OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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terça-feira, 22 de outubro de 2024

UM ÚNICO PENSAMENTO PODE LEVAR À REDENÇÃO

"Quando chegou a este mundo, você chorava e todos os demais sorriam. Durante sua vida, trabalhe e sirva de tal maneira que, quando chegar a hora de deixar o mundo, você parta sorrindo, enquanto o mundo chora por você. Pense constantemente nisso, e você sempre lembrará de levar em conta os outros antes de você.

Este vasto mundo foi criado para que você pudesse usar a inteligência e adquirir o conhecimento do Espírito, o conhecimento do seu Ser. Mesmo um só pensamento pode redimi-lo. Você não percebe o quão eficazmente seus pensamentos trabalham no éter. 

De que maneira conheceria o amor humano, se o próprio Deus não o tivesse dado a você, plantando Seu amor no coração de cada criatura? E já que Deus é tão bondoso e tão amoroso, deveria Ele ser o objeto de sua procura. Ele não quer impor-Se. Mas o misterioso funcionamento de seu corpo, a inteligência que Ele te concedeu e todas as outras maravilhas da vida deveriam ser estímulos suficientes para você decidir encontrar Deus. Todos os seres humanos seriam redimidos se tentassem. Você deve tentar!

Quando comecei a trilhar este caminho, minha vida era caótica. Mas, à medida que continuava tentando, as coisas começaram a ficar maravilhosamente claras. Tudo que acontecia mostrava que Deus é e que pode ser conhecido nesta vida. Quando você encontrar Deus, quanta firmeza e coragem terá! Então, nada mais importará, nada jamais poderá causar-lhe medo. Foi assim que Krishna exortou Arjuna a enfrentar corajosamente a batalha da vida e tornar-se espiritualmente vitorioso: 'Não te entregues à covardia: ela é indigna de ti. Ó Fulminador de Inimigos, abandona essa pusilanimidade medíocre! Levanta-te!'⁵

⁵ Bhagavad Gita II:3. 

Paramahansa Yogananda, A Eterna Busca do Homem, Self-Realization Fellowship, p. 96/97.
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terça-feira, 1 de outubro de 2024

UMA PROCURA INCANSÁVEL SOBRE NOSSAS ORIGENS

"Sabemos muito pouco também sobre nós mesmos. Quem somos? Como produzimos pensamentos e confeccionamos a consciência. Você já percebeu que você, tal como cada ser humano, é um ser único no teatro da vida?


Pensar e ter consciência parece tão simples, mas a ciência e todas as bibliotecas do mundo inteiro são insuficientes para explicar apenas a solidão de uma criança abandonada nas ruas. 

A vida humana é brevíssima. Vivemos num pequeno parêntese do tempo. Os políticos estão nos congressos, os professores em salas de aula, os médicos nos consultórios, as mães estão educando os seus filhos, os trabalhadores estão nas empresas, tudo parece tão comum e normal. Entretanto, muitos não compreendem que por mais que desempenhemos com seriedade nossas atividades, a vida humana, com todos os seus eventos, é apenas uma fagulha no tempo, que rapidamente cintila e logo se apaga.

Bastam dois instantes se encontrarem, o da meninice e o da velhice, para nos tornarmos apenas uma página na história. Você tem consciência da brevidade da vida? Tal consciência o estimula a busca a sabedoria superior?"

Augusto Cury, O Mestre do Amor, Editora Academia de Inteligência, São Paulo, 2002, p. 16/17.
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quinta-feira, 19 de setembro de 2024

PENSAMENTOS PODEM SER MAIS EFICAZES QUE PALAVRAS

"Jamais fale com rispidez sob o fogo do ciúme. A boca pode ser como um canhão e as palavras, mais destrutivas do que qualquer bomba. Quando falar, use o discernimento. Ninguém gosta que lhe apontem os defeitos. Se as orientações ou críticas construtivas não são bem-vindas, guarde suas palavras. Do contrário, quanto mais você falar, pior tornará a situação.

Às vezes os pensamentos podem ser mais eficazes que as palavras. A mente humana é a máquina transmissora mais poderosa que existe. Se você sempre transmitir pensamentos positivos com amor, eles terão efeito positivo nos outros. (Da mesma forma, se transmitir ciúme ou ódio, os outros receberão esses pensamentos e reagirão de acordo com o que recebem.) Peça a Deus que coloque o poder Dele por trás dos seus esforços. Por exemplo: se é o marido que está se desviando, a mulher deve orar a Deus: 'Senhor, ajuda-me a ajudar meu marido. Peço que mantenhas toda mancha de ciúme e ressentimento fora de meu coração. Oro apenas para que ele perceba seu erro e mude. Senhor, permanece com ele e abençoa-me para que eu faça a minha parte.' Se sua comunhão com Deus for profunda, você verá a pessoa mudar. Quanto mais desviado estiver alguém, mais bondade você deve oferecer. Em vez de sucumbir ao ciúme e de temer perder uma pessoa amada, faça o esforço para ser correto em atitude e comportamento; mantenha-se fisicamente atraente e seja forte, tanto mental quanto espiritualmente."

Paramahansa Yogananda, Jornada para a Autorrealização, Self-Realization Fellowship, p. 163.
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quinta-feira, 18 de julho de 2024

BUSQUE ORIENTAÇÃO DIVINA

"Planeje sua vida, não perca tempo. Se tiver uma vida social intensa demais, não conseguirá chegar a nada. Cultive a introspecção. Afaste-se das pessoas e mergulhe profundamente dentro de si mesmo. Pergunte-se: 'Como posso ser bem-sucedido?' Reflita sobre o que quer fazer, até se perder totalmente na ideia. Pense, pense, pense e faça planos. Depois, espere um pouco; não se entregue a nada precipitadamente. Dê um passo, e pense mais um pouco. Alguma coisa dentro de você lhe dirá o que fazer. Faça-o, e pense mais um pouco. Mais orientação virá. Se aprender a se interiorizar profundamente, conectará sua consciência com a superconsciência da alma, e poderá cultivar as ideias embrionárias do sucesso com infinita força de vontade, paciência e intuição. 

Ao mesmo tempo em que tenta criar o que idealizou, peça sempre ao Pai para guiá-lo. Se o ego for cego e tiver uma voz forte, poderá sufocar a intuição e levar você pelo caminho errado. Contudo, se a intenção for agradar a Deus, esforçando-se para realizar uma coisa que valha a pena, Ele orientará seus passos para o bem, impedindo-o de errar. O modo certo de trabalhar para o sucesso é tratar de agradar a Deus, fazer o melhor possível e, então, não se preocupar mais com o caso.

Neste mundo, você tem que representar seu papel no drama divino. Mas, se se perder no enredo, a vida ficará bem complicada. Você saberá, tarde demais, que desperdiçou tempo. Então, por que não girar a roda da vida em vez de ser atropelado por ela?"

Paramahansa Yogananda, O Romance com Deus, Self-Realization Fellowship, p. 104.
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quinta-feira, 27 de outubro de 2022

A DUALIDADE DO PENSADOR E DO PENSAMENTO

"Quando você observa algo (uma árvore, seu cônjuge, filhos, seu vizinho, as estrelas da noite, a luz na água, o pássaro no céu etc.), há sempre o observador (o censor, o pensador, o experimentador, o buscador) e o objeto observado: o observador e o observado, o pensador e o pensamento. Portanto, há sempre uma divisão. Essa divisão é o tempo, é a própria essência do conflito. E quando há conflito, há contradição. 'O observador e o observado' é uma contradição, pois existe uma separação. Quando há conflito, há sempre a urgência de ir além dele, dominá-lo, superá-lo, fugir dele, fazer algo a respeito. Toda essa atividade envolve o tempo... Enquanto houver essa divisão, o tempo passará, e o tempo é tristeza.

