OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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terça-feira, 8 de novembro de 2022

O DESMONTE DO EU

"Jiddu Krishnamurti diz que somos todos indivíduos programados, condicionados. Quando crianças, aos assumirmos a consciência, por volta dos sete anos de idade, apresentam-nos um Deus a quem devemos adorar e render culto. Por termos nascido no Brasil, dentro de uma cultura cristã, aprendemos a amar e a adorar Jesus Cristo. Se tivéssemos nascido em algum país islâmico, adoraríamos a Alá e cresceríamos nos ritos do Islamismo. Inculcam, em nossas mentes, valores como família (pai, mãe, avós, tios, primos), a quem devemos prestigiar e respeitar profundamente; pátria e nação, à qual devemos adorar e amar como nossa torrão natal - mal sabemos que, neste culto egoísta de origem, está a raiz de todas as guerras.

Nesse processo 'educacional' está embutido o esforço de nossa modelagem segundo o padrão aceitável pela sociedade. Se não respondermos positivamente a esses padrões, corremos o risco de ser marginalizados. Desta forma, nossa mente incorpora procedimentos e 'verdades', que formam o conjunto que passamos a encarar como nosso verdadeiro eu.

Esta não é a natureza original com que nascemos, mas uma segunda natureza adquirida e modelada pela sociedade. Aí vem a pergunta: e o que isso nos torna? Torna-nos alienados de nós mesmos, de nossa verdadeira essência. Perdemos a nossa liberdade de ser. Passamos a ser autômatos responsivos, em comportamento, a padrões implantados em nossa mente. Prosseguimos a 'farsa de ser', alimentando conflitos, medos e frustrações.

Diplomados na 'educação para a vitória' pois desde crianças ensinam-nos a colocar a vitória como objetivo, em todos os nossos empreendimentos, tornamo-nos competitivos, os membros ideais para o sistema onde fomos educados e onde vivemos. Ora, se vencemos, que é o objetivo da educação, tem que haver pelo menos um vencido, não é? Se tem que existir um vencido, que não seja eu, mas que seja o outro, pois a palavra que passamos mais a repelir em nossas concepções chama-se 'fracasso'. Alimentamos, o tempo todo, o desejo animal em nós, e surpreendemo-nos, como sociedade organizada, quando esse animal sai do controle e mostra a sua cara.

Segundo Rohit Mehta, a nossa mente livre transita naturalmente por três estados (que são qualidades da matéria): Tamas, Rajas e Sattva (nomes em sânscrito). Tamas é aquele estado passivo e receptivo da mente, onde ela se coloca em posição de receber; Rajas é aquele ativo, dinâmico, onde ela é enérgica e agente; e Sattva é aquele estado de harmonia mental, onde a mente se realiza, se acalma.

O trânsito da mente por esses estados é um fluxo normal de energia, que flui livremente ao sabor das impressões que os sentidos captam do ambiente. Por força, entretanto, desses padrões existentes, que a educação inculca na mente, surge, no curso desse fluxo, vórtices de energia que interferem na corrente normal. Esses vórtices são, segundo Mehta, os Centros de Reação da mente, que aparecem em função de uma figura que nasce nessa troca do eu com o ambiente. Essa figura chama-se interpretador. O interpretador desfigura a impressão natural, e passamos a perceber as coisas objetivas não como elas são, mas como o interpretador quer que seja. É assim que nasce e incorpora-se, ao eu, a natureza objetiva do ser. Essa é a natureza responsável por todos os conflitos e desencontros humanos, por todos os medos, pelas dores, angústias e sofrimentos.

Na realidade, em função dela, não 'somos'; passamos a ser o que querem que sejamos."

(Ernani Eustáquio de Oliveira - O desmonte do eu - Revista Sophia, Ano 19, nº 92 - p.15)
Imagem: Pinterest.


terça-feira, 30 de agosto de 2022

A NATUREZA DO PENSAMENTO

"A natureza do pensamento pode ser estudada a partir de dois pontos de vista: do lado da consciência, que é o conhecimento, ou do lado da forma pela qual o conhecimento e obtido, cuja suscetibilidade a modificações torna possível a obtenção do conhecimento. Esta possibilidade conduziu aos dois extremos da filosofia, e ambos devemos evitar, porque cada um ignora um lado da vida manifestada. Um considera tudo como consciência, ignorando a essencialidade da forma como condicionante da consciência, em como torná-la possível. O outro considera tudo como forma, ignorando o fato de que a forma só pode existir em virtude da vida que a anima. A forma e a vida, a matéria e o espírito, o veículo e a consciência, são inseparáveis em manifestação, e são os aspectos indivisíveis DAQUILO a que são inerentes. AQUILO que não é nem a consciência nem o seu veículo, mas a RAIZ de ambos. Uma filosofia que tenta explicar tudo através das formas, ignorando a vida, encontrará problemas que é totalmente incapaz de resolver. Uma filosofia que tenta explicar tudo através da vida, ignorando as formas, encontrar-se-á confrontada com paredes mortas que não pode superar. A palavra final sobre isto é que a consciência e os seus veículos, vida e forma, espírito e matéria, são expressões temporárias dos dois aspectos de uma Existência não condicionada, não é cognoscível, exceto quando manifestada como Espírito Raiz (chamada pelos hindus: Pratyagatman), o Ser abstrato, o Logos abstrato de onde todos os eus individuais, e a Matéria-Raiz (Mula-prakriti) de todas as formas. Sempre que a manifestação tem lugar, este Espírito-Raiz da à luz uma consciência tripla, e essa Matéria-Raiz a uma matéria tripla; subjacente à Realidade Una, para sempre incognoscível pela consciência condicionada. A flor não vê a raiz de onde cresce, embora toda a sua vida seja extraída dela e sem ela não poderia existir. 

O Eu como Conhecedor tem como função característica o espelhamento dentro de si mesmo do Não Eu. Como uma placa sensível recebe raios de luz refletidos dos objetos, e esses raios causam modificações no material em que caem, de modo a que imagens dos objetos possam ser obtidas, o mesmo acontece com o Eu no aspecto conhecimento em relação a tudo o que é exterior. O seu do veículo é uma esfera em que o Eu recebe do Não Eu os raios refletidos do Eu Uno, fazendo aparecer na superfície desta esfera imagens que são os reflexos daquilo que não é ele próprio. O Conhecedor não conhece as coisas em si mesmo nas fases iniciais da sua consciência. Ele conhece apenas as imagens produzidas no seu veículo pela ação do Não Eu no seu invólucro responsivo, as fotografias do mundo exterior. Daí que a mente, o veículo do Eu como Conhecedor, tenha sido comparada a um espelho, no qual são vistas as imagens de todos os objetos colocados perante ele. Nós não conhecemos as coisas em si, mas apenas o efeito produzido por elas na nossa consciência; não os objetos, mas as imagens dos objetos, estes são o que encontramos na mente. Como o espelho parece ter os objetos dentro dele, mas esses objetos aparentes são apenas imagens, ilusões causadas pelos raios de luz refletidos a partir dos objetos, não os objetos em si; também a mente, no seu conhecimento do universo exterior, conhece apenas as imagens ilusivas e não as coisas em si mesmas.

