OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


quinta-feira, 29 de setembro de 2022

LIBERDADE E MORAL

"Proíba-se e liberte sua alma - assim disseram as religiões. Mas como ser livre andando nos trilhos do permitido e proibido? É como sentir dor e ter que sorrir ao mesmo tempo. Tomar o remédio amargo em vida em troca do néctar após a morte. Mas e se tudo acabar com a morte? 'Largue isso', disseram alguns filósofos; 'religião é opressão'. E muita gente acreditou.

Depois dessa suposta libertação, perguntemos a nós mesmos, mas sejamos honestos: realmente estamos livres? Pense comigo: o que é ser livre? É fazer o que se quer? Por exemplo, se eu precisar de atendimento médico e for a um hospital, e todos lá fizerem só o que quiserem, talvez ninguém queira me atender. Então volto a perguntar: é possível sentir-se livre em uma sociedade assim?

Você pode me dizer: posso fazer só o que quero e livremente serei solidário e farei o bem. Mas quem garante que o outro fará? E o bem que cada um faz, ou pensa que faz, é bom na opinião de quem? Então precisamos de leis, baseadas em um consenso, e, como as leis não podem regular tudo, precisamos de ética, prescrições morais. Assim, voltamos às religiões.

Podemos andar em círculos, da moral, da religião, para a quebra dos padrões de conduta, e depois voltar, sucessivamente. Ou podemos procurar outra via. Se você tem um filho, por exemplo, o qual você ama, diga-me: você o trata bem para cumprir a legislação ou um código de ética, ou porque o bem-estar dele repercute no seu próprio bem-estar? A maioria das pessoas vai responder que é sensível às condições dos filhos e parentes, mas talvez nem todas elas tenham a mesma sensibilidade com a situação dos 'outros'. Na verdade, todos nós queremos viver onde os outros estão bem, mas não nos damos conta disso. Quando estamos distraídos com o nosso próprio sofrimento, não vemos nada, mas quando estamos felizes, percebemos que a nossa alegria não consegue se expandir quando os próximos estão tristes. Se somos ricos, nos sentimos ameaçados com a falta de segurança, e então desejamos morar em um país onde todos são prósperos. No entanto, não refletimos. sobre isso. Somos capazes de sentir fome, portanto sabemos que precisamos comer, mesmo não havendo normas que tornem a alimentação obrigatória. Mas como não percebemos o quanto as condições dos outros nos afetam, não sentimos que precisamos do bem dos outros; assim, precisamos de códigos de conduta para o convívio em sociedade. Pois o nosso sentimento de unidade com o resto da vida ainda não está desenvolvido como a fome. Porque temos consciência do corpo, mas não temos consciência do verdadeiro Eu.

Para refletirmos sobre a liberdade, Rohit Mehta, em seus comentários aos Yoga Sutras de Patanjali (Yoga. a Arte da Integração, Ed. Teosófica), faz uma distinção entre o esforço humano e a expressão espontânea da experiência espiritual. Ele diz: 'Neste ponto o Yoga difere completamente da vida considerada no sentido do empenho moral ou religioso. Em uma vida religiosa, construída sob princípios morais, o esforço humano é o começo e a finalidade.' Por outro lado, ele afirma: 'O homem espiritual possui uma moralidade de natureza elevada e profunda. É natural e espontânea. Não é uma moralidade onde o pensamento busca ser traduzido em ação. Ao invés disso, é uma moralidade que se encontra na natureza de uma expressão da experiência profundamente sentida.'

A reflexão de Mehta mostra que a moral social, mesmo sendo necessária, é provisória e pode tornar-se mecânica e opressiva quando não é oxigenada como um caminho que leva a uma experiência real do ser espiritual, o verdadeiro Eu. Nesse caminho, as regras servem como o mapa da viagem e nos indicam a direção, mas não nos prendem em sua forma, e o seu conteúdo se atualiza e se aprofunda conforme crescemos em consciência ao nos aproximarmos do Ser. Segundo a visão do Yoga, as pessoas são mais ou menos morais conforme mais espessa ou mais fina for a camada egóica que as separam de seu Eu espiritual. O propósito do Yoga é eliminar essa camada egóica, e a ética funciona como uma ferramenta para isso. Depois da realização do ser, no entanto, a moral espiritual é a expressão livre, natural e autêntica daquele que não fará mal ao outro porque sente que o outro é ele mesmo.

