OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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domingo, 4 de maio de 2014

LIBERDADE DENTRO DA MENTE (1ª PARTE)

"O velho Mestre pediu ao discípulo - um jovem entristecido pelos reveses da vida - que colocasse uma mão cheia de sal em um copo de água e bebesse.

- Qual é o gosto? - perguntou o Mestre.

- Ruim - disse o aprendiz.

O Mestre sorriu e pediu ao jovem que pegasse outra mão cheia de sal e levasse a um lago. Os dois caminharam em silêncio, e o discípulo jogou o sal no lago. Então o velho disse:

- Beba um pouco dessa água! Enquanto a água escorria do queixo do jovem, o Mestre perguntou:

- Qual é o gosto?

- Bom - disse o rapaz.

- Você sente o gosto do sal? - perguntou o Mestre.

- Não - disse o jovem.

Então, o Mestre sentou ao lado dele, pegou uma de suas mãos e disse:

- A dor na vida de uma pessoa não muda. Mas o sabor da dor depende de onde a colocamos. Quando você sentir dor, a única coisa que você deve fazer é aumentar o sentido de tudo o que está à sua volta. É dar mais valor ao que você tem do que ao que você perdeu. Em outras palavras, é deixar de ser um copo para ser um lago.

Como realizar esse feito? Em um artigo sobre as particularidades do cérebro, publicado no Jornal da Ciência, Suzana Herculano-Houzel afirma: 'Não somos especialmente encefalizados: temos um cérebro apenas do tamanho esperado para um primata do nosso tamanho. Talvez tenhamos mais neurônios que os golfinhos, mas provalvemente menos que a baleia azul. Nossa maior distinção talvez esteja simplesmente em sermos primatas, e dos grandes, com um número gigantesco de neurônios (100 bilhões) concentrados em pouco espaço'.

Contudo, a principal distinção entre o homem e o animal não se baseia no cérebro físico, mas na mente que dirige esse cérebro, e no espírito que dirige essa mente.(...)"

(Walter S. Barbosa - Revista Sophia, ano 12, nº 47 - Ed. Teosófica, Brasília - p. 18/19)
www.revistasophia.com.br


domingo, 20 de abril de 2014

O INSTRUTOR: “QUANDO O DISCÍPULO ESTÁ PRONTO, O MESTRE APARECE”

"Aqueles que leram a Voz do Silêncio saberão que esta obra consiste em três tratados que transmitem a essência do pensamento Mahayânico de uma forma muito clara. Estão agrupados em forma de discursos, nos quais o aluno pede orientação e luz ao instrutor, e este fala ao aluno sobre os objetivos da senda, as várias virtudes a serem desenvolvidas, as fraquezas a serem evitadas, e as verdades relacionadas a tudo isto. O instrutor também esclarece que ele pode apenas apontar o caminho, ele não pode conduzir o aluno até o destino pretendido. O aluno terá de usar a sua própria inteligência a cada passo, reunir todas as energias de sua natureza, e aplicar-se seriamente à tarefa. Se fosse meramente uma questão de encontrar um instrutor que conduzisse a pessoa até o objetivo adequado, a dificuldade residiria apenas em encontrar a pessoa certa, e assim o aluno não teria responsabilidade alguma. Mas não é este o caso. O discípulo terá de realizar a viagem por ele próprio, enfrentando todas as dificuldades, guiado pela sua própria compreensão.

De acordo com estes preceitos, das dez coisas a serem feitas uma importante entre elas é o encontro de um instrutor cuja influência de sua personalidade e conhecimento possa ser inestimável, se o aluno dela puder beneficiar-se. Diz-se: ‘vincule-se a um preceptor religioso dotado de poder espiritual e de sabedoria total.’ De que maneira podemos encontrar uma pessoa assim? Para começar deve-se compreender o que significa ‘poder espiritual’. Não é a habilidade de produzir truques fenomênicos ou milagres. A espiritualidade nada tem a ver com tais manipulações psíquicas. A questão então de como distinguir entre um instrutor falso – e destes deve haver grande variedade – e um verdadeiro. Diz o livro: ‘para evitar o erro na escolha de um guru, o discípulo precisa ter conhecimento de suas próprias falhas e virtudes’. Não significa que você terá de encontrar primeiramente o guru e então ele lhe dirá suas faltas e méritos. Deve haver uma medida de autopercepção e de discriminação dela resultante, a fim de reconhecer o verdadeiro instrutor quando o encontrarmos, e não ser atraído por alguém que consegue ter seguidores por apelar para suas fraquezas e divertir-se com sua imaturidade."

(N. Sri Ram - Em Busca da Sabedoria – Ed. Teosófica, Brasília, 1991- p. 135/136)

segunda-feira, 17 de março de 2014

INVOCAÇÃO

Possa Brahman proteger-nos. Possa Brahman depositar diante de nós o fruto do conhecimento. Que possamos obter a energia para adquirir conhecimento. Possa nosso estudo revelar a Verdade. Que possamos não nutrir maus sentimentos um para com o outro.

"Como é evidente, a Invocação acima é recitada por ambos, o Instrutor e o Discípulo juntos. Ambos, ao mesmo tempo, pedem para obter a energia para adquirir conhecimento, pois a busca do conhecimento requer muita energia. Qualquer desperdício de energia seria prejudicial para a busca de conhecimento. Para que esse desperdício não ocorra, deve haver extraordinária clareza de parte de ambos, o instrutor e o discípulo. A Invocação acima diz: ‘Possa nosso estudo revelar a Verdade’. O Instrutor e o Discípulo estão preocupados com a Verdade – e a Verdade precisa ser descoberta. O método de ensinamento contido nos Upanixades conduz a ambos, o instrutor e o discípulo, a descoberta. O relacionamento entre o instrutor e o discípulo não é estático – é intensamente dinâmico – é um relacionamento no qual o instrutor e o discípulo aprendem juntos.