Estas imagens, feitas no veículo, são percebidas como objetos pelo Conhecedor, e esta percepção consiste na sua reprodução das mesmas em si próprio. Ora, a analogia do espelho, e o uso da palavra 'reflexão' no parágrafo anterior, são um pouco enganadores, pois a imagem mental é uma reprodução e não um reflexo do objeto que a causa. A matéria da mente é na realidade moldada à semelhança do objeto que lhe é apresentado, e esta semelhança, por sua vez, é reproduzida pelo Conhecedor. Quando ele portanto se modifica assim à semelhança de um objeto externo, diz-se que conhece esse objeto, mas no caso considerado, o que ele conhece é apenas a imagem produzida pelo objeto no seu veículo, e não o próprio objeto. E esta imagem não é uma reprodução perfeita do objeto, por uma razão que veremos no próximo capítulo. 

'Mas', pode-se dizer, 'será assim para sempre? Nunca saberemos as coisas em si mesmas?' Isso leva-nos à distinção vital entre a consciência e a matéria em que a consciência está trabalhando, e com isso podemos encontrar uma resposta a essa questão natural da mente humana. Quando a consciência, por longa evolução, desenvolveu o poder de reproduzir em si mesma tudo o que existe fora dela, então o invólucro de matéria em que tem funcionado desprende-se, e a consciência, que é o conhecimento, identifica o seu Eu com todos os Eus no meio dos quais tem evoluído, e vê como o Não Eu apenas a matéria ligada de igual modo com todos os Eus individualmente. Este é o 'Dia do esteja conosco', a união que é o triunfo da evolução, quando a consciência conhece a si própria e aos outros, e conhece os outros como a si própria. Por semelhança da natureza, o conhecimento perfeito é atingido, e o Eu percebe aquele estado maravilhoso onde a identidade não perece e a memória não se perde, mas onde a separação encontra o seu objetivo final, e o conhecedor, o conhecer e o conhecimento são um só.

É esta natureza maravilhosa do Eu que evolui em nós através do conhecimento no momento presente, que temos de estudar, a fim de compreender a natureza do pensamento, e é necessário ver claramente o lado ilusório para que possamos utilizar a ilusão para transcendê-lo. Assim, vamos agora estudar como o Conhecer - a relação entre o Conhecedor e o Cognoscível é estabelecida, e isso nos levará a ver mais claramente a natureza do pensamento."

(Annie Besant - O Poder do Pensamento - Ed. Teosófica, Brasília, 2021 - p. 21/25)
Imagem: Pinterest.


terça-feira, 26 de julho de 2022

A RAIVA DO EU INFERIOR

"A simples expressão 'Eu estou com raiva' é muito mais saudável do que as alternativas comuns expressadas verbalmente, ou com mais frequência sentidas em silêncio, tais como 'Odeio você', 'Você é isto e aquilo, veja o que fez comigo' ou 'Vou dar o troco'. Ódio, culpa, sensação de ser dono da verdade e vingança são infinitamente mais prejudiciais aos relacionamentos do que a simples admissão da raiva. 

A raiva só é uma expressão do eu inferior quando sua intenção se transforma da simples autoafirmação para o desejo de ferir, castigar ou destruir. A raiva que é expressa com violência ou que fermenta e se transforma em ódio ou desejo de vingança é sempre uma expressão do eu inferior. Se a raiva não for expressa depois de se acumularem muitas mágoas e ressentimentos, quase sempre ela é prejudicial e desperta o desejo de vingança. Esse tipo de raiva pode ser sentido proveitosamente no ambiente seguro do aconselhamento espiritual ou da terapia. Nessas condições, podemos conscientemente ir mais fundo na exploração dos sentimentos negativos, para obter pistas sobre suas mais remotas origens. 

Precisamos entender, contudo, que a metodização total da expressão da raiva é um objetivo irreal. Até a pessoa com mais consciência espiritual às vezes tem explosões de raiva que vem se acumulando há muito tempo ou que é semiconsciente. Uma explosão dessas pode nos alertar para os modos pelos quais as máscaras do amor ou da serenidade ainda podem estar ativas como defesas contra a nossa negatividade. Nossa tarefa, nesses casos, é sempre a mesma: aceitar e perdoar a nós mesmos e a nossos defeitos, e depois prosseguir na pesquisa das origens."

(Susan Thesenga - O Eu Sem Defesas - Ed. Pensamento-Cultrix, São Paulo, 2015 - p. 149/150)
Imagem: Pinterest. 


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

O AMOR E A UNIDADE

"Há muitos entendimentos da palavra amor. Desde sempre os músicos e poetas cantam e declamam esse grande mistério da humanidade. Porém não vamos nos referir aqui ao amor como paixão entre duas pessoas, relacionado aos desejos e ciúmes, e sim ao amor dos santos, aquele descrito em inúmeras tradições religiosas: o amor por todos os seres, isento de desejo de recompensa. Será que esse sentimento pode se manifestar em todos nós? E caso possa, qual a natureza desse fenômeno?

Para compreender esse grande mistério é necessário lembrar a conhecida máxima ocultista: 'Um é o todo, o todo é um.' Este é um grande axioma do esoterismo, mas será que conseguimos assimilar um conceito tão profundo? Helena Blavatsky, quando apresenta sua constituição septenária do ser humano, define que Ãtman, nosso princípio mais elevado ou espiritual, não é individual, mas coletivo. Ou seja, de acordo com seu sistema de filosofia esotérica, não há um Ãtman para cada ser vivo, mas somente um, compartilhado com todos. 

Isso significa que de fato somos apenas um ser, compartilhando manifestações diversas aparentemente fragmentadas: somos diferentes pontos de vista de um mesmo observador. Os mestres de Blavatsky afirmam que esse princípio superior não está em um local inacessível; ele está presente em todos os demais princípios ou veículos da consciência, ou seja, é onipresente.