Aquele que quer entender o fim da tristeza deve entender isso. Deve descobrir, ir além dessa dualidade entre o pensador e o pensamento, o experimentador e a experiência. Ou seja, quando há uma divisão entre o observador e o observado, há o tempo, e por isso não há o fim da tristeza. Então, o que se deve fazer? Você entende a pergunta? Eu vejo, dentro de mim, que o observador está sempre observando, julgando, censurando, aceitando, rejeitando, disciplinando, controlando, moldando. Esse observador, esse pensador, é obviamente o resultado do pensamento. O pensamento vem primeiro, não o observador, nem o pensador. Se não houvesse nenhum pensamento, não haveria observador, tampouco o pensador, haveria apenas a atenção completa."

(Krishnamurti - o Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo 2016 - p. 260)
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terça-feira, 25 de outubro de 2022

FRUTOS DA AÇÃO

"2:47  O agir (nesta esfera de vibração) é um dever, mas que o teu ego não cobice os frutos da ação. Não te apegues nem à ação nem à inação.

"Sejamos como uma cotovia divina, que canta por prazer sem tentar impressionar nem obter coisa alguma de ninguém. Os que agem movidos pelo ego são enredados na teia de maya. O universo passou a existir graças ao poder da Vibração Cósmica, o grande som de AUM. Enquanto a pessoa vive na esfera da manifestação e não se abisma no Espirito, acha impossível não agir de alguma maneira. O importante é agir corretamente.

Para atingir a consciência divina, é necessário desapegar-se da ideia do 'eu' e do 'meu'. A consciência infinita parece finita no ego, como no átomo. Mas isso não passa de aparência. O átomo não pode impedir-se de girar em sua realidade minúscula, mas o ego, por ser consciente, pode aspirar a livrar-se da manifestação vibratória. Como escreveu Patanjali, 'Yogas chitta vritti nirodha' ('O Yoga é a neutralização dos redemoinhos de paixão na consciência'). O dever espiritual de todo ego é interromper o movimento que gera libertando-se de pensamentos 'redemoinhantes' como 'O que quer que eu faça, faço-o em beneficio próprio!' Ser escravo da ilusão nada mais é que referir constantemente aquilo que se faz (ou pensa, ou goza, ou sofre) ao próprio eu. Não só a ação, mas também todos os prazeres do mundo e os padecimentos, são contaminados pela ideia: 'Sou eu quem faz, sou eu quem goza, sou eu quem sofre.' E depois pela pergunta indignada: 'Mas por que sou eu o sofredor?'

A solução não é impedir-se de agir. Algumas pessoas - eremitas, por exemplo - pensam evoluir espiritualmente sem nada fazer. Essa ideia é outra ilusão. Se temos de respirar, pensar e andar, como haveremos de ficar realmente inativos? O yogue que se senta imóvel e com o fôlego contido em samadhi já é outra coisa. Para ir além da ação, precisamos mesclar nossa consciência ao Som Cósmico de AUM, permitindo-lhe agir em nós e a volta de nós até nos confundirmos com essa vibração infinita e depois, ultrapassando-a, nos diluirmos na serena consciência do Espirito Supremo. Mas, na medida em que formos conscientes de nosso corpo, apenas nos ludibriaremos caso tentemos alcançar o estado de inação sem agir. Seremos apenas preguiçosos embotados!

Para chegar a Deus, é necessário primeiro agir sem motivos egoístas: por Deus, não por recompensa pessoal. Com efeito, cumpre estarmos sempre ativos a serviço de Deus para desenvolver essa percepção aguçada que, só ela, nos alça à supraconsciência. Os ociosos não encontrarão Deus!

No entanto, em tudo o que fizermos, convém ter em mente que Deus atua por nosso intermédio. Lave o corpo, alimente-o, dê-lhe descanso - faça o que for preciso para mantê-lo saudável e cheio de energia -, mas pense sempre: 'É a Deus que estou servindo por meio desse instrumento físico.' Até o gozo de um prato saboroso, de uma bela paisagem e das outras boas coisas da vida tem de ser ofertado a Deus. Partilhe esses momentos com Deus em vez de privar-se deles. O que se deve pôr de lado são os pensamentos 'Estou fazendo', 'Estou desfrutando'" e mesmo 'Sou eu quem sofre'.

Também na meditação é importante não levar em conta resultados. A fim de eliminar a tensão e o esforço que sobrevém quando tentamos nos concentrar, eliminemos antes o pensamento 'Estou meditando'. Pensemos, de preferência: 'A Vibração Cósmica está reafirmando, através de mim, sua realidade. Através de mim, o amor cósmico anseia pelo amor de Deus. Através de mim a alegria cósmica se rejubila em nosso Infinito Bem-amado'".

(Paramahansa Yogananda - A Yoga do Bhagavad Gita - Self-Realization Fellowship - p. 113/114)
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quinta-feira, 13 de outubro de 2022

A MEMÓRIA NÃO TEM VIDA PRÓPRIA

"O que entendemos por pensamento? Quando pensamos? Obviamente, o pensamento é o resultado de uma resposta, neurológica ou psicológica, não é? E a resposta imediata dos sentidos a uma sensação, ou é psicológica, a resposta da memória armazenada. Há a resposta imediata dos nervos a uma sensação, e há a resposta psicológica da memória armazenada, da
influência raça, grupo, guru, família, tradição etc. - tudo ao que chamamos de pensamento. Portanto, o processo do pensamento é a resposta da memória, não é? Não teríamos pensamentos se tivéssemos memória, e a resposta da memória a determinada experiência põe em ação o processo do pensamento.

O que, então, é a memória? Se você observar sua própria memória e a maneira como a coleta, vai perceber que ela é factual, relacionada com a informação, a engenharia, a matemática, a física etc. - ou é o resíduo de uma experiência inacabada, incompleta, não é? Observe a sua memória e verá. Quando você termina uma experiência, não há memória dela no sentido de um resíduo psicológico. Só há resíduo quando uma experiência não é totalmente entendida; então não há entendimento da experiência, porque olhamos para a cada experiência por meio das lembranças passadas, e por isso nunca encontramos o novo como o novo, mas sempre através da tela do velho. Por isso, está claro que a nossa resposta às experiências é condicionada sempre limitada."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., 2016, São Paulo - p. 287)
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quinta-feira, 1 de setembro de 2022

A CADEIA DO CONHECEDOR, DO CONHECER, E DO COGNOSCÍVEL

"Há uma palavra, vibração, que tem se tornado cada vez mais a tônica da ciência ocidental, como tem sido há muito tempo a da ciência do Oriente. O movimento é a raiz de tudo. A vida é movimento; a consciência é movimento. E esse movimento que afeta a matéria é a vibração. O Uno, o Todo, pensamos como o Imutável, seja como Movimento Absoluto ou como Sem Movimento, uma vez que no Uno o movimento relativo não pode existir. Só quando há diferenciação, ou partes, podemos pensar no que chamamos movimento, que é mudança de lugar numa sucessão de tempo. Quando o Uno se torna o Muitos, surge então o movimento; isto é saúde, consciência, vida, quando rítmico, regular; assim como ele é doença, inconsciência, morte, quando sem ritmo, irregular. Pois a vida e a morte são irmãs gêmeas, igualmente nascidas do movimento, que é a manifestação.

O Movimento deve aparecer quando o Uno se torna o Muitos, uma vez que, quando o onipresente aparece como partículas separadas, o movimento infinito deve representar a onipresença, ou, colocado de outra forma, deve ser o seu reflexo ou imagem na matéria. A essência da matéria é a separatividade, como a do espírito é a unidade, e quando ambos aparecem no Uno, como creme no leite, o reflexo da onipresença desse Uno na multiplicidade da matéria é movimento incessante e infinito. O movimento absoluto a presença de cada unidade em movimento em cada ponto do espaço e em cada momento do tempo é idêntico ao descanso, sendo apenas o descanso visto de outra forma, do ponto de vista da matéria e não do ponto de vista do espírito. Do ponto de vista do espírito há sempre Um, do ponto de vista da matéria há sempre Muitos.

