OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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quinta-feira, 8 de abril de 2021

POR QUE SOU IMPORTANTE?

"No passado, a vida ficava mais fácil sabendo-se o que Deus tinha reservado. Se você souber onde se encaixar no esquema divino, as dificuldades materiais da vida se tornam secundárias. Se você não entrar na linha, seu destino será amargo, mas nem por isso estático. Não sei de nenhuma cultura em que o destino de uma pessoa tenha sido deixado à deriva. Mesmo no judaísmo, em que uma interpretação (mas não todas) nega a existência de uma pós-vida, Deus afirma que esta vida, sendo a única, deveria ser vivida do modo mais devotado possível. A virtude de viver em Deus é que sua ínfima existência não fica dotada simplesmente de um propósito mais alto, e sim do mais alto de todos, como parte da criação de Deus.

Entretanto, por maior que seja a força de se viver para Deus, a religião esteve sempre atormentada por uma séria contradição. Todas as pessoas são consideradas preciosas para Deus, mas ninguém é realmente necessário. Vidas individuais são desperdiçadas aos milhares a cada ano nas guerras. Outras incontáveis são perdidas por causa de fome, de doenças ou mal conseguem sobreviver a um índice cruel de mortalidade infantil. Poucas pessoas falam acerca dessa contradição que tem um efeito oculto. Médicos precisam anunciar estados terminais a pacientes incuráveis. A notícia chega como um choque, mas vem demonstrando que a maioria dos pacientes terminais é abnegada. A razão pela qual não querem morrer é que suas famílias precisam delas. A grande questão 'Por que estou aqui?' é deixado para outras pessoas. O mesmo ocorre com o medo dominante expresso pelo idoso, um medo que não é o de morrer ou da dor crônica e incapacitante. Antes de tudo, o que eles mais temem é se tornarem um fardo para seus filhos.

É humano compreender que todos nós precisamos uns dos outros de codependência no pior sentido: eu só existo para ter necessidades e ser necessário. Lembro-me bem no começo de minha carreira, de um paciente que ao ser informado que sofria de um câncer incurável no fígado, ou pâncras, murmurou: 'Que grande perda para o mundo quando eu me for.' Não só uma perda para a família e os amigos, mas uma perda absoluta, algo que tornaria o mundo mais pobre. Certamente, todos nós vemos a passagem de gente eminente dessa forma. E também, pela perspectiva de sua alma, você é um complemento para o mundo tão importante quanto Mahatma Gandhi ou Madre Tereza. Subtraí-lo da equação cósmica seria uma perda tão grande quanto. A seda mais refinada permanece intacta se você puxar um fio, mas o rasgo aparecerá. 

Muitas pessoas resistem à ideia de possuir um valor absoluto no universo. Inconscientemente, estão adotando um comportamento conhecido como desamparo adquirido. Um exemplo típico vem de um experimento com cães realizado na década de 1950. Dois cães foram colocados em jaulas diferente e em cada um era aplicado um choque de baixa voltagem a intervalos aleatórios. O primeiro cão tinha à disposição um interruptor em que ele podia bater com a pata para estancar o choque, em em pouco tempo aprendeu a apertar o interruptor. Como os choques eram fracos, esse cão não demonstrou nenhum efeito adverso. O segundo cão recebia os choques no mesmo momento, mas não tinha nenhum interruptor para desligá-los. Sua experiência era bem diferente. Para aquele cão, a dor era uma ocorrência aleatório fora de seu controle.

Porém, foi a segunda parte da experiência que se mostrou mais reveladora. Os dois cães foram colocados em outras jaulas onde a metade do piso dava choque e a outra metade, não. Tudo o que o cão precisava fazer no momento do choque era saltar uma divisória de madeira para a parte neutra. O primeiro cão, o que aprendera a desligar o choque, não tinha mais o interruptor. Mas também não precisou de um. Rapidamente aprendeu a saltar para o lado seguro, O segundo cão, no entanto, desistiu de início. Ele se deitou e deixou que os choques acontecessem sem esboçar nenhuma reação para se livrar deles. Isso é o desamparo adquirido em ação. Quando aplicado à vida humana, as consequências são devastadoras. Inúmeras pessoas aceitam que a dor e o sofrimento apareçam aleatoriamente na vida. Nunca estiveram no controle dos choques por que passa cada existência, e assim não buscam saída, mesmo quando surge alguma.

Saber como as coisas funcionam é importante. Caso contrário, o desamparo adquirido aos poucos vai tomando conta de nós. O primeiro cão aprendeu que a vida faz sentido: se você atinge o interruptor, a dor passa. O segundo cão aprendeu que a vida não tem sentido: não importa o que faça, a dor virá de qualquer maneira, o que significa que não há nenhum responsável, ou, se houver, ele não se importa. O cérebro de um cão pode não chegar a pensar dessa forma, mas o nosso sim. Sem um senso de objetividade, nós ficamos desamparados, visto que ou Deus não está presente ou ele não se importa com o que acontece conosco. Para escapar de nosso desamparo adquirido, precisamos adquirir um sendo de que somos importantes no esquema mais amplo das coisas."

(Deepak Chopra - Reinventado o Corpo, Reanimando a Alma - Ed. Rocco Ltda., Rio de Janeiro, 2010 - p.245/247)


terça-feira, 17 de setembro de 2019

A MENTE DESPRENDIDA

"A transformação do mundo é provocada pela transformação de si mesmo, porque o self é o produto e uma parte do processo total da existência humana. Para haver transformação, o autoconhecimento é essencial; sem saber o que você é não há base para um pensamento correto, e sem conhecer a si mesmo não pode haver transformação. O indivíduo precisa se conhecer como ele é, não como deseja ser, pois é meramente um ideal e, por isso, fictício, irreal; só esse o que pode ser transformado, não aquele que você deseja ser.

