OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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domingo, 15 de dezembro de 2013

O HOMEM PERFEITO: UM ELO NA CORRENTE DA EVOLUÇÃO

"Há uma etapa, na evolução humana, imediatamente anterior à meta do esforço humano, que, uma vez atravessada, o homem, enquanto homem, não tem mais nada a realizar. Ele torna-se perfeito; sua carreira humana terminou. As grandes religiões dão nomes diferentes a esse Homem Perfeito, mas, qualquer que seja o nome, o conceito é o mesmo; Ele é Mitra, Osíris, Krishna, Buda ou Cristo, mas sempre simboliza o Homem que se tornou perfeito. Ele não pertence a uma única religião, nação ou família humana; não está limitado por um único credo; em todo lugar ele é o mais nobre, o mais perfeito ideal. Todas as religiões o proclamam; todos os credos têm nele sua justificação; ele é o ideal pelo qual se esforçam todas as crenças, e cada religião cumpre sua missão com maior ou menor eficiência, conforme a claridade com que ilumina e a precisão com que ensina o caminho pelo qual ele pode ser alcançado.

O nome de Cristo, atribuído ao Homem Perfeito pelos Cristãos, designa mais um estado do que o nome de um homem. "Cristo em você, a esperança da glória", é o pensamento do mestre Cristão. Os homens, no longo percurso da evolução, atingem o estado de Cristo, pois todos concluem com o tempo a peregrinação secular, e aquele que especialmente no Ocidente está conectado a esse nome é um dos "Filhos de Deus", que atingiram o objetivo final da humanidade. A palavra sempre trouxe consigo a conotação de um estado: "o sagrado". Todos devem atingir esse estado: "Olhai dentro de ti; tu és Buda". "Até que o Cristo surja em ti". Assim como aquele que deseja tornar-se músico, deveria ouvir as obras-primas dessa arte e mergulhar nas melodias dos grandes mestres da música, deveríamos nós, filhos da humanidade, erguer nossos olhos e nossos corações, em contemplação constantemente renovada, para as montanhas onde habitam os Homens Perfeitos da nossa raça. O que nós somos, eles já foram; o que eles são, nós seremos. Todos os filhos dos homens podem fazer o que um Filho do Homem já fez, e vemos neles a garantia do nosso próprio triunfo; o desenvolvimento de semelhante divindade em nós é apenas uma questão de evolução."

(Annie Besant - Os Mestres - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 05)


segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O PROPÓSITO DA VIDA

"Todos nós nos perguntamos, em certo ponto, por que fomos postos no mundo e qual é o propósito da vida. É claro que existem várias visões sobre este assunto e vamos citar apenas três possibilidades.

A primeira é a visão humanista, que afirma que você deve fazer todo o possível para atingir seu pleno potencial, que deve lutar para ser o melhor que puder. Em segundo lugar, os fundamentalistas afirmam que o propósito e a razão supremos do Homem, para viver, é glorificar seu Criador. A terceira, como ensinaram e demonstraram, com seus exemplos, muitos grandes líderes através da história, é servir seus semelhantes. Jesus de Nazaré, Buda, Maomé, Madre Tereza e Albert Schweitzer são exemplos de pessoas que dedicaram suas vidas ao serviço dos outros. 

Qualquer que seja a visão de sua preferência, existe muita sinergia e consistência em todas essas abordagens. Pode-se argumentar que servir os outros é o maior desafio aos talentos e habilidades individuais. Também é útil glorificar nosso Criador trabalhando com as pessoas e ajudando-as a sair da pobreza, do desespero e das fraquezas humanas tão comuns no mundo de hoje. 

Quer você acredite que seu propósito na vida é atingir seu pleno potencial, glorificar nosso Criador ou servir aos outros, ele somente poderá ser alcançado através de sacrifício pessoal, esforço persistente e relações cooperativas com os outros. Você precisa encontrar alguma coisa maior e mais nobre que você, uma causa que agite suas emoções como nenhuma outra. Cada um de nós deve lutar para tornar este mundo um lugar melhor que aquele que encontramos. E cada um de nós deve decidir que contribuições podemos fazer."

(In: Pense Como um Vencedor, dr. Walter Doyle Staples, Editora Pioneira, 1995 - A Essência da Felicidade - Ed. Martin Claret, São Paulo, 2002 - p. 41/42)


sábado, 7 de setembro de 2013

O CRISTIANISMO TEM SIDO SUFICIENTEMENTE PRATICADO? (PARTE FINAL)

"(...) A franca e deliberada escolha dessas práticas maléficas, como meio de ganhar poder e riqueza é, na verdade, uma negação daquela espiritualidade que foi ensinada, por preceito e exemplo, pelo fundador da fé cristã. No sermão da montanha, ele inculcou a autoentrega e exemplificou-a no seu nascimento na pobreza e na sua aceitação voluntária da rejeição, do escárnio e da morte cruel. A mais elevada lei moral, disse Nosso Senhor, impõe uma completa submissão do eu. Esse desinteresse pessoal constitui-se o fantástico ensinamento de Jesus; porém, a atitude mental moderna - 'eu primeiro e Deus depois, se tiver tempo' - é, de fato, o inverso desse ideal de abnegação cristã.

Thomas Kempis, mesmo em sua época,¹ viu essas dificuldades e escreveu estas maravilhosas palavras: 'Sabe que o amor do eu te fere mais do que qualquer coisa no mundo. Com ele, em qualquer lugar, tu levarás uma cruz. Se procurares apenas a tua própria vontade e o prazer, nunca ficarás tranquilo ou livre de preocupação; pois, em tudo, alguma coisa estará faltando.'² Quão verdadeiras mostram-se estras palavras hoje! Em tudo que possuímos (e como possuímos!) algo está faltando. Em toda nossa riqueza, nosso progresso científico, invenções e avanços na mecânica, algo está, na verdade, faltando. Esse 'algo' é alegria, saúde, serenidade e paz, baseadas no altruísmo e na obediência à lei moral.

Associado ao declínio da moralidade está o crescimento do cinismo, que se aprofunda até tornar-se amargor, originando-se ambos na perda da fé e dos ideais frustados. Os que enfrentam a adversidade com amargura e que, quando a tragédia e a perda tocam suas vidas, sentem que não pode haver Deus; os que clamam por ajuda e não a encontrando, em seu desespero, submergem na descrença em sua religião e, até mesmo, negam a existência de Deus - esses não encontram na religião ortodoxa aquela rocha sólida sobre a qual suas crenças e vidas podem estar seguramente alicerçadas. Essa é um tragédia que o cristianismo poderia ter evitado - particularmente pelas doutrinas expressas na lei da impessoalidade (Mt 5:18 e Gl 6:7) e da divina Presença no interior do homem (Jo 14:20, 1Cor 3:16 e 6:19, 2Cor 6:16, Fl 2:13, Cl 1:27) e por seu ideal de amor universal (Mt 5:44, Jo 15:12, 13 e 17, 1Pd 1:22). Até agora ele não tem sido praticado assim, pelo menos por grande número de seus seguidores."

