OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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segunda-feira, 3 de novembro de 2014

SAKSHI (1ª PARTE)

"Traduz-se por testemunha silente. Um dos meios de pairar acima dos acontecimentos é essa posição difícil de espectador vigilante, mas distanciado. Quando você pratica a purgação mental está exercitando sakshi. Está desenvolvendo essa capacidade de não se deixar contaminar pelo que acontece. É como ficar sentado na margem para assistir ao livre fluir da corrente.

A desidentificação só é acessível aos que são capazes de se manterem imunes sem renunciar ao mundo ou dele fugir, mas, ao contrário, nele viver ativa e produtivamente. Os incapazes de praticar sakshi se diluem dentro do processo mundano. Perdendo a consciência do que são e sem poder salvar um pouco de autenticidade para si mesmo. O homem vulgar é comumente um diluído dentro do ambiente em que se encontra. O mundano o ameaça, distrai, alegra, contamina, fascina, absorve e consome. Dele pouco sobra de verídico e imune. É visando a evitar o contágio, e a defender sua mente, seu caráter, suas virtudes, que alguns místicos se fazer eremitas e fogem para o ermo. Quem desenvolve essa sadia atitude espiritual e psicológica chamada sakshi atingindo a isenção, não obstante vivendo em contiguidade física com o mundano, fica, espiritualmente, à parte. Não se perde. Não se confunde. Não se identifica. Não se corrompe.

Sri Ramakrishna compara a personalidade fraca que se dilui no mundo com o leite que, se misturando com a água, é impossível separar. Aquele que tem maturidade espiritual, ele compara com a manteiga, que mergulhada na água, não se mistura.

Quando a pessoa está metida num cordão de carnaval, confundida com os outros, dança, canta, pratica uma série de saracoteios que, se estivesse sóbria, não faria. Enquanto está misturada com os foliões é apenas um deles, e age como eles. Somente depois que se afasta, e, a distância, considera o que vê os outros fazendo, só então, tem uma ideia do que andou também a fazer. (...)"

(Hermógenes - Yoga para Nervosos - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 2004 - p. 153/154)

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

LIBERTA-TE DO SUPÉRFLUO

"Mahatma Gandhi escreveu: 'O homem que guarda em sua casa alguma coisa de que não necessita e que faz falta a outros, esse é ladrão.'

Expresso em termos menos drásticos, podemos dizer que a pessoa que acumula em sua casa coisas supérfluas, nada sabe do espírito de autorrealização.

Jesus disse: 'Quem não renunciar a tudo que tem não pode ser meu discípulo.'

Todos os grandes Mestres espirituais da humanidade, ou renunciaram a tudo, ou se contentaram com o menos possível, usufruindo apenas um conforto dignamente humano. Podemos viver sem posses, não podemos viver sem o usufruto das coisas necessárias. Muitos dos grandes Mestres não tiveram posse alguma; ainda em nossos dias, Gandhi, o libertador da Índia, ao morrer não deixou nada senão uns pares de velhas sandálias, uma caneta tinteiro, uns óculos primitivos, um obsoleto relógio, e umas tangas; a própria cabra, de cujo leite se nutria, não era dele, e foi reclamada pelo dono, após o assassinato do Mahatma, no dia 30 de janeiro de 1948.

Os que não estão em condições para esta renúncia, devem, pelo menos, contentar-se com o conforto necessário, sem se cercar de confortismo supérfluo. O nosso velho e incorrigível ego não conhece a palavra 'chega'; para ele, nada é suficiente; quanto mais possui, mais quer possuir; vai do desejo à posse e da posse a desejos sem fim, circulando a vida inteira nesse círculo vicioso.

E é precisamente neste terreno que prospera com abundância a tiririca da insatisfação e infelicidade." (...)

(Huberto Rohden - O Caminho da Felicidade - Alvorada Editora e Livraria Ltda., São Paulo, 1982 - p. 151/152)

quinta-feira, 10 de julho de 2014

ENCONTRE A VERDADE EM SEU INTERIOR

"Nada é 'oculto' àquele que investiga seu interior encontrando no mais recôndito de sua alma, respostas para os mais intrigantes mistérios. Nenhum santo em nenhuma época ou religião encontrou qualquer verdade senão dentro de Si mesmo (Self ou Atman). Deus ou Espírito não está fora do homem. Os grandes santos, tais como Krishna, Shankara, Jesus ou Budha, afirmaram a existência do Reino de Deus dentro do homem.

Tais homens, renunciantes do mundo, do luxo ou da luxúria, da ganância e de tudo o que diz respeito às relatividades e subjetividades da vida mundana, vivem em plena comunhão com a Divindade. Sentem-se na concavidade de suas almas preenchendo-os como o vinho preenche o cálice até a borda. Cada vórtice de energia (chackra), como os sete candelabros de ouro em plena força, brilham como sóis de vida e força em sua potência. Caminham com o Espirito, percebendo-O em Sua graça e majestade. (...)

'Ébrios' de Deus, do mais doce néctar, vivem absortos n'Ele. Não há maior ventura que essa. Nem mesmo toda a riqueza do mundo, nem toda a fama, nem todo o bem mundano poderia equiparar-se a ser um 'Rei' no trono da suprema liberdade interior, um príncipe, ou príncipes da eternidade, filhos do Patrono do Universo. Tendo como teto as estrelas do céu, como alimento a energia vital oferecida profusamente das mãos do Dador da vida, não têm necessidade de nada, a não ser de Deus, Deus, Deus.

Tais homens-deuses, super-homens, 'riem-se' do mundo, porque não são eles os renunciantes. Os grandes renunciantes somo nós. (...) Nós renunciamos ao maior dos tesouros, a maior das felicidades: Deus. Porque não O conhecemos, não conhecemos a nós mesmos. O que sabemos a respeito do mundo e, de nós mesmos, é mera especulação e, frivolidades, relatividades, dualismos. A única realidade, a única permanente em todo o Cosmos é Ele, nada mais." (...)

