OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


Mostrando postagens com marcador libertação. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador libertação. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 8 de outubro de 2024

O CÉU ESTÁ À ESPERA

"Morte não é aniquilação. É um estado de relaxamento passivo, involuntário, provocado por acidente, doença ou tristeza. A interrupção forçosa e permanente do fluxo vital do corpo costuma ser chamada de 'morte' ou fim definitivo da vida. Na verdade, trata-se apenas de uma fase passageira - não é de modo algum o fim, apenas a passagem da esfera das coisas feias e mutáveis para o reino da felicidade infinita, das luzes multicoloridas.

Por que não aprender o método pelo qual poderá desligar a corrente vital do corpo inteiro, recorrendo à força de vontade e à meditação para libertar a alma da servidão da morte? Assim como a eletricidade não morre quando a lâmpada se queima, assim nosso eu verdadeiro não é destruído pela morte: apenas mergulha no Eu Onipresente, infinito.

Nossa percepção do mundo ocorre por intermédio dos cinco sentidos: paladar, tato, olfato, audição e visão. O paraíso é experimentado através da intuição. Por isso é necessário meditar profunda e frequentemente, uma vez que, graças a esse ato, desenvolvemos o sexto sentido, a intuição. Não somos carne; somos Espírito.

Há um céu à nossa espera e a única maneira de chegar lá é pelo aprimoramento da intuição, meditando e orando intensamente."

Paramhansa Yogananda, Karma e Reencarnação, Ed. Pensamento-Cultrix Ltda, 2009, p. 72/73.
Imagem: Pinterest.

 

quinta-feira, 20 de junho de 2024

LIBERTAÇÃO

"O fim da longa estrada para a libertação é o coração do próprio homem. Se ele ao menos soubesse que ele e a senda são um! Quando do animal ele se torna uma alma, o mistério da consumação final está entretecido em tudo o que ele pensa, sente e faz, mesmo em seu primitivo estágio como selvagem. Pois ser uma alma significa que cada dia ele se aproxima mais da Libertação, como resultado do seu esforço.

O esforço para a Libertação é mostrado no instinto da criação que está em todos os homens. Mesmo o selvagem deseja simbolizar algo estranho ou assustador, algo novo. O homem civilizado é sempre um criador com seus sentimentos, pensamentos e ações. Pois, à medida que a alma evolui estágio a estágio, ela se torna um cadinho mais das energias da vida; torna-se o solo para nutrir as sementes da maravilha divina. Cada faculdade que ele aperfeiçoa é o ventre onde está crescendo uma criança cujos lábios transmitirão uma mensagem de salvação. Até que o ventre expila aquilo que nutriu, a alma fica inquieta e ansiosa. A dor termina quando a criança nasce, e a imaginação pode colocar-se à parte de sua criação. Onde o maior número está empenhado na criação, aí está a melhor civilização.

Quando a alma se liberta da servidão do desejo, a libertação está próxima. Essa libertação começa quando ela dedica seus dons à criação. Algo novo deve ser acrescentado dos recessos da alma à vida comum dos homens. Uma alma criará um hino, um discurso, um poema; outros criarão com pintura e escultura, com arquitetura e música, com dança e canção. A alma anseia e suspira por criar algo grande e nobre; coração e mente são levados a ações de oferecimento. O tamanho não importa; uma pequena ação amorosa, mesmo que seja um sorriso amistoso, contém a mesma grandeza que o dom da própria vida. A piedade que o amor envia conduz então à criação, e a alma não consegue repousar até que grandes planos de regeneração social sejam realizados, e consequentemente as misérias do homem sejam diminuídas. A alegria que a vida envia conduz à criação, e a alma deve simbolizar algo belo para inspirar os homens. A paz que a sabedoria envia leva à criação, e a alma deve abrir novas sendas para homens com novas filosofias e ciências. Ninguém consegue trilhar a senda para a Libertação até que saiba como criar. Pois Libertação significa que os muitos tornam-se o Um, e somente treinando cada faculdade do espírito, para criar em cada plano de vida, consegue o homem, a unidade, entender sua misteriosa identificação com o Todo. 

Como a alma irá criar? - Você pergunta. Mas o propósito da vida, quando a alma está liberta do desejo, é ensinar a arte da criação. Cada grito de dor, quando sob a escravidão do desejo, tem em si, em algum lugar, um elemento de sabedoria ou beleza para outrem. Quando a alma é livre, ela vê a mensagem para os outros em sua própria dor. Embora o homem jamais consiga salvar a si próprio, contudo ele sempre pode salvar outros. A mensagem oculta de cada dor é que o destino do homem é ser um salvador do mundo."

C. Jinarajadasa, Libertação, Editora Teosófica, Brasília, 2022, p. 55/58.
Imagem: Pinterest.


quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

OS ANJOS SÃO FEITOS NA TERRA, NÃO NO CÉU

"Não conte com a morte para livrar-se das imperfeições. Após a morte, você permanece exatamente igual ao que era antes. Nada muda, você só abandona o corpo. Se for ladrão, mentiroso ou trapaceiro antes de morrer, não vai se tornar um anjo pelo simples fato de ter morrido. Se isso fosse possível, então vamos todos sair daqui, nos atirar no mar agora e virar anjos imediatamente! Aquilo que você foi até agora é o que será no além. E, quando reencarnar, virá com as mesmas características. Para mudar, terá de fazer um esforço, e este mundo é o lugar adequado para isso. O homem vem para cá com o único propósito de aprender a cortar as cordas que amarram sua alma. Doença, fracasso, negação, cobiça, ciúme - acabe com isso agora. Você está num casulo de seus próprios maus hábitos, e dele deve sair por intermédio do auto esforço. A borboleta da alma precisa se libertar para poder abrir suas asas de belas qualidades divinas. Se o bicho-da-seda ainda estiver no casulo quando o sericultor vier, ficará preso na própria armadilha e ali morrerá. Assim, você tece os fios de seda dos maus hábitos ao seu redor, e morre emaranhado neles.

Até o último dia de vida, seja positivo e tente ser alegre. Mesmo quando estiver no fim, não pense: 'Estou acabado'. Em vez de ter pena de si mesmo, pense: 'Ó vós que ainda jazeis abandonados nestas praias desoladas a lamentar e chorar; sou eu que se compadece de vós'. A morte não lhe causará problemas se você tiver a consciência limpa e partir com este pensamento: 'Senhor, estou em Tuas mãos'."

Texto de Paramahansa Yogananda, extraído do livro "Romance com Deus, da Self-Realization Fellowship, p.56/57.
Imagem: Pinterest.

terça-feira, 25 de outubro de 2022

FRUTOS DA AÇÃO

"2:47  O agir (nesta esfera de vibração) é um dever, mas que o teu ego não cobice os frutos da ação. Não te apegues nem à ação nem à inação.