¹. 1380-1471.
². A Imitação de Cristo

(Geoffrey Hodson - A Sabedoria Oculta na Bíblia Sagrada - Ed. Teosófica, Brasília - p. 22/23)


sexta-feira, 6 de setembro de 2013

O CRISTIANISMO TEM SIDO SUFICIENTEMENTE PRATICADO? (1ª PARTE)

"Os críticos dizem que é nisso que o cristianismo falha; que nem as suas formas ortodoxas nem seus oficiantes respondem com sucesso ao anseio da alma humana por luz e entendimento espiritual e intelectual. As influências espiritualizantes e purificadoras que podem motivar o homem a abandonar seus caminhos errôneos não são, é alegado, encontradas na religião ocidental. Essa é uma crítica severa, mas, onde quer que a falha possa estar, não pode ser realmente negado que a maldade é, de fato, excessiva na Terra. Uma resposta já foi adiantada. É a de que o ideal cristão não tem sido plenamente exercitado; que ele é, de fato, constantemente negado pelo modo de vida seguido por cristãos professos. O conselho e exemplo de Cristo incorporados em sua vida e em suas palavras: 'Isto vos ordeno: amai-vos uns aos outros' (Jo 15:17) e 'como quereis que os outros vos façam, fazei também a eles' (Lc 6:31) são ignorados. (...) Poucos, na verdade, aceitam e ratificam o nobre ditado de Einstein: 'O homem está aqui por causa dos outros homens'.

A acusação pode, entretanto, ser considerada muito radical, pois embora seja verdadeira na maior parte da ação coletiva, não o é definitivamente na prática individual, que inclui 'a multidão de caridades não ostentadas pelos homens.' Todavia, é ainda verdade que, exceto em certas ordens religiosas, o cristianismo não tem sido praticado coletivamente. O mundo moderno tem-se, por exemplo, confrontado com fenômenos como Hitler, Mussolini e seus sucessores no campo internacional; a desonestidade prevalecente nos negócios, incluindo o tráfico (especialmente para os jovens) de narcóticos, frequentemente dados gratuitamente para induzir o vício; prostituição e escravidão branca; a franca e quase exclusiva perseguição dos prazeres temporais; entretenimentos e propagandas pelo rádio e televisão que, deliberadamente e por lucro, incitam a ilegalidade, sensualidade e padrões artificiais de vida, tudo isso são características difundidas pela civilização ocidental moderna. (...)"

(Geoffrey Hodson - A Sabedoria Oculta na Bíblia Sagrada - Ed. Teosófica, Brasília - p. 22)


domingo, 11 de agosto de 2013

O UNO QUE ESTÁ EM TODOS

"Contemplarei o Invisível nas formas visíveis de meu pai, mãe e amigos, aqui enviados para me amarem e auxiliarem. Demonstrarei meu amor por Deus amando todos eles. Em suas expressões humanas de afeição, reconhecerei somente o Amor Divino Único. 

Reverencio o Cristo no templo de todos os meus irmãos humanos, no templo de toda a vida.

Ó Pai, ensina-me a sentir que Tu és o poder por detrás de todas as riquezas e o valor em todas as coisas. Encontrando-Te primeiro, encontrarei tudo o mais em Ti.

Onde quer que as pessoas apreciem meus esforços para fazer o bem, saberei que ali é o lugar onde mais posso servir.

Ó Senhor da Lei, já que tudo é, direta ou indiretamente, guiado por Tua vontade, trarei à minha mente Tua presença, de maneira consciente, por meio da meditação, para solucionar os problemas que a vida me enviou.

Deus é paz. Entregue-se à infinita paz em seu interior. Deus é a alegria sempre nova da meditação. Entregue-se ao grande amor que está dentro de você.

Ó Ser Infinito, mostra para sempre Tua face gloriosa em todas as minhas alegrias e na luz fulgurante de meu amor por Ti.

Ensina-me a saber que Tu és o poder que me mantém saudável, próspero e buscando a Tua verdade. 

Sou uma centelha do Infinito. Não sou carne nem ossos. Eu sou luz.

Auxiliando os outros a terem êxito, encontrarei a minha prosperidade. No bem-estar dos outros, encontrarei meu próprio bem-estar."

(Paramahansa Yogananda - Meditações Metafísicas - Self-Realization Fellowship - p. 110/112)


sexta-feira, 2 de agosto de 2013

CRIANDO BONDADE, CONHECIMENTO E PODER

"Temos sido muito ingênuos em nossa busca espiritual, e em vez de cultivar e investigar a mente temos mantido crenças, confundindo crença com religião e crescimento espiritual. É por isso que a ciência antagoniza com a religião na sociedade, mas será a crença verdadeiramente uma religião? Não foi assim que começou. Jesus Cristo não se tornou Cristo através de uma igreja ou de uma crença, mas através de sua própria compreensão e de sua própria investigação. Buda atingiu a iluminação, a compreensão, através de sua própria meditação, de sua própria investigação. Devemos compreender isso e corrigir a situação em nosso sistema educacional. Se assim não fizermos, o risco é nosso. Em educação certamente é melhor não produzir uma mente conformista, que obedeça, que aceite e aprenda por imitação, mas produzir uma mente investigativa, questionadora, desejosa de mudanças, que esteja tentando descobrir. Atualmente as crianças árabes aprendem de pais árabes e herdam seus preconceitos, e crianças judias crescem sob a imagem de seus pais e herdam os preconceitos dos judeus e o mesmo se dá com hindus, muçulmanos e cristãos. (...)

Como irá mudar a condição do mundo, a não ser que os jovens sejam encorajados a questionar esse tipo de coisa, e se lhes diga que não tem que ser como seus pais? Mas somos tão orgulhosos do que chamamos nossa cultura, que questioná-la é considerado heresia. E assim nada muda, o mundo continua com essas divisões, cada um sentindo que sua cultura é superior, sua religião é superior, seus profetas foram os verdadeiros salvadores, odiando o outro grupo; e o outro grupo pensa de modo semelhante exatamente pelas mesmas razões. E assim em nome da religião tem havido mais morte, mais tortura, mais guerras, sendo tudo isso a própria antítese da religião ou busca espiritual. Se aconteceu que adquirimos um poder enorme, mas não o usamos com sabedoria, então devemos compreender que não deve ser assim, e começar a corrigir isso agora. Devemos ser suficientemente inteligentes para usar esse poder de modo correto."

(P. Krishna - Educação, Ciência e Espiritualidade - Ed. Teosófica, Brasília - p. 27/29)


terça-feira, 30 de julho de 2013

BEM-VENTURADOS OS PUROS DE CORAÇÃO, PORQUE ELES VERÃO A DEUS (1ª PARTE)

"A suprema experiência religiosa é a percepção direta de Deus, para a qual é necessário tornar puro o coração. Nisso concordam todas as escrituras. Bhagavad Gita - escritura imortal da Índia a respeito da Yoga, a ciência da religião e da união com Deus - fala da bem-aventurança e da percepção divina daquele que alcançou essa purificação interior:
O iogue que, de maneira completa, tranquilizou a mente e controlou as paixões, livrando-as de toda a impureza, e que se unificou com o Espírito, ele verdadeiramente alcançou a suprema beatitude.