(Alexandre Campelo - O Encantador de Pessoas - Chiado Editora - p. 312/314)

domingo, 1 de junho de 2014

QUANDO UMA PORTA SE FECHA OUTRA SE ABRE

"Quando uma porta se fecha, outra se abre. Tenha paciência, persistência, constância.

Chega um momento, ao longo da jornada espiritual, em que algo que estimamos deve acabar. Talvez uma relação significativa tenha terminado. Talvez uma oportunidade que procuramos obter se torne de repente inalcançável. Sejam quais forem as circunstâncias, sentimo-nos privados de um bem a que aspiramos.

Quando isso acontecer, não se desespere, pois o Infinito não se esqueceu de você. Você está sofrendo privação por uma única razão – para que possa receber um bem ainda maior.

A natureza abomina o vácuo. Esse princípio do mundo físico tem seu paralelo no mundo espiritual. Não se pode renunciar a alguma coisa sem ganhar alguma outra coisa em troca. O universo está sempre pronto para preencher o seu vazio, substituindo a tristeza pela alegria, a perda pelo ganho, a morte pelo renascimento.

O que então deve fazer quando uma porta se fecha para você? Primeiro, renuncie o seu apego àquilo que era, ou àquilo que gostaria de ser. A Força Suprema tem preparado para você uma dádiva ainda maior. Depois, afirme para si mesmo: ‘Quando uma porta se fecha, outra se abre. Espero confiante e com alegria o bem que me está reservado.’

Seja paciente, pois ele logo, logo há de vir."

(Douglas Bloch - Palavras que Curam – Ed. Cultrix, São Paulo, 1993 - p. 44)

quinta-feira, 1 de maio de 2014

O DESAFIO DA IMPERMANÊNCIA (2ª PARTE)

"(...) 'No filme da nossa vida, a ligação entre os quadrinhos é feita pela mente. Sua  natureza é o movimento, a agitação, o que representa ao mesmo tempo uma dádiva e um tormento. Dádiva porque o movimento é a fonte da consciência, a ligação entre o conhecedor e o conhecido. Tormento porque ainda não aprendemos a dominar a mente, ficando magnetizados, escravizados ao seu jogo de medo e ansiedade, de passado e futuro.' (...)

Considerando que tudo é impermanente, devemos então, parar, desistir de tudo, renunciar à ação? No épico indiano Bhagavad Gita lê-se: ‘ambas, a renúncia e a execução de ações, conduzem à salvação, mas, das duas, o yoga da ação é melhor que a renúncia’. Como desatrelar a dor que se segue à ação? Pelo desapego ao resultado.

As ações criam estados transitórios, ‘situações de vida’, como diz Tolle. O problema é que nos apegamos às situações – tomando-as como a própria vida – e assim nunca estamos preparados para as mudanças. Isso pode mudar?

Entre as técnicas conhecidas, a auto-observação é considerada fundamental para a realização de mudanças. Ela é que nos permite descobrir a causa de muitos sofrimentos, e a partir daí agir para evitá-los. E uma dessas causas – talvez a maior delas – é o apego.(...)" 

(Walter S. Barbosa - O desafio da impermanência - Revista Sophia, Ano 12, nº 48 – Pub. da Ed. Teosófica, Brasília - p. 24)


sábado, 8 de fevereiro de 2014

BRAHMAN

"O alfa e o ômega da filosofia Vedanta é ‘renunciar ao mundo.’
Renunciar ao irreal e aceitar o real.

Segundo a filosofia Advaita, existe apenas uma coisa real no universo, denominada Brahman. Tudo o mais é irreal, manifestando-se e sendo criado a partir de Brahman pelo poder de maya.  Voltar a Brahman é a nossa meta. Cada um de nós é Brahman, a Realidade, acrescido de maya.  Ao livrar-nos de maya, ou ignorância, nós nos tornamos o que realmente somos.

De acordo com essa filosofia cada homem é constituído de três partes: o corpo, a mente e, além dela, o Atman, o Self. O corpo é o invólucro externo e a mente, o invólucro interno do  Atman, aquele que realmente percebe e desfruta, o ser que habita o corpo e nele atua, fazendo-o funcionar por intermédio da mente.

O Atman é o único elemento do corpo humano que é imaterial. Por ser imaterial, não pode ser composto, e por não ser composto, não obedece à lei de causa e efeito, sendo por isso imortal. O que é imortal não pode ter começo, pois tudo que teve começo deve ter fim. (...)

(...) Assim todas as formas têm um começo e um fim. Sabemos que o nosso corpo perecerá. Teve começo e terá fim. O Self, porém, por não ter forma, não está sujeito à lei do começo e do fim. Existe eternamente. Como o tempo é infinito, o Self do ser humano também é infinito."

(Swami Vivekananda - O que é Religião - Lótus do Saber, São Paulo, 2004 - p. 74/75)


terça-feira, 26 de novembro de 2013

BHAGAVAD GITA (1ª PARTE)

"O Bhagavad Gita é amplamente aceito como uma das grandes escrituras da humanidade. Ele contém um apelo universal. Trata da reorganização construtiva da vida, e explica como um homem deve cumprir seus afazeres e ao mesmo tempo compreender seu destino espiritual.

A mensagem principal do Bhagavad Gita é simples: uma pessoa deve cumprir suas obrigações. Se não, incorre em erro. A ação é a lei da vida; sem ação é impossível viver.

Krishna diz que, no caminho espiritual, não é preciso renunciar à ação; as ações executadas com dedicação e atitude adequada ajudam a conduzir a mente ao conhecimento.

Quando o trabalho é feito sem motivação egoísta, torna-se uma forma de adoração. O Bhagavad Gita enfatiza que o mesmo esforço deve ser feito no trabalho para si próprio ou para os outros, e que o esforço deve ser o mesmo, independente do trabalho.

