OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

DESENVOLVIMENTO DO CARÁTER

"... 'O que um homem pensa ele se torna, pense, portanto, no eterno', diz a escritura hindu. É assim. Estamos construindo o nosso caráter, o tempo todo, pela natureza de nossos pensamentos habituais. Se continuarmos repetindo determinadas linhas de pensamento, formaremos hábitos mentais, pois, em certo sentido, nossa personalidade é gerada por nossos hábitos. Mas a Teosofia diz que podemos mudar nossos hábitos e, quando o fazemos, mudamos a nós mesmos. Nós literalmente nos tornamos novas criaturas. Uma das descobertas mais encorajadoras da psicologia moderna é que a pessoa pode formas novos hábitos em qualquer momento da vida. 

O que um homem pensa, ele se torna, e essa é uma parte importante do caminho para a autorredenção, a autocura, a autocorreção, pelo exercício de seus pensamentos. Consiste em uma operação inversa do mesmo processo pelo qual o hábito original foi formado. Se acharmos que temos um mau hábito, que ele está ficando mais forte, que está nos incomodando e que  é um sinal desagradável no ser humano, então há uma maneira pela qual podemos curá-lo. Se é algo sério, como raiva repentina ou irritabilidade aguda, não se concentre no problema, mas no seu oposto. O contrário da raiva é o amor, o domínio próprio, o equilíbrio. Todos os dias você terá que dedicar um quarto de hora. Você precisa pensar neste caso no amor, um amor completamente impessoal, sem pensamento de retorno, de autodomínio e equilíbrio. 'Amor', você deve pensar. Diga a palavra se quiser. Continue e insista até você se sentir pleno com a palavra que você está usando. Dessa forma, você é modificado pela forma-pensamento que você criou.   

O que acontece fisicamente no cérebro e em nosso sistema nervoso à medida que aprendemos um novo hábito ou quebramos um antigo? Quando realizamos um ato, estabelecemos uma espécie de caminho cerebral ou nervoso, levando aos centros motores e à matéria dos corpos astral e mental. Assim, na próxima vez que o impulso ou o desejo da ideia de realizar o ato nos atingir, uma vez que o caminho já está marcado, um impulso ou desejo mais fraco percorrerá o mesmo caminho, levando-nos a agir, realizar o desejo, ou o impulso, ou a ideia. Isso pode continuar indefinidamente até que, conforme repetimos o processo, as células nervosas e a matéria dos corpos astral e mental se tornam tão bem-organizadas e integradas que o comportamento resultante se torna quase automático. 

Por esses processos e pelo pensamento constante ao longo das linhas desejadas, podemos reconstruir nossas personalidades e adicionar qualidades que até agora não eram aparentes. Você pode mudar a si mesmo. No entanto, gostaria de alertar sobre a preocupação excessiva consigo mesmo, com a introspecção mórbida e o interesse excessivo nos próprios estados mentais e emocionais. Em vez disso, pratique o desinteresse, o esquecimento e o serviço."

(Geoffrey Hodson - A Vida do Iniciado - Ed. Teosófica, Brasília, 2021 - p. 56/57)


quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

O ESPÍRITO DO GUERREIRO

"Embora tenhamos sido levados a acreditar que se abrirmos mão acabaremos sem nada, a própria vida revela seguidamente o contrário: o desapego é a senda para a verdadeira liberdade. 

Exatamente como os rochedos da orla do mar que açoitados pelas ondas não sofrem dano mas são esculpidos e erodidos em belas formas, nossas personalidades podem ser modeladas e nossas arestas mais rudes atenuadas por mudanças. Podemos aprender com mudanças desgastantes a desenvolver uma suave mas inabalável tranquilidade. Nossa autoconfiança cresce e fica tão maior, que a bondade e a compaixão começam a irradiar de nós naturalmente e a trazer felicidade aos outros. Essa bondade é o que sobrevive à morte, uma bondade fundamental que existe em cada um de nós. Nossa vida toda é um ensinamento sobre como revelar essa profunda bondade, e um treino para realizá-la.

Desse modo, cada vez que as perdas e decepções da vida nos ensinam alguma coisa sobre a impermanência, elas nos trazem mais perto da verdade. Quando você despenca de uma grande altura, só há um lugar possível para aterrisar: o solo; o solo da verdade. E se você possui o entendimento que deriva da prática espiritual, essa queda de modo algum é um desastre, mas a descoberta de um refúgio interno. 

Dificuldades e obstáculos, se adequadamente compreendidos e usados, podem muitas vezes tornar-se uma fonte inesperada de energia. Nas biografias dos mestres, você verificará uma e outra vez que se eles não tivessem enfrentado dificuldades e obstáculos não teriam descoberto a força de que precisavam para superá-los. Isso aconteceu, por exemplo, com Gesar, o grande rei guerreiro do Tibete, cujas aventuras compõem o maior épico da literatura tibetana. Gesar significa 'indomável', alguém que nunca pode ser derrotado. Desde o momento em que Gesar nasceu, Trotung, seu tio mau, tentou matá-lo de todas as maneiras. Mas a cada tentativa Gesar tornava-se mais forte. De fato, foi graças aos esforços de Trotung que Gesar se tornou tão grande. Isto deu origem a um provérbio tibetano: Trotung tro ma tung na, Gesar ge mi sar, o que quer dizer: 'Se Trotung não tivesse sido tão mai e intrigante, Gesar nunca teria se erguido tão alto'.

