OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


Mostrando postagens com marcador dor. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador dor. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 10 de agosto de 2021

MÁGOA E FRUSTRAÇÃO

"Nossas atitudes mentais e emocionais diante das decepções podem assumir muitas formas. Mágoas ou ressentimentos profundos podem resultar em dissensão, doença ou divórcio. A perda de um ente querido pode ser seguida de neuroses e perca de amor-próprio. A insatisfação no trabalho pode dar origem a fadiga, dores de cabeça e crescente irritação. O fracasso em estar à altura de nossas expectativas ou de outros pode resultar numa culpa paralisadora ou num desejo de nos autopunir. 

No entanto, a dor de esperanças perdidas não precisa nos aleijar para sempre. Devemos reservar algum tempo para descobrir a causa de nosso desespero. Podemos deixar a tristeza nos dominar ou deixá-la trabalhar em nosso benefício, tomando consciência de que a dor é muitas vezes uma indicação de atitudes prejudiciais que precisam ser abandonadas ou modificadas, tornando-se mais saudáveis. 

Gibran Khalil Gibran, autor de O Profeta, descreve o uso construtivo do sofrimento da seguinte maneira: 'Grande parte do vosso sofrimento é por vós próprios escolhida. É a amarga poção com a qual o médico que está em vós cura o vosso Eu doente'.

Hoje deixe-me entender que sou responsável por grande parte dos desconfortos que sinto. Já que minhas atitudes ajudaram a criar o problema doloroso, também tenho dentro de mim as atitudes saudáveis para resolvê-lo. Trabalharei para vencer minha dor e para sanear os pensamentos que limitam e impedem que eu atinja minha plenitude."

(Por Liane Cordes - O Lago da Reflexão, Meditações para o autoconhecimento - Ed. Best Seller, 3ª Edição - p. 63)


quinta-feira, 1 de abril de 2021

O SIGNIFICADO DA DOR - 4a (PARTE FINAL)

"(...) Poucos têm a coragem, ainda que lentamente, de enfrentar a grande desolação que se encontra fora deles mesmos, e lá repousar, enquanto apegam-se à pessoa que representam, o 'eu' que para eles é o centro do mundo, a causa de toda a vida. Em seu anseio por um deus, eles encontram a razão da existência de um; no desejo por um corpo sensorial e um mundo para desfrutar, a causa do Universo existe para eles. Essas crenças podem estar ocultas muito abaixo da superfície e, de fato, de difícil acesso; mas a razão pela qual o ser humano se mantém em pé, está no fato de que as crenças lá se encontram. Ele é, para si mesmo, o infinito e o deus; sustenta o oceano em uma taça. Nesta ilusão ele nutre o egoísmo que torna a vida prazerosa e a dor agradável. Nesse profundo egoísmo está a causa e a fonte da existência do prazer e da dor, pois a menos que o indivíduo vacilasse entre estes dois, e incessantemente lembrasse a si mesmo, pela sensação, de que o egoísmo existe, ele o esqueceria. E, nesse fato, está toda a resposta à pergunta: 'Por que o homem cria dor para seu próprio desconforto?'

O fato estranho e misterioso permanece, até então, inexplicável; ao se iludir, o ser humano meramente interpreta a Natureza ao contrário e atribui a significação da vida às palavras de morte. Para aquele indivíduo que realmente segura o infinito dentro de si, e que o oceano realmente está na taça, é uma verdade incontestável; mas unicamente é assim, porque a taça é absolutamente inexistente. É meramente uma experiência do infinito, impermanente, sujeita a ser destroçada a qualquer instante.

É na reivindicação da realidade e da permanência dos quatro muros de sua personalidade que o ser humano comete o grande erro, mergulhando numa série prolongada de incidentes infelizes e intensificando continuamente a existência de suas formas favoritas de sensação. Prazer e dor se tornam para ele mais reais do que o grande oceano do qual ele faz parte e onde encontra seu lar; perpétua e dolorosamente bate contra esse muros, nos quais sente, e seu eu mesquinho oscila dentro de sua prisão escolhida." 

