OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

A FUNÇÃO DO RELACIONAMENTO

"O relacionamento é inevitavelmente doloroso, o que é mostrado na nossa existência cotidiana. Se no relacionamento não houver tensão, ele deixa de ser um relacionamento e se torna apenas um confortável estado de latência, um entorpecente - o que a maioria das pessoas quer e prefere. O conflito se dá entre esse desejo de conforto e o factual, entre a ilusão e a realidade. Se você reconhece a ilusão, então pode, colocando-a de lado, dar sua atenção ao entendimento do relacionamento. Mas se busca segurança no relacionamento, ele se torna um investimento no conforto, na ilusão - e a grandeza do relacionamento é sua própria insegurança. Se sua busca for por segurança no relacionamento, você está impedindo sua função, que é provocar suas próprias ações e infortúnios peculiares. 

Certamente, a função do relacionamento é revelar o estado de bem-estar da pessoa. O relacionamento é um processo de autorrevelação, de autoconhecimento. Essa autorrevelação é dolorosa e exige constante ajustamento, flexibilidade do pensamento e da emoção. É uma luta dolorosa, com períodos de paz iluminada. 

Mas a maioria de nós evita ou põe de lado a tensão no relacionamento, preferindo a calma e o conforto da dependência satisfatória, uma segurança não desafiada, um porto seguro. Então, a família e outros relacionamentos tornam-se um refúgio, o refúgio do imprudente.

Quando a insegurança desliza para a dependência, como inevitavelmente acontece, então esse relacionamento particular é posto de lado e um novo é assumido na esperança de encontrar uma segurança duradoura, Mas não há segurança no relacionamento, e a dependência só gera medo. Sem entender o processo da segurança e do medo, o relacionamento se transforma em um estorvo compulsório, e uma forma de ignorância. Então, toda a existência passa a ser luta e sofrimento, e não há saída para isso exceto no pensamento correto, que surge por meio do autoconhecimento."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 93/94)


terça-feira, 28 de dezembro de 2021

ATIVO, PORÉM QUIETO

"Para descobrir a nova mente, não só é necessário entendermos as reações do velho cérebro, mas também é necessário que o velho cérebro se aquiete. O velho cérebro deve estar ativo, mas quieto. Você está acompanhando o que estou dizendo? Olhe! Se você descobrisse por si mesmo que existe uma realidade, que existe um Deus - a palavra Deus não é o fato -, seu velho cérebro, que foi alimentado em uma tradição, seja ele anti-Deus ou pró-Deus durante séculos de afirmação social, deveria ficar quieto. Porque, do contrário, isso só faria projetar suas próprias imagens, seus próprios conceitos, seus próprios valores. Mas esses valores, esses conceitos, essas crenças são resultado do que lhe foi dito ou de suas reações ao que lhe foi dito. Por isso, inconscientemente, você diz: 'Esta é a minha experiência!'.

Você tem de questionar a própria validade da experiência - da sua própria experiência ou da experiência de outra pessoa, não importa quem ela seja. Ao questionar, investigar, perguntar, exigir, observar e escutar atentamente, as reações do velho cérebro se aquietam. Mas o cérebro não está dormindo; ele é muito ativo, mas está quieto. Ele chegou a essa quietude por meio da observação, da investigação. E para investigar, observar, você precisa ter luz; e a luz é sua constante vigilância."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 331)


quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

CORPO E ANIMA

"Nosso corpo é como se fosse um vaso vazio, ou um saco que só fica em pé porque existe uma energia que o preenche e anima; a energia divina.

Essa energia anima todas as coisas viventes. A própria palavra anima significa alma, em latim.

De fato, somos um espírito, e o corpo é nossa morada provisória. Assim como o mergulhador precisa de uma roupa especial para chegar às grandes profundezas do oceano, o espírito também precisa dessa vestimenta material para descer à Terra e viver sua jornada no mundo físico.

O propósito da vida é a evolução. Tudo evolui: os minerais, as plantas, os animais, os seres humanos... Cada um no seu nível de consciência e forma. 

Um dia chegaremos a perceber melhor tudo isso e decifraremos o enigma, quando nossos olhos espirituais estiverem mais abertos para as realidades internas.