"Sejamos como uma cotovia divina, que canta por prazer sem tentar impressionar nem obter coisa alguma de ninguém. Os que agem movidos pelo ego são enredados na teia de maya. O universo passou a existir graças ao poder da Vibração Cósmica, o grande som de AUM. Enquanto a pessoa vive na esfera da manifestação e não se abisma no Espirito, acha impossível não agir de alguma maneira. O importante é agir corretamente.

Para atingir a consciência divina, é necessário desapegar-se da ideia do 'eu' e do 'meu'. A consciência infinita parece finita no ego, como no átomo. Mas isso não passa de aparência. O átomo não pode impedir-se de girar em sua realidade minúscula, mas o ego, por ser consciente, pode aspirar a livrar-se da manifestação vibratória. Como escreveu Patanjali, 'Yogas chitta vritti nirodha' ('O Yoga é a neutralização dos redemoinhos de paixão na consciência'). O dever espiritual de todo ego é interromper o movimento que gera libertando-se de pensamentos 'redemoinhantes' como 'O que quer que eu faça, faço-o em beneficio próprio!' Ser escravo da ilusão nada mais é que referir constantemente aquilo que se faz (ou pensa, ou goza, ou sofre) ao próprio eu. Não só a ação, mas também todos os prazeres do mundo e os padecimentos, são contaminados pela ideia: 'Sou eu quem faz, sou eu quem goza, sou eu quem sofre.' E depois pela pergunta indignada: 'Mas por que sou eu o sofredor?'

A solução não é impedir-se de agir. Algumas pessoas - eremitas, por exemplo - pensam evoluir espiritualmente sem nada fazer. Essa ideia é outra ilusão. Se temos de respirar, pensar e andar, como haveremos de ficar realmente inativos? O yogue que se senta imóvel e com o fôlego contido em samadhi já é outra coisa. Para ir além da ação, precisamos mesclar nossa consciência ao Som Cósmico de AUM, permitindo-lhe agir em nós e a volta de nós até nos confundirmos com essa vibração infinita e depois, ultrapassando-a, nos diluirmos na serena consciência do Espirito Supremo. Mas, na medida em que formos conscientes de nosso corpo, apenas nos ludibriaremos caso tentemos alcançar o estado de inação sem agir. Seremos apenas preguiçosos embotados!

Para chegar a Deus, é necessário primeiro agir sem motivos egoístas: por Deus, não por recompensa pessoal. Com efeito, cumpre estarmos sempre ativos a serviço de Deus para desenvolver essa percepção aguçada que, só ela, nos alça à supraconsciência. Os ociosos não encontrarão Deus!

No entanto, em tudo o que fizermos, convém ter em mente que Deus atua por nosso intermédio. Lave o corpo, alimente-o, dê-lhe descanso - faça o que for preciso para mantê-lo saudável e cheio de energia -, mas pense sempre: 'É a Deus que estou servindo por meio desse instrumento físico.' Até o gozo de um prato saboroso, de uma bela paisagem e das outras boas coisas da vida tem de ser ofertado a Deus. Partilhe esses momentos com Deus em vez de privar-se deles. O que se deve pôr de lado são os pensamentos 'Estou fazendo', 'Estou desfrutando'" e mesmo 'Sou eu quem sofre'.

Também na meditação é importante não levar em conta resultados. A fim de eliminar a tensão e o esforço que sobrevém quando tentamos nos concentrar, eliminemos antes o pensamento 'Estou meditando'. Pensemos, de preferência: 'A Vibração Cósmica está reafirmando, através de mim, sua realidade. Através de mim, o amor cósmico anseia pelo amor de Deus. Através de mim a alegria cósmica se rejubila em nosso Infinito Bem-amado'".

(Paramahansa Yogananda - A Yoga do Bhagavad Gita - Self-Realization Fellowship - p. 113/114)
Imagem: Pinterest.


terça-feira, 13 de setembro de 2022

CURATIVOS DA ALMA

"Algumas dores podem ajudar a curar feridas da alma Os véus físicos não impedem que o invisível, de alguma forma, se manifeste. 

Sábios sugerem: cure sua mente e seu corpo ficará curado. Sua alma se sentirá mais livre para atuar e servir através do veículo físico. 

Tudo no universo é regido por leis eternas e imutáveis. Mesmo que não as conheçamos, elas atuam. Conhecer é o primeiro passo para a libertação. 

Dizem-nos para ter paciência e que 'o tempo de lá (no mundo 'espiritual) é diferente do tempo daqui.' Estamos imersos no Eterno e a mão divina nos acolhe sem restrições. 

O medo é inimigo do real. 

Pode surgir a pergunta: Depois de tanto tempo convivendo com você mesmo, o que de mais importante você aprendeu a seu respeito? Podemos tentar responder, sem crítica, sem controle, sem julgamento.

Por que existem tantas cercas à nossa volta? Qual o motivo e o sentido de tanta separatividade? As vezes é preciso aparecer um palhaço ou uma criança para revelar que o rei está nu. 

Vejam essa surpreendente e reveladora história que me contaram: uma criança chega ao Rio e, depois de caminhar por algumas ruas, pergunta: 

- Vovó, por que existem tantas prisões? 

- Como assim!? Reagiu a avó.

- Eh, vovó! Por que todas essas grades na frente das casas e dos edifícios.

A avó tomou um susto, respirou fundo, apertou a mãozinha do neto e o convidou a tomar um sorvete ali perto, protegidos pelo olhar vigilante do segurança da rua.

Existem as grades internas e as externas. Como retirar o cadeado das portas de nossa alma? Parte da cura pode depender desse nosso gesto.

Podemos.

Vamos!"

(Fernando Mansur - O Catador de Histórias - Ed. Teosófica, Brasília, 2018 - p. 91)
Imagem: Pinterest.


terça-feira, 19 de abril de 2022

O VALOR DO PERDÃO (PARTE FINAL)

"(...) O discernimento é necessário no perdão, como em todas as situações da vida. Ao perdoar não preciso concordar nem apoiar o comportamento prejudicial ou antissocial do outro. O perdão é uma atitude interior e não um ato externo, muitas vezes teatral. O objetivo do perdão não é mostrar que temos uma natureza superior e magnânima. Tampouco tem o propósito de mudar ou envergonhar o outro, mas simplesmente mudar nossa maneira de ver o mundo e, com isso, mudar os pensamentos negativos ou de discórdia que nutrimos em nossa mente. Dessa forma, alcançamos seu verdadeiro propósito que é trazer paz para nossa mente, abrir caminho para o amor incondicional e permitir que venhamos sentir a verdadeira alegria de nos livrarmos dos venenos do passado. 