(Mabel Collins - Através dos Portais de Ouro - Ed. Teosófica, Brasília, 2019 - p. 102/104)
www.editorateosofica.com.br 


terça-feira, 30 de março de 2021

O SIGNIFICADO DA DOR - 4

"Uma lição definida aprendida por todos aqueles que sofrem intensamente será de grande utilidade para a nossa consideração. Na dor intensa atinge-se um ponto em que ela é indistinguível do seu oposto, o prazer. Isso é verdade, porém, poucos têm o heroísmo ou a força para sofrer até um grau tão extraordinário. É tão difícil alcançá-lo como é pelo outro caminho. Apenas uns poucos eleitos têm a gigantesca capacidade para o prazer, que lhes permitirá viajar para o seu oposto. A maioria somente tem força suficiente para desfrutar e se tornar escrava do prazer. No entanto, o indivíduo tem indubitavelmente dentro de si o heroísmo necessário para a grande jornada; porém, como é que os mártires sorriram em meio à tortura? Como é que o pecador profundo que vive por prazer pode, finalmente, sentir em si mesmo a inspiração divina?

Em ambos os casos, tem surgido a possibilidade de encontrar o caminho; mas muitas vezes essa possibilidade é eliminada pelo desequilíbrio da natureza sobressaltada. O mártir adquiriu uma paixão pela dor e vive com a ideia de um sofrimento heroico; o pecador se torna cego pela ideia da virtude e a adora como um fim, como um objeto, uma coisa divina em si mesma; visto que somente pode ser divina como uma parte desse todo infinito que inclui tanto o vício quanto a virtude. 

Como é possível dividir o infinito - aquilo que é um? É tão razoável conceder divindade a qualquer objeto, como tomar uma taça de água do oceano e declarar que nela está contido o oceano. Você não pode separá-lo; a água salgada faz parte do imenso mar e assim deve ser; mas mesmo assim você não segura o mar na sua mão. Os seres humanos desejam tão ansiosamente o poder pessoal, que estão prontos para colocar o infinito em uma taça, a ideia divina em uma fórmula - imaginando possuí-la. Estes são apenas aqueles que não podem se levantar e se aproximar dos Portais de Ouro, pois o grande sopro da vida os confunde; são golpeados pelo horror ao descobrir quão enormes são esses Portais. O adorador de um ídolo mantém, em seu coração, a imagem de seu ídolo e sempre queima uma vela diante do mesmo. É o seu ídolo e se compraz com esse pensamento, embora se incline reverentemente diante dele. Quantos seres humanos virtuosos e religiosos não se encontram nesse mesmo estado? Nos recessos da alma, a lâmpada está queimando diante de um deus doméstico - uma coisa possuída por seu adorador e sujeita a ele. Os indivíduos se apegam com desesperada tenacidade a estes dogmas, a estas leis morais, a estes princípios e modos de fé, que são seus deuses domésticos, seus ídolos pessoais. Peça-lhes que queimem a chama incessante em reverência apenas ao infinito, e eles se afastam de você. Seja qual for a maneira como eles desprezam o seu protesto, dentro deles mesmos deixam uma sensação de doloroso vazio. Pois a nobre alma dos seres humanos, aquele poderoso rei que está dentro de todos nós, sabe perfeitamente bem que esse ídolo doméstico pode, em qualquer momento, ser derrubado e destruído - que em si mesmo carece de toda finalidade, sem nenhuma vida real e absoluta. E ele se contentou em possuí-lo, esquecendo-se de que tudo que é possuído só pode ser mantido, temporariamente, pelas leis imutáveis da vida. Ele esqueceu que o infinito é seu único amigo; esqueceu que em sua glória está seu único lar - que somente ele pode ser seus deus. Lá ele se sente como se fosse desamparado; mas, entre os sacrifícios que oferece ao seu próprio e especial ídolo, ele encontra um breve local de descanso; e por isso se apega apaixonadamente ao ídolo. (...)" continua...

(Mabel Collins - Através dos Portais de Ouro - Ed. Teosófica, Brasília, 2019 - p. 99/102)
www.editorateosofica.com.br 


quinta-feira, 25 de março de 2021

O SIGNIFICADO DA DOR - 3

"A primeira coisa que é necessária a ser realizada pela alma humana, a fim de envolver-se neste grande esforço de descobrir a verdadeira vida, é o mesmo realizado pela criança em seu primeiro desejo de atividade no corpo - ela deve ser capaz de ficar de pé. É claro que o poder de manter-se firme, do equilíbrio, da concentração, da retidão na alma são qualidades de um caráter forte. A palavra que se apresenta mais prontamente como descritida dessas qualidades é 'confiança'.

Permanecer imóvel em meio à vida e às suas mudanças, firme no lugar escolhido, é uma façanha que só pode ser realizada por aquele que confia em si mesmo e em seu destino. Caso contrário, as apressadas formas de vida, a maré apressada dos indivíduos, as grandes inundações de pensamento, inevitavelmente os levarão consigo, e então ele perderá aquele lugar de consciência de onde era possível iniciar o grande empreendimento. Este ato do indivíduo recém-nascido deve ser levado a cabo conscientemente, e sem pressão externa. Todos os grandes da Terra possuíram essa confiança e permaneceram firmemente naquele lugar que para eles era o único ponto sólido no Universo. Para cada indivíduo este lugar é necessariamente diferente. Cada um deve encontrar sua própria terra e seu próprio céu. 

