OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

DOIS SAPOS

"Vivia um sapo – no fundo dum poço.

Lá nascera, lá vivera, de lá nunca saíra – e lá esperava morrer.

O seu horizonte era de um metro e meio de largura – o diâmetro do poço.

A profundidade de sua vida era de três palmos – como as águas do poço.

Para além da borda do poço – nada mais existia para ele...

Certo dia, tombou no fundo do poço – um sapo de outras regiões...

Vinha de longe, de muito longe – das praias do mar...

Com secreto rancor, viu o primeiro invadido pelo segundo o seu espaço vital.

Mas, como o segundo era mais forte, resolveu o primeiro não o guerrear – e limitar-se à defesa passiva...

Depois de três dias de silêncio recíproco, travou-se entre os dois batráquios o diálogo seguinte:

- Donde vens tu, estranho invasor?

- Das praias do mar, ignoto ermitão.

- Que coisa é o mar?

- O mar?... O mar é uma grande planície d’água.

- Tão grande como esta pedra em que pousam minhas pernas gentis?

- Muito maior.

- Tão grande como esta água que reflete o meu corpo esbelto?

- Maior, muitíssimo maior.

- Tão grande como este poço, minha casa?

- Mil vezes maior. Milhares de poços destes caberiam no mar que eu vi. O mar é tão grande que sempre começa lá onde acaba. É tão grande que todo o céu cabe nele, e ainda sobra mar. Todos os sapos do mundo, pulando a vida inteira, não chegariam ao outro lado – tão grande é o mar à cuja margem nasci e vivi.

- Safa-te daqui, mentiroso! – exclamou o batráquio do poço. – Coisa maior que este poço não pode haver! Mais água que esta água é mentira!...

*   *   *

Desde então viviam os dois em pé de guerra, no fundo do poço.

Não diz a história se algum deles, supersapo, venceu nessa luta feroz...

Nem diz se um deles, batráquio genial, convenceu o outro da verdade das suas ideias...

Consta apenas que, desde esse tempo, vivem no mundo seres que só creem em si mesmos...

Seres que sabem tudo o que os outros ignoram...

Seres que tacham de loucos os que afirmam o que eles não compreendem...

Seres de tão vasto saber que consideram desdouro aprender...

Não fales, meu amigo, em mares – a quem mares não viu!

Deixa viver no poço – quem no poço nasceu!

Horizonte de metro e meio, água de três palmos de fundo, pedra de meio palmo – que mais quer o batráquio dum poço?

Deixa ao ignorante a sua feliz ignorância!

Não fales em mares a quem para um poço nasceu!

Cada qual com seu igual...”

(Huberto Rohden – De Alma para Alma – Ed. Martin Claret, São Paulo, 2005 – p. 127/128)


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