O perdão é especialmente importante no seio da família. É entre aqueles que mais amamos que ocorrem mais ocasiões para sofrimento: palavras inapropriadas em momentos de estresse, descuidos com as suscetibilidades de cada um dos nossos familiares, esquecimentos de datas, ocasiões especiais, promessas esquecidas, expectativas não alcançadas, enfim, toda gama de situações em que magoamos nossos familiares e somos magoados por eles. Nesse sentido, a família é realmente um lugar fundamental para o exercício do perdão. Em uma recente homilia, o Papa Francisco disse:

'Não existe família perfeita. Não temos pais perfeitos, não somos perfeitos, não nos casamos com uma pessoa perfeita nem temos filhos perfeitos. Decepcionamos uns aos outros. Por isso não há casamento saudável nem família saudável sem o exercício do perdão. O perdão é vital para nossa saúde emocional e sobrevivência espiritual. Sem perdão a família se torna uma arena de conflitos e um reduto de mágoas. Quem não perdoa não tem paz na alma nem comunhão com Deus. A mágoa é um veneno que intoxica e mata. Guardar mágoa no coração é um gesto autodestrutivo. É autofagia. Quem não perdoa adoece física, emocional e espiritualmente. É por isso que a família precisa ser lugar de vida e não de morte; território de cura e não de adoecimento; palco de perdão e não de culpa. O perdão traz  alegria onde a mágoa produziu tristeza, cura, onde a mágoa causou doença.'

O perdão só será completo em nossas vidas quando conseguirmos perdoar inteiramente nossos pais. Muitas pessoas, mesmo em sua vida adulta, guardam ressentimentos de certas atitudes do pai ou da mãe, ou de ambos. Mesmo que nossos pais tenham sido amorosos conosco, ainda assim, é provável que nosso relacionamento com eles, em nossa tenra infância, tenha deixado marcas psicológicas profundas que nos acompanham pelo resto de nossas vidas. Para nos libertarmos de nossos traumas de infância, precisamos perdoar aqueles que julgamos 'culpados' pelos problemas de nossas vidas. Vale lembrar que, se tivermos a possibilidade de conhecer as circunstâncias da infância de nossos pais, vamos verificar que eles provavelmente repetiram conosco o tratamento que receberam dos pais deles, nossos AVÓS.

Esse entendimento, de que as pessoas tendem a repetir ou repelir o que vivenciaram no passado, é importante para aprendermos a extensão de como somos prisioneiros do passado. A libertação da culpa, ou do medo, que é o outro lado da culpa, facilitará nosso entendimento de que para alcançar a paz e a felicidade precisamos nos libertar do passado.²¹ Um futuro melhor só pode ser construído no presente. Mas, para isso, teremos que estar conscientes do presente, em vez da usual aceitação de que o presente é uma continuação automática do passado e que o futuro será a mesma coisa, ou seja, uma prisão eterna.

O perdão é uma mudança de atitude interior. Para isso precisamos estar convencidos de que podemos mudar. Toda mudança começa com uma decisão interior, com o pensamento de que deve haver uma alternativa e que podemos escolher essa alternativa. Com isso assumimos a responsabilidade por nossa vida em vez de esperar que nossos problemas sejam resolvidos por uma fonte externa, seja ela o nosso companheiro/a, o governo ou Deus."

²¹ KRISHNAMJURTI, J. Liberte-se do Passado. São Paulo: Ed. Cultrix.

(Raul Branco - A Essência da Vida Espiritual - Ed. Teosófica, Brasília, 2018 - p. 87/89)
Imagem: Pinterest.


quinta-feira, 7 de abril de 2022

A MENTE APRENDIZ

"Toda ação pode ser realizada de maneira egoísta ou não. O ego não está na ação, mas na maneira como a abordamos. Minha casa não cria o ego em mim; minha abordagem a ela, sim. Estou criando o ego de momento a momento, e devo perguntar se está claro que o ego é o maior inimigo do homem, um fator de discórdia na vida. A busca religiosa, ou o caminho, significa observar a operação do ego na consciência, assim como suas consequências. Quando vejo o perigo, ele termina. Não tenho que acabar com ele, assim como não tenho que resistir ao desejo de colocar a mão no fogo. Não há conflito quando o perigo é percebido com clareza, mas nós não compreendemos o perigo do egocentrismo. Acreditamos que o egoísmo nos benefici
ará, quando na verdade ele destrói a alegria em nossa vida.

Toda virtude pode se transformar num vício, se o ego se aliar a ela. O amor com ego torna-se possessividade; um inocente anseio torna-se compulsão; a humildade torna-se servilismo. Nosso verdadeiro inimigo é o ego.  Mas, exatamente porque o criamos, temos a possibilidade de 'descriá-lo'. Podemos parar de criar ilusões em nossa mente. Por isso existe a busca religiosa, a filosofia da libertação da mente.

Os Upanishades falam de dois pássaros numa árvore: o primeiro belisca e prova o fruto, representando o ego que experimenta prazer e dor. O segundo apenas observa o que o outro faz. A consciência humana é esses dois pássaros em um. O primeiro está no plano do esforço, da luta, da frustração, do conhecimento. A verdadeira transformação da consciência, a percepção da verdade, está no outro plano: observação, atenção, reflexão, percepção. Permanecer atento, sem jamais bloquear a energia do segundo plano, é a exigência do caminho. A investigação religiosa deve ser livre do ego. E o fim do ego não está no final da estrado - está no início. 'Quando o ego não está, o amor está', disse Krishnamurti. 

Às vezes, quando abordamos as coisas de modo não egoísta, o ego não está presente; não o estamos criando o tempo todo. Ele não pode desaparecer pelo esforço, porque esforço implica realização, e essa é a essência do ego. Se estou praticando yoga ou meditação através de esforço, o ego está preso a isso. Ele pode gostar de seguir adiante no caminho. Portanto, não há caminho para pôr fim ao ego. Somente a percepção acabará com ele, e isso requer uma mente aprendiz. 

A mente aprendiz sabe que não sabe. Se ela pensa que já sabe e que deve convencer os outros de seu ponto de vista, ela não está aprendendo, está ocupada ensinando. Pode não haver algo como ensino ou guru nesse campo. Pode haver apenas aprendizado. A humildade que surge da percepção de que 'eu não sei' é parte essencial da mente aprendiz, que ouve, observa e reflete, porque está ansiosa por aprender. Portanto, o caminho tem origem no terreno do não saber. Não é um caminho rumo a uma meta fixa, porque eu não conheço a meta. Ele leva ao desconhecido. Devo apenas limpar as teias de aranha, eliminar as distorções da mente e ver a verdade. 

A questão não é se existe um caminho ou não. Uma opinião sobre isso apenas nos dividirá. Devemos compreender por nós mesmos quais são as implicações, as nuances, as sutilezas, a verdade. Devemos permanecer com essa questão para aprender com ela, sem formar opiniões. Talvez haja um caminho, se eu o compreendo de maneira correta; contudo, talvez não haja, se eu o defino de maneira superficial, como algo a ser trilhado no tempo, como uma meta a ser atingida.