Com a alma unida ao Espírito pela yoga, tendo uma visão da igualdade para com todas as coisas, o iogue contempla seu Eu (unido ao Espírito) em todas as criaturas, e todas as criaturas no Espírito.
Aquele que Me percebe em toda parte e contempla todas as coisas em Mim nunca Me perde de vista, nem Eu jamais o perco de vista. (Bhagavad Gita VI:27, 29-30)
Desde um passado distante, os rishis da Índia investigaram o próprio cerne da verdade e descreveram sua relevância prática para o homem. Patânjali, renomado sábio da ciência iogue, inicia seus Yoga Sutras declarando: Yoga, chitta vritti nirodha - 'A yoga (união científica com Deus) é a neutralização das modificações de chitta (o 'coração' interno ou poder do sentimento; termo abrangente para o composto de substância mental que produz a consciência inteligente).' Tanto a razão quanto o sentimento derivam dessa faculdade interior da consciência inteligente. 

Meu venerado guru, Swami Sri Yukteswar, um dos primeiros, nos tempos modernos, a revelar a unidade entre os ensinamentos de Cristo e o Sanatana Dharma da Índia, descreveu com profundidade como a evolução espiritual do homem consiste em purificar o coração. Do estado em que a consciência se encontra completamente iludida por maya (o 'coração obscurecido'), o homem progride ao longo dos estados sucessivos de coração motivado, coração firme, coração devoto, e por fim atinge o coração puro, quando - escreve Sri Yukteswar - ele 'se torna capaz de compreender a Luz Espiritual, Brahma [o Espírito], a Substância Real no universo'. (...)"

(Paramahansa Yogananda - A Yoga de Jesus - Self-Realization Fellowship - p. 88/89)


quinta-feira, 25 de julho de 2013

EU REVELO OS MEUS MISTÉRIOS ÀQUELES QUE SÃO IDÔNEOS PARA OUVI-LOS

"Eu revelo os meus mistérios àqueles que são idôneos para ouvi-los. O que tua mão direita faz não o saiba a tua mão esquerda. 

Palavras como estas, em formas várias, vão através de todos os livros sacros da humanidade, do Oriente e do Ocidente. A Bhagavad Gita diz: "Quando o discípulo está pronto, então o Mestre aparece". A prontidão do discípulo não é a causa da vinda do Mestre, mas é a condição predisponente para seu aparecimento. 

A lei de causa e efeito governa todo o mundo da física; mas na metafísica não funciona essa lei. No mundo espiritual as coisas acontecem livremente, embora não arbitrariamente. Também o mundo metafísico é regido pela lei, mas uma lei superior que a inteligência analítica do homem profano não pode compreender. O mundo superior é governado pela graça e não pela causa. A causalidade escraviza, a graça liberta. 

Através de séculos, tem-se discutido sobre o mistério da graça. O que acontece pela graça, ou de graça, não obedece à lei de causa e efeito. Nem um homem pode merecer (ou causar) a graça; se assim fosse, não seria graça. Por outro lado, porém, os dons divinos não são dados arbitrariamente a qualquer homem, o que seria o domínio do caos. Gratuitamente, sim - arbitrariamente, não. 

Quando o homem ultrapassa o limite estreito da análise intelectual e entra na vasta zona de intuição espiritual, então compreende ele o mistério da graça, equidistante de causalidade e arbitrariedade. Compreende esse mistério, mas não o pode analisar. A palavra grega analyein, de que fizemos "analisar", quer dizer literalmente "dissolver". Quem analisa, dissolve, destrói. Quem analisa uma rosa no laboratório, não tem mais um rosa, porque a análise a dissolveu, destruiu. E, ainda que o cientista recomponha os seus componentes decompostos, o composto resultante não é a rosa; falta-lhe o principal, a alma ou vida, que o cientista analítico não pode analisar nem reconstruir. 

Para inteligir a rosa basta analisá-la - mas para compreendê-la é necessário intuí-la sem a analisar. Análise se refere às partes, a intuição visa ao Todo. Para compreender os mistérios de Deus e do Cristo, é necessário intuir, em silenciosa auscultação. Pode a análise intelectual preceder, pode mesmo chegar à sua penúltima etapa, mas nunca chegará à última meta da verdadeira compreensão intuitiva."

(O Quinto Evangelho - A Mensagem do Cristo - Tradução e comentários: Huberto Rohden - Ed. Martin Claret, São Paulo - p. 89/90)


sexta-feira, 28 de junho de 2013

BEM-AVENTURADOS OS QUE TÊM FOME E SEDE DE JUSTIÇA, PORQUE ELES SERÃO SACIADOS

"Qual é a justiça da qual o Cristo nos quer sedentos e famintos? Trata-se da justiça que em inúmeras passagens do Antigo Testamento é praticamente sinônimo de salvação - noutras palavras, libertação do mal e união com Deus. Esta justiça, portanto, nada tem a ver com o que comumente pensamos como virtudes morais ou boas qualidade, não se relaciona com o bem em oposição ao mal, nem com a virtude em oposição ao vício; trata-se da justiça absoluta, da bondade absoluta. O faminto e sedento de justiça de que fala o Cristo é o faminto e sedento do próprio Deus. 

Já se salientou que a maioria de nós não quer de fato Deus. Se nos analisarmos, descobriremos que nossos interesses relativos a Deus quase nada têm da força do nosso interesse por todo tipo de objetos materiais. Mas até mesmo um ligeiro desejo de conhecer a realidade divina é um começo que nos pode levar mais acima. Precisamos começar com um esforço próprio. Precisamos batalhar para desenvolver o amor ao Senhor, praticando a relembrança dele, rezando, adorando e meditando. A medida que praticarmos essas disciplinas espirituais, o nosso frágil desejo de compreendê-lo há de intensificar-se, até se converter em fome violenta, em sede ardente. 

Àqueles que lhe perguntavam como compreender Deus, Sri Ramakrishna dizia: "Gritem-lhe com um coração anelante, e então vocês o verão. Após a luz rósea da aurora, surge o Sol; do mesmo modo, ao anelo segue-se a visão de Deus. Ele se revelará a vocês se vocês o amarem com a força combinada destes três apegos: o apego do avaro à sua riqueza, o da mãe à criança recém-nascida e o da esposa virtuosa a seu marido. O anelo intenso é o caminho mais seguro para a visão de Deus."

Precisamos aprender a direcionar todos os nossos pensamento e toda a nossa energia, de forma consciente, para Deus. É preciso que se erga em nossa mente uma onda gigantesca de pensamento, envolvendo todos os desejos e paixões que nos desviam da meta espiritual. Quando a mente se torna focalizada e concentrada em Deus, então seremos locupletados de Justiça. (...)"