Para aos tibetanos, Gesar não é somente um guerreiro marcial mas também um guerreiro espiritual. Ser um guerreiro espiritual significa desenvolver um tipo especial de coragem que é, desde a sua origem, inteligente, bondosa e destemida. Os guerreiros espirituais podem ainda ter medo, mas mesmo assim eles são corajosos o bastante para experimentar o sofrimento, para relacionar-se de maneira franca com seu medo fundamental e, sem fugir, extrair lições das dificuldades. Como nos disse Chögyam Trungpa Rinpoche, tornar-se um guerreiro significa que 'podemos trocar nosso mesquinho desejo de segurança por uma visão muito mais vasta - a do destemor, abertura e heroísmo genuínos...' Penetrar no campo transformador dessa visão muito mais vasta é aprender a se sentir em casa em plena mudança, e a fazer da impermanência um amigo."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 60/61


terça-feira, 10 de dezembro de 2019

O CONFLITO E A CRISE

Resultado de imagem para O CONFLITO E A CRISE espiritual"O ser humano que se acha num estado de liberdade interior parcial - a verdade, o amor e a luz, por um lado; a teimosia, o orgulho e o medo, por outro - terá de encontrar a saída para esse conflito. Uma parte da personalidade opõe-se à verdade de que esses sentimentos e atitudes negativas lá estão, e assim procede desistindo dessas coisas, ao passo que a outra parte se esforça por desenvolver-se e se purificar. Esse estado dualista deve acarretar a crise. Permitam-me enfatizar que essa crise é inevitável. Quando dois movimentos opostos, duas formas de tensão existem numa pessoa, é mister que se chegue a um momento decisivo, que se manifesta na forma de uma crise na vida da pessoa. Um movimento diz: 'Sim, quero admitir o que é o mal; quero enfrentar a mim mesmo e deixar de lado o fingimento, que não é senão mentira. Quero desenvolver-me e dar o melhor de mim para que eu possa contribuir com a vida, assim como espero receber coisas dela. Quero renunciar às posturas infantis e de enganação, a partir das quais tento me agarrar ansiosa e ressentidamente à vida, enquanto me recuso a dar-lhe algo exceto minhas exigências e frustrações. Quero dar um basta em tudo isso e suportar com confiança os reveses da vida. Quero amar a Deus aceitando a vida como ela é.'

O outro lado insiste em dizer: 'Não. Quero que as coisas sejam do meu jeito. Quero até mesmo me desenvolver, ser decente e honesto, mas sem ter de pagar o preço de encarar, revelar ou admitir algo que me incrimine demasiadamente.' A crise resultante deve pôr abaixo a estrutura interior deficiente.

Quando a orientação destrutiva é consideravelmente mais fraca do que a construtiva, a crise é um tanto menor, pois as deficiências podem ser extirpadas sem que se prejudique toda a organização psíquica. Pelas mesmas razões, se o movimento para o desenvolvimento e a verdade é consideravelmente mais fraco do que o movimento de estagnação, de resistência e de energia negativa, a crise maior pode uma vez mais ser evitada por algum período; é possível que a personalidade permaneça estagnada por muito tempo. Entretanto, quando o movimento para o bem é forte o bastante, e ainda assim a resistência continua a bloquear o movimento da personalidade como um todo - tornando-se confusa, sem horizontes e presa de atitudes falsas e destrutivas - alguma coisa deve ceder."

(Eva Pierrakos, Donovan Thesenga - Entrega ao Deus Interior - Ed. Cultrix, São Paulo, 2010 - p. 179/180)


terça-feira, 3 de setembro de 2019

A LIBERAÇÃO DO EU ESPIRITUAL

"Seu eu espiritual não pode ser liberado se você não aprender a viver todos os seus sentimentos e se não aceitar cada parte do seu ser, por mais destrutiva que possa ser agora. Por mais negativa, mesquinha, fútil ou egoísta que alguma parte de sua personalidade possa ser - em contraste com outras, mais desenvolvidas - é absolutamente necessário que todos os aspectos do seu ser sejam aceitos e trabalhados. Nenhum aspecto deve ser omitido ou encoberto na esperança presunçosa de que não interessará e de que de algum modo se dissipará. Mas, meus amigos interessa. Nada do que está em você é desprovido de força. Por mais recôndito que um aspecto sombrio possa estar, ele cria condições de vida que você deve deplorar. Este é um dos motivos pelos quais você deve aprender a aceitar os aspectos negativamente criativos em você. Outro motivo é que por mais destrutivo, cruel e mau que possa ser, cada aspecto de energia e consciência é ao mesmo tempo belo e positivo em sua essência original. As distorções devem ser novamente transformadas em sua essência original. A energia e a consciência terão condições de tornar-se novamente fatores positivos de criação somente quando a luz do conhecimento e a intencionalidade positiva se concentrarem sobre elas. Se você não fizer isso, não poderá penetrar em seu âmago criador."

(Eva Pierrakos - O Caminho da Autotransformação - Ed. Cultrix, São Paulo, 2006 - p. 33)


sexta-feira, 20 de abril de 2018

USANDO TODA NOSSA NATUREZA

"Cada aspecto de nossa natureza, tanto o bem quanto o mal, é exigido para a tarefa à nossa frente. Tal como o redirecionamento da energia, todos os elementos dentro de nós devem ser transformados. Tanto os vícios quanto as virtudes, dizem-nos, são 'passos (que) compõem a escada' por meio da qual ascendemos ao mais elevado. Como diz o comentário: 'Toda a natureza do homem deve ser usada sabiamente por aquele que deseja entrar no caminho'.

Um comentário assim deve ajudar-nos a compreender que não devemos reprimir ou suprimir qualquer aspecto de nossa natureza que possa ser indesejável. Pelo contrário, devemos trazer toda nossa natureza, inclusive o complexo psicofísico, a personalidade, sob uma certa condição. Não podemos negligenciar qualquer aspecto de nós mesmos sem, de alguma maneira, ferir o todo. É toda a natureza que deve ser usada, e usada sabiamente para o propósito que temos em vista. A repressão desses aspectos, particularmente de pensamentos e sentimentos que não queremos reconhecer como pertencentes a nós, só pode resultar em feridas dolorosas nos reinos kama-manásico, ou mental-emocional, ou psicodinâmico. E chagas purulentas conseguem apenas eclodir em violentos surtos de doença psíquica e até mesmo física. 

