OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


quinta-feira, 30 de novembro de 2017

QUERER O DEVER (PARTE FINAL)

"(...) O ego só conhece prazer, e nada sabe de felicidade; mas o ego integrado no Eu sabe o que é felicidade.

No princípio, esta integração do ego no Eu é 'caminho estreito e porta apertada', é sofrimento e dolorosa renúncia; no fim, é 'jugo suave e peso leve', é suprema felicidade.

O homem integral quer jubilosamente o que deve. O homem integral principia o seu itinerário evolutivo com sofrimento doloroso, mas termina-o com sofrimento glorioso; o seu céu sofrido culmina em céu gozado.

Quando a horizontal do querer é cortada pela vertical do dever, então ocorre um cruzamento, uma crucificação, que pode ser representada pela cruz telúrica, símbolo do sofrimento mas, quando esta cruz presa à terra se desprender totalmente do seu calvário e flutuar livremente nas alturas do Tabor, como cruz cósmica, então o homem completou a sua realização existencial, querendo o seu dever, essencializando a sua existência.

Enquanto o querer do ego está em conflito com o dever do Eu, o homem é infeliz, e tenta sufocar a sua infelicidade com toda a espécie de prazeres e paliativos. Quando então a consciência atormentada se cala por algum tempo, narcotizada pelo prazer, o homem se julga ilusoriamente feliz, porque goza na sua periferia; mas, em breve, o seu centro profundo torna a bradar por uma felicidade verdadeira, porque nenhum prazer periférico pode substituir a felicidade central. E o homem chega ao ponto de se sentir existencialmente frustrado, porque não atingiu a sua realização existencial. A agulha magnética da sua consciência continua, porém, a apontar invariavelmente para o norte da verdade da sua natureza humana, por mais que o homem vire e revire a bússola da sua egoidade.

Em última análise, a verdadeira natureza do homem não é falsificável definitivamente, porque ela é a anima naturaliter christiana." 

(Huberto Rohdem - O Homem, sua Natureza, sua Origem e sua Evolução - p. 73/74)

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

QUERER O DEVER (1ª PARTE)

"Freud, Jung, Einstein, Frankl e outros pensadores modernos perguntam: 'que é o sentido da vida? A sua última razão de ser'?

Freud declara que é o prazer, cuja expressão máxima está na libido. Outros, porém, já compreenderam que o sentido da vida está no valor realizado pela obediência ao dever.

O querer ou prazer é do ego e depende das circunstâncias, ao passo que o dever é do Eu e é creado pela substância interna. O homem é objeto das circunstâncias, mas é sujeito ou autor da sua própria substância. O querer nos acontece, o dever é obra nossa. Querer é prazer, dever é felicidade. Eu sou objeto de um prazer, mas sou sujeito da minha felicidade. Eu tenho prazer, eu sou a felicidade.

Há quase sempre um conflito entre querer e dever, porque o homem não harmonizou ainda o seu ego externo com o seu Eu interno. Nem é possível esta harmonização, porque 'o ego é o pior inimigo do Eu', como diz a sabedoria milenar da Bhagavad Gita. Jamais o ego fará um tratado de paz com o Eu. Felizmente, porém, 'o Eu é o melhor amigo do ego' e pode fazer um tratado de paz com ele, harmonizando o ego com o Eu, o querer com o dever. E é precisamente nesta harmonização do querer do ego com o dever do Eu que consiste a verdadeira felicidade, que é o sentido da vida, a razão-de-ser da existência, a realização existencial do homem.

Mas esta harmonização do ego com o Eu só é possível no caso que o Eu realize a sua plenitude até que esta transborde beneficamente para o ego.

Este transbordamento da plenitude do Eu rumo ao ego torna possível que o querer do ego queira o dever do Eu – o que é perfeita felicidade. (...)"

(Huberto Rohdem - O Homem, sua Natureza, sua Origem e sua Evolução - p. 73)

terça-feira, 28 de novembro de 2017

AMA AO TEU PRÓXIMO COMO A TI MESMO

"Jesus lançou essa exortação em oito palavras ao mundo como se fosse uma bomba. Lembro-me da primeira vez que descobri uma de suas implicações: que, para amar a meu próximo, devo antes de tudo amar a mim mesmo. Notemos isto: quando nos ensinou a amar, Jesus quis dizer que o amor é uma qualidade interior, a qual alimentamos dentro do nosso coração para em seguida deixar fluir em direção aos que nos cercam. Se tentamos amar ao nosso semelhante, mas deixamos de fomentar o amor por nosso  próprio eu, estamos perdidos. O primeiro passo no aprendizado do amor consiste em estabelecer uma conexão íntima entre o nosso coração e a fonte absoluta do amor. 

A solução final e muito simples da polaridade egoísmo/desprendimento encontra-se na injunção de Jesus para amarmos nossos semelhantes tanto quanto amamos a nós mesmos. Ele não disse 'Ama ao teu próximo mais que a ti mesmo' porque sabia que isso é impossível. Quando, pois, não há amor em nosso coração, não há amor para darmos ao semelhante. Mas se aumentarmos o fluxo desse amor, aumentaremos o fluxo de amor disponível para fluir em direção ao próximo. A despeito de diversas críticas que consideram a prática meditativa inerentemente egoísta, não podemos fugir ao fato de que, para amar aos que nos cercam, nossa primeira responsabilidade cifra-se em voltarmo-nos para dentro de nós mesmos e tornarmo-nos mais amorosos com relação ao nosso próprio ser.

Na meditação tal qual a estamos aprendendo, reservamos um tempo diariamente para contemplar nossos pensamentos, avaliar até que ponto os negativos geram emoções negativas... e, nesse ato, optar por não nutrir ideias capazes de nos magoar.

Somos criaturas que gravitam rumo ao prazer e evitam a dor. Quando percebemos que certas ruminações críticas causam-nos sofrimento grave e duradouro, afastamo-nos delas. Esse é o poder de cura da meditação. Ao vislumbrar com clareza a verdade, nós mudamos. Ao conhecer a verdade de nossos hábitos mentalmente danosos, nós nos livramos deles."

(John Selby - Sete Mestres, Um Caminho - Ed. Pensamento, São Paulo, 2004 - p. 117/118)


segunda-feira, 27 de novembro de 2017

AMOR PELA HUMANIDADE (PARTE FINAL)


"(...) Não temos conhecimento de nossos poderes. A mente é potencialmente capaz de habilidades incríveis. No futuro distante, a mente usará a imaginação para moldar formas conscientes, e saberá disso. Quando pensarmos numa casa, outra pessoa verá como ela se parece. Isso pode ser acelerado atualmente com a prática correta. Assim que compreendermos isso, poderemos ajudar qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo exatamente agora, fazendo uso de pensamento ou de sentimento, ou de ambos conjuntamente. Conforme afirmou Blavatsky, 'a pessoa pode estar na prisão e ainda ser um trabalhador pela causa'.

Existem, no entanto, alguns passos primários que precisam ser entendidos. O primeiro é que 'o que quer que venha a nós teve origem em nós'. Logo que isso é compreendido em profundidade, requerendo contemplação e possivelmente algum estudo para verdadeiramente apreender, podemos parar de buscar do lado de fora as respostas para nossos problemas, e começar a buscar internamente. Uma das ilusões da vida é pensar que nossos problemas provêm de outras pessoas, situações ou acontecimentos, embora tenhamos posto em ação forças que, exatamente agora, estão repercutindo sobre nós. Logo que entendemos isso, percebemos não apenas que o problema é na verdade uma bênção, mas também uma resposta. Conseguir isso leva tempo, paciência e amor pelo nosso eu e pelo mundo no qual vivemos. Para encontrar esse tesouro perdido, devemos buscar no lugar certo.