A última frase da invocação diz: ‘Que possamos não nutrir maus sentimentos um para com o outro’. Uma comunhão é possível quando há perfeito entendimento entre o instrutor e o discípulo. Quando a educação se torna uma jornada que os dois realizam juntos para os reinos da Verdade, então vem à existência um relacionamento de respeito e consideração entre o instrutor e o discípulo todo o tempo. Há uma disciplina, mas é uma disciplina nascida da liberdade, pois aqui não é um que ensina ao outro, são os dois juntos que aprendem a própria Verdade."

(Rohit Mehta - O Chamado dos Upanixades – Ed. Teosófica, Brasília, 2003 - p. 52/53)

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

IMPERMANÊNCIA

"O discípulo perguntou ao Mestre:

- Por que, Mestre, estais sempre namorando as nuvens?

Contemplo-as, lendo em cada uma a grande lição da impermanência. Sejam brancas, diáfanas, enormes e luminosas; sejam cinzentas, baixas, pejadas e pesadas; sejam coloridas de poente, sejam de nascente, em poucos instantes já perderam a forma e a cor; já deixam de ser. Nós também. Não resistimos ao tempo. Quem pode deter a maré do tempo que tudo arrasa? Nossas alegrias e vitórias, nossas quedas e tristezas não persistem. Tudo muda. Tudo o tempo consome. Olha aquela imponente nuvem sobre o rio...

- Bela. Muito bela mesmo!

- Se quiseres, meu filho, perder a tua paz, é só te apegares a ela e desejar que fique, assim como está. “Uma nuvem nunca é; sempre simplesmente está."

(Hermógenes - viver em Deus - Ed. Nova Era, 4ª edição - p. 141)


terça-feira, 8 de outubro de 2013

DESAPEGO - PRIMEIRO PASSO DA DISCIPLINA ESPIRITUAL

"O sinal primeiro da vida espiritual é o desapego (vairagyam). Se você não tem vairagyam é um analfabeto, em se tratando de cultura espiritual. Vairagyam é o a-bê-cê do sadhana, e deve tornar-se forte bastante para fazer você vencer o cativeiro da sensualidade. Apenas poucos minutos de reflexão convencerá qualquer um da futilidade das riquezas, da fama e da felicidade terrena. Quando você é rico, todos o elogiam. Quando o poço está cheio, centenas de sapos coaxam em torno; quando vazio, ninguém o procura. Se o cadáver exibe algumas joias, o provérbio alerta, muitos se apresentam como parentes; se não tem qualquer valor sobre si, nenhuma pessoa virá para o prantear. Pondere quando estiver depositando importâncias maiores em sua conta bancária. Pense se não estará também acumulando problemas para si mesmo e para seus filhos, criando para estes maiores dificuldades para viverem uma vida limpa, tranquila e honrada. Quando você se empenha em conquistar uma fama insignificante, por tortuosos meios, lembre-se daqueles poucos que, dentre muitos de seus patrícios hoje são honrados, e por que o são. Não vê que somente aqueles que abandonam, renunciam, e trilham o caminho mais árduo para a realização de Deus, renunciando à estrada mais larga da vida mundana, são honrados em toda parte?*

Acate os sopros do destino, todos os infortúnios e misérias, como o ouro que aceita o cadinho, o martelo e a bigorna, a fim de assumir a forma de uma joia, ou como a cana dando boas-vindas ao cutelo, à moenda, ao fervedor, ao tacho, ao espalhador e ao secador, tanto que seu dulçor possa ser preservado e por todos utilizado como açúcar. Os Pandavas nunca vacilaram quando sobre eles caíram desastres, Ficavam felizes, pois as tribulações ajudavam-nos a relembrar Krishna, e eles O evocavam. Bhishma estava em lágrimas sobre seu leito formado de setas, perto de morrer,** e Arjuna perguntou-lhe por que, e ele respondeu: 'Estou vertendo lágrimas por que os sofrimentos que os Pandavas padeceram perpassaram por minha mente.' Depois disse: 'Isto ocorreu por ensinar uma lição à Kaliyuga*** - nunca busque poder, posição ou riqueza, mas submeta ao Senhor sua vontade, de uma forma totalmente resignada, tanto que possa sempre estar feliz e inabalável.'

O Senhor acorre para o bhakta (devoto) mais rápido do que este para Ele. Ele dá cem passos para você****: É mais que mãe e pai. Ele o nutrirá a partir do centro de você, conforme salvou e nutriu tantos santos que nele depositaram fé."

* "Entrai pela porta estreita pois larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz para perdição e são muitos os que entram por ela, porque estreita é a porta e apertado o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela" (Mateus 7:13-14).
** Bishma - figura humana veneranda central na batalha de Kurukshetra. Embora lutando do lado do inimigo, os Pandavas o veneravam. Terminou espetado em inúmeras setas cravadas em sua carne. (Ver X:1)
***Kaliyuga - Kali, negrume, treva; yuga, era das trevas, do mal, a qual estamos atravessando. (Ver X:28.)
****A sentença completa diz que, para cada passo que o devoto dá em direção a Deus, isto representando seu esforço, Deus dá cem a seu encontro, representando a Graça. Estude mais profundamente a parábola conhecida como "o filho pródigo", cujo nome mais justo seria parábola "do pai misericordioso", que não esperou o filho completar o esforço no caminho de volta. Foi a seu encontro, expressando desta forma Sua onipotente, onisciente e onipresente graça. 

(Sathya Sai Baba - Sadhana O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1989 - p. 214/215)


quarta-feira, 2 de outubro de 2013

DESAFIOS

"O que são para nós problemas e dificuldades? Não são tão bem-vindos como os prazeres e facilidades? Pois não são eles nossos melhores treinadores e educadores, e nos enchem de lições salutares? Não nos obrigam a nos movermos mais tranquilamente através de todas as mudanças e vicissitudes da sorte? E não seria um grande descrédito para nós se falhássemos em preservar a tranquilidade mental e equilíbrio de ânimo, coisa que devia ser sempre a marca da disposição do discípulo? Seguramente ele deveria permanecer sereno em meio a todas as tormentas e tempestades. Este é um mundo louco, enfim, se a pessoa olha só para sua mera exterioridade, e mesmo assim, quão enganador é em sua loucura! É a própria insanidade da loucura quando o doente é ignorante de sua condição - antes, quando acredita-se perfeitamente saudável. Oh, se a harmonia e música que reinam na Alma das coisas não nos fossem perceptíveis, a nós, cujos olhos foram abertos para esta completa sandice que penetra a casca externa, quão intolerável a vida nos seria! Você não acha que seria pouco agradecido mantermo-nos descontentes quando obedecemos aos desejos de nossos Senhores e cumprimos nosso dever? Você deveria ter não apenas paz e contentamento, mas também alegria e vivacidade, quando serve Aqueles cujo serviço é nosso mais alto privilégio e cuja memória é nossa mais verdadeira delícia." 

