"Se existe uma medida de espiritualidade observável em nosso relacionamento com as pessoas e com o mundo, é a gentileza amorosa. Se a humanidade se voltasse para a gentileza provavelmente auxiliaria a cura de doenças adquiridas ao se causar dano aos corpos físico, mental e emocional. Provavelmente não precisaríamos de instituições de saúde mental, onde os pacientes não sabem mais como ser gentis consigo mesmo. Se já tivessem experenciado a gentileza suficientemente, para que ela deixasse uma marca indelével em sua consciência, eles certamente teriam uma mente sã.
Gentileza é o resultado natural da unidade, de uma consciência de que aquilo que me cria e me constitui é a mesma vida em você e em todas as coisas. A vida em mim é a vida em você. Deus em mim é Deus em você. Deus não é menor no portador de deficiência ou no mendigo que pede esmolas.
Você já observou quando um amigo lhe ofende? Sua tendência é desviar o olhar, mas quando a pessoa não está por perto, a irritação se infiltra. Você quer manter o rancor, e por isso se mantém distante. Porém, tente olhar a pessoa nos olhos. A gentileza falará ao seu coração dizendo que este é o seu irmão. A dor que ele infligiu provavelmente é um momento de não reconhecimento da vida una, esse fio de vida que une toda a humanidade como uma família, como um organismo indivisível. Esse não reconhecimento ocorre porque nossa visão interior às vezes fica turva, quando nossas necessidades pessoais nos oprimem.
Gentileza não é condescendência. Não sou forçado a ser gentil porque levo vantagem sobre você. Sou gentil porque aquilo que eu sou você pode se tornar. Somos iguais. Esse tipo de gentileza responsabiliza aqueles que esqueceram sua força interior. Deixemos a face de nosso Deus na porta de nossos templos, porque o Cristo, o Maomé, o Buda que conhecemos não são reais; porque na verdade Deus simplesmente não tem um rosto ou um nome. Você consegue olhar para alguém em algum lugar e dizer, em seu coração, 'és Deus?' Se não colocarmos Deus numa caixinha, é mais fácil conhecê-lo. Mas, certamente, será difícil explicá-lo.Se digo que Deus é gentil e encontro alguém zangado, não consigo reconhecer Deus nessa pessoa; então, será difícil ser gentil. Gentilieza não significa apenas doar. É mais uma atitude de coração. Se você a possui, as pessoas irão senti-la, porque você se tornará uma presença benevolente. (...)"
(Gina Paraoan - Revista Sophia, Ano 10, nº 40 - Ed. Teosófica, Brasília - p. 37)