Devido a isso, no Budismo encontramos o conceito de Anãtman, que poderia ser traduzido como 'não eu': não há, em essência, seres individualizados e separados. Este é um princípio profundo, que exige muito esforço meditativo para que possa não somente ser compreendido em nível intelectual, mas também incorporado em todos os níveis de nossa compreensão e assimilado por nossa alma. 

Como esse princípio se relaciona com o amor dos santos, relatado nas escrituras e por inúmeros religiosos, espiritualistas e gurus?

Refletindo sobre o mistério chamado amor, poderíamos descrevê-lo objetivamente como um magnetismo invisível e irresistível que mantém dois ou mais seres conectados pelo período de uma vida, e, em muitos casos, também no período pós-vida, em uma sucessão de manifestações, corpóreas ou não. 

Esse magnetismo misterioso e indestrutível é nada menos que a pura percepção da unidade, pois, se de fato somos um só ser, além do entendimento intelectual do conceito, há um momento em que começamos a assimilar em outros níveis essa realidade única. Isso nos desperta para uma outra relação com a vida e com todos os outros entes, animados ou inanimados, já que tudo e todos são simplesmente partes de nós mesmos. 

Com essa chave começa a ser possível compreender o sentimento de compaixão, profunda manifestado por todos os Bodhisattvas, que consideram todos por igual, com empatia e paciência infinita com qualquer ser vivo. Pois, de acordo com essa afirmação, simplesmente não existe outro ser, mas extensões ou outras versões de nós mesmos. Portanto, o altruísmo não é uma simples virtude a ser cultivada: o único caminho possível é amar o próximo como a si mesmo, pois o outro sou eu, o único eu possível aquele ou aquilo que também somos nós.

Ao longo da experiência humana, em inúmeras reencarnações, a 'meta' talvez seja a compreensão gradual da realidade única da qual fazemos parte. Este é o desenvolvimento de bodichita descrito no Budismo, uma chama interna que uma vez acesa não se apaga mais, 'a chama eterna do amor imortal."

(Charles Boeira - O amor e a unidade - Revista Sophia, Ano 19. nº 90 - p.11)
Imagem: Google.


quinta-feira, 9 de setembro de 2021

QUALIDADES DO DEVOTO QUE CATIVAM A DEUS (CAPÍTULO XII)

"Aquele que está livre de ódio a todas as criaturas, é amigável e benevolente para com todos, é desprovido de possessividade e da consciência do 'eu', é equânime no sofrimento e na alegria, tudo perdoa e está sempre contente, que pratica yoga com regularidade, buscando o tempo todo conhecer o Eu e unir-se ao Espírito por meio da yoga, que é dotado de firme determinação, com a mente e o discernimento entregues a Mim, esse é Meu devoto e Me é querido. 13-14

Aquele que não perturba o mundo e que não pode ser perturbado pelo mundo, que está livre de exultação, ciúme, receio e preocupação, ele também Me é querido. 15 

Aquele que está livre de expectativas mundanas, que é puro de corpo e mente, que está sempre pronto para agir, que permanece sem se tornar preocupado ou ser afligido pelas circunstâncias, que abandonou todos os empreendimentos motivados pelo desejo e originado no ego, esse é Meu devoto e Me é querido. 16

Aquele que não sente regozijo nem aversão em relação ao que é alegre ou triste (nos aspectos fenomênicos da vida), que está livre da mágoa e dos desejos, que expulsou a consciência relativa de bem e mal, e que é atentamente devotado, esse Me é querido. 17

Aquele que é igualmente sereno diante de amigos e adversários, em face da adoração e da ofensa e diante das experiências de calor e frio, prazer e sofrimento; que renunciou ao apego, e considera iguais a censura e o elogio; que é calmo e se contenta com facilidade, não é apegado à vida doméstica e tem disposição tranquila e piedosa, esse Me é querido. 18-19

Mas aqueles que se mantêm, com amor e veneração, nesta religião (dharma) imortal, revelada até aqui, impregnados de devoção, supremamente absortos em Mim, tais devotos Me são extremamente queridos." 20

(Paramahansa Yogananda - A Yoga do Bhagavad Gita - Self-Realization Fellowship - p. 140/141)

  

terça-feira, 27 de abril de 2021

EM SUA VIDA: PARTICIPAÇÃO ÍNTIMA (2ª PARTE)

"(...) Deixe a consciência fazer o trabalho. Pessoas que seguem essa diretriz são altamente subjetivas, mas sua subjetividade não é voluntária, elas não se alteram com cada mudança de humor. Em vez disso, são autoconscientes, o que significa que sabem quando estão em posição desconfortável em uma situação e não avançam até que se sintam bem. Seus corpos enviam sinais de estresse e tensão que são levados a sério. Tais pessoas confiam em si mesmas, um estado inteiramente subjetivo, embora extremamente poderoso. Confiar em um 'eu' enraizado no ego seria insensatez, mas quando você verdadeiramente sabe quem é, pode confiar em si mesmo no nível da alma. Nesse nível, a consciência não é meramente subjetiva. Ela flui através do universo, da alma da mente e do corpo. Deixar a consciência fazer o trabalho significa render-se a um princípio organizador mais amplo que você, amplo o suficiente para manter toda a realidade concentrada. 

Não interfira no fluxo. Existe uma profunda doutrina budista que fala de um grande rio que flui por toda a realidade. Uma vez que você encontra a si próprio, deixa de haver motivo para ação. O rio pega e o arrasta para todo o sempre. Em outras palavras, o esforço pessoal, o tipo de esforço a que todos nós estamos acostumados na vida cotidiana, torna-se sem sentido depois de um certo ponto. Aí se inclui o esforço mental. Uma vez autoconsciente, você percebe que o fluxo da vida não precisa de análise ou controle, porque tudo é você. O grande rio apenas parece pegá-lo. Na verdade, foi você que pegou a si próprio - não como uma pessoa isolada, mas como um fenômeno do cosmos. Ninguém lhe deu a função de dirigir o rio. Você pode apreciar o passeio e observar a paisagem.
Aprender a evitar suas falsas responsabilidades significa desistir de seu impulso para controlar, defender, proteger e prevenir-se contra riscos. Tudo isso é falsa responsabilidade. À medida que abre mão, você para de interferir no fluxo. À medida que você se agarra, a vida continuará a lhe trazer ainda mais coisas para controlar e se defender. Riscos aparecerão por toda parte. A questão não é que o destino esteja contra você. Você está simplesmente testemunhando reflexos de suas convicções mais profundas, à medida que a consciência desdobra, o drama preparado antecipadamente em sua cabeça. É a tarefa do universo desdobrar a realidade; a sua é de apenas plantar a semente.