O problema não é no que eu acredito ou não; isso é superficialidade. O problema não é alguém ser budista, cristão ou hindu, ser superficialmente budista, hindu ou teosofista. Um dos objetivos da Sociedade Teosófica é a fraternidade universal - será isso apenas uma nobre ideia, uma crença, ou a verdade? Estará a divisão entre os seres humanos surgindo da ilusão? Crenças e ideais não são fato. A fraternidade universal não é um ideal a ser atingido, e um fato a ser percebido. Enquanto não o percebermos por nós mesmos, decidir ser fraternos torna-se hipocrisia. É como decidir amar; não é questão de escolha. Você não consegue transformar sua consciência através da volição; portanto, não existe um caminho mecânico que você pode decidir trilhar. A não ser que a mente seja uma mente aprendiz, não  base para o caminho.  

O caminho é muito sutil, e aí reside também a sua beleza - um desafio para o ser humano. O animal não é capaz de atingi-lo, nem o caminho exige isso, mas na consciência humana há enorme potencial para ser egoísta e destrutivo. É por isso que toda a questão do que é o correto viver e do que é moral ou imoral surge apenas para os seres humanos. A busca religiosa, significa descobrir o estado de harmonia com a ordem da natureza. Somos parte dela, que tem uma ordem tremenda. Essa ordem deve ampliar dentro de nossa consciência; devemos aprender a dar fim à desordem na consciência. Então haverá uma ordem que não é criada por mim - a ordem da natureza."

(P. Krishna - Um caminho para a verdade - Revista Sophia, Ano 15, nº 65 - p. 24/25)
Imagem: Pinterest.


quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

A MORTE DO MEDO

"Do que sentimos medo? É mesmo medo o que sentem os animais quando ameaçados? Ou é uma reação pós-ansiedade, receio do desconhecido ou reação a algum trauma? Existem muitas formas de manifestar o medo; poderíamos citar uma dezenas delas. A ignorância gera medo, assim como as histórias que acabaram em infortúnio. Mas uma coisa é certa: em todos os casos de medo, enquanto eles existem, decerto nada ainda ocorreu. 

A morte é um dos grandes motivos por trás do medo, como também o nosso futuro instável. Há o medo do sofrimento, da dor física, do descaso - e o medo de ser esquecido, que é uma consequência da morte. Não queremos ser esquecidos, pois quem é esquecido morre para a existência. Algumas etnias indígenas, como a dos índios xavante, evitam falar sobre quem morreu, queimam todos os bens de quem se vai, raspam a cabeça em luto e prosseguem com a vida. O legado não fica no nome, mas na continuidade pelos herdeiros, a tradição, a alma, ou o verdadeiro eu, que se transforma em um antepassado, um espírito conselheiro que se manifesta pelas forças da natureza e pelos sonhos.

Na maioria das culturas existe algum tipo de pós-vida, uma morada espiritual, paraíso, totalidade, umbral, inferno, xeol, tártaro, trevas ou castigo. Existe algum tipo de julgamento da alma ou uma consequência dos atos em vida. Mesmo entre os ateus há a crença na dissolução completa da consciência, ou seja, alguma coisa se extingue. Chamemos ou não de alma, o ser corpóreo é veículo de uma inexplicável existência consciente. As religiões, em grande parte, realizam cultos para os mortos, os antepassados, cultos sobre a transição da consciência e reverências à memória, que é uma forma de identificar a personalidade de quem partiu.

O apego a quem amamos gera sofrimento, pela dor da partida ou pelo nosso próprio ego, que não quer sofrer com a ausência. Temos medo do que virá, e, por isso, permanecemos em um sofrer alimentado pela memória e pelo inconformismo, e nos esforçamos para continuar com a verdade inevitável. Não somos educados para morrer ou conhecer a finitude, nem para lidar com o nosso próprio fim. Por isso também os sábios, os santos e as religiões nos falam da importância da alma, ou de quem realmente somos. Não somos um corpo tendo uma vida espiritual; somos um espírito tendo uma vida material - essa máxima pode mudar todo o entendimento, as possibilidades e a perspectiva da vida. 

É imprescindível buscar o significado da vida em face da consciência, das possibilidade de compreender a morte não mais como o fim, mas como uma mudança de paradigma. Os estudos sobre a consciência argumentam que a morte é apenas uma mudança de realidade eletromagnética. Pessoas que tiveram experiências de morte clínica e retornaram relatam fatos semelhantes: encontro com consciências luminosas, personalidades divinas que os questionam sobre o significado de suas vidas. Como consequência, essas pessoas mudaram completamente sua vida, procurando dar um significado mais elevado a suas relações, transformando suas perspectivas e dando fim ao medo.

De certa forma, muitos de nós já vivem no esquecimento, perdendo-se na autocomiseração, ignorando o verdadeiro eu, que não é nosso ego ou a imagem com a qual nos identificamos. Poderia-se até dizer que existe uma forma de morte em vida. Tememos coisas que são transitórias: o que temos, o que poderíamos ter ou o que podemos vir a perder. Em todas as situações, o universo de possibilidade que criamos está em nossa mente, e é em nossa mente que tudo acontece (e talvez parte do que ocorre após a existência material). (...)

A morte do medo em face da vida acontece quando o altruísmo, a benevolência e a preocupação com o próximo se evidenciam como prática contínua de nosso despertar. É claro que outros tipos de medo, como aquele que nos protege quando estamos em perigo, ou o que nos previne contra acidentes, são mais uma forma de bom senso, um tipo de firewall em nosso programa humano. Um despertar da ignorância sobre a jornada da vida, por meio da aceitação pacífica e não passiva de nossas experiências, pode realmente ser uma experiência transcendental e luminosa. Não deixaríamos todos os medos de lado ainda que fôssemos iluminados, mas o produto de nossas ações já não seria a finitude do ser, e sim o despertar do eu. 

Como mostra o Budismo, a morte é uma consequência natural que faz parte das possibilidades de libertação da consciência, o fim dos ciclos de encarnação, que requer de nós, em vida, o despertar, o entendimento, a prática das virtudes que nos liberam do apego e do sofrimento. A bondade é o manto que encobre a mente com a insensatez dos que entram no fogo para salvar a vida de um simples animal e que saem sem sequer uma queimadura, pois não é a razão que está no comando, mas a alma, governando a vontade; 'e, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?' (1 Coríntios 15:54,55.)

O destemor requer de nós a vontade e a atitude de enxergar o lado de dentro antes do lado de fora, de atravessar o rio ou a rua, de falar sem receio de não ser aceito. Esse receio gera desconforto emocional, o que acontece entre os jovens dos dias de hoje, que se abrigam entre os que se sentem da mesma forma, com movimentos que neutralizam a alma com rótulos, ao invés de libertá-la. Em grande parte das vezes, vencer o medo não tem muito a ver com o entusiasmo ou coragem, mas com vencer a si mesmo. 

'E disse ao homem: eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência.' (Jó 28:28.) É preciso entendimento e sabedoria; nem todo medo ou temor representa pânico, mas uma forma de respeito ou reverência, como neste trecho de poema: 'Eu respeito aquilo que temo; a grande montanha, o mar e a morte, a vida, o silêncio de Deus e minha verdadeira face longe do espelho e do jogo da sorte.'"