Temos o desejo instintivo de aliviar a dor, mas para isso, como em tudo o mais, trabalhamos externamente. Nós simplesmente a aliviamos; e se fizermos mais, e a expulsarmos da primeira fortaleza escolhida, ela reaparecerá em algum outro lugar com vigor reforçado. Se for finalmente expulsa do Plano Físico por um esforço persistente e bem-sucedido, reaparece nos Planos Mentais ou Emocionais, onde nenhum indivíduo pode tocá-la. Que isto é assim é facilmente visto por aqueles que conectam os vários planos da sensação, e que observam a vida com aquela iluminação adicional. Os seres humanos geralmente consideram essas diferentes formas de sentimento como realmente separadas, ao passo que, na verdade, elas são evidentemente apenas lados diferentes de um centro - o ponto da personalidade. Se aquilo que brota no centro, a fonte da vida, exige alguma ação impeditiva, e consequentemente causa dor, a força assim gerada, sendo expulsa de uma fortaleza deve encontrar outra; não pode ser expulsa. E todas as combinações da vida humana que causam emoção e angústia existem para seu uso e propósitos, da mesma forma aquelas que geram prazer. Ambas têm seu lar no ser humano; ambas exigem sua expressão de direito. O maravilhoso e delicado mecanisno da estrutura humana. é construído para responder ao seu mais leve toque; as extraordinárias complexidades das relações humanas evoluem, por assim dizer, para a satisfação desses dois grandes opostos da alma.

A dor e o prazer estão distantes e separados, assim como ambos os sexos; e é na fusão, tornando os dois em um, que a alegria, a profunda sensação e a paz são obtidas. Onde não há nem macho nem fêmea, nem dor nem prazer, há o deus no indivíduo dominante, e assim é a vida real.

Assim, afirmar esta questão pode ter muito das características do dogmático que pronuncia suas afirmações a partir de um púlpito seguro, sem contradições; porém, é unicamente dogmatismo, como é dogmatismo o registro do esforço de um cientista em uma nova direção. A menos que se possa provar que a existência dos Portais de Ouro é real, e não mera fantasmagoria de visionários fantasiosos, então não vale a pena falar sobre eles. No Século XIX, fatos concretos ou argumentos legítimos só apelam para a mente dos seres humanos; e tanto melhor. Pois, a menos que a vida em que avançamos seja cada vez mais real e efetiva, é inútil o tempo desperdiçado em ir atrás dela. A realidade é a maior necessidade do ser humano, e ele a exige a qualquer custo, a qualquer preço. Então que seja. Ninguém duvida que ele tenha razão. Deixe-nos assim irmos em busca da realidade."

(Mabel Collins - Através dos Portais de Ouro - Ed. Teosófica, Brasília, 2019 - p. 95/98)


terça-feira, 23 de março de 2021

O SIGNIFICADO DA DOR - 2c

"(...) Não podemos encontrar nenhum ponto da escala do ser em que a causação da alma cesse ou possa cessar. A ostra vagarosa deve ter em si mesma aquilo que a faz escolher a vida inativa que leva; ninguém mais pode escolher por ela, mas somente a alma por detrás, o que ela se tornará. De que outra forma ela pode, de algum modo, ser ou estar onde está? Somente pela intervenção de um criador impossível, chamado por um ou outro nome.

É porque o indivíduo é tão ocioso, tão indisposto a assumir ou aceitar a responsabilidade, que ele recorre a um paliativo temporário de um criador. É de fato temporário, pois só dura durante a atividade do poder de um cérebro pessoal que encontra seu lugar entre nós.

Quando o indivíduo deixa essa vida mental para trás, ele necessariamente parte com sua lanterna mágica e as ilusões agradáveis que ele invocou através de sua própria ajuda. Esse movimento deve ser bastante desconfortável, e deve produzir uma sensação de nudez não corrompida por nenhuma outra sensação. Recusando-se a aceitar fantasmas irreais como sendo de carne, osso e poder, ele, aparentemente, também se salva dessa experiência desagradável.

O ser humano gosta de empurrar a responsabilidade não apenas de sua capacidade de pecar e da possibilidade de sua salvação, mas de sua própria vida, sua própria consciência, sobre os ombros do Criador. Ele se contenta com um pobre Criador - aquele que se satisfaz com um universo de fantoches, e diverte-se ao puxar suas cordas. Se ele é capaz de tal prazer, deve estar ainda em sua infância. Talvez seja assim, afinal de contas do Deus dentro de nós está em sua infância, e recusa-se a reconhecer seu elevado estado.