Temos de perguntar a nós mesmos como podemos usar cada aspecto nosso na busca do caminho. Demos a esse caminho o nome de caminho para a iluminação, ou para a autorrealização, para a libertação da roda de nascimentos e mortes; mas, mesmo definir o caminho, que nos mandam buscar, poderia indicar algum vestígio de autointeresse, um laivo de egoísmo em nossa busca. Nossa meta pode muito bem estar além da denominação, ou daquilo que imaginamos ser iluminação. Como podemos definir com palavras uma condição de consciência com a qual estamos, no nosso atual estágio, totalmente desfamiliarizados? Talvez isso possa ser melhor expresso nas palavras da anotação: devemos 'tentar aliviar um pouco o pesado karma do mundo', dando nossa 'ajuda aos poucos braços fortes que evitam que os poderes das trevas obtenham vitória completa'."

(Joy Mills - Buscai o caminho - TheoSophia, Ano 100, Julho/Agosto/Setembro de 2011 - Pub. da Sociedade Teosófica do Brasil - p. 46/47)

quarta-feira, 18 de abril de 2018

O QUE É BUSCAR O CAMINHO?

"Precisamos avaliar onde estamos, o que aprendemos, que trabalho foi efetuado, se realmente aprendemos e pelo menos começamos a agir com base nas regras iniciais, e, o que é mais importante, talvez, quais possam ser nossos motivos para buscar a iluminação, a autorrealização, ou a sabedoria espiritual. Por que queremos entrar no Caminho Sagrado?

As regras iniciais primeiramente dirigiram nossa atenção para a eliminação dos elementos em nossa personalidade que enevoam nossa visão, elementos que aumentam nosso senso de egoísmo e separatividade. Depois nossa atenção foi dirigida para a obtenção, mediante o uso correto do desejo, daquelas faculdades e capacidades que, como nos diz o comentário,  'pertencem apenas à alma pura', capacidades que são adquiridas 'para o espírito unido da vida que é o seu único e verdadeiro eu'.

Tal trabalho preparatório não é suficiente: agora deve ocorrer uma genuína transformação. Mais uma vez São Paulo diz, na citação acima, que não devemos conformar-nos com este mundo, mas 'ser transformados pela renovação de nossa mente'. No livro Ocultismo Prático, Blavatsky escreveu sobre a transformação que 'atira aquele que a pratica (isto é, o modo de vida indicado pelos dois primeiros conjuntos de regras do nosso texto) completamente para fora do cálculo das fileiras dos vivos'. Agora tudo está mudado. Não há retorno possível. Não temos alternativa senão 'buscar o caminho' e prosseguir. Uma 'senda ulterior' deve ser descoberta. Assim a nota continua, afirmando que agora se abre perante nós o mistério do novo caminho - uma senda que leva para fora de toda experiência humana. [...] É necessário ter a certeza de que o caminho é escolhido por amor ao caminho.

Assim, voltando mais uma vez a fazer referência à admoestação de São Paulo, podemos 'provar o que é essa vontade boa, aceitável e perfeito' do Supremo.

O próprio processo de examinar as obstruções psicológicas que existem dentro de nós e que não nos permitem 'a verdadeira busca' resulta numa tremenda liberação de energia que deve agora ser usada de maneira apropriada. É como se toda reserva de energia que foi liberada pelo processo de purificação devesse ser trazida para o foco num único empreendimento: 'Buscar o caminho'."

(Joy Mills - Buscai o caminho - TheoSophia, Ano 100, Julho/Agosto/Setembro de 2011 - Pub. da Sociedade Teosófica do Brasil - p. 44/45)

terça-feira, 10 de abril de 2018

A PERSONA E O EGO

"Todos nós temos uma imagem que apresentamos ao mundo - é o que Jung chama de persona. O modo como nos vestimos, como falamos, a personalidade que gostamos de apresentar, tudo isso é parte de uma persona que desenvolvemos desde nossos primeiros anos. A persona é influenciada pela educação. Família, escolas, amigos, sociedade: todos esses elementos têm normas, valores e atributos, e o esperado é que nós os aceitemos e os tornemos nossos.

A persona não é o 'eu' real; é a expectativa da sociedade sobre como alguém no nosso papel deve se vestir, falar e se comportar. Se nos preocupamos demais com nossas personas, podemos terminar vivendo segundo as expectativas de nossos pais, de nosso grupo social ou religioso, ou de nossos cônjuges. Podemos não estar sendo verdadeiros e autênticos em relação a nós mesmos. Podemos estar vivendo a ideia de outra pessoa sobre como nossa vida deveria ser.

Se nos identificarmos muito intimamente com nossa persona, podemos perder parte de nós mesmos - mas não completamente. Partes não realizadas de nossa personalidade surgem nos sonhos, nas fantasias e em atos falhos. Se algo é empurrado para o inconsciente, certamente se esforçará para sair. Se nossa persona estiver muito distante da nossa verdadeira personalidade, podemos nos sentir afligidos por neuroses.

O ego é o que nós pensamos que somos. É a nossa personalidade como conscientemente a conhecemos. Faz parte da nossa força motriz, do nosso desejo pessoal de autoexpressão e de controle sobre o mundo à nossa volta.

Ego não significa egoísta ou egocêntrico; é uma palavra latina que significa 'eu'. Desenvolvemos nosso senso de ego na infância. Ouvimos as outras pessoas descreverem nossa personalidade e nosso comportamento e internalizamos essas descrições como aquilo que pensamos ser o 'eu': Miguel tem um temperamento ruim; Ana gosta de cooperar; Mário é um bom menino. Todos esses rótulos tornam-se parte da nossa identidade, mas eles podem estar ligeiramente fora de foco - ou completamente errados. Eles são filtrados pelas personalidades de outras pessoas, que interpretam nossas ações de acordo com seu próprio esquema das coisas.

Para compreender as necessidades que o ego tem em relação aos outros, devemos primeiramente entender a nós mesmos. Não podemos ter relacionamento bem-sucedidos com amigos, amantes ou pais a não ser que tenhamos uma noção realista da nossa própria identidade. Se sabemos quem somos, podemos fazer melhores escolhas nos nossos relacionamentos."