Este movimento infinito aparece como movimentos rítmicos, vibrações, na matéria que o manifesta, cada Jiva, ou unidade separada de consciência, estando isolado por uma parede de matéria de todos os outros Jivas.³ Cada Jiva torna-se posteriormente encarnado, ou revestido por várias vestes de matéria. À medida que estas vestes de matéria vibram, comunicam as suas vibrações à matéria que as rodeia, tornando-se esta matéria o meio em que as vibrações são levadas ao exterior; e este meio, por sua vez, comunica o impulso da vibração às vestes envolventes de outro Jiva, e assim põe esse Jiva a vibrar como o primeiro. Nesta série de vibrações - iniciadas num Jiva, feitas no corpo que o rodeia, enviadas por esse corpo ao meio que o envolve, comunicadas por este a outro corpo, e desse segundo corpo para o Jiva cercado por ele - temos a cadeia de vibrações em que um conhece o outro. O segundo conhece o primeiro porque reproduz o primeiro em si mesmo, e assim experimenta como o outro está experimentando. E, no entanto, com uma diferença. Pois o nosso segundo Jiva já está em uma condição vibratória, e o seu estado de movimento, após receber o impulso do primeiro, não é uma simples repetição desse impulso, mas uma combinação do seu próprio movimento original com o que lhe foi imposto de fora, e portanto não é uma reprodução perfeita. As semelhanças são obtidas, cada vez mais próximas, mas a identidade foge-nos sempre, as vestimentas permanecem.

Esta sequência de ações vibratórias é frequentemente vista na Natureza. Uma chama é um centro de atividade vibratória no éter, chamado por nós de calor; estas vibrações ou ondas de calor lançam o éter circundante em ondas como se fossem elas próprias, e estas lançam o éter num pedaço de ferro deixado próximo em ondas semelhantes, e as suas partículas vibram sob o seu impulso, e assim o ferro torna-se quente e uma fonte de calor em sua vez. Assim, uma série de vibrações passa de um Jiva para outro, e todos os seres estão interligados por esta rede de consciência.

Assim, mais uma vez, na natureza física, marcamos diferentes gamas de vibrações por diferentes nomes, chamando uma de luz, a outra de calor, a outra de eletricidade, a outra de som, e assim por diante; no entanto, todas são da mesma natureza, todas são modos de movimento no éter,⁴ embora se diferenciem pelas taxas de velocidade e no caráter das ondas. Pensamentos, Desejos e Ações, as manifestações ativas em matéria de Conhecimento, Vontade e Energia, são todas da mesma natureza, ou seja, são todas constituídas por vibrações, mas diferem nos seus fenômenos, devido ao caráter diferente das vibrações. Há uma série de vibrações num determinado tipo de matéria e com um certo caráter, e a estas chamamos vibrações de pensamento. Uma outra série é falada como vibrações de desejo, uma outra série como vibrações de ação. Estes nomes são descritivos de certos fatos na Natureza. Há um certo tipo de éter lançado em vibração, e as suas vibrações afetam os nossos olhos; o chamamos de movimento luz. Há outro éter muito mais sutil lançado em vibrações que são percebidas, ou seja, são respondidas, pela mente, e chamamos a esse movimento pensamento. Estamos rodeados de matéria de diferentes densidades e nominamos os movimentos nela pela maneira que nos afetam, são respondidos por diferentes órgãos dos nossos corpos densos ou sutis. Nominamos por 'luz' certos movimentos que afetam o olho; nomeamos por 'pensamento' certos movimentos que afetam outro órgão, a mente. O 'ver' ocorre quando o éter de luz é lançado em ondas de um objeto ao nosso olho; o 'pensar' ocorre quando o éter de pensamento é lançado em ondas entre um objeto e a nossa mente. Um não é mais nem menos misterioso do que o outro.

Ao lidar com a mente, veremos que as modificações na disposição dos seus materiais são causadas pelo impacto das ondas de pensamento, e este no pensamento concreto que experimentamos mais uma vez os impactos originais de fora. O Conhecedor encontra a sua atividade nestas vibrações, e tudo a que pode responder, ou seja, tudo a que pode reproduzir, é o Conhecimento. O pensamento é uma reprodução dentro da mente do Conhecedor daquilo que não é o Conhecedor, não é o Eu; é uma imagem, causada por uma combinação de ondas-movimento, uma imagem bastante literal. Uma parte do Não Eu vibra, e à medida que o Conhecedor vibra em resposta, essa parte torna-se o Cognoscível; a matéria vibrando entre eles torna possível o conhecer, pondo-os em contato um com o outro. Assim é estabelecida e mantida a cadeia do Conhecedor, do Cognoscível, e do Conhecer."

³ Não existe uma palavra inglesa conveniente para 'uma unidade separada de consciência '-' 'espirito' e 'alma' conotando varias peculiaridades em diferentes escolas de pensamento. Arvoro-me, portanto, a usar o nome Jiva, em vez de palavras imprecisas 'uma unidade separado de consciência'.
⁴ O som é principalmente também uma vibração etérica. 

(Annie Besant - O Poder do Pensamento - Ed. Teosófica, Brasília, 2021 - p. 25/29)
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terça-feira, 30 de agosto de 2022

A NATUREZA DO PENSAMENTO

"A natureza do pensamento pode ser estudada a partir de dois pontos de vista: do lado da consciência, que é o conhecimento, ou do lado da forma pela qual o conhecimento e obtido, cuja suscetibilidade a modificações torna possível a obtenção do conhecimento. Esta possibilidade conduziu aos dois extremos da filosofia, e ambos devemos evitar, porque cada um ignora um lado da vida manifestada. Um considera tudo como consciência, ignorando a essencialidade da forma como condicionante da consciência, em como torná-la possível. O outro considera tudo como forma, ignorando o fato de que a forma só pode existir em virtude da vida que a anima. A forma e a vida, a matéria e o espírito, o veículo e a consciência, são inseparáveis em manifestação, e são os aspectos indivisíveis DAQUILO a que são inerentes. AQUILO que não é nem a consciência nem o seu veículo, mas a RAIZ de ambos. Uma filosofia que tenta explicar tudo através das formas, ignorando a vida, encontrará problemas que é totalmente incapaz de resolver. Uma filosofia que tenta explicar tudo através da vida, ignorando as formas, encontrar-se-á confrontada com paredes mortas que não pode superar. A palavra final sobre isto é que a consciência e os seus veículos, vida e forma, espírito e matéria, são expressões temporárias dos dois aspectos de uma Existência não condicionada, não é cognoscível, exceto quando manifestada como Espírito Raiz (chamada pelos hindus: Pratyagatman), o Ser abstrato, o Logos abstrato de onde todos os eus individuais, e a Matéria-Raiz (Mula-prakriti) de todas as formas. Sempre que a manifestação tem lugar, este Espírito-Raiz da à luz uma consciência tripla, e essa Matéria-Raiz a uma matéria tripla; subjacente à Realidade Una, para sempre incognoscível pela consciência condicionada. A flor não vê a raiz de onde cresce, embora toda a sua vida seja extraída dela e sem ela não poderia existir. 