(Swami Prabhavananda - O Sermão da Montanha Segundo o Vedanta - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 26/27)


quarta-feira, 26 de junho de 2013

SARVA YOGA - O YOGA DE SATHYA SAI BABA (PARTE FINAL)

"Hoje, em todos os países, incontáveis pessoas, filiadas a diversas tradições religiosas (cristãos, hindus, muçulmanos, budistas, zoroastrianos, sikhis, jainas etc.), tornaram-se devotos e discípulos de Sathya Sai Baba, reverenciando-o como o Avatar de nosso tempo, principalmente por sua mensagem absolutamente universal e inclusivista, que todos podem praticar pertençam a esta ou aquela religião. Sai Baba é o protótipo do sábio hindu que está conosco para ajudar o cristão a unir-se ao Cristo, objeto de sua busca e adoração; o muçulmano a chegar a Allah; o judeu, a Jehovah; finalmente, ajudar qualquer devoto de Deus, sob uma determinado Forma e um Nome particular, a unir-se a Ele.

Em vista das citações acima pode-se, erroneamente, supor que a disciplina espiritual (sadhana) ensinada por Baba se limite aos cânticos e à repetição do santo Nome. O que Ele preceitua é uma moderna e sábia Sarva Yoga, tendo por meta transcendente tornar aquilo que agora, iludidamente, supomos ser, isto é, manava (o homem), nAquilo que, em realidade e essência, nós somos Madhava (Deus). Tal sadhana não poderia deixar de ser apropriado à presente yuga. É por isto que tem por base o amor/devoção (bhakti), principalmente através dos cânticos devocionais. Mas Sai Baba, considerando a existência de algumas poucas almas - que, embora vivendo nestes tempos de trevas densas (era de Kali), já venceram as ditas trevas, estando aptas, portanto, a se engajar na pesquisa da Verdade última (jnana), na meditação e na generosa prestação de serviços isentos de ego (karma) -, propõe um sadhana que é um perfeito Sarva Yoga, composto pela cooperação e mútua fecundação dos seguintes aspectos:

(a) O devocional, assegurado pelos bhajans (cânticos de louvor) e namasmarana (repetição do Nome e imaginação da Forma que o devoto escolheu para adorar).
(b) A prestação de serviço (seva) aos carentes, como oferenda a Deus, portanto, sem quaisquer interesses egocêntricos, que assegura a melhor prática de Karma Yoga.
(c) A busca da Verdade através do "inquérito" sobre o Ser, mediante Atma vichara, que consiste no repetido autoquestioamento "Quem sou eu?", "Quem sou eu?"... Recomenda também a reflexão sobre as "grandes afirmações" ou mahavakyas. Destas, aquelas que melhor contribuem para o progresso do aspirante, tomadas como objeto de reflexão e principalmente de meditação são: So ham (Eu sou o Ser); o OM; e o Gayatri.
(d) A educação da mente fica por conta de dhyana ou meditação. São dois os processos de meditar: a repetição de So ham, associando a pronúncia (mental) do So com a inspiração e a de ham com a expiração; e o processo chamado "meditação sobre a luz".
(e) A observância de certos procedimentos altamente reeducativos e espiritualizantes como:
- satsang ou a companhia de pessoas santas e sãs;
- "teto aos desejos" a fim de poupar tempo, energia, comida e dinheiro, para serem investidos na ajuda aos necessitados;
- nunca denunciar falhas e defeitos dos outros, mas cuidar das próprias;
- cultivar equanimidade;
- ser fiel à sua religião e jamais desvalorizar ou agredir a dos outros, amando e adorando Deus sob qualquer de seus Nomes e Formas;
- temer somente o pecado, mas amar Deus e cumprir os deveres cívicos...

Impossível dar uma síntese eloquente e fiem do caminho disciplinar ensinado por Baba visando à unificação da humanidade por intermédio da autoeducação dos "Valores Humanos", que são:

(1) sathya (verdade e veracidade);
(2) dharma (retidão, justiça, dever);
(3) santhi (paz interna e externa);
(4) prema (amor divino);
(5) ahimsa (não violência).   

Que o leitor, com estas modestas informações, possa refletir sobre qual deve ser seu caminho e como deve ser seu caminhar em Yoga, nunca esquecendo de rogar a Deus, seu Supremo Guru, que lhe dê discernimento bastante e o guie na conquista, na compreensão e no sadhana que o reconduzirá à Suprema Realidade."

(José Hermógenes - Iniciação do Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 144/146)


terça-feira, 18 de junho de 2013

CRISTO: "O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA"

"Para muitos cristãos, os eventos históricos da vida de Cristo e sua interpretação bíblica formam a base de sua religião. Para aquele misticamente orientado, porém e, na verdade, para toda alma humana, é Cristo como o revelador da sabedoria universal, como aquela própria sabedoria, que oferece a maior atração. Ele não é somente uma figura histórica. Ele é “o caminho, a verdade e a vida”.¹ Se conseguimos obter pelo menos um único relance daquela luz que é o Cristo Universal, nossa vida muda: ela é a Luz de Cristo, antiga, mas sempre nova, que cada instrutor traz para o mundo. Eles são poderosos Salvadores, mas a Luz é ainda mais poderosa do que Eles. Esse é o coração do cristianismo, bem como o de todas as outras verdadeiras religiões, e nessa verdade todas as crenças são UMA.

Esse lampejo, que é a união com o Cristo Universal, é a meta da vida religiosa. O Instrutor o traz mais perto, torna-o mais facilmente ao alcance da consciência em todos os reinos da natureza. Essa experiência pode ser obtida deliberadamente, porque sua realização é governada por leis tão exatas como as que o químico deve obedecer no laboratório.

“A Europa tem uma religião que satisfaz o coração, mas não sua cabeça e uma filosofia que satisfaz sua cabeça, mas não seu coração.” A Teosofia, ou o cristianismo místico, atende a essa necessidade. Ela mostra as leis e o caminho para a esplêndida visão que, quando alcançada, ofusca todo o brilho do mundo para os felizardos que vêm. Essa experiência e o anseio por ela, pois ela é uma paixão perdida no mundo, perdida porque submergiu na experiência física e seu anseio. O mundo sente saudade da espiritualidade; ele vagou tão longe que se esqueceu de sua casa.

A função da religião é restaurar aquela memória e mostrar o caminho de volta para casa. Em vez disso, ela insiste em questões de fé e aprisiona os homens no controle das crenças, cega-os espiritualmente pelo medo que as ameaças de condenação despertam nos ignorantes. A tragédia é que as crenças não têm absolutamente nenhuma importância e a visão é de suma importância na verdadeira religião.

Ó, padres! Como vocês falham, apesar das boas intenções. Cada história da vida do Mestre brilha com a luz verdadeira. A Bíblia não é um livro de palavras; é um raio do sol espiritual, brilhante e vivo. Doador de luz; portador de luz, e acima de tudo uma chave para as portas da prisão.

