OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

A JUVENTUDE É UM ESTADO DA MENTE E DA ALMA, ASSIM COMO DO CORPO

"Todos querem ser jovens. De um jeito ou de outro, todos buscam a lendária 'Fonte da Juventude'. Mas o que é a juventude? Nem todas as pessoas de pouca idade são necessariamente jovens, algumas estão envelhecidas e esgotadas muito além de sua idade. Em contraste, há pessoas mais velhas que se conservam jovens apesar da idade avançada. Essas pessoas mantêm a mente jovem; seu sorriso nasce da alma e se espalha pelo rosto e pelo corpo; sua vida pulsa com a alegria de existir. E há pessoas sem graça, insípidas, que vivem como se estivessem mortas - e nem se dão conta disto. São os 'mortos-vivos'. Você deve conhecer muitas pessoas assim: negativas, críticas, mal-humoradas, sem vida. Não há desculpa, para manter um estado de espírito errado. Seja sempre positivo, sorridente, vibrante, alegre. Pratique, como puder, a juventude mental que provém do âmago de seu ser.

Portanto, a idade física não tem relação direta com a juventude. É o estado mental e a expressão da alma que tornam uma pessoa jovem. A definição de juventude é aquele estado físico, mental e espiritual em que a pessoa se sente no ápice, no zênite da alegria e da sua força. Se quiser, você pode manter esse estado indefinidamente; por outro lado, pode perdê-lo facilmente se não tomar cuidado. 

Primeiro, consideremos o aspecto mental do assunto. A mente é a controladora; quer dizer, é quem está no comando do corpo. O próprio corpo é desenhado pela mente. Somos a soma total da consciência que nós mesmos criamos durante várias encarnações. A mente, ou consciência, é a força suprema que governa todas as atividades voluntárias e involuntárias de nossa fábrica corporal com variados produtos."

Extraído do livro Jornada para a Autorrealização, de Paramahansa Yogananda, Self-Realization Fellowship, p. 5.
Imagem: Pinterest. 

 

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

RELAXAMENTO

"O aspirante à Vida Superior deve iniciar pelo corpo físico e aprender a mantê-lo sereno e 'solto'; a fazê-lo sentar, parar ou deitar em perfeita tranquilidade, com cada músculo relaxado e cada nervo descansado; então, e somente então, pode tentar chegar com segurança à meditação e ao contato com as poderosas forças de outros planos.

A cada dia e a cada hora todos os gesto supérfluos devem ser eliminados, bem como todos os movimentos involuntários e desnecessários do corpo. O estresse da civilização moderna é tão grande que para resistir a ele retesamos nossos corpos, estirando nossos nervos e endurecendo nossos músculos. Que o aspirante observe a si mesmo e veja o quanto está esbanjando vitalidade em movimentos e gestos desnecessários e em uma tensão contínua do corpo.

É de pouco valor dedicarmo-nos à Vida Superior com nossas mentes, se não correspondemos àquilo que professamos ao desperdiçar incessantemente a parte mais valiosa de nossos eus físicos a cada hora e a cada minuto do dia. 

O corpo deve tornar-se sereno e equilibrado; apenas aquelas partes do mesmo necessárias à tarefa em questão deveriam ser usadas. todo o restante deveria estar em repouso, aparentemente recuperando-se para qualquer chamado que possa ser feito. 

As pessoas hoje em dia vivem em uma inquietude nervosa inteiramente desnecessária. É um axioma que não se pode progredir na vida oculta até que se tenha cessado com a irrequietação nervosa. 

Uma das razões da condição altamente nervosa de tantos estudante é que a vitalidade está sendo continuamente desperdiçada por esta falta de controle sobre o corpo físico. A prática da serenidade e relaxamento corporal será vista como um passo valioso em direção à autocura, bem como em direção à aquisição de maior eficiência em todas as atividades do plano físico. A prática do relaxamento é o meio não apenas de induzir uma condição equilibrada e harmônica ao corpo, mas também de aquietar e controlar as emoções e a mente. 

Ao invés de uma condição nervosa, abrupta, altamente tensa, maneiras ásperas, atitude mental continuamente crítica, a voz penetrante que tantas vezes termina suas frases com uma caricatura nervosa e histérica sem sentido do verdadeiro riso, devemos apresentar uma personalidade suave, rítmica e harmoniosa, uma voz serena e agradavelmente modulada, um exterior cálido e amoroso para o mundo, cuidando que tais esforços sejam uma verdadeira expressão da alegria da vida que flui inexaurivelmente dentro de nós."

Extraído do livro 'Saúde e Espiritualidade", de Geoffrey Hodson, Ed. Teosófica, Brasília, 1993, p. 23/26.
Imagem: Pinterest. 

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

COMO EDUCAR A MENTE PARA NÃO SER UMA MENSAGEIRA MENTIROSA?

"Primeiramente, através da observação; em seguida, através do treinamento. Estamos falando não só de meditação, mas também de um treinamento diário. Durante nossas atividades de rotina, devemos observar a mente, atentos ao que essa mensageira diz. Ela está contando 'causos' do passado, que não nos servem mais e já deveriam ter sido reciclados? Está fazendo julgamento e críticas baseados no que acreditamos ser verdade, em crenças legadas por situações passadas, pelo inconsciente coletivo ou pela mídia? Está sendo vítima de suas limitações e falta de sabedoria, como as mentes desgovernadas da maioria dos seres humanos? Devemos observar, discernir e reciclar os pensamentos, assim como reciclamos lixo. 

Durante os primeiros oito anos de vida, contando o período no útero materno, recebemos influências do meio onde vivemos; assimilamos tudo de forma hipnótica, por meio de ondas alphas e thetas. Nós vivemos repetições de situações - muitas vezes traumas carregados de medo, desconfianças, incertezas, dores físicas ou emocionais, abandono e rejeição. Eles se transforam em carência, apegos e insatisfação. Essas influências criam formas-pensamentos, geralmente ficam armazenadas em nosso subconsciente e agem como gatilhos que são disparados mais tarde, quando vivemos algo que nos remeta a uma situação semelhante vivida no passado.

Os pensamentos que são armazenados no subconsciente se transformam em crenças limitantes, que na fase adulta nos impedem de realizar nossos sonhos e desejos mais profundos, e até mesmo nosso propósito de vida e os anseios da nossa alma. Alguns exemplos desses pensamentos-formas são: não consigo; não vai dar certo; vou ficar doente; não tenho dinheiro suficiente; coitado de mim; estão me rejeitando; eles não me amam; querem me trair. 

Nossas crenças limitantes são às vezes tão sutis que nem temos consciência delas, mas nos tornamos suas vítimas; elas nos impedem de viver uma vida saudável, próspera, abundante, serena e feliz.

Para compensar essas crenças criadas pelos padrões repetitivos negativos, muitas vezes desenvolvemos o que vou chamar aqui de 'respostas para sobreviver'. Trata-se de características defensivas que nos fazem reagir de forma a nos salvaguardar do sofrimento. Alguns exemplos dessas características defensivas são irritabilidade, impaciência, intolerância, ansiedade, agressividade, ganância, fome de poder, distúrbios compulsivos (como transtorno obsessivo-compulsivo), consumismo, fome insaciável, perfeccionismo, autocrítica, julgamentos, preconceitos, exigências desproporcionais em relação a si mesmo ou a outros."

Extraído do livro "A Luz do Coração - O poder cura", de Jeanne Marie White, Ed. Teosófica, Brasília, 2021, p. 62/63.
Imagem: Pinterest.


terça-feira, 8 de novembro de 2022

O DESMONTE DO EU

"Jiddu Krishnamurti diz que somos todos indivíduos programados, condicionados. Quando crianças, aos assumirmos a consciência, por volta dos sete anos de idade, apresentam-nos um Deus a quem devemos adorar e render culto. Por termos nascido no Brasil, dentro de uma cultura cristã, aprendemos a amar e a adorar Jesus Cristo. Se tivéssemos nascido em algum país islâmico, adoraríamos a Alá e cresceríamos nos ritos do Islamismo. Inculcam, em nossas mentes, valores como família (pai, mãe, avós, tios, primos), a quem devemos prestigiar e respeitar profundamente; pátria e nação, à qual devemos adorar e amar como nossa torrão natal - mal sabemos que, neste culto egoísta de origem, está a raiz de todas as guerras.