Enxergue a todos como uma extensão de você. Quando alguém entra no caminho espiritual, geralmente se sente mal compreendido. A acusação (quando não é pelas costas) é de que ficam centrados em si mesmos. A insinuação é 'você não é o centro do universo'. Se esse 'você' representar o ego isolado, então é totalmente verdade. Mas no nível da alma, o eu muda. Perdendo seus limites, ele se mescla ao fluxo da vida. No caminho espiritual, você passa a sentir o fluxo e desejosamente integrar-se nele. Depois então - e somente depois - todos se tornarão um extensão de você. Como pode saber que chegou a esse ponto? Em primeiro lugar, você não tem inimigos. Em segundo, sente a dor de uma outra pessoa como se fosse sua. Em terceiro, descobre que uma empatia comum une a todos. 
À medida que essas três verdades despontam, é sinal de que a realidade está mudando. Você está reivindicando seu novo lar na paisagem infinita do espírito. Mas antes mesmo que isso se realiza, você está conectado com todas as demais pessoas. Nada o impede de viver essa verdade. Sempre haverá diferenças de personalidade. O que muda é o interesse próprio. Em vez de ser sobre 'eu', começa a ser sobre 'nós', a consciência coletiva que une a todos. Na prática, significa buscar entendimento, consenso e reconciliação. Esses são os objetivos essenciais para quem vive no fluxo." ...continua

(Deepak Chopra - Reinventando o Corpo, Reanimando a Alma - Ed. Rocco Ltda., Rio de Janeiro, 2010 - p. 257/258)


quinta-feira, 1 de abril de 2021

O SIGNIFICADO DA DOR - 4a (PARTE FINAL)

"(...) Poucos têm a coragem, ainda que lentamente, de enfrentar a grande desolação que se encontra fora deles mesmos, e lá repousar, enquanto apegam-se à pessoa que representam, o 'eu' que para eles é o centro do mundo, a causa de toda a vida. Em seu anseio por um deus, eles encontram a razão da existência de um; no desejo por um corpo sensorial e um mundo para desfrutar, a causa do Universo existe para eles. Essas crenças podem estar ocultas muito abaixo da superfície e, de fato, de difícil acesso; mas a razão pela qual o ser humano se mantém em pé, está no fato de que as crenças lá se encontram. Ele é, para si mesmo, o infinito e o deus; sustenta o oceano em uma taça. Nesta ilusão ele nutre o egoísmo que torna a vida prazerosa e a dor agradável. Nesse profundo egoísmo está a causa e a fonte da existência do prazer e da dor, pois a menos que o indivíduo vacilasse entre estes dois, e incessantemente lembrasse a si mesmo, pela sensação, de que o egoísmo existe, ele o esqueceria. E, nesse fato, está toda a resposta à pergunta: 'Por que o homem cria dor para seu próprio desconforto?'

O fato estranho e misterioso permanece, até então, inexplicável; ao se iludir, o ser humano meramente interpreta a Natureza ao contrário e atribui a significação da vida às palavras de morte. Para aquele indivíduo que realmente segura o infinito dentro de si, e que o oceano realmente está na taça, é uma verdade incontestável; mas unicamente é assim, porque a taça é absolutamente inexistente. É meramente uma experiência do infinito, impermanente, sujeita a ser destroçada a qualquer instante.

É na reivindicação da realidade e da permanência dos quatro muros de sua personalidade que o ser humano comete o grande erro, mergulhando numa série prolongada de incidentes infelizes e intensificando continuamente a existência de suas formas favoritas de sensação. Prazer e dor se tornam para ele mais reais do que o grande oceano do qual ele faz parte e onde encontra seu lar; perpétua e dolorosamente bate contra esse muros, nos quais sente, e seu eu mesquinho oscila dentro de sua prisão escolhida." 

(Mabel Collins - Através dos Portais de Ouro - Ed. Teosófica, Brasília, 2019 - p. 102/104)
www.editorateosofica.com.br 


quinta-feira, 26 de novembro de 2020

LIBERDADE E MORAL (PARTE FINAL)

"Para refletirmos sobre a liberdade, Rohit Mehta, em seus comentários aos Yoga Sutras de Patañjali (Yoga, Arte de Integração, Ed. Teosófica), faz uma distinção entre o esforço humano e a expressão espontânea da experiência espiritual. Ele diz: 'Neste ponto o Yoga difere completamente da vida considerada no sentido do empenho moral ou religioso. Em uma vida religiosa, construída sob princípios morais, o esforço humano é o começo e a finalidade.' Por outro lado, ele afirma: 'O homem espiritual possui uma moralidade de natureza elevada e profunda. É natural e espontânea. Não é uma moralidade onde o pensamento busca ser traduzido em ação. Ao invés disso, é uma moralidade que se encontra na natureza de uma expressão da experiência profundamente sentida.'

A reflexão de Mehta mostra que a moral social, mesmo sendo necessária, é provisória e pode tornar-se mecânica e opressiva quando não é oxigenada como um caminho que leva a uma experiência real do ser espiritual, o verdadeiro Eu. Nesse caminho, as regras servem como o mapa da viagem e nos indicam a direção, mas não nos prendem em sua forma, e o seu conteúdo se atualiza e se aprofunda conforme crescemos em consciência ao nos aproximarmos do Ser. Segundo a visão do Yoga, as pessoas são mais ou menos morais conforme mais espessa ou mais fina for a camada egoica que as separam do seu Eu espiritual. O propósito do Yoga é eliminar essa camada egoica, e a ética funciona como uma ferramenta para isso. Depois da realização do ser, no entanto, a moral espiritual é a expressão livre, natural e autêntica daquele que não fará mal ao outro porque sente que o outro é ele mesmo. 

Enfim, a outra via do problema da moral é: conhece-te a ti mesmo. Pois o verdadeiro Eu é o Ser que habita todas as coisas; aquele que, por não querer ferir o seu eu, não será capaz de ferir ninguém, independentemente de regras externas. Da mesma forma isso se dá com o fazer o bem, e ilustra as palavras de Jesus, que se sentia uno com toda a criação: 'Todas as vezes que deixastes de fazer a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer."

(Cristiane Szynwelski - Liberdade e moral - Revista Sophia, Ano 18, nº 86 - p. 22)


terça-feira, 24 de novembro de 2020

LIBERDADE E MORAL (1ª PARTE)

"Proíba-se e liberte sua alma - assim disseram as religiões. Mas como ser livre andando nos trilhos do permitido e proibido? É como sentir dor e ter que sorrir ao mesmo tempo. Tomar remédio amargo em vida em troca do néctar após a morte. Mas e se tudo acabar com a morte? 'Largue isso', disseram alguns filósofos; 'religião é opressão'. E muita gente acreditou. 