(Vivianne Crowley - A consciência segundo Jung - Revista Sophia, Ano 7, nº 25 - p. 33)


segunda-feira, 12 de março de 2018

O CAMINHO DO MEIO (PARTE FINAL)

"(...) A yoga não diz que devemos nos tornar indiferentes aos objetos. Eles continuam a existir, os sentidos estão vivos, a mente percebe, mas não se move. Viajar sem mover-se é uma parte importante do aprendizado, porque o movimento origina-se no eu. Podemos nos colocar na posição de outro sem sairmos do lugar. Talvez precisemos meditar sobre isso e aprender a conhecer a natureza do movimento. O caminho do meio conduz a uma ordem superior que torna possível viver de maneira diferente. Também é chamado de senda do fio da navalha, porque o fio é tão afiado que precisamos aprender a andar por ele; depois fica fácil.

A escritura cristã diz 'apertado é o portão, estreito o caminho'. Esse é o caminho que devemos trilhar. Parece difícil quando visto pela personalidade, mas a austeridade chega por si mesma quando começamos a trilhar a senda. Vem naturalmente e não como algo que foi aprendido e exercitado. Muitos de nós somos autoindulgentes: vemos algo belo e logo o queremos. Podemos ter uma vida na qual não haja austeridade nem autoindulgência? Queremos comer ou ter algo que não é bom para nós. Certamente temos que cuidar do corpo, mantê-lo limpo e útil, mas não é bom dar-lhe demasiada atenção como fazem muitas pessoas.

Chegamos ao equilíbrio através da vigilância. A memória pode fazer muitos males aos seres humanos. Como a mente pode ficar tranquila? Ver que a mente trabalha apenas quando necessário é tornar-se cônscio e saber. O Mestre escreveu numa carta a Sinnett: 'Lembre que as expectativas ansiosas não são apenas sérias, mas perigosas. Todo movimento e vibração do coração desperta paixões. Quem busca o conhecimento não deve ser indulgente com as afeições'.

Às vezes as pessoas dizem que desejam chegar a tal ou qual estágio na vida espiritual, mas o querer nada tem a ver com isso. É melhor não desejar com muita paixão, muito seriamente aquilo que queremos atingir. O próprio desejo pode impedir essa possibilidade. Consideremos por nós mesmos qual é o caminho do meio, não por uma visão sectária ou budista, mas claramente de acordo com nosso julgamento atual. Uma coisa que o dificulta é a pressão que sofremos da sociedade, de nossas famílias e de nossos amigos. Pensam que devemos nos comportar como eles. Será que poderemos nos livrar interiormente, não ficarmos amarrados à religião ou às circunstâncias sociais em que nos encontramos?"

(Radha Burnier - O caminho do meio - TheoSophia, Ano 99, Janeiro/Fevereiro/Março de 2010 - Pub. da Sociedade Teosófica do Brasil - p. 10)


sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

VERDADE (PARTE FINAL)

"(...) Entre conhecimento e sabedoria existe uma diferença imensa, e é muito mais fácil obter conhecimento do que sabedoria. A sabedoria não depende nem um pouco do conhecimento, apesar de ambos serem, numa certa medida, até idênticos. A fonte da sabedoria está em Deus, a portanto no princípio das coisas primordiais (no Akasha), em todos os planos do mundo material denso, do astral a do mental.

Portanto, a sabedoria não depende da razão e da memória, mas, da maturidade, da pureza a da perfeição da personalidade de cada um. Poderíamos também considerar a sabedoria como uma condição da evolução do 'eu'. Em função disso a cognição chega a nós não só através da razão, mas principalmente através da intuição ou da inspiração. O grau de sabedoria determina portanto o grau de evolução da pessoa. Mas com isso não queremos dizer que se deve menosprezar o conhecimento; muito pelo contrário, o conhecimento e a sabedoria devem andar de mãos dadas. Por isso o iniciado deverá esforçar-se em evoluir, tanto no seu conhecimento quanto na sabedoria, pois nenhum dos dois deve ser negligenciado nesse processo. 

Se o conhecimento e a sabedoria andarem lado a lado no processo de evolução, então o iniciado terá a possibilidade de compreender, reconhecer a utilizar algumas leis do micro a do macrocosmo, não só do ponto de vista da sabedoria, mas também em seu aspecto intelectual, portanto dos dois pólos. 

Já tomamos conhecimento de uma dentre muitas dessas leis, a primeira chave principal, ou seja, o mistério do Tetragrammaton ou do magneto quadripolar, em todos os planos. Como se trata de uma chave universal, ele pode ser empregado na solução de todos os problemas, em todas as leis a verdades, em tudo enfim, sob o pressuposto de que o iniciado saberá usá-lo corretamente. Com o passar do tempo, à medida em que ele for evoluindo a se aperfeiçoando na ciência hermética, ele passará a conhecer outros aspectos dessa chave e a assimilá-los como leis imutáveis. Ele não terá que tatear na escuridão a no desconhecido, mas terá uma luz em suas mãos com a qual poderá romper todas as trevas da ignorância." 

(Franz Bardon - Iniciação ao Hermetismo - p. 31/32)

domingo, 7 de janeiro de 2018

O EGO E O CASTIGO KÁRMICO

"P: Se depois da destruição de meu corpo meu Ego some em um estado de inconsciência completa, onde terá lugar o castigo pelos pecados cometidos durante minha vida passada? 

T: Nossa filosofia ensina que somente em sua próxima encarnação o Ego encontra o castigo kármico. Depois da morte, apenas recebe o prêmio dos sofrimentos imerecidos que experimentou durante sua encarnação passada⁷. Todo o castigo depois da morte - até para um materialista - consiste, portanto, em não receber recompensa alguma e na perda total da consciência da própria felicidade e descanso. Karma é filho do Ego terrestre, o fruto das ações da árvore que constitui a personalidade objetiva visível para todos, assim como o fruto de todos os pensamentos e até dos motivos do 'Eu' espiritual, mas Karma é também a mãe carinhosa e eterna que cura as feridas infligidas por ela durante a vida anterior, sem torturar aquele Ego, causando-lhe novos sofrimentos. Se se pode dizer que não existe nenhum sofrimento - mental ou físico - na vida de um mortal, que não seja fruto e consequência direta de algum pecado cometido em uma existência prévia; por outro lado, o homem não conservando a menor recordação disto em sua vida atual, considera que não merece tal castigo e que está sofrendo por um crime que não é seu. Basta isso para que a alma humana tenha direito ao consolo, descanso e bem-aventurança mais completos, em sua existência post-mortem

Para nossos Egos espirituais a morte sempre se apresenta como salvadora e amiga. Para o materialista, que não foi mau apesar de seu materialismo, será o intervalo entre as duas vidas semelhante ao sono tranqüilo e não interrompido de uma criança, ou seja, inteiramente livre de sonhos ou cheio de imagens de que não tem percepção definida; enquanto que para o mortal comum, será um sonho tão vivo e animado como a própria vida, cheio de felicidade e visões reais."  