(Annie Besant - A Doutrina do Coração - Ed. Teosófica, Brasília - p. 10)


quinta-feira, 12 de setembro de 2013

DEVEMOS APERFEIÇOAR O AMOR EM PELO MENOS UM RELACIONAMENTO

"Deus não costuma permitir a recordação de nossas vidas passadas por uma razão profunda: seríamos mais apegados àqueles que conhecemos antes, em vez de expandir nosso amor para abranger outros. Deus quer que ofereçamos amizade e amor a todos, mas devemos aperfeiçoar o amor em, pelo menos, um relacionamento. Quando você reencontra velhos amigos, pode aperfeiçoar seu amor no relacionamento com eles. Discípulo significa aquele em quem o guru aperfeiçoa o estado de amizade divina. Os que seguem os preceitos do guru são seus discípulos. Os desejos de um verdadeiro guru são guiados pela sabedoria divina e, se você estiver sintonizado, vai se tornar livre, tão livre quanto ele.¹

Acima de tudo, aprenda o máximo que puder e se esforce por alcançar o grau mais elevado de desenvolvimento espiritual, na escola da vida. Comungue com Deus. Quando puder fazê-lo, as deficiências de todas as séries inferiores serão perdoadas. Para se libertar do carma que o prende aos deveres menores da vida, desenvolva a sabedoria e a consciência de Deus."

¹ "Se permanecerdes em minhas palavras, sereis em verdade meus discípulos, e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (João 8:31-32). "Permeados de devoção, os homens que incessantemente praticam os Meus preceitos, sem encontrar defeitos, tornam-se livres de (todo) carma" (Bhagavad Gita III:31).

(Paramahansa Yogananda - A Eterna Busca do Homem - Self-Realization Fellowship - p. 225)


quinta-feira, 25 de julho de 2013

EU REVELO OS MEUS MISTÉRIOS ÀQUELES QUE SÃO IDÔNEOS PARA OUVI-LOS

"Eu revelo os meus mistérios àqueles que são idôneos para ouvi-los. O que tua mão direita faz não o saiba a tua mão esquerda. 

Palavras como estas, em formas várias, vão através de todos os livros sacros da humanidade, do Oriente e do Ocidente. A Bhagavad Gita diz: "Quando o discípulo está pronto, então o Mestre aparece". A prontidão do discípulo não é a causa da vinda do Mestre, mas é a condição predisponente para seu aparecimento. 

A lei de causa e efeito governa todo o mundo da física; mas na metafísica não funciona essa lei. No mundo espiritual as coisas acontecem livremente, embora não arbitrariamente. Também o mundo metafísico é regido pela lei, mas uma lei superior que a inteligência analítica do homem profano não pode compreender. O mundo superior é governado pela graça e não pela causa. A causalidade escraviza, a graça liberta. 

Através de séculos, tem-se discutido sobre o mistério da graça. O que acontece pela graça, ou de graça, não obedece à lei de causa e efeito. Nem um homem pode merecer (ou causar) a graça; se assim fosse, não seria graça. Por outro lado, porém, os dons divinos não são dados arbitrariamente a qualquer homem, o que seria o domínio do caos. Gratuitamente, sim - arbitrariamente, não. 

Quando o homem ultrapassa o limite estreito da análise intelectual e entra na vasta zona de intuição espiritual, então compreende ele o mistério da graça, equidistante de causalidade e arbitrariedade. Compreende esse mistério, mas não o pode analisar. A palavra grega analyein, de que fizemos "analisar", quer dizer literalmente "dissolver". Quem analisa, dissolve, destrói. Quem analisa uma rosa no laboratório, não tem mais um rosa, porque a análise a dissolveu, destruiu. E, ainda que o cientista recomponha os seus componentes decompostos, o composto resultante não é a rosa; falta-lhe o principal, a alma ou vida, que o cientista analítico não pode analisar nem reconstruir. 

Para inteligir a rosa basta analisá-la - mas para compreendê-la é necessário intuí-la sem a analisar. Análise se refere às partes, a intuição visa ao Todo. Para compreender os mistérios de Deus e do Cristo, é necessário intuir, em silenciosa auscultação. Pode a análise intelectual preceder, pode mesmo chegar à sua penúltima etapa, mas nunca chegará à última meta da verdadeira compreensão intuitiva."

(O Quinto Evangelho - A Mensagem do Cristo - Tradução e comentários: Huberto Rohden - Ed. Martin Claret, São Paulo - p. 89/90)


quinta-feira, 18 de julho de 2013

O MUNDO ESPIRITUAL É UMA REALIDADE UNIVERSAL

"Perguntaram os discípulos a Jesus: queres que jejuemos? como devemos orar? como dar esmola? E quais os alimentos que devemos tomar? 
Respondeu Jesus: não mintais a vós mesmos e não façais o que é odioso! Porquanto todas essas coisas são manifestas diante do céu. Não há nada oculto que não seja manifestado, e não há nada velado que, por fim, não seja revelado.

Comentário: Atos e fatos externos não têm valor em si mesmos. O que vale é unicamente a atitude interna. Praticar atos e realizar fatos objetivos que não nasceram de uma boa atitude subjetiva é mentir e fingir amar o que na realidade se odeia. O agir deve ser o efluxo do ser. A vivência ética deve ser o fruto espontâneo da consciência mística. 

Que devemos comer? Há pessoas que dão grande importância à qualidade dos alimentos, ao conteúdo do estômago, como se a qualidade espiritual dependesse da qualidade material dos manjares. No Evangelho de Jesus não se encontra uma única prescrição nem proscrição de alimentos, porque, segundo as suas palavras, "o que de fora entra no homem não o torna impuro, mas sim o que de dentro sai do homem".