Tornem-se intérpretes. Essa é a função de vocês. O homem espiritualmente cego vai apressadamente de madrugada para o mercado em busca da riqueza e nunca vê os diamantes do orvalho brilhando em cada folha de grama. Tornar-se um intérprete da sabedoria e da verdade para os homens, um despertador da sabedoria e da verdade dentro do homem, esse é um trabalho verdadeiramente religioso, verdadeiramente cristão e verdadeiramente digno."

1. Jo. 14:6

(Luz do Santuário - O Diário Oculto de Geoffrey Hodson - Compilado por Sandra Hodson e traduzido por Raul Branco - p. 51/52)

quinta-feira, 6 de junho de 2013

BEM-AVENTURADOS OS MANSOS, PORQUE ELES HERDARÃO A TERRA

"A ignorância e a ilusão são características da mente degenerada. Tal ignorância é confirmada e suportada pelo nosso sentimento de ego - a nossa ideia de que estamos separados uns dos outros e de Deus. Importa superar o egoísmo para que a mente se livre da ilusão. Portanto, bem-aventurados os mansos. Mas, por que diz Cristo que eles herdarão a terra? À primeira vista isso parece de difícil compreensão. Entre os aforismos iogues de Patanjali (ioga significa união com Deus, bem como o caminho para essa união) há um que corresponde a essa bem-aventurança: "O homem que toma a resolução de não roubar torna-se o mestre de todos os ricos." Que quer dizer "não roubar"? Quer dizer que precisamos desistir da ilusão egoísta de que podemos possuir coisas, de que algo pode pertencer-nos de modo exclusivo, como indivíduos. Podemos pensar: "Mas somos pessoas boas. Nada roubamos! Tudo quanto possuímos é fruto do nosso trabalho e merecimento. Pertence-nos por direito!" A verdade, porém, é que nada nos pertence. Tudo pertence a Deus. Quando olhamos qualquer coisa deste universo como nossa, estamos apropriando-nos de coisas de Deus.

O que é então a mansidão? É viver em autossujeição a Deus, livre do sentimento de "eu" e de "meu". Isso não significa que devamos fugir da riqueza, da família e dos amigos; devemos, porém, fugir da ideia de que eles nos pertencem. Eles pertencem a Deus. Devemos olhar-nos como servos de Deus, aos quais ele confia suas criaturas e bens. Tão logo assimilemos essa verdade e desistamos de nossas pretensões ilusórias e individuais, descobriremos que, em seu sentido mais genuíno, tudo nos pertence, no final das contas. 

Os conquistadores que se empenham em serem senhores do mundo pela força e pelas armas jamais herdam outra coisa além de ansiedades, aborrecimentos e dores de cabeça. Os avarentos, que acumulam riquezas enormes, não fazem mais do que acorrentarem-se ao ouro - jamais o possuem realmente. Mas o homem que abandona o sentimento de apego prova as vantagens que os bens proporciona, sem a angústia que a posse acarreta.

Muita gente se desagrada desta palavra de Cristo, por julgar que o manso nunca pode conseguir nada. Julgam que não há felicidade na vida, a menos que se use de agressividade. Quando lhes dizem para porem de lado o ego, para serem mansos - temem que perderão tudo. Erro deles, porém. Nas palavra de Swami Brahmananda:
"As pessoas que vivem pelos sentidos pensam que estão gozando a vida. Que sabem eles do prazer? Só aqueles que estão plenos da felicidade divina gozam de fato a vida."
Todavia, argumentos não provam esta verdade: é preciso vivenciá-la - aí então, fica-se convencido. Se um candidato à espiritualidade segue sinceramente o ensinamento de Cristo quanto à mansidão, acabará por achá-lo muito prático. Descobrirá que a cólera e o ressentimento podem ser conquistados pela doçura e pelo amor. O místico chinês Lao-Tzu expressa esta verdade ao dizer:
"Das coisas macias e fracas deste mundo, nenhuma é mais frágil do que a água. Mas, para vencer o que é firme e forte, ninguém pode igualá-la. O que é macio conquista o duro. A rigidez e a dureza são companheiras da morte. A maciez e a ternura são companheiros da vida."
Abandonando sinceramente o ego a Deus - tornando-nos mansos - alcançaremos tudo: herdaremos a terra."

(Swami Prabhavananda - O Sermão da Montanha Segundo o Vedanta - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 24/26)


domingo, 2 de junho de 2013

BEM-AVENTURADOS OS QUE CHORAM: PORQUE SERÃO CONSOLADOS

"Enquanto nos julgarmos ricos de bens terrenos ou de conhecimentos, não poderemos progredir espiritualmente. Quando sentirmos que somos pobres de espírito, quando nos afligirmos por não termos percebido a verdade de Deus - somente então seremos consolados. Sem dúvida que todos nós choramos - mas por quê? Pela perda de prazeres e de posses terrenos. Mas, não é desse tipo de lamento que Cristo fala. O lamento que Cristo chama de "abençoado" é bastante raro, porquanto nasce de um sentimento de perda espiritual, de solidão espiritual. É um lamento que surge necessariamente antes que Deus nos console. A maioria de nós está inteiramente satisfeita com a vida superficial que leva. No fundo de nós, talvez tenhamos consciência de que nos falta algo, mas agarramo-nos ainda na esperança de que essa falta possa ser preenchida pelos objetos sensíveis deste mundo. 

Sri Ramakrishna costumava dizer: "As pessoas derramam rios de lágrimas porque um filho não nasceu ou porque não conseguiram ficar ricas. Quem, entretanto, verte sequer uma lágrima por não ter visto Deus?" Este falso sentido de valores é resultado de nossa ignorância. No tocante à natureza dessa ignorância, o filósofo indiano Sankara dizia que o sujeito, o cognoscente (o Eu ou o Espírito), opõe-se tanto ao objeto, o conhecido (não Eu ou matéria), como a luz se opõe às trevas. No entanto, por influência de maya - o poder inexplicável da ignorância - sujeito e objeto misturam-se a tal ponto que, em geral, o homem identifica o Eu como o não Eu. É muito fácil entender intelectualmente que o Eu verdadeiro é diferente do corpo, da mesma forma, que somos diferentes da roupa que vestimos. Todavia, quando o corpo adoece, dizemos: "Estou doente." Intelectualmente, podemos entender que o verdadeiro Eu é diferente da mente. Mas, se temos uma alegria ou um sofrimento, dizemos: "Estou feliz", ou "Sou um miserável." Além disso, identificamo-nos com os nossos parentes e amigos: algo que aconteceu a eles parece estar acontecendo a nós. Identificamo-nos com as nossas posses. Se perdemos nossas riquezas, sentimo-nos como se perdêssemos a nós mesmos. Essa ignorância é comum a toda a humanidade. Somente o conhecimento direto de Deus pode removê-la. Quando começamos a sentir uma ausência espiritual dentro de nós, quando começamos a lamentar como o Cristo queria que lamentássemos, quando vertemos pelo menos uma lágrima por Deus - então estamos preparando o caminho para o consolo daquele conhecimento divino. 