Enquanto isso, nosso aprendizado se dá pelas experiências que a vida nos proporciona, com nossas escolhas, erros e acertos. Assim, vamos colhendo os frutos do que plantamos e aprendendo com as lições até entendermos que somos todos um só nessa majestosa aventura comum de fazer desabrochar o deus oculto que habita em cada um de nós e que somos nós. 

Isso é familiar para você? Você já se perguntou sobre o objetivo de sua existência? Acredita na continuidade da vida? Respeita a opinião dos outros? Conversa sobre isso? Tem disposição para ouvir, falar e aprender?

Dizem que: 'A busca da verdade não admite sectarismos'. 'A verdade é uma terra sem caminhos'. 'O caminho se faz ao caminhar'. 'A verdade mora no nosso coração e nos liberta'.

Paz e progresso a todos os seres, em todas as dimensões!"

(Fernando Mansur - O Catador de Histórias - Editora Teosófica, Brasília, 2018 - p. 61)


terça-feira, 21 de dezembro de 2021

CORPO E ALMA

"A história mostra que crenças ou ensinamentos mal compreendidos nos levaram a entender que somos um corpo e que o corpo tem uma Alma. Entretanto, várias tradições espirituais nos mostram que, de fato, somos uma Alma e que o corpo é seu veículo de atuação.

Além do plano físico, existem outros mundos menos densos onde a Alma atua e também se desenvolve. Mas a encarnação física é fundamental no processo evolutivo.

O apego ao corpo nos levou e nos leva a um sofrimento indizível quando chega a hora de nos separarmos dele, pois achamos que é o fim de tudo. O corpo se desintegra, seus elementos são reaproveitados pela natureza e nós continuamos nossa jornada noutro 'lugar', em outro estado de consciência. Nessa outra dimensão a consciência é expandida, e tempo e espaço são diferentes daqueles que conhecemos aqui. Quem já experimentou a sensação de quase morte diz que naquele momento passa uma espécie de filme na mente, em um breve instante, quando a pessoa revê todas as cenas de sua vida. Há então uma surpreendente compreensão de certo e errado e que tudo fica realmente registrado no HD da natureza.

Outro ensinamento que causou grandes danos à boa parte da humanidade foi o do céu e do inferno eternos. Essa crença vem sendo gradativamente revista e ampliada para algo mais compatível e coerente com a bondade divina. 

A teoria dos ciclos e o retorno periódico à manifestação, regulamentados pela lei do karma (causa e efeito), vêm se constituindo num grande lenitivo para aqueles que acreditavam que a morte é o fim.

A busca da verdade exige liberdade de pensamentos e fé nos caminhos apontados pelo coração. Confie e procure respostas para as dúvidas que sua Alma lhe apresenta. Você tem o direito de saber.

Você pode buscar.

Vamos!"

(Fernando Mansur - O Catador de Histórias - Editora Teosófica, Brasília, 2018 - p. 60)


quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

O MISTÉRIO DO LIMIAR - 3

"Uma vez que se considera o significado desses Portais, é evidente que não há outro caminho para escapar dessa forma de existência, exceto através deles. Os Portais somente podem admitir o ser humano para o lugar em que ele se converte no fruto, cuja flor é a natureza humana. A Natureza é a mais bondosa das mães para aqueles que dela necessitem; ela nunca se cansa de seus filhos ou deseja que sejam reduzidos em números. Seus braços amistosos se abrem para a vasta multidão que deseja nascer e viver na forma; e à medida que continuam a desejá-lo, ela permanece sorrindo. Por que , então, ela fecharia as portas a alguns? Quando uma vida não esgotou uma centésima parte do anseio da alma por uma sensação como a que se tem na existência, que razão pode haver para a sua partida a qualquer outro lugar? Certamente as sementes do desejo brotam onde o semeador as semeou. Isso parece razoável; e neste fato, aparentemente evidente, a mente indiana baseou sua teoria da reencarnação, do nascimento e renascimento na matéria, que se tornou parte tão familiar do pensamento oriental que já não precisa mais de demonstração. 

O indiano sabe que para o ocidental um dia vivido é apenas um dos muitos dias que compõem o período da vida de um ser humano. Essa certeza que o Oriente possui com relação às leis naturais, que regem os grandes giros da existência da alma, é simplesmente adquirida por hábitos do pensamento. Muitos fixam suas mentes em assuntos que para o Ocidente são considerados impensáveis. Foi desta forma que o Oriente produziu as grandes flores do crescimento espiritual da humanidade. Seguindo as pegadas mentais de um milhão de seres, Buda passou pelos Portais de Ouro; e graças a uma grande multidão pressionando sobre o limiar, ele pôde deixar para trás as palavras que provam que aqueles Portais se abrirão."