Da mesma forma, Jesus não prescreveu nenhuma fórmula de oração ritual; o chamado Pai Nosso não é uma reza ou recitação verbal; é um roteiro espiritual que indica a direção a quem abre a alma rumo ao Infinito. Jesus orava espontaneamente em qualquer lugar:  nos montes e desertos, no templo e na sinagoga, entre as dores de Getsêmani e do Gólgota, bem como nas glórias do Tabor. A oração deve ser tão espontânea e natural como a respiração, que acontece ao homem sadio inconscientemente. 

Nesta palavra do Evangelho de Tomé, volta o Mestre a frisar que o mundo espiritual é uma Realidade Universal, supraconsciente, e não uma espécie de ocultismo, infraconsciente. As coisas do ego consciente, ou do id subconsciente, atraem os profanos, mas a Realidade do Eu cosmo consciente encanta o iniciado, porque é manifesta como a luz solar. A magia mental e o ocultismo inframental são como uma noite fria de luar, no passo que a mística espiritual é semelhante a um dia cálido repleto de luz solar."

(O Quinto Evangelho - A Mensagem do Cristo - Tradução e comentários: Huberto Rohden - Ed. Martin Claret, São Paulo - p. 26/27)


terça-feira, 9 de julho de 2013

SER EQUÂNIME EM TODOS OS MOMENTOS

"(...) qual a melhor forma de lidarmos com as adversidades e insultos do mundo? Respondo que somente por meio da autêntica equanimidade. Para melhor expressar o significado dessa palavra, nada melhor que uma história. (...)
- Pois bem... Em certa cidade no sul da Índia, vivia um santo muito piedoso com seu único discípulo. Esse discípulo fiel e prestativo costumava servir ao Mestre em tudo. Realizava qualquer tarefa sem questionar a sabedoria de seu Guru. Aliás, esse é o verdadeiro procedimento do homem que deseja realizar-se em Deus. Ouvir as palavras do Mestre e segui-las com perfeita confiança segurando firmemente em sua destra é a atitude do discípulo ideal, assim como o fez Milarepa.
- Esse Mestre a que me refiro e seu único e fiel discípulo levavam uma vida simples, em singela completude. Certo dia, enquanto passeava livremente pela cidade, o chela sofreu um grave insulto que o deixou profundamente magoado. Chocado com o ultraje, recorreu ao Mestre pedindo orientações sobre como deveria agir em tal situação.
- O Mestre o ouviu atentamente, então, pediu ao obediente chela que fosse até o cemitério e, ali, diante dos túmulos, dirigisse todo tipo de elogio. Ao fazer isso, deveria retornar e contar o que observou.
- O obediente discípulo foi ao cemitério sem questionar o estranho pedido do Mestre e fez, no silencioso dormitório dos mortos, todo tipo de elogio aos frios e emudecidos túmulos. Voltando ao Mestre, este lhe perguntou: 
"E, então, o que disseram os mortos?"
"Nada senhor."
"Neste caso, volte lá e faça todo tipo de insulto aos mortos. Lança uma série de impropério sobre eles e, depois, volte aqui e me conte o que aconteceu."
- Cumprindo, mais uma vez, o desejo do Mestre, o fiel discípulo retornou ao cemitério e lançou sobre os túmulos todo tipo de insultos. Ao retornar ao Mestre, este lhe perguntou:
"E, então, o que fizeste?"
"Tal como o senhor me pediu, lancei sobre os mortos todo o tipo de insultos, mas nenhuma resposta obtive."  
- Respondeu o Mestre:
"Da mesma forma como os mortos não se envaidecem com os elogios e não se ofendem com os impropérios, tu, ó, chela, se desejas alcançar a realização interior, deves ser equânime em todos os momentos, seja na alegria, seja na tristeza, diante da glória e da injúria, diante da vida e da morte, da saúde e da doença, da vitória e da derrota.
Que nada neste mundo possa feri-lo, nenhum insulto atirado pela pólvora da ira ou da inveja do homem ignorante. Que nada possa abalar sua postura diante da vida, que ninguém seja capaz de provocar dano em tua conduta.
Teu ser imortal não é o corpo, nem a mente, nem os ossos do corpo, nem o sangue rubro correndo nas veias, nem teus pensamentos ou sentimentos, nem teus estados de ânimo, nem tuas vitórias ou derrotas. Teu ser imortal não pode ser ferido, manchado pelo pecado ou destruído por arma alguma.
Teu ser imortal é o Espírito eterno e onipresente. E, se tua natureza mais íntima é o Espírito, ó Shishya, quem pode ferir-lo? Quem pode insultar-te?"
- Após leve pausa, concluiu o Mestre:
"Aquele que recebe elogio hoje, pode ser insultado amanhã. Portanto, não sejas como a folha solta à mercê dos ventos dos elogios inúteis, bem como dos insultos. 
Elogios não nos garantem o céu. Insultos não nos levam para o inferno. Mas a equanimidade, esta sim, é prova de verdadeira realização espiritual, portanto, permanece na beatífica paz da equanimidade que está muito além das equivocadas opiniões alheias. Ainda que o mundo inteiro esteja contra ti, se Deus e o teu Guru estiverem ao teu lado, és o ser mais feliz deste mundo. 
Tudo é transitório e ilusório, portanto, ancora teu ser na imortalidade, a única que não fenece. (...)"

(Alexandre Campelo - O Encantador de Pessoas - Chiado Editora - p. 339/341)


terça-feira, 4 de junho de 2013

TANTRA YOGA - O SADHANA E O MANTRA/"A LETRA MATA" (PARTE FINAL)

"Para cada tipo de sadhaka (tipo animal, heroico e áureo), o guru ensina um apropriado sadhana ou método de espiritualização, atribuindo-lhe correspondentemente um mantra adequado, levando em consideração as aptidões, temperamentos, condicionamentos e limitações dos candidatos à iniciação. Genericamente falando, para os discípulos, isto é, para aqueles da "mão direita", os sadhnas a serem recomendados, segundo o grau de dificuldade crescente, são os seguintes:

(a) puja ou adoração ostensiva, usando flores, incenso, imagens, oferendas;
(b) japa ou repetição do mantra, com ou sem ajuda de um rosário (japamala), cujas contas vão sendo passadas na medida em que o mantra é pronunciado;
(c) dhyana ou contemplação;
(d) o mais elevado e difícil, brahmasadhana que é a experiência unitiva com o eterno e infinito Brahman.