O Eu como Conhecedor tem como função característica o espelhamento dentro de si mesmo do Não Eu. Como uma placa sensível recebe raios de luz refletidos dos objetos, e esses raios causam modificações no material em que caem, de modo a que imagens dos objetos possam ser obtidas, o mesmo acontece com o Eu no aspecto conhecimento em relação a tudo o que é exterior. O seu do veículo é uma esfera em que o Eu recebe do Não Eu os raios refletidos do Eu Uno, fazendo aparecer na superfície desta esfera imagens que são os reflexos daquilo que não é ele próprio. O Conhecedor não conhece as coisas em si mesmo nas fases iniciais da sua consciência. Ele conhece apenas as imagens produzidas no seu veículo pela ação do Não Eu no seu invólucro responsivo, as fotografias do mundo exterior. Daí que a mente, o veículo do Eu como Conhecedor, tenha sido comparada a um espelho, no qual são vistas as imagens de todos os objetos colocados perante ele. Nós não conhecemos as coisas em si, mas apenas o efeito produzido por elas na nossa consciência; não os objetos, mas as imagens dos objetos, estes são o que encontramos na mente. Como o espelho parece ter os objetos dentro dele, mas esses objetos aparentes são apenas imagens, ilusões causadas pelos raios de luz refletidos a partir dos objetos, não os objetos em si; também a mente, no seu conhecimento do universo exterior, conhece apenas as imagens ilusivas e não as coisas em si mesmas.

Estas imagens, feitas no veículo, são percebidas como objetos pelo Conhecedor, e esta percepção consiste na sua reprodução das mesmas em si próprio. Ora, a analogia do espelho, e o uso da palavra 'reflexão' no parágrafo anterior, são um pouco enganadores, pois a imagem mental é uma reprodução e não um reflexo do objeto que a causa. A matéria da mente é na realidade moldada à semelhança do objeto que lhe é apresentado, e esta semelhança, por sua vez, é reproduzida pelo Conhecedor. Quando ele portanto se modifica assim à semelhança de um objeto externo, diz-se que conhece esse objeto, mas no caso considerado, o que ele conhece é apenas a imagem produzida pelo objeto no seu veículo, e não o próprio objeto. E esta imagem não é uma reprodução perfeita do objeto, por uma razão que veremos no próximo capítulo. 

'Mas', pode-se dizer, 'será assim para sempre? Nunca saberemos as coisas em si mesmas?' Isso leva-nos à distinção vital entre a consciência e a matéria em que a consciência está trabalhando, e com isso podemos encontrar uma resposta a essa questão natural da mente humana. Quando a consciência, por longa evolução, desenvolveu o poder de reproduzir em si mesma tudo o que existe fora dela, então o invólucro de matéria em que tem funcionado desprende-se, e a consciência, que é o conhecimento, identifica o seu Eu com todos os Eus no meio dos quais tem evoluído, e vê como o Não Eu apenas a matéria ligada de igual modo com todos os Eus individualmente. Este é o 'Dia do esteja conosco', a união que é o triunfo da evolução, quando a consciência conhece a si própria e aos outros, e conhece os outros como a si própria. Por semelhança da natureza, o conhecimento perfeito é atingido, e o Eu percebe aquele estado maravilhoso onde a identidade não perece e a memória não se perde, mas onde a separação encontra o seu objetivo final, e o conhecedor, o conhecer e o conhecimento são um só.

É esta natureza maravilhosa do Eu que evolui em nós através do conhecimento no momento presente, que temos de estudar, a fim de compreender a natureza do pensamento, e é necessário ver claramente o lado ilusório para que possamos utilizar a ilusão para transcendê-lo. Assim, vamos agora estudar como o Conhecer - a relação entre o Conhecedor e o Cognoscível é estabelecida, e isso nos levará a ver mais claramente a natureza do pensamento."

(Annie Besant - O Poder do Pensamento - Ed. Teosófica, Brasília, 2021 - p. 21/25)
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quinta-feira, 18 de agosto de 2022

ESTABELECE E MANTÉM PERMANENTE SERENIDADE (PARTE I)

"Um dos traços característicos de Jesus é a sua imperturbável serenidade de espírito. Quando gravemente injuriado, ele não se exalta. Quando atraiçoado por Judas, Jesus lhe diz: 'Amigo, a que vieste?' Quando esbofeteado perante o tribunal, faz a seu ofensor uma pergunta que revela absoluta calma e serenidade de alma.

Entretanto, só uma pessoa que conhece o seu verdadeiro Eu e sabe que nenhum fator externo a pode fazer feliz nem infeliz, é que tem forças suficientes para guardar esse sereno equilíbrio do espírito.

Além dos meios propriamente espirituais, de que tratamos em outra parte, deve o candidato à felicidade habituar-se a certas práticas e técnicas, como sejam, entre outras, as seguintes:

Nunca te recolhas ao descanso noturno com pensamentos ou sentimentos negativos, amargos, reminiscência de ofensas, rancores, ressentimentos, desânimo, porque essa disposição interna atua, durante o sono, através do subconsciente, como elemento deletério, nocivo, envenenando as profundezas do teu ser; os teus últimos pensamentos e sentimentos devem ser invariavelmente luminosos, leves, positivos, bons, benévolos e tranquilos.

A fim de saturar o consciente e subconsciente com fatores positivos, convém que a pessoa, antes de adormecer, repita, lenta e calmamente, muitas vezes, um ou dois dos pensamentos que figuram no fim deste capítulo sob o título 'Sabedoria dos Séculos'.

Se acordares durante a noite, repete em silêncio algum desses pensamentos salutares, porque, sobretudo nesse estado, eles produzem um efeito purificador.

De manhã, ao acordares, quando tua alma está ainda como carta branca e intensamente receptiva, evita pensar em coisas desagradáveis; mas mantém o teu ambiente interno leve, luminoso e puro, mediante pensamentos positivos e benévolos.

Durante o dia, vive na presença de Deus como que na luz solar que te circunda, sem que nela penses explicitamente.

Uma vez que vives num clima de benevolência permanente, procura realizar concretamente essa disposição, pelo menos uma vez por dia, auxiliando alguma pessoa que tenha necessidade de ti.

Nos teus trabalhos diários, habitua-te a não visar, em primeiro lugar, resultados externos e palpáveis, mas sim à perfeição do próprio trabalho realizado com alegria e entusiasmo; porquanto nenhum trabalho vale pelo resultado que produz, mas pela disposição de espontânea alegria e amor com que é feito.

Quando prestares algum serviço a alguém ou deres esmola a um pobre, faze tudo com verdadeira alegria, e não com sacrifício e amargura, porque, como dizem as Escrituras Sagradas: 'Deus ama a quem dá com alegria.'

Quando estiveres triste não fales a todo mundo dos motivos da tua tristeza; mas desabafa-te com alguém que seja senhor da tristeza: porque, do contrário, aumentarás a tua tristeza pela tristeza do outro.

Habitua-te a ler, cada dia, algumas páginas de um livro bom que te fale à alma, sobretudo do livro divino do Evangelho de Jesus Cristo; não analises intelectualmente o texto, mas repete muitas vezes as passagens mais significativas. saboreando-lhes o conteúdo espiritual." ... CONTINUA

(Huberto Rohden - O Caminho da Felicidade - Alvorada Editora e Livraria Ltda., São Paulo, 7ª edição - p. 117/118)
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terça-feira, 31 de maio de 2022

O USO CRIATIVO DA MENTE

"Caso você precise usar a mente para um propósito específico, use-a em parceria com o seu corpo interior. Só se conseguirmos estar conscientes sem que haja pensamento é que seremos capazes de usar a mente de forma criativa, e o caminho mais fácil para entrar nesse estado é através do corpo.

SEMPRE QUE FOR necessária uma resposta, uma solução ou uma ideia criativa, para de pensar por um momento e focalize a atenção em seu campo de energia interior. Tome consciência da serenidade.

Quando você voltar ao pensamento, ele será novo e criativo. Em qualquer atividade mental, habitue-se a ir e vir, de tantos em tantos minutos, entre o pensamento e uma espécie de escuta interior, uma serenidade interior.

Poderíamos dizer: não pense apenas com a cabeça, mas com todo o seu corpo. 

DEIXE QUE A RESPIRAÇÃO CONDUZA VOCÊ PARA DENTRO DO CORPO.