Depois dessa suposta libertação, perguntemos a nós mesmos, mas sejamos honestos: realmente estamos livres? Pense comigo: o que é ser livre? É fazer o que se quer? Por exemplo, se eu precisar de atendimento médico e for a um hospital, e todos lá fizerem só o que quiserem, talvez ninguém queira me atender. Então volto a perguntar: é possível sentir-se livre em uma sociedade assim?

Você pode me dizer: posso fazer só o que quero e livremente serei solidário e farei o bem. Mas quem garante que o outro fará? E o bem que cada um faz, ou pensa que faz, é bom na opinião de quem? Então precisamos de leis, baseadas em consenso, e, como as leis não podem regular tudo, precisamos de ética, prescrições morais. Assim, voltamos às religiões.

Podemos andar em círculos, da moral, da religião, para a quebra dos padrões de conduta, e depois voltar, sucessivamente. Ou podemos procurar outra via. Se você tem um filho, por exemplo, o qual você ama, diga-me: você o trata bem para cumprir a legislação ou um código de ética, ou porque o bem-estar dele repercute no seu próprio bem-estar? A maioria das pessoas vai responder que é sensível às condições dos filhos e parentes, mas talvez nem todas elas tenham a mesma sensibilidade com a situação dos 'outros'. Na verdade, todos nós queremos viver onde os outros estão bem, mas não nos damos conta disso. Quando estamos distraídos com o nosso próprio sofrimento, não vemos nada, mas quando estamos felizes, percebemos que a nossa alegria não consegue se expandir quando os próximos estão tristes. Se somos ricos, nos sentimos ameaçados com a falta de segurança, e então desejamos morar em um país onde todos são prósperos. No entanto, não refletimos sobre isso. Somos capazes de sentir fome, portanto sabemos que precisamos comer, mesmo não havendo normas que tornem a alimentação obrigatória. Mas como não percebemos o quanto as condições dos outros nos afetam, não sentimos que precisamos de códigos de conduta para o convívio em sociedade. Pois o nosso sentimento de unidade com o resto da vida ainda não está desenvolvido como a fome. Porque temos consciência do corpo, mas não temos consciência do verdadeiro Eu. (...)"

(Cristiane Szynwelski - Liberdade e moral - Revista Sophia, Ano 18, nº 86 - p. 22)


quinta-feira, 29 de outubro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (7ª PARTE)

 "21. A natureza e o conteúdo do observado existem para a manutenção da continuidade do observador.

Pode-se perguntar: por que criamos o observado ao invés de olhar para o real? A resposta é dada no sutra acima. O observado é o produto do observador. Não são duas coisas diferentes. Ao perceber o real, a mente enfrenta o perigo de ser deslocada de sua posição de segurança. Ver o real é ser arrancado pela raiz do solo de nossas próprias conclusões, o que obviamente ameaça a própria segurança e continuidade da mente. A mente, na verdade, teme ver o real. Em função deste temor, lança uma tela de continuidade sobre os impactos da vida. A vida é nova de momento a momento, e, portanto, não podemos nos familiarizar com ela. Logo, a vida é para sempre desconhecida. A mente do homem, através de sua tela de continuidade, tenta colocar o não familiar na estrutura familiar. Podemos lidar com o familiar sob o aspecto do passado, e esta é sempre a abordagem da mente. Ela nunca se ocupa do presente como ele é, mas sempre através da tela do passado. Assim, Patañjali diz que o observador cria o observado para a manutenção de sua própria continuidade. O observador sente-se seguro apenas no mundo do observado, jamais na região do real. Condicionado pelo passado, projeta seu próprio condicionamento nos impactos da vida e, assim, cria o observado. Na corda que realmente existe, o observador projeta uma cobra e então, age segundo esta suposição. Pode-se perguntar: não podemos ver o real, mudando a escala da observação? Se esta for mudada, podemos não ver a cobra, mas outra coisa qualquer projetada pelo observador. O problema não está no observado, porém no próprio observador. Uma mudança na escala de observação apenas traria uma mudança nos padrões do observado. Poderia, na melhor das hipóteses, ocasionar uma modificação na forma do observado. Portanto, o problema não é mudar a forma do observado, mas eliminar o próprio observador. O observador é a consciência condicionada, que busca sua própria continuidade. Em outras palavras, o observador é asmitã, o produto da falsa identificação. É o senso do eu, construído pela natureza adquirida do homem. É o conglomerado do vrttis, ou os hábitos da mente. Que o problema é o próprio observador está clara no próximo sutra: (...)"

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 97)


terça-feira, 27 de outubro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (6ª PARTE)

 

"20. O observador, ao invés de manifestar puro percebimento, vê através da tela conceitual da mente.

Este sutra implica que o observado vem à existência a partir do estado condicionado do observador. Em outras palavras, é o observador que cria o observado,  pois este não tem existência intrínseca. O observador não olha para a coisa, mas através da tela conceitual da mente, que é sua imagem. Assim, o observado é, de fato, a imagem dos homens e das coisas. Mas o observador é diferente da mente? Ao discutirmos a aflição, asmitã, vimos que o senso do eu, aquela entidade que é descrita como o 'eu', não é diferente da mente. A mente que busca sua continuidade traz à existência a assim chamada entidade permanente, que é o 'eu'. Dizemos 'assim chamada', porque não possui absolutamente permanência, tendo nascido em razão do desejo da mente por continuidade. O senso do eu e a continuidade são sinônimos, pois reconhecemos o 'eu' através do fator da continuidade. Assim, o observador e a mente são idênticos, o que está claro no próximo sutra onde é dito: (...)"

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 96)




terça-feira, 7 de janeiro de 2020

CONHEÇA-SE A SI MESMO (2ª PARTE)

"(...) Muitas pessoas, com toda sinceridade, esforçam-se para encontrar Deus. Contudo, caso lhes perguntassem o que exatamente querem dizer com isso, como imaginam que aconteça, seria difícil para eles dar uma resposta significativa. Porém, naturalmente, existe esse desejo de 'encontrar a Deus'. Na verdade é um processo bastante concreto, não existindo nada nebuloso, irreal ou ilusório a respeito dele.