Nesse processo 'educacional' está embutido o esforço de nossa modelagem segundo o padrão aceitável pela sociedade. Se não respondermos positivamente a esses padrões, corremos o risco de ser marginalizados. Desta forma, nossa mente incorpora procedimentos e 'verdades', que formam o conjunto que passamos a encarar como nosso verdadeiro eu.

Esta não é a natureza original com que nascemos, mas uma segunda natureza adquirida e modelada pela sociedade. Aí vem a pergunta: e o que isso nos torna? Torna-nos alienados de nós mesmos, de nossa verdadeira essência. Perdemos a nossa liberdade de ser. Passamos a ser autômatos responsivos, em comportamento, a padrões implantados em nossa mente. Prosseguimos a 'farsa de ser', alimentando conflitos, medos e frustrações.

Diplomados na 'educação para a vitória' pois desde crianças ensinam-nos a colocar a vitória como objetivo, em todos os nossos empreendimentos, tornamo-nos competitivos, os membros ideais para o sistema onde fomos educados e onde vivemos. Ora, se vencemos, que é o objetivo da educação, tem que haver pelo menos um vencido, não é? Se tem que existir um vencido, que não seja eu, mas que seja o outro, pois a palavra que passamos mais a repelir em nossas concepções chama-se 'fracasso'. Alimentamos, o tempo todo, o desejo animal em nós, e surpreendemo-nos, como sociedade organizada, quando esse animal sai do controle e mostra a sua cara.

Segundo Rohit Mehta, a nossa mente livre transita naturalmente por três estados (que são qualidades da matéria): Tamas, Rajas e Sattva (nomes em sânscrito). Tamas é aquele estado passivo e receptivo da mente, onde ela se coloca em posição de receber; Rajas é aquele ativo, dinâmico, onde ela é enérgica e agente; e Sattva é aquele estado de harmonia mental, onde a mente se realiza, se acalma.

O trânsito da mente por esses estados é um fluxo normal de energia, que flui livremente ao sabor das impressões que os sentidos captam do ambiente. Por força, entretanto, desses padrões existentes, que a educação inculca na mente, surge, no curso desse fluxo, vórtices de energia que interferem na corrente normal. Esses vórtices são, segundo Mehta, os Centros de Reação da mente, que aparecem em função de uma figura que nasce nessa troca do eu com o ambiente. Essa figura chama-se interpretador. O interpretador desfigura a impressão natural, e passamos a perceber as coisas objetivas não como elas são, mas como o interpretador quer que seja. É assim que nasce e incorpora-se, ao eu, a natureza objetiva do ser. Essa é a natureza responsável por todos os conflitos e desencontros humanos, por todos os medos, pelas dores, angústias e sofrimentos.

Na realidade, em função dela, não 'somos'; passamos a ser o que querem que sejamos."

(Ernani Eustáquio de Oliveira - O desmonte do eu - Revista Sophia, Ano 19, nº 92 - p.15)
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terça-feira, 11 de outubro de 2022

PROVAÇÕES E ESPERANÇAS

"Cada ser humano experimenta algum tipo de angustia emocional e mental na vida. Podemos nos preocupar com nossa segurança financeira, ter dores em razão de um amor perdido, ter preocupações com o bem estar de nossos parentes amigos ou nós mesmos, ou experimentar muitas outras situações e eventos perturbadores, Seria ótimo se nossos problemas simplesmente fossem embora ou outras pessoas cuidassem deles para nós. Contudo, intimamente sabemos que devemos resolver nossos próprios problemas. Devemos mudar a nós mesmos, crescer, desenvolver-nos e tornarmo-nos fortes sem perder a compaixão. Mesmo assim, a maioria de nós só muda quando as fraquezas nos forçam a fazê-lo.

O processo é algo assim. Se não temos autoconfiança, podemos ser dominados pelos outros. Podemos até mesmo prover uma oportunidade para que pessoas sem ética tirem proveito de nós. Se permanecemos tímidos, não conseguimos expressar adequadamente nosso próprio potencial. A falta de autoconfiança resulta em frustração que eventualmente se torna mais do que conseguimos suportar. A dor emocional resultante pode então nos forçar a desenvolver nossa própria vontade e coragem.

As pessoas que usualmente estão zangadas logo se afastam dos outros e descobrem que não têm amigos. Dai pode resultar a solidão. Ao ser deixado de fora dos eventos sociais, esses indivíduos podem aprender a substituir a raiva pela paciência, tornarem se mais flexíveis e ate menos egocêntricos.

Se somos desorganizados, descobrimos que somos ineficientes. Nossos supervisores no trabalho também descobrem isso e, se não tomarmos uma atitude para mudar essa postura, podemos perder o emprego. Essas consequências kármicas podem os forçar a treinar nossa mente.

Esse processo de ser confrontado pelas consequências de nossas fraquezas e de nossas ações erradas gradualmente nos leva a um maior insight e ao desenvolvimento do caráter. Após uma extensão de tempo quase incalculável ao longo de muitas encarnações, esse processo eventualmente desperta o eu interior para a vida consciente, e eventualmente para a iluminação.

Há, no entanto, uma rota mais direta uma rota que somente poucos ousam seguir.

Assim como o processo evolutivo externo prossegue através de estágios ordenados, definidos, o mesmo se dá com o lado interno da evolução humana consciente. A maioria dos seres humanos viaja pela estrada ampla que serpeia sempre muito lentamente em torno da montanha rumo ao topo, Poucos seguem uma rota mais direta e árdua, às vezes chamada de 'senda'. Eles seguem essa rota difícil não com desejo de benefício pessoal, mas a partir de um anelo direcionado a servir a humanidade sofredora de modo mais eficaz. Cada passo nessa senda é marcado por uma grande mudança na consciência - um tipo de renascimento.

A rota mais difícil tem recebido vários nomes em diferentes tradições místicas. Na China, é o Tao; no Hinduísmo, 'a Senda da Iniciação; no Budismo, 'o Nobre Caminho Óctuplo'; no Judaísmo, 'o Caminho da Santidade'; no Cristianismo, 'o Caminho da Cruz'. Platão a descreveu em sua analogia da caverna, e, em A Voz do Silêncio, H.P. Blavatsky fala de seus estágios como 'portais'. Todas essas fontes indicam que a senda é difícil e perigosa, mas que, se o peregrino for bem-sucedido, traz uma recompensa inenarrável.

Para entrar na senda a pessoa deve estar consumida, como diz Blavatsky, 'por um inefável anelo pelo infinito'. Em termos bíblicos, 'tu deves amar o Senhor teu Deus, com todo teu coração, e com toda tua alma, e com toda tua mente, e ao teu próximo como a ti mesmo'. E a pessoa desejar enfrentar os perigos e as dificuldades no caminho que se estende adiante, desejosa de sacrificar a própria vida pelo bem do infinito, para encontrar a vida eterna.

Quando passamos por momentos difíceis, poderemos nos lembrar de cavar dentro de nós para encontrar os recursos, a força, o talento até então desconhecidos e profundamente ocultos dentro de nosso próprio ser. Crescemos ao enfrentar os problemas de frente e vencendo as resistências.

As árduas provações e as esperanças luminosas dessa senda mística para a paz interior estão sucintamente expressas por Blavatsky num curto fragmento intitulado simplesmente 'Há uma estrada': 'Há uma estrada, íngreme e espinhosa, assolada por perigos de toda espécie, mas ainda assim uma estrada. E ela leva ao coração do universo.
Eu posso dizer-lhe como encontrar aqueles que irão mostrar a passagem secreta que se abre apenas internamente, e que se fecha firmemente e para sempre atrás do neófito.
Não existe perigo que a coragem intrépida não consiga conquistar.
Não existe provação que a pureza imaculada não vença.
Não existe dificuldade que o intelecto forte não consiga superar.
Para aqueles que seguem adiante com esforço, existe a recompensa inefável: o poder de abençoar e salvar a humanidade.
Para aqueles que fracassam, existem outras vidas nas quais pode surgir o sucesso.'

Sob essa forma poética, Blavatsky fala das dificuldades, mas assegura também que não existem problemas insolúveis. Podemos ser bem sucedidos se dermos ouvidos a um de seus instrutores, que escreveu: 'Nós temos uma palavra para todos os aspirantes: tentai.'"