O trabalho deve ser feito com amor. Todos os deveres são igualmente importantes; quando são cumpridos sem motivações egoístas, a ação torna-se uma expressão de amor. O trabalho dedicado remove todas as impurezas da mente. (...)"

(R. K. Langar - Bhagavad Gita - Revista Sophia, Ano 2, nº 5 - Pub. da Ed. Teosófica, Brasília - p. 43)


sexta-feira, 27 de setembro de 2013

SEJA FIRME EM SUA CAMINHADA E FORTALEÇA O DESAPEGO

"Vairagya¹ não significa que você tenha de renunciar ao lar e à moradia, saindo para a floresta. Nada garante que o lar e a casa não o acompanharão no silêncio e solidão da floresta, porque, se sua mente anseia por desejos mundanos, deles você não consegue escapar simplesmente por lançar uma distância (física) entre eles e você. Pode você estar na selva, mas tendo sua mente vagando na praça do mercado. Igualmente, pode estar na praça do mercado, mas, devido ao sadhana (disciplina ascética), sentir-se quieto e mantendo firme o passo no caminho da paz em seu coração, embora em meio à multidão mais azafamada. A mente tem poder, seja para construir um silente refúgio, seja para amarrar você com encrencados nós. A mente amarra e desamarra. 

Você pode singrar a salvo no mar de samsara², caso seu barco não tenha rombos como a luxúria (kama), a raiva (krodha), a cobiça (lobha), a ilusão (moha), a soberba (mada) e o ciúme (matisarya). Através de tais rombos, a água pode invadir o barco, e ele afundará arrastando você, impedindo uma redenção. Não admita água em seu barco. Vede todos os rombos, então nada terá a temer. Em samsara você pode beneficiar-se com todas as oportunidades de treinar os sentidos, ampliar as afeições, aprofundar as experiências e fortalecer o desapego."

¹ Vairagya - despaixão; a atitude psicológica caracterizada pela ausência de raga (paixão, apego).
² Sansar - o mundo cambiante, palco dos nascimentos e mortes; a roda das reencarnações, também na terminologia budista. Tem sinônimo: Jagat (universo).

(Sathya Sai Baba - Sadhana O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1989 - p. 169)


sexta-feira, 13 de setembro de 2013

RENUNCIANDO AOS FRUTOS DA AÇÃO

"Conquista-se aos poucos a vida espiritual e aprendem-se as lições do espírito neste mundo, porém sob uma condição. Esta condição abrange dois estágios: primeiro, fazemos tudo o que deve ser feito porque é nosso dever. Quando a vida espiritual começa a alvorar, reconhecemos que todas as nossas ações deverão ser realizadas, não visando um resultado específico, mas porque é nosso dever realizá-las. Isso é dito facilmente, mas como é difícil de ser alcançado. Não há o que precisemos mudar em nossa vida para tornar-nos espirituais, mas é necessário modificar a nossa atitude em relação á vida. Devemos deixar de pedir à vida e passar a dar-lhe tudo, porque é este o nosso dever.

Esta concepção da vida constitui o primeiro grande passo na direção do reconhecimento da unidade. Se existe apenas uma única grande Vida, se cada um de nós nada mais é senão uma expressão daquela Vida, então toda a nossa atividade será simplesmente a ação daquela Vida em nós, e os resultados serão colhidos pela Vida comum e não pelo eu separado. É esta a mensagem que o Gita nos transmite ao dizer que não devemos trabalhar pelo fruto, porque o fruto é o resultado normal da ação.

Este conselho destina-se apenas àqueles que desejam conduzir a vida espiritual, pois não é indicado que as pessoas deixem de trabalhar pelos frutos da ação até que tenha surgido uma motivação mais poderosa em seu interior, uma motivação que as incite à atividade sem um prêmio para o seu eu pessoal. Precisamos ter uma atividade, ela representa o caminho da evolução. Sem atividade não nos desenvolvemos; sem esforço e luta flutuamos nas águas represadas da vida e não fazemos progresso ao longo do rio. A atividade é a lei do progresso; à medida que nos exercitamos, nova vida flui em nossa direção. Por esta razão está escrito que aquele que é indolente jamais poderá encontrar o Eu. Aqueles que são indolentes e inativos nem mesmo começam a voltar-se para a vida espiritual."

(Annie Besant - A Vida Espiritual - Ed. Teosófica, Brasília, 1992 - p. 102/103)


domingo, 21 de julho de 2013

QUEM FICOU RICO, SAIBA DOMINAR-SE; QUEM FICOU PODEROSO, SAIBA RENUNCIAR

"Toda a verdadeira riqueza e felicidade consiste em saber restringir-se ao necessário. Toda a grandeza do poder consiste em saber usar o menos possível esse poder. 

No mesmo sentido escreveu Goethe: "É na restrição que se revela o Mestre". E Schweitzer afirma: "Não há heróis da ação, há tão somente heróis da renúncia e do sofrimento". Einstein, repete que a grandeza do homem não está em descobrir fatos, mas em crear valores; os fatos vêm das circunstâncias de fora, os valores vêm da substância de dentro. Lao-tsé não se cansa de insistir na importância daquilo que o homem é no seu Ser, e não no que ele tem no seu fazer. 

Assim, a felicidade do rico não está em ter milhões, mas em saber tê-los com disciplina e moderação. A felicidade do poderoso não está na medida do seu poder, mas na limitação voluntária do seu poder, na renúncia àquilo que o poder lhe faculta fazer, mas que a consciência manda limitar o mais possível.

Jesus podia ter morado num palácio de ouro e ter-se banqueteado esplendidamente todos os dias; isso, porém, não teria sido a sua grandeza, mas sim o limite da sua grandeza. Em vez de ostentar riqueza e poder, o Nazareno preferiu não ter onde reclinar a cabeça.