(Mabel Collins - Através dos Portais de Ouro - Ed. Teosófica, Brasília, 2019 - p. 56/58)

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

O MISTÉRIO DO LIMIAR - 2

"Não há dúvida de que o ser humano deve educar-se para perceber o que está além da matéria, assim como deve educar-se para perceber o que está na matéria. Todos sabem que o início da vida de uma criança é um longo processo de adaptação, de aprender a entender o uso dos sentidos em relação às suas áreas especiais e de praticar os exercício difíceis, complexos e de órgãos completamente imperfeitos, em referência à percepção do mundo da matéria. A criança é sincera e trabalha sem hesitação se quiser viver. 

Algumas crianças nascidas na alvorada da Terra esquivam-se e recusam-se a enfrentar a imensa tarefa que está diante delas, mas que precisa ser realizada para tornar possível a vida na matéria. Elas voltam para as fileiras dos não nascidos; nós as vemos sacrificar seu múltiplo instrumento, o corpo, e desaparecer no sono. Assim ocorre com a grande multidão da humanidade que triunfou, conquistou e desfrutou do mundo da matéria. Os indivíduos dessa multidão, que aparentemente são tão poderosos e confiantes em seu ambiente familiar, na presença do Universo imaterial são como crianças. E os vemos, de todos os lados, diariamente, e de hora em hora, recusando-se a entrar, afundando-se de novo nas fileiras dos habitantes da vida física, apegando-se às consciências que eles experimentaram e compreenderam. A rejeição intelectual de todo conhecimento puramente espiritual é a indicação mais marcante dessa indolência, da qual os pensadores de todas as posições são certamente culpados.

É evidente que o esforço inicial é pesado, e é claramente uma questão de força, bem como de atividade voluntária. Mas não há como adquirir ou usar essa força quando adquirida, exceto pelo exercício da vontade. É inútil esperar nascer com grandes posses. No reino da vida, não há hereditariedade, exceto aquele do próprio passado do ser humano. Ele precisa acumular aquilo que é dele. Isso é evidente para qualquer observador da vida que usa seus olhos sem estar cego pelo preconceito; e mesmo quando o preconceito está presente, é impossível para o indivíduo sensato não perceber o fato.

É a partir disso que obtemos a doutrina do sacrifício e da redenção, permanecendo através de grandes períodos post-mortem, ou pela eternidade. Essa doutrina é uma maneira estreita e pouco inteligente de afirmar o fato na Natureza, aquilo que um homem semeia, ele colherá. A grande inteligência de Swedenborg viu o fato tão claramente que decidiu por endurecer-se em relação à essa existência em particular; seus preconceitos criando para ele a impossibilidade de perceber a chance de uma nova ação, quando não há mais o mundo sensível para atuar. Ele era muito dogmático para a observação científica e não via que, como a primavera segue o outono, e o dia a noite, o nascimento deve seguir a morte. Ele chegou muito perto do limiar dos Portais de Ouro, e foi além do mero intelectualismo, apenas para fazer uma pausa e dar um passo adicional. O vislumbre que obteve do além da vida pareceu-lhe conter o Universo; e no fragmento de sua experiência, ele construiu uma teoria que incluía toda a vida, recusando-se a progredir além desse estado ou em qualquer possibilidade fora desse. Esta é apenas outra forma de tarefa monótona e árdua. Mas Swedenborg está em primeiro lugar diante da multidão de testemunhas para o fato de que os Portais de Ouro existem e podem ser percebidos das altas regiões do pensamento, e ele nos lançou uma leve onda de sensações a partir de seu limiar."...continua.