Se você encontrar dificuldades de entrar em contato com o seu corpo interior, é mais fácil, em primeiro lugar, concentrar a atenção no movimento da respiração. Tomar consciência da respiração, que já é uma meditação poderosa, irá, aos poucos, colocar você em contato com o seu corpo.

OBSERVE ATENTAMENTE A respiração, como o ar entra e sai do seu corpo. Respire e sinta o abdômen inflar e contrair-se levemente a cada inspiração e expiração. Concentre-se. 

Se você tiver facilidade para visualizar, feche os olhos e veja-se no meio da luz, ou dentro de um mar de consciência. Então, respire dentro dessa luz. Sinta essa substância luminosa preenchendo todo o seu corpo e tornando-o luminoso.

Aos poucos, pense nessa sensação. Não se fixe em nenhuma imagem visual. Você agora está dentro do seu corpo. Você acessou o poder do Agora." 

(Eckhart Tolle - Praticando o Poder do Agora - Ed. Sextante, Rio de Janeiro, 2016 - p. 65/67)
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terça-feira, 10 de maio de 2022

EXPERIÊNCIAS

"À medida que continua a praticar, você pode ter toda sorte de experiências, tanto boas quanto más. Tal como um quarto com muitas portas e janelas permite que o ar entre de muitas direções, do mesmo modo é natural que todas as formas de experiências entrem na sua mente quando ela permanece aberta. Você pode experimentar estados de felicidade, claridade, ou ausência de pensamentos. De certo modo, essas são experiências muito boas e sinais de progresso na meditação. Porque quanto experimenta felicidade, é sinal de que o desejo foi temporariamente dissolvido. Quando experimenta a real claridade, é sinal de que a agressividade temporariamente cessou. Quanto experimenta um estado em que há ausência de pensamentos, é sinal de que sua ignorância morreu temporariamente. São, em si mesmas, boas experiências, mas se você se prende a elas já se transformam em obstáculos. As experiências não são elas próprias realização; mas, se ficamos livres de apego por elas, tornam-se o que realmente são, isto é, material para a realização. 

As experiências negativas são comumente as mais enganadoras porque em geral nós a tomamos como mau sinal. Mas as experiências negativas em nossa prática são bênçãos disfarçadas. Tente não reagir a elas com aversão, como normalmente faz na vida, mas ao invés disso reconheça-as pelo que de fato são: meras experiências, ilusórias e iguais ao sonho. A compreensão da verdadeira natureza das experiências libera você do mal e do perigo da experiência em si, e como resultado até uma experiência negativa pode tornar-se fonte de grande bênção e realização. Há inúmeras histórias de como os mestres trabalharam com experiências negativas e as transformaram em catalizadores da realização.

Diz-se tradicionalmente que para um verdadeiro praticante não é a experiência negativa, mas a boa experiência que oferece obstáculos. Quando as coisas vão indo bem, você deve ficar especialmente atento e cauteloso para não se tornar complacente ou por demais confiante. Lembre-se do que Dudjom Rinpoche me disse quando eu estava envolvido numa experiência muito poderosa: 'Não fique tão excitado. Afinal, isso não é nem bom nem mau'. Ele percebeu que eu estava me apegando à experiência: aquele apego, como qualquer outro, precisava ser cortado. O que devemos aprender, na meditação como na vida, é ser livres do apego às experiências boas e livres da aversão às experiências negativas. 

Dudjom Rinpoce nos alerta para outra armadilha:

Por outro lado, na prática da meditação você pode experimentar um estado semiconsciente, turvo e impreciso, como se tivesse um capuz na cabeça: embotamento sonolento e oniróide. Isso não é nada mais que uma espécie de estagnação obscura e estúpida. Como sair desse estado: Desperte-se, mantenha-se ereto, expire o ar viciado para fora dos seus pulmões e dirija sua tenção para o espaço claro, para refrescar a sua mente. Se continuar nesse estado de estagnação, não evoluirá; assim, cada vez que esse contratempo aparecer, remova-o. Muitas e muitas vezes. É importante estar o mais alerta possível e permanecer tão vigilante quanto puder. 

Não importa o método que use, deixe-o de lado, ou apenas deixe que se dissolva em si mesmo, quando achar que chegou naturalmente a um estado de paz atenta, expansiva e vibrante. Continue aí, então, sem se distrair e sem usar necessariamente qualquer método específico. O método já atingiu seu propósito. No entanto, se você perdeu o fio da meada ou se distraiu, retorne à técnica que lhe pareça mais apropriada para trazê-lo de volta.

A verdadeira glória da meditação reside não num método qualquer, mas na sua experiência viva e contínua do presente, na sua bem-aventurança, claridade, paz e, mais importante que tudo, na completa ausência de apego. A diminuição do apego em você é um sinal de que está se tornando mais livre de si mesmo. E quanto mais experimenta essa liberdade, mais claro é o sinal de que o ego, as esperanças e os temores que o mantêm vivo estão se dissolvendo, e mais próximo você estará da generosa 'sabedoria da ausência de ego'. Quando você vive nesse estado, não sentirá mais a barreira entre 'eu' e 'você', 'esse' e 'aquele', 'dentro' e 'fora'. Você terá chegado finalmente ao seu verdadeiro lar, ao estado de não-dualidade." 

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Palas Athena, São Paulo, 2000 - p. 108/110)
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quinta-feira, 5 de maio de 2022

PENSAMENTOS E EMOÇÕES: AS ONDAS E O OCEANO (PARTE FINAL)

"(...) Queremos sempre saber o que fazer com a negatividade e com certas emoções perturbadoras. Na amplitude da meditação, você pode observar seus pensamentos e emoções com um atitude sem nenhum viés. Quando a sua atitude muda, muda junto toda a atmosfera de sua mente e muda até mesmo a própria natureza de seus pensamentos e emoções. Quando você se torna mais agradável, eles também se tornam; se não tem dificuldades com eles, eles não terão dificuldades com você também. 

Assim, não importa que pensamentos e emoções apareçam, permita que eles venham e assentem, como as ondas do oceano. Não importa o que se perceba pensando, deixe esse pensamento surgir e assentar, sem interferência. Não se apegue a ele, não o alimente, não lhe preste demasiada atenção; não se agarre a ele e não tente dar-lhe solidez. Nem siga ou convide os pensamentos; seja como o oceano olhando para suas próprias ondas ou o céu que do alto observa as nuvens que passam por ele.

Muito cedo descobrirá que os pensamentos são como o vento; eles vêm e vão. O segredo não é 'pensar' sobre os pensamentos, mas deixar que eles fluam através da mente enquanto você a mantém livre de pensamentos supervenientes. 

Na mente ordinária percebemos a corrente de pensamentos como se fosse contínua; mas não é bem isso o que acontece. Você descobrirá por si mesmo que há um intervalo entre cada pensamento. Quando o pensamento passado já passou e o futuro pensamento ainda não chegou, você encontrará sempre uma brecha na qual Rigpa, a natureza da mente, se revela. O trabalho de meditação, assim, consiste em tornar mais lentos os pensamentos; a fim de tornar aquele intervalo mais e mais evidente.

Meu mestre teve um estudante chamado Apa Pant, um destacado diplomata e autor indiano que serviu como embaixador da Índia em várias capitais ao redor do mundo. Ele foi até representante do governo da Índia no Tibete, em Lhasa, e noutro momento no Sikkim. Era praticante de meditação e de ioga, e cada vez que via meu mestre perguntava-lhe 'como meditar'. Seguia uma tradição oriental em que o estudante continua interrogando o mestre com uma pergunta simples e básica, repetidamente.

Apa Pant me contou essa história. Um dia nosso mestre Jamyang Khyentse estava observando uma 'Dança do Lama' em frente do palácio-templo em Gangtok, capital do Sikki, e ria-se das cabriolas do atsara. o palhaço que representa divertimentos leves entre as danças. Apa Pant continuava assediando nosso mestre, e desta vez, quando este respondeu, deixou claro que seria a resposta final e definitiva: 'Veja, é isso aqui quando o pensamento passado acaba e o futuro ainda não começou, não há um intervalo?'

