OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


segunda-feira, 31 de julho de 2017

AMOR, CORAGEM E CONFIANÇA (PARTE FINAL)

"(...) Se vemos um animal ser maltratado e sentimos raiva, essa raiva é uma expressão de separatividade tão ruim quanto a crueldade do malfeitor. Isso não quer dizer que não devemos interferir, mas que devemos interferir sem violência. Uma vez perguntaram a Krishnamurti o que ele faria se um amigo fosse atacado na sua frente. Ele disse que sempre viveu sem violência e que agiria como sempre vivera.

Como sair do centro? Será possível abrir mão dessa posição? Isso é possível numa crise súbita, quando a separatividade, o medo e as comparações simplesmente se afastam. Em vez de estar no centro, passamos a estar simplesmente em nenhum lugar ou em toda parte, onipresentes no todo. Em vez de separatividade, existe unidade com todos; em vez de medo há coragem e confiança; em vez de crítica, amor e compreensão; em vez de comparação, apreciação. Isso também pode ocorrer sem aviso, sem causa aparente; podemos simplesmente nos sentir unos com tudo. Ou pode haver uma causa como amor, devoção, criatividade, altruísmo ou estudo profundo. 

Vistas de uma perspectiva favorável, nossas pequeninas preocupações parecem sem importância. Alguém pode até nos insultar, mas se estivermos absortos em criação, amor, devoção, ou ajuda a outra pessoa, nos ocupamos com algo maior e o insulto desaparece. Podemos até mesmo ver a sua causa no nosso próprio interior, e compreender a pessoa que se comportou de maneira desagradável.

Nesse caso nós morremos para o nosso eu interior, a pessoa autocentrada. Quando temos diferenças de opinião e nos irritamos, podemos simplesmente pôr fim à irritação. Podemos olhar a pessoa como se fosse pela primeira vez, sem preconceitos. Podemos sair do nosso centro e ver o seu centro, o seu ponto de vista. Esse é um passo rumo à unidade.

Com a percepção da unidade a personalidade pode ser um instrumento para o superior, não simplesmente para si própria. Devemos viver e agir como somos - mas isso não quer dizer que não precisamos tentar melhorar. A questão é se aprofundar na concepção da unidade sem se imaginar melhor do que se é - sem pensar no eu. Talvez então tenhamos um insight sobre o que significa a iluminação. Ficará claro que o fim está no início e o início no fim; que, a partir desse ponto de vista, o tempo não existe; e que o centro que pensávamos ser nunca existiu."

(Mary Anderson - Como superar o egocentrismo - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 40/41


domingo, 30 de julho de 2017

AMOR, CORAGEM E CONFIANÇA (1ª PARTE)

"Soube de um grupo de bombeiros que, ao combater um grande incêndio, experimentou um sentimento de grande unidade que eliminou todo o medo de perigo pessoal. Situações assim são frequentes. Numa crise súbita a pessoa pode esquecer de si mesma, deixar de defender sua posição autocentrada e mostrar uma extraordinária coragem. Mas nem sempre é assim. Quando ameaçadas de escassez, elas tendem a comprar provisões em quantidades ridiculamente grandes, porque a mente teve tempo para reagir e ocupar seu central.

Retirar-se do centro deve ser como uma surpresa, de algum modo iludindo o tempo. Isso não pode ser planejado de antemão. Mas há condições para essa retirada. Frequentemente menciona-se as virtudes. Podemos escolher algumas e nos examinar para ver se as desenvolvemos. Mas assim podemos fortalecer a posição autocentrada e nos afastar ainda mais da unidade, rumo a mais separatividade.

Ao examinar nossas virtudes, devemos atentar para todas elas, porque nenhuma pode florescer à custa das demais. Se isso ocorrer será um exagero que pode se tornar um vício. A virtude está na moderação.

Não pode haver regras rígidas e inalteráveis; cada um deve, como um bom mestre-cuca, juntar a quantidade certa de cada ingrediente. Isso significa que certas virtudes num determinado caso, devem ceder lugar a outras. Ao educar os filhos, tem-se que decidir quando o amor deve ceder à justiça e vice-versa. Todas as virtudes levadas à perfeição tornam-se uma só virtude. O amor perfeito expressa-se também como sabedoria perfeita.

A chave para manifestar as virtudes está na auto-observação e no autoconhecimento. Paradoxalmente, a preparação para deixar o centro pode ocorrer melhor de maneira inconsciente, ou pelo menos natural e espontânea. Todas as virtudes são expressões de uma atitude - e essa atitude nada tem a ver com estar no centro. Para ser virtuosa a pessoa precisa deixar o centro. (...)"

(Mary Anderson - Como superar o egocentrismo - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 40
www.revistasophia.com.br


sábado, 29 de julho de 2017

COMO SUPERAR O EGOCENTRISMO (PARTE FINAL)

"(...) Não vivemos somente como corpos, mas também como sentimentos e pensamentos. Nosso nível psíquico não é uma estrutura tão sólida quanto o corpo físico; é mais fluido. Nesse nível estamos muito mais intimamente relacionados com os outros.

Constantemente trocamos sentimentos e pensamentos com outras pessoas. Queremos 'congelar' nossos sentimentos e pensamentos, 'patentear' nossas ideias e protegê-las com direitos autorais. Como não podemos fazer isso, acabamos tendo problemas psicológicos. Examinamos as razões por que nos sentimos 'no centro'. Quais são os resultados desse sentimento? Eles não são diferentes das causas: uma crescente impressão de separatividade e medo de perder nossa posição.

Como estamos no centro, não podemos ver a nós mesmos como realmente somos. Vemos, nas outras pessoas, nossas próprias falhas e as criticamos. Esse tipo de crítica, mesmo não expressa, perturba o relacionamento com o nosso meio, e essa perturbação fortalece o sentimento de separatividade.

Por não conseguirmos nos ver, construímos uma imagem de nós mesmos que resulta em comparações: 'Eu sou melhor que fulano e sicrano.' Isso pode levar à arrogância ou ao desespero; de qualquer modo, leva a mais separação. Nas escolas a comparação é usada como incentivo, mas seu efeito sobre o caráter não é nada desejável. Krishnamurti dizia, em suas escolas: 'Não se compare a ninguém.' A crítica e a comparação com os outros surgem da noção de estarmos no centro e fortalecem essa noção.

Como as causas e os efeitos dessa posição central são as mesmas, podemos falar de um círculo vicioso infinito. Podemos esquecer causas e efeitos e ver somente a situação total, onde diferentes aspectos existem simultaneamente. Estar no centro, sentir-se separado, ter medo, criticar, comparar - tudo isso são expressões da situação em que estamos. Podemos simplesmente sair disso?"

(Mary Anderson - Como superar o egocentrismo - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 38/39)


sexta-feira, 28 de julho de 2017

COMO SUPERAR O EGOCENTRISMO (1ª PARTE)

"Durante uma palestra, Krishnamurti observou que a plateia estava desatenta e perguntou: 'Em que vocês estão interessados?' A conclusão foi que cada pessoa estava interessada em si mesma. Com poucas excessões, todos tendem, consciente ou inconscientemente, a ser egocêntricos, ou seja, a imaginar-se no centro. Mesmo ao imaginar uma bela paisagem, nós a vemos a partir do nosso ponto de vista e nos colocamos no centro.