⁷ Alguns teósofos discordaram desta frase, mas as palavras são do Mestre, e seu sentido unido à palavra 'imerecidos', é o que foi dado antes. No folheto número 6, da T.P.S. (Sociedade Teosófica de Publicações), empregava-se uma frase com a mesma ideia, de que depois se fez uma crítica em Lúcifer. A palavra era 'desgraçada' e se prestava à crítica que se fez dela; mas a ideia essencial era que os homens sofrem frequentemente por efeito de ações consumadas por outros; efeito que não faz parte essencialmente de seu próprio Karma, e, como é natural, merecem a compensação desses sofrimentos.

(Blavatsky - A Chave da Teosofia - Ed. Três, Rio de Janeiro, 1973 - p. 156/157

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

O RIO DA VIDA (1ª PARTE)

"Vários instrutores espirituais afirmaram que a vida segue na direção do sagrado, do vasto, do belo, assim como um rio segue infalivelmente até o mar. Desenvolvendo essa metáfora, Krishnamurti disse que a água pode formar um rio e também uma poça estagnada. Nós gostamos dessa estagnação, porque temos medo do rio. O rio pode levar a muitos lugares, pois segue seu caminho, enquanto a poça está protegida. A pessoa que está cercada por coisas que conhece, diretamente ou por ouvir dizer, pensa que está em terreno seguro, e assim a poça torna-se uma realidade da qual ela gosta.

Infelizmente os seres humanos se aferram a uma poça - ou a uma ilha - e, até onde podem, permanecem distantes do rio que flui. O homen não gosta de saber em que direção o rio segue. Ele olha para o universo, para os amplos céus, para as estrelas, e sabe cada vez mais a respeito deles, mas sua vida pessoal não muda. A maior parte das coisas passa pelo ser humano médio como se não existisse, ou causa apenas um tipo de interesse que tem a ver com sua própria personalidade e bem-estar.

Nossos pensamentos estão concentrados no eu. Em volta há a vastidão do rio, fluindo, movendo-se, penetrando recessos e cantos, mas não tomamos conhecimento, pois nossos pensamentos estão concentrados em um pequeno ponto - em nós mesmos. Estamos preocupados apenas com uma pequena porção da vastidão do universo que se desenrola perante nós. Nós não vemos a vida nas estrelas.

Hoje temos uma família; depois encarnamos novamente e a família pode ser formada por pessoas inteiramente diferentes. Talvez isso tenha um propósito. Talvez nos faça ter um tipo de relacionamento com pessoas que de outro modo sequer perceberíamos. Somos levados a percebê-las através do apego ou do seu oposto - o desejo de nos afastarmos delas. Assim, temos relacionamentos de certo tipo em cada vida, e à medida que giramos de vida em vida, entramos em contato com mais pessoas.(...)"

(Radha Burnier - O rio da vida - Revista Sophia, Ano 15, nº 66 - p. 20)


quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

CLAREZA DE VISÃO (2ª PARTE)

"(...) Nós decidimos nosso destino através das escolhas e de como lidamos com as coisas. Essas escolhas refletem-se como oportunidades de crescimento na infalível lei do karma. O crescimento espiritual não é algo que somos compelidos a aceitar pelas circunstâncias. Ele deve vir como um ato de escolha, e o desenvolvimento posterior da nossa natureza só pode ser alcançado pelo esforço pessoal. Quando o véu da personalidade é reduzido, a escolha é feita por um aspecto mais profundo de nós mesmos.

Lembremos que o significado de responsabilidade é 'dever'. No livro A Chave para a Teosofia (Ed. Teosófica), Blavatsky fala do dever em termos amplos e bastante duros: 'O dever é aquilo que é devido à humanidade, ao nosso próximo, nossos vizinhos, à família, e especialmente aquilo que devemos a todos aqueles que são mais pobres e mais impotentes. Esse é um débito que, se não for saldado durante a vida, deixa-nos espiritualmente insolventes e moralmente falidos na nossa próxima encarnação.'

Não se trata do tipo de dever restrito e opressivo contra o qual o eu pessoal poderia lutar. Ele é de uma cor diferente, porque se origina do aspecto de nossa natureza capaz de discernir nossas conexões universais com a vida. O dever ou responsabilidade, no seu sentido mais amplo, refere-se à nossa responsabilidade em relação à vida, um mandado sagrado para o indivíduo no caminho espiritual. Isso inclui cuidar de plantas e animais, envolver-se em assuntos éticos e assumir uma série de responsalidades para com a humanidade e a vida. 

No século XXI, quando a tecnologia torna nossas vidas tão mais fáceis, noções como esforço e dever não são muito palatáveis. Todavia, quando tivermos tocado nossa verdadeira individualidade, mesmo que uma única vez, de maneira pequenina, os esforços não parecerão tão pesados.

O autor contemporâneo Ken Wilber, que escreve sobre a Sabedoria Perene, explica como a agitação do eu relaxa durante a meditação ou a contemplação não dual. Certamente ele se refere à meditação autêntica, não a outras atividades comumente confundidas com práticas meditativas. (...)"