A espécie de lamento que Cristo chamava de bem-aventurado vem expresso na Imitação de Cristo:
"Ó meu Deus, quando poderei ser um contigo e fundir-me em teu amor, a ponto de me esquecer por inteiro de mim mesmo? Sê tu em mim, e eu em ti; e concede que possamos permanecer assim, sempre juntos num só."
É preciso que atinjamos esse estágio, quando sentirmos que nada mais nos dá paz, a não ser a visão de Deus. Então Deus atrai a mente do homem para si como um imã atrai a agulha - e o consolo chega." 

(Swami Prabhavananda - O Sermão da Montanha Segundo o Vedanta - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 22/24)


quinta-feira, 30 de maio de 2013

BEM-AVENTURADOS OS POBRES EM ESPÍRITO, PORQUE DELES É O REINO DOS CÉUS

"Nesta primeira bem-aventurança, Cristo fala da principal característica que o discípulo precisa possuir, antes que esteja pronto para receber o que o mestre iluminado tem para lhe dar. Ele precisa ser pobre em espírito: noutras palavras, precisa ser humilde. Se uma pessoa orgulha-se do que sabe, da riqueza, da beleza ou da linhagem; se tem ideias preconcebidas do que seja a vida espiritual e de como deveria ser ensinada - então sua mente não está receptiva aos ensinamentos mais elevados. Lemos no Bhagavad Guita, o evangelho dos hindus:

"As almas iluminadas que perceberam a verdade hão de instruir-te no conhecimento de Brahma (o aspecto transcendental de Deus), se tu te prostrares diante delas, as interrogares e as servires como um discípulo." 

Segundo um conto indiano, certo homem procurou um mestre e pediu-lhe para ser seu discípulo. Com intuição espiritual, percebeu o mestre que o homem não estava ainda preparado para ser instruído. Por isso lhe perguntou:
- Você sabe o que precisa fazer para ser meu discípulo?
O homem respondeu que não e pediu ao mestre que lho dissesse.
- Bem, disse o mestre, você precisa ir buscar água, apanhar lenha, cozinhar e trabalhar muitas horas em serviços pesados. Precisa também estudar. Está disposto a fazer tudo isto?
O homem respondeu:
- Sei agora o que o discípulo precisa fazer. Diga-me, por favor: e o mestre, o que ele faz?
- Ah, o mestre fica sentado, e em sua maneira recolhida dá as instruções espirituais.
- Entendi, disse o homem. - Nesse caso, não quero ser discípulo. Por que você não faz de mim um mestre?
Todos nós desejamos ser mestres. É preciso, porém, que antes de nos tornarmos mestres, aprendamos a ser discípulos. Precisamos aprender a humildade."

(Swami Prabhavananda - O Sermão da Montanha Segundo o Vedanta - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 21/22)


quarta-feira, 29 de maio de 2013

TANTRA YOGA - MÃO DIREITA E MÃO ESQUERDA (5ª PARTE - II)

" (...) Há milênios o Kata Uppanishad menciona dois caminhos: o "Caminho Bom" e o "Caminho do Bem", naturalmente para convidar para o último. O Cristo veio depois a confirmar:
Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta e espaçosa a estrada que conduz à perdição, e são muitos os que por ela entram, mas estreita é a porta e apertada a estrada que conduz à vida, e poucos são os que a encontram. (Mt 7:13-14)
Os que fazem o marketing do "caminho largo" jogam com argumentos inegavelmente brilhantes e convincentes. Eis um texto de Haridas Chaudhuri que sintetiza uma argumentação hoje monotonamente repetida por uns poucos reverenciados como "gurus" (?!), e por alguns "modernos terapeutas", pretendendo com ela incentivar, respectivamente, devotos e pacientes a "liberar o animal" que se agita dentro de si. Demonstram que assim evitarão as indesejáveis consequências da "repressão" psicológica. Tais "gurus", argumentando cavilosamente, têm encontrado facilidade em convencer crédulos discípulos (previamente convencidos) da "sacralidade" (?!) de uma gratificante "liturgia erótica".
A Yoga tântrica é audaciosamente afirmativa em suas abordagens metodológicas. Outros sistemas de Yoga dão muito destaque à renúncia e à ausência de desejo como ajuda à libertação. Mas a Tantra Yoga afirma a necessidade de uma satisfação inteligente dos desejos naturais. Nesta visão, não há antagonismo básico entre a natureza e o espírito. A natureza é o poder criativo do espírito na esfera objetiva. Ninguém, portanto, pode entrar no reino do espírito sem primeiro obter um passaporte emitido pela natureza. A prática de austeridade, ascetismo e automortificação é um insulto à natureza. Cria mais dificuldades que as soluciona. Por enfraquecer o corpo e por gerar conflitos internos e tensões, enquanto solapa e desenvolvimento sadio e equilibrado. (in Integral Yoga. Londres: George Allen and Unwin Ltd.) 
A defesa da tese do "caminho largo" prossegue, convincente, a arrastar muitos ao gostoso "é proibido proibir", à licenciosidade irresponsável. Toda esta argumentação (a essa altura já consideravelmente gasta) configura um velho e eficiente sofisma, sintetizado pela fórmula: quem está no chão só consegue levantar-se apoiando-se no mesmo chão. Ouso perguntar: Mas, se a criatura se encontra no lodo, num atoleiro, em areia movediça, como se apoiar se a busca de apoio faz afundar mais ainda?!

Haridas Chaudhuri prossegue, com promessas àqueles já predispostos à sedutora licenciosidade:
Se uma pessoa inteligentemente atender às tendências de sua própria natureza, seus desejos se tornarão cada vez mais refinados e elevados. Os desejos básicos gradualmente cederão lugar a desejos nobres. Os impulsos inferiores serão substituídos por impulsos mais elevados... 
A experiência prova, no entanto, exatamente o oposto. Um famoso filme japonês - O Império dos Sentidos - há alguns anos mostrou um caso real onde os amantes sofregamente se renderam sem reserva ao "império dos sentidos", em busca de uma impossível saciedade erótica total, e ao final, como não podia deixar de ser, suas vidas se acabaram de maneira trágica. (...)"

(José Hermógenes - Iniciação ao Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 126/128)


sábado, 25 de maio de 2013

TANTRA YOGA - A DEMOCRATIZAÇÃO DO YOGA (2ª PARTE)

" (...) A palavra tantra deriva da raiz tan (espalhar, divulgar) e mais o sufixo tra (salvar). Significa, portanto, "divulgar para salvar". Talvez, seja mais apropriado entender o tantra como uma democratização do Yoga. Em meu trabalho ao longo das décadas, fui descobrindo que há um "Yoga para quem pode" e - graças a Deus! - um "Yoga para quem precisa". Até agora tenho me ocupado somente deste Yoga. O outro é elitista. Usamos o termo elitista no melhor sentido. Há realmente um número muito reduzido de pessoas formando uma abençoada e luminosa "elite espiritual" que tem virtudes e potencial suficiente para o altíssimo ônus de avançar por caminho estreitíssimo.