Aprendemos a sentir, pensar e perceber: esse é o trabalho de uma vida, e também um trabalho ao qual retornaremos na próxima vida. O progresso que fazemos nesta vida retorna facilmente a nós na próxima, o que explica a criança prodígio e o gênio. Dizem que nascimento e morte são incidentes recorrentes numa vida infinita. A viagem da vida é aprender. Se não aprendemos, sofremos. Se aprendemos, há alegria e expansão de consciência.

Dito simplesmente, há uma evolução da consciência através da forma. A vida nos guia lentamente para a realização, e isso leva eras. Por meio do esforço autodeterminado, aceleramos nossa jornada e a suavizamos com amor e sabedoria, que é verdadeiramente o tesouro oculto, o tesouro que a natureza promove lentamente. Então, auxiliamos os seres humanos e a natureza, através de um imenso amor pela humanidade como um todo, pois ela é a grande órfã, a única deserdada sobre a Terra, e é dever de cada pessoa fazer alguma coisa, por menor que seja, pelo seu bem-estar."

(Barry Bowden - Sabedoria: o tesouro oculto - Revista Sophia, Ano 13, nº 58 - p. 42/43)
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domingo, 26 de novembro de 2017

AMOR PELA HUMANIDADE (1ª PARTE)

"Uma das maiores lições da vida, para mim, foi que a paz não surge do exterior, nem das pessoas ou das coisas. Após esse momento, meu trabalho verdadeiramente começou. Foi somente pelo meu contínuo olhar para o interior que a paz permitiu-se acontecer. Para fazer qualquer coisa, precisamos nos engajar. Isso é autoconhecimento. O engajamento é uma das lutas que permite que as nuvens se dissipem. Finalmente começamos a experimentar nossa natureza superior, resplandecente como é, foi e sempre será.

No entanto, isso é apenas parte da história. Nem tudo diz respeito a nós. Krishnamurti disse que 'a iluminação tem pouco a ver conosco e tudo a ver com o universo'. O verdadeiro despertar significa que não estamos sós, mas que 'tudo é um'.

Quando agimos em harmonia com o universo, começamos a ver a necessidade de auxiliar os outros. Contudo, estamos todos sempre tão ocupados... Como se pode mudar isso? Nossa ideia de ajuda geralmente é ver o nosso eu físico auxiliando os outros. Quando compreendemos o poder que temos, verificamos que podemos afetar qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, por meio dos nossos sentimentos e pensamentos. Toda vez que pensamos, empregamos parte do universo - o reino mental.

Nas Cartas dos Mahatmas, podemos ler: 'Todo pensamento do homem, ao ser criado, passa para o mundo interno e torna-se uma entidade viva associando-se - amalgamando-se, poderíamos dizer - a um elemental; o que equivale a dizer, com uma das forças semi-inteligentes dos reinos. Ele sobrevive como uma inteligência ativa, uma criatura gerada pela mente para um período mais longo ou mais curto, proporcional à intensidade original da ação cerebral que o gerou. Assim um pensamento bom perpetua-se como um poder benéfico ativo, e um pensamento mau como um demônio maléfico. E assim o homem está continuamente povoando sua corrente no espaço com seu próprio mundo apinhado com a projeção de suas fantasias, desejos, impulsos e paixões, uma corrente que reage sobre qualquer organização sensitiva ou nervosa com a qual entre em contato, proporcionalmente à sua intensidade dinâmica. Os budistas chamam isso skandha, os hindus, karma; o Adepto cria essas formas conscientemente, outros homens lançam-na fora inconscientemente.' (...)"

(Barry Bowden - Sabedoria: o tesouro oculto - Revista Sophia, Ano 13, nº 58 - p. 42)
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sábado, 25 de novembro de 2017

GRATIDÃO E RESPEITO (PARTE FINAL)

"(...) Uma outra parte do problema é que tentamos compreender tudo com a nossa mente. A mente é alheia aos sentimentos. Ela pode ver comportamentos à medida que aparecem sem compreender os sentimentos que os orientaram. Nós damos muito valor às aparências - outro atributo da mente. A mente abstrata vê, ou melhor, tenta compreender as coisas a partir do interior. No entanto, deve-se notar que, embora haja apenas uma mente, a matéria mental inferior aparece na forma, enquanto a superior parece abstrata, ou sem forma. Assim a mente é dividida, para poder perceber as formas de matéria. Até agora a mente superior não é estimulada pela própria natureza do ser humano, mas pelo estudo de temas, como a matemática, a ciência ou apenas a contemplação da vida. 

Singularmente, um dos métodos mais rápidos para estimular a mente superior é sentar-se em silêncio e meditar, que á a absoluta cessação do pensamento e do sentimento. Para conseguir isso, precisamos perceber verdadeiramente o que estamos sentindo e parar de analisar esses sentimentos. Ter coração e mente trabalhando harmoniosamente juntos é verdadeiramente o próximo passo evolutivo para a humanidade - ter a mente permitindo-se estar onde o coração está sentindo, mas sem tentar nomear ou julgar. 

A vida em geral é uma série de eventos unidos pela memória e por respostas emocionais agradáveis ou dolorosas. É diferente para cada um de nós, conforme nossas experiências. Interessante também é nossa atitude com relação à dor: com compreensão, quando rememoramos experiências dolorosas, frequentemente podemos ver, às vezes muitos anos depois, que aprendemos muito, que a experiência mudou nossa vida.

Se a dor é um grande instrutor, precisamos examinar nosso relacionamento com ela, e saber por que a evitamos. Quando fugimos da dor, aumentamos o tempo que transcorre antes de obter a clareza da percepção e aprender a aceitação - que é quando a dor finalmente para e começamos a 'entender'. Se saudamos a dor com uma grande instrutora, ela se vai rapidamente e dá lugar ao insight. Isso requer alguma prática, mas nos liberta para viver nossas vidas. Então, as dificuldades da vida diminuirão. Quando permitimos que aconteça a harmonia com a vida, a luta interna quase contínua é substituída pela paz." 

(Barry Bowden - Sabedoria: o tesouro oculto - Revista Sophia, Ano 13, nº 58 - p. 41)


sexta-feira, 24 de novembro de 2017

GRATIDÃO E RESPEITO (1ª PARTE)

"Para descobrir o erro não é preciso verdadeiro esforço, mas, para ver melhor, é preciso esforço contínuo. A maioria das grandes almas reforçam isso como um lembrete. Diz novamente Steiner: 'Devemos buscar em todas as coisas à nossa volta aquilo que consegue despertar nossa admiração e respeito Se eu conheço outras pessoas e critico suas fraquezas, retiro de mim o poder cognitivo superior, mas, se penetro profunda e amorosamente em suas boas qualidade, eu assimilo essa força.'

Chegamos onde estamos hoje pelas circunstâncias da vida e pelas forças ativas em nós. Este tem sido um estado semiconsciente. Se desejamos alcançar o estado superconsciente, precisamos engajar nosso eu a partir do interior, o que constitui maturidade em ação - ver e sentir a necessidade de se mover, e então buscar como fazê-lo. Infelizmente na maioria das vezes olhamos na direção de onde fomos empurrados. Este é o lado insconsciente da vida; o lado consciente está no interior. É preciso um esforço quase que constante; contudo, uma coisa é certa: a chave para a vida é compreender não apenas nós próprios e os outros, mas também o mundo em que vivemos. 