O tantra está presente na liturgia de diferentes religiões. A missa católica, os rituais de umbanda e tantas outras manifestação externas litúrgicas são pujas. Os hinos de louvor cristão das religiões evangélicas e carismáticas são tântricas. O Tantra, com seus mantras e japas, faz parte também do budismo. A adoração de imagens é um procedimento tântrico universal de quase todas as religiões. As ladainhas e jaculatórias enriquecem nas práticas devocionais de cristãos, hindus e muçulmanos.

"A letra mata" - Por que no Tantra, ao lado de belíssimas e imaculadas, sublimadas e santas práticas, se encontram recomendações a outras nitidamente permissivas e primitivas, frontalmente contraditórias? O dicionário de hinduísmo de Stutley explica:
O Tantrismo, devido a seu simbolismo esotérico e algumas de suas práticas, tem levado sua ideologia a equívocos, os quais P. C. Bagchi considera causados por alguns eruditos que não conseguiram interpretar corretamente os termos técnicos dos textos tântricos. O uso que os textos fazem do simbolismo e da terminologia técnica, tal como os Uppanishads, visa a desvelar verdades, mediante uma linguagem que só poderia ser compreendida pelos iniciados. Daí no tantrismo o uso da assim chamado "linguagem intencional (sandhya-bhasa)", que é secreta, obscura e ambígua, na qual um determinado estado de consciência é expresso por um termo erótico. Os vocabulários da mitologia e cosmologia estão carregados de significados sexuais e de Hatha Yoga. (in A Dictionary of Hinduism)   
É oportuno citar o sábio São Paulo:
A letra mata, mas o espírito vivifica. (2 Co 3:6)" 
(José Hermógenes - Iniciação ao Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 133/134)
www.record.com.br


segunda-feira, 3 de junho de 2013

TANTRA YOGA - O GURU (9ª PARTE)

" (...) O tantra estabelece que a simples aquisição intelectual do conhecimento é insignificante. Faz-se indispensável a experiência, a qual só será alcançada através do sadhana, sob a direção indispensável de um competente guru. Competente guru é alguém que já tenha percorrido o difícil caminho, e consequentemente alcançado, no todo ou em parte, a Verdade que se propõe a partilhar. O guru genuíno não se limita a dar somente informações, mas também algo do que já conquistou e faz parte de si mesmo. É recomendado reverenciar e servir o guru como a própria Divindade. Tal prescrição impõe, naturalmente, severo discernimento da parte do candidato a discípulo, antes de confiar-se tanto a alguém. É aconselhável prudência na "caça ao guru", tanto que seja evitada a autoentrega a um incapaz ou a um trapaceiro, a um dos tão numerosos "falsos profetas", a magos negros ou vamagurus. Estes são sempre ávidos por dominar ingênuos discípulos. Para prevenir imprudentes autoentregas a falsos gurus é sempre bom lembrar o velho preceito: 
Quando o discípulo está pronto, o Mestre aparece.
E Jesus, sempre vigilante e empenhado em amparar-nos, adverte: 
Guardai-vos dos falso profetas... (Mt 7:15)* 
A prudência sugere que inicialmente paremos a ansiosa caça ao guru, e por meio de sadhanas como Bhakti, Karma, Hatha Yoga, conquistemos um razoável grau de espiritualidade. Será assim e por isto que, na hora exata e não antes, o guru certo aparecerá. Outra advertência igualmente válida, mas parecendo contraditória, nos lança à "busca ao guru". Não um ser humano, mas o excelso guru de todos os gurus. Aquele que reside no coração de cada um e, misericordiosamente, sempre ao alcance da prece, da autodoação e da meditação. (...)"

*Convém um estudo de todo o texto (Mt 7:15 e seguintes), pois ele descreve os sinais denunciadores do charlatão.

(José Hermógenes - Iniciação ao Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 132/133)


quinta-feira, 30 de maio de 2013

BEM-AVENTURADOS OS POBRES EM ESPÍRITO, PORQUE DELES É O REINO DOS CÉUS

"Nesta primeira bem-aventurança, Cristo fala da principal característica que o discípulo precisa possuir, antes que esteja pronto para receber o que o mestre iluminado tem para lhe dar. Ele precisa ser pobre em espírito: noutras palavras, precisa ser humilde. Se uma pessoa orgulha-se do que sabe, da riqueza, da beleza ou da linhagem; se tem ideias preconcebidas do que seja a vida espiritual e de como deveria ser ensinada - então sua mente não está receptiva aos ensinamentos mais elevados. Lemos no Bhagavad Guita, o evangelho dos hindus:

"As almas iluminadas que perceberam a verdade hão de instruir-te no conhecimento de Brahma (o aspecto transcendental de Deus), se tu te prostrares diante delas, as interrogares e as servires como um discípulo." 

Segundo um conto indiano, certo homem procurou um mestre e pediu-lhe para ser seu discípulo. Com intuição espiritual, percebeu o mestre que o homem não estava ainda preparado para ser instruído. Por isso lhe perguntou:
- Você sabe o que precisa fazer para ser meu discípulo?
O homem respondeu que não e pediu ao mestre que lho dissesse.
- Bem, disse o mestre, você precisa ir buscar água, apanhar lenha, cozinhar e trabalhar muitas horas em serviços pesados. Precisa também estudar. Está disposto a fazer tudo isto?
O homem respondeu:
- Sei agora o que o discípulo precisa fazer. Diga-me, por favor: e o mestre, o que ele faz?
- Ah, o mestre fica sentado, e em sua maneira recolhida dá as instruções espirituais.
- Entendi, disse o homem. - Nesse caso, não quero ser discípulo. Por que você não faz de mim um mestre?
Todos nós desejamos ser mestres. É preciso, porém, que antes de nos tornarmos mestres, aprendamos a ser discípulos. Precisamos aprender a humildade."

