OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


terça-feira, 3 de maio de 2022

PENSAMENTOS E EMOÇÕES: AS ONDAS E O OCEANO (1ª PARTE)

"Quando as pessoas começam a meditar, sempre dizem que seus pensamentos estão desenfreados e tornam-se mais agitados do que nunca. Mas eu as tranquilizo dizendo que esse é um bom sinal. Longe de significar que seus pensamentos estão muito agitados, isso mostra que você ficou mais tranquilo e está finalmente cônscio do quão ruidosos seus pensamentos sempre foram. Não se desencoraje ou desista. O que quer que surja, apenas mantenha-se presente e continue voltando-se para a sua respiração, mesmo no meio da maior confusão.

Nas antigas instruções de meditação, dizia-se que de início os pensamentos chegarão um sobre o outro, ininterruptos, como uma cascata na montanha escarpada. Aos poucos, à medida que se aperfeiçoa a meditação, eles se tornam como a água numa garganta estreita, depois como um grande rio correndo vagaroso para o mar, e por fim a mente se torna um oceano plácido e imóvel, agitado apenas pelo marulho ou onda ocasional. 

Às vezes as pessoas pensam que quando meditam não deveria haver pensamentos ou emoções de espécie alguma; e quando surgem pensamentos e emoções, elas se aborrecem e se exasperam consigo mesmas, achando que fracassaram. Nada pode estar mais distante da verdade. Há um ditado tibetano que diz: 'É querer demais pedir carne sem osso, e chá sem folhas'. Enquanto houver mente, haverá pensamentos e emoções. 

Tal como o oceano tem ondas e o sol tem raios, a radiância própria da mente são seus pensamentos e emoções. O oceano tem ondas, mas não é particularmente perturbado por elas. As ondas são a natureza mesma do oceano, As ondas aparecem, mas para onde vão? De volta ao oceano. E de onde vêm? Do oceano. Do mesmo modo, pensamentos e emoções são a radiância e a expressão da verdadeira natureza da mente. Eles surgem na mente, mas onde se dissolvem? Na própria mente. O que quer que apareça, não o encare como um problema particular, se você não reage de maneira impulsiva, se sabe ser apenas paciente, isso assentará novamente em sua natureza essencial. 

Quando você tiver essa compreensão, os pensamentos que emergem apenas intensificarão sua prática. Mas, quando você não compreende o que eles intrinsecamente são - a radiância da natureza de sua mente -, seus pensamentos se tornam sementes de confusão. Assim, tenha uma atitude aberta, ampla e compassiva em relação a seus pensamentos e emoções, porque de fato eles são sua família, a família da sua mente. Diante deles, pense no que costumava dizer Dudjom Rinpoche: 'Seja como um velho sábio vendo uma criança brincar'" ... continua.

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Palas Athena, São Paulo, 2000 - p. 106/107)
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quinta-feira, 28 de abril de 2022

A MENTE EM MEDITAÇÃO

"O que, então, devemos 'fazer' com a mente em meditação? Absolutamente nada. Deixá-la como está. Um mestre descreveu a meditação como 'a mente suspensa no espaço, em lugar nenhum'.

O ditado é famoso: 'Se a mente não é fabricada, aparece espontaneamente imbuída de uma felicidade sublime, assim como a água que se mostra naturalmente transparente e límpida quando não é agitada'. Com frequência comparo a mente em meditação com um jarro de água barrenta: quanto menos interferência ou agitação tiver, mais as partículas de terra se depositam no fundo, permitindo que a claridade natural da água transpareça. A própria natureza da mente é tal que, se você a deixa em seu estado inalterado e natural, ela encontrará sua verdadeira natureza, que é bem-aventurança e claridade. 

Tome cuidado, portanto, para não impor nem cobrar nada à mente. Ao meditar, não deve haver qualquer esforço na direção do controle, nem empenho em ser pacífico. Não seja solene demais nem se sinta como se estivesse tomando parte num ritual especial; deixe de lado até a ideia de que está meditando. Seu corpo e a sua respiração devem ser entregues a si mesmos. Pense em si próprio como o céu, sustentando todo o universo." 

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Palas Athena, São Paulo, 2000 - p. 104/105)
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terça-feira, 26 de abril de 2022

A PRÁTICA DA PRESENÇA MENTAL

"A meditação consiste em trazer a mente para casa, e isso se conquista primeiramente através da prática da presença mental.

Uma vez uma mulher veio até o Buda e lhe perguntou como meditar. Buda lhe disse para ficar consciente de cada movimento de suas mãos enquanto tirava água do poço, sabendo que se ela fizesse isso logo entraria naquele estado de atenção e calma cheia de espaço que é a meditação.