(Linda Oliveira - Os artistas do destino - Revista Sophia, Ano 13, nº 58 - p. 14/15)


quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

CLAREZA DE VISÃO (1ª PARTE)

"Os ensinamentos da Sabedoria Perene podem nos ajudar a ser artistas exímios. Madhava Ashish apontou a necessidade de uma visão clara de nós mesmos, ao comentar que a nossa habilidade de manter os pés na estrada depende da clareza da visão. Ele observou que, 'quanto mais entendemos aquilo que somos, e como chegamos a ser o que somos, mais entenderemos o que temos que nos tornar, e como nos tornar'. Quando realmente enxergamos, a maneira e o método tornam-se claros. Para isso é preciso fortalecer os aspectos mais elevados da nossa natureza, e, por outro lado, enfraquecer o poder compulsivo dos velhos hábitos.

Para entendermos a nós mesmos, é necessário considerar os vários hábitos e desejos da personalidade de maneira tão imparcial quanto possível: gostos e aversões, amores e temores, respostas às outras pessoas - particularmente as respostas negativas -, tendências duradouras e repetitivas, habilidades que possuímos e as que precisamos desenvolver, áreas em que nosso desenvolvimento é assimétrico e deficiente. Em suma, é preciso segurar um espelho e revelar a nós mesmos aquilo que somos.

Esse no entanto, não é um processo narcisista. É possível ser uma testemunha relativamente imparcial de nossas forças e fraquezas, que podem, então, clarear 'aquilo que temos de nos tornar'. Krishnamurti falou do autoconhecimento no sentido de 'conhecer cada pensamento, cada estado de ser, cada palavra, cada sentimento, conhecer a atividade de sua mente'. Isso não era complicado nem analítico; era simplesmente observar a mente, pois a mente com frequência colore a nossa sensibilidade, conforme esteja tingida por desejos ou pela faculdade da intuição.

Há um termo sânscrito que resume o processo de enfraquecimento dos hábitos e desejos, enquanto o ser interior começa a emergir: vairagya. Geralmente traduzido como desapego, seus significados incluem também 'mudança ou perda de cor' e 'palidez crescente'. Mas o que está perdendo a cor e se tornando pálido? Pode-se dizer que a personalidade empalidece, à medida que as compulsões retrocedem; ao mesmo tempo, as verdadeiras cores da individualidade se tornam cada vez mais pronunciadas.

Todo esse processo pode parecer assustador, porém, mais uma vez, devemos nos considerar como artistas. Não temos que realizar tudo isso em uma semana, mas podemos começar aqui e agora, com apenas um pequeno aspecto de nós mesmos. Como o pintor, precisamos ter paciência; esse pode ser um processo muito positivo e criativo. (...)"

(Linda Oliveira - Os artistas do destino - Revista Sophia, Ano 13, nº 58 - p. 14)


terça-feira, 5 de dezembro de 2017

O DISCIPULADO E A LEI

"Antes de encontrar o Primeiro Portal, o peregrino, com alma sedenta e mente desconcertada, exasperadamente procura algo que valha a pena ser amado, que valha a pena servir.

Defronta-se com a Imutável Esfinge do Mistério. Compreende que não encontrará nenhuma ajuda fora de si mesmo. Consegue entender a Lei de desvinculação e, contudo, a sua personalidade mortal ainda anela simpatia e compreensão. 

A crueldade da vida, a incerteza da hora da morte, continuam projetando sombras sobre sua Senda. Para dissolvê-las, terá que deixar de olhar para trás.

A parte mais penosa do seu caminho é ver que, justamente aqueles aos quais procurou servir, não compreendem seu trabalho. Rebelam-se contra ele, condenando e destruindo tudo aquilo que procura fazer com tanto esforço.

Aquele que passou o Primeiro Portal deve aprender a estender a taça da compaixão a todos que dela necessitam, recusando um só gole para si, permanecendo sedento até que algum companheiro, percebendo a sua sede, também lhe dê de beber.

A mesma Lei que impede o instrutor espiritual de se defender, obriga o discípulo a resguardar tudo aquilo que seu Mestre representa e a defendê-Lo contra qualquer agressão. O discípulo que não reagir em defesa de seu Mestre, não deverá ficar surpreso ao encontrar fechado o Portal do Conhecimento.

O discípulo se eleva e decai junto com seu Mestre e, uma vez tendo-O reconhecido, não pode repudiá-Lo.

O homem que quer perceber o Divino, primeiramente precisa apagar de si a própria imagem.

Entre dez mil homens, nenhum reconheceria um Mestre que estivesse em sua companhia.

Os homens costumam dizer: 'Se os Iniciados existem, por que não vivem entre nós?' Não se apercebem de que a vida que levam impossibilitaria a um Iniciado permanecer entre eles.

Quando o homem purificar seus vários conceitos, criados pela personalidade inferior, convencer-se-á, por si mesmo, da existência da Loja dos Mestres.

Antes de falar sobre as obrigações para com a sociedade, a religião, a ciência e o trabalho, é preciso não esquecer o simples dever fraterno – do som da voz, do toque da mão – para com seu irmão ou sua irmã."

(K. Barkel - Cruz, Estrela e Coroa, Ensinamento de Whitehawk - Universalismo - p. 6/7)


domingo, 29 de outubro de 2017

OS ARTISTAS DO DESTINO (PARTE FINAL)

"(...) O termo 'autorresponsabilidade' implica a necessidade de entender o significado de responsabilidade, eu e ego. Responsabilidade significa dever, compromisso, capacidade de conduta racional. Na literatura teosófica, a personalidade é frequentemente chamada de 'eu', e a individualidade, de 'ego'. Podemos diver que a refinada arte de autorresponsabilidade envolve vários aspectos:
  • possuir uma visão ou intuição daquilo que podemos nos tornar;
  • ser sensível a essa visão;
  • perceber as ferramentas do 'eu' com as quais temos que trabalhar; 
  • examinar nossas várias tendências;
  • suavizar essas tendências, de modo que as cores sutis de nossa verdadeira natureza posssam assumir forma.
 Esse processo deve pavimentar o caminho para as nossas ações, que vão se tornando cada vez mais equilibradas e cuidadosas, refletindo nosso dever ou missão de vida individual, de modo que nos tornemos conscientes e plenamente responsáveis por nossas ações.