Conhecer-se como se é requer uma mente extraordinariamente alerta, porque o que está constantemente sofrendo transformações, mudanças: e para segui-lo depressa a mente não deve estar presa a nenhum dogma ou crença particular; a nenhum padrão de ação. Se você quiser seguir qualquer coisa, não é bom estar preso. Para conhecer a si mesmo é necessário ter consciência, uma extraordinária atividade da mente em que há a liberdade de todas as crenças, de toda idealização, porque as crenças e os ideais só lhe proporcionam uma cor, pervertendo a  verdadeira percepção. Se quiser saber o que você é, não pode imaginar ou acreditar em algo que você não é. Se eu sou ganancioso, invejoso, violento, o simples fato de ter um ideal de não violência, de não ganância, é de pouco valor... O entendimento do que você é - seja feio ou bonito, malvado ou maligno -, sem distorção, é o início da virtude. A virtude é essencial, pois ela proporciona liberdade."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil, São Paulo, 2016 - p. 37)


terça-feira, 9 de julho de 2019

A REAL NATUREZA DO AMOR

"(...) Não sabemos o que o amor realmente significa. Conhecemos apenas o amor que se baseia no apego e na posse. Quando uma pessoa se enamora, especialmente se for amor à primeira vista, não construído através de reações acumuladas, o objeto de amor parece revestir-se de uma beleza divina. Infelizmente, essa condição esvaece, pois se mescla a outros sentimentos, mas ele indica o que é a real natureza do amor; é a luz que brilha de uma natureza dentro de nós próprios que ilumina a beleza oculta nas coisas. 

Toda a ação da natureza espiritual tem o encanto e o frescor da espontaneidade. A virtude tem esse encanto. É como uma flor sempre nova. A ação da natureza espiritual não é apenas integralmente voluntária; ela é também irrestrita. Ela se doa completamente. A beleza da virtude está em tal doação.

Existe uma natureza muito profunda dentro de nós que se exterioriza apenas quando o terreno estiver desimpedido para ela. Aquela natureza permanece a mesma, e é atemporal em sua qualidade, mas é capaz de uma variedade de ação infinita. Todo modo e forma de sua ação constituem uma forma de beleza; quando se expressam na conduta da pessoa, também constituem uma forma de virtude."

(N. Sri Ram - Em Busca da Sabedoria - Ed. Teosófica, Brasília, 1991 - p. 48/49)


sexta-feira, 20 de abril de 2018

USANDO TODA NOSSA NATUREZA

"Cada aspecto de nossa natureza, tanto o bem quanto o mal, é exigido para a tarefa à nossa frente. Tal como o redirecionamento da energia, todos os elementos dentro de nós devem ser transformados. Tanto os vícios quanto as virtudes, dizem-nos, são 'passos (que) compõem a escada' por meio da qual ascendemos ao mais elevado. Como diz o comentário: 'Toda a natureza do homem deve ser usada sabiamente por aquele que deseja entrar no caminho'.

Um comentário assim deve ajudar-nos a compreender que não devemos reprimir ou suprimir qualquer aspecto de nossa natureza que possa ser indesejável. Pelo contrário, devemos trazer toda nossa natureza, inclusive o complexo psicofísico, a personalidade, sob uma certa condição. Não podemos negligenciar qualquer aspecto de nós mesmos sem, de alguma maneira, ferir o todo. É toda a natureza que deve ser usada, e usada sabiamente para o propósito que temos em vista. A repressão desses aspectos, particularmente de pensamentos e sentimentos que não queremos reconhecer como pertencentes a nós, só pode resultar em feridas dolorosas nos reinos kama-manásico, ou mental-emocional, ou psicodinâmico. E chagas purulentas conseguem apenas eclodir em violentos surtos de doença psíquica e até mesmo física. 

Temos de perguntar a nós mesmos como podemos usar cada aspecto nosso na busca do caminho. Demos a esse caminho o nome de caminho para a iluminação, ou para a autorrealização, para a libertação da roda de nascimentos e mortes; mas, mesmo definir o caminho, que nos mandam buscar, poderia indicar algum vestígio de autointeresse, um laivo de egoísmo em nossa busca. Nossa meta pode muito bem estar além da denominação, ou daquilo que imaginamos ser iluminação. Como podemos definir com palavras uma condição de consciência com a qual estamos, no nosso atual estágio, totalmente desfamiliarizados? Talvez isso possa ser melhor expresso nas palavras da anotação: devemos 'tentar aliviar um pouco o pesado karma do mundo', dando nossa 'ajuda aos poucos braços fortes que evitam que os poderes das trevas obtenham vitória completa'."

(Joy Mills - Buscai o caminho - TheoSophia, Ano 100, Julho/Agosto/Setembro de 2011 - Pub. da Sociedade Teosófica do Brasil - p. 46/47)

segunda-feira, 5 de março de 2018

A COOPERAÇÃO

"Faz parte do plano do LOGOS o fato de que o gênero humano, em certo estágio de sua evolução, precisa começar a guiar-se. Por conseguinte, todos os Budas, Manus e Adeptos futuros serão membros da nossa própria humanidade, quando os Senhores de Vênus tiverem ido para outros mundos. Por conseguinte, também, o LOGOS efetivamente conta com todos nós, com vocês e comigo. Podemos ter noventa e nove defeitos e uma única virtude, mas se essa única virtude for necessária à obra teosófica (e que virtude não é necessária?), teremos, seguramente, a oportunidade de utilizá-la.

Devemos, portanto, dar valor aos nossos colaboradores pelo que eles podem fazer, e não estar constantemente a censurá-los pelo que não podem fazer. Muitas pessoas lograram o direito de fazer alguma espécie de trabalho, muito embora seus defeitos sejam maiores que suas virtudes. As pessoas, não raro, cometem um triste erro ao comparar o seu trabalho com o dos outros, e ao desejar que se lhes enseje a mesma oportunidade ensejada a outros. A verdade é que cada qual tem seus próprios dons e seu próprios poderes, e de nenhum homem se espera que faça tanto quanto faz outro homem, mas apenas que faça o melhor que puder - simplesmente o melhor que puder.

Disse o Mestre, certa vez, que, na realidade, só existem duas classes de homens - os que sabem e os que não sabem. Os que sabem são os que viram a luz e se voltaram para ela, seja qual for a religião pela qual se guiam, por maior que seja a distância da luz em que possam encontrar-se. Um sem-número deles pode estar sofrendo muito em sua luta na direção da luz, mas, pelo menos, tem a esperança diante de si, e se bem simpatizemos profundamente com eles e nos esforcemos por ajudá-los, compreendemos que não constituem, de maneira alguma, o pior caso. As pessoas que realmente merecem piedade são as que se mostram totalmente indiferentes a todo e qualquer pensamento elevado - as que não lutam porque não lhes interessa, nem pensam nem sabem que há alguma coisa pela qual se deve lutar. São, na verdade, os que formam 'a grande humanidade órfã'."