(Edward Abdill - A senda mística para a paz interior - Revista Sophia, Ano 12, nº 48, p. 32/33)
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terça-feira, 4 de outubro de 2022

A SENDA MÍSTICA PARA A PAZ INTERIOR

"Existe uma estrada íngreme e espinhosa, assolada por perigos de toda espécie, mas ainda assim uma estrada. Ela leva ao coração do universo. Assim escreveu H. P. Blavatsky sobre a estrada metafórica que leva à iluminação. Mas pode alguma estrada levar 'ao coração do universo'?

Uma afirmação assim não parecerá impossível se considerarmos a nossa real natureza humana e como evoluímos através do tempo. Temos uma natureza complexa, somos um composto. Evidentemente somos criaturas físicas, e evidentemente nossa natureza física é também impermanente.

Dizem que a cada sete anos; nossos corpos adquirem um conjunto de átomos totalmente novo. O corpo físico está em mudança constante, morrendo uma vez a cada sete anos, Contudo, o senso de 'eu' que sentimos tão fortemente perdura ao longo de toda a vida. Se fossemos apenas o corpo, certamente seríamos uma pessoa diferente a cada sete anos, mas não somos. Ainda somos o mesmo eu.

Temos ainda uma natureza emocional que está em estado de constante mudança. Ela está sujeita a mudanças de momento a momento, e ao longo dos anos está sujeita a uma mudança gradual. O eu que perdura ao longo dessas mudanças não pode ser a natureza emocional.

Temos também uma mente que possui um potencial extraordinário. Como os animais, podemos usá-la para conseguir o que queremos, mas diferentemente deles, somos capazes de pensamento abstrato e de autoexame. Pensamentos em constante mutação passam por nossa mente, e o modo como vemos o mundo pode mudar radicalmente ao longo dos anos ou, em alguns casos, com o lampejo de um insight

Mesmo com todas essas mudanças o eu permanece o mesmo. No nível mais profundo de nossa consciência está um poder extraordinário: o poder de autotransformação. É um poder inerente ao que a religião chama de alma imortal e a Teosofia chama de ego reencarnante. É o eu interior, o observador, a testemunha, a própria consciência, que perdura através das mudanças. É verdade que podemos nos expressar com o corpo, as emoções e a mente. Contudo, podemos também observar nosso estado físico, emocional e mental.

Embora nossa atenção seja atraída por cada evento bom ou mau em nossas vidas, a consciência pura chamada 'eu' não é perturbada pelos objetos diante de si. A sabedoria antiga sugere que o eu permanente reside no eterno, 'no coração do universo'. O eu que somos, como disse Walt Whitman em Song of My Self, 'está tanto dentro quanto fora do jogo'. Podemos ficar à parte e observar todo o processo que chamamos de 'eu', e podemos mudá-lo.

Se isso é verdade, podemos então perguntar por que não nos identificamos com esse eu interior. Poderíamos muito bem perguntar por que não nos identificamos com nosso subconsciente pessoal. Os psicólogos sabem que nosso foco e o nosso senso de eu muitas vezes bloqueia a percepção dos aspectos mais obscuros de nossa própria mente. Não será porque nosso senso de eu, ou seja, aquelas experiências que chamamos de 'eu', também bloqueia na nossa consciência até mesmo os aspectos mais profundos de nosso próprio ser? Se assim for, será então possível levar esse eu recôndito à plena consciência?" 

(Edward Abdill - A senda mística para a paz interior - Revista Sophia, Ano 12, nº 48, p. 29)
Imagem: Pinterest.


terça-feira, 27 de setembro de 2022

A MENTE COMPASSIVA

"O propósito da evolução é permitir à consciência alcançar a perfeição na manifestação humana como seres altruístas, com as qualidades de amor e compaixão, à imagem da divina inteligência que é a fonte de toda a vida. O amor dessa inteligência é visível em toda a sua criação, criada com infinita compaixão. Isso fica evidente nas miríades de espécies de vida com as habilidades especiais que lhes foram fornecidas pela natureza para sua sobrevivência.

Mahavira, o grande instrutor e reformador do Jainismo, declarava que não bastava a não violência como credo. Ele estendia esse princípio à solidariedade e ao auxílio a outros seres vivos, para se viver naturalmente, de acordo com as leis da natureza. A Nova Era exige sensibilidade e compaixão, mantendo em mente a interconexão e interdependência da vida em todos os níveis.

No Nobre Caminho Óctuplo de Buda, o primeiro passo, Reta Visão, é considerado de vital importância. Isso significa a compreensão da unidade da vida e das leis que governam o universo, Buda ensinou que trishna, ou desejo, é a causa do sofrimento. Os seres humanos se prendem ao ciclo de vida e morte por meio de desejos incessantes que causam um imenso sofrimento. A ignorância do propósito da vida mantém as pessoas escravizadas.

A mente humana, condicionada por coisas como raça, religião, classe social, etc., está encurralada num modo preconceituoso de considerar o mundo. Para compreender esse condicionamento é necessário sabedoria para descobrir suas causas. Os preconceitos a respeito das pessoas são as causas da divisão que cria conflito e sofrimento. Com a percepção, esse condicionamento pode ser reconhecido e a pessoa pode se libertar dele.

A. P. J. Kaalam, ex-presidente da Índia, falando perante o Parlamento Europeu, citou o antigo poeta tamil Kaniyan Pungudranar: 'Eu sou um cidadão do mundo e todos os cidadãos do mundo são meus parentes e amigos. Onde há retidão no coração há beleza no caráter. Onde há beleza no caráter há harmonia no lar. Onde há harmonia no lar há ordem na nação. Onde há ordem na nação há paz no mundo.'

São necessários, portanto, corretos valores e corretas formas de educação que resultem em indivíduos responsáveis e compassivos. Há muita coisa errada numa sociedade baseada apenas em valores materiais. Não deveria haver sensibilidade e compaixão para compartilhar os limitados recursos do mundo com aqueles que são menos afortunados que nós? A extrema ganancia de políticos, patrões e outros, com suas práticas ardilosas, é responsável por muita iniquidade no mundo.

Essa doença é visível nos níveis individual, social e nacional do mundo. Há muito sofrimento no continente africano, que é explorado por seus recursos naturais e vida selvagem. O tráfico de 'diamantes de sangue' e outras pedras preciosas abastece as indústrias de armamento que fornecem armas para milícias e tribos inimigas. Essas práticas nefastas são responsáveis por assassinatos, estupros e saques.

Em diversas partes do mundo há extrema crueldade contra cães e outros animais, que são cozidos vivos para deleite de pessoas que apreciam esse tipo de culinária. Radha Burnier escreveu: 'Viver de maneira compassiva no mundo moderno dificilmente parece ser um ideal, já que atrapalha grandes e imediatos lucros de negócios e entra em conflito com a procura de novos prazeres e satisfações.'

Outra causa de conflito é a doutrinação religiosa, que cria sociedades intolerantes. No discurso que fez nas Nações Unidas, a jovem Malala Yousufzai enfatizou a necessidade da educação promover um pensamento liberal e a não violência, citando os exemplo de Buda, Cristo, Maomé, Gandhi e Pashtun Badshah Khan..

Para o mundo mudar, o individuo precisa mudar. Uma mente que tenha preocupação compassiva com o bem-estar global deve estar envolvida em ações proativas. Nelson Mandela disse: 'Nosso medo mais profundo não é de sermos inadequados. E de sermos poderosos além da conta. É a luz, e não as trevas que nos assusta. Quem sou eu para ser tão brilhante, talentoso e famoso? Na verdade, quem é você para não ser? Você é um filho de Deus. Brincar de ser pequeno não serve ao mundo... Nascemos para tornar magnifica a glória de Deus que que está dentro de nós.'"

(Bhupendra Vora - A Mente Compassiva - Revista Sophia, Ano 18, nº 87, p. 43)
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quinta-feira, 1 de setembro de 2022

A CADEIA DO CONHECEDOR, DO CONHECER, E DO COGNOSCÍVEL

"Há uma palavra, vibração, que tem se tornado cada vez mais a tônica da ciência ocidental, como tem sido há muito tempo a da ciência do Oriente. O movimento é a raiz de tudo. A vida é movimento; a consciência é movimento. E esse movimento que afeta a matéria é a vibração. O Uno, o Todo, pensamos como o Imutável, seja como Movimento Absoluto ou como Sem Movimento, uma vez que no Uno o movimento relativo não pode existir. Só quando há diferenciação, ou partes, podemos pensar no que chamamos movimento, que é mudança de lugar numa sucessão de tempo. Quando o Uno se torna o Muitos, surge então o movimento; isto é saúde, consciência, vida, quando rítmico, regular; assim como ele é doença, inconsciência, morte, quando sem ritmo, irregular. Pois a vida e a morte são irmãs gêmeas, igualmente nascidas do movimento, que é a manifestação.