Encontrar Deus quer dizer realmente encontrar ou Eu Verdadeiro. Se encontrar a si mesmo em algum grau, você está em relativa harmonia, percebendo e compreendendo as leis do Universo. Você é capaz de relacionar-se, de amar e de experimentar alegria. É realmente responsável por si mesmo. Você tem a integridade e a coragem para ser você mesmo, mesmo ao preço de abrir mão da aprovação dos outros. Tudo isso significa que você encontrou Deus - não importa o nome pelo qual esse processo possa ser designado. Ele também pode ser denominado de retorno da autoalienação.

O único modo de achar a felicidade é encontrando Deus, e ela pode ser achada aqui e agora mesmo. 'Como?', você poderia perguntar. Meus amigos, com muita frequência as pessoas imaginam que Deus está incomensuravelmente distante no Universo, e é impossível de se alcançar. Isso está longe de ser verdade. O Universo inteiro está no interior de cada pessoa; cada criatura viva tem uma parte de Deus dentro de si. O único modo de alcançar essa parte divina lá dentro é pelo caminho íngreme e estreito do autodesenvolvimento. O objetivo é a perfeição. A base para isso é conhecer-se a si mesmo!

Conhecer-se a si mesmo é realmente difícil, pois significa encarar muitas características pouco lisonjeiras. Significa uma busca contínua, infinita: 'O que eu sou? O que realmente significam as minhas reações - e não apenas os meus atos e pensamentos? Será que minhas ações são apoiadas pelos meus sentimento, ou será que eu tenho motivos por trás dessas ações que não correspondem ao que eu gosto de acreditar a meu próprio respeito ou ao que eu gosto que as outras pessoas acreditem? Tenho sido honesto para comigo mesmo até aqui? Quais são os meus erros?' (...)"

(Eva Pierrakos, Donovan Thesenga - Não Temas o Mal - Ed. Pensamento-Cultrix Ltda., São Paulo, 2006 - p. 24)

terça-feira, 26 de novembro de 2019

TRISTEZA

Resultado de imagem para tristeza"A tristeza não tem existência concreta. Se você afirmá-la o tempo todo, ela existirá, se negá-la em sua mente, ela deixará de existir. É a isso que chamo 'o herói no homem': sua natureza divina ou essencial. Para se livrar da tristeza, o homem precisa impor seu Eu heroico às atividades diárias.

A raiz da tristeza é a carência de heroísmo e coragem no homem normal. Quando o elemento heroico falta no quadro mental de uma pessoa, sua mente fica sujeita a todas as aflições que aparecem. A vitória mental traz felicidade à vida; a derrota mental só lhe traz sofrimento. Enquanto o vencedor estiver desperto no homem, nenhum desgosto poderá mergulhar nas sombras os umbrais de seu coração.

Lágrimas e suspiros no campo de batalha da vida são a covardia, em estado puro, de uma mente fraca. Quem renuncia à luta se torna prisioneiro dentro das muralhas de sua própria ignorância. A vida não passa de uma perpétua superação de problemas. Todo problema que aguarda solução de sua parte é um dever religioso que a vida lhe impôs.

Não há vida sem problemas. No fundo, as condições não são boas nem más: são simplesmente neutras e só parecem desalentadoras ou estimulantes por causa da atitude desiludida ou entusiástica da mente.

Quando a pessoa desce abaixo do nível das circunstâncias, cede à influência dos tempos ruins, da má sorte e da tristeza. Quando paira acima das circunstâncias valendo-se da coragem interior, todas as condições da vida, não importa quão sombrias e ameaçadoras sejam, parecem o manto de névoa que se dilui aos primeiros calores do sol. Os aborrecimentos do homem normal não são inerentes às condições da vida. Eles nascem da fraqueza da mente humana. Conclame o vencedor que há em você, desperte o herói que dorme em seu interior e pronto: nenhuma tristeza obscurecerá sua porta!"

(Paramhansa Yogananda - A Sabedoria de Yogananda, Como Ter Coragem, Serenidade e Confiança - Ed. Pensamento, São Paulo, 2012 - p. 20/22)
www.editorapensamento.com.br


terça-feira, 10 de setembro de 2019

A EXPOSIÇÃO DO INFERIOR REVELA O SUPERIOR

"Imaginem só, meus amigos, a situação bastante penosa e difícil em que vocês se colocam quando escondem aquilo de que mais se envergonham e têm medo. É precisamente por causa dessa ocultação que vocês criam as atitudes que mais odeiam em si mesmos. Vocês as tornam infinitamente piores com os gestos que as encobrem, e depois vocês se tornam cada vez mais convencidos, nos níveis profundos da consciência, de que elas constituem o seu ser real. Esse círculo vicioso faz com que vocês fiquem mais determinados a esconder e, portanto, vocês se sentem mais isolados, mais pessimistas e destrutivos justamente por causa desses métodos de ocultação. Pois ocultar sempre implica projetar a culpa real nos outros, a recriminação, o ato de encobrir a hipocrisia e assim por diante. Por conseguinte, vocês se tornam mais convencidos de que a parte encoberta é a imagem máxima de vocês mesmos para quem não há esperança nenhuma. A verdadeira tarefa de vocês deve começar pela total exposição de vocês mesmos. Afirmei isso muitas vezes, simplesmente porque não há um oposto para esse aspecto do desenvolvimento espiritual. Todos os buscadores do desenvolvimento espiritual que evitam isso enganam-se e devem, num momento ou outro, deparar um despertar difícil e doloroso. Vocês têm de passar por esse processo; têm de expor todas as partes de vocês. Essa exposição, no entanto, também traz em sua esteira a consciência de que a pior opinião de vocês mesmo nunca se justifica, independentemente da feiura dos traços e atitudes que vocês escondem. Elas nunca se justificam porque essas partes são tão somente aspectos isolados da consciência total de que o seu eu real se encarregou. 

À medida que passam por esses estágios, vocês têm consciência do seu Eu superior, não como uma teoria nem como uma premissa filosófica, mas como simples realidade, bem aqui e agora. Vocês se sentem como a entidade real que são, que sempre foram e serão independentemente do que os aspectos isolados da consciência criam na forma de ilusão e loucura. Essa é, de fato, uma tarefa difícil e maravilhosa! Ao fazê-lo, vocês aprendem mais sobre a realidade interior de vocês e sobre todos os seus variados aspectos e níveis de consciência. Vocês passam a ver o acontecimento exterior em relação a sua paisagem interior. Esta não é mais uma analogia simbólica e 'colorida'. Ela é a dura realidade."