(C. W. Leadbeater - A Vida Interior - Ed. Pensamento, São Paulo, 1999 - p. 120)
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terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

AS QUALIDADES REQUERIDAS PARA SE CAMINHAR NA SENDA DO YOGA (2ª PARTE)

"(...) O Logos é como uma mãe cujo filho ainda não anda: esta lhe mostra de longe um brinquedo para chamar a sua atenção, e lhe diz: 'Vem, anda, experimenta andar'. Impulsionado pelo desejo de possuir o brinquedo, o menino começa a andar. Da mesma maneira trata o Logos seus filhos, para os quais tem brinquedos de todas as espécies. 

O prazer, o gozo de viver, os elogios, o poder, todas as coisas que não são completamente satisfatórias para a alma humana, a atraem, no entanto, momentaneamente, e preenchem assim sua finalidade no mundo, a tarefa de impulsionarnos ao esforço para compreendê-los e desenvolver-nos quando os tivermos alcançado. 

Destruir num jovem todos os seus desejos é causar-lhe um mal terrível, pois estes desejos são para ele uma proteção eficaz contra muitos dos pecados do mundo. 

Para o jovem ambicioso não são, contudo, viscosos todos os caminhos neste mundo, pois que sem este desejo não pode crescer, não pode chegar a alcançar nenhum poder sobre os demais sem aprender a respeitar-se a si mesmo. Impulsionado pelo desejo, permanece muito amiúde na senda da virtude, evitando desta maneira a senda do vicio, graças a este desejo mais elevado que tem de alcançar o poder, seja político ou social. Nestas circunstâncias pouco importa o objeto; só o esforço tem valor. 

O Logos, que compreende muito bem sua função, coloca todos os objetos desejáveis ante os olhos de Seus filhos, a fim de que aprendam a andar para tornar-se homens. Os desejos pelas coisas elevadas destroem os desejos inferiores; os desejos nobres são as espadas que matam os desejos mesquinhos. 

O desejo de unir-se a Deus, de encontrar o Eu, de realizar sua divindade, é um desejo nobre e necessário. Sem este desejo ardente como uma chama, não seria possível vencer as dificuldades, os perigos, os sofrimentos desta Senda tão difícil e tão curta que conduz rapidamente ao conhecimento do Eu. (...)" 

(Annie Besant - Yoga, ciência da vida espiritual - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 30/31)
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sexta-feira, 3 de novembro de 2017

O CARÁTER DE UM HOMEM

P 137: Considerando o primeiro fio da corda do destino, como é que o pensamento cria o caráter?  

R: O caráter de um homem é a totalidade de suas qualidades morais e mentais. 'Homem' significa 'O Pensador; e a relação entre pensamento e caráter acha-se reconhecida nas Escrituras de todas as nações. Uma escritura hindu diz: 'O homem é criado pelo pensamento; como um homem pensa, assim chega a ser'; e na Bíblia se lê: 'Tal como pensa um homem, assim é'; e também: 'Quem olhar cobiçosamente uma mulher, cometeu já adultério com ela em seu coração'; e 'Aquele que odeia seu irmão, é um assassino'.  

A razão desses fatos é que, quando a mente se ocupa de um pensamento particular, estabelece-se na matéria um tipo definido de vibração, e, quanto maior for a frequência com que se origina esta vibração, adquirirá maior tendência a repetir-se automaticamente na matéria do corpo mental, até que chega a constituir um hábito (...).  

Para criar um hábito de pensamento, deverá o homem escolher uma qualidade desejável (uma virtude, uma emoção), e pensar então persistentemente na qualidade escolhida. Deverá meditar deliberadamente nela todas as manhãs por alguns minutos, e persistir naquela criação mental até que se forme um hábito e se tenha criado a virtude dentro de seu próprio caráter, o que se efetua especialmente quando põe em prática o pensamento em sua vida diária. Como tudo se acha sob lei, não poderá obter habilidades mentais ou virtudes morais sentando-se a esperá-las; somente poderá edificar seu caráter mental e moral pensando esforçadamente e atuando de conformidade. Suas aspirações chegarão a ser capacidades; seus repetidos pensamentos se converterão em tendências e hábitos. No passado criou seu caráter com o qual nasceu nesta vida, e agora está criando o caráter com que morrerá, e com o qual renascerá; e o caráter é a parte mais importante do carma (...).  

Se um homem é hábil para certas coisas, é porque numa vida anterior dedicou muito de seus esforços naquela direção. O gênio e a precocidade se explicam, assim, satisfatoriamente. As aspirações elevadas de uma vida florescem como capacidades na seguinte; e uma vontade decidida de serviço não Egoísta tem como resultado a espiritualidade." 

(Pestanji Temulji Pavri - Teosofia explicada em perguntas e respostas - fl. 122)


sexta-feira, 27 de outubro de 2017

A MENTE MADURA

"Há um mundo de diferença entre uma mente madura e uma mente imatura. O fragmento intitulado 'Os Sete Portais', no livro A Voz do Silêncio, diz: 'Tua alma tem que se tornar como a manga madura: tão macia e suave quanto sua polpa dourada; para desgosto dos outros, tão dura quanto seu caroço.'

O amadurecimento ocorre lentamente, com a experiência de muitas encarnações, ou rapidamente, quando, em certo estágio, descobre-se em que consiste a maturidade. Do pondo de vista espiritual, a maturidade não é uma habilidade de tipo mundano. Assim como a manga totalmente madura não tem nenhuma parte verde, a mente madura está livre de todo elemento de imaturidade. A palavra imaturo, ou verde, significa, entre outras coisas, 'não treinado'. Um recruta 'verde' é, por exemplo, uma pessoa ainda não treinada. A palavra também significa não curado, doente, inflamado, como uma área ferida, uma área que ainda não sarou. Essas palavras ajudam a compreender o estado de imaturidade.

Geralmente, os pensamentos e as emoções jorram na mente, sendo, em sua maioria, reações desordenadas a certas pessoas e certas circunstâncias. Essas reações são sintomas de uma condição subconsciente. A insegurança do ego é posta à mostra de muitas maneiras: emoções que facilmente se inflamam, excessiva sensibilidade à opinião dos outros, pensamentos que se vangloriam, e assim por diante. Pessoas que parecem ser fortes podem na verdade estar apenas se endurecendo, porque são inseguras e sentem a necessidade de se proteger. Querer se tornar durão, forte ou esperto é um sintoma de fraqueza oculta.