A prática da presença mental, de trazer de volta para casa a mente dispersa e assim colocar em foco diferentes aspectos do nosso ser, é chamada 'Permanência Serena'. A Permanência Serena realiza três coisas. Primeira, todos os fragmentados aspectos de nós mesmos, que estavam em guerra, assentam-se, dissolvem-se e tornam-se amigos. Aí começamos a nos compreender melhor e às vezes até a ter vislumbres da radiância de nossa natureza fundamental.

Segundo, a prática da presença mental dissolve nossa negatividade, agressividade e as emoções turbulentas que podem ter reunido poder ao longo de muitas vidas. Mais do que suprimir emoções ou ser complacente com elas, aqui é importante vê-las, bem como os pensamentos que há na sua mente e qualquer coisa que apareça, com aceitação e generosidade tão amplas e abertas quanto possível. Os mestres tibetanos dizem que essa sábia generosidade tem o sabor do espaço ilimitado, tão caloroso e aconchegante que você se sente envolvido e protegido por ela como por uma manta de raios de sol. 

Gradualmente, ficando aberto e atento e usando uma das técnicas que explicarei depois para concentrar mais e mais sua mente, sua negatividade aos poucos se dissolve. Começa a se sentir bem em seu ser, ou como dizem os franceses, être bien dans notre peau (sentir-se bem na sua pele). Disto vem descontração e profundo bem-estar. Penso nessa prática como a mais efetiva forma de terapia ou autocura.

Terceira, essa prática descerra e revela o seu Bom Coração essencial, porque dissolve e remove a crueldade e a destrutividade que há em você. Só nos tornamos de fato úteis aos outros quando removemos a destrutividade em nós. Pela prática, assim tirando de nós a crueldade e a destrutividade permitimos que o nosso autêntico Bom Coração, essa bondade e gentileza fundamentais que são a nossa verdadeira natureza, resplandeça e se torne o clima caloroso no qual florescerá nosso verdadeiro ser. (...)"

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Palas Athena, São Paulo, 2000 - p. 91/92)
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quinta-feira, 21 de abril de 2022

O VALOR DAS PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES AO CAMINHO

"A vida dedicada ao Caminho é para poucos e, de fato, para muito poucos. Muitos são atraídos por ela como mariposas ao redor de uma vela, mas muito poucos suportam o 'calor', ou seja, o estresse, as renúncias e as disciplinas implícitas e, em particular, a incerteza da realização. Mesmo assim, a tentativa deles é útil; pois ela marca a entrada numa fase na qual, finalmente, o Caminho será procurado, encontrado e trilhado em um estágio posterior. Tais aspirantes... podem estar sofrendo de uma sensação de fracasso e derrota. Na verdade, eles não foram derrotados, nem falharam, pois o tempo deles ainda não chegou e os rigores do Caminho não são para eles... Nesses casos, os Egos fizeram o melhor possível, progresso foi feito e elos formados, que serão todos úteis e darão frutos mais tarde. 

A esperança de uma rota mais fácil é muito atraente e sua escolha não é anormal nem deve ser condenada. O mundo perde um ajudante e a Fraternidade perde um recruta, o que é lamentável, mas é melhor que a pessoa seja sincera.

Aqueles que não têm dentro de si total coragem e domínio próprio e que ainda não sentiram o chamado às alturas, não se tornarão alpinistas de sucesso. É melhor para eles ficarem em terreno plano e praticar no sopé da montanha, sendo perfeitamente correto e justificável para eles, ou na verdade, muito sábio. Mas, lembre-se, eles não alcançarão o cume da Kailasa e Daqueles que nela habitam. Que eles sigam um caminho que deve ser 'natural' e, portanto, verdadeiro e estudem psicologia, particularmente a psicologia da intuição. Mas a isso pode ser acrescentado: embora um certo grau de percepção intuitiva possa, porventura, ser desenvolvido sem treinamento e domínio da mente, eventualmente esse treinamento terá que ser realizado e aquele domínio atingido. Caso contrário, os frutos da intuição não podem ser totalmente compreendidos, nem, por essa razão, definidos e compartilhados. Em outras palavras, em sua ascensão, nenhum homem pode ignorar a mente.

Não se pode tornar proficiente em nenhuma ciência sem obedecer às regras e dominar as leis por meio de trabalho árduo. Isto é especialmente verdade para a maior de todas as ciências, a da vida mais elevada e sua realização antes da prova."