(Swami Prabhavananda - O Sermão da Montanha Segundo o Vedanta - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 21/22)


quarta-feira, 29 de maio de 2013

TANTRA YOGA - MÃO DIREITA E MÃO ESQUERDA (5ª PARTE - II)

" (...) Há milênios o Kata Uppanishad menciona dois caminhos: o "Caminho Bom" e o "Caminho do Bem", naturalmente para convidar para o último. O Cristo veio depois a confirmar:
Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta e espaçosa a estrada que conduz à perdição, e são muitos os que por ela entram, mas estreita é a porta e apertada a estrada que conduz à vida, e poucos são os que a encontram. (Mt 7:13-14)
Os que fazem o marketing do "caminho largo" jogam com argumentos inegavelmente brilhantes e convincentes. Eis um texto de Haridas Chaudhuri que sintetiza uma argumentação hoje monotonamente repetida por uns poucos reverenciados como "gurus" (?!), e por alguns "modernos terapeutas", pretendendo com ela incentivar, respectivamente, devotos e pacientes a "liberar o animal" que se agita dentro de si. Demonstram que assim evitarão as indesejáveis consequências da "repressão" psicológica. Tais "gurus", argumentando cavilosamente, têm encontrado facilidade em convencer crédulos discípulos (previamente convencidos) da "sacralidade" (?!) de uma gratificante "liturgia erótica".
A Yoga tântrica é audaciosamente afirmativa em suas abordagens metodológicas. Outros sistemas de Yoga dão muito destaque à renúncia e à ausência de desejo como ajuda à libertação. Mas a Tantra Yoga afirma a necessidade de uma satisfação inteligente dos desejos naturais. Nesta visão, não há antagonismo básico entre a natureza e o espírito. A natureza é o poder criativo do espírito na esfera objetiva. Ninguém, portanto, pode entrar no reino do espírito sem primeiro obter um passaporte emitido pela natureza. A prática de austeridade, ascetismo e automortificação é um insulto à natureza. Cria mais dificuldades que as soluciona. Por enfraquecer o corpo e por gerar conflitos internos e tensões, enquanto solapa e desenvolvimento sadio e equilibrado. (in Integral Yoga. Londres: George Allen and Unwin Ltd.) 
A defesa da tese do "caminho largo" prossegue, convincente, a arrastar muitos ao gostoso "é proibido proibir", à licenciosidade irresponsável. Toda esta argumentação (a essa altura já consideravelmente gasta) configura um velho e eficiente sofisma, sintetizado pela fórmula: quem está no chão só consegue levantar-se apoiando-se no mesmo chão. Ouso perguntar: Mas, se a criatura se encontra no lodo, num atoleiro, em areia movediça, como se apoiar se a busca de apoio faz afundar mais ainda?!

Haridas Chaudhuri prossegue, com promessas àqueles já predispostos à sedutora licenciosidade:
Se uma pessoa inteligentemente atender às tendências de sua própria natureza, seus desejos se tornarão cada vez mais refinados e elevados. Os desejos básicos gradualmente cederão lugar a desejos nobres. Os impulsos inferiores serão substituídos por impulsos mais elevados... 
A experiência prova, no entanto, exatamente o oposto. Um famoso filme japonês - O Império dos Sentidos - há alguns anos mostrou um caso real onde os amantes sofregamente se renderam sem reserva ao "império dos sentidos", em busca de uma impossível saciedade erótica total, e ao final, como não podia deixar de ser, suas vidas se acabaram de maneira trágica. (...)"

(José Hermógenes - Iniciação ao Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 126/128)


sexta-feira, 24 de maio de 2013

PROVAÇÃO - EGOÍSMO

"Há muitas outras formas de egoísmo, que podem retardar seriamente o progresso do discípulo. Uma delas é a negligência. Vi uma pessoa tão deleitada na leitura de um livro, que não apreciava interrompê-la para ser pontual; outra talvez escreva de qualquer jeito uma carta, sem reparar no incômodo que produzirá na vista ou ânimo de quem tenha de decifrar sua caligrafia. As pequenas negligências contribuem para reduzir a receptividade às influências superiores, desorganizar e atormentar a vida para outros e destruir o autodomínio e autoeficiência. A pontualidade e eficiência são condições essenciais para o cumprimento satisfatório da obra a realizar-se. Muitas pessoas são ineficientes. Quando se lhes confia um trabalho, não o concluem acabadamente e de mil modos se desculpam; ou se se lhes pede alguma informação, não sabem onde encontrá-la. As pessoas diferem muito neste particular. A alguém lhe podemos perguntar uma coisa e responderá: "Não o sei." Outro dirá: "Não o sei, mas o averiguarei", e volta com a informação solicitada. De análoga maneira, há quem diz que não pode fazer uma coisa e outro que persevera até fazê-la.

Contudo, em toda boa obra que o discípulo empreenda, tem de pensar no bem que aos demais acarrete e na oportunidade de servir com isso ao Mestre (pois ainda que seja minúcias materiais, têm muito valor espiritual), e não no seu bom karma daí resultante, o que seria outra forma muito sutil de egoísmo pessoal. Recordemo-nos das palavras de Cristo: "Tudo que fizestes ao menor de meus irmãos, a mim o fizestes."

Outros sutis efeitos da mesma espécie se vêem na depressão, na inveja e na agressiva afirmação de seus próprios direitos. Disse um adepto: "Pensai menos em vossos direitos e mais em vossos deveres." Há certas ocasiões, ao tratar de assuntos do mundo profano, que o discípulo possa achar necessário expressar gentilmente o que ele necessita, mas entre os seus condiscípulos não há lugar para tais direitos, e sim apenas oportunidades. Se um homem está contrariado, projeta sentimentos agressivos; e ainda que não chegue ao extremo de sentir ódio, anuvia densamente o seu corpo astral com riscos de anuviar também o corpo mental."