Entre as sete virtudes descritas como as chaves para 'Os Sete Portais', em A Voz do Silêncio, está kshanti: a paciente doçura que nada pode abalar. Na ausência do egoísmo, não há mais motivos por que se ofender ou se perturbar. A mente é como uma luz que queima firmemente, e não é afetada por condições externas. 

A firmeza, um real sentido de paz e de liberdade de desejos e temores são todos características da maturidade. Esse estado é a 'verdadeira felicidade' descrita por Plotino: 'o sinal de que esse estado foi alcançado e que o homem não procura mais nada. Uma vez tendo o homem se tornado conhecedor, os meios da felicidade e o caminho para o bem estão dentro dele, pois nada que esteja fora dele é bom. Qualquer coisa que ele deseje além disso, ela procura como uma necessidade, e não para si mesmo, mas para um subordinado, pois o corpo a que fez jus, uma vez tendo vida, precisa se suprir das necessidades da vida, as quais, porém, não são necessidades para o homem verdadeiro.'

Aquele que cresce em maturidade não se apressa em dar opiniões e a chegar a conclusões. Sua mente é perceptiva e inteligente, mas a própria inteligência faz com que ele pare e espere. Ele não pressupõe que suas opiniões sejam valiosas, e, portanto, com ele não há obstinação, autoafirmação ou orgulho. O primeiro sinal da maturidade é reconhecer suas próprias limitações e ser humilde e simples."

(Radha Burnier - A mente madura - Revista Sophia, Ano 13, nº 58 - p. 5/7)


segunda-feira, 16 de outubro de 2017

O PENSADOR PRECISA ENTENDER A SI MESMO (1ª PARTE)

"Certa vez me perguntaram por que meus ensinamentos são unicamente psicológicos, centrados na mente e seus afazeres, sem nenhuma teologia, ética, estética, sociologia ou ciência política. Isso acontece por uma razão muito simples. Se o pensador pode compreender a si mesmo, todos os problemas estão resolvidos. Ele é a criação e a realidade; tudo o que ele fizer será social.

A virtude não é um fim em si. Ela traz a liberdade, mas só pode existir liberdade se o pensador, que é a mente, deixar de existir. É por isso que temos que compreender os processos da mente, o ego, o eu e os desejos que criam o ego - minha propriedade, minha esposa, minhas ideias, meu Deus.

O pensador é confuso; por isso, suas ações são confusas. É também por isso que ele busca a realidade, a ordem e a paz. Por ser confuso e ignorante, ele quer o conhecimento; por estar cheio de contradições e conflitos, ele procura uma ética que o controle, guie e apoie.

Se eu, o pensador, puder compreender a mim mesmo, os problemas estarão resolvidos. Não serei antissocial; não explorarei os pobres para ser rico; não vou querer coisas e mais coisas, alimentando o conflito entre os que têm e os que não têm nada. Não pertencerei a uma casta, classe ou nacionalidade, porque não haverá separação entre os homens. Poderemos amar uns aos outros e sermos gentis.

Portanto, o que é importante não é a cosmologia a teologia ou a sociologia, mas compreender a mim mesmo: compreender o pensador. Mas será que o pensador é diferente de seus pensamentos? Se os pensamentos acabam, existe o pensador? A qualidade de pensar pode ser removida do pensador? Se ela for removida, o ego do pensador continuará a existir? (...)"

(J. Krishnamurti - O pensador precisa entender a si mesmo - Revista Sophia, Ano 2, nº 7 - p. 24)


terça-feira, 10 de outubro de 2017

TEMPO E TRANSFORMAÇÃO (1ª PARTE)

"Desejo falar um pouco a respeito do tempo, porque acredito que a riqueza, a beleza e significação daquilo que é atemporal, daquilo que é verdadeiro, só podem ser experimentadas quando compreendemos integralmente o processo do tempo. Afinal de contas, estamos buscando, cada um à sua maneira, um sentimento de felicidade, de enriquecimento. Ora, uma vida que tem significado, que tem as riquezas da verdadeira felicidade, não está em relação com o tempo. Qual o amor, essa vida é atemporal e para compreendermos o que é atemporal, não devemos considerá-lo através do tempo, porém antes, compreender o tempo. Não devemos utilizar o tempo como meio de alcançar, compreender, apreender o atemporal. No entanto, é o que estamos fazendo, na maior parte da nossa vida: consumindo tempo, procurando aprender o que é atemporal - e por isso é importante compreender o que se entende por 'tempo', pois creio que é possível ser livre do tempo. É importantíssimo compreender o tempo como um todo e não por partes.

É interessante compreender que quase toda nossa vida se consome no tempo - tempo, não no sentido de sequência cronológica de minutos, horas, dias e anos, mas no sentido de memória psicológica. Vivemos pelo tempo, somos resultado do tempo. Nossas mentes são o produto de muitos dias passados, e o presente é apenas a passagem do passado para o futuro. Nossas mentes, nossas atividades, nosso ser, fundam-se no tempo. Sem o tempo, não podemos pensar, porque o pensamento é resultado do tempo, o produto de muitos dias passados, e não há pensamento sem memória. Memória é tempo, pois há duas espécies de tempo: o cronológico e o psicológico. Há o tempo, o ontem do relógio, e o ontem da memória. Não se pode rejeitar o tempo cronológico, pois seria absurdo: poderiamos perder o trem. Existirá realmente tempo, fora do tempo cronológico? É claro que há o tempo, o ontem, mas existe o tempo tal como a mente o concebe? Existe tempo, separado da mente? Não há dúvida que o tempo, o tempo psicológico é produto da mente. Sem a base do pensamento, não existe o tempo - sendo 'tempo' apenas a memória do dia de ontem em conjunção com o de hoje, moldando o amanhã. Quer dizer, a memória da experiência de ontem, em reação ao presente, está criando o futuro - o que constitui ainda um processo de pensamento, uma senda da mente. O processo de pensamento determina progresso psicológico no tempo, mas esse tempo será real, tão real como o tempo cronológico? Podemos utilizar esse tempo produzido pela mente, como meio de compreender o eterno, o atemporal? Como disse, a felicidade não é produto de ontem, a felicidade não é produto do tempo, a felicidade está sempre no presente, é um estado atemporal. Não sei se já notastes, que quando tendes um êxtase, uma alegria criadora - uma série de nuvens radiosas cercadas de nuvens negras - nesse momento não existe o tempo: só há o presente imediato. A mente, interferindo depois desse experimentar, do presente, lembra-se dele e deseja continuá-lo, acrescentando-se a si mesma, mais e mais, e criando assim o tempo. O tempo é criado pelo 'mais'; o tempo é aquisição e, também, renúncia, que é por sua vez uma aquisição da mente. Logo, disciplinar apenas a mente no tempo, condicionar o pensamento dentro da estrutura do tempo, que é memória, por certo não nos revela o que é atemporal. 