- 'Sim', disse Apa Pant.
-Pois é, prolongue-o: isso é meditação.'"  

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Palas Athena, São Paulo, 2000 - p. 107/108)
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terça-feira, 3 de maio de 2022

PENSAMENTOS E EMOÇÕES: AS ONDAS E O OCEANO (1ª PARTE)

"Quando as pessoas começam a meditar, sempre dizem que seus pensamentos estão desenfreados e tornam-se mais agitados do que nunca. Mas eu as tranquilizo dizendo que esse é um bom sinal. Longe de significar que seus pensamentos estão muito agitados, isso mostra que você ficou mais tranquilo e está finalmente cônscio do quão ruidosos seus pensamentos sempre foram. Não se desencoraje ou desista. O que quer que surja, apenas mantenha-se presente e continue voltando-se para a sua respiração, mesmo no meio da maior confusão.

Nas antigas instruções de meditação, dizia-se que de início os pensamentos chegarão um sobre o outro, ininterruptos, como uma cascata na montanha escarpada. Aos poucos, à medida que se aperfeiçoa a meditação, eles se tornam como a água numa garganta estreita, depois como um grande rio correndo vagaroso para o mar, e por fim a mente se torna um oceano plácido e imóvel, agitado apenas pelo marulho ou onda ocasional. 

Às vezes as pessoas pensam que quando meditam não deveria haver pensamentos ou emoções de espécie alguma; e quando surgem pensamentos e emoções, elas se aborrecem e se exasperam consigo mesmas, achando que fracassaram. Nada pode estar mais distante da verdade. Há um ditado tibetano que diz: 'É querer demais pedir carne sem osso, e chá sem folhas'. Enquanto houver mente, haverá pensamentos e emoções. 

Tal como o oceano tem ondas e o sol tem raios, a radiância própria da mente são seus pensamentos e emoções. O oceano tem ondas, mas não é particularmente perturbado por elas. As ondas são a natureza mesma do oceano, As ondas aparecem, mas para onde vão? De volta ao oceano. E de onde vêm? Do oceano. Do mesmo modo, pensamentos e emoções são a radiância e a expressão da verdadeira natureza da mente. Eles surgem na mente, mas onde se dissolvem? Na própria mente. O que quer que apareça, não o encare como um problema particular, se você não reage de maneira impulsiva, se sabe ser apenas paciente, isso assentará novamente em sua natureza essencial. 

Quando você tiver essa compreensão, os pensamentos que emergem apenas intensificarão sua prática. Mas, quando você não compreende o que eles intrinsecamente são - a radiância da natureza de sua mente -, seus pensamentos se tornam sementes de confusão. Assim, tenha uma atitude aberta, ampla e compassiva em relação a seus pensamentos e emoções, porque de fato eles são sua família, a família da sua mente. Diante deles, pense no que costumava dizer Dudjom Rinpoche: 'Seja como um velho sábio vendo uma criança brincar'" ... continua.

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Palas Athena, São Paulo, 2000 - p. 106/107)
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terça-feira, 26 de abril de 2022

A PRÁTICA DA PRESENÇA MENTAL

"A meditação consiste em trazer a mente para casa, e isso se conquista primeiramente através da prática da presença mental.

Uma vez uma mulher veio até o Buda e lhe perguntou como meditar. Buda lhe disse para ficar consciente de cada movimento de suas mãos enquanto tirava água do poço, sabendo que se ela fizesse isso logo entraria naquele estado de atenção e calma cheia de espaço que é a meditação.

A prática da presença mental, de trazer de volta para casa a mente dispersa e assim colocar em foco diferentes aspectos do nosso ser, é chamada 'Permanência Serena'. A Permanência Serena realiza três coisas. Primeira, todos os fragmentados aspectos de nós mesmos, que estavam em guerra, assentam-se, dissolvem-se e tornam-se amigos. Aí começamos a nos compreender melhor e às vezes até a ter vislumbres da radiância de nossa natureza fundamental.

Segundo, a prática da presença mental dissolve nossa negatividade, agressividade e as emoções turbulentas que podem ter reunido poder ao longo de muitas vidas. Mais do que suprimir emoções ou ser complacente com elas, aqui é importante vê-las, bem como os pensamentos que há na sua mente e qualquer coisa que apareça, com aceitação e generosidade tão amplas e abertas quanto possível. Os mestres tibetanos dizem que essa sábia generosidade tem o sabor do espaço ilimitado, tão caloroso e aconchegante que você se sente envolvido e protegido por ela como por uma manta de raios de sol. 

Gradualmente, ficando aberto e atento e usando uma das técnicas que explicarei depois para concentrar mais e mais sua mente, sua negatividade aos poucos se dissolve. Começa a se sentir bem em seu ser, ou como dizem os franceses, être bien dans notre peau (sentir-se bem na sua pele). Disto vem descontração e profundo bem-estar. Penso nessa prática como a mais efetiva forma de terapia ou autocura.

Terceira, essa prática descerra e revela o seu Bom Coração essencial, porque dissolve e remove a crueldade e a destrutividade que há em você. Só nos tornamos de fato úteis aos outros quando removemos a destrutividade em nós. Pela prática, assim tirando de nós a crueldade e a destrutividade permitimos que o nosso autêntico Bom Coração, essa bondade e gentileza fundamentais que são a nossa verdadeira natureza, resplandeça e se torne o clima caloroso no qual florescerá nosso verdadeiro ser. (...)"

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Palas Athena, São Paulo, 2000 - p. 91/92)
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quinta-feira, 31 de março de 2022

UM CAMINHO PARA A VERDADE

"Existe um caminho para a verdade? Esta foi uma pergunta feita por Krishnamurti, em 1929. Ao explorar novamente a questão, sem concordar ou discordar com nenhuma das conclusões precedentes, acredito que nós crescemos em compreensão e sabedoria. Assim, vemos investigar o assunto a partir das causas primárias, sem assumir conhecimento prévio, e começando pela observação.

Primeiramente devemos perguntar o que é verdade. No sentido comumente aceito, é uma descrição acertada de algo que verdadeiramente aconteceu, ou que é um fato. Usamos a palavra verdade com sentido diferente quando ela descreve uma lei da natureza ou um relacionamento de causa e efeito. Por exemplo, a lei de gravidade é verificável; ela se confirma como uma relação de causa e efeito em todo tipo de fenômeno à nossa volta. Os estudiosos afirmam a verdade ou falsidade de algo aplicando-lhe lógica e raciocínio; quando deduzem algo absurdo, dizem que a premissa não é verdadeira. Portanto, existe essa maneira de analisar uma afirmação e de chegar a uma conclusão sobre sua veracidade. 

A verdade tem um significado totalmente diferente da busca religiosa. Ela está no nível da percepção, não no da ideação. Por exemplo, ao estudar sobre o que Buda disse, e sobre o que vários indivíduos disseram que Buda disse, a pessoa se torna erudita ou professora de filosofia budista; mas o professor não é Buda. A diferença não está nas palestras dadas. O professor pode até explicar certas circunstâncias melhor do que Buda, mas sua consciência não é a consciência de buda. A não ser que haja uma transformação da consciência, não haverá sabedoria, apenas o conhecimento; o conhecimento pode transformar ideias, mas não transformar a consciência. 