Um dos passos iniciais do yoga, dito de maneira simples, é 'cessa de fazer o mal; faz o bem'. São Paulo disse: 'Não faço as coisas boas que quero, mas faço as coisas ruins que não quero'. Isso diz respeito a todos nós, mas por quê? As reações, surgindo da mente subconsciente, formam uma grande parte de nossas vidas. É com a mente que julgamos o que está certo ou errado. Vemos o que desejamos fazer e não fazer; sendo assim, por que cometemos erros? Uma resposta, oculta na compreensão esotérica, pode ser colocada simplesmente assim: 'O corpo do desejo, ou corpo emocional, move os músculos.' Isso é verdadeiramente parte da resposta ao problema. Se não temos vontade de fazer algo e a mente quer fazê-lo, o que acontecerá? Nada. Se não estivermos alinhados com o que queremos, a coisa não acontecerá; ou, se a ação for guiada pelo medo, ela pode ser iniciada, mas não continuará.

Precisamos compreender a nós mesmos retornando ao conhecimento esotérico: 'Desejo é vontade voltada para fora. Essa é sua forma latente. Quando ativa, ela se volta para o interior.' Quando somos atraídos por algo ou por alguém, nos sentimos puxados. A vontade é quando os desejos foram compreendidos e subjugados a partir do interior. Ela então substitui o sentimento de 'não querer fazer' pela força interior do 'fazer', orientada pela moralidade, não porque é doloroso ou agradável. (...)"

(Barry Bowden - Sabedoria: o tesouro oculto - Revista Sophia, Ano 13, nº 58 - p. 40/41)


quinta-feira, 23 de novembro de 2017

SABEDORIA: O TESOURO OCULTO

"Helena Petrovna Blavatsky afirmou: 'O conhecimento do eu é que é a própria sabedoria'. Alex A. Wilder disse: 'A sabedoria é o conhecimento desenvolvido das potências do ser interior do homem.' Ao longo da história, indivíduos de muitos campos do conhecimento - artes, filosofia, ciência e arquitetura, por exemplo - manifestaram notáveis atributos de sabedoria. Se pensamos que isso surge ao acaso, não compreendemos o processo do qual todos somos uma parte: a humanidade é orientada em todos os passos da sua evolução.

Nos primórdios do tempo Reis-Adeptos governaram a humanidade com eficiência e sabedoria, altruístas e sempre em sintonia com a natureza e suas leis. Atualmente temos uma humanidade adolescente julgando-se sábia e cometendo muitos equívocos. Aqueles que guiaram a humanidade (os Adeptos) recolheram-se para longe dos olhos do mundo. Guiada principalmente pelo desejo e pelo egoísmo, a humanidade permite-se cometer seus erros e pagar pelas consequências.

Os Adeptos estão ocultos do mundo, mas ainda o orientam através de indivíduos, de grupos e até mesmo de nações. No entanto, a humanidade não surgiu toda ao mesmo tempo; pelo contrário, as pessoas entraram no reino humano em diferentes épocas, algumas individualmente, outras em grupos. Tantos ciclos de evolução nos precederam que sua escala de tempo se situa além da concepção humana. Por esse motivo, alguns que surgiram primeiro são naturalmente mais evoluídos e experientes.

O que podemos fazer para acelerar a nossa evolução? Uma atitude de que precisamos é a gratidão por tudo que já temos e pelo que virá. É preciso muito esforço do universo para nos sutentar. (...)

Vivemos no mundo como se estivéssemos separados de tudo. Todos nós sabemos quando vivemos harmoniosamente - tudo acontece no tempo certo. Contudo, quando vivemos de maneira desarmônica, nada parece acontecer corretamente. A gratidão é essencial para quem quer que busque o caminho espiritual. Ela está fortemente relacionada ao amor, e é isso que verdadeiramente guia o universo. Steiner afirmou: 'Sem o amor oniabarcante, jamais conseguiremos conhecer o universo; quando amamos algo, a coisa se revela a nós'.

Uma atitude de gratidão, juntamente com a tentativa de sempre ver o melhor nos outros, muda completamente nossa abordagem com relação a nós próprios e às outras pessoas. Embora eu saiba disso por experiência própria, essa atitude nem sempre é fácil; ela precisa ser continuamente reforçada. No entanto, isso adoça a vida de modo notável."

(Barry Bowden - Sabedoria: o tesouro oculto - Revista Sophia, Ano 13, nº 58 - p. 39)
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quarta-feira, 22 de novembro de 2017

UM IDEAL SUBLIME

"Este ideal presta-se ao escárnio, ao riso, ou à zombaria? Se ele for apenas um sonho, então é o sonho mais nobre que a humanidade já teve; o mais completo dos autossacrifícios e o mais inspirador dos ideais. Para alguns ele constitui um fato, um fato mais real do que a própria vida. Mas, para aqueles que não o consideram como um fato, ele pode ser um ideal; um ideal de autossacrifício, de conhecimento e de amor. Que tais Homens existem, alguns de nós já o sabemos. Contudo, ainda que vocês não acreditem neles, não há nada no ideal que não seja nobre e que não possa elevá-los ao pensar nele, aproximando-os cada vez mais da luz. 

O cristão possui o mesmo ideal em relação a seu Cristo, o budista, o mesmo ideal em relação a seu Buda. Todas as crenças possuem o mesmo ideal em relação ao Homem a quem consideram Divino. E nós somos testemunho de todas as religiões, afirmando que suas crenças são verdadeiras e não falsas, que seus Mestres são uma realidade e não um sonho, pois o Mestre constitui a concretização da esperança que há no discípulo, a concretização do ideal que exaltamos. E, para alguns de nós que sabemos de sua existência, estes Mestres Divinos são uma inspiração diária. Só podemos entrar em contato com eles na medida em que lutamos por purificar-nos. Só podemos aprender mais na medida em que exercitamos aquilo que eles já ensinaram. Assim, se a princípio falei a respeito da teoria, depois, sobre o passado histórico, mais tarde sobre o testemunho que lhes apresentamos no presente e, finalmente, sobre os passos que todos poderão dar, se assim o desejarem, foi com o único objetivo de resgatar o ideal do ridículo a que foi exposto, da lama que lhe foi atirada e da disputa provocada em torno dele. 

Censurem-nos, se assim o desejarem, mas não toquem nesse nobre ideal da perfeição humana. Riam de nós, se o desejarem, mas não riam do Homem Perfeito, do Homem que se tornou Deus, em quem, afinal, a maioria de vocês acredita. Vocês, que são cristãos, não sejam desleais com sua própria religião, considerando seu Cristo, como muitos de vocês o fazem, como um mero objeto de fé ao invés de uma realidade a ser vivida. E lembrem-se, qualquer que seja o nome, o ideal é o mesmo, qualquer que seja o título, o pensamento que lhe subjaz é idêntico. 

Aquilo que vocês pensam é aquilo que desenvolvem; gradualmente suas vidas se transformam segundo seus ideais, pois o pensamento possui um poder de transformação tal, que se os seus ideais forem materiais suas vidas serão materiais, e se os seus ideais forem insignificantes, suas vidas também serão insignificantes. Por isso, adotem aquele ideal e pensem a respeito, e sua pureza penetrará em suas vidas; vocês tornar-se-ão homens e mulheres mais nobres, pois ele se converte num objeto de seu pensamento e o pensamento os transforma exatamente à sua imagem. Não há dúvida de que os homens convertem-se naquilo que adoram e naquilo que pensam. Este ideal do Homem Perfeito encerra em si a esperança do futuro da raça humana. Por esse motivo, eu sugiro-o hoje a vocês e lhes aponto o Caminho pelo qual ele poderá transformar-se de um ideal numa realidade viva, de uma esperança, num Mestre vivo. Assim, o sublime ideal de aspiração passará a ser o Amigo e o Mestre a quem poderão entregar suas vidas." 