(Eva Pierrakos/Donovan Thesenga - Entrega ao Deus Interior - Ed. Cultrix, São Paulo, 2003 - p. 24/25)


terça-feira, 3 de setembro de 2019

A LIBERAÇÃO DO EU ESPIRITUAL

"Seu eu espiritual não pode ser liberado se você não aprender a viver todos os seus sentimentos e se não aceitar cada parte do seu ser, por mais destrutiva que possa ser agora. Por mais negativa, mesquinha, fútil ou egoísta que alguma parte de sua personalidade possa ser - em contraste com outras, mais desenvolvidas - é absolutamente necessário que todos os aspectos do seu ser sejam aceitos e trabalhados. Nenhum aspecto deve ser omitido ou encoberto na esperança presunçosa de que não interessará e de que de algum modo se dissipará. Mas, meus amigos interessa. Nada do que está em você é desprovido de força. Por mais recôndito que um aspecto sombrio possa estar, ele cria condições de vida que você deve deplorar. Este é um dos motivos pelos quais você deve aprender a aceitar os aspectos negativamente criativos em você. Outro motivo é que por mais destrutivo, cruel e mau que possa ser, cada aspecto de energia e consciência é ao mesmo tempo belo e positivo em sua essência original. As distorções devem ser novamente transformadas em sua essência original. A energia e a consciência terão condições de tornar-se novamente fatores positivos de criação somente quando a luz do conhecimento e a intencionalidade positiva se concentrarem sobre elas. Se você não fizer isso, não poderá penetrar em seu âmago criador."

(Eva Pierrakos - O Caminho da Autotransformação - Ed. Cultrix, São Paulo, 2006 - p. 33)


terça-feira, 10 de abril de 2018

A PERSONA E O EGO

"Todos nós temos uma imagem que apresentamos ao mundo - é o que Jung chama de persona. O modo como nos vestimos, como falamos, a personalidade que gostamos de apresentar, tudo isso é parte de uma persona que desenvolvemos desde nossos primeiros anos. A persona é influenciada pela educação. Família, escolas, amigos, sociedade: todos esses elementos têm normas, valores e atributos, e o esperado é que nós os aceitemos e os tornemos nossos.

A persona não é o 'eu' real; é a expectativa da sociedade sobre como alguém no nosso papel deve se vestir, falar e se comportar. Se nos preocupamos demais com nossas personas, podemos terminar vivendo segundo as expectativas de nossos pais, de nosso grupo social ou religioso, ou de nossos cônjuges. Podemos não estar sendo verdadeiros e autênticos em relação a nós mesmos. Podemos estar vivendo a ideia de outra pessoa sobre como nossa vida deveria ser.

Se nos identificarmos muito intimamente com nossa persona, podemos perder parte de nós mesmos - mas não completamente. Partes não realizadas de nossa personalidade surgem nos sonhos, nas fantasias e em atos falhos. Se algo é empurrado para o inconsciente, certamente se esforçará para sair. Se nossa persona estiver muito distante da nossa verdadeira personalidade, podemos nos sentir afligidos por neuroses.

O ego é o que nós pensamos que somos. É a nossa personalidade como conscientemente a conhecemos. Faz parte da nossa força motriz, do nosso desejo pessoal de autoexpressão e de controle sobre o mundo à nossa volta.

Ego não significa egoísta ou egocêntrico; é uma palavra latina que significa 'eu'. Desenvolvemos nosso senso de ego na infância. Ouvimos as outras pessoas descreverem nossa personalidade e nosso comportamento e internalizamos essas descrições como aquilo que pensamos ser o 'eu': Miguel tem um temperamento ruim; Ana gosta de cooperar; Mário é um bom menino. Todos esses rótulos tornam-se parte da nossa identidade, mas eles podem estar ligeiramente fora de foco - ou completamente errados. Eles são filtrados pelas personalidades de outras pessoas, que interpretam nossas ações de acordo com seu próprio esquema das coisas.

Para compreender as necessidades que o ego tem em relação aos outros, devemos primeiramente entender a nós mesmos. Não podemos ter relacionamento bem-sucedidos com amigos, amantes ou pais a não ser que tenhamos uma noção realista da nossa própria identidade. Se sabemos quem somos, podemos fazer melhores escolhas nos nossos relacionamentos."

(Vivianne Crowley - A consciência segundo Jung - Revista Sophia, Ano 7, nº 25 - p. 33)


sexta-feira, 23 de março de 2018

TEXTO ZAZEN WASAN

"Desde o princípio todos os seres são Budas.

Como a água e o gelo, sem água não há gelo,

Fora de nós não há Budas

Quão próximos da verdade, todavia quão longe a buscamos.

Como alguém dentro d'água gritando 'Tenho sede'.

Como uma criança de rica linhagem

vagueando neste terra como se fosse pobre,

nós vagueamos eternamente e damos voltas aos seis mundos.

A causa de nossa dor é a ilusão do ego.

De um caminho sombrio a outro vagueamos nas trevas,

Como podemos nos livrar da roda de samsara?

A passagem para a liberdade é o Samadhi Zazen,

além da exaltação, além de nossos louvores,

o puro Mahayana.

A observação dos preceitos, o arrependimento e o doar-se,

as incontáveis boas ações e o caminho do reto viver

surgem todos de Zazen.

Assim, um verdadeiro Samadhi extingue os males;

purifica o carma, dissolvendo as obstruções.

Então, onde estão os caminhos sombriso que nos fazem extraviar?


A Terra do Lótus Puro não é distante.

Ouvir esta verdade, coração humilde e agradecido,

louvá-la e abraçá-la, praticar sua sabedoria,

traz bênçãos intermináveis, montanhas de mérito.


Mas se nos voltarmos para o interior e provarmos de nossa Verdadeira natureza,

que o Verdadeiro eu é não eu,

que o nosso próprio Eu é não eu,

vamos além do ego e das palavras astutas.

Então o portal que leva à unidade de causa e efeito é aberto.

Nem dois e nem três, em frente segue o Caminho.

Sendo a nossa forma agora a não forma,

para virmos e irmos jamais saímos de casa.

Sendo o nosso pensamento agora não pensamento,

as nossas danças e as nossas canções são a voz do Dharma.

Como é vasto o céu de ilimitado Samadhi!

Como é claro e transparente o luar da sabedoria!

O que existe fora de nós, o que nos falta?

O Nirvana está totalmente aberto aos nossos olhos.

Esta terra onde estamos é a Terra do Lótus Puri.

É este mesmo corpo, o corpo de Buda."