Enfim, a outra via do problema da moral é: conhece-te a ti mesmo. Pois o verdadeiro Eu é o Ser que habita todas as coisas; aquele que, por não querer ferir o seu eu, não será capaz de ferir ninguém, independentemente de regras externas. Da mesma forma isso se dá com o fazer o bem, e ilustra as palavras de Jesus, que se sentia uno com toda a criação: 'Todas as vezes que deixastes de fazer a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.'"

(Cristina Szynwelski - Liberdade e Moral - Revista Sophia, Ano 18, nº 86 - p. 22)
Imagem: Pinterest.


terça-feira, 27 de setembro de 2022

A MENTE COMPASSIVA

"O propósito da evolução é permitir à consciência alcançar a perfeição na manifestação humana como seres altruístas, com as qualidades de amor e compaixão, à imagem da divina inteligência que é a fonte de toda a vida. O amor dessa inteligência é visível em toda a sua criação, criada com infinita compaixão. Isso fica evidente nas miríades de espécies de vida com as habilidades especiais que lhes foram fornecidas pela natureza para sua sobrevivência.

Mahavira, o grande instrutor e reformador do Jainismo, declarava que não bastava a não violência como credo. Ele estendia esse princípio à solidariedade e ao auxílio a outros seres vivos, para se viver naturalmente, de acordo com as leis da natureza. A Nova Era exige sensibilidade e compaixão, mantendo em mente a interconexão e interdependência da vida em todos os níveis.

No Nobre Caminho Óctuplo de Buda, o primeiro passo, Reta Visão, é considerado de vital importância. Isso significa a compreensão da unidade da vida e das leis que governam o universo, Buda ensinou que trishna, ou desejo, é a causa do sofrimento. Os seres humanos se prendem ao ciclo de vida e morte por meio de desejos incessantes que causam um imenso sofrimento. A ignorância do propósito da vida mantém as pessoas escravizadas.

A mente humana, condicionada por coisas como raça, religião, classe social, etc., está encurralada num modo preconceituoso de considerar o mundo. Para compreender esse condicionamento é necessário sabedoria para descobrir suas causas. Os preconceitos a respeito das pessoas são as causas da divisão que cria conflito e sofrimento. Com a percepção, esse condicionamento pode ser reconhecido e a pessoa pode se libertar dele.

A. P. J. Kaalam, ex-presidente da Índia, falando perante o Parlamento Europeu, citou o antigo poeta tamil Kaniyan Pungudranar: 'Eu sou um cidadão do mundo e todos os cidadãos do mundo são meus parentes e amigos. Onde há retidão no coração há beleza no caráter. Onde há beleza no caráter há harmonia no lar. Onde há harmonia no lar há ordem na nação. Onde há ordem na nação há paz no mundo.'

São necessários, portanto, corretos valores e corretas formas de educação que resultem em indivíduos responsáveis e compassivos. Há muita coisa errada numa sociedade baseada apenas em valores materiais. Não deveria haver sensibilidade e compaixão para compartilhar os limitados recursos do mundo com aqueles que são menos afortunados que nós? A extrema ganancia de políticos, patrões e outros, com suas práticas ardilosas, é responsável por muita iniquidade no mundo.

Essa doença é visível nos níveis individual, social e nacional do mundo. Há muito sofrimento no continente africano, que é explorado por seus recursos naturais e vida selvagem. O tráfico de 'diamantes de sangue' e outras pedras preciosas abastece as indústrias de armamento que fornecem armas para milícias e tribos inimigas. Essas práticas nefastas são responsáveis por assassinatos, estupros e saques.

Em diversas partes do mundo há extrema crueldade contra cães e outros animais, que são cozidos vivos para deleite de pessoas que apreciam esse tipo de culinária. Radha Burnier escreveu: 'Viver de maneira compassiva no mundo moderno dificilmente parece ser um ideal, já que atrapalha grandes e imediatos lucros de negócios e entra em conflito com a procura de novos prazeres e satisfações.'

Outra causa de conflito é a doutrinação religiosa, que cria sociedades intolerantes. No discurso que fez nas Nações Unidas, a jovem Malala Yousufzai enfatizou a necessidade da educação promover um pensamento liberal e a não violência, citando os exemplo de Buda, Cristo, Maomé, Gandhi e Pashtun Badshah Khan..

Para o mundo mudar, o individuo precisa mudar. Uma mente que tenha preocupação compassiva com o bem-estar global deve estar envolvida em ações proativas. Nelson Mandela disse: 'Nosso medo mais profundo não é de sermos inadequados. E de sermos poderosos além da conta. É a luz, e não as trevas que nos assusta. Quem sou eu para ser tão brilhante, talentoso e famoso? Na verdade, quem é você para não ser? Você é um filho de Deus. Brincar de ser pequeno não serve ao mundo... Nascemos para tornar magnifica a glória de Deus que que está dentro de nós.'"