(Annie Besant - Os Mestres - p. 29/30


terça-feira, 21 de novembro de 2017

A PERCEPÇÃO DA UNIDADE

"Como lhe será possível ir além? Vida após vida, ele aprendeu a identificar-se com o homem; vida após vida, aprendeu a responder a todo grito de dor. Pode, agora que é livre, prosseguir e deixar os outros acorrentados? Pode entrar na bem-aventurança deixando o mundo no sofrimento? Ele, a quem chamamos Mahatma, é a Alma liberta que tem o direito de prosseguir mas, em nome do Amor, regressa trazendo seu conhecimento para remediar a ignorância, sua pureza para absolver a infâmia, sua luz para afugentar a escuridão; aceita novamente o peso da matéria até que toda a humanidade seja libertada, e então prosseguirá, não sozinho, porém como o pai de uma grande família, levando com ele a humanidade para compartilhar do mesmo fim e da mesma bem-aventurança no Nirvana.

Esse é o Mahatma. Vidas sucessivas de esforço coroadas com a suprema renúncia; perfeição obtida através da luta e do trabalho, e depois o regresso para ajudar aos outros a chegarem onde ele chegou. Sua mão está pronta para ajudar a toda Alma que lhe estende as mãos à procura de ajuda. Seu coração responde à súplica de todo irmão que peça sua orientação; e eles estão lá, esperando o momento em que desejemos ser ensinados, dando-lhes a oportunidade de obter o Nirvana, ao qual renunciaram."

(Annie Besant - Os Mestres - p. 28/29)
Fonte: http://universalismoesoterico.blogspot.com.br/


segunda-feira, 20 de novembro de 2017

FRATERNIDADE (PARTE FINAL)

"(...) As explanações dadas aqui a respeito do que deve ser o discípulo, significam que ele deve ser como uma estrela que dá luz a todos sem tirá-la de ninguém; como a neve que recebe a geada e os ventos cortantes para proteger do frio as sementes que dormem na terra e permitir sua germinação quando chegar a estação do crescimento. Eis a instrução à qual os Mestres Divinos exigem obediência; eis o que eles pretendem dos homens que desejam tornar-se discípulos. Não a realização imediata, mas sim o empenho; não a perfeição imediata, mas sim o esforço; tampouco é exigida, certamente, a revelação do ideal, mas sim a luta por alcançá-lo superando fracassos e desacertos. E agora eu lhes pergunto: Acreditam que aqueles entre nós, que acatamos isto como um ideal e que reconhecemos ser uma exigência que nos é imposta por nossos Mestres, possamos prejudicar a sociedade ou que sejamos apenas os serventes da humanidade obedecendo àqueles cuja lei nos esforçamos em acatar?

Além disso, como já mencionei, vida após vida estas qualidades se desenvolvem, até chegar finalmente o momento em que as debilidades do homem tenham diminuído e as fraquezas da natureza humana tenham sido gradualmente superadas, quando haverá uma compaixão inabalável, uma pureza incorruptível, um imenso conhecimento e uma sensação de despertar espiritual; estas qualidades caracterizarão o discípulo que está se aproximando do limiar da libertação; despontará então o dia em que tiver chegado ao final do Caminho, quando o percurso estará terminado e a última possibilidade de transformar-se no Homem Perfeito surgirá diante de seus olhos. Nesse momento, a terra, tal como era concebida, passa a um segundo plano; mas ele – a Alma liberta (como é chamado), a Alma que conquistou sua liberdade, a Alma que conseguiu superar as limitações humanas – ele permanece no limiar do Nirvana, daquela consciência e bem-aventurança perfeitas que se encontram além dos horizontes do pensamento humano é das possibilidades de nossa consciência limitada. Foi dito que, enquanto ele permanece lá, há silêncio; silêncio na Natureza, pois um de seus filhos está transcendendo-a, silêncio que, por algum tempo, nada poderá perturbar, a Alma liberta conquistou sua liberdade. Finalmente, esse silêncio é quebrado por uma voz; uma voz que em uníssono representa o grito de angústia do mundo que foi deixado para trás. A súplica do mundo em sua escuridão, angústia, fome espiritual e degradação moral. Esse grito, que corta o silêncio que cercava a Alma liberta, é a súplica da raça humana à Alma que se ergueu para além de seus irmãos e encontrou a liberdade, enquanto eles permanecem acorrentados."

(Annie Besant - Os Mestres - p. 27/28)

domingo, 19 de novembro de 2017

FRATERNIDADE (1ª PARTE)

"(...) vida após vida, você deve exercitar-se, identificando-se cada vez mais com tudo, derrubando tudo aquilo que separa o homem do homem. Por esse motivo a fraternidade constitui nossa única condição, pois o seu reconhecimento é o primeiro passo para a concretização da inseparabilidade, necessária ao progresso do discípulo. E o treinamento preciso para o discípulo é aquele que o torna sensível às tristezas dos outros preparando-o, deste modo, a ajudar, e aquele que exercita sua autoidentificação com o todo de maneira que, finalmente, ele possa transformar-se num dos Salvadores do mundo. Pois, enquanto este treinamento prossegue vida após vida, desenvolve-se gradualmente neste ser humano uma simpatia em constante crescimento, uma compaixão cada vez mais profunda, uma benevolência que não pode ser perturbada e uma tolerância jamais abalada. Nenhuma injúria pode ofender, pois a dor é do seu autor e não daquele a quem se destinava. Nenhum erro pode provocar ira, pois você compreende porque o erro foi cometido e sente pena do autor, não podendo desperdiçar tempo encolerizando-se. Você não perdoará o erro, nem dirá que é justo, não simulará que o bem é o mal, pois essa seria a maior das crueldades e impediria o progresso da raça humana. Porém, mesmo reconhecendo o mal não haverá ira contra o malfeitor, por ser ele uno com sua própria Alma e por não admitir separação entre você mesmo e ele.

Por que tudo isso? Porque, enquanto esse crescimento se processa, as recordações e o conhecimento aumentarão; enquanto esse crescimento prossegue, a existência evoluída do Espírito no interior do discípulo se revelará cada vez mais na conduta do homem e, gradualmente, ele se sobressairá tornando-se um obreiro, um auxiliar e um labutador a serviço da humanidade, trabalhando para ela a fim de torná-la esclarecida, fornecer-lhe conhecimento e revelar-lhe a realidade que subjaz a todas as ilusões do mundo. Além disso, deve ser duro consigo mesmo, pois permanecerá entre o homem e o mal, entre seus irmãos mais fracos e as forças do mal que, do contrário, poderiam esmagá-los. (...)"

(Annie Besant - Os Mestres - p. 26/27)
Fonte: http://universalismoesoterico.blogspot.com.br/


sábado, 18 de novembro de 2017

O SENTIDO DA VIDA, SEGUNDO MOISÉS, BUDA, CRISTO (PARTE FINAL)

"(...) O homem que apenas desenvolve o seu ego mental, e não o seu Eu racional (espiritual), vive numa frustração existencial, e não pode deixar de ser sofredor, por ser devedor e culpado da sua não realização existencial.

Nos últimos tempos, a medicina conseguiu aumentar a longevidade da vida humana, por meio de medicamentos – mas não diminuiu os sofrimentos humanos porque essa longevidade artificial é um prolongamento da agonia do homem, que continua a ser culpado.

Enquanto o homem não se realizar, de acordo com as imutáveis leis cósmicas, não deixará ele de ser um sofredor, a despeito de todos os paliativos e camuflagens da medicina. Somente a realização existencial pode pôr termo ao sofrimento compulsório do homem.