No campo científico é diferente; pode-se, por exemplo, utilizar uma fórmula matemática sem ter uma percepção profunda de espaço, tempo, matéria e energia. O cientista que descobriu a lei pode ter tido um grande insight, mas os outros não precisam tê-lo para usar a fórmula; ela funciona. Na busca religiosa, porém, ideias e conhecimentos são apenas cinzas, porque a pessoa vive com temores, conflitos, desejos, problemas com o ego. Ela não é sábia. A busca religiosa é uma busca por sabedoria, e isso é diferente de adquirir conhecimento. Portanto, devemos perguntar: existe um caminho para a sabedoria, para a percepção profunda da  verdade por nós mesmos, a que Krishnamurti referiu-se como insight

Há um caminho analítico para o conhecimento e outros caminhos que no campo do conhecimento e da análise; nossa vida diária está no campo do pensamento, planejamento, imaginação e esforço. Mas existe um outro plano de existência, o plano da atenção, sabedoria, visão e percepção, A verdade está nesse plano - no nível da percepção, não da ideação. Há um estranho relacionamento entre esse plano de percepção e insight e o campo de nossas atividades, esforços e realizações diárias. 

Sendo assim, como ocorre a percepção, se não há caminho até ela? Na Escola Krishnamurti de Brockwood Park, na Inglaterra, conta-se uma piada. Um estudante pergunta a outro: 'Se a verdade é uma terra sem caminho, como se chega lá?' E o outro menino responde: 'Perdendo-se!' Há verdade nessa afirmação, pois o modo como a mente chega a uma percepção totalmente nova é um mistério. Sem uma percepção assim não há real transformação da consciência, nem mudança real e fundamental no nível do pensamento, da realização e do ego no dia a dia. Compreensão e transformação fundamentais têm origem em outro plano.

Se eu tenho uma percepção profunda e isso traz a realização de uma verdade - não o mero conhecimento dessa verdade -, ela se torna real para mim. Esse salto do conhecimento para a realização da verdade é o que chamamos de insight. O que bloqueia o insight? A verdade existe o tempo todo. Por que não sou capaz de percebê-la? A mente parece ver todos os fenômenos através de um véu, uma tela de ilusões, conclusões, afirmações, opiniões, etc., que chamamos de condicionamento. Cada um de nós está condicionado pela família, cultura e tudo o que nos faz ser o que somos. O condicionamento é mantido na memória, e a pessoa não consegue apagá-lo voluntariamente."

(P. Krishna - Um caminho para a verdade - Revista Sophia, Ano 15, nº 65 - p. 21/22)
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quinta-feira, 10 de março de 2022

O TREINAMENTO DA MENTE

"Treinar a mente em qualquer direção é treiná-la completamente até certo ponto, pois qualquer tipo definido de treino organiza a matéria mental da qual o corpo mental é composto, e também chama a atenção para alguns dos poderes do Conhecedor. A capacidade aumentada pode ser direcionada para qualquer fim, e está disponível para todas as finalidades. Uma mente treinada pode ser aplicada a um novo assunto, e irá lutar com ele e dominá-lo de uma forma impossível para os não treinados, e isto é o uso da educação. 

Mas deve ser sempre recordado que a preparação da mente não consiste em abarrotá-la de fatos, mas sim em delinear os seu poderes. A mente não cresce ao ser abarrotada com os pensamentos de outras pessoas, mas sim ao exercer as suas próprias faculdades. Diz-se dos grandes Mestres, que se encontram à frente da evolução humana, que Eles sabem tudo o que existe dentro do Sistema Solar. Isso não significa que todos os fatos que aí se encontram estejam sempre dentro da Sua consciência, mas sim que eles desenvolveram o aspecto do conhecimento em Si mesmos que, sempre que viram Sua atenção em qualquer direção, Eles tomam conhecimento do objeto para o qual estão se virando. Isto é muito maior do que o armazenamento na mente de qualquer número de fatos, pois é uma grande coisa ver qualquer objeto sobre o qual se vira o olho, do que estar cego e conhecê-lo apenas pela descrição que lhe é dada por outros. A evolução da mente não se mede pelas imagens que ela contém, mas pelo desenvolvimento da natureza que é o conhecimento, o poder de reproduzir dentro de si tudo o que lhe é apresentado. Isto será tão útil em qualquer outro universo como neste, e, uma vez adquirido, é nosso para o utilizarmos onde quer que estejamos."

(Annie Besant - O Poder do Pensamento - Ed.; Teosófica, Brasília, 2021 - p. 85/86)


terça-feira, 1 de março de 2022

O EU¹ COMO O CONHECEDOR

"Ao estudarmos a natureza do homem, separamos os veículo que ele utiliza: o Eu vivo do envoltório com o qual está revestido. O Eu é um, por mais variadas que sejam as formas da sua manifestação, quando trabalha através de, por meio dos diferentes tipos de matéria. É certamente verdade que existe apenas Um Eu no sentido mais completo das palavras: assim como raios irradiam do sol os vários 'Eus', que são os verdadeiros Homens, que são apenas raios do Eu Supremo, e cada Eu pode sussurrar: 'Eu sou Ele'. Mas para o nosso presente propósito, tomando um único raio, podemos afirmar também quanto à sua separação, à sua própria unidade inerente, ainda que esteja oculta pelas suas formas. A consciência é uma unidade, e as divisões que fazemos nela ou são para fins de estudo, ou são ilusões, devido à limitação do nosso poder perceptivo pelos órgãos através dos quais ela trabalha nos mundos inferiores. O fato das manifestações do Eu procederem diferenciadamente a partir dos seus três aspectos de conhecer, querer e energizar - dos quais surgem vários pensamentos, desejos e ações - não nos deve cegar quanto ao outro fato de que não há divisão de substância; o Eu todo conhece, o Eu todo quer, o Eu todo age. Nem as funções estão totalmente separadas; pois quando ele sabe, também age e quer; quando age, também sabe e quer; quando quer, também age e sabe. Uma função é predominante, e por vezes a tal ponto que veda totalmente as outras; mas mesmo na concentração mais intensa do conhecer - a mais separada das três - há sempre uma energização latente e uma vontade latente, que é tão discernível quanto presente através de uma análise cuidadosa. 

Nós temos chamado a estes três 'os três aspectos do Eu'; uma explicação um pouco mais profunda nos ajuda a compreender. Quando o Eu está tranquilo, então é manifestado o aspecto do Conhecimento, capaz de assumir a semelhança de qualquer objeto apresentado. Quando o Eu está concentrado, com a intenção de mudar de estado, aparece então o aspecto da Vontade. Quando o Eu, em presença de qualquer objeto, põe energia para contatar com esse objeto, então revela o aspecto da Ação. Ver-se-á assim que estes três não são divisões separadas do Eu, não são três coisas unidas em uma ou compostas, mas que existe um Todo indivisível, que se manifesta de três maneiras. 

Não é fácil clarificar a concepção fundamental do Eu mais além do que através da sua mera designação. O Eu é aquela consciência, sentimento, Um sempre existente, que em cada um de nós se conhece como existente. Nenhum homem pode jamais pensar em si próprio como não existente, ou formular-se a si próprio como não existente, ou formular-se a si próprio em consciência como 'Eu não sou'. Como Bhagavam Das expressou: 'O Eu é a primeira base indispensável da vida. ...  Nas palavras de Vachaspati-Mishra, no seu Comentário² (o Bhamati) sobre a Shariraka-Bhashya, de Shankaracharya: 'Ninguém duvida 'Sou Eu?' ou 'Não sou Eu?'. 'A Autoafirmação "Eu sou' 'vem antes de tudo, está acima e além de qualquer argumento. Nenhuma prova pode fazer isso; mais ainda, nenhuma contraprova pode enfraquecer isso. Tanto a prova como a contraprova se encontraram no 'Eu sou', o Sentimento de mera Existência não analisável, do qual nada pode ser afirmado, exceto o aumento e a diminuição. 'Eu sou mais' é a expressão do Prazer; 'Eu sou menos' é a expressão da Dor. 