(C. W. Leadbeater - Os Mestres e a Senda - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 91/92)


quinta-feira, 23 de maio de 2013

PROVAÇÃO - EFEITOS DA IRRITABILIDADE

"A irritabilidade é um obstaculo muito frequente. Como já disse, é muto fácil irritar-se no meio do mundo civilizado, onde o homem vive sempre em alta tensão. Vivemos numa civilização de torturante bulício que irrita e desequilibra os nervos. É muito frequente as pessoas sensitivas, depois de experimentar os efeitos do ambiente da cidade, voltarem a suas casas completamente exaustas e alquebradas. Muitos outros fatores contribuem, mas a fadiga, o cansaço, provêm principalmente do incessante estrépito e da opressora influência de multidão de corpos astrais que vibram a padrões mui diversos, e todos eles excitados e conturbados por bagatelas. Nestas circunstâncias é deverás difícil evitar a irritabilidade, e especialmente o discípulo cujos veículos são mais sensitivos e estão mais tensos que os do homem comum. 

Por certo está irritação é algo superficial, sem profunda penetração; porém é muito melhor evitar mesmo a irritação superficial, pois seus efeitos perduram mais do que costumamos imaginar. Nas tormentas marinhas, o vento começa levantando as ondas, mas estas continuam inchadas até muito depois de acalmado o vento. Tal é o efeito produzido pela água, que é relativamente pesada. Mas a matéria do corpo astral é muito mais leve que a da água e as vibrações que se produzem em sua massa penetram mais profundamente e geram, portanto, efeitos mais duradouros. Um leve pensamento sinistro que só permaneça na mente por dez minutos pode produzir no corpo astral um efeito que persista durante quarenta e oito horas. As vibrações não se acalmarão se não depois de passado muito tempo.

Quando alguém constata uma falha destas em si, pode mais facilmente eliminá-la não lhe focalizando a atenção, mas esforçando-se por desenvolver a virtude oposta. Uma maneira de fazê-lo consiste em assestar firmemente o pensamento contra ela, mas não resta dúvida que está prática suscita oposição no elemental mental e astral, de sorte que um melhor método é procurar desenvolver a consideração por outros, baseada por certo, fundamentalmente, em seu amor por eles. Um homem cheio de amor e consideração não se permitirá falar ou mesmo pensar irascivelmente de outros. Quem esteja saturado dessa ideia, colherá o mesmo resultado sem excitar a oposição dos elementais."

(C. W. Leadbeater - Os Mestres e a Senda - Ed. Pensamento, São Paulo - P. 90/91)


sábado, 4 de maio de 2013

A PROVIDÊNCIA DE DEUS E A PREVIDÊNCIA DOS HOMENS

"Continuava a caravana apostólica a percorrer as terras da Palestina. Apreensivos e um tanto desalentados olhavam os discípulos para o futuro. Que fim levaria aquele interminável jornadear?... Que era o reino de Deus de que tantas vezes falava o Mestre?... Qual a posição deles neste reino?... E que seria das suas famílias, que tinham abandonado?
Num daqueles dias, em plena viagem, sentou-se Jesus com seus companheiros à sombra de uma árvore...
Por entre a verde ramaria, cantava um passarinho, ledo e despreocupado, como se fosse dono do mundo inteiro. Maís além, na várzea, meio à sombra, meio ao sol, floriam uns lírios silvestres, cor de fogo.
Reinava grande calmaria naquele dia de verão. 
Jesus entreouvia o murmúrio queixoso dos discípulos. Deixou-os falar a meia voz por algum tempo.
Depois interveio e, em tom suave e firme, lhes disse: 
- Não vos dê cuidados a vida, o que haveis de comer; nem o corpo, o que haveis de vestir...
Silêncio profundo... 
Então olhou Jesus para o emplumado cantorzinho da alegria, e prosseguiu:
- Considerai as aves do céu! Não semeiam, nem ceifam, não têm nem despensa nem celeiros - Deus é que lhes dá de comer. Ora, não valei vós muito mais que as aves? Quem de vós pode, com todos os seus cuidados, prolongar a sua vida por um palmo sequer? Se, pois, não sois capazes de coisa tão pequenina, por que vos dais cuidados do mais?...
Envergonhados, os discípulos baixaram os olhos. Até uma avezinha do mato lhos devia servir de exemplo da fé e confiança na amorosa providência do Pai celeste!...
Em seguida, apontando para uns lírios purpúreos, que banhavam-se à luz do sol, continuou:
- Olhai os lírios do campo, como crescem! Não trabalham, nem fiam; e, no entanto, vos digo eu que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu jamais como um deles.
Que são as mais perfeitas obras de arte fabricadas por mãos humanas, comparadas com as obras-primas da natureza, com as maravilhas do Creador!
Os discípulos meditavam, em profundo recolhimento...
E no meio deste grande silêncio lançou Jesus a conclusão final:
- Se, portanto, Deus veste assim a erva que hoje está no campo, e amanhã será lançada ao forno, quanto mais fará a vós, homens de pouca fé! Não pergunteis, portanto, o que haveis de comer, o que haveis de beber, e o que haveis de vestir; nem vos inquieteis. Os mundanos é que se entregam a esses cuidados. Vosso Pai bem sabe que disto haveis mister. Procurai, pois, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua harmonia - e tudo aquilo vos será dado de acréscimo."

(Huberto Rohden - Jesus Nazareno - Ed. Martin Claret, São Paulo - p. 261/262)


terça-feira, 9 de abril de 2013

NÃO AO PRECONCEITO

"Vez por outra, encontro alguém que infantilmente se inquieta com a hipótese absurda de, vindo a envolver-se com Yoga, cometer apostasia e trair sua religião particular, à qual desde a infância acomodadamente "pertence".

Alguns me perguntam receosos se Yoga é religião. Geralmente respondo: "Se você vê religião como um processo holístico (psico-bio-físico-espiritual) de re-união de partes que antes estavam unidas e agora estão separadas, se vê como a re-união da alma com Deus, então Yoga é essencialmente religião. Se um cristão, mesmo nada sabendo de Yoga, cumprir o caminho (marga), a disciplina ascética (sadhana) e a ética (dharma) ensinados e exemplificados por Jesus, poderá voltar à "casa do Pai". Retornará a ser um com o Pai. Tal, a rigor, é o Yoga do Cristo. Não é disto que fala a parábola do "Filho Pródigo"? A re-ligação ou religião do filho com o Pai é a forma mais exata de entender o Yoga.