O tantra sastra ou escrituras tântricas consta de diálogos entre Shiva e sua esposa Parvati, ao longo dos quais importantes informações são divulgadas e verdades profundas são "des-veladas" com o misericordioso propósito de ajudar aqueles que, vivendo na "era das trevas", sinceramente anelem pela salvação. O Cristo declarou que viera, não para os bons, mas para os maus (os da kali yuga?).

Trata-se de diálogos entre o Senhor (a Consciência Suprema) e sua divina esposa também denominada Shakti (a energia cósmica criadora). Quando é Ela que pergunta e Ele responde, o texto é conhecido como agama, no caso contrário, nigama

Cada texto inclui os tópicos seguintes: (a) criação do universo; (b) sua destruição; (c) a adoração; (d) os exercícios espiritualizantes (Yoga); (e) os rituais e cerimônias; (f) as seis ações (kriyas) de purificação; e (g) meditação (dhyana). (...)"

(José Hermógenes - Iniciação ao Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 121/122)


sexta-feira, 24 de maio de 2013

PROVAÇÃO - EGOÍSMO

"Há muitas outras formas de egoísmo, que podem retardar seriamente o progresso do discípulo. Uma delas é a negligência. Vi uma pessoa tão deleitada na leitura de um livro, que não apreciava interrompê-la para ser pontual; outra talvez escreva de qualquer jeito uma carta, sem reparar no incômodo que produzirá na vista ou ânimo de quem tenha de decifrar sua caligrafia. As pequenas negligências contribuem para reduzir a receptividade às influências superiores, desorganizar e atormentar a vida para outros e destruir o autodomínio e autoeficiência. A pontualidade e eficiência são condições essenciais para o cumprimento satisfatório da obra a realizar-se. Muitas pessoas são ineficientes. Quando se lhes confia um trabalho, não o concluem acabadamente e de mil modos se desculpam; ou se se lhes pede alguma informação, não sabem onde encontrá-la. As pessoas diferem muito neste particular. A alguém lhe podemos perguntar uma coisa e responderá: "Não o sei." Outro dirá: "Não o sei, mas o averiguarei", e volta com a informação solicitada. De análoga maneira, há quem diz que não pode fazer uma coisa e outro que persevera até fazê-la.

Contudo, em toda boa obra que o discípulo empreenda, tem de pensar no bem que aos demais acarrete e na oportunidade de servir com isso ao Mestre (pois ainda que seja minúcias materiais, têm muito valor espiritual), e não no seu bom karma daí resultante, o que seria outra forma muito sutil de egoísmo pessoal. Recordemo-nos das palavras de Cristo: "Tudo que fizestes ao menor de meus irmãos, a mim o fizestes."

Outros sutis efeitos da mesma espécie se vêem na depressão, na inveja e na agressiva afirmação de seus próprios direitos. Disse um adepto: "Pensai menos em vossos direitos e mais em vossos deveres." Há certas ocasiões, ao tratar de assuntos do mundo profano, que o discípulo possa achar necessário expressar gentilmente o que ele necessita, mas entre os seus condiscípulos não há lugar para tais direitos, e sim apenas oportunidades. Se um homem está contrariado, projeta sentimentos agressivos; e ainda que não chegue ao extremo de sentir ódio, anuvia densamente o seu corpo astral com riscos de anuviar também o corpo mental."

(C. W. Leadbeater - Os Mestres e a Senda - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 91/92)


terça-feira, 14 de maio de 2013

HERÓIS - DE PAPELÃO

"Anteontem...
Sentia-me eu possuído dum grande idealismo.
Indômita coragem enchia-me o coração.
Estava disposto a sofrer por ti, Senhor, afrontas e ludíbrios em praça pública.
Invejava os mártires do Coliseu, dilacerados pelos leões da Mesopotâmia e pelas panteras da Numídia.
Suspirava pela sorte dos heróis que, entre hinos e sorrisos, subiam às fogueiras ou se estendiam nas rodas de suplício.
Quem me dera sair pelo mundo afora e pregar o Evangelho a povos bárbaros!
Tão grande era o idealismo e a sede de sofrimento que me ardia na alma, que insípidas e vergonhosas me pareciam essas vinte e quatro horas da vida cotidiana.
Assim foi anteontem...

Ontem...
Quando acordei, chamei a empregada para me trazer o café e o jornal.
E ela mos trouxe, mas não me disse "bom dia" - e encheu-me de ira o coração...
E por que não deu o jornal o meu nome entre os benfeitores do Abrigo Cristo Redentor? Não sabe que contribuí com dez milhões de cruzeiros?
E por que me apelida essa revista ilustrada de "senhor", quando eu sou "doutor"?
O cigarro que mandei comprar era de qualidade inferior - e transbordou-me a bílis  enchendo-me de fel as vias do sangue.
Ao sair de casa, verifiquei que faltava um botão de camisa - e tachei de relaxada a companheira de minha vida.
Ao tomar o ônibus, encontrei-o superlotado - e mandei ao inferno a empresa com todos os seus funcionários.
Assim foi ontem...

Hoje...
Fui intimado a comparecer às barras do tribunal...
Sobre a cátedra de juiz estava sentada a Consciência, calma, serena, austera.
E eu, no banco dos réus, humilde, sincero, confuso...
E, abrindo os lábios, disse a Consciência, inexorável:
"Tu, que sonhas com feitos heroicos - sucumbe a uma ninharia?
Tu, que queres lutar com leões e panteras - capitulas em face duma mosca?
Tu, disposto a derramar o sangue por amor do Cristo - ignora o á-bê-cê da caridade?..."
Eu, de olhos baixos e coração pequenino, ouvia, calado...
"Não exijo de ti - prosseguiu a Consciência - que tomes entre dois dedos o Corcovado e o jogues às águas da Guanabara - mas exijo que sejas senhor dos teus nervos, e não te reduzas a escravo dos teus escravos.
Exijo de ti o menor e o maior de todos os sacrifícios: que suportes, sereno, calmo, amável, as vinte e quatro horas de cada dia..."

(Huberto Rohden - De Alma para Alma - Ed. Martin Claret, São Paulo - p. 71/72)


terça-feira, 30 de abril de 2013

KRIYA YOGA - OS TRÊS COMPONENTES - ISHVARAPRANIDHANA (PARTE FINAL)

"Ishvara é o Senhor do Universo. Pranidhana se traduz por render-se, submeter-se, entregar-se. Ishvarapranidhana significa portanto total e incondicional submissão a Deus, numa vivência pura e profundamente devocional. Sai Baba denomina saranagathi esta rendição irrestrita ao Senhor. a forma de autoentrega que pessoalmente venho praticando com imenso proveito se expressa em quatro palavras: entrego, confio, aceito e agradeço. A beata católica Paula Francineti tinha a sua fórmula: "A vontade do Senhor é meu paraíso."