Podemos dizer que essa tendência é simplesmente humana. Mas uma criancinha ainda não tem um sentimento definido do 'eu'. Ela às vezes fala de si mesma na terceira pessoa: 'Ana está com sede.' Com o tempo ela desenvolve o sentimento do 'eu'. Será que aprende com os pais ou com o ambiente? Ou esse sentimento será inato?

De qualquer forma, podemos ver facilmente as razões psicológicas dessa tendência. Nós nos colocamos no centro para nos proteger e nos autoafirmar. Temos medo de ser magoados ou desaparecer no anonimato. Esse medo significa que percebemos as pessoas e coisas de acordo com a nossa imaginação; imaginamos que elas podem nos magoar ou nos ignorar. O medo surge da noção de que há pessoas que não são 'nós', que estão separadas de nós.

Certamente é o caso no nível físico. Temos um corpo físico definido e aparentemente sólido. Sabemos que ele continuamente troca partículas atômicas com o ambiente, mas como não vemos isso acontecer, não conseguimos realmente acreditar. Estamos sujeitos à ilusão que nos leva a cuidar do corpo, a providenciar alimento, teto etc, se tivermos que permanecer no plano físico. Fisicamente percebemos que somos entes separados do ambiente; somos obrigados a colocar nosso corpo no centro para cuidar dele.(...)"

(Mary Anderson - Como superar o egocentrismo - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 38)


quinta-feira, 27 de julho de 2017

VERDADE

"Viver em verdade, com a verdade e pela verdade, inicialmente é difícil, e gera problemas, pois o homem veraz é perseguido pela maioria que mente. 

Mas, viver a Verdade é viver em Deus, em Deus que é Verdade.

Foi se baseando nisto que um homem chamado Gandhi pagou o alto preço da verdade, e sofreu por ela, mas alcançou a Graça Divina, e amorosamente serviu e ajudou milhões de sere humanos, e isto é que é ser realmente feliz.

Os medrosos fogem da verdade.

Os bravos vivem e morrem por ela.

Morrer na verdade é infinitamente preferível a viver enganosamente na mentira.

O caminho largo é feito de mentiras. Prefiro o Teu."

(Hermógenes - Deus investe em você - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1995 - p. 52)


quarta-feira, 26 de julho de 2017

O CORAÇÃO NA MEDITAÇÃO (PARTE FINAL)

"(...) Bom no Começo nasce da consciência de que nós e todos os seres sencientes temos como nossa essência mais profunda a natureza búdica, e do entendimento de que realizá-la é ficar livre da ignorância e acabar com o sofrimento. (...)

Bom no Meio é a atitude da mente com que entramos no coração da prática, inspirada na realização da natureza da mente, de onde surge uma disposição para o desapego livre de toda e qualquer referência conceitual, e surge também a consciência de que todas as coisas são inerentemente 'vazias', ilusórias e semelhantes ao sonho. 

Bom no Fim é o modo com que trazemos nossa meditação até o final, dedicando todo o mérito dela obtido e orando com real fervor: 'Possa qualquer mérito vindo desta prática conduzir à iluminação de todos os seres: possa tornar-se uma gota no oceano da atividade de todos os budas em seu incansável trabalho pela liberação de todos os seres'. Mérito é o poder positivo e benéfico, a paz e a felicidade que irradiam da sua prática. Você dedica esse mérito ao benefício supremo e a longo prazo de todos os seres, à sua iluminação. Num nível mais imediato, você o dedica a que haja paz no mundo, a que todos possam ser inteiramente livres do desejo e da doença, e possam experimentar total bem-estar e felicidade duradoura. Então, compreendendo a natureza de sonho e ilusão da realidade, você reflete sobre o fato de que, no sentido mais profundo, você que está dedicando a prática, aqueles a quem você a dedica, e mesmo o próprio ato de dedicação são todos inerentemente 'vazios' e ilusórios. Diz-se nos ensinamentos que isso fecha a meditação e assegura que nenhum dos seus poderes puros perca-se ou escape, e que nenhum dos méritos da prática jamais se desperdice. 

Esses três princípios sagrados - a motivação hábil, a atitude de despendimento que protege a prática e a dedicação que a fecha - são os que torna sua meditação verdadeiramente iluminadora e poderosa. Eles foram descritos com beleza pelo grande mestre tibetano, Longchenpa, como 'o coração, o olho e a força vital da verdadeira prática'. Ou como Nyoshul Khenpo diz: 'Para obter a completa iluminação, mais do que isso não é necessário; porém menos que isso é insuficiente'."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 89/91)

terça-feira, 25 de julho de 2017

O CORAÇÃO NA MEDITAÇÃO (1ª PARTE)

"O propósito da meditação é despertar em nós aquela natureza da mente que nos lembra o céu, e levar-nos àquilo que realmente somos - nossa consciência pura e imutável que subjaz ao todo da vida e morte.

Na imobilidade e no silêncio da meditação, retornamos num lampejo àquela profunda natureza interior que há tanto perdemos de vista para o mundo dos negócios e das distrações da nossa mente. Não é extraordinário que ela só possa se acalmar por uns poucos instantes sem aferrar-se a uma distração? Nossa mente é de tal forma inquieta e preocupada que às vezes penso que viver numa cidade em nosso mundo de hoje é já viver como os seres atormentados do estágio intermediário que se segue à morte, quando se diz que a consciência é angustiosamente inquieta. De acordo com algumas autoridades, mais de 13% das pessoas nos Estados Unidos sofrem de algum tipo de desordem mental. O que isso diz sobre o modo como vivemos?

Somos fragmentados em tantos aspectos diferentes! Não sabemos quem de fato somos, com que aspectos de nós mesmos devemos nos identificar, ou em quais devemos crer. Tantas vozes, comandos e sentimentos diferentes lutam pelo controle de nossa vida interior que vemo-nos dispersos por toda a parte, em todas as direções, deixando a casa sem ninguém. A meditação, é então, trazer a mente para casa.

No ensinamento do Buda, dizemos que há três fatores que fazem toda a diferença entre a nossa meditação ser um modo de propiciar relaxamento, paz e felicidade temporários, ou tornar-se um fator poderoso para a nossa iluminação e a de outros. Nós os chamamos: 'Bom no Começo, Bom no Meio e Bom no Fim'. (...)"

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 89)
www.palasathena.org


segunda-feira, 24 de julho de 2017

TREINANDO A MENTE (PARTE FINAL)


"(...) 'Treinar' a mente não significa, de modo algum, subjugá-la pela força ou submeter-se a uma lavagem cerebral. Treinar a mente é, antes de tudo, ver de maneira direta e concreta como ela funciona, um conhecimento que você tira dos ensinamentos espirituais e da experiência pessoal na prática da meditação. Aí você pode usar a compreensão para domar a mente e trabalhar habilmente com ela, fazendo-a mais e mais dócil, de modo a poder tornar-se mestre de sua própria mente, empregando-a em seu potencial mais amplo e benéfico. O mestre budista do século oitavo, Shantideva, dizia: 

Se este elefante da mente é atado por todos os lados pelo cordão da presença mental, 
Todo medo desaparece a a felicidade completa emerge.
Todos os inimigos: tigres, leões, elefantes, ursos, serpentes [das nossas emoções]²
E todos os guardiões do inferno; os demônios e os horrores,
Todos se submetem à maestria da sua mente,
E pelo domar dessa mente, todos são subjugados,Porque é da mente que procedem os temores e penas infinitas.³

Como o escritor que só domina a espontânea liberdade de expressão depois de anos de estudo muitas vezes estafante, e tal como a simples graça de uma bailarina só é conquistada com enorme e paciente esforço, quando começamos a entender onde a meditação nos levará, saberemos aproximar-nos dela como sendo o grande empenho da nossa vida, aquele que demanda de nós a mais profunda perseverança, entusiasmo, inteligência e disciplina."