Se tivéssemos total responsabilidade por nossas ações, não deveríamos nos encolerizar com o karma, nem nos irritar com as circunstâncias com que nos defrontamos. Existe um fenômeno que pode ser descrito como 'fenda', um hiato entre entender intelectualmente ensinamentos como o karma e de fato fundi-los em nosso ser. No livro A Voz do Silêncio (Ed. Teosófica), de Helena Petrona Blavatsky, os termos contrastantes 'aprendizagem intelectual' e 'sabedoria da alma' também se referem a esse hiato, que às vez pode parecer um abismo.

Como artistas do nosso próprio desabrochar, nossa primeira tarefa é ver o que realmente está aqui, identificar as ferramentas com que temos que trabalhar. Isso requer um exame da nossa personalidade que pode ser desconfortável. Nesse processo, os aspectos do eu pessoal que não são úteis se tornam aparentes, assim como os aspectos que não precisam ser mantidos por longo tempo." 

(Linda Oliveira - Os artistas do destino - Revista Sophia, Ano 13, nº 58 - p. 13)

domingo, 8 de outubro de 2017

CARIDADE

"As ideias da Teosofia acerca da caridade significam esforço pessoal para os demais; compaixão e bondade pessoais; interesse pessoal no bem-estar e prosperidade dos que sofrem; previsão e ajuda pessoais em suas penas e necessidades. Os teósofos não acreditam na eficiência do sistema de dar dinheiro por intermediários; acreditam aumentar cem por cento o poder do dinheiro e sua eficácia pelo nosso contato e simpatia pessoais com os que o necessitam. Creem no alívio da alma tanto, se não mais, que aquele do estômago; porque o agradecimento promove maior bem naquele que o expressa que naquele que o fez sentir. Onde está o agradecimento que vossos milhões de libras esterlinas deveriam ter despertado ou os bons sentimentos provocados por eles? Por ventura no ódio que o pobre do East-End sente pelo rico? No aumento do partido da anarquia e da desordem ou nessas centenas de operárias, vítimas do sistema 'do suor' obrigadas a andar pelas ruas, diariamente, para ganhar o sustento? Acreditamos que um bom livro que oferece às pessoas matéria para pensar que fortalece e torna mais clara sua mente facilitando-lhes o entendimento de verdades sentidas de maneira vaga, porém sem que as pudessem formular, produz um bem real e substancial. 

Relativamente ao que chamais de atos práticos de caridade em favor de nossos semelhantes, fazemos o pouco que podemos, porém, como já disse, a maior parte de nossos irmãos é pobre e a Sociedade, por si mesma, não tem recursos suficientes para contratar gente dedicada a seu serviço. (...). Os poucos que reúnem condições de fazer o que se chama vulgarmente atos de caridade seguem os preceitos budistas e trabalham por si próprios, porém não por procuração ou subscrevendo publicamente a obras caritativas. O teósofo deve antes de mais nada esquecer sua personalidade." 

(H. P. Blavatsky - A Doutrina Teosófica - Ed. Hemus, São Paulo - p. 86/87)


terça-feira, 8 de agosto de 2017

DISCIPLINA ESPIRITUAL

"'Pureza, contentamento, simplicidade, autoestudo e aspiração são as regras da observância' (sutra 32). A disciplina espiritual requer energia e um corpo saudável, mas o foco principal é a mente. Uma mente pura é livre de memórias, preocupações com o futuro e qualquer conteúdo não necessário à situação presente.

A disciplina mental é a vigilância necessária para manter a mente 'fresca' e serena, além, é claro, da meditação, que Patañjali indica em outros sutras. O sutra 40 lembra que a pureza requer um retiro, de tempos em tempos, para 'esvaziar a cabeça'.

Aceitação e contentamento não significam passividade nem resignação, mas ver as coisas como elas são e agir objetivamente. Passividade e resignação são associadas ao ressentimento, que prejudica a percepção e impede que se chegue a uma solução correta de problemas.

A simplicidade, ou austeridade, é o desapego ao supérfluo, não apenas em relação aos bens materiais, mas também à própria personalidade. Ser simples, nesse sentido, é ter a mente livre de complicações desnecessárias.

O autoestudo é a observação de nós mesmos, de forma honesta, sem máscaras ou justificativas que nos impeçam de ver nossas próprias motivações. A aspiração é a direção correta, que no yoga significa a união com Deus, a autorrealização, a iluminação.

As observâncias, assim como as abstinências, não são práticas isoladas. Só podemos saber se estamos na direção correta se nos observarmos. Só podemos nos observar corretamente se a nossa mente for simples. A mente só pode ser simples se há contentamento, isto é, se as coisas são vistas como são. Para ver as coisas como são é preciso que a mente seja pura, que não esteja sobrecarregada."

(Cristina Szynwelski - O yoga e a moral espiritual - Revista Sophia, Ano 2, nº 6 - p. 33)


segunda-feira, 31 de julho de 2017

AMOR, CORAGEM E CONFIANÇA (PARTE FINAL)

"(...) Se vemos um animal ser maltratado e sentimos raiva, essa raiva é uma expressão de separatividade tão ruim quanto a crueldade do malfeitor. Isso não quer dizer que não devemos interferir, mas que devemos interferir sem violência. Uma vez perguntaram a Krishnamurti o que ele faria se um amigo fosse atacado na sua frente. Ele disse que sempre viveu sem violência e que agiria como sempre vivera.

Como sair do centro? Será possível abrir mão dessa posição? Isso é possível numa crise súbita, quando a separatividade, o medo e as comparações simplesmente se afastam. Em vez de estar no centro, passamos a estar simplesmente em nenhum lugar ou em toda parte, onipresentes no todo. Em vez de separatividade, existe unidade com todos; em vez de medo há coragem e confiança; em vez de crítica, amor e compreensão; em vez de comparação, apreciação. Isso também pode ocorrer sem aviso, sem causa aparente; podemos simplesmente nos sentir unos com tudo. Ou pode haver uma causa como amor, devoção, criatividade, altruísmo ou estudo profundo. 