Depois de deixar de ser devedor culpado perante as leis cósmicas, pode o homem continuar a sofrer algum tempo por seus débitos passados (karma), ou mesmo por culpa de seus companheiros ainda devedores. Só quando toda a humanidade estiver sem culpa, deixará o homem de ser um sofredor compulsório.

O sofrimento por débitos próprios é vergonhoso – mas o sofrimento por débitos alheios é glorioso.

Somente os grandes avatares da humanidade, isentos de sofrimentos compulsórios, podem, querer sofrer voluntariamente, porque sabem que sem resistência não há evolução – e eles são desejosos de evolução ulterior e autorrealização cada vez maior.

Nesse caso estava Jesus, que não sofreu por débito próprio, nem alheio, como ele mesmo diz, mas 'para entrar em sua glória'. O seu sofrimento voluntário foi um sofrimento crédito, a serviço da sua evolução superior, e não um sofrimento débito.

O grosso da humanidade vive no sofrimento débito, que pode converter-se em sofrimento crédito.

Somente a nova humanidade, liberta de débitos, estará liberta de sofrimento débito, e pode iniciar a gloriosa humanidade dos avatares, de que o Cristo foi o precursor.

'Haverá um novo céu e uma nova terra, e o Reino de Deus será proclamado sobre a face da terra'."

(Huberto Rohdem - O Homem, sua Natureza, sua Origem e sua Evolução - p. 39/40)

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

O SENTIDO DA VIDA, SEGUNDO MOISÉS, BUDA, CRISTO (2ª PARTE)

"(...) Cerca de mil e quinhentos anos depois de Moisés e seiscentos anos depois de Buda apareceu o maior gênio humano sobre a face da Terra, Jesus de Nazaré, que cristalizou numa parábola esta mesma verdade: que o homem que vive e age na ilusão sobre si mesmo é um 'servo mau e preguiçoso' e perde até a sua natureza humana, ao passo que o homem que conhece e vive a verdade sobre si Mesmo é um 'servo bom e fiel', que entra no gozo da verdade Libertadora.

Esta verdade cósmica, reduzida a termos modernos, resulta nas palavras seguintes: quem pode, deve; e quem pode e deve, e não faz, cria débito – e todo o débito gera sofrimento.

Quando as eternas leis cósmicas dão a uma creatura uma potencialidade, esperam delas a atualização dessa potencialidade. Se o homem faz o que pode e deve, ele se realiza, faz a sua realização existencial; mas, quando o homem não faz o que pode e deve, sucumbe ele à sua frustração existencial.

Sendo o homem essencialmente o seu Eu racional (espiritual), ele pode e deve realizar esse Eu divino, esse seu Logos; é esta a sua realização existencial, que as leis cósmicas esperam dele. O homem é, potencialmente, o 'sopro de Deus', diz o Gênesis, que pode e deve atualizar-se na 'imagem e semelhança de Deus'; esta realização é a razão de ser da sua existência. O homem é dotado do poder do livre-arbítrio, e não há evolução sem resistência; por isto crearam as leis cósmicas no homem o ego mental, que o Gênesis chama a serpente, que deve manifestar-se e ser superado para que o homem se realize plenamente pelo poder do seu livre-arbítrio. Deus creou o homem o menos possível (sopro divino), creou o homem perfectível, para que o homem se possa crear o mais possível (imagem e semelhança de Deus) no estado do homem perfeito.

Enquanto o homem não atualizar a sua potencialidade, está ele sujeito ao sofrimento, porque não faz o que pode e deve; torna-se devedor e culpado em face das leis cósmicas. E a reação dessas leis contra o culpado é o sofrimento. 

Até hoje, quase toda a humanidade é culpada perante as leis cósmicas, porque todos os homens são realizáveis, e poucos são realizados. A humanidade sofre porque é culpada e devedora em face das eternas leis do Universo, e sofrerá sempre, enquanto não estiver quite com as leis da justiça cósmica.

Enquanto o servo não duplicar os talentos recebidos, as potencialidades que de Deus recebeu, continua ele devedor e sofredor, porque as leis cósmicas não distribuem potencialidade a esmo, mas exigem que o homem duplique por esforço próprio o que recebeu; quem apenas devolve o que recebeu é um servo mau e preguiçoso. (...)"

(Huberto Rohdem - O Homem, sua Natureza, sua Origem e sua Evolução - p. 38/39)

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

O SENTIDO DA VIDA, SEGUNDO MOISÉS, BUDA, CRISTO (1ª PARTE)

"Qual o sentido da vida humana, a razão de ser da sua existência?

Todos os gênios da humanidade respondem o mesmo: o sentido da vida do homem é a sua autorrealização. E essa realização supõe, acima de tudo, o conhecimento da verdadeira natureza do homem.

Cerca de seis séculos antes da Era Cristã, vivia na Índia um príncipe real chamado Gautama Siddhartha. Pouco depois do seu casamento abandonou ele, clandestinamente, o Palácio Real e foi peregrinar pelas florestas da Índia, durante 16 anos, meditando, meditando e jejuando. Queria descobrir uma resposta definitiva ao tenebroso mistério do sofrimento universal da humanidade. Os animais selvagens não sofriam, e por que devia o homem, coroa da creação, viver em sofrimento permanente? Certo dia, estava o príncipe sentado à sombra de uma árvore, mergulhado em profunda meditação. Quando despertou do seu prolongado samadhi, proferiu quatro palavras – e os discípulos dele, sentados em derredor, exclamaram: Buda! Buda! isto é: acordou, acordou.

O peregrino real dormira toda a vida o sono da ilusão sobre si mesmo, identificando-se com o seu ego mental; de repente, despertou para a vigília da verdade – da verdade libertadora sobre si mesmo. Os discípulos dele resumiram a sabedoria do Mestre nas chamadas 'quatro verdades nobres de Buda'. O que Buda disse, depois de despertar para a luz da verdade, foram as palavras seguintes:

1) a vida humana é essencialmente sofrimento,
2) a causa deste sofrimento universal é a ilusão em que o homem vive sobre si mesmo,
3) com a transformação da ilusão em verdade sobre si mesmo, termina a culpa do sofrimento,
4) o meio para o conhecimento da verdade é a profunda meditação sobre si mesmo.

Cerca de mil anos antes de Buda dissera Moisés, com outras palavras, estas mesmas verdades: 'Maldita seja a terra por tua causa', disseram os Elohim ao primeiro homem, porque este se identificava com o seu ego ilusório, aberrando da verdade libertadora sobre a sua verdadeira natureza. E esta ilusão funesta provocou sua autoexpulsão do paraíso e o início do sofrimento Universal. (...)"

(Huberto Rohdem - O Homem, sua Natureza, sua Origem e sua Evolução -  p. 37/38)

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

O EFEITO DA PROVAÇÃO

"Há leis morais fixas, assim como há leis físicas uniformes. Estas leis morais podem ser violadas pelo homem, dotado como é de sua individualidade e da liberdade que isso envolve. Cada violação se torna uma força moral na direção oposta àquela em que a evolução está seguindo, e é inerente ao plano moral. E pela lei de reação cada qual tem a tendência de evocar a operação da lei correta. Mas quando estas forças opositoras se acumulam e adquirem uma dimensão gigantesca, a força reacional necessariamente se torna violenta e resulta em revoluções morais e espirituais, em guerras santas, em cruzadas religiosas, e coisas assim. Expanda esta teoria, e você entenderá a necessidade do aparecimento de Avataras (encarnações divinas - NT) sobre a Terra. Quão fáceis se tornam as coisas quando os olhos da pessoa se abrem; mas quão incompreensíveis elas parecem quando a visão espiritual está fechada, ou é apenas vaga e primitiva. A Natureza, em sua infinita generosidade, providenciou para o homem, nos planos externos, símiles exatos de suas funções internas, e verdadeiramente aqueles que têm olhos para ver podem ver, e aqueles que têm ouvidos para ouvir podem ouvir. 