O Movimento deve aparecer quando o Uno se torna o Muitos, uma vez que, quando o onipresente aparece como partículas separadas, o movimento infinito deve representar a onipresença, ou, colocado de outra forma, deve ser o seu reflexo ou imagem na matéria. A essência da matéria é a separatividade, como a do espírito é a unidade, e quando ambos aparecem no Uno, como creme no leite, o reflexo da onipresença desse Uno na multiplicidade da matéria é movimento incessante e infinito. O movimento absoluto a presença de cada unidade em movimento em cada ponto do espaço e em cada momento do tempo é idêntico ao descanso, sendo apenas o descanso visto de outra forma, do ponto de vista da matéria e não do ponto de vista do espírito. Do ponto de vista do espírito há sempre Um, do ponto de vista da matéria há sempre Muitos.

Este movimento infinito aparece como movimentos rítmicos, vibrações, na matéria que o manifesta, cada Jiva, ou unidade separada de consciência, estando isolado por uma parede de matéria de todos os outros Jivas.³ Cada Jiva torna-se posteriormente encarnado, ou revestido por várias vestes de matéria. À medida que estas vestes de matéria vibram, comunicam as suas vibrações à matéria que as rodeia, tornando-se esta matéria o meio em que as vibrações são levadas ao exterior; e este meio, por sua vez, comunica o impulso da vibração às vestes envolventes de outro Jiva, e assim põe esse Jiva a vibrar como o primeiro. Nesta série de vibrações - iniciadas num Jiva, feitas no corpo que o rodeia, enviadas por esse corpo ao meio que o envolve, comunicadas por este a outro corpo, e desse segundo corpo para o Jiva cercado por ele - temos a cadeia de vibrações em que um conhece o outro. O segundo conhece o primeiro porque reproduz o primeiro em si mesmo, e assim experimenta como o outro está experimentando. E, no entanto, com uma diferença. Pois o nosso segundo Jiva já está em uma condição vibratória, e o seu estado de movimento, após receber o impulso do primeiro, não é uma simples repetição desse impulso, mas uma combinação do seu próprio movimento original com o que lhe foi imposto de fora, e portanto não é uma reprodução perfeita. As semelhanças são obtidas, cada vez mais próximas, mas a identidade foge-nos sempre, as vestimentas permanecem.

Esta sequência de ações vibratórias é frequentemente vista na Natureza. Uma chama é um centro de atividade vibratória no éter, chamado por nós de calor; estas vibrações ou ondas de calor lançam o éter circundante em ondas como se fossem elas próprias, e estas lançam o éter num pedaço de ferro deixado próximo em ondas semelhantes, e as suas partículas vibram sob o seu impulso, e assim o ferro torna-se quente e uma fonte de calor em sua vez. Assim, uma série de vibrações passa de um Jiva para outro, e todos os seres estão interligados por esta rede de consciência.

Assim, mais uma vez, na natureza física, marcamos diferentes gamas de vibrações por diferentes nomes, chamando uma de luz, a outra de calor, a outra de eletricidade, a outra de som, e assim por diante; no entanto, todas são da mesma natureza, todas são modos de movimento no éter,⁴ embora se diferenciem pelas taxas de velocidade e no caráter das ondas. Pensamentos, Desejos e Ações, as manifestações ativas em matéria de Conhecimento, Vontade e Energia, são todas da mesma natureza, ou seja, são todas constituídas por vibrações, mas diferem nos seus fenômenos, devido ao caráter diferente das vibrações. Há uma série de vibrações num determinado tipo de matéria e com um certo caráter, e a estas chamamos vibrações de pensamento. Uma outra série é falada como vibrações de desejo, uma outra série como vibrações de ação. Estes nomes são descritivos de certos fatos na Natureza. Há um certo tipo de éter lançado em vibração, e as suas vibrações afetam os nossos olhos; o chamamos de movimento luz. Há outro éter muito mais sutil lançado em vibrações que são percebidas, ou seja, são respondidas, pela mente, e chamamos a esse movimento pensamento. Estamos rodeados de matéria de diferentes densidades e nominamos os movimentos nela pela maneira que nos afetam, são respondidos por diferentes órgãos dos nossos corpos densos ou sutis. Nominamos por 'luz' certos movimentos que afetam o olho; nomeamos por 'pensamento' certos movimentos que afetam outro órgão, a mente. O 'ver' ocorre quando o éter de luz é lançado em ondas de um objeto ao nosso olho; o 'pensar' ocorre quando o éter de pensamento é lançado em ondas entre um objeto e a nossa mente. Um não é mais nem menos misterioso do que o outro.

Ao lidar com a mente, veremos que as modificações na disposição dos seus materiais são causadas pelo impacto das ondas de pensamento, e este no pensamento concreto que experimentamos mais uma vez os impactos originais de fora. O Conhecedor encontra a sua atividade nestas vibrações, e tudo a que pode responder, ou seja, tudo a que pode reproduzir, é o Conhecimento. O pensamento é uma reprodução dentro da mente do Conhecedor daquilo que não é o Conhecedor, não é o Eu; é uma imagem, causada por uma combinação de ondas-movimento, uma imagem bastante literal. Uma parte do Não Eu vibra, e à medida que o Conhecedor vibra em resposta, essa parte torna-se o Cognoscível; a matéria vibrando entre eles torna possível o conhecer, pondo-os em contato um com o outro. Assim é estabelecida e mantida a cadeia do Conhecedor, do Cognoscível, e do Conhecer."

³ Não existe uma palavra inglesa conveniente para 'uma unidade separada de consciência '-' 'espirito' e 'alma' conotando varias peculiaridades em diferentes escolas de pensamento. Arvoro-me, portanto, a usar o nome Jiva, em vez de palavras imprecisas 'uma unidade separado de consciência'.
⁴ O som é principalmente também uma vibração etérica. 

(Annie Besant - O Poder do Pensamento - Ed. Teosófica, Brasília, 2021 - p. 25/29)
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terça-feira, 30 de agosto de 2022

A NATUREZA DO PENSAMENTO

"A natureza do pensamento pode ser estudada a partir de dois pontos de vista: do lado da consciência, que é o conhecimento, ou do lado da forma pela qual o conhecimento e obtido, cuja suscetibilidade a modificações torna possível a obtenção do conhecimento. Esta possibilidade conduziu aos dois extremos da filosofia, e ambos devemos evitar, porque cada um ignora um lado da vida manifestada. Um considera tudo como consciência, ignorando a essencialidade da forma como condicionante da consciência, em como torná-la possível. O outro considera tudo como forma, ignorando o fato de que a forma só pode existir em virtude da vida que a anima. A forma e a vida, a matéria e o espírito, o veículo e a consciência, são inseparáveis em manifestação, e são os aspectos indivisíveis DAQUILO a que são inerentes. AQUILO que não é nem a consciência nem o seu veículo, mas a RAIZ de ambos. Uma filosofia que tenta explicar tudo através das formas, ignorando a vida, encontrará problemas que é totalmente incapaz de resolver. Uma filosofia que tenta explicar tudo através da vida, ignorando as formas, encontrar-se-á confrontada com paredes mortas que não pode superar. A palavra final sobre isto é que a consciência e os seus veículos, vida e forma, espírito e matéria, são expressões temporárias dos dois aspectos de uma Existência não condicionada, não é cognoscível, exceto quando manifestada como Espírito Raiz (chamada pelos hindus: Pratyagatman), o Ser abstrato, o Logos abstrato de onde todos os eus individuais, e a Matéria-Raiz (Mula-prakriti) de todas as formas. Sempre que a manifestação tem lugar, este Espírito-Raiz da à luz uma consciência tripla, e essa Matéria-Raiz a uma matéria tripla; subjacente à Realidade Una, para sempre incognoscível pela consciência condicionada. A flor não vê a raiz de onde cresce, embora toda a sua vida seja extraída dela e sem ela não poderia existir. 

