"Estava, um dia, certo Brâmane sentado no alto de uma colina, em meditação, quando viu passar o rei com sua numerosa escolta de cavaleiros e soldados esplendidamente vestidos. Depois de contemplar toda esta magnificência, o Brâmane, deslumbrado curvou a cabeça e pensou: 'Quanto este príncipe é feliz e poderoso. Vive cercado de felicidade e grandeza! Quando poderei eu alcançar tanta felicidade também?'
E a tristeza da sua condição pesou-lhe fortemente no espírito.
Guardou este desejo no íntimo do coração embora nunca, em sua longa vida, se afastasse do caminho da justiça. Envelheceu e morreu. Ora, após a morte, tornou-se glorioso monarca, senhor de vastos territórios, recebendo embaixadas, dirigindo numerosos exércitos, soberano absoluto de milhares de súditos, construindo fortalezas e cidades. Entretanto este imenso império estava encerrado inteiramente nos limites da imaginação astral do Brâmane ambicioso.
Os nossos desejos, as nossas aspirações criam forma, vivem dentro de nós porque o nosso mental é o criador da ilusão. Tudo que o homem sonhou possuir na Terra, ele o possui no plano astral. O que nos prende é o desejo. A alma é atraída para qualquer objeto, e assim forma-se uma imagem mental que é reforçada pelas vibrações astrais. A tendência é a sua realização na terra. Todos os nossos pensamentos tendem a realizar-se. A ação tem como causa geradora o desejo, que é o elemento principal na formação do karma.
Quando o homem trabalha, não pensa senão nos resultados práticos do seu trabalho, no lucro material que pode auferir em bens materiais, em dinheiro...
Trabalhamos com o fito de adquirir alguma coisa.
O homem cava a terra, planta, semeia, colhe para transformar todo esse esforço em metal sonante.
Ele está auxiliando inconscientemente a evolução, cooperando no plano divino; mas vai movido por pensamentos egoístas, apenas pensando na sua pessoa.
'Em torno de nós vemos todos trabalhar par alguma coisa, novidos pelo interesse e pelo desejo, impelidos pela ambição.'
Olhem para as multidões que enchem os templos. É o temor do inferno, é a ânsia de ganharem indulgência, é o desejo de salvação, é a ambição do céu. (...)
É o amor altruísta a verdadeira renúncia, o desprendimento completo das preocupações de recompensa além da morte. (...)
(E. Nicoll, A Lei da Ação e Reação (Karma), Sociedade Teosófica no Brasil, São Paulo, 3ª edição, 1960, pg. 35/37)