(Mabel Collins - Através dos Portais de Ouro - Ed. Teosófica, Brasília, 2019 - p. 52/56)


quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

O MISTÉRIO DO LIMIAR - 1

"Não há dúvida de que, ao ingressar em uma nova fase da vida, algo deva ser abandonado. A criança quando se torna um adulto deixa de lado as coisas infantis. São Paulo dá exemplo dessas palavras, como em muitas outras que ele nos deixou, de que havia provado do elixir da vida e que estava a caminho dos Portais de Ouro. A cada gota do elixir divino colocado no cálice do prazer, algo é purgado desse cálice, abrindo espaço para a gota mágica. Pois a Natureza lida generosamente com seus filhos: o cálice no ser humano está sempre cheio até a borda; e se ele decide provar a essência refinada e vivificante, deverá rejeitar algo da parte mais grosseira e menos sensível de si mesmo. Isso tem que ser feito diariamente, de hora em hora, com o tempo, a fim de que o projeto de vida possa aumentar constantemente. E para fazer isso com firmeza, o indivíduo deve ser seu próprio Mestre, deve reconhecer que está sempre carente de sabedoria, deve estar pronto para praticar quaisquer austeridades, usar contra si mesmo sem vacilação o bastão de bétula, a fim de atingir seu objetivo.  

Torna-se evidente a qualquer um que considera seriamente o assunto, que somente aquele indivíduo que tem em si as potencialidades, tanto as estoicas quanto as da sensualidade, possui alguma chance de entrar nos Portais de Ouro. Ele deve ser capaz de experimentar e apreciar a fração mais delicada daqueles prazeres que a existência tem a oferecer; e ao mesmo tempo negar a si mesmo todo prazer, sem, contudo, sofrer com a contradição. Quando ele realiza o desenvolvimento desta dupla possibilidade torna-se então capaz de afastar-se de seus prazeres e remover de sua consciência os que pertencem absolutamente ao indivíduo físico². Quando esses são removidos há outra classe de prazeres, ainda mais refinada, a ser tratada. Negociar com esses prazeres, que capacitarão um indivíduo a encontrar a essência da vida, não é o método defendido pelo filósofo estoico. O estoicismo não permite que no prazer haja alegria, e negando-se a si mesmo um, ele perde o outro. Mas o verdadeiro filósofo, que estudou a própria vida sem estar preso a qualquer sistema de pensamento, vê que o núcleo está dentro da casca e que, ao invés de esmagar completamente a noz, assim como faz um indivíduo grosseiro e indiferente, ele a obtém quebrando a casa e jogando-a fora. 

Todas as emoções e sensações aplicam-se a esse processo; caso contrário, não poderiam fazer parte do desenvolvimento do indivíduo, um elemento essencial da sua natureza. Para isso, diante de si há poder, vida, perfeição, onde cada porção de seu percurso está repleta de meios para ajudá-lo em seu objetivo; e negam esse fato somente aqueles que se recusam a reconhecer a vida como algo separado da matéria. 

Sua posição mental é tão absolutamente arbitrária que é inútil enfrentá-la ou combatê-la. Durante todo o tempo, o invisível tem oprimido o visível, o imaterial tem dominado o material; em todos os tempos, os sinais e símbolos daquilo que está além da matéria têm esperado pelos materialistas para testá-los e avaliá-los. Para aqueles que, arbitrariamente, escolhem a imobilidade, nada há a ser feito, a não ser deixá-los permanecer tranquilos, realizando aquele trabalho monótono, acreditando que nisso consiste a maior atividade da existência." ...continua. 

² No original em inglês: clay. (N.E.)

(Mabel Collins - Através dos Portais de Ouro - Ed. Teosófica, Brasília, 2019 - p. 49/52)


terça-feira, 7 de dezembro de 2021

SUPERE O NERVOSISMO ESCOLHENDO BOAS COMPANHIAS

"Há duas espécies de nervosismo: psicológico (ou superficial) e mecânico (ou orgânico). O psicológico, a variedade mais comum, nasce da agitação mental. Esta, se for contínua e acompanhada do convívio com pessoas destituídas de qualidades inspirativas, dieta errada e maus hábitos de saúde, causa as manifestações crônicas ou orgânicas das doenças nervosas.  

A alimentação deve ser simples, equilibrada e não deve ser ingerida em excessiva quantidade. O exercício deve ser regular. Dormir demais entorpece os nervos, e dormir de menos prejudica-os. Importantíssima é a escolha das companhias. 'Diz-me com quem andas, e te direi quem és.' Bajuladores não nos ajudam. Devemos buscar a companhia de homens superiores - os que nos dizem a verdade e nos ajudam a progredir. O melhor amigo é quem, humildemente, sugere mudanças valiosas para melhorar nossa vida. 