O Eu como Conhecedor tem como função característica o espelhamento dentro de si mesmo do Não Eu. Como uma placa sensível recebe raios de luz refletidos dos objetos, e esses raios causam modificações no material em que caem, de modo a que imagens dos objetos possam ser obtidas, o mesmo acontece com o Eu no aspecto conhecimento em relação a tudo o que é exterior. O seu do veículo é uma esfera em que o Eu recebe do Não Eu os raios refletidos do Eu Uno, fazendo aparecer na superfície desta esfera imagens que são os reflexos daquilo que não é ele próprio. O Conhecedor não conhece as coisas em si mesmo nas fases iniciais da sua consciência. Ele conhece apenas as imagens produzidas no seu veículo pela ação do Não Eu no seu invólucro responsivo, as fotografias do mundo exterior. Daí que a mente, o veículo do Eu como Conhecedor, tenha sido comparada a um espelho, no qual são vistas as imagens de todos os objetos colocados perante ele. Nós não conhecemos as coisas em si, mas apenas o efeito produzido por elas na nossa consciência; não os objetos, mas as imagens dos objetos, estes são o que encontramos na mente. Como o espelho parece ter os objetos dentro dele, mas esses objetos aparentes são apenas imagens, ilusões causadas pelos raios de luz refletidos a partir dos objetos, não os objetos em si; também a mente, no seu conhecimento do universo exterior, conhece apenas as imagens ilusivas e não as coisas em si mesmas.

Estas imagens, feitas no veículo, são percebidas como objetos pelo Conhecedor, e esta percepção consiste na sua reprodução das mesmas em si próprio. Ora, a analogia do espelho, e o uso da palavra 'reflexão' no parágrafo anterior, são um pouco enganadores, pois a imagem mental é uma reprodução e não um reflexo do objeto que a causa. A matéria da mente é na realidade moldada à semelhança do objeto que lhe é apresentado, e esta semelhança, por sua vez, é reproduzida pelo Conhecedor. Quando ele portanto se modifica assim à semelhança de um objeto externo, diz-se que conhece esse objeto, mas no caso considerado, o que ele conhece é apenas a imagem produzida pelo objeto no seu veículo, e não o próprio objeto. E esta imagem não é uma reprodução perfeita do objeto, por uma razão que veremos no próximo capítulo. 

'Mas', pode-se dizer, 'será assim para sempre? Nunca saberemos as coisas em si mesmas?' Isso leva-nos à distinção vital entre a consciência e a matéria em que a consciência está trabalhando, e com isso podemos encontrar uma resposta a essa questão natural da mente humana. Quando a consciência, por longa evolução, desenvolveu o poder de reproduzir em si mesma tudo o que existe fora dela, então o invólucro de matéria em que tem funcionado desprende-se, e a consciência, que é o conhecimento, identifica o seu Eu com todos os Eus no meio dos quais tem evoluído, e vê como o Não Eu apenas a matéria ligada de igual modo com todos os Eus individualmente. Este é o 'Dia do esteja conosco', a união que é o triunfo da evolução, quando a consciência conhece a si própria e aos outros, e conhece os outros como a si própria. Por semelhança da natureza, o conhecimento perfeito é atingido, e o Eu percebe aquele estado maravilhoso onde a identidade não perece e a memória não se perde, mas onde a separação encontra o seu objetivo final, e o conhecedor, o conhecer e o conhecimento são um só.

É esta natureza maravilhosa do Eu que evolui em nós através do conhecimento no momento presente, que temos de estudar, a fim de compreender a natureza do pensamento, e é necessário ver claramente o lado ilusório para que possamos utilizar a ilusão para transcendê-lo. Assim, vamos agora estudar como o Conhecer - a relação entre o Conhecedor e o Cognoscível é estabelecida, e isso nos levará a ver mais claramente a natureza do pensamento."

(Annie Besant - O Poder do Pensamento - Ed. Teosófica, Brasília, 2021 - p. 21/25)
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quinta-feira, 21 de julho de 2022

A RAZÃO DÁ AO HOMEM O PODER DE BUSCAR DEUS

"Deus existe. Ao ser humano, Ele conferiu independência, poder e razão. Por ser dotado de razão, o homem pode encontrar o Senhor. Passar todo o tempo apenas brincando com a vida, sem encontrar Deus, é desperdiçar o poder interior, divinamente concedido. 

Use a chave da razão. Ela não se encontra nas pedras e nos animais. Deus concedeu o raciocínio ao homem para que ele pudesse libertar-se da ilusão da mortalidade. Se permitir à sua razão ser esmagada pelo ego e pelos maus hábitos, de que lhe valerá isso? Se as pessoas se curvarem diante da sua vontade, de que lhe valerá isso? A felicidade ainda se esquivará de você. Por isso, Jesus escolheu Deus, e não Satã, quando o demônio procurava tentá-lo. Jesus compreendeu que, embora o poder mundano tenha muitos atrativos, não dura muito. Jesus encontrara algo maior do que todas as riquezas deste universo. As coisas desejadas pela maioria dos homens são perecíveis. Mas Deus nunca abandonará Jesus. Ele está, até hoje, deleitando-se com o reino divino onipresente. Todos nós deveríamos escolher a vida que conduz a Deus. 

Você está castigando a alma ao mantê-la sepultada, adormecida na matéria, vida após vida, apavorada com os pesadelos de sofrimento e morte. Perceba que você é a alma! Lembre-se de que o Senhor Infinito é o Sentimento por trás do seu sentimento, a Vontade por trás da sua vontade, o Poder por trás do seu poder, a Sabedoria por trás da sua sabedoria. Una, em perfeito equilíbrio, o sentimento do coração e a razão da mente. No castelo da calma, repetidamente se desprenda da identificação com os títulos terrenos, e mergulhe na meditação profunda, até atingir sua nobreza divina. 

Olhe para dentro de você mesmo. Lembre-se: o Infinito está em toda parte. Mergulhando nas profundezas da superconsciência,⁸ você pode acelerar sua mente pela eternidade afora; pelo poder mental, você pode ir longe, além da mais longínqua estrela. A lanterna da mente está plenamente equipada para lançar seus raios superconscientes no mais recôndito coração da Verdade. Use-a para isso.

Lembre-se: é você quem deve viajar para o reino dos céus; ele não virá por remessa especial. Cada homem tem de trilhar sozinho o seu próprio caminho. A partir de hoje, do fundo de seu coração, tome a decisão de buscar Deus. Quando muitos devotos tomarem o ruma para Ele, surgirão então os 'Estados Unidos do Mundo', ⁹ com Deus e o Seu amor como Diretor e Guia dos homens.

Quero dar mais do que a inspiração temporária das palavras; quero atirar granadas de sabedoria diretamente em sua escuridão espiritual, de modo que a explosão de luz permita a você mesmo verificar a verdade do que afirmei."

⁸ Consciência da alma, que é intuitiva e conhece tudo. A mente superconsciente é, assim, a faculdade onisciente da alma.
⁹ Como os estados da nação norte-americana mantêm, cada um, a sua independência e, todavia, estão unidos por ideais e objetivos comuns, assim também, se o reino de Deus deve descer à Terra, os diversos países do mundo devem unir-se em um vínculo de fraternidade e compreensão harmoniosa. 

(Paramahansa Yogananda - A Eterna Busca do Homem - Self-Realization Fellowship - p. 10/11)
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quinta-feira, 23 de junho de 2022

AFORISMOS SAGRADOS (PARTE FINAL)

"4. Evitar todo o mal, procurar o bem, conservar a mente 
pura: eis a essência do ensinamento de Buda.

A tolerância é a mais difícil das disciplinas, mas a vitória final é para aquele que tudo tolera.

Deve-se remover o rancor quando se está sentindo rancoroso; deve-se afastar a tristeza enquanto se está no meio da tristeza. Deve-se remover a cobiça enquanto se está nela infiltrado. Para se viver uma vida pura e altruística, não se deve considerar nada como seu, no meio da abundância.

Ser de boa saúde é um grande privilégio. Estar contente com o que se tem vale mais do que a posse de uma grande riqueza. Ser considerado como de confiança é a maior demonstração de afeto. Alcançar a Iluminação é a maior felicidade.

Estaremos libertos do medo quando alimentarmos o sentimento de desprezo pelo mal, quando nos sentirmos tranquilos, quando sentirmos prazer em ouvir bons ensinamentos e quando, tendo estes sentimentos, nós os apreciarmos.

