OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


quinta-feira, 5 de novembro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (9ª PARTE)

"23. O fenômeno observador-observado cria um relacionamento de possuir e de ser possuído.

Aqui as palavras utilizadas são sva-sakti e svãmi-sakti. O sutra indica que cada um tenta satisfazer a si mesmo. Svãmi-sakti é o possuidor e quer possuir, seja um objeto ou um indivíduo. Mas aquilo que o homem busca possuir, por sua vez, quer possuir o possuidor. O relacionamento do possuidor e do possuído é obviamente de uso. É uma estranha lei da vida que aquele que quer possuir deve também estar pronto para ser possuído. Ambos estão comprometidos com svarupa-upalabdhi, que significa tentar satisfazer seu próprio fim. Possuir é ser possuído. Os dois seguem juntos. Ter um sem o outro é uma impossibilidade. Este é o ponto crucial do relacionamento de uso. O explorador e o explorado seguem juntos. A necessidade de ser explorado dá origem ao explorador. No relacionamento de uso vemos a pior forma de exploração do homem pelo homem. Patañjali diz no sutra subsequente que:

24. Este desejo de possuir e de ser possuído é motivado por avidiã ou ignorância.

Certamente tal relacionamento de uso nasce da ignorância. Patañjali tem discutido o problema das aflições. A maior aflição que surge na vida do homem deve-se aos relacionamentos infelizes. Este é o maior problema do homem. Ele seria intensamente feliz se pudesse conhecer o segredo do reto relacionamento. Mas o reto relacionamento pode surgir apenas quando a couraça de avidyã é quebrada. Precisamos nos lembrar de que o relacionamento de uso tem sua origem no desejo de continuidade. A questão de uso pela própria continuidade de si é o que dá origem à rãga e dvesa. Porém este desejo por continuidade não tem valor a menos que conheçamos a entidade que quer ser contínua. O relacionamento de uso é motivado pelo desejo de posse. Contudo, antes que possamos possuir o outro, precisamos possuir a nós mesmos. Mas o Ser⁷ pode ser possuído? Se ele é não nascido, como pode ser possuído? Se aquilo que é vivo está em um estado de fluxo, como pode um fluxo ser possuído? Então, o que é aquilo que possuímos? Certamente, podemos possuir apenas nossa imagem, e é esta imagem que consideramos como nós mesmos, que é asmitã no verdadeiro sentido. Tendo formado uma imagem de nós mesmos, movemo-nos na direção de possuir a imagem do outro. É o que chamamos de relacionamento. Não é de admirar-se que tal relacionamento não leve à alegria e à felicidade. Transformamo-nos em uma imagem, e considerar esta imagem como nós mesmos é a mais elevada forma de ignorância. O relacionamento de uso com sua consequente aflição pode desaparecer apenas quando esta ignorância colossal sobre nós mesmos tiver sido removida. Patañjali diz no próximo sutra: (...)"    

⁷ No original em inglês: Self. (N.E.)

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 98/99)
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terça-feira, 3 de novembro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (8ª PARTE)

"22. Para aquele que não objetiva realizar-se através da existência do observado, o observado não existe; mas para os demais ele continua a existir.

O homem normalmente estabelece um relacionamento de uso com o mundo em que vive, seja físico ou psicológico. É deste relacionamento que surge o observado. Precisamos nos lembrar de que tal relacionamento jamais poderá estabelecer-se com algo que está vivo, pois a vida é um estado de fluxo e, portanto, não é estática. O uso possível apenas em relação a algo estático ou imóvel. Assim, para ter aquele relacionamento, a vida precisa ser transformada em imagem. O sutra acima diz que, para aquele que tenha ido além do relacionamento de uso,  o observado não existe. Tal indivíduo não tem objetivo a realizar advindo da existência do observado. Daí que o observado desaparece quando cessa este relacionamento de uso. O sutra, contudo, diz que para os demais, o observado continua a existir. A partir disso, fica evidente que o observado não tem existência per se; ele é trazido à existência pelo observador para seu próprio propósito. O relacionamento de imagem à imagem, obviamente, é um relacionamento de uso, no qual há sempre o desejo de ter e de possuir. No seguinte sutra isso está ainda mais claro.(...)"

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 97/98)


quinta-feira, 29 de outubro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (7ª PARTE)

 "21. A natureza e o conteúdo do observado existem para a manutenção da continuidade do observador.