Essa mesma sabedoria de voluntária restrição, aliás, já foi ensinada e praticada pelos antigos estóicos gregos e romanos; também eles sabiam que ser alguém pela creação de valores internos é muito mais do que ter algo pelo descobrimento de fatos externos. Um profeta do antigo testamento pede a Deus que não lhe dê pobreza nem riqueza, mas tão somente o necessário.

Ser e Ter, quase sempre, estão em relação inversa. Verdade é que, de per si, o Ser é compatível com o Ter; mas quase nunca um homem grande no seu Ser está interessado no Ter; limita os seus teres ao mínimo necessário para uma existência dignamente humana. É tão difícil para o sábio ser rico como para um rico é difícil ser sábio.

Nem o ter nem o não ter é grandeza; a grandeza está no modo como alguém sabe ter ou não ter, possuir ou não possuir."

(O Quinto Evangelho - A Mensagem do Cristo - Tradução e comentários: Huberto Rohden - Ed. Martin Claret, São Paulo - p. 109/110)


segunda-feira, 15 de julho de 2013

RENÚNCIA - A CHAVE MESTRA

"Existem na humanidade duas classes de almas: aquelas que se entregaram e aquelas que não o fizeram. O teste ácido é “Você renunciou?” A grande maioria das pessoas neste estágio ainda está no estado de acentuação da individualidade. Poucas disseram (simbolicamente) para o Mais Alto de Seus ministros, “Eu me entrego a Ti. Sou Teu. Minha vontade é a Tua vontade. Minha vida é Tua vida. Não peço mais nada para mim. Dou tudo o que tenho e sou para Ti.” Por isso, no Getsêmani, Jesus disse, “... não a minha vontade, mas a Tua, seja feita”. No entanto, esse Evangelho ainda é para poucos. Pois ele é o coração da vida oculta. Somente depois da entrega à Grande Lei, a Grande Vida passa a cuidar inteiramente de você e então você estará “salvo para sempre”. A espontaneidade torna-se então a característica da vida, “dar” a religião, “absoluta consciência de ausência de eu” a única aspiração. “Desapegue-se!” 

A pessoa deve estar pronta para o assentimento, mesmo ao que parece ser injustiças, inclinar-se a todos os superiores em total humildade. A renúncia é a chave mestra. “Bem-aventurados os mansos, pois eles herdarão a terra”. Depois da entrega, tudo está aberto." 

(Luz do Santuário - O Diário Oculto de Geoffrey Hodson - Compilado por Sandra Hodson e traduzido por Raul Branco - p. 65/66)


domingo, 7 de julho de 2013

APRENDA A SE DESCONECTAR

"Para adquirir alguma coisa no universo físico, você tem que renunciar ao apego a ela. Isso não quer dizer que você desiste da intenção mas não do desejo; você desiste do apego ao resultado. Fazer isso é algo muito poderoso. No momento em que renuncia ao apego, ao resultado, combinando ao mesmo tempo intenção e desapego, você terá aquilo que deseja.

Qualquer coisa que você deseje pode ser adquirida por meio do desapego, porque o desapego está baseado na crença incondicional no poder de seu verdadeiro ser. O apego, por outro lado, baseia-se no medo e na insegurança, e a necessidade de segurança baseia-se no desconhecimento do verdadeiro ser.

A fonte de riqueza, de abundância ou de qualquer coisa no mundo físico é o ser; é a consciência que sabe como suprir cada necessidade. Tudo mais é símbolo: automóveis, casas, dinheiro, roupa, aviões. Os símbolos são transitórios: eles vêm e vão. Procurar símbolos é como tomar uma certa direção no mapa em vez de fazê-lo no território. Isso cria ansiedade, termina fazendo você se sentir vazio, oco por dentro, porque você troca o ser pelos símbolos do ser.

O apego, na verdade, vem da pobreza de consciência, porque nós nos apegamos sempre a símbolos. Desapego é sinônimo de riqueza de consciência, porque com desapego existe liberdade para criar. Somente com envolvimento desapegado pode-se ter alegria. Por conseguinte, os símbolos de riqueza são criados espontaneamente e sem esforço. A verdadeira riqueza de consciência é a habilidade para ter qualquer coisa que se queira, com o mínimo de esforço.

Para basear-se firmemente nessa experiência você precisa ter fundações profundas na sabedoria da incerteza. Nessa incerteza você encontrará liberdade para criar o que quer que seja. Quando entender o desapego, você não se sentirá compelido a forçar soluções. Ao forçar soluções de problemas você apenas cria novos problemas; porém, quando volta a atenção para a incerteza, quando testemunha a incerteza, quando espera cheio de expectativa que a solução surja do caos e da confusão, então o que surge é algo fabuloso e excitante. 

Esse profundo estado de alerta, sua prontidão no presente, no campo da incerteza, junta-se à sua meta e à sua intenção e permite apreender cada situação, problema ou desafio como uma oportunidade. Uma vez adquirida essa percepção, você se abrirá a toda uma gama de possibilidades e descobrirá o mistério, a maravilha, a excitação e a aventura de estar vivo."

(Deepak Chopra - Revista Sophia nº 36 - Ed. Teosófica, Brasília - p. 39)


segunda-feira, 24 de junho de 2013

SARVA YOGA - KRISHNA ESCLARECE (5ª PARTE)