Não se apeguem às coisas de que gostam nem tenham aversão às coisas de que desgostam, pois a tristeza, o medo e a servidão surgem do gostar ou desgostar.

5. A ferrugem corrói o ferro e o destrói, assim como o mal corrói a mente de um homem, destruindo-o.

Uma escritura que não é lida com sinceridade, logo estará coberta de poeira; uma casa que não é reformada, quando necessita de reparos, torna-se imunda e assim, um homem indolente logo se torna corrupto.

Os atos impuros corrompem uma mulher pois a mesquinhez macula a caridade. Os maus atos poluem não só esta vida, mas também as vidas seguintes.

Mas a mácula que deve ser temida é a mácula da ignorância. Um homem não pode esperar purificar o corpo ou a mente, sem que antes seja removida a ignorância.

É muito fácil mergulhar na imprudência, ser atrevido e impertinente como um corvo, magoar os outros sem sentir nenhum remorso pela ação cometida.

Contudo, é muito difícil sentir-se humilde, saber respeitar e honrar, livrar-se de todos os apegos, manter o pensamento puro e tornar-se sábio.

É fácil apontar os erros alheio, mas é difícil admitir os próprios erros. Um homem divulga os erros dos outros sem pensar, entretanto, oculta os seus próprios erros, como um jogador esconde falsos dados.

O céu não guarda vestígio do pássaro, da fumaça ou da tempestade, tal como um mau ensinamento não conduz à Iluminação. Nada neste mundo é estável, mas a mente iluminada é imperturbável.

6. Assim como um cavaleiro guarda o portão de seu castelo, devemos proteger a mente dos perigos externos e internos e não se deve negligenciá-la nem por um momento sequer.

Cada um é o senhor de si mesmo, deve depender de si próprio, devendo, portanto, controlar-se a si próprio.

O primeiro passo para se livrar dos vínculos e grilhões dos desejos mundanos é controlar a própria mente, é cessar as conversas vazias e meditar.

O sol faz brilhante o dia, a lua embeleza a noite, a disciplina aumenta a dignidade de um soldado e a tranquila meditação distingue aquele que busca a Iluminação.

Aquele que é incapaz de vigiar seus cinco sentidos – olhos, ouvidos, nariz, língua e o corpo – e fica tentado por seu ambiente, não é aquele que se prepara para a Iluminação. Aquele que vigia firmemente as portas de seus cinco sentidos e conserva a mente sob controle, este sim, é aquele que pode alcançar êxito na busca da Iluminação.

7. Aquele que se influência pelo gostar e desgostar não pode compreender corretamente o seu ambiente e tende a ser por ele vencido. Aquele que está livre de todo o apego compreende corretamente o seu ambiente e, para ele, tudo se torna novidade e significativo.

A felicidade segue a tristeza, a tristeza segue a felicidade, mas quando alguém não mais discrimina a felicidade da tristeza, a boa ação da má ação, então poderá compreender o que é a liberdade.

O aborrecer-se com antecipação ou alimentar tristezas pelo passado apenas consomem a pessoa, são como o junco que fenece ao ser cortado.

O segredo da saúde da mente e do corpo está em não lamentar o passado, em não se afligir com o futuro e em não antecipar preocupações, mas está no viver sábia e seriamente o presente momento.

Não viva no passado, não sonhe com o futuro, concentre a mente no momento presente.

Vale a pena cumprir bem e sem erros o dever diário. Não procure evitá-lo ou adia-lo para amanhã. Fazendo logo o que hoje deve ser feito, poderá viver um bom dia.

A sabedoria é o melhor guia e a fé, a melhor companheira. Deve-se, pois, fugir das trevas da ignorância e do sofrimento, deve-se procurar a luz da Iluminação.

Se um homem tiver o corpo e a mente sob controle, ele dará evidências disso com suas boas ações. Este é um sagrado dever. A fé será a sua riqueza, a sinceridade dará um doce sabor à sua vida e acumular virtudes será a sua sagrada tarefa.

Na jornada da vida, a fé é o alimento, as ações virtuosas são o abrigo, a sabedoria é a luz do dia e a correta atenção é a proteção da noite. Se um homem tiver uma vida pura, nada poderá destruí-lo e, se tiver dominado a cobiça, nada poderá limitar sua liberdade.

Deve-se esquecer de si próprio pela família; deve-se esquecer da família por sua aldeia; deve-se esquecer da própria aldeia pela nação; e deve-se esquecer de tudo em prol da Iluminação.

Tudo é mutável, tudo aparece e desaparece. Só poderá haver a bem-aventurada paz quando se puder escapar da agonia da vida e da morte."

(A Doutrina de Buda -  Bukkyo Dendo Kyokai (Fundação para propagação do Budismo), 3ª edição revista, 1982 - p. 186/191)
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terça-feira, 21 de junho de 2022

AFORISMOS SAGRADOS (1ª PARTE)

"1. “Ele me insultou, zombou de mim, ele me bateu.” Assim alguém poderá pensar, e, enquanto nutrir pensamentos dessa espécie, sua ira continuará. 

O ódio nunca desaparece, enquanto pensamentos de mágoa forem alimentados na mente. Ele desaparecerá tão logo esses pensamentos de mágoa forem esquecidos. 

Se o telhado for mal construído ou estiver em mau estado, a chuva entrará na casa; assim, a cobiça facilmente entra na mente, se ela é mal treinada ou fora de controle. 

A indolência nos conduz pelo breve caminho para a morte e a diligência nos leva pela longa estrada da vida; os tolos são indolentes e os sábios são diligentes. 

Um fabricante de flechas tenta fazê-las retas, da mesma forma um sábio tenta manter correta a sua mente.

Uma mente perturbada está sempre ativa, saltitando daqui para lá, sendo difícil de controlar; mas a mente disciplinada é tranquila; portanto, é bom ter sempre a mente sob controle. 

É a própria mente de um homem que o atrai aos maus caminhos e não os seus inimigos.  

Aquele que protege sua mente da cobiça, ira e da insensatez, desfruta da verdadeira e duradoura paz.

2. Proferir palavras agradáveis, sem a prática das boas ações, é como uma linda flor sem fragrância. 

A fragrância de uma flor não flutua contra o vento; mas a honra de um bom homem transparece mesmo na adversidade do mundo. 

Uma noite parece longa para um insone e uma jornada parece longa a um exausto viajante e da mesma forma, o tempo de ilusão e sofrimento parece longo a um homem que não conhece o correto ensinamento. 

Numa viagem, um homem deve andar com um companheiro que tenha a mente igual ou superior à sua; é melhor viajar sozinho do que em companhia de um tolo. 

Um amigo mentiroso e mau é mais temível que um animal selvagem, pois o último pode ferir-lhe o corpo, mas o mau amigo lhe ferirá a mente. 

Desde que um homem não controle sua própria mente, como pode ter satisfação em pensar coisas como 'Este é meu filho' ou 'Este é o meu tesouro', se elas não lhe pertencem? Um tolo sofre com tais pensamentos. 

Ser tolo e reconhecer que o é vale mais que ser tolo e imaginar que é um sábio.

Uma colher não pode provar o alimento que carrega. Assim, um tolo não pode entender a sabedoria de um sábio, mesmo que a ele se associe. 

O leite fresco demora em coalhar e desta mesma forma, os maus atos nem sempre trazem resultados imediatos. Estes atos são como brasas ocultas nas cinzas e que, latentes, continuam a arder até causar grandes labaredas. 

Um homem será tolo se alimentar desejos pelos privilégios, promoção, lucros ou pela honra, pois tais desejos nunca trazem felicidade, pelo contrário, apenas trazem sofrimentos. 

Um bom amigo que nos aponta os erros e as imperfeições e reprova o mal, deve ser respeitado como se nos tivesse revelado o segredo de um oculto tesouro. 

3. Um homem que se regozija ao receber boa instrução poderá dormir tranquilamente, pois terá a mente purificada com estes bons ensinamentos. 

Um carpinteiro procura fazer reta a viga; um fabricante de flechas procura faze-las bem balanceadas; um construtor de canais de irrigação procura faze-los de maneira que a água corra suavemente; assim, um sábio procura controlar a mente, de modo que funcione suave e verdadeiramente. 

Um rochedo não é abalado pelo vento do mesmo modo que a mente de um sábio não é perturbada pela honra ou pelo abuso. 

Dominar-se a si próprio é uma vitória maior do que vencer a milhares em uma batalha. 