(Bhupendra Vora - A Mente Compassiva - Revista Sophia, Ano 18, nº 87, p. 43)
Imagem: Pinterest.


quinta-feira, 22 de setembro de 2022

SINTONIZA A TUA ALMA COM O INFINITO (PARTE FINAL)

"De que modo pode e deve o homem aperfeiçoar a sua antena espiritual?

Pelo exercício intenso e assíduo. 

Em que consiste esse exercício?

Em abismar-se frequentemente nesse mundo espiritual, que está dentro de cada homem, mas que a maior parte dos homens ignora, por falta de introspecção, que também se chama meditação, Cristo-conscientização ou oração.

É indispensável, leitor, que te habitues a dedicar pelo menos 30 minutos - melhor ainda uma hora - diariamente a esse exercício sério de afinação e sintonização do teu receptor espiritual, até que essa sintonia se torne espontânea e permanente, mesmo no bulício das ruas e na lufa-lufa da vida profissional. O exercício continuado produz a facilidade, e essa facilidade de mergulhar no mundo espiritual cria na alma um ambiente de profunda tranquilidade, firmeza, segurança, paz e felicidade.

A história da humanidade de todos os tempos e países não nos apresenta um só homem realmente grande que não tenha praticado, assídua e intensamente, essa sintonização espiritual. A verdadeira grandeza do homem, idêntica à sua felicidade, consiste na facilidade com que ele se identifica com o mundo da Divindade.

Moisés, Elias, João Batista, Paulo de Tarso, Francisco de Assis, Sundar Singh, Buda, Lao-Tse, Gandhi, Tagore, Schweitzer e, sobretudo, Jesus de Nazaré todos eles, e milhares de outros, praticavam regularmente esse ingresso em si mesmos e esse periódico regresso à fonte de luz e força, que é Deus dentro de cada homem, o 'Deus desconhecido' que deve tornar-se o 'Deus conhecido' e o 'Deus vivido, ao ponto de cada homem poder dizer com o apóstolo Paulo: 'Já não sou eu que vivo - o Cristo é que vive em mim'; e por isto mesmo podia ele exclamar: 'Transbordo de júbilo no meio de todas as minhas tribulações.' 

É este o 'renascimento pelo espírito', a morte do 'homem velho' e a ressurreição do 'homem novo.

Mahatma Gandhi dedicava invariavelmente a primeira hora do dia à meditação espiritual; além disto, cada segunda-feira era completamente reservada a essa comunhão com Deus. Por isto conseguiu ele mais pela força do espírito do que outros conseguem pelo espírito da força..

Quando, anos atrás, Rabindranath Tagore, o exímio filósofo e poeta espiritual da Índia, passou pelo Rio de Janeiro, os repórteres dos jornais invadiram o navio para o entrevistar. Tagore, porém, não os recebeu, respondendo-lhes apenas: 'I am in meditation' (estou em meditação), porque a passagem pelo porto do Rio de Janeiro coincidia casualmente com o dia da semana em que esse homem costumava ter a sua silenciosa comunhão com Deus; e nenhum prurido de glória ou celebridade pela imprensa de um grande país foi capaz de o demover da sua concentração espiritual.

Jesus, segundo referem repetidas vezes os Evangelhos, depois de terminar os seus labores diurnos, retirava-se frequentemente às alturas dum monte ou à solidão dum ermo a fim de passar horas e horas, por vezes a noite inteira. 'em oração com Deus'.

Dessa frequente imersão no mundo divino provinha a luz e força, a paz e imperturbável serenidade que caracterizam a vida de Jesus, de maneira que até em vésperas de sua morte cruel podia ele dizer a seus discípulos: 'Dou-vos a paz, deixo vos a minha paz... para que seja perfeita a vossa alegria.'"

(Huberto Rohden - O Caminho da Felicidade - Alvorada Editora e Livraria Ltda., São Paulo, p. 77/79)
Imagem: Pinterest. 


terça-feira, 20 de setembro de 2022

SINTONIZA A TUA ALMA COM O INFINITO (1ª PARTE)

"No momento em que o leitor lê este capítulo da filosofia da felicidade, o ar está repleto de vibrações sonoras; alguma estação emissora está irradiando a 'Nona Sinfonia de Beethoven', ou talvez a 'Ave-maria' de Schubert ou de Gounod. O leitor está percebendo essa música? Não? Por que não, se ela está no ar, aí mesmo onde o leitor está neste momento? Que é que falta? Certamente, não falta a presença real dessas ondas eletrônicas... O que falta é um aparelho receptor capaz de captar essas vibrações silenciosas e transformá-las em ondas sonoras. No momento, porém, em que o leitor sintonizar o seu rádio pela frequência em que essa música foi irradiada eis que as vibrações silenciosas, já pré-existentes no espaço, se transformam em ondas sonoras...