² Os animais ferozes e selvagens que eram ameaça no passado, hoje foram substituídos por outros perigos: nossas emoções selvagens e descontroladas.
³ Marion L. Matics, Entering the Path of Enlightenmente: The Bodhicaryavatara of the Buddhist Poet Shantideva (Londres: George, Allen anda Unwin, 1971), 162.

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 88

domingo, 23 de julho de 2017

TREINANDO A MENTE (1ª PARTE)

"Há tantas formas de apresentar a meditação, e devo ter ensinado isso milhares de vezes, mas a cada vez é diferente, de um modo direto e sempre novo.

Felizmente vivemos numa época em que pelo mundo todo muita gente se familiariza com a meditação. Tem sido cada vez mais aceita como uma prática que atravessa as barreiras culturais e religiosas e se eleva acima delas, permitindo àquele que a busca estabelecer um contato direto com a verdade do seu ser. É uma prática que a um tempo transcende o dogma e é a essência das religiões.

Via de regra desperdiçamos nossas vidas distraídos do nosso eu verdadeiro, numa atividade sem fim; a meditação é o caminho para trazer-nos de volta a nós mesmos, onde podemos realmente experimentar e provar nosso ser completo, além de todos os padrões habituais. Nossas vidas são vividas em intensa e ansiosa luta, num turbilhão de velocidade e agressão, competindo, apegando-nos possuindo e conquistando, sobrecarregando-nos sempre de atividades irrelevantes e de preocupações. A meditação é o exato oposto disso. Meditar é interromper por completo o modo como 'normalmente' operamos, em benefício de um estado isento de cuidados e tensões em que inexiste competição, desejo de posse ou apego a qualquer coisa, sem a luta intensa e ansiosa, sem fome de adquirir. Um estado desprovido de ambição onde não cabe nem o aceitar nem o rejeitar, nem a esperança nem o medo, um estado em que lentamente começamos a libertar-nos das emoções e dos conceitos que nos aprisionaram, até chegarmos a um espaço de simplicidade natural.

Os mestres da meditação budista sabem o quão flexível e maleável é a mente. Se a treinamos, tudo é possível. Na verdade, já somos perfeitamente treinados pelo samsara e para ele, treinados para ficar ciumentos, treinados para o apego, treinados para ser ansiosos e tristes e desesperados e ávidos, treinados para reagir com raiva ao que quer que nos provoque. Somos treinados, de fato, até o ponto dessas emoções negativas surgirem de modo espontâneo, sem que tentemos produzi-las. Assim, tudo é uma questão de treino e do poder do hábito. Dedique a mente à confusão e logo veremos - se formos honestos - que ela se tornará uma mestra sinistra na confusão, competente no seu vício, sutil e perversamente dócil em sua escravidão. Dedique a mente na meditação à tarefa de libertá-la da ilusão e veremos que com tempo, paciência, disciplina e o treinamento adequado, ela começará a desembaraçar-se e conhecer sua bem-aventurança e claridade essenciais. (...)"

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 87/88


sábado, 22 de julho de 2017

TRAZENDO A MENTE PARA CASA (PARTE FINAL)

"(...) O que Buda viu foi que a ignorância sobre a nossa verdadeira natureza é a raiz de todos os tormentos do samsara, e a raiz da ignorância em si é a tendência habitual da nossa mente para a distração. Para terminar com a distração da mente era preciso acabar com o próprio samsara; a chave para isso, ele percebeu, era trazer a mente de volta à sua verdadeira natureza pela prática da meditação.

O Buda se sentou no chão em serena e humilde dignidade, com o céu sobre ele e à sua volta, como para mostrar-nos que na meditação você se senta com uma atitude mental aberta como o céu, embora permaneça presente na terra e com os pés no chão. O céu é a nossa natureza absoluta, sem barreiras e infinita, e o chão é a nossa realidade, nossa condição relativa e ordinária. A postura que assumimos quando meditamos significa que estamos ligando absoluto e relativo, céu e terra, espaço e chão, como duas asas de um pássaro, integrando a imortal natureza da mente, semelhante ao céu, e o solo da nossa natureza mortal e transitória. 

A dádiva de aprender a meditar é o maior presente que você pode se dar nesta vida. Porque é apenas através da meditação que você pode empreender a jornada para descobrir sua verdadeira natureza e assim encontrar a estabilidade e a confiança de que necessitará para viver e morrer bem. A meditação é o caminho para a iluminação."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 86


sexta-feira, 21 de julho de 2017

TRAZENDO A MENTE PARA CASA (1ª PARTE)

"Há cerca de 2.500 anos, um homem que estivera procurando a verdade por muitas e muitas vidas chegou a um lugar tranquilo na Índia setentrional, e se sentou sob uma árvore. Continuou sentado ali com imensa determinação e jurou não se levantar até que tivesse encontrado a verdade. Ao anoitecer, conta-se, ele havia dominado todas as forças escuras da ilusão. E cedo na manhã seguinte, quando a estrela Vênus brilhou no céu do alvorecer, o homem foi recompensado por sua infinita paciência, disciplina e perfeita concentração, atingindo a meta final da existência humana, a iluminação. Nesse momento sagrado, a própria terra estremeceu, como que 'embriagada de felicidade', e segundo dizem as escrituras 'ninguém mais em parte alguma estava irado, doente ou triste; ninguém mais fazia o mal, ninguém mais era orgulhoso; o mundo ficou muito quieto como se tivesse atingido a plena perfeição'. Esse homem ficou conhecido como o Buda. Aqui, o mestre vietnamita Thich Nhat Hanh dá uma bela descrição da iluminação do Buda:
Gautama sentiu como se uma prisão que o confinava há milhares de vidas tivesse se rompido. A ignorância fora seu carcereiro. Devido à ignorância sua mente estivera obscurecida, como a lua e as estrelas ficam escondidas atrás de nuvens de tempestade. Enevoada por infinitas ondas de pensamentos ilusórios, a mente tinha dividido, de maneira falsa, a realidade em sujeito e objeto, o eu e os demais, existência e não existência, nascimento e morte, e dessas discriminações surgiram concepções erradas - as prisões dos sentimentos, do desejo, do apego, do vir-a-ser. O sofrimento do nascimento, da velhice, da doença e da morte apenas engrossou as paredes da prisão. A única coisa a fazer era pegar o carcereiro e olhar seu verdadeiro rosto. O carcereiro era a ignorância... Quando ele se foi, o cárcere desapareceu e nunca mais se reconstruiu.¹ (...)"
¹ Thich Nhât Hanh, Old Path, White Clouds (Berkeley, Califórnia: Parallax Press, 1991), 121.