" (...) A maior autoridade para indicar qual o Yoga mais apropriado é sem dúvida Krishna, o "Eterno Condutor do carro de nossas vidas".
Fixe em Mim sua mente. Coloque em Mim seu intelecto. Então, daí por diante, portanto, você viverá, sem dúvida, somente em Mim. (in Bhagavad Gita, XI:8)
Você e qualquer ser humano comum poderá questionar: Como posso eu chegar a tal perfeição? Como unidirecionar minha mente e meu intelecto rebeldes, se eles estão sempre fluindo, fugindo? Isto é Yoga para quem pode. E eu ainda não "posso". Krishna, parecendo ler o pensamento do leitor, volta magnanimamente para ajudar e propõe:
Se você também é incapaz de fixar firmemente em Mim sua mente, então, pelo Yoga da constante prática, procure chegar a Mim... (XII:9)
Ora, o Yoga da constante prática (abhyasa) já não é tão difícil. Consiste em você tentar manter a mente no Divino, mesmo enquanto engajado em atividades profissionais e sociais, pois há momentos para lembrar-nos de Deus mesmo enquanto nos relacionamos com o mundo objetivo. Haverá, no entanto, ao longo do dia, alguns momentos em que possamos desconectar-nos do ambiente, isolarmo-nos num lugar e então tratarmos de manter-nos mentalmente ligados a Deus, embora a mente normalmente doidivanas, inquieta e obstinada, venha a criar dificuldade e distrações. Abhyasa consiste em insistirmos fazendo-nos permanentes fiscais dos movimentos dela (a mente), com o propósito de, sem esforços e brigas, impedi-la de divagar, desejando fixá-la em Deus. Quando notarmos que já anda longe de onde deveria estar, com muito amor e paciência, tratamos de trazê-la de volta ao Divino. Isto é abhyasa ou a "constante prática". Ao correr do tempo, algum dia você conseguirá fazê-la parar em Deus. Namasmarana ou constante repetição do Nome* é uma deliciosa forma de trazê-la para Deus. Numa demonstração de ilimitada misericórdia, Krishna mais uma vez insiste em nos ajudar:
Se você é incapaz mesmo de praticar Abhyasa Yoga, então pratique suas ações em Meu proveito. Mesmo pela prática de suas ações em Meu proveito, você atingirá a perfeição. (XII:10) 
De misericórdia em misericórdia, o Divino Senhor sugere outras formas de Yoga cada mais mais acessíveis aos aspirantes que, embora sinceros, ainda enfrentam impossibilidades:
Se você ainda é incapaz de fazer mesmo isto, então busque refúgio em Mim. Autocontrolado, renuncie aos frutos de todas as ações. O conhecimento é, deveras, melhor que a prática. A meditação é melhor que o conhecimento. A renúncia ao frutos da ação é melhor que a meditação. A paz imediatamente sucede à renúncia. (XII:11 e 12) 
O Divino Senhor deixou assim muito explícito que a renúncia aos frutos da ação e a abnegação produzem imediatamente a paz, não obstante ser tão simples, tão fácil e tão extravagante aos olhos de certas terapias modernas. (...)"

* Qual o nome? Aquele que o devoto preferir dentre os inumeráveis Nomes do Senhor: Cristo, Allah, Krishna, Jehovah, Vishnu, Baha'u'láh... O importante é, tendo optado por um deles, jamais o trocar por outro, num ato de deslealdade. 

(José Hermógenes - Iniciação ao Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 141/142)


quarta-feira, 29 de maio de 2013

TANTRA YOGA - MÃO DIREITA E MÃO ESQUERDA (5ª PARTE - II)

" (...) Há milênios o Kata Uppanishad menciona dois caminhos: o "Caminho Bom" e o "Caminho do Bem", naturalmente para convidar para o último. O Cristo veio depois a confirmar:
Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta e espaçosa a estrada que conduz à perdição, e são muitos os que por ela entram, mas estreita é a porta e apertada a estrada que conduz à vida, e poucos são os que a encontram. (Mt 7:13-14)
Os que fazem o marketing do "caminho largo" jogam com argumentos inegavelmente brilhantes e convincentes. Eis um texto de Haridas Chaudhuri que sintetiza uma argumentação hoje monotonamente repetida por uns poucos reverenciados como "gurus" (?!), e por alguns "modernos terapeutas", pretendendo com ela incentivar, respectivamente, devotos e pacientes a "liberar o animal" que se agita dentro de si. Demonstram que assim evitarão as indesejáveis consequências da "repressão" psicológica. Tais "gurus", argumentando cavilosamente, têm encontrado facilidade em convencer crédulos discípulos (previamente convencidos) da "sacralidade" (?!) de uma gratificante "liturgia erótica".
A Yoga tântrica é audaciosamente afirmativa em suas abordagens metodológicas. Outros sistemas de Yoga dão muito destaque à renúncia e à ausência de desejo como ajuda à libertação. Mas a Tantra Yoga afirma a necessidade de uma satisfação inteligente dos desejos naturais. Nesta visão, não há antagonismo básico entre a natureza e o espírito. A natureza é o poder criativo do espírito na esfera objetiva. Ninguém, portanto, pode entrar no reino do espírito sem primeiro obter um passaporte emitido pela natureza. A prática de austeridade, ascetismo e automortificação é um insulto à natureza. Cria mais dificuldades que as soluciona. Por enfraquecer o corpo e por gerar conflitos internos e tensões, enquanto solapa e desenvolvimento sadio e equilibrado. (in Integral Yoga. Londres: George Allen and Unwin Ltd.) 
A defesa da tese do "caminho largo" prossegue, convincente, a arrastar muitos ao gostoso "é proibido proibir", à licenciosidade irresponsável. Toda esta argumentação (a essa altura já consideravelmente gasta) configura um velho e eficiente sofisma, sintetizado pela fórmula: quem está no chão só consegue levantar-se apoiando-se no mesmo chão. Ouso perguntar: Mas, se a criatura se encontra no lodo, num atoleiro, em areia movediça, como se apoiar se a busca de apoio faz afundar mais ainda?!

Haridas Chaudhuri prossegue, com promessas àqueles já predispostos à sedutora licenciosidade:
Se uma pessoa inteligentemente atender às tendências de sua própria natureza, seus desejos se tornarão cada vez mais refinados e elevados. Os desejos básicos gradualmente cederão lugar a desejos nobres. Os impulsos inferiores serão substituídos por impulsos mais elevados... 
A experiência prova, no entanto, exatamente o oposto. Um famoso filme japonês - O Império dos Sentidos - há alguns anos mostrou um caso real onde os amantes sofregamente se renderam sem reserva ao "império dos sentidos", em busca de uma impossível saciedade erótica total, e ao final, como não podia deixar de ser, suas vidas se acabaram de maneira trágica. (...)"