A transformação depende do tempo? Quase todos estamos acostumados a pensar que o tempo é necessário para a transformação: sou 'tal coisa', e para modificar o que sou e transformá-lo naquilo que deveria ser, é preciso tempo. Sou ambicioso, e dessa ambição resulta confusão, antagonismo, conflito, aflição. Para realizar a transformação, que é a não ambição, pensamos ser necessário o tempo. Isto é, consideramos o tempo como meio de evolvermos para algo superior, como meio de nos tornarmos alguma coisa. O problema é este: sou violento, ambicioso, invejoso, irascível, vicioso, ou apaixonado. Para transformar o que é, há necessidade de tempo? Em primeiro lugar, por que desejamos modificar o que é, efetuar uma transformação? Por quê? Porque o que é não nos satisfaz, o que é cria conflito, perturbações, e, como não gostamos desse estado, desejamos algo que seja melhor, mais nobre, mais idealístico. Assim, desejamos a transformação porque existe sofrimento, desconforto, conflito. O conflito pode ser dominado pelo tempo? Se dizeis que sim, continuais em conflito. Podemos dizer que bastarão vinte dias, ou vinte anos, para nos livrarmos do conflito, para modificarmos o que somos, mas durante esse tempo continuaremos em conflito, e por conseguinte, o tempo não efetua transformação alguma. Quando nos servimos do tempo como meio de adquirir uma qualidade, uma virtude, ou um 'estado de ser', estamos apenas adiando, estamos evitando o que é. Julgo importante compreender este ponto. A ambição, ou a violência, causam sofrimento e perturbações no mundo das nossas relações, que constituem a sociedade; cônscios deste estado de perturbação, que denominamos ambição ou violência, dizemos para nós mesmos: 'sairei dele com o tempo; praticarei a não violência, praticarei a não inveja; praticarei a paz'. Ora, desejais praticar a não violência, porque a violência é um estado de perturbação, de conflito, e pensais que com o tempo alcançareis a não violência e dominareis o conflito. Que está realmente acontecendo? Achando-vos em estado de conflito, desejais alcançar um estado em que não haja conflito. Ora, esse estado de não conflito é resultado do tempo, de uma duração? evidentemente não é; porque enquanto estais alcançando o estado de não violência, continuais violentos e, por conseguinte, em conflito. (...)"

(J. Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 111/114)
http://www.pensamento-cultrix.com.br/



domingo, 3 de setembro de 2017

O CAMINHO PARA A HARMONIA

"Quando nos sentamos e contemplamos o mar, o céu, a lua ou as estrelas, temos uma sensação de espaço e eternidade. Isso muda, pelo menos por algum tempo, não apenas a nossa psique, mas também o corpo.

Quando a consciência é inocente, há menos impureza a obstruir a luz, e sente-se a beleza mais profundamente. Pensamentos ruins, preconceitos e ideias preconcebidas fazem a vida parecer enfadonha e árida. A inocência de uma criança é um complemento à beleza; nessa inocência, há também virtude. A verdadeira virtude é a beleza da luz divina se irradiando do nosso interior.

As palavras de uma canção ou o tema de um quadro não tornam a arte religiosa. Para ser verdadeiramente religioso, devemos abandonar o desejo de estar numa forma individual e fluir para a beleza do universal. Sem sensibilidade para o universal, podemos estar engajados não apenas em um ritualismo vazio, mas também em formas de arte vazias. As formas podem ser tecnicamente excelentes, mas não contêm a essência da arte, e portanto não possuem a qualidade religiosa.

O princípio da verdade não pode ser captado enquanto a mente estiver poluída com desejos e atividades autocentradas. Só quando estamos livres do desejo a virtude pode penetrar em nosso coração. Então temos uma visão da totalidade, que é a verdadeira religião.

Para que a virtude possa surgir, tudo o que é supérfluo deve ser removido. Assim como o escultor desbasta o mármore para revelar uma forma, devemos desbastar o que foi acrescentado à nossa natureza, até que emoções e pensamentos sejam puros e inocentes. Krishnamurti chamava isso de austeridade; ele dizia que austeridade é 'a simplicidade da mente purgada de todo conflito, que não está presa ao fogo do desejo, mesmo o desejo mais elevado. Sem essa austeridade não pode haver amor'.

A religião da beleza é o caminho para a pureza e a harmonia com tudo. Isso significa virtude e amor. Com uma mente silenciosa e o coração aberto ao grande oceano da vida, com todas as suas belezas, nenhuma outra religião é necessária."

(Radha Burnier - A religião da beleza - Revista Sophia, Ano 2, nº 7 - p. 6)

domingo, 30 de julho de 2017

AMOR, CORAGEM E CONFIANÇA (1ª PARTE)

"Soube de um grupo de bombeiros que, ao combater um grande incêndio, experimentou um sentimento de grande unidade que eliminou todo o medo de perigo pessoal. Situações assim são frequentes. Numa crise súbita a pessoa pode esquecer de si mesma, deixar de defender sua posição autocentrada e mostrar uma extraordinária coragem. Mas nem sempre é assim. Quando ameaçadas de escassez, elas tendem a comprar provisões em quantidades ridiculamente grandes, porque a mente teve tempo para reagir e ocupar seu central.

Retirar-se do centro deve ser como uma surpresa, de algum modo iludindo o tempo. Isso não pode ser planejado de antemão. Mas há condições para essa retirada. Frequentemente menciona-se as virtudes. Podemos escolher algumas e nos examinar para ver se as desenvolvemos. Mas assim podemos fortalecer a posição autocentrada e nos afastar ainda mais da unidade, rumo a mais separatividade.

Ao examinar nossas virtudes, devemos atentar para todas elas, porque nenhuma pode florescer à custa das demais. Se isso ocorrer será um exagero que pode se tornar um vício. A virtude está na moderação.