No caso, porém, que a música seja irradiada em ondas curtas, e o leitor sintonizar o seu aparelho por ondas longas, não captará as ondas sonoras presentes, e é como se elas estivessem ausentes - objetivamente presentes, subjetivamente ausentes... 

A tua alma, leitor, é um delicado aparelho receptor dotado duma antena mais ou menos sensível. Da sensibilidade da antena e da qualidade do receptor, depende se o leitor vai perceber uma irradiação espiritual, ou não.

Deus é a grande estação emissora de todas as ondas do universo. Nele tudo está, dele tudo vem, para ele tudo vai.

Os seres infra-humanos são dotados, por assim dizer, de receptores para ondas longas - digamos, para vibrações meramente materiais, como os minerais, os vegetais, os animais. Mas o homem possui, além disto, um aparelho receptor para captar ondas curtas, ondas espirituais.

Quanto mais perfeito for esse receptor, mais facilmente captará o homem as mensagens da Divindade, e tanto mais maravilhosa será a 'música' da sua vida, que se chama felicidade.

Está, pois, no interesse vital do homem criar dentro de si um receptor de alta potência e absoluta nitidez, porque disto depende essencialmente o grau e a intensidade da felicidade da sua vida.

Esse receptor existe em cada homem, porque faz parte da própria natureza humana - mas a sua capacidade receptiva está sujeita a mil variações. A antena é a alma, mas nem toda alma possui suficiente receptividade para captar com segurança e nitidez as mensagens do Além, que sem cessar percorrem o espaço.

Afinar a sua antena, tornar o seu aparelho espiritual cada vez mais sensível - eis a tarefa máxima da vida de cada homem, aqui na terra; porque todas as outras coisas, sendo derivadas destas, virão por si mesmas. O grande Mestre de Nazaré exprimiu esta verdade básica nas conhecidas palavras: 'Procurai primeiro o reino de Deus e sua Justiça e todas as outras coisas vos serão dadas de acréscimo.'

Com uma antena altamente sensível, nenhum homem pode ser realmente infeliz, aconteça o que acontecer. Nenhuma 'interferência' de circunstâncias externas poderá destruir a música divina da sua vida. Ainda que tudo falhasse ao redor dele, esse homem sabe que dentro dele nada falhou, se ele mantiver a sua alma sintonizada com o Infinito. E, como a coisa principal está salva, o resto propriamente não está perdido, embora pareça, por que onde persiste a causa fundamental ali também perduram, embora invisíveis, os efeitos dela derivados." ... continua.

(Huberto Rohden - O Caminho da Felicidade - Alvorada Editora e Livraria Ltda., São Paulo, p. 75/77)
Imagem: Pinterest.


quinta-feira, 15 de setembro de 2022

HIPOCRISIA

"Vivemos um tipo de comportamento estranho e contraditório?

Em primeiro lugar, deveríamos nos perguntar: será que tudo o que fazemos é por vontade própria?

Observemos por um instante nossas ações e reações. 

O mundo clama por amor e faz guerras. Religiões pregam união e perdão, mas brigamos entre nós e nos afastamos dos ensinamentos dos Mestres.

Grandes corporações criam e vendem artigos nocivos e poluentes e ao mesmo tempo patrocinam ONGs que defendem o meio ambiente. A propaganda é usada para estimular o uso de produtos prejudiciais que viciam, distraem e destroem. E são essas mesmas empresas que pregam uma vida sustentável. Vendem o veneno e depois a suposta cura. A cada momento surgem ideias novas de como salvar o planeta. A exploração, entretanto, é cada vez maior e mais equilibrada.

Há um ditado antigo que diz que somos nós que oferecemos ao agressor a arma com que ele vai nos ferir. 

É preciso muita força de vontade para escaparmos desse círculo vicioso. Nossa autonomia intelectual fica reduzida se estamos expostos 24 horas por dia a esses estímulos.

É possível que muita gente goste da maneira como vive. Outros tantos podem não saber que existem outras formas de pensar, de agir, de se conhecer e se comprometer. Não há nada de místico É só a vida se manifestando com seu leque infinito de possibilidades. Pena que tenhamos acesso a tão poucas, já que vivemos o mito da escassez bem mais do que o da abundância. 