(José Hermógenes - Iniciação ao Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 126/128)


terça-feira, 28 de maio de 2013

TANTRA YOGA - MÃO DIREITA E MÃO ESQUERDA (5ª PARTE - I)

"Há dois caminhos gerais oferecidos pelo tantrismo: (a) o nivritti marga ou "caminho da renúncia, da abnegação, do desapego, da submissão a Deus, da humildade, disciplina, castidade, oração, canto devocional, amor sublimado (prema)..." próprio dos tipos virabhaya e divabhaya; (b) o pravritti marga ou "caminho da autoafirmação, da permissividade, do egoísmo selvagem, da magia sexual..." apropriado ao tipo animalesco, pasubhava. Os que transitam pelo primeiro caminho podem ser chamados também de dakshinacharis, e os do segundo caminho, vamacharis. Em seu Glossário Teosófico, H. P. Blavatsky define dois termos:
(a) Tantra - Literalmente, "regra ou ritual". Certos trabalhos místicos e mágicos, cuja peculiaridade principal é a adoração ao potencial feminino, personificado na Saktidevi ou Durga (Kali, esposa de Shiva) que é a energia especial ligada aos ritos sexuais e poderes mágicos - a pior forma de magia negra ou feitiçaria.

(b) Tântricas - Cerimônias ligadas à adoração acima citada. Sakti tendo uma dupla natureza, branca e negra, boa e má, os saktas (adoradores) são divididos (também) em duas classes: os dakshinacharis e os vamacharis, respectivamente; os saktas da mão direita e os da mão esquerda, isto é, magos "brancos" e os "negros". A adoração feita pelos últimos é a mais licenciosa e imoral.
Declarações tão graves, feitas por uma venerável autoridade em assuntos espirituais, a fundadora da Sociedade Teosófica, reclamam esclarecimentos maiores. O assunto é polêmico e exige que autoridades no assunto falem também:
Sem dúvida o Tantra é um tema delicado por conta de suas intensas e extensas ramificações eróticas. Deve ser visto de dois níveis: (a) o literal (mukya); e (b) o da interpretação metafórica de sua doutrina (gauna). A primeira visão é vamachara ou da "mão esquerda", a segunda, dakshinachara ou da "mão direita". (Stutley, Mararet and James, in a Dictionary of Hinduisna. Bombay: Allied Publishers Private Limited)
O tantrismo vamashina é aquele que inspirou a denúncia de Blavatsky. Prescreve rituais eróticos exacerbados e outras formas de licenciosidade como é o caso do preceito dos "cinco Ms", que parececonsagrar a permissividade, tão ao gosto dos indivíduos mais materialistas e sensuais, aqueles que o Tantra classifica como pasubhava (tipo animal).

A "doutrina dos Ms" determina como forma de cultuar a Shakti não as preces, meditações, purificações, renúncias, disciplinas, mas exatamente o oposto, isto é, a gratificação com: madya (vinho); mamsa (carne); matsya (peixe); mudra (cereais ressecados); maithuna (fornicação). Observe que as palavras têm o m por inicial. São os cinco Ms.

Ora, isto pode ser visto como a antítese do que as religiões em geral propõem com ascese. Soa como um convite para "chegar a Deus pelo caminho que o diabo gosta". Como explicar tão flagrante contradição? Procuremos juntos a resposta. (...)"

(José Hermógenes - Iniciação ao Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 125/126)


quarta-feira, 22 de maio de 2013

A MANIFESTAÇÃO DE DEUS NAS ENCARNAÇÕES DIVINAS

"Em um universo inescrutável, confrontar-se com uma vida de mistérios não solucionados e insolúveis seria, na verdade, um desafio avassalador para meros mortais, não fosse pelos emissários divinos que vêm à Terra falar com a voz e a autoridade de Deus, para orientação do homem. Há milênios, nas remotas idades superiores da Índia, os rishis proclamaram a manifestação da Beneficência Divina, do "Deus conosco", como encarnações divinas, avatares: Deus encarnado sobre a terra em seres iluminados.(...)

Muitas são as vozes que serviram de intermediários entre Deus e o homem: os avatares khanda, ou encarnações parciais em almas que conhecem Deus. Menos comuns são os avatares purna, seres libertos que se unificaram totalmente com Deus; seu retorno à Terra visa cumprir uma missão designada por Deus. Na sabrada Bíblia hindu, o Bhagavad Gita, o Senhor declara:
"Sempre que a virtude declina e o vício predomina, Eu Me encarno como Avatar. Apareço em forma visível, era após era, para proteger os virtuosos e destruir a prática do mal, a fim de restabelecer a justiça."
A mesma - e única - gloriosa consciência infinita de Deus, a Consciência Crística Universal, Kutastha Chaitanya, assume roupagens familiares na individualidade de uma alma iluminada, com os adornos de uma personalidade peculiar e de uma natureza divina adequadas à época e ao propósito dessa encarnação. Sem tal intercessão do amor de Deus - que vem à Terra no exemplo, na mensagem e na mão orientadora de Seus avatares - seria praticamente impossível para a humanidade, em sua busca tateante, encontrar o caminho para o reino de Deus, em meio ao sombrio miasma da ilusão mundana, que é o substrato cósmico da morada do homem. A fim de que Seus filhos, envoltos em trevas, não se percam para sempre nos labirintos enganosos da criação, o Senhor vem, muitas vezes, na forma de profetas divinamente iluminados, para aclarar o caminho. (...)

Jesus foi precedido por Gautama Buda, o "Iluminado", cuja encarnação relembrou a uma geração negligente o Dharma Chakra ou a roda do karma em constante rotação - ações iniciadas pela própria pessoa e os efeitos dessas ações, que fazem com que cada homem, e não um Ditador Cósmico, seja responsável por suas condições atuais. (...)