Não pode haver regras rígidas e inalteráveis; cada um deve, como um bom mestre-cuca, juntar a quantidade certa de cada ingrediente. Isso significa que certas virtudes num determinado caso, devem ceder lugar a outras. Ao educar os filhos, tem-se que decidir quando o amor deve ceder à justiça e vice-versa. Todas as virtudes levadas à perfeição tornam-se uma só virtude. O amor perfeito expressa-se também como sabedoria perfeita.

A chave para manifestar as virtudes está na auto-observação e no autoconhecimento. Paradoxalmente, a preparação para deixar o centro pode ocorrer melhor de maneira inconsciente, ou pelo menos natural e espontânea. Todas as virtudes são expressões de uma atitude - e essa atitude nada tem a ver com estar no centro. Para ser virtuosa a pessoa precisa deixar o centro. (...)"

(Mary Anderson - Como superar o egocentrismo - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 40
www.revistasophia.com.br


sábado, 8 de julho de 2017

O SÍMBOLO SUBSTITUI A REALIDADE?

"Falando de amor ou afeição, o mundo seria melhor pela realidade do amor no coração das pessoas, ou pela simulação do amor que pode revestir-se de muitas formas enganosas? Pode-se criar uma impressão de amizade, como é feito pela estrutura política portentosa, mas isto é apenas parte do jogo diplomático. O que conta é o sentimento ou o espírito de amor dentro da pessoa e isto é o que ajuda os demais. Eu não sei a extensão do bem de 'fingir uma virtude, se você não a tem'. Podemos satisfazer-nos facilmente com o fingimento e não atentar para a realidade. Se o substituto opera bem, por que preocupar-nos em encontrar a peça genuína?

A palavra 'Deus' é um substituto comum para Deus, a Realidade. Deus é Algo sobre o que nada sabemos, mas sobre o qual podemos formar as noções que quisermos; existem todos os tipos de ideias sobre Deus, muito embora na prática a sociedade, o estado e a religião nem sempre permitam que se tenha ideias próprias. Tempos houve em que as pessoas foram perseguidas por defenderem ideiais diferentes daquelas da comunidade, envolvendo Deus, a natureza do universo ou qualquer outro assunto, por mais desligado que estivesse de sua conduta e vida. Eles eram considerados hereges e queimados por mera suspeita. Herege era alguém que não apenas não se conformava externamente com padrões estabelecidos, ou professava abertamente uma ideia contrária àquilo que constituía a ordem, mas até mesmo o fato de parecer estar nutrindo determinado pensamento era considerado pecaminoso e subversivo.

Não se pode dizer que um símbolo está destituído de valor. Pode não haver outra forma de nos referirmos objetivamente à realidade, mas um símbolo não passa a ser aquela realidade. Ele poderá ter o seu valor desde que compreendamos que é apenas um indicador ou um substituto da coisa real. Torna-se um fetiche quando é adorado no lugar da realidade. A partir de um ponto de vista, um símbolo é uma sombra, e a luz está por trás do homem que está olhando. No 'Mito da Caverna' de Platão, a luz está por trás dos homens que estão olhando para as densas sombras na pareda na frente da qual encontram-se. A sombra tem o valor de indicar a presença da luz e de dar um esboço do objeto que a obstrui, mas é necessário olharmos na direção adequada em busca da luz em si."

(N. Sri Ram - Em Busca da Sabedoria - Ed. Teosófica, Brasília, 1991 - p. 27/28)


sexta-feira, 23 de junho de 2017

PURIFICAÇÃO (3ª PARTE)

"(...) Depois desse momentâneo relancear de olhos, nunca mais aquele peregrino será o mesmo, porque embora apenas por um instante, compreendeu quais eram a meta e a finalidade. Viu o ápice rumo ao qual está galgando, e viu também o caminho íngreme, mas muito mais curto, que sobe diretamente do flanco da montanha até o lugar onde o templo resplandece. Compreende, naquele momento, que a estrada tem um nome - 'serviço' - e que os que enveredam pelo caminho mais curto devem entrar através de uma porta, onde as palavras 'Serviço do Homem' estão brilhando com letras douradas. A Alma compreende que, antes de poder alcançar pelo menos o Pátio Externo do Templo, deve passar através daquela porta e compreender que a vida é feita para o serviço e não para a autoprocura, que a única maneira de subir mais rapidamente é fazê-lo por amor dos retardatários, a fim de que o auxílio mais eficaz, vindo do Templo, possa ser enviado ao encontra dos que vêm subindo, o que de outra forma não seria possível. 

Essa visão não passou de um vislumbre fugaz, foi apenas um rápido olhar ziguezagueante, porque os olhos foram colhidos por um único dos raios de luz dimanados do alto da montanha. Há tantas coisas atraentes dispersas ao longo daquela estrada em espiral, que o relancear dos olhos da Alma facilmente se deixa atrair para elas. Mas, uma vez recebida aquele cintilação, existe a possibilidade de a alma obtê-la de novo, com maior facilidade. Quando a meta procurada, o dever e o poder do serviço lograram essa momentânea e imaginativa compreensão da Alma permanece ali o desejo de trilhar uma senda mais curta e encontrar o caminho que leve diretamente, pelo flanco da montanha, ao Pátio Externo do Templo.

Após aquela primeira visão, a Alma é visitada amiúde pelos raios de luz, cujo brilho vai se tornando cada vez mais intenso. Vemos que essas Almas, que apenas por um momento reconheceram que há um escopo, um propósito na vida, começaram a subir com maior resolução do que suas semelhantes. Embora ainda estejam dando voltas em torno da montanha, observamos que começam a agir com maior firmeza no que se refere às virtudes, e que se dedicam com maior persistência ao que reconhecemos como religião, essa religião que se esforça por ensinar-lhes como podem subir, e como o Templo pode finalmente ser alcançado. (...)"

(Annie Besant - Do Recinto Externo ao Santuário Interno - Ed. Pensamento, São Paulo 1995 - p. 11/13)


terça-feira, 6 de junho de 2017

A COMUNHÃO DOS SANTOS (1ª PARTE)

"Santos houve em todos os tempos, entre todos os povos e crenças. O santo é alguém em quem floresceu o germe da divindade ou Cristandade, oculto em cada um de nós. Essa divindade revela-se como bondade e perfeição; uma vez que a perfeição humana engloba todas as virtudes e graças, existem santos de muitos tipos, alguns se sobressaindo em devoção a Deus, outros em conhecimento da verdade, e outros ainda em ação altruística de acordo com a vontade de Deus. Todas essas sendas são igualmente sendas que levam ao ponto mais elevado. Deus, devemos compreender aqui, não é a imagem artificial, mas o supremo poder que tem sede no coração do próprio homem e também em todas as outras coisas, visíveis e invisíveis.