Vivemos nesse mundo de aparentes paradoxos e contraditórios. Existe outro? O que temos de fazer para compreender?

Para saber precisamos procurar.

Podemos. 

Vamos!"

(Fernando Mansur - O Catador de Histórias - Ed. Teosófica, Brasília, 2018 - p. 96)
Imagem: Pinterest.


terça-feira, 13 de setembro de 2022

CURATIVOS DA ALMA

"Algumas dores podem ajudar a curar feridas da alma Os véus físicos não impedem que o invisível, de alguma forma, se manifeste. 

Sábios sugerem: cure sua mente e seu corpo ficará curado. Sua alma se sentirá mais livre para atuar e servir através do veículo físico. 

Tudo no universo é regido por leis eternas e imutáveis. Mesmo que não as conheçamos, elas atuam. Conhecer é o primeiro passo para a libertação. 

Dizem-nos para ter paciência e que 'o tempo de lá (no mundo 'espiritual) é diferente do tempo daqui.' Estamos imersos no Eterno e a mão divina nos acolhe sem restrições. 

O medo é inimigo do real. 

Pode surgir a pergunta: Depois de tanto tempo convivendo com você mesmo, o que de mais importante você aprendeu a seu respeito? Podemos tentar responder, sem crítica, sem controle, sem julgamento.

Por que existem tantas cercas à nossa volta? Qual o motivo e o sentido de tanta separatividade? As vezes é preciso aparecer um palhaço ou uma criança para revelar que o rei está nu. 

Vejam essa surpreendente e reveladora história que me contaram: uma criança chega ao Rio e, depois de caminhar por algumas ruas, pergunta: 

- Vovó, por que existem tantas prisões? 

- Como assim!? Reagiu a avó.

- Eh, vovó! Por que todas essas grades na frente das casas e dos edifícios.

A avó tomou um susto, respirou fundo, apertou a mãozinha do neto e o convidou a tomar um sorvete ali perto, protegidos pelo olhar vigilante do segurança da rua.

Existem as grades internas e as externas. Como retirar o cadeado das portas de nossa alma? Parte da cura pode depender desse nosso gesto.

Podemos.

Vamos!"

(Fernando Mansur - O Catador de Histórias - Ed. Teosófica, Brasília, 2018 - p. 91)
Imagem: Pinterest.


quinta-feira, 8 de setembro de 2022

REALIDADE INTERIOR

"O hábito religioso tende a limitar a influência dos sentidos e favorecer a sensibilidade interna, espiritual. No primeiro caso, o monge pode filtrar o que vem do ambiente e também selecionar o que buscar nele. Amorosamente sensível à necessidade do próximo e rigoroso contra seus próprios caprichos, não se deixa dominar por esses últimos. A vigilância e o discernimento são potencializados pela concentração e pela autoanálise. O tecido do hábito religioso simboliza uma camada adicional de pele, um revestimento figurado capaz de facilitar o bem e refrear o mal, em todos os sentidos.

De onde vêm os monges encapuzados? De toda parte, dessa ou daquela religião, família, etnia, país, do campo ou da cidade, todos se encontram sob as mesmas vestes e compartilham os mesmos ideais e objetivos. Eles se igualam por fora como se nivelam por dentro, já que interiormente têm os mesmos órgãos: coração, pulmões e demais vísceras, iguais em número e sob os mesmos princípios biológicos. O que está por debaixo, ou seja, as vísceras, tem sua contraparte no que está por cima, ou seja, o hábito religioso. Seja de onde for, o manto apaga as fronteiras, é símbolo de igualdade e de unidade.

O monge é a pessoa mais livre do mundo, e o hábito religioso atesta isso. Já tem uma roupa definida, simples, mas carregada de significado espiritual. Se um uniforme precisa ser funcional, como o de um socorrista, por exemplo, o do sacerdote também o é. Frugal, rústico, de cor natural, tem uma estética que ajuda a liberar a mente e o foco para voos altos. Dizem que Einstein só dispunha de um modelo de roupa, por um motivo prosaico: eximir-se da preocupação sobre o que usar. Moderando o que vem do mundo exterior, o hábito ajuda a liberar a realidade interior.