(Geoffrey Hodson - A Vida do Iniciado - Ed. Teosófica, Brasília, 2021 - p. 60/61)
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terça-feira, 19 de abril de 2022

O VALOR DO PERDÃO (PARTE FINAL)

"(...) O discernimento é necessário no perdão, como em todas as situações da vida. Ao perdoar não preciso concordar nem apoiar o comportamento prejudicial ou antissocial do outro. O perdão é uma atitude interior e não um ato externo, muitas vezes teatral. O objetivo do perdão não é mostrar que temos uma natureza superior e magnânima. Tampouco tem o propósito de mudar ou envergonhar o outro, mas simplesmente mudar nossa maneira de ver o mundo e, com isso, mudar os pensamentos negativos ou de discórdia que nutrimos em nossa mente. Dessa forma, alcançamos seu verdadeiro propósito que é trazer paz para nossa mente, abrir caminho para o amor incondicional e permitir que venhamos sentir a verdadeira alegria de nos livrarmos dos venenos do passado. 

O perdão é especialmente importante no seio da família. É entre aqueles que mais amamos que ocorrem mais ocasiões para sofrimento: palavras inapropriadas em momentos de estresse, descuidos com as suscetibilidades de cada um dos nossos familiares, esquecimentos de datas, ocasiões especiais, promessas esquecidas, expectativas não alcançadas, enfim, toda gama de situações em que magoamos nossos familiares e somos magoados por eles. Nesse sentido, a família é realmente um lugar fundamental para o exercício do perdão. Em uma recente homilia, o Papa Francisco disse:

'Não existe família perfeita. Não temos pais perfeitos, não somos perfeitos, não nos casamos com uma pessoa perfeita nem temos filhos perfeitos. Decepcionamos uns aos outros. Por isso não há casamento saudável nem família saudável sem o exercício do perdão. O perdão é vital para nossa saúde emocional e sobrevivência espiritual. Sem perdão a família se torna uma arena de conflitos e um reduto de mágoas. Quem não perdoa não tem paz na alma nem comunhão com Deus. A mágoa é um veneno que intoxica e mata. Guardar mágoa no coração é um gesto autodestrutivo. É autofagia. Quem não perdoa adoece física, emocional e espiritualmente. É por isso que a família precisa ser lugar de vida e não de morte; território de cura e não de adoecimento; palco de perdão e não de culpa. O perdão traz  alegria onde a mágoa produziu tristeza, cura, onde a mágoa causou doença.'

O perdão só será completo em nossas vidas quando conseguirmos perdoar inteiramente nossos pais. Muitas pessoas, mesmo em sua vida adulta, guardam ressentimentos de certas atitudes do pai ou da mãe, ou de ambos. Mesmo que nossos pais tenham sido amorosos conosco, ainda assim, é provável que nosso relacionamento com eles, em nossa tenra infância, tenha deixado marcas psicológicas profundas que nos acompanham pelo resto de nossas vidas. Para nos libertarmos de nossos traumas de infância, precisamos perdoar aqueles que julgamos 'culpados' pelos problemas de nossas vidas. Vale lembrar que, se tivermos a possibilidade de conhecer as circunstâncias da infância de nossos pais, vamos verificar que eles provavelmente repetiram conosco o tratamento que receberam dos pais deles, nossos AVÓS.

Esse entendimento, de que as pessoas tendem a repetir ou repelir o que vivenciaram no passado, é importante para aprendermos a extensão de como somos prisioneiros do passado. A libertação da culpa, ou do medo, que é o outro lado da culpa, facilitará nosso entendimento de que para alcançar a paz e a felicidade precisamos nos libertar do passado.²¹ Um futuro melhor só pode ser construído no presente. Mas, para isso, teremos que estar conscientes do presente, em vez da usual aceitação de que o presente é uma continuação automática do passado e que o futuro será a mesma coisa, ou seja, uma prisão eterna.

O perdão é uma mudança de atitude interior. Para isso precisamos estar convencidos de que podemos mudar. Toda mudança começa com uma decisão interior, com o pensamento de que deve haver uma alternativa e que podemos escolher essa alternativa. Com isso assumimos a responsabilidade por nossa vida em vez de esperar que nossos problemas sejam resolvidos por uma fonte externa, seja ela o nosso companheiro/a, o governo ou Deus."

²¹ KRISHNAMJURTI, J. Liberte-se do Passado. São Paulo: Ed. Cultrix.

(Raul Branco - A Essência da Vida Espiritual - Ed. Teosófica, Brasília, 2018 - p. 87/89)
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