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 85/86


quinta-feira, 20 de julho de 2017

COMO REDUZIR A IRA

"O ressentimento e a ira muitas vezes levam a doenças; por isso, é importante não se deixar contaminar automaticamente por uma pessoa zangada e manter-se atento ao crescimento da própria ira em resposta à ira do outro. Mesmo que esse sentimento surja, pode-se mudar o foco da atenção, visualizar alguém com quem se tem um relacionamento amoroso e deixar que esse amor flua para fora, mesmo que seja durante um curto espaço de tempo.

Essa mudança de atenção permite perceber as causas da ira e nossa habilidade de diminuir nossas próprias respostas hostis. Em suma, isso nos fornece uma melhor perspectiva do padrão da interação. É possível, dessa forma, produzir um fluxo mais positivo de pensamentos suavizantes, calmos, e enviá-los à pessoa com quem se está zangado. De início isso parece uma tarefa impossível, mas a tentativa de implementar essa estratégia desenvolve a percepção que lentamente transforma a resposta automaticamente hostil numa resposta natural e suave.

Muito embora a pessoa possa perceber que está reagindo com raiva, hostilidade e ressentimento, muitas vezes ela resolve não mudar, já que não reagir negativamente à emoção negativa da outra pessoa é interpretado, em nossa cultura, como fraqueza ou submissão. Porém, ao escolher deliberadamente uma resposta positiva, a pessoa desenvolve um método ativo de mudar seu próprio comportamento condicionado.

Perceba os efeitos dos impactos emocionais. Você é capaz de intervir, reduzir as tensões e otimizar seus relacionamentos."

(Dora Kunz e Erik Peper - A ira e seus efeitos - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 37)

quarta-feira, 19 de julho de 2017

EXPECTATIVA NEGATIVA (PARTE FINAL)

"(...) Para evitar o efeito da projeção negativa, é útil relaxar e aquietar a mente e os sentimentos durante algum tempo antes de alguma entrevista difícil. Durante essa pausa, as tendências condicionadas são reduzidas, de modo que há menos antecipações negativas. Essa atitude de não julgamento é essencial no encontro terapêutico.

Contudo, como relaxar e permitir que a mente e as emoções  entrem em harmonia? Provavelmente é mais fácil, em vez de tentar criar um branco na mente, permanecer sossegado e visualizar uma cena unificadora que simbolize um senso interno de totalidade, como uma árvore ou uma montanha. Essa mudança de atenção na qual a pessoa se identifica com as qualidades da totalidade é chamada de 'centramento'.

No processo de mudar a própria percepção para essa experiência unificadora, a pessoa pode perceber sua mente tagarela e um padrão no qual ela continuamente se mantém em contemplação. Os terapeutas ou os pais podem agora, conscientemente, passar de um sentimento negativo para um positivo a respeito do paciente ou do filho, o que produz uma empatia intensificada e permite o livre fluxo de energia entre as pessoas. Dentro de cada um existe um potencial humano ou uma natureza denominada buddhica, em sânscrito, que está relacionada com a intuição pura. Se mantivermos isso em mente, cada troca de energias positivas pode estimular esse potencial."

(Dora Kunz e Erik Peper - A ira e seus efeitos - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 37)

terça-feira, 18 de julho de 2017

EXPECTATIVA NEGATIVA (1ª PARTE)

"Esses conceitos a respeito das energias podem ser aplicados em situações de terapia. Para otimizar o encontro terapêutico, o profissional não deve levar consigo expectativas negativas a respeito de seu cliente nem trazer consigo sentimentos, emoções e tendências associados à sessão anterior.

Sempre que antecipa alguma dificuldade, a pessoa tende a se enrijecer e ficar exausta, o que contribui para dissipar energia. Além disso, existe uma alta probabilidade de que o cliente inconscientemente experiencie os sentimentos negativos projetados e rejeite a intervenção terapêutica. Essa reação inconsciente é provavelmente despertada pelo fluxo de energia negativa associado aos pensamentos, às imagens e expectativas do terapeuta.

Pensamentos momentâneos do tipo 'espero que essa pessoa não fique zangada', 'gostaria que essa sessão terminasse' ou 'não acredito que ela queira melhorar', são imagens negativas inconscientes. Pacientes e clientes reagem a essa postura automaticamente. Às vezes parecem telepatas e realizam a expectativa projetada. Essa projeção talvez seja o mecanismo por meio do qual a polarização experimental afeta o resultado da pesquisa.

O prejulgamento do terapeuta produz ansiedade ou rejeição automática, uma vez que tende a repercutir no campo do paciente com crenças, pensamentos ou imagens que ele inconscientemente tem de si mesmo. Em vez de diminuir as dúvidas internas, há a ativação dessas autoimagens internas negativas, de modo que sua autoestima e autoconfiança diminuem.

Um processo semelhante ocorre se a pessoa estiver ansiosa demais por um resultado positivo, como desejam os terapeutas para seus clientes ou os pais para seus filhos. Nesses casos, os pacientes ou os filhos experienciam uma pressão por mudança que pode diminuir seu aprendizado de novas habilidades. Isso também pode acentuar a ansiedade ou o medo de ser rejeitado se não atingir as expectativas do terapeuta ou dos pais. (...)"

(Dora Kunz e Erik Peper - A ira e seus efeitos - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 35)
www.revistasophia.com.br


segunda-feira, 17 de julho de 2017

FLUXOS PODEROSOS (PARTE FINAL)

"(...) Embora a carga emocional associada à ira seja direcionada à pessoa com quem se está brigando, ela também é experienciada por outras pessoas nas proximidades. Mesmo sem palavras, o padrão de energia associado à ira irradia-se para fora e afeta outras pessoas no ambiente.

É através desse processo que pais podem inconscientemente magoar seus filhos. Por exemplo, se marido e mulher estão com raiva um do outro, os filhos são atacados energeticamente pela troca emocional entre os adultos. É como se os pais atirassem flechas para atingir um ao outro e assim ferissem os filhos, que estão no meio do fogo cruzado. A criança pode se enfurecer, chorar, retrair-se ou agir de maneira irracional, porque seus sentimentos foram fragmentados. As crianças são muito sensíveis e têm menos habilidade para se proteger das energias negativas.

Não se sabe por que algumas pessoas conseguem lidar mais facilmente com a ira do que outras; no entanto, algumas crianças parecem nascer com mais sensibilidade que outras. As mais sensíveis são mais facilmente afetadas pelas ondas de ira. Uma vez que as crianças não têm discernimento suficiente para compreender que a ira não é dirigida a elas, experienciam o ataque como pessoal e supõem que estão erradas - um processo que diminui sua autoconfiança.

A maioria de nossas interações emocionais é de curta duração e os efeitos são transitórios. Mas se repetimos essa mesma interação e não percebemos um distúrbio  emocional, isso pode fazer com que os ombros enrijeçam e o plexo solar se contraia. Quando essa reação emocional se torna habitual, pode levar a distúrbios gastrointestinais. Outro resultado é o decréscimo na captação de energia, que pode levar à exaustão crônica e à suscetibilidade a doenças."