(Maurício de Andrade - A morte do medo - Revista Sophia, Ano 14, nº 63 - p. 8/11)


quinta-feira, 18 de novembro de 2021

A ENTREGA A DEUS (1ª PARTE)

"A pessoa madura é consciente de que deve assumir a responsabilidade por construir a sua vida, sem sonhar e esperar que seus problemas sejam resolvidos por uma fonte externa. No entanto, um dos pilares da vida espiritual é a entrega a Deus. Será que estamos diante de mais um paradoxo da vida oculta? Esse não é o caso. As duas proposições são verdadeiras concomitantemente, pois Deus não é uma fonte externa, mas sim o âmago de nossa natureza interior. Na verdade somos uma expressão de Cristo, somos o Filho de Deus, mas a maior parte da humanidade ainda não tem consciência desta verdade profunda e eterna. 

Nosso progresso na Senda espiritual torna-se acelerado quando fazemos uma sincera entrega a Deus ou, como alguns estudiosos preferem dizer, uma entrega à nossa natureza divina. Com isso transferimos o centro de decisões de nossa vida, do ego, com suas limitações de todos os tipos, para nossa natureza superior, com seu amor, sabedoria e total comprometimento com nossa felicidade última. Com isso estaremos desativando o atual agente controlador de nossa vida, que não busca o nosso verdadeiro interesse, e entregando o controle para nosso Pai/Mãe Celestial, cujo propósito é a nossa libertação do sofrimento e Iluminação, ou seja, o nosso 'passaporte' para que, como filhos pródigos que somos, possamos retornar par a Casa do Pai.

Quando realmente nos entregamos a Deus sentimos que não estamos mais sozinhos. Passamos a ter acesso a toda a sabedoria e poder que SERÃO NECESSÁRIOS para superarmos as dificuldades e os desafios que todo aspirante enfrenta no caminho que leva à Verdade que nos liberta. Vista sob outro ângulo, a entrega a Deus acelera nosso progresso na Senda, justamente porque o objetivo da vida espiritual é alcançar a consciência da unidade com Deus. 

Sabemos, por experiência própria, que tudo conspira contra as mudanças necessárias na vida espiritual. As tentações vivem nos fazendo tropeçar. Os apegos dificultam nosso progresso. O ego usa de mil artimanhas para garantir a manutenção do status-quo, sendo uma das mais importantes, no mundo cristão, a crença errônea de que somos 'vis pecadores'. Essas dificuldades afetam buscadores novatos e avançados indistintamente, como indica a famosa passagem do Apóstolo Paulo:

'Eu sei que o bem não mora em mim, isto é, na minha carne. Pois o querer o bem está ao meu alcance; não, porém, o praticá-lo. Com efeito, não faço o bem que eu quero, mas pratico o mal que não quero. Ora, se eu faço o que não quero, já não sou eu que estou agindo, e sim o pecado (o ego) que habita em mim'.

Esse impasse também foi aludido por Jesus no Sermão da Montanha quando ele declarou: 'Ninguém pode servir a dois Senhores'. Temos que decidir se queremos tomar o caminho que nos levará às alturas espirituais ou permanecer nos vales sombrios deste mundo de ilusões, sofrendo sob o jugo do ego. Neste caso permaneceremos sujeitos às inesperadas virados do destino com suas amargas surpresas e desilusões. Nossas experiências são equiparadas a sonhos. Esses sonhos são de nossa criação. Como eles são a nossa percepção errônea da realidade, podemos mudá-los a qualquer momento. Temos o poder de criar o inferno e o poder de criar o céu. Por que não usar a nossa mente, nossa imaginação, nossas emoções e nossa determinação para criar o céu? Com isso passamos a perceber a paz, o amor e a alegria à nossa volta em tudo e em todos.(...)" ...continua.

(Raul Branco - A Essência da Vida Espiritual - Ed. Teosófica, Brasília, 2018 - p. 99/101)


quinta-feira, 22 de julho de 2021

VIRAR A PÁGINA

"Precisamos estabelecer projetos de vida que sejam passíveis de realização.

Algumas pessoas têm pena de si mesmas. Elas contam, com riquezas de detalhes, episódios tristes e dolorosos de suas vidas, guardados como se fossem recordações dignas de um álbum. Lamentáveis não são as situações sofridas, porque sofrimentos todos nós vivemos, mas as dificuldades que essas pessoas apresentam em superar os traumas sofridos e deixá-los no passado. É triste que algumas pessoas se disponham a viver colecionando dores e, principalmente, rancores e amarguras. Tais lembranças só servem para aumentar o peso da existência. Seria muito melhor que fizessem um esforço para virar a página e deixar o passado se desfazer na poeira do tempo.

O maior perigo destas atitudes reside no fato de que toda a vida da pessoa fica contaminada pelos acontecimentos antigos, e tudo que acontece é avaliado como repetição do passado. As pessoas que foram traídas passam a esperar de cada pessoa que delas se aproxima uma nova traição. Aqueles que foram agredidos veem uma agressão a cada nova situação, e assim por diante. Além disso, quando cultivamos a pena de nós mesmos, estamos nos colocando em uma situação de fragilidade e inferioridade. 

É preferível tentarmos esquecer o passado e nos esforçarmos para conseguirmos nos libertar dos sentimentos negativos. Devemos aprender quais são os nossos ideais e lutar para conquistá-los, Mas ainda, precisamos estabelecer projetos de vida que sejam passíveis de realização e nos ligarmos neles e em sua execução. Isto é muito mais positivo do que ficarmos vitimados por infortúnios passados, negando a possibilidade de conquistar a felicidade."

(Luiz Alberto Py - Olhar Acima do Horizonte - Ed. Rocco Ltda., Rio de Janeiro, 2002 - p. 56/57)


quinta-feira, 17 de junho de 2021

CONTEMPLAR AS FALHAS DA INDOLÊNCIA NESTA VIDA

"Shantideva, agora dirige-se à mente governada pela indolência e a castiga severamente como segue:

[4-5] Assim como os cervos e pássaros capturados na armadilha de um caçador serão finalmente mortos; sob a influência da delusão, os seres estão emaranhados na rede do samsara. Não vês que, no passado, todos os seres sencientes foram devorados pelo Senhor da Morte e que tu também terás o mesmo fim? Indiferente à idade, ao estado de saúde ou a qualquer outra consideração, o Senhor da Morte massacra sistematicamente todos aqueles ao teu redor. Se entendes isso, por que não praticas o Darma, em vez de perseguir desejos mundanos e entregar-se ao sono? (...)

Conforme diz Shantideva, como podemos continuar envolvidos em atividades sem sentido, quando a morte está se aproximando furtivamente de nós? [6] Embora o Senhor da Morte esteja tentando nos matar e impedir nossa viagem pelo caminho que leva à cidade da libertação, não sentimos medo e continuamos viciados nos apegos mesquinhos e nos prazeres de dormir e de comer. [7] Em breve, a hora da morte chegará e, então, será tarde demais para abandonarmos a preguiça. Devemos acordar desse estupor indolente e praticar o Darma agora mesmo!