As cores do hábito religioso variam amplamente entre as religiões e ordens. Segundo C.W. Leadbeater, a cor preta, comum nas vestes monásticas, simboliza esotericamente o domínio do espírito sobre a matéria. Significa, portanto, autocontrole e plena moderação espiritual com vistas à libertação dos grilhões que nos induzem ao erro. Em física, a cor negra é o absorvedor ideal, pois não reflete as demais cores. Alegoricamente, de fato, o poder de absorção e de autodomínio se equivalem em suas respectivas dimensões. Portanto, além da forma, a diversidade de cores aponta para um rico simbolismo cromático.

Em várias culturas, os representantes do sagrado, sejam pajés, xamãs ou monges, revestem-se de formas e cores distintivas em suas vestes. O cocar de penas coloridas ou o capuz do monge são exemplos dessa diversidade. Além disso, é comum que símbolos religiosos, como as imagens de santos ou devas, sejam cobertos por mantos, constituindo uma espécie de aura visível a todos. A coroa ou auréola, para Leadbeater, representam, no misticismo oriental, centros de força situados na cabeça. Mas podem também representar o pensamento iluminado. 

Por fim, usei a expressão 'hábito religioso' para designar as vestes monásticas ou sacerdotais. Entretanto, se pensarmos sobre o outro significado da palavra 'hábito' e considerarmos o hábito religioso como a repetição de um comportamento: altivo, capaz de nos religar à divindade onipresente, teremos uma reflexão igualmente válida. Revestidos de bons hábitos poderemos aspirar a um mundo melhor, mais fraterno e mais justo. Assim, toda pessoa de bem porta um hábito religioso invisível tão digno quanto as vestes sagradas visíveis, um lembrete simbólico da aura em purificação."

(Fernando Gaspar - O Simbolismo do Hábito Religioso - Revista Sophia, Ano 19, nº 97 - p. 36/37)
Imagem: Pinterest.


terça-feira, 6 de setembro de 2022

O SIMBOLISMO DO HÁBITO RELIGIOSO

"Como as práticas religiosas despertam o interesse de muitos que buscam a espiritualidade, pode ser proveitoso refletir sobre a vida dos religiosos. Sua fraternidade e caridade, suas austeridades, seus estudos, suas meditações e suas orações são exemplos de práticas espirituais vistas como importantes pelo público. Portanto, em adição ao interesse por tudo que envolve uma religião, sua doutrina, seus livros, seus símbolos e suas práticas, pode-se incluir o dia a dia do monge.

A veste comumente usada por um monge é conhecida como hábito religioso. O aspecto dessa roupa pode lembrar uma capa ou manto e contar com um capuz capaz de ocultar a cabeça. Há variações na forma e na cor da indumentária, sendo frequente. no Ocidente, o uso da cor preta. A despeito da diversidade do hábito, essas vestes em geral são reconhecidas facilmente como pertencentes a um religioso e à sua ordem ou escola monástica. Mas como o hábito, enquanto veste, pode nos inspirar?

O hábito religioso naturalmente impressiona tanto o próprio monge quanto o devoto, em diferentes graus e modos. A simples visão da indumentária sacerdotal pode evocar pensamentos e sentimentos salutares. A devoção a uma causa nobre, a vontade de melhorar enquanto ser humano, o impulso para a prática do bem e da caridade são apenas algumas metas que podem ser trazidas à mente me diante um cenário inspirador, que as vestes ali presentes ajudam a compor.

A força do indumentário, portanto, é sobretudo simbólica. É desse modo que a arte, as práticas, as cerimônias e os textos abordados no ambiente em que se busca a espiritualização se revestem de um caráter eminentemente místico, metafísico. Nesse sentido, o hábito religioso também pode ser fonte de reflexão. Assim sendo, pode-se listar ideias que emergem na meditação sobre as vestes típicas do monge ou monja.

A veste religiosa envolve o devoto, identificando-o, acolhendo-o. Assim como o tecido protege do frio, preservando o calor do corpo, o hábito simboliza a proteção da natureza espiritual presente em toda criatura. Assim como a proteção nasce da concretização dos atos virtuosos, nas ações, nos pensamentos e nos sentimentos, o hábito acompanha o monge em todos os seus movimentos, pois é sua própria roupagem. Logo, suas atitudes o protegem, tal como o hábito religioso.

A veste monástica induz à interiorização e a uma atitude inspirada. Sob seu abrigo, o ser é levado a olhar para si mesmo. Afinal, o tecido reduz o alcance do meio exterior sobre os olhos. 'Os olhos não se cansam de ver', diz Eclesiastes. E, é sabido, o autoconhecimento é a chave do aperfeiçoamento com vistas à espiritualidade. Essa necessidade do exercício da auto-observação como ferramenta de progresso pessoal tem sido enfatizada pelos mais diversos pensadores da causa humana. Simbolicamente, sugerem o uso de um hábito pessoal imaginário, que pode ser cultivado pela meditação.