(Dora Kunz e Erik Peper - A ira e seus efeitos - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 34/35)


domingo, 16 de julho de 2017

FLUXOS PODEROSOS (1ª PARTE)

"Muitas vezes o amor não é doado livremente; pode ser condicionado pelo fato de que a pessoa, inconscientemente, espera obter retorno por aquilo que dá. Isso pode produzir uma hostilidade inconsciente e obstruir o livre fluxo de energia. Por outro lado, emitir amor sem estar centrado em si mesmo pode afetar o receptor, tornando-o mais aberto a influências espirituais. Um padrão mais altruísta, mais sociável, produz empatia e permite uma troca livre entre duas pessoas.

Ironicamente, a ira possui um fluxo tão poderoso quanto o amor, só que ao atingir a outra pessoa ela energiza a hostilidade e inibe o bom relacionamento. A ira tende a se refletir e retornar a quem a enviou, de modo que um mútuo antagonismo é desenvolvido. O impacto da ira é inconscientemente percebido pelo receptor como um impacto violento no campo emocional, uma energia destrutiva e fragmentada, que é automaticamente rejeitada. 

Geralmente a ira retorna com hostilidade a quem a enviou, a não ser que a pessoa consiga aquietar-se e permitir que a energia da ira se atenue e se dissipe. Nesse processo dinâmico, o receptor da ira frequentemente se 'desliga', e assim a comunicação quase não ocorre. Mas na maioria dos casos a pessoa retribui ira com ira, de modo que se estabelece uma espiral de antagonismo. O resultado é um crescente e descontrolado sistema de realimentação. (...)"

(Dora Kunz e Erik Peper - A ira e seus efeitos - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 34)


sábado, 15 de julho de 2017

A IRA E SEUS EFEITOS

"O amor tende a irradiar um senso de quietude, paz e tranquilidade que abre uma conexão energética entre as pessoas. A ira tende a fechar e a isolar o outro, porque o receptor tende a responder da mesma maneira, formando assim uma barreira. Em cada caso há uma forma de energia fluindo de uma pessoa para a outra, e esse impulso energético nos afeta independentemente de sugestões verbais ou não verbais.

Ser capaz de controlar e compreender esse fluxo energético é um desafio. Quanto mais emocionalmente envolvida está a pessoa, mais dificuldade ela tem de ser objetiva. Fortes apegos emocionais tendem a bloquear a experiência do presente, de modo que a interação é influenciada por imagens passadas e antecipações do futuro. Por exemplo, quando as pessoas conversam, a comunicação entre elas se torna menos eficaz se elas tentam ocultar seus sentimentos. A abertura entre elas é afetada por experiências prévias de desapontamento, falta de apoio ou de carinho. Cada intercâmbio entre pessoas traz experiências condicionadas, imagens e emoções que podem afetar o andamento da comunicação.

Ao lidar com energias dessa maneira, adotamos um ponto de vista chamado 'perspectiva energética'. Pressupõe-se que os pensamentos e as emoções estão não apenas contidos no indivíduo, mas são também irradiados para fora. Além disso, considera-se que cada indivíduo está inserido num campo energético que permeia o espaço e que se interconecta com os outros, afetando-os. Assim, fica claro que interagimos uns com os outros porque somos parte de um sistema total, dinâmico e interdependente.

Se uma pessoa compreende que está continuamente interagindo e afetando os outros, o que pode fazer para fomentar a saúde e o crescimento em si e no próximo? Antes de oferecer estratégias possíveis, descreveremos primeiramente o mecanismo por meio do qual efeitos negativos como a ira, o ressentimento, os preconceitos e as expectativas afetam a outra pessoa."

(Dora Kunz e Erik Peper - A ira e seus efeitos - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 33)


sexta-feira, 14 de julho de 2017

A IMPORTÂNCIA DE CONTROLAR OS SENTIDOS

"A filosofia vedanta ensina que, desde que reconheçamos a base essencial de tudo que vemos, desnecessário se torna qualquer outro sadhana (disciplina). Se você tem um pote com um furo, jamais o encherá de água. Da mesma forma, se o pote de nossa mente tem alguns furos, na forma de desejos sensuais, todo trabalho que fizermos será inútil; nunca a plenificaremos com pensamentos sagrados. Somente quando já hão haja orifícios, suas tentativas serão eficazes e você poderá elevar-se ao Divino.

Rancor, orgulho e outras paixões reduzem o homem ao nível de um lunático e algumas vezes o degradam ao nível da besta. Portanto, é necessário que devamos reconhecer vijnana, prajnana e sujnana⁶⁹, que latentes no homem, o dirigem, por canal apropriado, para assim atingir o estado mais alto da felicidade suprema. A causa de todos os problemas, confusões e desordens é o fato de que perdemos o domínio sobre nossa sensualidade. Permitimos que tudo ocorra de maneira selvagem. Por deixar liberados e descontrolados os sentidos, tornamo-nos incapazes de apropriadamente discernir, de pensar de forma fria, calma e racional. É assim que, muitas vezes, somos arrastados a ações errôneas. A ira é igual a um tóxico. Induz-nos internamente a fazer coisas erradas. Esta é a fonte de todos os pecados. É um imenso demônio. Ela nos conduz a cometer os demais pecados. No caso de Viswamitra⁷⁰, sabemos que todo bem que adquiriu praticando thapas⁷¹ foi anulado por este único mal - a ira. O mérito que acumulara mediante thapas, que durara muitos anos, foi perdido num momento de ira."

⁶⁹ Vijnana, prajnana e sujnana - vi, praj e su são três prefixos acrescentados à palavra jnana (conhecimento), atribuindo a esta três graus diferentes, expressando três espécies de conhecimento. As diferenças são demasiadamente sutis para a mente ocidental, e explicá-las não caberia num simples rodapé. Podemos acrescentar que se trata de níveis diversos e progressivos, que transformam o simples conhecimento em sabedoria suprema unitiva.
⁷⁰ Um celebrado sábio, que, tendo nascido na varna (casta) dos guerreiros, através de pesadas e prolongadas austeridades (thapas), ascendeu à varna dos mentores - os brahmanas ou brahmins.
⁷¹ Duras práticas ascéticas.

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 179)
www.record.com.br


quinta-feira, 13 de julho de 2017

A RAIZ DE TODO O MEDO

"O anseio de se tornar causa medo. Ser, alcançar e depender também geram medo. O estado de ausência de medo não é a negação, não é o oposto do medo nem é coragem. Quando se entende a causa do medo, ele cessa. Não se trata de tornar-se corajoso, porque em tudo o que se torna há a semente do medo. A dependência de coisas, de pessoas ou de ideias gera medo. A dependência nasce da ignorância, da ausência de autoconhecimento, da pobreza interior. O medo causa incerteza na mente e no coração, impedindo a comunicação e o entendimento.

Mediante a autoconsciência começamos a descobrir e, assim, a compreender a causa do medo, não apenas a superficial, mas os profundos medos causais e acumulativos. O medo pode ser tanto inato quanto adquirido, está relacionado ao passado, e para libertar dele o pensamento-sentimento, o passado deve ser compreendido por meio do presente. O passado está sempre querendo dar origem ao presente, tornando-se a memória identificadora do 'eu' e do 'meu'. O self é a raiz de todos os medos."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 110)


quarta-feira, 12 de julho de 2017

FELICIDADE AQUI E AGORA

"Todos os nossos esforços conscientes são direcionados à busca da felicidade, mas a infelicidade surge da própria tensão desses esforços. Conseguimos nos manter infelizes a maior parte do tempo. O dinheiro (ou a falta dele) é uma das maiores causas de infelicidade. O rei Abdul Rahamn III, o maior dos reis Omayyad da parte moura da Espanha, era rico, poderoso, temido e respeitado em todo o mundo ocidental. Sua bela capital, Córdoba, era orgulho e inveja de toda a Europa. Ele reinou por mais de cinquenta anos, mas, durante esse longo período, lembrava-se de ter sido verdadeiramente feliz apenas por catorze dias.