[8] Nossa vida está repleta de tarefas que impomos a nós mesmos; algumas nem foram começadas, outras acabam de ser iniciadas e outras foram parcialmente concluídas. No entanto, qualquer que seja o estado dos nosso assuntos mundamos, a morte descerá sobre nós subitamente. Completamente despreparados, ficaremos aterrorizados e será tarde demais para nos arrepender. Pensem no que acontecerá quando a morte finalmente chegar. Estaremos repletos de ansiedade. [9] Haverá muito choro quando nossos familiares, ao redor do nosso leito de morte, perderem qualquer esperança de nos ver recuperados. [10] Visões apavorantes, um reflexo da nossa não virtude do passado, vão aparecer diante de nós, e ficaremos envoltos em um sentimento de profunda melancolia. (...) A morte chegará um dia sem sombra de dúvida e, se nada fizermos para livrar nossa mente da delusão, ela será tão temível qanto o que foi descrito. Portanto, precisamos superar a indolência e começar nossa prática de Darma imediatamente."

(Geshe Kelsang Gyatso - Contemplações Significativas - Ed. Tharpa Brasil, 2009 - p. 275/276)


terça-feira, 19 de janeiro de 2021

A VERDADEIRA RELIGIÃO

"O sofrimento existe desde tempos imemoriais, sob a forma de pobreza, ignorância, solidão, falta de amor, etc. Haverá um estado de sabedoria na qual a humanidade possa ser feliz? Em todas as eras, pessoas profundamente religiosas inquiriram a respeito disso.

As instituições e os sistemas religiosos enfatizam rituais, formas de adoração e obediência ao clero, muitas vezes ignorando os verdadeiros valores da religião. No entanto, todo instrutor religioso genuíno foi um reformador, libertando as mentes ignorantes das práticas convencionais rígidas e inspirando-as a inquirir a respeito do mistério da vida, seu propósito e significado. 

A religião, no seu verdadeiro sentido, deve libertar as pessoas da superstição e do sofrimento, e não escravizá-las com ideias prontas e hierarquias. Ao retirar das religiões os dogmas e as supertições e atingir o âmago de seus ensinamentos, constata-se que a essência é o amor universal, baseado no conhecimento de que a vida é indivisível.

As religiões não devem ser aceitas como são apenas porque essa é a atitude mais fácil; elas devem ser examinadas criticamente para avaliarmos se criam inimizades e conflitos ou se unem as pessoas com abordagens de tolerância e boa vontade. Ajoelhar-se ou permanecer de pé para orar, cobrir ou não a cabeça são questões individuais que nada têm a ver com a verdadeira religiosidade.

O ser humano se caracteriza pelo desejo de compreender a vida. Se apenas comesse, dormisse e se multiplicasse, mal poderia ser chamado de humano, já que todas as criaturas fazem isso. A mente se estagnaria se ninguém tivesso o ímpeto de penetrar nas profundezas do significado da existência do homem e do universo. Felizmente sempre existiram corações desbravadores que buscaram a verdade, mesmo quando perseguidos e queimados na fogueira. 

Atualmente os mais graves problemas do planeta são os conflitos armados e a destruição do meio ambiente. Simultaneamente ao progresso da ciência, desenvolveu-se uma atitude de conquista, controle e exploração da natureza. A humanidade chegou ao ponto de 'brincar de Deus' para usar a frase de Jeremy Rifkin. Mas a ciência também está compreendendo que quanto mais o universo é explorado, maior se torna a dimensão desconhecida, não apenas no nível material, mas também nos campos sutis do espirito. Por trás de tudo que está manifestado e perceptível existe o intangível e o inexplicável. Grandes espíritos que experienciaram o mistério do desconhecido, como Einstein, puderam compreender a reverência que exala da mente religiosa.

Segundo os taoístas, o Tao (o Supremo) não pode ser ouvido; o que pode ser ouvido não é o Tao. O Tao não pode ser visto; o que pode ser visto não é o Tao. Os Upanishads e outras escrituras dizem o mesmo: existe uma dimensão de existência que está além do nosso alcance. Nunca vamos conhecê-la plenamente; podemos apenas fitá-la e admirar o ilimitado e vasto poder criativo da vida. 

Obviamente a mente finita não pode conhecer o infinito. Isso está indicado no Bhagavad-Gita, quando Krishna diz que não existe fim para o mistério Divino. Somente quando a mente se liberta de seu estado finito e torna-se una com a vasta harmonia da vida pode haver iluminação. Esse estado não vem quando se é um erudito nas escrituras ou se recebe um título numa instituição religiosa. Se as pessoas que seguem sistemas religiosos se tornassem verdadeiramente religiosas, incapazes de ganância, violência e egoísmo, não haveria mais guerras.

Outro grande problema atual é o consumismo e a insensibilidade em relação ao valor e à dignidade dos seres vivos. É necessário um profundo respeito por cada forma de vida para reverter a maré de consumismo que destrói os recursos e a diversidade do planeta.

É essencial que nossos valores mudem, mas não em razão do que uma sociedade ou um sistema religoso diz. Os valores surgem a partir do sentimento de uma existência una e inter-relacionada, que faz nascer a gentileza e a não violência. Se nós não conseguimos amar o pequeno animal, o pássaro, o peixe ou a planta, como podemos amar a Deus, que é a fonte de toda a vida?

Temos que aprender a ser como criancinhas que experimentam maravilhas, cujas mentes não têm preconceitos e que não sabem o que é ser possessivo. Esse é o verdadeiro despertar religioso, que envolve abrir mão dos próprios interesses por amor aos outros, sem preconceitos, de modo que a mente seja ampla, tolerante e sensível."

(Radha Burnier - A verdadeira religião - Revista Sophia, Ano 12, nº 50 - p.20/21)


terça-feira, 20 de outubro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (4ª PARTE)

18. O observado vem à existência quando o impacto dos sentidos é modificado pelos gunas ou pelos três fatores condicionantes da mente por causa da busca pelo preenchimento da própria mente. 

No sutra acima, prakãsa, kriyã e sthiti referem-se a sattva, rajas e tamas - os três gunas ou os três fatores condicionantes da mente. A palavra apavarga que aparece neste sutra significa de fato preenchimento, e não libertação como é dito por muitos comentadores. A mente para seu próprio preenchimento distorce a atividade dos três gunas; é o que ocasiona uma modificação nos impactos dos sentidos. Refere-se à intervenção da mente no ato de experimentar. Quando o pensamento interfere no ato de experimentar, então esse ato fragmenta-se, levando à fragmentação da própria experiência. Quando assim acontece, somos incapazes de ver o que é; vemos apenas aquilo que foi modificado pela ação do pensamento. É óbvio que os impactos dos sentidos são possíveis devido ao funcionamento dos três gunas. Quando seu funcionamento é distorcido pela intervenção do pensamento, aqueles mesmos impactos dos sentidos são modificados. E, assim, percebemos o que a mente quer que percebamos. Neste processo, o real é colocado de lado, e o observado toma seu lugar. E isso é feito pela mente para seus próprios objetivos. Patañjali indica muito claramente neste sutra como o observado vem à existência. Ele trata ainda mais da questão dos gunas no próximo sutra."