Quão intenso é o anelo de levar ajuda para a Alma sofredora, em suas horas de extrema provação e de treva acabrunhante. Mas a experiência mostra aqueles que passaram por ordálios semelhantes, e que é bom que eles não tenham, naqueles momentos, percebido a ajuda que não obstante é dada sempre, e que é bom que eles tenham sido oprimidos com um triste senso de solidão e de serem totalmente abandonados. Se fosse de outra forma, metade do efeito da prova seria perdido, e a força e conhecimento que seguem cada ordálio destes teriam de ser adquiridos através de anos de tentativas e tropeços. A Lei de Ação e Reação age em toda parte... Alguém que seja completamente devoto, isto é, alguém que em atos e pensamentos consagra todas as suas energias e todas as suas posses à Suprema Deidade, e percebe sua própria insignificância bem como a falsidade da ideia da separatividade - só para esta pessoa não se permite que os poderes das trevas se aproximem, e é protegida de todo perigo para sua Alma. A passagem no Gita em que você deve estar pensando deve ser interpretada como que ninguém que tenha o sentimento de devoção uma vez desperto em si pode falhar para sempre. Mas não há garantias para ele contra desvios temporários. Pois de certo modo todo ser vivo, desde o Anjo mais exaltado até o menor protozoário, está sob a proteção do Logos de seu sistema, e é levado através dos vários estágios e modos de existência de volta ao Seu seio, para lá desfrutar da beatitude de Moksha (libertação, extinção; equivale a Nirvana - NT) durante uma eternidade. (...)

(Annie Besant - A Doutrina do Coração - Ed. Teosófica, Brasília - p. 14/15)
Fontehttp://www.lojadharma.org.br/


terça-feira, 14 de novembro de 2017

O AMOR NÃO É UMA IDEIA

"Você descobrirá que não fará com que o amor flua para o seu coração ou dali para o mundo apenas pensando na vontade que tem de que isso aconteça. Enquanto sua atenção se fixar na cabeça, você ignorará o coração. Em contrapartida, quanto mais se concentrar na área do coração e ignorar a do cérebro, mais amor sentirá.

O amor é um sentimento, não uma ideia. E, como tal, brota do coração, não da cabeça.

Talvez descubra sentimentos ruins ao voltar-se para o coração. Estamos sobrecarregados de velhas feridas de rejeição, desespero, desilusão e cólera nessa área: tais feridas não desaparecem num passe de mágica. Não podemos apagar nosso passado. Só nos é possível aceitar o que aconteceu conosco e parar de julgar isso inaceitável, imperdoável ou insuportável.

Você notará que o segredo de abrir novamente o coração para o amor consiste em aprender a aceitar toda a realidade do seu passado. Não enfrente, não rejeite, não negue sentimentos, quaisquer que sejam no momento. Ao contrário, procure aceitá-los completamente... e faça com que a luz do amor, que a tudo cura, brilhe sobre eles. Essa é a única maneira de transcender os males do coração: amar a si mesmo como se é e deixar que o afeto divino transforme a experiência interior. Esse é o amor de Jesus por seus discípulos e pela humanidade - amor incondicional que a tudo perdoa. 

Sempre, durante as meditações e mesmo ao longo do dia, lembre-se de dizer a si mesmo: 'Eu me amo assim como sou', permitindo que o potencial para o amor desperte em seu coração. Opte por aceitar-se... e, aos poucos, você aprenderá a olhar, sem julgamento, para a verdade profunda do seu ser. Nesse ato meditativo, você logo perceberá que é uma criação perfeita, a qual não precisa de mudança para estar repleta de amor - por você mesmo e pelo mundo ao seu redor."

(John Selby - Sete mestres, um caminho - Ed. Pensamento, São Paulo, 2004 - p. 121/122)


segunda-feira, 13 de novembro de 2017

O SÁBIO NÃO DESEJA O SUPÉRFLUO

"Cultura genuína é orientar-se
Por Tao.
Nada tanto me apavora
Como a lufa-Iufa dispersiva.
Rumo a Tao conduz diretamente
Somente o caminho interior.
Os homens, porém, ziguezagueiam
Para cá e para lá.
Puro egoísmo é
Quando os soberanos vivem
Em suntuosos palácios,
Enquanto os campos jazem desertos,
E vazios estão os celeiros.
Puro egoísmo é
Ostentar roupagens luxuosas,
Enfeitar-se com jóias,
Ufanar-se de armas,
Empanturrar-se de iguarias,
Encher-se de bebidas inebriantes,
Acumular tesouros.
Latrocínio é tudo o que o homem faz
À custa dos outros.
Tudo isto contradiz
O espírito de Tao.

EXPLICAÇÃO: Dois terços da humanidade, diz um escritor, estão morrendo de fome – e um terço morre de indigestão. A humanidade ainda é dominada pelo 'poder das trevas', que leva alguns a folgar em riquezas supérfluas, e outros a gemer na miséria. Enquanto uns têm demais e outros têm de menos, não pode a terra ser o reino da felicidade.

Quem guarda em sua casa, escreve Mahatma Gandhi, objetos supérfluos que a outros fazem falta, esse é ladrão. O ego é insaciável em seus desejos; nunca diz 'basta'. O conforto leva ao 'confortismo', e, quando o 'confortismo' culmina em 'confortite', está o homem no princípio do fim.

Por isso recomendam os Mestres que o homem tenha o necessário, sem desejar o supérfluo."

(Lao-Tse - Tao Te King, O Livro Que Revela Deus - Tradução e Notas de Huberto Rohden - Fundação Alvorada para o Livro Educacional, Terceira Edição Ilustrada - p. 138/139)


domingo, 12 de novembro de 2017

QUE É DEUS?

"Perguntei às ondas do mar: Que é Deus?

E elas me disseram: Deus é o mar, e nós somos filhas dele.

Perguntei às sete cores do arco-íris: Que é Deus?

E as cores me responderam: Deus é a luz incolor, e nós somos reflexos dela.

Perguntei a todos os ruídos do Universo: Que é Deus?

E eles clamaram: Deus é o grande Silêncio, que nos gerou.

Perguntei a todos os seres vivos da terra, às plantas, aos insetos, às aves, aos peixes, aos animais: Que é Deus?

E eles bradaram: Deus é a Vida, e nós somos os vivos que dela emanaram. Indaguei a todas as plenitudes do Cosmos: Que é Deus?

E as plenitudes do Cosmos cantaram: Deus é a eterna Essência que nos deu Existência.

Perguntei a todos os seres conscientes do mundo: Que é Deus?

E todos concordaram: Deus é o Oniconsciente que nos deu consciência.

* * *

E depois que todas as creaturas responderam às minhas perguntas, exclamei estupefato: Como é que o Uno produz o Verso?

E elas, em coro uníssono, replicaram: O UNO é a alma, e o VERSO é o corpo do Universo – nós somos a Família Univérsica.

Ante essa mensagem do Universo, fiz calar todos os ruídos analíticos da mente e mergulhei no grande silêncio da intuição espiritual.

E a Voz do Silêncio me falou –

E eu compreendi a Voz do Silêncio..."

(Huberto Rohden - A Voz do Silêncio, Poemas de Autorrealização para Iniciandos e Iniciados - p. 9)


sábado, 11 de novembro de 2017

MEIOS CORRETOS

"Se para conseguir uma coisa a gente tem de mentir, de trair, de enganar, de praticar crueldade, de esmagar alguém... esta coisa é tão podre quanto os meios e modos de a conseguir. E sabe de uma? Ninguém é feliz e vitorioso, ninguém está seguro e forte, na posse de uma coisa podre.

