"Ao estudarmos a natureza do homem, separamos os veículo que ele utiliza: o Eu vivo do envoltório com o qual está revestido. O Eu é um, por mais variadas que sejam as formas da sua manifestação, quando trabalha através de, por meio dos diferentes tipos de matéria. É certamente verdade que existe apenas Um Eu no sentido mais completo das palavras: assim como raios irradiam do sol os vários 'Eus', que são os verdadeiros Homens, que são apenas raios do Eu Supremo, e cada Eu pode sussurrar: 'Eu sou Ele'. Mas para o nosso presente propósito, tomando um único raio, podemos afirmar também quanto à sua separação, à sua própria unidade inerente, ainda que esteja oculta pelas suas formas. A consciência é uma unidade, e as divisões que fazemos nela ou são para fins de estudo, ou são ilusões, devido à limitação do nosso poder perceptivo pelos órgãos através dos quais ela trabalha nos mundos inferiores. O fato das manifestações do Eu procederem diferenciadamente a partir dos seus três aspectos de conhecer, querer e energizar - dos quais surgem vários pensamentos, desejos e ações - não nos deve cegar quanto ao outro fato de que não há divisão de substância; o Eu todo conhece, o Eu todo quer, o Eu todo age. Nem as funções estão totalmente separadas; pois quando ele sabe, também age e quer; quando age, também sabe e quer; quando quer, também age e sabe. Uma função é predominante, e por vezes a tal ponto que veda totalmente as outras; mas mesmo na concentração mais intensa do conhecer - a mais separada das três - há sempre uma energização latente e uma vontade latente, que é tão discernível quanto presente através de uma análise cuidadosa.
Nós temos chamado a estes três 'os três aspectos do Eu'; uma explicação um pouco mais profunda nos ajuda a compreender. Quando o Eu está tranquilo, então é manifestado o aspecto do Conhecimento, capaz de assumir a semelhança de qualquer objeto apresentado. Quando o Eu está concentrado, com a intenção de mudar de estado, aparece então o aspecto da Vontade. Quando o Eu, em presença de qualquer objeto, põe energia para contatar com esse objeto, então revela o aspecto da Ação. Ver-se-á assim que estes três não são divisões separadas do Eu, não são três coisas unidas em uma ou compostas, mas que existe um Todo indivisível, que se manifesta de três maneiras.
Não é fácil clarificar a concepção fundamental do Eu mais além do que através da sua mera designação. O Eu é aquela consciência, sentimento, Um sempre existente, que em cada um de nós se conhece como existente. Nenhum homem pode jamais pensar em si próprio como não existente, ou formular-se a si próprio como não existente, ou formular-se a si próprio em consciência como 'Eu não sou'. Como Bhagavam Das expressou: 'O Eu é a primeira base indispensável da vida. ... Nas palavras de Vachaspati-Mishra, no seu Comentário² (o Bhamati) sobre a Shariraka-Bhashya, de Shankaracharya: 'Ninguém duvida 'Sou Eu?' ou 'Não sou Eu?'. 'A Autoafirmação "Eu sou' 'vem antes de tudo, está acima e além de qualquer argumento. Nenhuma prova pode fazer isso; mais ainda, nenhuma contraprova pode enfraquecer isso. Tanto a prova como a contraprova se encontraram no 'Eu sou', o Sentimento de mera Existência não analisável, do qual nada pode ser afirmado, exceto o aumento e a diminuição. 'Eu sou mais' é a expressão do Prazer; 'Eu sou menos' é a expressão da Dor.
Quando observamos este 'Eu sou', descobrimos que ele se expressa de três maneiras diferentes: (a) a reflexão interna de um Não Eu, CONHECIMENTO, a raiz dos pensamentos; (b) a concentração interna, VONTADE, a raiz dos desejos; (c) o ir para o externo, ENERGIA, a raiz das ações; 'Eu Sei' ou 'Eu penso', 'Eu quero', ou 'Eu desejo', 'Eu energizo' ou 'Eu ajo'. Estas são as três afirmações do Eu indivisível, do 'Eu sou'. Todas as manifestações podem ser classificadas sob uma ou outra destas três titulações; o Eu manifesta-se em nosso mundo apenas nestas três formas; como todas as cores surgem das três primárias, assim as inúmeras manifestações do Eu surgem todas da Vontade, da Energia, do Conhecimento.
O Eu como Aquele que Quer, o Eu como Energizador, o Eu como Conhecedor - ele é o Único na Eternidade e também a raiz da individualidade no Tempo e no Espaço. É o Eu no aspecto do Pensamento, o Eu como Conhecedor, que temos de estudar."
¹ No original em inglês: Self, que foi traduzido neste livro por Eu (Eu superior). (Nota Ed. Bras.).
² The Science of the Emotions (A Ciência das Emoções), p. 20 da edição em inglês.
(Annie Besant - O Poder do Pensamento - Ed. Teosófica, Brasília, 2021 - p. 14/17)
Imagem: Pinterest, Cachoeira de Seljalandsfoss, na Islândia.