A resignação a Deus ou Ishvarapranidhana, segundo Patanjali, por si só é capaz de produzir o transe iluminativo, ou samadhi. Como pode ser? Acredito que seja porque minimiza o grande inimigo e único responsável por nossos tormentos, limitações, carências e distorções, o grande obstáculo à Luz. Patanjali o chama asmita, Na filosofia samkya, ahamkara. Nós o chamamos "o ego pessoal", o "Fulano de Tal" que cada um de nós reclama ser. Em expressão mais familiar - é o nosso egoísmo. Nosso falso ego é um impostor que ocupa o trono de Deus, nosso coração. O homem "normal" nem se apercebe disto, e assim Deus continua exilado enquanto o grande usurpador prolonga seu desastroso reinado. Ishvarapranidhana é a grande revolução que devolverá o trono a seu verdadeiro "Rei". 

O maha guru Jesus Cristo, magistralmente, de maneira sintética, exortou a radical submissão ao Pai, neste preceito: Faça-se a Tua vontade (Mt 6:10). Tempos depois, exemplificou plena e sabiamente a grande lição de Ishvarapranidhana, quando, falando ao Pai, disse: Faça-se, porém, não a minha, mas a Tua Vontade (Lc 22:42). Naquele instante, incondicionalmente aceitou todas as torturas e a própria morte que, horas depois, viria a padecer. Submeteu-se confiante e disposto a aceitar tudo, Quando conseguirmos assimilar esta lição de eterna sabedoria e seguirmos seu exemplo, poderemos também, juntos com Ele, dizer: Eu e o Pai somos um (Jo 10:30). Esta vivência de ser Um é uma forma de se traduzir a palavra samadhi. A grande libertação sobrevirá sempre da rendição do ego pessoal (asmita) aos pés de lótus do Senhor. Este é o grau maior de tapah.

Quem se engaja em Kriya Yoga, como estamos vendo, simultaneamente pratica Karma (tapah), Jnana (svadhyaya) e Bhakti (Ishvarapranidhana), sem precisar renunciar à vida social, familiar e profissional, sem virar ermitão. O praticante de Kriya Yoga deve fazer o caminho para Deus, na comunhão da família, em atividade profissional e cívica. Deve continuar no mundo, vencendo desafios e tentações, feito o lótus, que, embora na água, não permite que uma gota sequer entre nele e prejudique sua pureza. A proposta é encontrar o Deus do mundo servindo ao mundo de Deus. A sociedade é seu "campo do dever", onde, a todo instante, poderá cultivar tapah (resistência, paciência, sobriedade, invencibilidade, equanimidade e serenidade), aprofundar-se em svadhyaya (buscando conhecer sua Realidade, seu Ser); e aprimorar Ishvarapranidhana (cultuando Deus, servindo-O, amando-O e a Ele se entregando todo). O praticante do Kriya não radicaliza nem se fanatiza. Católico, espírita, evangélico, hinduísta, maçom, esoterista... não importa. Todos podem tirar proveito de uma vida disciplinada e equânime, incessantemente tentando "saborear" o Ser Onipresente e a Ele se entregando confiante, recebendo o que lhe couber e por tudo Lhe agradecendo. Isto não contraria qualquer religião verdadeira, mas, sem dúvida, aprimora e torna mais eficaz a religiosidade de quem quer que seja."

(José Hermógenes - Iniciação ao Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 54/55)


sábado, 27 de abril de 2013

A CIÊNCIA UNIVERSAL DA RELIGIÃO

"A experiência pessoal da verdade é a ciência por trás de todas as ciências. Mas, para a maioria das pessoas, a religião tornou-se uma questão apenas de crença. Alguns creem no catolicismo, outros creem em alguma religião protestante e outros afirma sua crença de que a religião hindu, ou muçulmana, ou budista, seja o caminho correto. A ciência da religião identifica as verdades universais comuns a todos - o fundamento da religião - e ensina como as pessoas podem, por meio da aplicação prática de tais verdades, construir sua vida de acordo com o Plano Divino. (...)

O necessário é reunir a ciência da religião com o espírito ou a inspiração da religião - o esotérico com o exotérico. A ciência iogue ensinada por Senhor Krishna - que apresenta métodos práticos para a autêntica experiência interior de Deus em substituição à crenças fugazes - e o espírito do amor crístico e fraternidade pregado por Jesus - única panaceia segura para impedir que o mundo se destrua com suas obstinadas divergências - são a mesma e única verdade universal, ensinada por esses dois Cristos, o do Oriente e o do Ocidente.

Os salvadores do mundo não vêm alimentar divisões doutrinárias hostis, e seus ensinamentos não devem ser utilizados para esse fim. Chega a ser impróprio referir-se ao Novo Testamento como a Bíblia "cristã", pois ele não pertence exclusivamente a nenhuma seita. A verdade destina-se a promover a bênção e a elevação de toda a raça humana. Assim como a Consciência Crística é universal, Jesus Cristo, também pertence a todos. Embora enfatize a mensagem do Senhor Jesus no Novo Testamento e a ciência iogue da união divina apresentada por Bhagavan Krishna no Bhagavad Gita como sendo o summum bonum do caminho da realização divina, eu honro as diversas expressões da verdade, que fluem do Deus Único através das escrituras de Seus vário emissários.

A verdade, em si mesma e por si só, é a "religião" definitiva. Embora a verdade possa expressar-se de diferentes maneiras por meio de "ismos" sectários, estes não podem jamais exauri-la. Ela tem infinitas manifestações e ramificações, mas uma só consumação: a experiência direta de Deus, a Realidade Única. Os rótulos humanos de afiliação sectária têm pouco significado. O que nos confere salvação não é a seita religiosa em que tenhamos nosso nome registrado, nem a cultura ou credo em que nascemos. A essência da verdade transcende toda forma exterior. Essa essência é o fator supremo para compreendermos Jesus e seu chamado universal às almas para que entrem no reino de Deus que está "dentro de nós. 

Todos somos filhos de Deus, desde nossa origem até a eternidade. As diferenças surgem de preconceitos, e o preconceito é fruto da ignorância. (...) Acima de tudo, devemos nos orgulhar de sermos filhos de Deus, feitos à Sua imagem. Não é essa a mensagem de Cristo? (...)

Retirem as máscaras! Revelem-se como filhos de Deus - não por meio de proclamações vãs e preces decoradas, demonstração de sermões formulados intelectualmente e planejados para glorificar a Deus e angariar convertidos, mas por meio da realização! Identifiquem-se não com o intolerante fanatismo disfarçado de sabedoria, mas com a Consciência Crística. Identifiquem-se com o Amor Universal, expresso no serviço material e espiritual a todos; então saberão quem foi Jesus Cristo e poderão afirmar, em suas almas, que somos todos uma só família, filhos do Deus Único!"

(Paramahansa Yogananda - A Yoga de Jesus - Self-Realization Fellowship - p. 17/21)