O desejo é a principal causa da infelicidade. Os objetos mundanos de desejo - dinheiro, posição, posses, fama - são amaldiçoados por uma doença peculiar; a dualidade. Sua natureza projeta duas reações opostas, como dor e prazer, estados agradáveis e desagradáveis se alternam na mente. Por isso, a satisfação de um desejo nunca leva a um estado de felicidade ininterrupta. Um exemplo é o dinheiro, que pode comprar prazeres, mas traz preocupações sobre como investí-lo e multiplicá-lo.

Quando desejamos algo, forjamos um elo com o objeto desejado. Por isso, no momento em que cobiçamos alguma coisa, perdemos, na mesma medida, a nossa liberdade. Não é necessário explicar que a escravidão anula a alegria da vida; apenas as criaturas livres podem ser verdadeiramente felizes. 

Há solução para esse problema universal? Segundo o Bhagavad Gita (v. 23), 'apenas aquele que consegue manter sob controle (...) a pressão exercida pelo desejo e o ódio pode ser feliz.' Essa fórmula para a felicidade é simples e lúcida, sem ambiguidades. Se aprendermos a controlar nossas paixões, podemos ser felizes aqui e agora. A dificuldade é como fazer isso

Portanto, a atitude básica a ser adotada é restringir o desejo ao mínimo necessário. Obviamente, as necessidades mínimas para uma vida razoável devem ser atendidas. Muito embora os passos para obtê-las possam ser tecnicamente classificados como desejo, os filósofos não se preocupam muito com eles.

Abandonar o desejo pode soar como matar a alegria, mas não é assim. Algumas pessoas mais felizes do mundo foram homens santos que limitaram seus desejos. O segredo é desfrutar de tudo sem tentar possuir nada. Se Deus nos equipou com cinco sentidos e uma mente ativa, certamente não foi para amordaçá-los. O problema surge apenas quando queremos explorar a natureza em nosso benefício, excluindo os outros.

Quanto mais deixarmos de olhar em torno com um sentido de posse, quanto mais meditarmos sobre a natureza interna das coisas, maior será a felicidade. A prática da concentração contemplativa pode nos levar a um estágio onde, sem esforço consciente, a mente permanece em beatitude enquanto realizamos trabalhos mundanos com a maior eficiência. Esse é o estágio do indivíduo liberado (jivanmukta), mesmo vivendo na carne; ele possui a felicidade ilimitada."

(A. V. Subramanian - Felicidade aqui e agora - Revista Sophia, Ano 2, nº 6 - p. 15)


terça-feira, 11 de julho de 2017

EVOLUÇÃO VERSUS INVOLUÇÃO

"Quando Deus viu que havia projetado os elementos da criação para fora de Si mesmo - das formas mais sutis às mais grosseiras -, o processo de involução entrou em funcionamento. Do ponto de vista do assunto de hoje, pense na evolução como o que viaja para longe de Deus, e na involução como o que volta para Ele. Para cada processo de evolução há um processo de involução. Quando os pensamentos criadores de Deus assumiram uma forma mais densa na matéria, teve início a involução, que está ocorrendo o tempo todo. A consciência onírica divina se manifesta primeiro nas pedras ou minerais inertes. Depois começa a vibrar na sensibilidade das plantas, mas não possui autoconsciência. E depois vêm todas as formas de vida sensiente do reino animal. A consciência e a vitalidade inata, então, encontram expressão no homem, com o seu poder inteligente superior de pensar e discernir. E finalmente a superconsciência divina se reflete plenamente no super-homem. Assim, a criação realmente se afasta de Deus e depois volta para Ele. Deus dará salvação não apenas ao homem mas também aos planetas, à Terra, às estrelas - a todos os que trabalham tão arduamente há bilhões de anos fornecendo os cenários para o drama cósmico onírico.

Voltar a Deus pelo processo involutivo da Natureza é um processo muito longo. Um dia, o homem de discernimento pergunta: 'Por que esperar milhões de anos antes de poder voltar para Deus?' Ele raciocina que, primeiramente, não pediu para ser criado - que Deus o criou sem pedir sua permissão e portanto o Próprio Deus devia libertá-lo. E se recusa a esperar mais. Quando chega este desejo o ser humano deu o primeiro e definitivo passo para voltar a Deus.

Quando você realmente quer ser libertado do sonho terreno, não há poder que possa impedi-lo de alcançar a libertação. Nunca duvide disto! Sua salvação não precisa ser alcançada - já é sua, pois você é feito à imagem de Deus; mas é preciso saber disso. Você esqueceu. O cervo almiscareiro busca desesperadamente o perfumado almíscar em todos os lugares. Nessa busca frenética, ele descuidadamente escorrega para a morte nas encostas das altas montanhas. Se o tolo cervo virasse o nariz para a bolsa de almíscar que está dentro de si mesmo, encontraria o que buscava. Da mesma forma, só precisamos interiorizar e encontrar a salvação na percepção de que a alma, nosso verdadeiro Eu, é feita à imagem de Deus."

(Paramahansa Yogananda - Jornada para a autorrealização - Self-Realization Fellowship - p. 57/58)


segunda-feira, 10 de julho de 2017

O REAL E O IMAGINÁRIO (PARTE FINAL)

"(...) Será realmente importante para uma grande causa possuir propriedades enormes, um império e toda a parafernália envolvida, ou as pessoas que a seguem possuírem a forma correta de sentimento e entendimento? O espírito necessário nunca pode ser ostentado, exibido permanentemente ou divulgado de nenhuma maneira. Ninguém pode dele obter dinheiro.

Tais distinções podem abranger todos os campos da vida, todas as nossas atividades e pensamentos. Será apenas quando a mente estiver suficientemente alerta para perceber essas distinções, para separar a luz da escuridão, que ela poderá chegar na verdade das coisas.

Constitui a grande assertiva dos instrutores espirituais que podemos conhecer a verdade absoluta e não apenas argumentar a seu respeito, chegar a ela através do raciocínio, ponderar sobre ela ou postulá-la. Podemos conhecê-la, assim como conhecemos a nós próprios. Podem existir algumas hipóteses que ajudam a explicar; são valiosas, desde que plausíveis e esclarecedoras; podem até mesmo ser necessárias para ligar as lacunas em nossa observação e pensamento. Quando não conseguimos ver, a ligação ou a suposição nos possibilita conectar aqueles fatos que são percebidos. Como não vemos a conexão na natureza entre um evento específico e outro, mas vemos que deve haver uma conexão, tal suposição será um substituto temporário para uma verdade que se é incapaz de perceber no momento.