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 95)


quinta-feira, 5 de março de 2020

O PERCEBIMENTO DO PURO ÃTMAN

Resultado de imagem para ÃTMAN"397 - Enquanto um homem está apegado à sua forma cadavérica (corpo físico), ele é impuro devido aos seus inimigos¹⁰⁵ e há o sofrimento associado com o nascimento, morte e doença. É somente quando ele percebe o puro Ãtman, que é bem-aventurança e que é imóvel, que ele se torna livre deles - assim declaram os Vedas

COMENTÁRIO - O percebimento do puro Ãtman é a chave da libertação, do caminho que permite afastarmo-nos de todos os desejos e apegos. Os Vedas, os mais antigos textos sagrados do mundo, afirmam isso. E esta afirmação procede do testemunho dos Rishis, das almas santas, que a tramitiram aos homens, dando esperança aos escravos de um dia sairem da prisão.

¹⁰⁵ Os inimigos são as paixões: luxúria, raiva, ganância, engano, orgulho e crime. 

(Sankara - Viveka-Chudamani e Joia Suprema da Sabedoria - Comentários de Murilo N. de Azevedo - Ed. Teosífica, Brasília, 2011 - p. 150)


quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

DEUS NÃO É INJUSTO

Resultado de imagem para flores de deus"Se, para achar os seus defeitos, vocês fazem metade do esforço que comumente despendem achando os defeitos dos outros, vocês verão a ligação com a lei de causa e efeito e só isso os libertará, mostrando a vocês mesmos que não existe injustiça. Só isso lhes será a prova de que não é Deus, nem o destino, tampouco uma ordem injusta no mundo em que vocês tem de sofrer as consequências das limitações das outras pessoas, mas a ignorância, o medo, o orgulho e o egoísmo de vocês que direta ou indiretamente causarão aquilo que pareceu, até aqui, entrar no caminho de vocês sem que vocês nada fizessem para tanto. Descubram esse elo oculto e verão a verdade. Então compreenderão que vocês não são vítimas das circunstâncias nem da imperfeição dos outros, mas são realmente os que criam a própria vida. As emoções são forças criativas de grande efeito, porque o inconsciente de vocês afeta o da outra pessoa. Essa verdade talvez seja a mais importante para a descoberta de como vocês provocam os acontecimentos, quer bons, quer maus, favoráveis ou desfavoráveis da vida.

Depois que vocês passam por essa experiência, podem acabar com a imagem que têm de Deus independentemente de vocês terem medo de Deus, porque acreditam que vivem num mundo de injustiça e receiam tornar-se vítima das circunstâncias sobre as quais não têm controle, ou de rejeitarem a responsabilidade e ficarem à espera de um Deus flexível que os mime, que lhes oriente a vida, tome decisões por vocês, os poupem de dificuldades que vocês mesmos criam. A compreensão de como vocês são a causa dos efeitos da vida de vocês acabará com essa imagem de Deus. Isso constitui um dos momentos decisivos da vida de vocês.

Só esse momento lhes facultará o reconhecimento de que vocês não são vítimas; de que têm poder sobre a vida; de que são livres e de que essas leis de Deus são infinitamente boas, sábias, amáveis e seguras! Elas não visam transformá-los em fantoches, mas fazer de vocês pessoas totalmente livres e independentes."

(Eva Pierrakos, Donovan Thesenga - Entrega ao Deus Interior - Ed. Cultrix, São Paulo, 2010 - p. 53/54)

terça-feira, 19 de novembro de 2019

UM ESTUDO SOBRE O KARMA

Resultado de imagem para um estudo sobre o karma"Entre as muitas dádivas esclarecedoras transmitidas pela Sociedade Teosófica ao mundo ocidental, a que se refere ao conhecimento do karma talvez seja a segunda em importância, depois da lei da reencarnação. O conhecimento do karma afasta o pensamento e o desejo do homem do âmbito dos acontecimentos arbitrários, levando-os para a região da lei, colocando assim o futuro do homem sob seu próprio controle, a partir da extensão do seu conhecimento.

A principal concepção de karma - 'Tal como o homem semeia, assim colherá' - é fácil de apreender. Contudo, a sua aplicação detalhada na vida diária, o método de ação desse princípio e suas consequências a longo prazo são dificuldades que se tornam desnorteantes para o estudante, à proporção que amplia o seu conhecimento. Os princípios em que as ciências naturais se fundamentam são, em sua maioria, facilmente assimiláveis para as pessoas de regular inteligência e instrução comum; contudo, quando o estudante passa dos princípios para a prática, do esboço para os detalhes, descobre que as dificuldades pressionam e que, se quiser dominar totalmente o assunto, será obrigado a tornar-se um especialista e a devotar longos períodos para desembaçar os emaranhados com que se defronta. O mesmo acontece com a ciência do karma: o estudante não pode permanecer sempre no período das generalidades. Deve estudar as subdivisões da lei primeira, deve procurar aplicá-la a todas as circunstâncias da vida, deve aprender até onde ela o obriga e de que forma é possível a libertação. Deve aprender a observar o karma como lei universal da natureza como um todo, só poderá conquistá-la e dominá-la obedecendo às suas leis."

(Annie Besant - Os Mistérios do Karma e a sua Superação – Ed. Pensamento, São Paulo, 2001 - p. 9/10


terça-feira, 24 de setembro de 2019

DEUS NÃO É INJUSTO

"Se, para achar os seus defeitos, vocês fazem metade do esforço que comumente despendem achando os defeitos dos outros, vocês verão a ligação com a lei de causa e efeito e só isso os libertará, mostrando a vocês mesmos que não existe injustiça.  Só isso lhes será a prova de que não é Deus, nem o destino, tampouco uma ordem injusta no mundo em que vocês tem de sofrer as consequências das limitações das outras pessoas, mas a ignorância, o medo, o orgulho e o egoísmo de vocês que direta ou indiretamente causarão aquilo que pareceu, até aqui, entrar no caminho de vocês sem que vocês nada fizessem para tanto. Descubram esse elo oculto e verão a verdade. Então compreenderão que vocês não são vítimas das circunstâncias nem da imperfeição dos outros, mas são realmente os que criaram a própria vida. As emoções são forças criativas de grande efeito, porque o inconsciente de vocês afeta o da outra pessoa. Essa verdade talvez seja a mais importante para a descoberta  de como vocês provocam os acontecimentos, quer bons, quer maus, favoráveis ou desfavoráveis da vida. 