A intercessão divina para mitigar a lei cósmica de causa e efeito (karma), pela qual o home sofre por causa de seus erros, estava no âmago da missão de amor que Jesus veio cumprir. (...) Jesus veio para demonstrar o perdão e a compaixão de Deus, cujo amor nos protege até mesmo da rigorosa lei.

O Bom Pastor de almas abriu seus braços a todos, a ninguém rejeitando, e com amor universal incitou o mundo a segui-lo no caminho da libertação, por meio do exemplo de seu espírito de sacrifício, renúncia, perdão, amor tanto pelos amigos quanto pelos inimigos e, acima de tudo, supremo amor por Deus. Como um pequeno bebê na manjedoura de Belém e como o salvador que curava os doentes, ressuscitava os mortos e aplicava o bálsamo do amor sobre as chagas dos erros, o Cristo em Jesus viveu entre os homens como um deles, para que também eles pudessem aprender a viver como deuses."

(Paramahansa Yogananda - A Yoga de Jesus - Self-Realization Fellowship - p. 03/04)  


sexta-feira, 17 de maio de 2013

O CAMINHO DA TOLERÂNCIA (1ª PARTE)

"A tolerância não pode ser confundida com uma desdenhosa permissão para que aqueles que consideramos equivocados sigam seu caminho rumo ao erro. Também não é a orgulhosa presunção que diz "sim, eu lhe tolero, permito que expresse seus pontos de vista." Tolerância implica o reconhecimento definitivo de que cada indivíduo deve ser livre para escolher seu próprio caminho, sem que o outro interfira na estrada que ele escolheu. 

Ser tolerante significa não julgar nem criticar os outros, com vistas a limitar suas opiniões ou conceder-lhes permissão para tê-las. A pessoa tolerante compreende e se curva à verdade do grande ditado sufi: "Os caminhos para Deus são tantos quantos os alentos dos filhos dos homens". Ou ao profundo significado das palavras de Krishna: "Qualquer que seja a estrada pela qual o homem se aproxime de mim, nessa estrada eu lhe dou as boas-vindas, pois todas as estradas são minhas." 

A pessoa realmente tolerante renuncia completamente a qualquer tentativa de apontar uma estrada que todos devam trilhar. Ela vê que, quando o espírito humano busca Deus, quando a inteligência humana tenta se elevar até o divino, quando o coração humano está sedento pelo contato com sua fonte, a estrada para Deus está sendo trilhada, e o trilhar inevitavelmente levará à meta. 

Os caminhos são diferentes porque as mentes dos homens são diferentes, porque seus corações são diferentes, porque cresceram ao longo de diferentes linhas de pensamento que foram acostumados desde tempos imemoriais a uma variedade de crenças religiosas, de pontos de vista e de concepções. Elas são úteis, e não prejudiciais, pois a verdade é tão multifacetada que pode ser vista a partir de pontos de vista diferentes, e cada nova visão é um acréscimo, não um impedimento. Estudar as visões diferentes das nossas, tentar aprender pacientemente a partir do ponto de vista do outro, ver o que ele vê - é assim que se desenvolve a visão que por fim verá toda a verdade, e não apenas um fragmento dela. Quanto mais estudamos, quanto mais compreendemos a unidade enquanto estudamos a diversidade, melhor conhecemos sua grandeza. (...)"

(Anne Bessant - Revista Sophia nº 43 - Ed. Teosófica, Brasília - p. 05/06)


terça-feira, 14 de maio de 2013

LAYA YOGA - LAYA, A APOTEOSE (3ª PARTE)

"No estudo dos demais capítulos, onde tratamos dos diversos sistemas de Yoga, podemos entender como e o quanto cada um está relacionado com Laya Yoga.

A prática Bhakti purifica, concentra e direciona para Deus as diferentes manifestações de nossa afetividade (sentimentos, emoções e paixões) e isto nos torna possível desfrutar a sublimidade do mais perfeito amor (prema). No altar de prema, a alma, espontânea, fácil e mesmo jubilosamente, sacrifica seu ego e seu apego à existência. Embora o devoto perfeito se contente tão somente com as delícias de amar o Senhor, renunciando mesmo a fundir-se nEle, não é impossível que o pouco que lhe restou do ego venha a se derreter e acabar.

O karma yoguin deposita, como oferenda, aos pés de lótus do Senhor, os frutos de sua atividade generosa sem nada pedir em retribuição. Com isto, ele, sem dúvida, está depositando também seu ego, consequentemente aplacando trishna na existência ilusória. Este processo evolui no sentido de desfazer a falsa convicção de ser distinto a estar distante do Ser Supremo.

A Raja Yoga, mediante a prática de meditação, procura aquietar os vrittis (fenômenos que agitam a mente), tanto que, estando a mente parada, possibilite a contemplação do Ser. Este Estado denominado samadhi é, para muitos, sinônimo de laya. O meditante, neste estado, elimina aquilo que separa e cria diferença - sua mente inquieta e incontrolável. Suprimidas a diferença e a distância, a Unidade se impõe, e o que até então parecera distante e distinto some, se extingue. Isto é laya.

A vedanta adwaita diz que é a ignorância (ajnana) que nos mantém exilados de nossa verdadeira Realidade e Essência, que é Sat-Cit-Ananda. Aniquilada a ignorância, vencida a ilusão pelo esplendor da sabedoria, você, eu e os demais assumimos o que somos - Sat, o Ser Supremo, a Suprema Verdade; alçamo-nos a Cit, a Consciência Absoluta; e desfrutamos Ananda, a Bem-Aventurança eterna. Jnana Yoga, método que nos ajuda a esgotar a ignorância, para assim abrir-nos ao "saber" Aquilo que real e essencialmente somos. O ser ilusório, que a ignorância forjou e nutriu durante muitas existências, agora se dissipa na "Verdade que liberta". O eu pessoal se consome então em Deus. Aquilo que até então somente parecia ser perde sua efêmera aparência ao extinguir-se nAquilo que em verdade e eternamente É. (...)"