Houve grandes homens e mulheres que devem ter sido amados por Deus, embora não reconhecidos pelos homens; deve ter havido alguns, entre os assim chamados santos, sobre quem o halo foi lançado, por assim dizer, em antecipação, por seus ardentes seguidores. A grandeza nem sempre é reconhecida no seu tempo, nem sempre consiste no que parece ser.

Esses santos, embora possam não estar encarnados, ainda são presenças espirituais - como todos os homens - naquele aspecto de suas naturezas que está sempre voltado para Deus, só que ainda mais. Assim, eles estão unidos a nós de maneiras sutis, misteriosas. No reino do Espírito todas as suas manifestações formam uma unidade.

A ideia de que os santos, do passado e do presente, constituem uma comunhão ou associação é bela e consagra uma verdade maravilhosa. Mesmo em nosso mundo inferior, semelhante atrai semelhante. Muito mais ocorre naquele reino onde cada vida ou centro pulsa com magnetismo e poder. Deve haver perfeita concórdia onde existe perfeita compreensão e unidade de objetivo, que é a realização do plano de Deus. (...)"

(N. Sri Ram - o Interesse Humano - Ed. Teosófica, Brasília, 2015 - p. 60/61)


sexta-feira, 2 de junho de 2017

A ALMA É LIVRE

"As almas foram 'feitas' à imagem e semelhança de Deus. Nem o pecador mais empedernido pode ser condenado para sempre. Causas finitas não geram efeitos infinitos. Por uso inadequado de seu livre-arbítrio, o homem talvez se julgue mau; mas, no íntimo, é uma criatura de Deus. O filho de um rei pode, sob a influência do álcool ou de um pesadelo, julgar-se mendigo; todavia, quando se recupera do estado de intoxicação ou acorda, constata que se iludiu. A alma perfeita, sempre livre de pecado, acaba por despertar em Deus quando recorda sua natureza real, eternamente virtuosa.

O homem, feito à imagem de Deus, só se ilude por pouco tempo. Esse engano passageiro o induz a julgar-se mortal. E, na medida em que se identifica com a mortalidade, ele sofre.

O equívoco da mortalidade, cultivado pela alma, às vezes se estende a várias encarnações. Contudo, graças ao esforço pessoal - sempre influenciado pela lei divina -, o Filho Pródigo aguça o tirocínio, recorda sua morada em Deus e obtém a sabedoria. Pela iluminação, a alma desgarrada evoca sua imagem eternamente divina e se reúne à consciência cósmica. Então o Pai lhe serve o 'gordo bezerro' da imorredoura bênção e sabedoria, libertando-a para sempre."

(Paramhansa Yogananda - A Sabedoria de Yogananda,  Karma e Reencarnação - Ed. Pensamento, São Paulo, 2012 - p. 14/15)
www.editorapensamento.com.br

domingo, 30 de abril de 2017

PASSOS NO CAMINHO (PARTE FINAL)

"(...) • Desejo de União ou Amor: essas são as qualificações cujo desenvolvimento é a preparação para o primeiro Portal da Iniciação. Para obtê-las, o homem reveste-se de resolução, firma a mente na ideia de caminhar para a frente com rapidez, de forma a poder tornar-se um Auxiliar da Humanidade.

Logo que tiver adquirido o suficiente dessas qualificações para bater à Porta e vê-la aberta, ele está pronto a atravessar o limiar e a palmilhar o Caminho. Então ele é iniciado ou recebe o 'segundo nascimento'. Entre os hindus, ele é chamado de o Viandante (Parivrajaka ou Sotapanna) e, antes de chegar à segunda Iniciação, deve descartar por inteiro os obstáculos da: Separatividade – deve compreender que todas as personalidades são uma; da Dúvida – deve saber e não apenas acreditar nas grandes virtudes do Karma, da Reencarnação e da Perfeição a serem alcançadas palmilhando o Caminho; da Superstição – a dependência de ritos e cerimônias. Descartados por inteiro esses três grilhões, o Iniciado está pronto para o segundo Portal e torna-se o Construtor (Kutichaka), ou 'o que retorna apenas uma vez' (Sakadagamim). Ele deve agora desenvolver os poderes dos corpos sutis, para ser útil nos três mundos, para estar preparado para o serviço. A passagem pelo terceiro Portal faz dele o Unido (Hamsa, 'Eu sou Ele') ou 'aquele que não retorna', a não ser com seu próprio consentimento (Anagamim). Para o quarto Portal ele deveria passar nessa mesma vida, e, para aquele que passou, o nascimento compulsório está terminado. Agora ele deve descartar os grilhões do Desejo – os desejos rarefeitos que talvez tenham ficado nele – e da Repulsa – nada deve ser repulsivo para ele, porque em tudo ele deve ver a Unidade. Isso feito, ele passa através do quarto Portal, e torna-se o superindivíduo (Paramahamsa) ('além do eu') ou 'o Venerável' (Arhat). Cinco são os tênues grilhões que ainda o prendem; contudo, é tão árduo partir sua complexa sutileza que sete vidas ainda são usadas, com frequência, no caminhar pelo espaço que separa o Arhat do Mestre, do Livre, do Imortal. 'Aquele que nada mais tem a aprender' neste sistema, mas pode saber o que desejar voltando sua atenção para o que quer saber. Os grilhões são: o desejo da vida na forma, desejo pela vida em mundos sem formas, orgulho – pela grandeza da tarefa realizada, a possibilidade de ser perturbado pelo que quer que seja que aconteça, a ilusão – a última película que pode distorcer a Realidade. Quando tudo isso tiver sido descartado para sempre, então o triunfante Filho do Homem terá terminado o Seu curso humano, tornando-se 'uma Coluna no Templo do meu Deus e dali não mais sairá'. Ele é o homem que se fez perfeito, um dos Nascidos Primeiro, um Irmão mais Velho da nossa raça."