Eu iniciei este capítulo com a palavra 'ocultismo'. Ocultismo é um empreendimento muito mais exigente e rigoroso do que poderíamos pensar. Não é simplesmente contar histórias de fadas e nelas acreditar - esse é ocultismo para crianças. Deve haver, especialmente em uma sociedade que se interessa naquilo que é chamado o oculto, uma orientação que a fará progredir até a verdade absoluta em todas as coisas sem satisfazer-se com as aparências. Precisamos ser muito cuidadosos em cada etapa para ver que estamos prosseguindo no caminho da verdade, que é também o caminho do verdadeiro amor, não nos satisfazendo com ilusões com relação a nós próprios ou com a natureza das coisas porque elas são confortantes ou agradáveis."

(N. Sri Ram - Em Busca da Sabedoria - Ed. Teosófica, Brasília, 1991 - p. 30/31)
www.editorateosofica.com.br


domingo, 9 de julho de 2017

O REAL E O IMAGINÁRIO (1ª PARTE)

"Quando falamos acerca dos caprichos da 'mente' e não de uma pessoa em particular, podemos ser bastante impessoais. Pensamos na mente como sendo um dos elementos da existência com determinada natureza. Ela está sujeita a ilusões, mas é possível para ela encontrar a verdade e libertar-se. Não precisamos identificá-la com alguém em particular e dirigir-lhe críticas, aberta ou veladamente. Pode-se criticar a si próprio bem como aos demais. Porém, a crítica, até mesmo dirigida para alguém, não precisa visar à descoberta de falhas, ela pode ser uma simples compreensão daquilo que não está certo ou daquilo que está errôneo ou falso no pensamento e comportamento da pessoa. É simplesmente como avaliar um quadro: é belo ou não? Este tipo de crítica é de valor, porém não visa à descoberta de falhas, culpando alguém ou si mesmo - tudo isto, por ser vão e infrutífero, torna-se mera autodecepção.

Referi-me ao julgamento de um quadro, mas aqui também deve-se fazer uma distinção entre o real e o irreal. O quadro pode ser realmente belo ou pode apenas ter uma assim chamada beleza superficial. A beleza de ordem mais elevada surge de uma profunda compreensão, surge da própria vida ou de uma fonte desconhecida em seu interior. Então terá o selo da verdade, mas poderá também existir aquela 'beleza' que é sintética, que é apenas uma aparência, uma mera apresentação.

Para nos aproximarmos ainda mais do cerne da questão: quando usamos a palavra 'amor' em relação a outro, será que realmente amamos, ou apenas achamos que amamos aquele outro? Existe uma grande distinção entre pensar que amamos e amar de fato. Meramente ensaiar a ideia do amor e usufrir o prazer que causa, não traz o amor, é apenas um exercício. Mas somos tão capazes de nos iludirmos, pensando que amamos toda a humanidade, até mesmo quando não amamos os indivíduos que a compõem. Precisamos traçar uma distinção clara entre aquilo que é real ou verdadeiro e aquilo que é apenas forjado pela mente. Isto requer uma inteligência muito aguçada e um constante discernimento da diferença entre o real e o imaginário. (...)"

(N. Sri Ram - Em Busca da Sabedoria - Ed. Teosófica, Brasília, 1991 - p. 29/30)
www.editorateosofica.com.br


sábado, 8 de julho de 2017

O SÍMBOLO SUBSTITUI A REALIDADE?

"Falando de amor ou afeição, o mundo seria melhor pela realidade do amor no coração das pessoas, ou pela simulação do amor que pode revestir-se de muitas formas enganosas? Pode-se criar uma impressão de amizade, como é feito pela estrutura política portentosa, mas isto é apenas parte do jogo diplomático. O que conta é o sentimento ou o espírito de amor dentro da pessoa e isto é o que ajuda os demais. Eu não sei a extensão do bem de 'fingir uma virtude, se você não a tem'. Podemos satisfazer-nos facilmente com o fingimento e não atentar para a realidade. Se o substituto opera bem, por que preocupar-nos em encontrar a peça genuína?

A palavra 'Deus' é um substituto comum para Deus, a Realidade. Deus é Algo sobre o que nada sabemos, mas sobre o qual podemos formar as noções que quisermos; existem todos os tipos de ideias sobre Deus, muito embora na prática a sociedade, o estado e a religião nem sempre permitam que se tenha ideias próprias. Tempos houve em que as pessoas foram perseguidas por defenderem ideiais diferentes daquelas da comunidade, envolvendo Deus, a natureza do universo ou qualquer outro assunto, por mais desligado que estivesse de sua conduta e vida. Eles eram considerados hereges e queimados por mera suspeita. Herege era alguém que não apenas não se conformava externamente com padrões estabelecidos, ou professava abertamente uma ideia contrária àquilo que constituía a ordem, mas até mesmo o fato de parecer estar nutrindo determinado pensamento era considerado pecaminoso e subversivo.

Não se pode dizer que um símbolo está destituído de valor. Pode não haver outra forma de nos referirmos objetivamente à realidade, mas um símbolo não passa a ser aquela realidade. Ele poderá ter o seu valor desde que compreendamos que é apenas um indicador ou um substituto da coisa real. Torna-se um fetiche quando é adorado no lugar da realidade. A partir de um ponto de vista, um símbolo é uma sombra, e a luz está por trás do homem que está olhando. No 'Mito da Caverna' de Platão, a luz está por trás dos homens que estão olhando para as densas sombras na pareda na frente da qual encontram-se. A sombra tem o valor de indicar a presença da luz e de dar um esboço do objeto que a obstrui, mas é necessário olharmos na direção adequada em busca da luz em si."

(N. Sri Ram - Em Busca da Sabedoria - Ed. Teosófica, Brasília, 1991 - p. 27/28)


sexta-feira, 7 de julho de 2017

FORTALEZA

"Você já reparou que um homem realmente forte é tranquilo, pacífico e pacificador?!

Já notou também que alguns raquíticos e fracos 'viram mesa e fecham bar'?

Já notou que aquele que é forte e tem confiança em si mesmo não sente qualquer necessidade de se mostrar, de posar de forte e valente, e por isto é sereno e mesmo muito bom?

O homem realmente forte não usa contra os outros sua força.

Não abusa de ninguém.

Chega mesmo a parecer medroso por não querer machucar os mais fracos.

Já o fracote... Como costuma ser abusado!

Sou forte, graças à Tua santa presença em mim."

(Hermógenes - Deus investe em você - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1995 - p. 74)


quinta-feira, 6 de julho de 2017

O USO DA ENERGIA

"(3:13) Pessoas espiritualmente conscientes, ao ofertar o alimento que consomem à sua fonte de energia divina (os devas), não incorrem em pecado. Mas aquelas que se furtam a essa oferenda (comendo apenas por gosto e prazer) estão alimentando o pecado.

A matéria, como a ciência moderna descobriu, é uma vibração de energia. Quanto mais o homem se conscientizar da energia em seu corpo, mais facilmente progredirá em espírito. Ao movimentar o corpo, deve tentar perceber que é a energia que dá força a seus músculos e, com isso, lhe permite deslocar-se. Quando inspira, deve sentir que absorve energia com o ar. Em tudo o que fizer, andará bem em considerar a energia como o seu próximo passo na escalada rumo à percepção da união divina.