(José Hermógenes - Iniciação ao Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 116/117)


domingo, 12 de maio de 2013

LAYA YOGA - A REDENTORA AUTOEXTINÇÃO (1ª PARTE)

"Que vem a ser Laya? Pelo que tenho aprendido de vários textos autorizados, entendo ser um mergulho de algo existente em sua causa primeira, nela se fundindo. É o caso de uma onda sumindo no mar. É um regresso à origem. Um pleno deixar de existir para retornar gloriosamente a Ser. O que antes era limitado como existência ganha a infinitude da essência quando nEla se dissolve. O que, como simples existência, era efêmero, ao extinguir-se na essência alcança perenidade; o que era apenas aparência recobra realidade; o que era cambiável torna-se imutável; o que era limitado se infinitiza... Ramakrishna lembra uma boneca feita de sal que é atirada ao mar. Some. Oceanifica-se. O método que se propõe a efetivar esta fusão redentora chama-se Laya Yoga. Laya significa extinção, fusão. 

O clássico Yoga Taravali diz que:  Shiva, o Eterno (Sada Shiva) mencionou cento e cinquenta mil formas de Laya Yoga existentes no mundo.

Conforme Shiva declarou, são incontáveis as forma de atingir laya, a dissolução do individual no oceano do Universal, da alma em Deus, do relativo no Absoluto, do existir no Ser. Pelo visto, todos os processos ou métodos de ascese ensinados nas diferentes religiões que visam à união mística são formas de Laya Yoga. A meta suprema de todas as formas de Yoga (Karma, Jnana, Kriya, Hatha...) é a fusão em Deus. A única exceção é a Bhakti Yoga, que acha tão divinamente jubiloso e feliz amar Deus, que renuncia à possibilidade de fundir-se nEle. O bhakta acha Deus tão doce, que se contenta em apenas O saborear, por isto renuncia à possibilidade de vir a transformar-se no próprio açúcar  Mas, fora a Bhakti, conforme estamos sabendo, Yoga é união da qual resulta a extinção do jiva no seio de Paramatman.

É fácil concluir que Laya Yoga, ou a autoextinção individual libertadora, só pode ocorrer quando o ser humano, ao longo de um árduo e prolongado esforço através de muitas existências, conquistou excepcionais condições de santidade e sanidade, condições estas que os diversos caminhos (margas) ou as diversas disciplinas (sadhanas) ajudam a construir.

Um bhogi é um indivíduo que nada, pouco ou equivocadamente conhecendo das leis e verdades espirituais, ainda egocêntrico, vulnerável às seduções mundanas, dominado por apegos, ódios e fobias, agarra-se à vida com ostra ao casco do navio. Naturalmente um bhogi repele qualquer ideia de renúncia, humildação e muito mais de autoextinção. Luta, ao contrário, pela autoafirmação, aquela que terapeutas e pedagogos contemporâneos tanto valorizam. Tomando em conta que a grande maioria dos seres humanos é formada de bhogis, não se pode esperar muitas adesões à tão estranha proposta filosófica de laya. No entanto, suponho que possa ser feito um convite a uma análise sobre o porquê e como nos autoalienamos da Suprema Bem-Aventurança que é nosso verdadeiro Ser, autocondenando-nos assim a múltiplas limitações e misérias existenciais. Esta inteligente pesquisa é o alvorecer de uma abençoada libertação que todos, conscientemente ou não, desejamos. (...)" 

(José Hermógenes - Iniciação ao Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 113/115)


quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

QUEM TEM FÉ EM DEUS ESTÁ LIVRE DA DÚVIDA


“É fácil realizar ações extraordinárias que nos trazem nome e fama. O caráter de um homem, porém, se conhece pelas pequenas ações cotidianas. O verdadeiro karma yogi não faz publicidade de suas ações. Não importa o quão insignificante possa ser seu trabalho, ele se dedica à tarefa de coração e alma, porque, para ele, trata-se de um ato de adoração a Deus.

Todo mundo prefere fazer o que mais gosta. O segredo do trabalho, contudo, não é esse. Em qualquer ação que realizarem, gostem dela ou não, saibam que se trata de uma ação de Deus e que devem se ajustar a ela da melhor maneira possível. Lembrem-se de que tudo deve ser realizado como um ato de adoração a Deus. Com três quartos da mente pensem em Deus e com o resto realizem seu trabalho. Se puderem agir assim, seu trabalho será realmente um ato de adoração e seus corações ficarão repletos de felicidade.

Não desistam de suas práticas espirituais sob nenhuma circunstância. Se deixarem de praticar o japa e a meditação para se dedicarem apenas ao trabalho, o sentimento de egoísmo certamente surgirá e vocês serão a causa de desentendimentos e desarmonia. (...)

Esse é o verdadeiro segredo da ação. Aprendam primeiro a gostar do que fazem, mas não criem expectativas quanto aos resultados de seu trabalho. Somente quando forem capazes de realizar qualquer ação como um ato de adoração a Deus, apreciarão o que fizerem e não sentirão apego pelos frutos de suas ações. (...)

Sejam pessoas ativas, mas lembrem-se sempre de Deus. Tenham fé! Sem ela ninguém chega até Ele. Quem tem fé verdadeira, com certeza já alcançou Deus. Se tiverem fé numa moeda, ela terá valor, mas, sem fé, para vocês nem uma moeda de ouro terá valor. Quem tem fé em Deus está livre da dúvida. Sem renúncia não pode haver fé nem devoção. A renúncia é algo de suma importância, pois é ela que destrói todo o ego."

(Swami Prabhavananda e Swami Vijoyananda - O Eterno Companheiro – Ed. Vedanta, São Paulo - p. 262/263)
http://www.vedanta.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=75&Itemid=82