como o estigma da doença levou-as ao desespero e fez com que achassem a vida horrível, sentindo que aos olhos do mundo já estavam acabadas." ... continua. 

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 26/27