A crítica veemente, expressa de forma insensível ou má, é como bater com um martelo na cabeça de alguém. O poder do amor é infinitamente mais eficaz. Sugestões bondosas, oferecidas com amor e compreensão, podem fazer milagres; simplesmente apontar defeitos nada produz. Uma pessoa estará em condições de julgar os outros somente quando aperfeiçoar seu próprio caráter. Até lá, julgar-se a si mesmo é a única análise proveitosa. 

O convívio com pessoas calmas e sábias é um dos meios mais rápidos de eliminar o nervosismo e atingir a percepção de nossa divindade inata. Pessoas nervosas deveriam conservar-se longe dos que têm problemas semelhantes."

(Paramahansa Yogananda - A Eterna Busca do Homem - Self-Realization Fellowship - p. 100/101)


quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

ILUMINAÇÃO INTERIOR

"A mais rica linguagem poética é evocada pelo recorrente fenômeno diário do nascimento do sol, uma maravilha da natureza equiparada em esplendor somente ao pôr do sol ao final do dia. No contexto da experiência religiosa, o nascimento do sol é usada como símbolo de iluminação espiritual; os raios do sol tipificam a luz divina vertida na consciência individual. Como o amanhecer assinala o início de um novo dia, o nascimento do sol é apropriadamente empregado para retratar a aurora de uma nova fase na vida interna do homem, uma iniciação a um modo de consciência tradicionalmente descrito na linguagem da luz. 

Mas na verdade o nascimento do sol é uma ficção poética, a transferência de movimento do espectador para o espetáculo. O sol nunca nasce ou se põe. Esses eventos, embora anotados com precisão nos almanaques, jamais ocorrem. A verdade, que quase nem se precisa dizer, é que a Terra gira, e nós com ela; mas tão completo é o nosso condicionamento ao mundo da experiência sensorial que habitualmente projetamos sobre um corpo externo o nosso próprio movimento. A Terra gira, o sol torna-se visível, e dizemos: ele nasce. A Terra gira, o sol some de nossa visão, e dizemos: ele se põe. 

Na literatura da vida espiritual, a adoção do nascimento do sol como símbolo de iluminação interior oculta a verdade de que a iniciação não é o resultado de um favor divino ou uma inspiração poética, mas é produzida por uma mudança no interior do indivíduo. Na verdade a mudança é um giro, uma verdadeira conversão para longe da vida do 'eu' e uma aproximação da vida de autodoação. Quando o aspirante é capaz de rasgar o véu do egoísmo, pode perceber a luz que jamais deixou de estar presente.

As figuras de linguagem têm sido a língua franca dos místicos de todas as eras. Conscientemente empregadas como o único meio verbal para expressar o inexpressável, eles não podiam ser mal interpretados por aqueles para quem a iluminação, o nascimento do sol interior, era um fato de experiência. Onde falta experiência, no entanto, é provável que a ignorância como único intérprete aceite o simbolismo verbal como uma afirmação de fato, perpetuando assim a ilusão que mantém o homem prisioneiro dos seus sentidos. 

Um trecho dos escritos de H. P. Blavatsky expõe vigorosamente um exemplo de nossa escravidão ao ponto de vista egocêntrico - isto é, centrado na personalidade. Ela diz: 'Se ao menos pudésseis apreender a ideia básica.' Lembrando seus discípulos da 'grande verdade axiomática da Realidade Una', acrescenta: 'Esta é a sempre existente Essência Raiz, imutável e incognoscível aos nossos sentidos físicos, mas manifesta e claramente perceptível às nossas naturezas espirituais.' Daí segue-se naturalmente que 'se Ela é onipresente, universal e eterna, Dela devemos ter emanado, e devemos, algum dia a Ela retornar'. 

Há uma consequência ulterior, da qual a ilusão do nascimento do sol pode lembrar-nos diariamente. 'Sendo assim', escreve ela, chamando a atenção mais uma vez para as implicações da grande verdade axiomática, 'então faz sentido que vida e morte, bem e mal, passado e futuro, sejam todas palavras vazias, ou na melhor das hipóteses, figuras de linguagem'. 

O nascer do sol é uma ilusão, pois a Terra gira, mas o sol não nasce. Vida e morte são ilusões, pois há apenas Existência, à qual nada pode ser acrescido, da qual nada pode ser retirado, na qual tudo eternamente é."

(Ianthe H. Hoskins - Iluminação Interior - Revista Sophia, Ano 15, nº 65 - p. 5/7)