A seguir, tentará perceber que a energia responsável por seus movimentos e respiração não é de fato sua. O pecado (ilusão) começa pelo pensamento leviano: 'Tudo isso me pertence!' É fácil imaginar a matéria como algo que se pode possuir. Mas difícil supor o ar ou, mais sutilmente, a energia como coisa própria. Quando a energia é ofertada (aos devas ou a Deus), a consciência se alça com igual facilidade.

O alimento que ingerimos é, também, energia. Sua substância tosca estimula um prazer correspondentemente tosco no pensamento: 'Eu, em pessoa, estou comendo com prazer, deleitando-me com estes sabores todos.' Não é uma 'transgressão', em termos espirituais, apreciar um alimento; convém, entretanto, fazer com que esse gozo seja um lembrete da alegria imutável da alma. Assim, é útil permitir, no ato de comer, que a satisfação haurida do alimento estimule a alegria no coração, aí concentrando quaisquer deleites proporcionados pelo paladar.

'Empanturrar-se' é inflar não apenas o ventre, mas também o ego. O que faz disso um pecado é o fato de consolidar o erro de ver o corpo como propriedade particular. 'Pecado', aqui, significa simplesmente o ludíbrio da afirmação do ego. É mais uma barra, por assim dizer, na grade da prisão da consciência do ego."

(A Essência do Bhagavad Gita - Explicado por Paramhansa Yogananda - Evocado por seu discípulo Swami Kriyananda - Ed. Pensamento, São Paulo, 2006 - p. 157/158


quarta-feira, 5 de julho de 2017

É POSSÍVEL DAR FIM À VIOLÊNCIA?

"Quando você fala sobre violência, o que entende por ela? Trata-se de uma pergunta bem interessante: é possível um ser humano, vivendo neste mundo, cessar totalmente de ser violento? A sociedade e as comunidades religiosas têm tentado não matar animais. Algumas até dizem: 'Se você não quer matar animais, o que dizer sobre os vegetais?'. Você pode levar isso a tal extensão que cessaria de existir. Onde você traça o limite? Existe uma linha arbitrária de acordo com o seu ideal, sua fantasia, sua norma, seu temperamento, seu condicionamento, sobre a qual você diz: 'Vou até lá, mas não além'? Há uma diferença entre a raiva individual e o ódio organizado de uma sociedade que cria e constrói um exército para destruir outra? Onde, em que nível e que fragmento de violência você está discutindo? Ou você quer discutir se o homem pode ser isento de total violência, não apenas de um fragmento que se chama de violência?

Sabemos que a violência não tem expressão em palavras, em frases, na prática. De que maneira começo a abordar essa violência, considerando-se que o ser humano ainda possui um lado animal muito forte? Começa pela parte periférica (a sociedade) ou pelo centro (eu)? Você me diz para não ser violento, porque a violência é feia. Você me explica todas as razões, e eu percebo que a violência é uma coisa terrível nos seres humanos, externa e internamento. É possível dar fim a ela?"


(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 202


terça-feira, 4 de julho de 2017

APRENDIZADO CONSTANTE (PARTE FINAL)

"(...) Os budistas acreditam que o caráter é a soma de nosso passado. Os ensinamentos teosóficos explicam essas ideias, dizendo que a memória é armazenada na parte superior de nossa natureza; ela é vislumbrada ocasionalmente e vista claramente no momento da morte. Livres dos embaraços terrenos, vemos em retrospectiva as causas, as inter-relações, o propósito e a justiça de tudo que ocorreu na vida. (...) 

Todos os seres vivos existiram antes de sua atual aparição na Terra. Orígenes, um padre da Igreja Primitiva, explicou que as almas humanas existiam no mundo espiritual dentro do ambiente divino, antes de encarnarem. Platão foi além, explicando que as almas não apenas existiam no universo antes de entrar neste reino de experiência, mas que, quando libertas dos vínculos de suas limitações, retornavam à morada anterior para repousar e assimilar as experiências terrenas. Depois de certo tempo, elas novamente seguem adiante, revigoradas e prontas para enfrentar as novas provações por meio das quais obtêm conhecimento da vida e visualizam as alturas que um dia alcançarão.

Quantas vidas vivemos? No livro Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach, a sábia gaivota expressa um ponto de vista interessante: 'Você tem alguma ideia de quantas vidas devemos ter vivido antes de sequer termos a primeira ideia de que existe mais coisas com relação à vida do que comer, lutar, ou o poder do rebanho? Mil vidas, Jon, dez mil! E depois outra centena de vidas até que comecemos a aprender que existe algo chamado perfeição, e mais cem vidas novamente até adquirirmos a ideia de que nosso propósito para viver è encontrar essa perfeição e manifestá-la.'

A mesma regra aplica-se a nós; escolhemos nosso próximo mundo através daquilo que aprendemos neste. Se não aprendermos nada, o próximo mundo será semelhante, com todas as limitações e pesos para superar."

(Eloise Hart - Os mistérios da reencarnação - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 30/31)


segunda-feira, 3 de julho de 2017

APRENDIZADO CONSTANTE (1ª PARTE)

"O 'retorno' à vida terrena ocorre mais cedo para aqueles que criaram pouco karma psicológico e mais tardiamente para os mais espiritualizados, que precisam de tempo para assimilar todas as lições espirituais.

Também não é possível retornar à vida como um animal. Uma vez desenvolvida a autoconsciência, não podemos mais retroceder. Essa ideia surgiu de uma interpretação literal de figuras de linguagem, como era o caso de um índio norte-americano que falava em se tornar lobo, águia ou toupeira. Isso não queria dizer que ele se tornaria um desses animais, mas que seria tão esperto e dedicado à família quanto o lobo, com uma visão de alcance longo como a da águia, e tão próximo à terra quanto a toupeira, para sondar seus segredos. Seres humanos não podem voltar a ser animais, e animais não se transformam em seres humanos da noite para o dia, mas só após muito, muito tempo.

No entanto, mudanças psicológicas e físicas ocorrem o tempo todo. Nossos átomos estão constantemente transmigrando: sempre que acariciamos nossos animais de estimação, cheiramos uma rosa, ouvimos música ou pensamos num amigo, trocamos partículas de vida e força. Nossas almas também 'migram' continuamente de um estado de consciência para outro, do sono com sonhos para a percepção de vigília, do pensamento superficial para concentração profunda. E isso continua após a morte. Essas trocas podem ser benéficas ou danosas, dependendo da qualidade da energia. Sabendo disso, o sábio considera um dever pensar e viver tão gentilmente quanto possível.

Outra pergunta frequente é o que acontece àquilo que amamos e pelo qual trabalhamos. O que se perde quando morremos? A resposta é: nada. O conhecimento que obtemos e as habilidades que desenvolvemos permanecem no interlúdio pós-morte e desabrocham em vidas futuras com poder aumentado. Platão fez referência a isso ao dizer que todo conhecimento e sabedoria são memórias de existências prévias. À medida que essa sabedoria se desenvolve no presente, novas possibilidades são moldadas para expressar as características e necessidades de nossas condições internas e externas.

Shakespeare dizia a mesma coisa ao afirmar que um ator representa muitos papéis durante sua vida, identificando-se com eles. Assim como o ator sabe que está desempenhando papéis, nosso eu permanente também sabe, embora possa ser incapaz de transmitir esse conhecimento à 'máscara' ou personalidade temporária. (...)'

(Eloise Hart - Os mistérios da reencarnação - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 30)