Quando observamos este 'Eu sou', descobrimos que ele se expressa de três maneiras diferentes: (a) a reflexão interna de um Não Eu, CONHECIMENTO, a raiz dos pensamentos; (b) a concentração interna, VONTADE, a raiz dos desejos; (c) o ir para o externo, ENERGIA, a raiz das ações; 'Eu Sei' ou 'Eu penso', 'Eu quero', ou 'Eu desejo', 'Eu energizo' ou 'Eu ajo'. Estas são as três afirmações do Eu indivisível, do 'Eu sou'. Todas as manifestações podem ser classificadas sob uma ou outra destas três titulações; o Eu manifesta-se em nosso mundo apenas nestas três formas; como todas as cores surgem das três primárias, assim as inúmeras manifestações do Eu surgem todas da Vontade, da Energia, do Conhecimento.

O Eu como Aquele que Quer, o Eu como Energizador, o Eu como Conhecedor - ele é o Único na Eternidade e também a raiz da individualidade no Tempo e no Espaço. É o Eu no aspecto do Pensamento, o Eu como Conhecedor, que temos de estudar." 

¹ No original em inglês: Self, que foi traduzido neste livro por Eu (Eu superior). (Nota Ed. Bras.).
² The Science of the Emotions (A Ciência das Emoções), p. 20 da edição em inglês.

(Annie Besant - O Poder do Pensamento - Ed. Teosófica, Brasília, 2021 - p. 14/17)
Imagem: Pinterest, Cachoeira de Seljalandsfoss, na Islândia.


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

DESENVOLVIMENTO DO CARÁTER

"... 'O que um homem pensa ele se torna, pense, portanto, no eterno', diz a escritura hindu. É assim. Estamos construindo o nosso caráter, o tempo todo, pela natureza de nossos pensamentos habituais. Se continuarmos repetindo determinadas linhas de pensamento, formaremos hábitos mentais, pois, em certo sentido, nossa personalidade é gerada por nossos hábitos. Mas a Teosofia diz que podemos mudar nossos hábitos e, quando o fazemos, mudamos a nós mesmos. Nós literalmente nos tornamos novas criaturas. Uma das descobertas mais encorajadoras da psicologia moderna é que a pessoa pode formas novos hábitos em qualquer momento da vida. 

O que um homem pensa, ele se torna, e essa é uma parte importante do caminho para a autorredenção, a autocura, a autocorreção, pelo exercício de seus pensamentos. Consiste em uma operação inversa do mesmo processo pelo qual o hábito original foi formado. Se acharmos que temos um mau hábito, que ele está ficando mais forte, que está nos incomodando e que  é um sinal desagradável no ser humano, então há uma maneira pela qual podemos curá-lo. Se é algo sério, como raiva repentina ou irritabilidade aguda, não se concentre no problema, mas no seu oposto. O contrário da raiva é o amor, o domínio próprio, o equilíbrio. Todos os dias você terá que dedicar um quarto de hora. Você precisa pensar neste caso no amor, um amor completamente impessoal, sem pensamento de retorno, de autodomínio e equilíbrio. 'Amor', você deve pensar. Diga a palavra se quiser. Continue e insista até você se sentir pleno com a palavra que você está usando. Dessa forma, você é modificado pela forma-pensamento que você criou.   

O que acontece fisicamente no cérebro e em nosso sistema nervoso à medida que aprendemos um novo hábito ou quebramos um antigo? Quando realizamos um ato, estabelecemos uma espécie de caminho cerebral ou nervoso, levando aos centros motores e à matéria dos corpos astral e mental. Assim, na próxima vez que o impulso ou o desejo da ideia de realizar o ato nos atingir, uma vez que o caminho já está marcado, um impulso ou desejo mais fraco percorrerá o mesmo caminho, levando-nos a agir, realizar o desejo, ou o impulso, ou a ideia. Isso pode continuar indefinidamente até que, conforme repetimos o processo, as células nervosas e a matéria dos corpos astral e mental se tornam tão bem-organizadas e integradas que o comportamento resultante se torna quase automático. 

Por esses processos e pelo pensamento constante ao longo das linhas desejadas, podemos reconstruir nossas personalidades e adicionar qualidades que até agora não eram aparentes. Você pode mudar a si mesmo. No entanto, gostaria de alertar sobre a preocupação excessiva consigo mesmo, com a introspecção mórbida e o interesse excessivo nos próprios estados mentais e emocionais. Em vez disso, pratique o desinteresse, o esquecimento e o serviço."

(Geoffrey Hodson - A Vida do Iniciado - Ed. Teosófica, Brasília, 2021 - p. 56/57)


terça-feira, 25 de janeiro de 2022

O PODER DA PLENA ATENÇÃO

"Como resultado de inovações tecnológicas, o homem moderno desfruta de muitos confortos. No entanto, faltam-lhe paz e harmonia. Há muito estresse e tensão, ganância e luxúria, ódio e crueldade, e tudo isso traz ansiedade, desarmonia e sofrimento. Cada vez mais pessoas são afetadas por neuroses, psicoses e outras doenças. 

A felicidade não está em coisas externas, mas no nosso próprio eu. Todos os problemas humanos têm origem na mente. A purificação da mente leva a uma mudança radical na qualidade de vida. Isso não pode ser obtido por nenhuma ginástica intelectual, estímulos emocionais, dramas religiosos ou drogas. É difícil educar a mente de maneira a perceber o novo. É preciso muita paciência; é preciso estar vigilante e alerta. 

É urgente aprendermos a gerenciar nossa mente de maneira apropriada. A mente fica desorientada porque é constantemente atraída por muitas forças. A pessoa deve analisar suas próprias condições de maneira objetiva e desapaixonada, com o auxílio da meditação, uma ferramenta que abre o caminho para a solução dos mais complexos problemas. 

Estamos sempre buscando fora, até mesmo a nossa alegria, e não procuramos internamente. Raramente examinamos nossos próprios pensamentos, palavras e ações. Permanecemos desconhecidos por nós mesmos. Mas, por meio da auto-observação, podemos obter insights sobre a nossa própria natureza. Isso exige um esforço contínuo.  

Com a mente purificada e equilibrada, podemos perscrutar as profundezas de nós mesmos. Se a mente estiver cheia de pensamentos maus, Patañjali propões preenchê-la com pensamentos opostos. Krishnamurti afirma que devemos desenvolver a percepção constante, uma condição mental 'que considera tudo com a mais completa atenção'. Ele diz que 'a chama da atenção', calcina todas as impurezas. Buda chama isso de 'o fogo da plena atenção'. 

O Dhammapada devota um capítulo à plena atenção, que significa estar desperto, em guarda, jamais ser pego de surpresa. Se a pessoa tiver plena atenção, consegue mudar cada circunstância, palavra, pensamento e ação. A plena atenção avisa se estamos para fazer uma escolha errada. Com a mente protegida pela plena atenção, os sentidos externos não perturbam nossa tranquilidade. 

Buda disse que a única maneira de vencer as impurezas da mente é continuar examinando seu conteúdo repetidamente, para que as tendências más sejam arrancadas e apenas as boas tendências floresçam. Por meio da percepção constante, sabemos que a mente prega peças devastadoras. A plena atenção, portanto, é essencial.

A purificação deve ocorrer em toda a mente, nos níveis conscientes e inconscientes. Nosso esforço deve alcançar as profundezas da mente inconsciente. Devemos adotar uma técnica de meditação que nos leve aos níveis profundos onde estão as camadas de impurezas. Alguns métodos de meditação funcionam apenas no nível superficial; embora possam trazer paz e calma, a real purificação da mente não ocorre.

Aqueles que conquistaram o domínio sobre a mente 'consciente' e 'inconsciente' conseguem alcançar o estado 'superconsciente', o estado mais puro, que é comunhão com o Atman (Espírito universal). Tudo o que precisamos é um desejo ardente e um esforço incansável para nos transformar."        

(V. V. Chalam - O poder da plena atenção  - Revista Sophia, Ano 15, nª 70 - p. 15)
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