(Hakuin Zenji - Além do Despertar - Ed. Teosófica, Brasília, 2006 - p. 27/28)


terça-feira, 20 de março de 2018

A VERDADE ETERNA, A META DA IOGA (1ª PARTE)

"Todo ser humano plenamente desperto é, em sua natureza e atividade mais elevada, um buscador da verdade. A meta mais elevada do homem poderia ser descrita como a descoberta da Verdade última. Isto implica aquilo que por si só é individual e indivisível, como um átomo final ou anu e que pode ser assemelhado à luz branca, imaculada e imaculável, ou à joia plenamente transparente, o diamante.

A ideia usual de Verdade do homem está longe desta veracidade eterna, última - deífica e luminosa. Cada indivíduo pode definir o que é Verdade por si mesmo e dar a ela nomes tais como 'unidade', 'união', 'lei', 'beleza', 'o derradeiro fato singular', ou mesmo 'fogo', 'ordem', 'vontade'. A Verdade irradia todos estes conceitos, os quais lhe pertencem, mas uma combinação imaculada da essência de todos estes descreve mais aproximadamente a Verdade última.

Isto não é a verdade acerca de algo na manifestação, mas aquela misteriosa Existência ou Princípio eterno, cuja descoberta é a meta. Para alcançá-la, o iogue deve transcender inteiramente sua natureza humana e entrar na consciência de seu Eu imortal, penetrar pela ioga até além da mente abstrata - que no homem é condicionada - chegando à intuição, e ali habitar em silêncio místico em sua Busca pela Verdade última. Somente quando ele pode tocar a Existência Átmica ou Nirvânica é que ele começa a se aproximar do que foi chamado de 'a Escura Verdade Una'. Ela é escura somente para a mente humana, mas luz inefável para o Espirito humano. 

Ali, exaltado, ele está em companhia dos Adeptos, que buscam a Verdade eterna, por cuja luz Eles já se tornaram iluminados, omniscientes e com todo o saber, no que concerne aos princípios e a toda sabedoria com relação às expressões manifestadas destes princípios. O Nirvana pode então ser parcialmente descrito como a absorção no Princípio eterno, ou a identificação com a Verdade eterna. Podemos ver que isto é infinitamente acima e além de quaisquer conhecimento, compreensão e mesmo intuição a respeito da Verdade manifestada. 

O iogue talvez possa dizer que a meta é a Autoidentificação com a própria Verdade, para sempre e mais além. Isto é Maha-Paranirvana ou ser dissolvido na Existência eterna. O Jivanmukta que entra neste estado perde-se e realmente desaparece da existência manifestada pela restante do Mavantara Solar. (...)"

(Geoffrey Hodson - A Suprema Realização através da Ioga - Ed. Teosófica, Brasília, 2001 - p. 29/30)


sexta-feira, 16 de março de 2018

FORME BONS HÁBITOS

"Passo a passo, você atingirá o fim da estrada. Um bom ato seguido por outro conduz a um bom hábito. Escutando, você é estimulado a agir. Decida agir; junte-se somente com pessoas boas; leia somente livros elevados; forme o hábito de namasmarana (repetição do nome do Senhor) - e, então, a ignorância (ajnana) automaticamente desaparecerá. Anandam (Bem-aventurança), que crescerá dentro de você, pela contemplação sobre Anandaswarupa (a forma divina que personifica a bem-aventurança), afastará toda aflição e toda preocupação.

Esta proximidade é ganha pelo bhaktha (devoto), o qual não pode estar firme, exceto após a anulação do 'eu' e do 'meu'. Quando um preso é conduzido de um lugar a outro, é escoltado por dois policiais. Não é? Quando o homem que é prisioneiro nesta cadeia² se move de um lugar a outro, é também acompanhado por ahamkara (egoísmo) e mamakara (possessividade). Quando ele se movimenta sem estes dois, esteja certo, ele é um homem livre, libertado da prisão."

² ',,,nesta cadeia...' - a cadeia de nascimentos e mortes, isto é, samsara.

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 52)


segunda-feira, 12 de março de 2018

O CAMINHO DO MEIO (PARTE FINAL)

"(...) A yoga não diz que devemos nos tornar indiferentes aos objetos. Eles continuam a existir, os sentidos estão vivos, a mente percebe, mas não se move. Viajar sem mover-se é uma parte importante do aprendizado, porque o movimento origina-se no eu. Podemos nos colocar na posição de outro sem sairmos do lugar. Talvez precisemos meditar sobre isso e aprender a conhecer a natureza do movimento. O caminho do meio conduz a uma ordem superior que torna possível viver de maneira diferente. Também é chamado de senda do fio da navalha, porque o fio é tão afiado que precisamos aprender a andar por ele; depois fica fácil.

A escritura cristã diz 'apertado é o portão, estreito o caminho'. Esse é o caminho que devemos trilhar. Parece difícil quando visto pela personalidade, mas a austeridade chega por si mesma quando começamos a trilhar a senda. Vem naturalmente e não como algo que foi aprendido e exercitado. Muitos de nós somos autoindulgentes: vemos algo belo e logo o queremos. Podemos ter uma vida na qual não haja austeridade nem autoindulgência? Queremos comer ou ter algo que não é bom para nós. Certamente temos que cuidar do corpo, mantê-lo limpo e útil, mas não é bom dar-lhe demasiada atenção como fazem muitas pessoas.

Chegamos ao equilíbrio através da vigilância. A memória pode fazer muitos males aos seres humanos. Como a mente pode ficar tranquila? Ver que a mente trabalha apenas quando necessário é tornar-se cônscio e saber. O Mestre escreveu numa carta a Sinnett: 'Lembre que as expectativas ansiosas não são apenas sérias, mas perigosas. Todo movimento e vibração do coração desperta paixões. Quem busca o conhecimento não deve ser indulgente com as afeições'.

Às vezes as pessoas dizem que desejam chegar a tal ou qual estágio na vida espiritual, mas o querer nada tem a ver com isso. É melhor não desejar com muita paixão, muito seriamente aquilo que queremos atingir. O próprio desejo pode impedir essa possibilidade. Consideremos por nós mesmos qual é o caminho do meio, não por uma visão sectária ou budista, mas claramente de acordo com nosso julgamento atual. Uma coisa que o dificulta é a pressão que sofremos da sociedade, de nossas famílias e de nossos amigos. Pensam que devemos nos comportar como eles. Será que poderemos nos livrar interiormente, não ficarmos amarrados à religião ou às circunstâncias sociais em que nos encontramos?"

(Radha Burnier - O caminho do meio - TheoSophia, Ano 99, Janeiro/Fevereiro/Março de 2010 - Pub. da Sociedade Teosófica do Brasil - p. 10)