Depois que vocês passam por essa experiência, podem acabar com a imagem que têm de Deus independentemente de vocês terem medo de Deus, porque acreditam que vivem num mundo de injustiça e receiam tornar-se vítima das circunstâncias sobre as quais não têm controle, ou de rejeitarem a responsabilidade e ficarem à espera de um Deus flexível que os mime, que lhes oriente a vida, tome decisões por vocês, os poupem de dificuldades que vocês mesmos criam. A compreensão de como vocês são a causa dos efeitos da vida de vocês acabará com essas imagens de Deus. Isso constitui um dos momentos decisivos na vida de vocês. 

Só esse momento lhes facultará o reconhecimento de que vocês não são vítimas; de que têm poder sobre a vida; de que são livres e de que essas leis de Deus são infinitamente boas, sábias, amáveis e seguras! Elas não visam transformá-los em fantoches, mas fazer de vocês pessoas totalmente livres e independentes."

(Eva Pierrakos/Donovan Thesenga - Entrega ao Deus Interior - Ed. Cultrix, São Paulo, 1997 - p,54/55)


quinta-feira, 19 de setembro de 2019

A ILUSÃO É PASSAGEIRA

"O homem pode usar equivocadamente seu livre-arbítrio por algum tempo, considerando-se mortal, mas essa ilusão passageira nunca conseguirá apagar em seu íntimo a marca da imortalidade e a imagem divina da perfeição. A morte prematura de uma criança talvez não lhe haja permitido usar seu livre-arbítrio para a virtude ou para o vício. Mas a Natureza trará sua alma de volta à Terra, dando-lhe a oportunidade de usar o livre-arbítrio a fim de redimir o karma passado, que a fez morrer tão jovem, e praticar as boas ações que propiciam a libertação.

Se uma alma imortal não conseguiu, ao longo de uma existência, eliminar as ilusões que a subjugam, precisa de mais períodos de aprendizado para tomar conhecimento de sua imortalidade inata. Só então poderá retornar ao estado de consciência cósmica. As almas comuns reencarnam compelidas por seus desejos mundanos; as almas superiores, ao contrário, apenas em parte vêm à Terra para cumprir o karma, pois seu principal objetivo é atuar como filhos nobres de Deus e apontar às criaturas perdidas o caminho para a morada celeste do Pai."

(Paramhansa Yogananda - Karma e Reencarnação - Ed. Pensamento, São Paulo, 2009 - p. 16)


terça-feira, 27 de agosto de 2019

A ESTRADA PARA O INFINITO (1ª PARTE)

"'Qual é a melhor religião?' perguntou um buscador da Verdade.

'A autorrealização', respondeu Yogananda.

'Com efeito, a autorrealização é a única religião. Pois ela é o verdadeiro objetivo da religião, independentemente de como as pessoas definam a religião delas. Uma pessoa pode ser cristã ou judaica, budista ou hindu, maometana ou zoroastrista, pode afirmar que Jesus Cristo é a única via, ou que Buda e Maomé são o único caminho - como o fazem, na verdade, milhões de crentes. A pessoa pode insistir em que determinado ritual ou lugar de adoração promovem a salvação; mas tudo se resume no que a pessoa é em si mesma.

'Milhares de Cristos não seriam capazes de levar Deus a você, caso você primeiro não demonstrasse amor a Ele.

'Por que deveria Deus se preocupar com o modo como você O define? Poderia algum dogma abarcar Deus, que é tudo, muito mais do que tudo? E será que você não sabe que um muçulmano ou um hindu que ame a Deus é tão caro a Jesus Cristo quanto qualquer outro cristão - e muito mais admirado por Ele do que os que estão entre os Seus seguidores e que acreditam em Deus com as suas mentes, mas que não têm amor por Ele nos seus corações?

'Jesus Cristo não veio à Terra, tampouco nenhum grande mestre, a fim de levar as pessoas até Ele. Veio para as levar até a Verdade - a Verdade que, segundo Ele disse, 'libertar-vos-á'*. A mensagem divina sempre é impessoal na medida em que se relaciona com essa Verdade. 

'Ao mesmo tempo, ela é pessoal na relação que mantém com o buscador individual. Isto é, os mestres não dizem às pessoas: 'Você será salvo pela religião que segue, exteriormente.' Os mestres dizem a essas pessoas: 'Você será salvo pelo que você faz, pessoalmente, para afirmar sua semelhança com Deus.' (...)"

* João 8:32

(Paramhansa Yogananda - A Essência da Autorrealização - Ed. Pensamento-Cultrix Ltda., São Paulo, 2010 - p. 125/126)


sexta-feira, 20 de abril de 2018

USANDO TODA NOSSA NATUREZA

"Cada aspecto de nossa natureza, tanto o bem quanto o mal, é exigido para a tarefa à nossa frente. Tal como o redirecionamento da energia, todos os elementos dentro de nós devem ser transformados. Tanto os vícios quanto as virtudes, dizem-nos, são 'passos (que) compõem a escada' por meio da qual ascendemos ao mais elevado. Como diz o comentário: 'Toda a natureza do homem deve ser usada sabiamente por aquele que deseja entrar no caminho'.

Um comentário assim deve ajudar-nos a compreender que não devemos reprimir ou suprimir qualquer aspecto de nossa natureza que possa ser indesejável. Pelo contrário, devemos trazer toda nossa natureza, inclusive o complexo psicofísico, a personalidade, sob uma certa condição. Não podemos negligenciar qualquer aspecto de nós mesmos sem, de alguma maneira, ferir o todo. É toda a natureza que deve ser usada, e usada sabiamente para o propósito que temos em vista. A repressão desses aspectos, particularmente de pensamentos e sentimentos que não queremos reconhecer como pertencentes a nós, só pode resultar em feridas dolorosas nos reinos kama-manásico, ou mental-emocional, ou psicodinâmico. E chagas purulentas conseguem apenas eclodir em violentos surtos de doença psíquica e até mesmo física. 

Temos de perguntar a nós mesmos como podemos usar cada aspecto nosso na busca do caminho. Demos a esse caminho o nome de caminho para a iluminação, ou para a autorrealização, para a libertação da roda de nascimentos e mortes; mas, mesmo definir o caminho, que nos mandam buscar, poderia indicar algum vestígio de autointeresse, um laivo de egoísmo em nossa busca. Nossa meta pode muito bem estar além da denominação, ou daquilo que imaginamos ser iluminação. Como podemos definir com palavras uma condição de consciência com a qual estamos, no nosso atual estágio, totalmente desfamiliarizados? Talvez isso possa ser melhor expresso nas palavras da anotação: devemos 'tentar aliviar um pouco o pesado karma do mundo', dando nossa 'ajuda aos poucos braços fortes que evitam que os poderes das trevas obtenham vitória completa'."

(Joy Mills - Buscai o caminho - TheoSophia, Ano 100, Julho/Agosto/Setembro de 2011 - Pub. da Sociedade Teosófica do Brasil - p. 46/47)