Não podemos dividir o amor em diferentes tipos: ele é indivisível. No entanto, há uma dúvida com relação ao elemento sexual em algumas expressões de amor. Parece-me que o sexo, embora seja um fator importante na vida, não é um acompanhamento necessário do amor. O amor em si não tem qualquer elemento sexual, e a atração sexual raramente conota amor. No amor propriamente dito, o fato da pessoa amada ser do sexo oposto raramente tem qualquer influência, como no caso do amor do pai por sua filha ou do irmão por sua irmã.
Mas o sexo influencia o amor de duas pessoas de idades semelhantes e sexos opostos - o amor que culmina no casamento. O amor não tolera segredos e busca a maior união possível; nessas duas afirmações temos um retrato do elemento sexual no amor. Com as limitações que são impostas ao corpo humano, a união mais próxima possível nesta vida é atingida na expressão sexual; por isso ela é a mais intensa. E por isso, na linguagem do devoto, o objeto de sua constante contemplação - o próprio Senhor Paramesvara - é apresentado como sendo de sexo oposto ao do devoto. Isso poderia, para a maioria das pessoas, ser considerado um total sacrilégio. Foi isso que criou tanto mal-entendido a respeito da relação de Krishna com as Gopis. É isso que dá terrível força e ternura às canções de Mira Bai, e a faz parecer quase irresponsável. Foi isso que fez os cristãos medievais considerarem a Igreja como 'a noiva de Cristo'. Todos adotam o mesmo simbolismo. A relação entre marido e esposa é a mais íntima possível, e portanto é usada como metáfora para expressar a ligação mais fervorosa de um ser por outro."
(Sri Prakasa - O que é o amor - Revista Sophia, Ano 13, nº 54 - p. 14/15)
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