Se os meios são sujos, os fins atingidos por tais meios também o são. Esta é uma verdade total, absoluta, à prova de quaisquer sofismas e racionalizações.

Jamais os fins belos, verdadeiros e nobres podem vir a ser conquistados por meios perversos e negros.

Ninguém chega à luz se usa as trevas.

Senhor.
Só não quero ser pobre de Teu Espírito."

(Hermógenes - Deus investe em você - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1995 - p. 178/179)


sexta-feira, 10 de novembro de 2017

O CAMINHO SAGRADO DO AMOR E DA VERDADE

"O Karma, como foi ensinado no Gita e no Yoga Vasishta, significa atos e volições que procedem de Vanasa, ou desejo. É deixado bem claro naqueles códigos de ética que nada que é feito com um puro senso de dever, nada que é empreendido com um sentimento de 'obrigação', como se diria, pode macular a natureza moral daquele que o faz, mesmo que ele esteja equivocado em sua concepção de dever e adequação. O erro, é claro, deve ser expiado com sofrimento, que deve se proporcional às consequências do erro; mas certamente não pode degradar o caráter ou macular o Jivatma (o Eu Individualizado).

É bom usarmos todos os eventos da vida como lições a serem transformadas em vantagens, e a dor causada pela separação de amigos que amamos pode ser usada assim. O que são espaço e tempo no plano do Espírito? Ilusões do cérebro, meros nadas, que adquirem aspecto de realidade pela impotência da mente, o invólucro que aprisiona o Jivatma. O sofrimento meramente nos dá um impulso novo e mais potente de vivermos completamente no Espírito. No fim, da dor virá boa vontade para todos nós, de modo que não devemos resmungar. Antes, sabendo que para os discípulos não pode acontecer nada que não seja da vontade de seus Senhores, devemos olhar para cada incidente doloroso como um passo em direção ao progresso espiritual, como um meio para aquele desenvolvimento interno que nos capacita a servi-Los, e com isso à Humanidade, de um modo melhor. 

Se apenas pudermos servi-Los, se através de todas as tormentas e conflagrações nossas Almas se voltarem para os seus Pés de Lótus, o que importam a dor e os sofrimentos que elas impõem à nossa casca temporária? Entendamos um pouco o significado interno destes sofrimentos, destas vicissitudes das circunstâncias externas - entendamos como tamanha dor suportada significa muito mau Karma esgotado, muito poder de serviço adquirido, quão boa lição aprendida - não serão estes pensamentos suficientes para nos sustentar através de qualquer quantidade destas misérias ilusórias? Quão doce é sofrer quando se sabe e se tem fé! Quão diferente da miséria do ignorante, do cético, e do descrente. Quase poderíamos desejar que todo o sofrimento e miséria do mundo fossem nossos a fim de que o restante de nossa raça pudesse ser livre e feliz. A crucificação de Jesus simboliza esta fase na mente do discípulo. Você não pensa o mesmo? Somente esteja sempre firme na fé e na devoção, e não se desvie do caminho sagrado do Amor e da Verdade. Esta é a sua parte - o resto será feito por você pelos Senhores Misericordiosos a quem você serve. Você já sabe de tudo isso, e se eu falo sobre isso é apenas para fortalecê-lo em seu conhecimento; pois amiúde esquecemos de nossas melhores lições, e em tempos de aflição o dever de um amigo é mais o de lembrar a você suas próprias palavras, antes do que introduzir novas verdades. Foi assim que Draupadi frequentemente consolou seu sábio esposo Yudhisthira, quando terrível infortúnio por um momento abalava sua usual serenidade, e assim também o próprio Vasishtha teve de ser acalmado e confortado quando assolado pela dor da morte de seus filhos. Não é verdadeiramente inexplicável o lado Maya deste mundo? (...)"

(Annie Besant - A Doutrina do Coração - Ed. Teosófica, Brasília - p. 7)
www.editorateosofica.com.br


quinta-feira, 9 de novembro de 2017

MELHORE SUA CONCENTRAÇÃO DURANTE A MEDITAÇÃO

"Para que você melhore em concentração durante a meditação, reduza suas pretensões e desejos. Olhe cada coisa como se você fosse uma simples testemunha desinteressada; não se precipite; não se deixe envolver. Quando as algemas caírem, você se sentirá feliz e leve.

Meditação é a função do homem interno. Envolve quietude subjetiva, esvaziamento da mente e o sentir-se uno com a luz que emerge da Divina Centelha interior. Tal disciplina nenhum livro-texto pode ensinar. Nenhuma aula pode comunicar dhyana. Purifique suas emoções. Clareie seus impulsos. Cultive Amor. Tal domínio é o propósito do processo da meditação ou dhyana.

A mãe pode sentar-se junto do filho e pronunciar palavras que o encorajem a falar, mas o filho tem de usar sua própria língua e fazer seus próprios esforços. Assim, também, uma pessoa pode lhe ensinar como sentar-se e manter o torso vertical, as pernas dobradas, as mãos corretas, os dedos cruzados, a respiração firme e lenta, mas quanto poderá lhe ensinar a controlar a agitação mental?

Quando a meditação So-Ham⁹⁴ atingiu a estabilidade, você pode começar a estabilizar na mente a Forma (rupa) de seu Ishatadevata, isto é, aquela forma do Senhor que você escolheu para sobre Ela meditar. Faça (mentalizando) uma pintura da Forma, da cabeça aos pés, durante cerca de quinze ou vinte minutos. Isso ajudará a fixar no altar do seu coração a Divina Forma. 

Depois você começará a ver somente aquela Sagrada Forma em toda parte. Em todos os seres descobrirá somente Ela. Você virá a realizar o Uno manifestado como muitos. Sivoham - seu sou Shiva. Soham, eu sou Ele. Unicamente ele É.

Pode-se fazer adoração ou dhyana, conforme a própria convicção, na privacidade do lar."

⁹⁴ Um dos métodos de meditação (dhyana) que Swami aprova é aquela que consiste em pronunciar mentalmente o mantro SO na inspiração e o mantra HAM na expiração. A respiração não é comandada, mas tão somente testemunhada pela consciência enquanto acompanhada pelos dois mantras.

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 131/132)


quarta-feira, 8 de novembro de 2017

O CORPO MENTAL - O LOCAL ESSENCIAL (PARTE FINAL)

"(...) A perfeição é a meta de nosso caminho evolutivo não pelo propósito egoísta de sermos perfeitos, mas porque, através de nós, pode ser um pouco aliviada a carga do mundo.Em vez de nos imaginarmos - como o fazemos inconsciente e involutariamente - sendo e fazendo o que em verdade não queremos ser ou fazer, devemos nos imaginar como o homem perfeito que almejamos ser e que seremos um dia. Pensemos com toda a nossa energia mental em nós mesmos como sendo divinos em amor, divinos em vontade, divinos em pensamento, palavra e ação; e ocupemos todo o nosso corpo mental com essa imagem, vigorizando-a com emoções de júbilo e amor, de consagração e aspiração. Essa imagem também se realizará por si mesma. A mesma lei é válida para ela como para as importunas imagens mentais que tanto nos atribulam.

Quando houvermos dominado conscientemente o poder da imaginação, não seremos mais seus escravos, não mais seremos usados por ele; mas nós é que nos valeremos dele. O mesmo poder que era nosso inimigo tornou-se agora nosso aliado.

Não há limites para os diferentes modos em que o poder criativo da imaginação pode ser usado construtivamente, em substituição às formas destrutivas. Quando tornamos nosso corpo mental um instrumento obediente e dócil, podemos usar esse ilimitado poder não só em nossa conduta e ações diárias, mas na obra que estamos realizando e na maneira como recriamos a nós mesmos.