(Annie Besant - O Enigma da Vida - Ed. Pensamento)


terça-feira, 18 de abril de 2017

O PODER DO PENSAMENTO E SEU USO (1ª PARTE)

"Uma das mais notáveis características dos dias atuais é o reconhecimento, em toda a parte, do Poder do pensamento, a crença de que o homem pode modelar o seu caráter, e, portanto, o seu destino, pelo exercício desse poder que faz dele um homem. Nesse ponto, as ideias modernas estão entrando na linha dos ensinamentos religiosos do passado. 'O homem é criado pelo pensamento' – é o que está escrito numa escritura hindu. 'O homem torna-se aquilo que ele pensa; portanto, pense no Eterno.' 'Tal como ele pensa em seu coração assim ele é', disse o sábio Rei de Israel, advertindo contra a associação com os homens maus. 'Tudo o que somos foi feito pelos nossos pensamentos', disse Buda. O pensamento é o pai da ação; nossa natureza se dispõe a materializar aquilo que é gerado pelo pensamento. A psicologia moderna diz que o corpo tende a seguir o pensamento, e liga a inclinação de algumas pessoas para se atirarem de uma altura ao fato de a imaginação deles retratar uma queda, e o corpo agir de acordo com esse quadro.

Havendo, então, uma apreciação do Poder do Pensamento, torna-se momentoso saber como usar esse poder da forma mais elevada possível e causando o maior efeito possível. A melhor forma de fazer isso está na prática da meditação, e um dos métodos mais simples – que tem, ainda, a vantagem de seu valor poder ser comprovado pessoalmente pela pessoa que o usa – é o seguinte:

Examinando o seu caráter, busque determinar algum de seus defeitos evidentes. Depois, pergunte a si próprio qual é a qualidade oposta a esse defeito, a virtude que seja a sua antítese. Digamos que o leitor sofre de irritabilidade; escolha a paciência. Então, regularmente, a cada manhã, antes de sair para o mundo, sente-se durante três ou cinco minutos e pense na paciência – no seu valor, na sua beleza, na sua prática sob provocação, observando um ponto por dia, e outro, e outro, pensando o mais firmemente que puder, chamando de volta a mente quando ela divagar, e pense em si próprio como sendo perfeitamente paciente, termine com um voto: 'Essa Paciência, que é o meu verdadeiro eu, sentirei e demonstrarei hoje.'

Durante alguns dias, provavelmente, não haverá mudança perceptível, e o leitor irá se sentir e se mostrar irritado. Continue com firmeza, a cada manhã. Bem depressa, cada vez que você disser alguma coisa irritadamente, o pensamento, sem ser solicitado, virá como um relâmpago à sua mente: 'Eu deveria ter tido paciência.' Continue assim. Logo o pensamento de paciência surgirá com o impulso para a irritação, e a manifestação exterior será contida. Continue assim. O impulso para a irritação irá ficando cada vez mais fraco, até que você perceba que a irritabilidade desapareceu e que a paciência se transformou na sua atitude normal diante das contrariedades.

Aí, temos um experimento que qualquer pessoa pode tentar, comprovando a Lei por si mesma. Uma vez comprovada, ela pode usá-la, e construir virtude após virtude, de maneira igual, até criar um caráter ideal pelo Poder do Pensamento. (...)"

(Annie Besant - O Enigma da Vida - Ed. Pensamento)
fonte: http://universalismoesoterico.blogspot.com.br/


domingo, 2 de abril de 2017

FALAR MENOS E FALAR COM DOÇURA

"Seja cuidadoso para que o sucesso que obteve na promoção da virtude, na vitória sobre hábitos banais, na tomada regular da disciplina não seja desperdiçado pela companhia de pessoas medíocres, por palavras perdidas em críticas cínicas e em esforços sem objetivo.

Quando o pé resvala, a ferida resultante pode ser curada, mas se é a língua que escorrega, a ferida provocada no coração dos outros pode durar vidas. A língua é passível de praticar quatro graves erros - pronunciar falsidade, escandalizar, comentar os erros alheios e falar em demasia. Tudo isso deve ser evitado, se pretendemos paz individual e bem-estar para a sociedade.

O vínculo da fraternidade será estreitado se as pessoas falarem menos e falarem com doçura. Daí por que o silêncio (maunam) é recomendado, pelas escrituras, aos discípulos em estágios vários da estrada. Esta disciplina é valiosa para todos vocês."

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 171/172)


domingo, 19 de março de 2017

SEXO E AMOR (2ª PARTE)

"(...) Um dos empecilhos ao viver criativo é o medo e a responsabilidade, que é uma manifestação desse medo. Os indivíduos 'respeitáveis', moralmente agrilhoados, não conhecem o integral e verdadeiro significado da vida. Estão presos entre os muros de sua virtude, nada podendo exergar além deles. Sua 'moralidade de vidraças coloridas', com base em ideias e crenças religiosas, nada tem em comum com a realidade; quando se abrigam por trás dela, estão vivendo no mundo de suas próprias ilusões.

O medo resultante do desejo de estar em segurança nos leva a um ajuste ao domínio externo, impedindo o viver criativo. Viver de forma criativa é viver em liberdade e sem medo. Só pode haver estado de criação se a mente não se achar presa às redes do desejo e da satisfação do desejo. Só ao observarmos o coração e a mente com atenção poderemos descobrir os movimentos ocultos do desejo. Quanto mais atenciosos e afetuosos somos, menos o desejo domina a mente.

Só quando não há amor as sensações se tornam um problema obsessivo. As sensações se tornaram tão significativas porque valorizamos demais os sentidos. Por meio de livros, anúncios, TV, cinema e de muitas outras maneiras, estamos sempre exaltando as sensações. As pompas religiosas e políticas, a diversão, tudo nos convida a buscar estímulos em diferentes níveis do nosso ser. Ao mesmo tempo em que estimulamos a sensualidade, nós pregamos a castidade. O estranho é que essa contradição é estimulante. 

A busca de sensações é uma das principais atividades da mente. É apenas quando a compreendemos que o prazer, a excitação e a violência deixam de ser uma preocupação dominante. Porque não amamos, o sexo e a busca de sensações transformam-se num problema absorvente. Havendo amor, há castidade; quem se esforça para ser casto não consegue ser. A virtude vem com a liberdade e com a compreensão. 

Na juventude, temos fortes impulsos sexuais; em geral, procuramos submeter esses desejos a um certo controle e disciplina, pensando que, se não conseguirmos refreá-los, nos tornaremos irreprimivelmente lascivos. (...)"

(J. Krishnamurti - Sexo e amor - Revista Sophia, Ano 7, nº 26 - p. 24)