Viver apenas um dia e ouvir um bom ensinamento são melhores do que viver um século, sem conhecer tal ensinamento. 

Aqueles que se respeitam e se amam a si mesmos devem estar sempre alerta, a fim de que não sejam vencidos pelos maus desejos. Pelo menos uma vez na vida, devem despertar a fé, quer durante a juventude, quer na maturidade, quer durante a velhice. 

O mundo está sempre ardendo, ardendo com os fogos da cobiça, da ira e da ignorância. Deve-se fugir de tais perigos o mais depressa possível. 

O mundo é como a espuma de uma fermentação, é como uma teia de aranha, é como a contaminação num jarro imundo e por isso deve-se proteger constantemente a pureza da mente." ... continua

(A Doutrina de Buda -  Bukkyo Dendo Kyokai (Fundação para propagação do Budismo), 3ª edição revista, 1982 - p. 183/186)
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terça-feira, 14 de junho de 2022

HO'OPONOPONO

"Ė perdoando, que se é perdoado; E é morrendo que se vive para a vida eterna.

Ho'oponopono é mais do que uma prece ou um mantra. É uma poderosa e comprovada prática de cura. Sua origem remonta a prática de cura tradicionais da polinésia. Tornou-se conhecida no ocidente pelo trabalho de um psicólogo terapeuta havaiano, Ihaleaka Hew Len, discípulo de uma famosa curadora havaiana, Morrnah Simeona, que usava o método tradicional de ho'oponopono.

A prática atualmente usada é baseada na ideia de Len de que não existem limites (Zero Limits) para que nossos estados mentais venham afetar a mente dos outros. Por isso, se assumirmos inteiramente a responsabilidade por nossa vida, todas nossas percepções e tudo que experimentamos de alguma forma vai afetar as outras pessoas (a VIDA UNA). Os problemas que vivenciamos não são resultado de uma realidade exterior, mas uma expressão de nossa própria realidade interior. Portanto, para Len, tudo existe como uma projeção do interior do ser humano.

O que muitos acrecitavam não passar de uma bonita teoria foi comprovado na prática pelo próprio Len, em circunstâncias desafiadoras. Ele aceitou assumir uma função em que seus antecessores só aguentavam ficar uns poucos meses. Essa função indesejável era de trabalhar como psicólogo do pavilhão de criminosos em doenças mentais numa prisão do Havaí. Sua exigência foi de 'tratar' os internos inicialmente por meio do estudo minucioso dos registros disponíveis da vida desses doentes, incluindo até mesmo detalhes de sua vida familiar. Com essas informações, Len procurava entrar em sintonia com o estado emocional do paciente e fazia, com um sentimento de profunda compaixão, a prática de cura de ho'oponopono indicada a seguir.  

Por meio da análise das fichas de cada paciente, o terapeuta aplicava as palavras-chave do ho'oponopono, e a repetição da técnica mudava seu próprio estado de espírito. Consequentemente,  a atividade mental dos detentos também se alterava. 

Por inacreditável que a história possa parecer, Len conseguiu curar quase todos os criminosos do pavilhão de doentes mentais, sem sequer conversar ou interagir com nenhum deles. 

De forma resumida, pode´se afirmar que Len conseguiu curar os presos conforme ia mudando sua mente e curando a si mesmo. 

O principal objetivo do ho'oponopono é buscar a cura dos problemas psicológicos ou mesmo de distúrbios mentais por meio do perdão. Como a prática de ho'oponopono é baseada na Unidade, é possível curar os outros a partir da nossa própria cura, por meio do perdão.

O segredo da cura é repetirmos várias vezes ao longo do dia seus elementos operacionais mentalizando a pessoa a ser curada: (Sinto muito; me perdoe; eu te amo; sou grato)"

(Raul Branco - A Essência da Vida Espiritual - Ed. Teosófica, Brasília, 2018 - p. 203/204)
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terça-feira, 31 de maio de 2022

O USO CRIATIVO DA MENTE

"Caso você precise usar a mente para um propósito específico, use-a em parceria com o seu corpo interior. Só se conseguirmos estar conscientes sem que haja pensamento é que seremos capazes de usar a mente de forma criativa, e o caminho mais fácil para entrar nesse estado é através do corpo.

SEMPRE QUE FOR necessária uma resposta, uma solução ou uma ideia criativa, para de pensar por um momento e focalize a atenção em seu campo de energia interior. Tome consciência da serenidade.

Quando você voltar ao pensamento, ele será novo e criativo. Em qualquer atividade mental, habitue-se a ir e vir, de tantos em tantos minutos, entre o pensamento e uma espécie de escuta interior, uma serenidade interior.

Poderíamos dizer: não pense apenas com a cabeça, mas com todo o seu corpo. 

DEIXE QUE A RESPIRAÇÃO CONDUZA VOCÊ PARA DENTRO DO CORPO.

Se você encontrar dificuldades de entrar em contato com o seu corpo interior, é mais fácil, em primeiro lugar, concentrar a atenção no movimento da respiração. Tomar consciência da respiração, que já é uma meditação poderosa, irá, aos poucos, colocar você em contato com o seu corpo.

OBSERVE ATENTAMENTE A respiração, como o ar entra e sai do seu corpo. Respire e sinta o abdômen inflar e contrair-se levemente a cada inspiração e expiração. Concentre-se. 

Se você tiver facilidade para visualizar, feche os olhos e veja-se no meio da luz, ou dentro de um mar de consciência. Então, respire dentro dessa luz. Sinta essa substância luminosa preenchendo todo o seu corpo e tornando-o luminoso.

Aos poucos, pense nessa sensação. Não se fixe em nenhuma imagem visual. Você agora está dentro do seu corpo. Você acessou o poder do Agora." 

(Eckhart Tolle - Praticando o Poder do Agora - Ed. Sextante, Rio de Janeiro, 2016 - p. 65/67)
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terça-feira, 10 de maio de 2022

EXPERIÊNCIAS

"À medida que continua a praticar, você pode ter toda sorte de experiências, tanto boas quanto más. Tal como um quarto com muitas portas e janelas permite que o ar entre de muitas direções, do mesmo modo é natural que todas as formas de experiências entrem na sua mente quando ela permanece aberta. Você pode experimentar estados de felicidade, claridade, ou ausência de pensamentos. De certo modo, essas são experiências muito boas e sinais de progresso na meditação. Porque quanto experimenta felicidade, é sinal de que o desejo foi temporariamente dissolvido. Quando experimenta a real claridade, é sinal de que a agressividade temporariamente cessou. Quanto experimenta um estado em que há ausência de pensamentos, é sinal de que sua ignorância morreu temporariamente. São, em si mesmas, boas experiências, mas se você se prende a elas já se transformam em obstáculos. As experiências não são elas próprias realização; mas, se ficamos livres de apego por elas, tornam-se o que realmente são, isto é, material para a realização. 

As experiências negativas são comumente as mais enganadoras porque em geral nós a tomamos como mau sinal. Mas as experiências negativas em nossa prática são bênçãos disfarçadas. Tente não reagir a elas com aversão, como normalmente faz na vida, mas ao invés disso reconheça-as pelo que de fato são: meras experiências, ilusórias e iguais ao sonho. A compreensão da verdadeira natureza das experiências libera você do mal e do perigo da experiência em si, e como resultado até uma experiência negativa pode tornar-se fonte de grande bênção e realização. Há inúmeras histórias de como os mestres trabalharam com experiências negativas e as transformaram em catalizadores da realização.

Diz-se tradicionalmente que para um verdadeiro praticante não é a experiência negativa, mas a boa experiência que oferece obstáculos. Quando as coisas vão indo bem, você deve ficar especialmente atento e cauteloso para não se tornar complacente ou por demais confiante. Lembre-se do que Dudjom Rinpoche me disse quando eu estava envolvido numa experiência muito poderosa: 'Não fique tão excitado. Afinal, isso não é nem bom nem mau'. Ele percebeu que eu estava me apegando à experiência: aquele apego, como qualquer outro, precisava ser cortado. O que devemos aprender, na meditação como na vida, é ser livres do apego às experiências boas e livres da aversão às experiências negativas. 

