"Vez por outra, encontro alguém que infantilmente se inquieta com a hipótese absurda de, vindo a envolver-se com Yoga, cometer apostasia e trair sua religião particular, à qual desde a infância acomodadamente "pertence".
Alguns me perguntam receosos se Yoga é religião. Geralmente respondo: "Se você vê religião como um processo holístico (psico-bio-físico-espiritual) de re-união de partes que antes estavam unidas e agora estão separadas, se vê como a re-união da alma com Deus, então Yoga é essencialmente religião. Se um cristão, mesmo nada sabendo de Yoga, cumprir o caminho (marga), a disciplina ascética (sadhana) e a ética (dharma) ensinados e exemplificados por Jesus, poderá voltar à "casa do Pai". Retornará a ser um com o Pai. Tal, a rigor, é o Yoga do Cristo. Não é disto que fala a parábola do "Filho Pródigo"? A re-ligação ou religião do filho com o Pai é a forma mais exata de entender o Yoga.
Desde que o dharma (dever, mandamento e injunção), o sadhana (disciplina, ascese) e o marga (caminho de redenção a ser percorrido), estabelecidos por Cristo no Evangelho, sejam cumpridos com discernimento, decisão, dedicação, devoção e disciplina, o cristão pratica e alcança o Yoga. Que todo cristão consiga praticar o Yoga ensinado e exemplificado por Cristo; que ouça, analise, compreenda (em espírito e verdade) e ponha em prática o que Ele ensina em seu santo e sábio Evangelho:
Se permanecerdes em minha palavra (doutrina), sereis verdadeiramente meus discípulos e tereis a gnose da Verdade, e a Verdade vos libertará (jnana).
Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia sua cruz e siga-me (tapah).
Fazei aos outros aquilo que quereis que vos façam (seva).
Perdoai setenta vezes sete vezes (kshama).
Orai pelos que vos perseguem e caluniam (prema).
Buscai primeiro o Reino de Deus e vosso ajustamento a Ele, e o resto vos será acrescentado (mumukshutva).
Muito, mas muito mais, Ele estipulou como seu dharma (preceitos, injunções, virtudes, deveres...), definiu marga (caminho a ser percorrido) e ensinou seu sadhana (disciplina a ser observada). Sugeriu que se optasse pela "porta estreita" que permite e promove a re-ligação com a "casa do Pai", com o Dono da Casa.
Tivesse Ele se dirigido a hindus, penso que poderia falar assim: "Se vos ajustardes ao dharma, avançando no marga, e cumprirdes o sadhana, que vos ensinei e tanto exemplifiquei, alcançareis o estado adwaita e chegareis a dizer junto comigo 'eu e o Pai somos um' e tomareis consciência de que sois Deus. E este jnana vos libertará de samsara, o mundo dos mortos, onde há choro e ranger de dentes, e tereis vida, mas vida em abundância."
Se alguém, se supondo cristão, vier a contestar e combater o Yoga, "perdoai, pois não sabe o que faz". Não conhece Yoga e nem a luminosa essência de sua religião tão sábia."
(José Hermógenes - Iniciação ao Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 22/24)