Se, de fato, a alma do ser humano está sujeita às leis do crescimento, da decadência e do renascimento de seu corpo, então não é de admirar sua cegueira. Evidentemente, isso não é assim; pois a alma do ser humano é daquela ordem da vida que origina estrutura e forma, não sendo afetada por tais coisas - daquela ordem da vida que, como a chama pura e abstrata, queima onde for acesa. Isso não é afetado ou alterado pelo tempo, e o crescimento e a decadência são de sua natureza superior. Permanece naquele lugar primitivo, que é o único trono de Deus; aquele lugar de onde emergem as formas de vida e para onde elas retornam. Esse lugar é o ponto central da existência, onde há um ponto permanente de vida, como existe no centro do coração humano. Por meio do desenvolvimento igual - primeiro pelo reconhecimento do mesmo e, então, por seu harmônico desenvolvimento sobre as muitas linhas radiantes da experiência - que o homem é finalmente habilitado a alcançar o Portal de Ouro e erguer o trinco. O processo é o reconhecimento gradual do deus em si mesmo; a meta é alcançada quanto essa divindade é conscientemente restaurada à sua justa glória." 

(Mabel Collins - Através dos Portais de Ouro - Ed. Teosófica, Brasília, 2019 - p. 92/94)


quinta-feira, 18 de março de 2021

O SIGNIFICADO DA DOR - 2b

"(...) O indivíduo do mundo, puro e simples, é de longe o melhor observador prático e filosófico a respeito da vida, porque não está cego pelos preconceitos. Sempre o encontraremos acreditando que colherá aquilo que semeia. E isso é tão evidentemente verdadeiro, que ao ser considerado com uma visão mais ampla, incluindo toda a vida humana, torna compreensível o horrível Nêmesis⁵, que parece perseguir, conscientemente, a raça humana - essa inexorável aparência de dor no meio do prazer.

Os grandes poetas gregos viram essa aparição tão claramente que o registro de suas observações deu a ideia, a nós, observadores mais jovens e mais cegos, desse fato. É improvável que uma raça tão materialista como a que cresceu no Ocidente tenha descoberto por si mesma a existência dessa fator terrível na vida humana, sem a assistência dos poetas mais antigos - os poetas do passado. A propósito, podemos notar nisso um valor distinto do estudo dos clássicos - que grandes ideias e fatos sobre a vida humana, que são inseridos em suas poesias, pelos antiquíssimos anciões, não serão absolutamente perdidos, como acontece em suas artes. 

Sem dúvida o mundo florescerá novamente, e pensamentos mais amplos e descobertas mais profundas do que as do passado serão a glória dos seres humanos que surgirão no futuro; mas até esse longínquo dia chegar, os tesouros deixados não foram demasiadamente valorizados.

Há um aspecto da questão que, à primeira vista, parece positivamente negativo quanto a este modo de pensar; é o sofrimento no corpo físico, aparentemente puro, dos seres ignorantes, das crianças pequenas e dos animais - e a necessidade desesperada do poder, que advém de qualquer tipo de conhecimento, para ajudá-los em seus sofrimentos.

A dificuldade que surge na mente com relação a isso vem da ideia insustentável da separação da alma do corpo. Supõem-se que todos aqueles que olham apenas para a vida material (especialmente os médicos) que o corpo e o cérebro são pares, que convivem lado a lado, e reagem um sobre o outro. Além disso, eles não reconhecem e não admitem nenhuma causa. Esquecem que tanto o cérebro quanto o corpo são evidentemente meros mecanismos, assim como a mão ou o pé. Há o ser interno - a alma - por detrás, usando todos esses mecanismos; e isso é, evidentemente, a verdade, conhecida por todos nós, em relação a todas as existências e também no que diz respeito ao próprio indivíduo. (...)" continua...

⁵. Na mitologia grega, deusa da vingança e da justiça distributiva. (N.E.)

(Mabel Collins - Através dos Portais de Ouro - Ed. Teosófica, Brasília, 2019 - p. 89/92)


terça-feira, 16 de março de 2021

O SIGNIFICADO DA DOR - 2a

"(...) Se a dor é o resultado de um desenvolvimento desigual, de crescimentos monstruosos, de avanços defeituosos em diferentes pontos, por que o ser humano não aprende a lição e esforça-se para desenvolver-se por igual?