Dudjom Rinpoce nos alerta para outra armadilha:

Por outro lado, na prática da meditação você pode experimentar um estado semiconsciente, turvo e impreciso, como se tivesse um capuz na cabeça: embotamento sonolento e oniróide. Isso não é nada mais que uma espécie de estagnação obscura e estúpida. Como sair desse estado: Desperte-se, mantenha-se ereto, expire o ar viciado para fora dos seus pulmões e dirija sua tenção para o espaço claro, para refrescar a sua mente. Se continuar nesse estado de estagnação, não evoluirá; assim, cada vez que esse contratempo aparecer, remova-o. Muitas e muitas vezes. É importante estar o mais alerta possível e permanecer tão vigilante quanto puder. 

Não importa o método que use, deixe-o de lado, ou apenas deixe que se dissolva em si mesmo, quando achar que chegou naturalmente a um estado de paz atenta, expansiva e vibrante. Continue aí, então, sem se distrair e sem usar necessariamente qualquer método específico. O método já atingiu seu propósito. No entanto, se você perdeu o fio da meada ou se distraiu, retorne à técnica que lhe pareça mais apropriada para trazê-lo de volta.

A verdadeira glória da meditação reside não num método qualquer, mas na sua experiência viva e contínua do presente, na sua bem-aventurança, claridade, paz e, mais importante que tudo, na completa ausência de apego. A diminuição do apego em você é um sinal de que está se tornando mais livre de si mesmo. E quanto mais experimenta essa liberdade, mais claro é o sinal de que o ego, as esperanças e os temores que o mantêm vivo estão se dissolvendo, e mais próximo você estará da generosa 'sabedoria da ausência de ego'. Quando você vive nesse estado, não sentirá mais a barreira entre 'eu' e 'você', 'esse' e 'aquele', 'dentro' e 'fora'. Você terá chegado finalmente ao seu verdadeiro lar, ao estado de não-dualidade." 

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Palas Athena, São Paulo, 2000 - p. 108/110)
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terça-feira, 3 de maio de 2022

PENSAMENTOS E EMOÇÕES: AS ONDAS E O OCEANO (1ª PARTE)

"Quando as pessoas começam a meditar, sempre dizem que seus pensamentos estão desenfreados e tornam-se mais agitados do que nunca. Mas eu as tranquilizo dizendo que esse é um bom sinal. Longe de significar que seus pensamentos estão muito agitados, isso mostra que você ficou mais tranquilo e está finalmente cônscio do quão ruidosos seus pensamentos sempre foram. Não se desencoraje ou desista. O que quer que surja, apenas mantenha-se presente e continue voltando-se para a sua respiração, mesmo no meio da maior confusão.

Nas antigas instruções de meditação, dizia-se que de início os pensamentos chegarão um sobre o outro, ininterruptos, como uma cascata na montanha escarpada. Aos poucos, à medida que se aperfeiçoa a meditação, eles se tornam como a água numa garganta estreita, depois como um grande rio correndo vagaroso para o mar, e por fim a mente se torna um oceano plácido e imóvel, agitado apenas pelo marulho ou onda ocasional. 

Às vezes as pessoas pensam que quando meditam não deveria haver pensamentos ou emoções de espécie alguma; e quando surgem pensamentos e emoções, elas se aborrecem e se exasperam consigo mesmas, achando que fracassaram. Nada pode estar mais distante da verdade. Há um ditado tibetano que diz: 'É querer demais pedir carne sem osso, e chá sem folhas'. Enquanto houver mente, haverá pensamentos e emoções. 

Tal como o oceano tem ondas e o sol tem raios, a radiância própria da mente são seus pensamentos e emoções. O oceano tem ondas, mas não é particularmente perturbado por elas. As ondas são a natureza mesma do oceano, As ondas aparecem, mas para onde vão? De volta ao oceano. E de onde vêm? Do oceano. Do mesmo modo, pensamentos e emoções são a radiância e a expressão da verdadeira natureza da mente. Eles surgem na mente, mas onde se dissolvem? Na própria mente. O que quer que apareça, não o encare como um problema particular, se você não reage de maneira impulsiva, se sabe ser apenas paciente, isso assentará novamente em sua natureza essencial. 

Quando você tiver essa compreensão, os pensamentos que emergem apenas intensificarão sua prática. Mas, quando você não compreende o que eles intrinsecamente são - a radiância da natureza de sua mente -, seus pensamentos se tornam sementes de confusão. Assim, tenha uma atitude aberta, ampla e compassiva em relação a seus pensamentos e emoções, porque de fato eles são sua família, a família da sua mente. Diante deles, pense no que costumava dizer Dudjom Rinpoche: 'Seja como um velho sábio vendo uma criança brincar'" ... continua.

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Palas Athena, São Paulo, 2000 - p. 106/107)
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quinta-feira, 28 de abril de 2022

A MENTE EM MEDITAÇÃO

"O que, então, devemos 'fazer' com a mente em meditação? Absolutamente nada. Deixá-la como está. Um mestre descreveu a meditação como 'a mente suspensa no espaço, em lugar nenhum'.

O ditado é famoso: 'Se a mente não é fabricada, aparece espontaneamente imbuída de uma felicidade sublime, assim como a água que se mostra naturalmente transparente e límpida quando não é agitada'. Com frequência comparo a mente em meditação com um jarro de água barrenta: quanto menos interferência ou agitação tiver, mais as partículas de terra se depositam no fundo, permitindo que a claridade natural da água transpareça. A própria natureza da mente é tal que, se você a deixa em seu estado inalterado e natural, ela encontrará sua verdadeira natureza, que é bem-aventurança e claridade. 

Tome cuidado, portanto, para não impor nem cobrar nada à mente. Ao meditar, não deve haver qualquer esforço na direção do controle, nem empenho em ser pacífico. Não seja solene demais nem se sinta como se estivesse tomando parte num ritual especial; deixe de lado até a ideia de que está meditando. Seu corpo e a sua respiração devem ser entregues a si mesmos. Pense em si próprio como o céu, sustentando todo o universo." 

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Palas Athena, São Paulo, 2000 - p. 104/105)
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terça-feira, 26 de abril de 2022

A PRÁTICA DA PRESENÇA MENTAL

"A meditação consiste em trazer a mente para casa, e isso se conquista primeiramente através da prática da presença mental.

Uma vez uma mulher veio até o Buda e lhe perguntou como meditar. Buda lhe disse para ficar consciente de cada movimento de suas mãos enquanto tirava água do poço, sabendo que se ela fizesse isso logo entraria naquele estado de atenção e calma cheia de espaço que é a meditação.

A prática da presença mental, de trazer de volta para casa a mente dispersa e assim colocar em foco diferentes aspectos do nosso ser, é chamada 'Permanência Serena'. A Permanência Serena realiza três coisas. Primeira, todos os fragmentados aspectos de nós mesmos, que estavam em guerra, assentam-se, dissolvem-se e tornam-se amigos. Aí começamos a nos compreender melhor e às vezes até a ter vislumbres da radiância de nossa natureza fundamental.

Segundo, a prática da presença mental dissolve nossa negatividade, agressividade e as emoções turbulentas que podem ter reunido poder ao longo de muitas vidas. Mais do que suprimir emoções ou ser complacente com elas, aqui é importante vê-las, bem como os pensamentos que há na sua mente e qualquer coisa que apareça, com aceitação e generosidade tão amplas e abertas quanto possível. Os mestres tibetanos dizem que essa sábia generosidade tem o sabor do espaço ilimitado, tão caloroso e aconchegante que você se sente envolvido e protegido por ela como por uma manta de raios de sol. 

Gradualmente, ficando aberto e atento e usando uma das técnicas que explicarei depois para concentrar mais e mais sua mente, sua negatividade aos poucos se dissolve. Começa a se sentir bem em seu ser, ou como dizem os franceses, être bien dans notre peau (sentir-se bem na sua pele). Disto vem descontração e profundo bem-estar. Penso nessa prática como a mais efetiva forma de terapia ou autocura.

Terceira, essa prática descerra e revela o seu Bom Coração essencial, porque dissolve e remove a crueldade e a destrutividade que há em você. Só nos tornamos de fato úteis aos outros quando removemos a destrutividade em nós. Pela prática, assim tirando de nós a crueldade e a destrutividade permitimos que o nosso autêntico Bom Coração, essa bondade e gentileza fundamentais que são a nossa verdadeira natureza, resplandeça e se torne o clima caloroso no qual florescerá nosso verdadeiro ser. (...)"

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Palas Athena, São Paulo, 2000 - p. 91/92)
Imagem: Pinterest.