O devoto que observa o sacerdote totalmente envolto em seu hábito religioso também é convidado à introspecção. Vendo as vestes marcadas pela simplicidade, sem fantasias, o fiel se concentra nas palavras e nos atos do monge. A discrição, exemplificada no respeitável manto, é impactante à vista, principalmente para os observadores que têm 'olhos de ver, no dizer bíblico. Mergulhando no hábito religioso, o ser mergulha em si mesmo para melhor reconhecer o divino nas outras pessoas.

Por fazer parte do contexto religioso, a roupa sacerdotal nos remete de modo reflexo à ideia de que essencialmente somos de natureza espiritual. É desse modo que a silhueta das vestes assume um caráter de aura extrafísica. Uma aura de reverência e respeito por algo. muito além do próprio monge, mas algo que é por ele representado. Assim como ele representa o além, nós mesmos nos projetamos no religioso e nele nos espelhamos; não numa personalidade, pois ela está oculta e anônima sob as vestes, mas num ideal ali imaginado.

O hábito religioso ofusca a personalidade, conferindo ao 'eu' um caráter universal e altruísta. Enfim, quem é o monge por baixo do capuz? Não se sabe, mas podemos deduzir o significado do conjunto. Abraçados pela manta, os monges se igualam perante a espiritualidade. De joelhos ou prostrados perante a natureza, nivelam-se ainda mais entre si. Renunciam aos holofotes e se tornam um todo coletivo. São indistinguíveis. Transmitem o mesmo ideal, porque o que se vê é o mesmo que se quer representar: uma vida maior que a personalidade e oculta à retina mundana. Nesse sentido, é um antidoto ao egoísmo e ao orgulho. É humilde e ponderado."

(Fernando Gaspar - O Simbolismo do Hábito Religioso - Revista Sophia, Ano 19, nº 97 - p. 35/36)
Imagem: Pinterest.


quinta-feira, 1 de setembro de 2022

A CADEIA DO CONHECEDOR, DO CONHECER, E DO COGNOSCÍVEL

"Há uma palavra, vibração, que tem se tornado cada vez mais a tônica da ciência ocidental, como tem sido há muito tempo a da ciência do Oriente. O movimento é a raiz de tudo. A vida é movimento; a consciência é movimento. E esse movimento que afeta a matéria é a vibração. O Uno, o Todo, pensamos como o Imutável, seja como Movimento Absoluto ou como Sem Movimento, uma vez que no Uno o movimento relativo não pode existir. Só quando há diferenciação, ou partes, podemos pensar no que chamamos movimento, que é mudança de lugar numa sucessão de tempo. Quando o Uno se torna o Muitos, surge então o movimento; isto é saúde, consciência, vida, quando rítmico, regular; assim como ele é doença, inconsciência, morte, quando sem ritmo, irregular. Pois a vida e a morte são irmãs gêmeas, igualmente nascidas do movimento, que é a manifestação.

O Movimento deve aparecer quando o Uno se torna o Muitos, uma vez que, quando o onipresente aparece como partículas separadas, o movimento infinito deve representar a onipresença, ou, colocado de outra forma, deve ser o seu reflexo ou imagem na matéria. A essência da matéria é a separatividade, como a do espírito é a unidade, e quando ambos aparecem no Uno, como creme no leite, o reflexo da onipresença desse Uno na multiplicidade da matéria é movimento incessante e infinito. O movimento absoluto a presença de cada unidade em movimento em cada ponto do espaço e em cada momento do tempo é idêntico ao descanso, sendo apenas o descanso visto de outra forma, do ponto de vista da matéria e não do ponto de vista do espírito. Do ponto de vista do espírito há sempre Um, do ponto de vista da matéria há sempre Muitos.