Pode-se perguntar: por que criamos o observado ao invés de olhar para o real? A resposta é dada no sutra acima. O observado é o produto do observador. Não são duas coisas diferentes. Ao perceber o real, a mente enfrenta o perigo de ser deslocada de sua posição de segurança. Ver o real é ser arrancado pela raiz do solo de nossas próprias conclusões, o que obviamente ameaça a própria segurança e continuidade da mente. A mente, na verdade, teme ver o real. Em função deste temor, lança uma tela de continuidade sobre os impactos da vida. A vida é nova de momento a momento, e, portanto, não podemos nos familiarizar com ela. Logo, a vida é para sempre desconhecida. A mente do homem, através de sua tela de continuidade, tenta colocar o não familiar na estrutura familiar. Podemos lidar com o familiar sob o aspecto do passado, e esta é sempre a abordagem da mente. Ela nunca se ocupa do presente como ele é, mas sempre através da tela do passado. Assim, Patañjali diz que o observador cria o observado para a manutenção de sua própria continuidade. O observador sente-se seguro apenas no mundo do observado, jamais na região do real. Condicionado pelo passado, projeta seu próprio condicionamento nos impactos da vida e, assim, cria o observado. Na corda que realmente existe, o observador projeta uma cobra e então, age segundo esta suposição. Pode-se perguntar: não podemos ver o real, mudando a escala da observação? Se esta for mudada, podemos não ver a cobra, mas outra coisa qualquer projetada pelo observador. O problema não está no observado, porém no próprio observador. Uma mudança na escala de observação apenas traria uma mudança nos padrões do observado. Poderia, na melhor das hipóteses, ocasionar uma modificação na forma do observado. Portanto, o problema não é mudar a forma do observado, mas eliminar o próprio observador. O observador é a consciência condicionada, que busca sua própria continuidade. Em outras palavras, o observador é asmitã, o produto da falsa identificação. É o senso do eu, construído pela natureza adquirida do homem. É o conglomerado do vrttis, ou os hábitos da mente. Que o problema é o próprio observador está clara no próximo sutra: (...)"

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 97)


terça-feira, 27 de outubro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (6ª PARTE)

 

"20. O observador, ao invés de manifestar puro percebimento, vê através da tela conceitual da mente.

Este sutra implica que o observado vem à existência a partir do estado condicionado do observador. Em outras palavras, é o observador que cria o observado,  pois este não tem existência intrínseca. O observador não olha para a coisa, mas através da tela conceitual da mente, que é sua imagem. Assim, o observado é, de fato, a imagem dos homens e das coisas. Mas o observador é diferente da mente? Ao discutirmos a aflição, asmitã, vimos que o senso do eu, aquela entidade que é descrita como o 'eu', não é diferente da mente. A mente que busca sua continuidade traz à existência a assim chamada entidade permanente, que é o 'eu'. Dizemos 'assim chamada', porque não possui absolutamente permanência, tendo nascido em razão do desejo da mente por continuidade. O senso do eu e a continuidade são sinônimos, pois reconhecemos o 'eu' através do fator da continuidade. Assim, o observador e a mente são idênticos, o que está claro no próximo sutra onde é dito: (...)"

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 96)




quinta-feira, 22 de outubro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (5ª PARTE)

"19. As manifestações dos gunas ocorrem em função do passivo ou do ativo, do tosco ou do sutil.

Isso significa que os gunas, em suas manifestações, podem ser passivos ou ativos, toscos ou sutis, em sua natureza qualitativa. As palavras sânscritas utilizadas são visesa, avisesa, linga-mãtra e alinga. Avisesa é geral, vago e amorfo e, portanto, passivo, enquanto visesa tem uma forma e um comportamento particulares e é, portanto, ativo. Analogamente, linga-mãtra é diferenciado logo, tangível e tosco, enquanto alinga é não diferenciado e, portanto, intangível e sutil. Aqui é dada uma descrição das expressões normais na atividade dos gunas, quando não houver distorção e modificação por causa dos impactos dos sentidos. Mas, quando o pensamento intervém em seu próprio funcionamento, ocorre uma distorção e, com isso, os impactos dos sentidos são modificados. É então que o real não é visto devido à sobreposição do observado. Ao discutirmos o tríplice samãdhi na primeira seção, examinamos a questão das distorções causadas pela intervenção do pensamento na atividade dos gunas. Essas distorções aparecem quando, dentro da consciência do homem, são formados centros de hábito psicológico, de vir a ser psicológico e de identidade psicológica. Através deste tripla distorção, o observado vem à existência, impedindo-nos de ver o real ou o verdadeiro. Patañjali, no próximo sutra, discute a natureza deste mesmo observador, pois, apenas ao compreendermos o fenômeno observador-observado nos habilitamos a compreender a Realidade."

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 95/96)