Vistas de uma perspectiva favorável, nossas pequeninas preocupações parecem sem importância. Alguém pode até nos insultar, mas se estivermos absortos em criação, amor, devoção, ou ajuda a outra pessoa, nos ocupamos com algo maior e o insulto desaparece. Podemos até mesmo ver a sua causa no nosso próprio interior, e compreender a pessoa que se comportou de maneira desagradável.

Nesse caso nós morremos para o nosso eu interior, a pessoa autocentrada. Quando temos diferenças de opinião e nos irritamos, podemos simplesmente pôr fim à irritação. Podemos olhar a pessoa como se fosse pela primeira vez, sem preconceitos. Podemos sair do nosso centro e ver o seu centro, o seu ponto de vista. Esse é um passo rumo à unidade.

Com a percepção da unidade a personalidade pode ser um instrumento para o superior, não simplesmente para si própria. Devemos viver e agir como somos - mas isso não quer dizer que não precisamos tentar melhorar. A questão é se aprofundar na concepção da unidade sem se imaginar melhor do que se é - sem pensar no eu. Talvez então tenhamos um insight sobre o que significa a iluminação. Ficará claro que o fim está no início e o início no fim; que, a partir desse ponto de vista, o tempo não existe; e que o centro que pensávamos ser nunca existiu."

(Mary Anderson - Como superar o egocentrismo - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 40/41


segunda-feira, 3 de julho de 2017

APRENDIZADO CONSTANTE (1ª PARTE)

"O 'retorno' à vida terrena ocorre mais cedo para aqueles que criaram pouco karma psicológico e mais tardiamente para os mais espiritualizados, que precisam de tempo para assimilar todas as lições espirituais.

Também não é possível retornar à vida como um animal. Uma vez desenvolvida a autoconsciência, não podemos mais retroceder. Essa ideia surgiu de uma interpretação literal de figuras de linguagem, como era o caso de um índio norte-americano que falava em se tornar lobo, águia ou toupeira. Isso não queria dizer que ele se tornaria um desses animais, mas que seria tão esperto e dedicado à família quanto o lobo, com uma visão de alcance longo como a da águia, e tão próximo à terra quanto a toupeira, para sondar seus segredos. Seres humanos não podem voltar a ser animais, e animais não se transformam em seres humanos da noite para o dia, mas só após muito, muito tempo.

No entanto, mudanças psicológicas e físicas ocorrem o tempo todo. Nossos átomos estão constantemente transmigrando: sempre que acariciamos nossos animais de estimação, cheiramos uma rosa, ouvimos música ou pensamos num amigo, trocamos partículas de vida e força. Nossas almas também 'migram' continuamente de um estado de consciência para outro, do sono com sonhos para a percepção de vigília, do pensamento superficial para concentração profunda. E isso continua após a morte. Essas trocas podem ser benéficas ou danosas, dependendo da qualidade da energia. Sabendo disso, o sábio considera um dever pensar e viver tão gentilmente quanto possível.

Outra pergunta frequente é o que acontece àquilo que amamos e pelo qual trabalhamos. O que se perde quando morremos? A resposta é: nada. O conhecimento que obtemos e as habilidades que desenvolvemos permanecem no interlúdio pós-morte e desabrocham em vidas futuras com poder aumentado. Platão fez referência a isso ao dizer que todo conhecimento e sabedoria são memórias de existências prévias. À medida que essa sabedoria se desenvolve no presente, novas possibilidades são moldadas para expressar as características e necessidades de nossas condições internas e externas.

Shakespeare dizia a mesma coisa ao afirmar que um ator representa muitos papéis durante sua vida, identificando-se com eles. Assim como o ator sabe que está desempenhando papéis, nosso eu permanente também sabe, embora possa ser incapaz de transmitir esse conhecimento à 'máscara' ou personalidade temporária. (...)'

(Eloise Hart - Os mistérios da reencarnação - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 30)

domingo, 2 de julho de 2017

DESENVOLVIMENTO ESPIRITUAL

"O estudo do karma e da reencarnação ajuda a compreender que nossos problemas e os do mundo foram criados por nós mesmos, e só podem ser resolvidos por nós. Imersos em nossos problemas, estamos imersos também em suas soluções. Quando o indivíduo se esforça para se responsabilizar por sua vida, percebe cada vez mais as consequências de suas ações e sente-se impelido a transformar o que é egoísta em algo útil para o bem geral.

A mudança é intrínseca à vida: nada está parado. Nós mudamos de aparência, personalidade, perspectiva, tamanho, forma. Após a morte as mudanças continuam: quando retornamos, nossa alma estará transformada pela integração das experiências de vida e aspirações espirituais.

Muitos de nossos problemas atuais são consequências kármicas de encontros que deixamos pendentes na vida anterior. Mas, graças à bênção do esquecimento, estamos livres de envolvimentos emocionais e melhor equipados para resolver esses distúrbios.

Alguns têm medo de voltar como outra pessoa. Isso não é possível. Somos nós mesmos, eternamente. Quando uma alma reencarna e retorna à Terra, é atraída por familiares com traços semelhantes. O embrião retira do reservatório de genes de seus pais qualidades inerentemente suas, que pareçam ou não similares às de um membro da família. Por causa disso, em nossa próxima vida seremos muito semelhantes ao que somos hoje, porém enriquecidos pelas lições que agora estamos aprendendo.

Revigorados por nossas experiências pós-morte, retornaremos prontos e capazes de tocar adiante aquilo que deixamos inacabado e enfrentar os desafios que nos ajudarão a desabrochar nosso potencial espiritual. No epitáfio de Benjamin Franklin isso foi expresso de maneira clara: 'O Corpo de B. Franklin/como a capa de um velho livro/seu conteúdo arrancado/e despojado de suas inscrições e decoração/aqui jaz/alimento para os vermes/mas a obra não se perderá/pois, como acreditava/aparecerá mais uma vez/revisada e corrigida/pelo autor.'"

(Eloise Hart - Os mistérios da reencarnação - Revista Sophia, Ano 10, nº 39 - p. 29)