Desde que o dharma (dever, mandamento e injunção), o sadhana (disciplina, ascese) e o marga (caminho de redenção a ser percorrido), estabelecidos por Cristo no Evangelho, sejam cumpridos com discernimento, decisão, dedicação, devoção e disciplina, o cristão pratica e alcança o Yoga. Que todo cristão consiga praticar o Yoga ensinado e exemplificado por Cristo; que ouça, analise, compreenda (em espírito e verdade) e ponha em prática o que Ele ensina em seu santo e sábio Evangelho:

Se permanecerdes em minha palavra (doutrina), sereis verdadeiramente meus discípulos e tereis a gnose da Verdade, e a Verdade vos libertará (jnana).
Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia sua cruz e siga-me (tapah).
Fazei aos outros aquilo que quereis que vos façam (seva).
Perdoai setenta vezes sete vezes (kshama).
Orai pelos que vos perseguem e caluniam (prema).
Buscai primeiro o Reino de Deus e vosso ajustamento a Ele, e o resto vos será acrescentado (mumukshutva).

Muito, mas muito mais, Ele estipulou como seu dharma (preceitos, injunções, virtudes, deveres...), definiu marga (caminho a ser percorrido) e ensinou seu sadhana (disciplina a ser observada). Sugeriu que se optasse pela "porta estreita" que permite e promove a re-ligação com a "casa do Pai", com o Dono da Casa.

Tivesse Ele se dirigido a hindus, penso que poderia falar assim: "Se vos ajustardes ao dharma, avançando no marga, e cumprirdes o sadhana, que vos ensinei e tanto exemplifiquei, alcançareis o estado adwaita e chegareis a dizer junto comigo 'eu e o Pai somos um' e tomareis consciência de que sois Deus. E este jnana vos libertará de samsara, o mundo dos mortos, onde há choro e ranger de dentes, e tereis vida, mas vida em abundância."

Se alguém, se supondo cristão, vier a contestar e combater o Yoga, "perdoai, pois não sabe o que faz". Não conhece Yoga e nem a luminosa essência de sua religião tão sábia."

(José Hermógenes - Iniciação ao Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 22/24)


domingo, 17 de março de 2013

CRIE O HÁBITO DE EMITIR PENSAMENTOS DE AJUDA E BOA VONTADE A TODOS QUE TE RODEIAM

"Ninguém tem possibilidade de tornar-se discípulo aceito a não ser que haja adquirido o hábito de volver suas forças para fora e de concentrar sua atenção e energia sobre outros, para verter sobre eles pensamentos de ajuda e boa vontade. Oportunidades de se fazer isto são constantemente oferecidas, não apenas entre aqueles com os quais entramos em íntimo contato, porém mesmo entre os estranhos que deparamos na rua. As vezes sabemos de alguém que se acha obviamente deprimido ou sofrendo, num jato podemos injetar em sua aura um pensamento de estímulo e fortalecimento. Permita-se-me citar mais uma vez uma passagem que vi há um quarto de século num dos livros do Novo Pensamento:

Impregna amor ao pão que assas; embrulha em energia e coragem o pacote que atas para a mulher de rosto fatigado; unta de confiança e sinceridade o dinheiro que pagas ao homem de olhar desconfiado.

É um lindo pensamento expresso de maneira exótica, porém que transmite a grande verdade de que cada contato é uma oportunidade, e que cada pessoa que encontramos da maneira mais casual é alguém para ser ajudado. Assim o estudante da Grande Lei percorre a vida distribuindo bênçãos a todos em volta de si, fazendo o bem irrestritamente por toda a parte, muito embora frequentemente o recipiente da bênção e ajuda não tenha nenhuma ideia de sua procedência. De tais benefícios todos os homens têm o seu quinhão, dos mais pobres aos mais ricos; todos os que podem pensar também podem emitir pensamentos bondosos e de ajuda, e nenhum desses pensamentos falhou, nem jamais pode falhar enquanto imperarem as leis do universo. Podeis não ver o resultado, mas o resultado ali está. e não sabeis que fruto pode nascer da tênue semente que semeais enquanto percorreis vossa senda de paz e amor."

(C. W. Leadbeater - Os Mestres e a Senda - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 103/104)


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O ADVENTO DO REINO DE DEUS

"Prosseguiu Jesus seu caminho, falando do reino de Deus.

Perguntaram-lhe os fariseus quando viria esse reino. Respondeu-lhes Jesus:

- O reino de Deus não vem com aparato exterior; nem se pode dizer: Ei-lo aqui! ou: Ei-lo acolá! porque o reino de Deus está dentro de vós.

A ideia que todos, inclusive os discípulos, formavam do reino de Deus neste mundo era visceralmente errônea. Por mais que Jesus rebatesse as concepções mundanas do reino messiânico, os homens não acabavam de se desiludir, e continuavam a aguardar um domínio político, temporal, de grande expansão e prosperidade, como nos templos de Davi e Salomão.

Uma e muitas vezes inculca Jesus a ideia de que o reino de Deus consiste na realização integral do indivíduo; e isto não se faz com espalhafato e aparato exterior, senão por meio de uma profunda compreensão interior. O reino de Deus principia com autoconhecimento e culmina em autorrealização.

Assim como o fermento penetra toda a massa, sem que ninguém possa ver nem apalpar essa misteriosa força transformadora; assim como o princípio vital de um grãozinho vivo atua ab intrinseco, fazendo crescer a planta, em um lento e progressivo aperfeiçoamento de cada uma das suas células, de cada um dos seus órgãos - assim acontece também com o reino messiânico, aqui no mundo: a sua atividade é toda de dentro para fora; a sua causa é invisível, mas os seus efeitos patenteiam-se aos olhos de todos.

O reino de Deus está dentro de vós!"

(Huberto Rohden - Jesus Nazareno - Ed. Martin Claret, São Paulo - p. 302)