Agora, retiremos também do corpo mental o centro da consciência e o mantenhamos responsivo ao Ser interno, tal qual mantemos os corpos emocional e físico. Assim possuiremos em servidão os três corpos nos três mundos de ilusão. São os três cavalos que puxam nossa carruagem nos mundos inferiores; e o Eu Superior é o divino cocheiro, que não mais permite aos cavalos irem por onde lhes aprazer, senão por onde Ele os dirigir. O Ego desprendeu sua consciência do emaranhamento com os três corpos e a restituiu ao mundo a que verdadeiramente pertence, de onde pode valer-se deles como dóceis servos."

(J.J. Van Der Leeuw - Deuses no Exílio - Ed. Teosófica, Brasília, 2013 - p. 32/33

terça-feira, 7 de novembro de 2017

O CORPO MENTAL - O LOCAL ESSENCIAL (1ª PARTE)

"Assim, é no corpo mental que temos que nos empenhar; devemos nos recusar a permitir que quaisquer imagens sejam formadas em nosso corpo mental sem nosso consentimento, sem que nós mesmos - o Ser interno - o determinemos. Tem de varrer e limpar o corpo mental de toda espécie de formas de pensamentos, de imagens e de sequelas de pensamentos fúteis. Depois, façamos o mesmo que fizemos com os outros corpos, isto é, invertamos a polaridade, de modo que todas as partículas do corpo mental respondam e obedeçam à consciência interna e não se subordinem ao mundo circundante.

Também aqui a mudança é imediatamente percebida pela visão clarividente, e o corpo mental aparece então iluminado com a luz do Ser interno, como um objeto radiante, concordemente harmonizado com nossa genuína consciência manifestada.

Mas ainda isso não é o bastante, pois assim poderemos apenas impedir que o corpo mental nos prejudique e seja um obstáculo em nosso caminho, e nada mais. Devemos, além disso, converter o poder criador do pensamento numa definida força para o Bem, não somente de modo a que não nos cause danos, mas que nos beneficie. Isso significa que devemos criar e fortalecer com nossas emoções aquelas imagens mentais que desejarmos ver realizadas em nossa vida diária. (...)"

(J.J. Van Der Leeuw - Deuses no Exílio - Ed. Teosófica, Brasília, 2013 - p. 32)
www.editorateosofica.com.br


segunda-feira, 6 de novembro de 2017

O EMPREGO DA VONTADE

"Quando M. Coué, tratando do poder da imaginação ou do poder criador do pensamento, diz que na luta entre a imaginação e a vontade vence sempre a imaginação, está com a razão, contanto que por 'vontade' tomemos essa resistência frenética e ansiosa, que para a maioria das pessoas é o substituto da verdadeira vontade. Assim, quando aprendemos a andar de bicicleta e ao vermos uma árvore no meio do caminho nos precipitamos diretamente contra esse obstáculo, com risco de acidente, o erro provém da indisciplinada imaginação, pois formamos a temerosa imagem de que vamos nos chocar contra a árvore, representamos a nós mesmos no ato do choque, e vigorizamos a imagem pela emoção de temor. Então começamos a resistir à imagem. Mas essa relutância inquieta não merece o nome de 'vontade'. Ao contrário, essa resistência fortalece seguramente a imaginação, e mesmo ajuda a provocar o acidente que procuramos evitar. Mas se empregássemos a genuína Vontade, não consentiríamos absolutamente que a imaginação reagisse à árvore. Com efeito, ao ver a árvore e ao registrar calmamente sua existência, não temos de consentir que influa em nossa consciência, e sim, ao contrário, temos que manter nossa imaginação ocupada com o caminho claro e aberto que desejamos seguir. Então será como se a árvore não existisse para nós, e só veremos o caminho sem barreiras.

Antigo é o conto dos três arqueiros que apostaram qual deles poderia flechar um pássaro pousado numa árvore longínquea. O primeiro acertou na árvore e não no pássaro; o segundo apontou para o pássaro abstraindo-se da árvore e só feriu a avezinha; o terceiro, objetivando o pássaro (por certo devia ser um pássaro muito acomodado), não se preocupou nem com a árvore e nem com o pássaro, mas tão somente com sua intenção, e foi bem sucedido. (...)

É pelo poder da verdadeira Vontade que podemos manter concentrada a imaginação no objetivo que nos tenhamos determinado alcançar. A função especial da Vontade não é fazer algo nem lutar contra alguma coisa, mas manter um propósito na consciência, com exclusão de tudo o mais."

(J.J. Van Der Leeuw - Deuses no Exílio - Ed. Teosófica, Brasília, 2013 - p. 31/32)


domingo, 5 de novembro de 2017

OS TRÊS INSTRUMENTOS DO CONHECIMENTO

"Em todos os seres encontramos três tipos de instrumentos de conhecimento. O primeiro é o instinto, altamente desenvolvido nos animais; é o mais inferior de todos. Qual é o segundo? O raciocínio,  o mais altamente desenvolvido no homem. Todavia, o instinto é um instrumento inadequado; a esfera de ação dos animais é muito limitada e, dentro desses limites, age o instinto. No caso do homem, o instinto evoluiu e transformou-se na razão; a esfera de ação humana ampliou-se. Contudo, até a razão é insuficiente: adianta-se até um ponto do caminho e, então, tem de parar; não pode avançar mais e, se você insistir, o resultado será uma inevitável confusão. A própria razão torna-se insensata. A lógica transforma-se em argumentação, num círculo vicioso. Tomemos, por exemplo, a base de nossa percepção: matéria e força. Que é matéria? Aquilo sobre o qual a força atua. E força? Aquilo que atua sobre a matéria. Você percebe a complicação, que os lógicos chamam de gangorra; uma ideia dependente de outra e vice-versa. Você se depara com uma poderosa barreira, a partir da qual a razão é impotente. No entanto, sempre há o anseio de atingirmos a região do Infinito transcendente. Digamos que neste mundo, este universo que os sentidos experimentam e a mente analisa, é só um átomo do Infinito, projetado no plano da consciência. Dentro do estreito limite circunscrito pela rede da consciência nossa razão opera, e não além dele. Deve existir, portanto, algum outro instrumento que nos leve mais longe, e este chama-se inspiração.

Assim os três instrumentos do conhecimento são instinto, razão e inspiração. O instinto pertence aos animais, a razão ao homem, e a inspiração aos homens-deuses. Em todos os seres humanos, porém, são encontradas as sementes mais ou menos desenvolvidas desses três instrumentos do saber. As sementes precisam estar presentes para que os três se desenvolvam. É preciso também lembrar que um instrumento é o desenvolvimento do outro e, portanto, não o contradiz. A razão envolve para a inspiração, logo a inspiração não contradiz a razão, mas a complementa. O que a razão não pode alcançar, a inspiração traz à luz, sem contradizer a razão. O homem idoso não contradiz a criança, é a criança no seu apogeu.

Por isso vocês devem sempre ter em mente que o grande perigo consiste em confundir a forma inferior com a superior. Muitas vezes o instinto apresentou-se aos olhos do mundo como inspiração, disso decorrendo pretensões espúrias ao dom da profecia. Um louco ou desequilibrado pensa que a confusão reinante em seu cérebro é inspiração e quer que os homens o sigam. Os desatinos mais contraditórios e irracionais já pregados ao mundo são, simplesmente, o jargão instintivo de cérebros confusos e dementes, que se pretende fazer passar por linguagem inspirada. (...)"

(Swami Vivekananda - O que é Religião - Lótus do Saber Editora, Rio de Janeiro, 2004 - p. 35/36)