Este movimento infinito aparece como movimentos rítmicos, vibrações, na matéria que o manifesta, cada Jiva, ou unidade separada de consciência, estando isolado por uma parede de matéria de todos os outros Jivas.³ Cada Jiva torna-se posteriormente encarnado, ou revestido por várias vestes de matéria. À medida que estas vestes de matéria vibram, comunicam as suas vibrações à matéria que as rodeia, tornando-se esta matéria o meio em que as vibrações são levadas ao exterior; e este meio, por sua vez, comunica o impulso da vibração às vestes envolventes de outro Jiva, e assim põe esse Jiva a vibrar como o primeiro. Nesta série de vibrações - iniciadas num Jiva, feitas no corpo que o rodeia, enviadas por esse corpo ao meio que o envolve, comunicadas por este a outro corpo, e desse segundo corpo para o Jiva cercado por ele - temos a cadeia de vibrações em que um conhece o outro. O segundo conhece o primeiro porque reproduz o primeiro em si mesmo, e assim experimenta como o outro está experimentando. E, no entanto, com uma diferença. Pois o nosso segundo Jiva já está em uma condição vibratória, e o seu estado de movimento, após receber o impulso do primeiro, não é uma simples repetição desse impulso, mas uma combinação do seu próprio movimento original com o que lhe foi imposto de fora, e portanto não é uma reprodução perfeita. As semelhanças são obtidas, cada vez mais próximas, mas a identidade foge-nos sempre, as vestimentas permanecem.

Esta sequência de ações vibratórias é frequentemente vista na Natureza. Uma chama é um centro de atividade vibratória no éter, chamado por nós de calor; estas vibrações ou ondas de calor lançam o éter circundante em ondas como se fossem elas próprias, e estas lançam o éter num pedaço de ferro deixado próximo em ondas semelhantes, e as suas partículas vibram sob o seu impulso, e assim o ferro torna-se quente e uma fonte de calor em sua vez. Assim, uma série de vibrações passa de um Jiva para outro, e todos os seres estão interligados por esta rede de consciência.

Assim, mais uma vez, na natureza física, marcamos diferentes gamas de vibrações por diferentes nomes, chamando uma de luz, a outra de calor, a outra de eletricidade, a outra de som, e assim por diante; no entanto, todas são da mesma natureza, todas são modos de movimento no éter,⁴ embora se diferenciem pelas taxas de velocidade e no caráter das ondas. Pensamentos, Desejos e Ações, as manifestações ativas em matéria de Conhecimento, Vontade e Energia, são todas da mesma natureza, ou seja, são todas constituídas por vibrações, mas diferem nos seus fenômenos, devido ao caráter diferente das vibrações. Há uma série de vibrações num determinado tipo de matéria e com um certo caráter, e a estas chamamos vibrações de pensamento. Uma outra série é falada como vibrações de desejo, uma outra série como vibrações de ação. Estes nomes são descritivos de certos fatos na Natureza. Há um certo tipo de éter lançado em vibração, e as suas vibrações afetam os nossos olhos; o chamamos de movimento luz. Há outro éter muito mais sutil lançado em vibrações que são percebidas, ou seja, são respondidas, pela mente, e chamamos a esse movimento pensamento. Estamos rodeados de matéria de diferentes densidades e nominamos os movimentos nela pela maneira que nos afetam, são respondidos por diferentes órgãos dos nossos corpos densos ou sutis. Nominamos por 'luz' certos movimentos que afetam o olho; nomeamos por 'pensamento' certos movimentos que afetam outro órgão, a mente. O 'ver' ocorre quando o éter de luz é lançado em ondas de um objeto ao nosso olho; o 'pensar' ocorre quando o éter de pensamento é lançado em ondas entre um objeto e a nossa mente. Um não é mais nem menos misterioso do que o outro.

Ao lidar com a mente, veremos que as modificações na disposição dos seus materiais são causadas pelo impacto das ondas de pensamento, e este no pensamento concreto que experimentamos mais uma vez os impactos originais de fora. O Conhecedor encontra a sua atividade nestas vibrações, e tudo a que pode responder, ou seja, tudo a que pode reproduzir, é o Conhecimento. O pensamento é uma reprodução dentro da mente do Conhecedor daquilo que não é o Conhecedor, não é o Eu; é uma imagem, causada por uma combinação de ondas-movimento, uma imagem bastante literal. Uma parte do Não Eu vibra, e à medida que o Conhecedor vibra em resposta, essa parte torna-se o Cognoscível; a matéria vibrando entre eles torna possível o conhecer, pondo-os em contato um com o outro. Assim é estabelecida e mantida a cadeia do Conhecedor, do Cognoscível, e do Conhecer."

³ Não existe uma palavra inglesa conveniente para 'uma unidade separada de consciência '-' 'espirito' e 'alma' conotando varias peculiaridades em diferentes escolas de pensamento. Arvoro-me, portanto, a usar o nome Jiva, em vez de palavras imprecisas 'uma unidade separado de consciência'.
⁴ O som é principalmente também uma vibração etérica. 

(Annie Besant - O Poder do Pensamento - Ed. Teosófica, Brasília, 2021 - p. 25/29)
Imagem: Pinterest.