Parece-me que a resposta a essa pergunta seria que esta é a verdadeira lição que a raça humana está empenhada em aprender. Talvez isso seja uma afirmação ousada demais a ser feita diante do pensamento comum, que considera o ser humano como criatura do acaso que vive no caos ou como uma alma ligada à inexorável roda da carruagem de um tirano, lançada ao céu ou precipitada no inferno. Mas tal modo de pensar é, afinal de contas, o mesmo que o da criança que considera seus pais os árbitros finais de seus destinos e, de fato, como os deuses ou demônios de seu universo. À medida que cresce, ela deixa de lado essa ideia, descobrindo que é simplesmente uma questão de amadurecimento, que é governante da sua própria vida, como qualquer outro.

Assim é com relação à raça humana. Ela é a governante do mundo, árbitro de seu próprio destino, e não há quem disso discorde. Aquele que fala de providência ou casualidade não se deu ao trabalho de pensar.

O destino, o inevitável, existe na verdade, tanto para a raça como para o indivíduo; mas quem pode declarar isso, senão ele mesmo? Não há nenhuma nuvem no céu ou na terra para a existência de qualquer mandante que não seja o próprio ser humano, que sofre ou desfruta daquilo que ele mesmo ordena. Sabemos tão pouco de nossa própria constituição, somos tão ignorantes de nossas funções divinas que nos é impossível, ainda, saber o quanto somos realmente o próprio destino. Mas sabemos disso pelos eventos - que até onde qualquer percepção alcance, nanhuma dica ainda foi descoberta sobre a existência de um mandante; enquanto que, se concedermos muito pouca atenção à nossa própria vida, a fim de observar a ação do indivíduo em seu futuro, logo percebemos, em operação, esse poder como uma força real. É visível, embora nosso alcance de visão seja muito limitado. (...)" continua...

(Mabel Collins - Através dos Portais de Ouro - Ed. Teosófica, Brasília, 2019 - p. 87/89)


quinta-feira, 11 de março de 2021

O SIGNIFICADO DA DOR - 2

"Se considerarmos cuidadosamente a constituição do ser humano e suas tendências, pareceria haver duas direções definidas nas quais ele cresce. Ele é como uma árvore que cria suas raízes no solo, ao mesmo tempo em que ergue seus novos ramos em direção aos céus. Essas duas linhas que partem de um ponto pessoal e central são claras, definidas e inteligíveis. A uma, ele chama bem, a outra, mal. Mas o indivíduo não é, de acordo com qualquer analogia, observação ou experiência, uma linha reta. Sua vida, seu progresso, seu desenvolvimento, chame-se como queira, não consiste meramente em seguir um caminho reto ou outro, como alegam os filiados às religiões. Toda a questão, o grande problema, seria facilmente resolvido então. Porém, não é tão fácil ir para o inferno como os pregadores declaram ser. É uma tarefa tão difícil quanto encontrar o caminho para o Portal de Ouro.

Um indivíduo pode destruir-se completamente no prazer dos sentidos - ao que parece, pode degradar toda a sua natureza - mas ele falha em tornar-se o diabo perfeito, pois ainda há a centelha da luz divina em seu interior. Ele busca escolher a estrada ampla que leva à destruição, e bravamente entra num impetuoso percurso. Mas logo ele é controlado e surpreendido por uma tendência impulsiva - algumas das muitas outras radiações que saem do centro de si mesmo. Ele sofre, como sofre o corpo quando desenvolve monstruosidades que impedem sua ação saudável. Criou sua dor e tem se encontrado com sua prória criação. Pode parecer que esse argumento é de difícil aplicação em relação à dor física. Não é assim, se o indivíduo é considerado de um ponto de vista mais elevado do que aquele que geralmente ocupamos. Se ele é visto como uma consciência poderosa que forma suas manifestações externas de acordo com seus desejos, então é evidente que a dor física resulta da deformidade desses desejos. Sem dúvida, parecerá a muitas mentes que essa concepção de ser humano é demasiadamente gratuita, e envolve um salto mental muito grande para lugares desconhecidos, onde a prova é inatingível. Mas se a mente está acostumada a encarar a vida deste ponto de vista, muito em breve nenhum outro é aceitável; os fios da existência, que ao observador materialista parecem desesperadamente emaranhados, separam-se e ajustam-se, de modo que uma nova compreensão ilumine o Universo. O criador arbritário e cruel que inflige dor e prazer à vontade então desaparece de cena; e isso é bom, pois ele é realmente um personagem desnecessário, e, pior ainda, é uma mera criatura de palha, que não pode nem mesmo erguer-se sobre as tábuas sem o apoio dos dogmáticos. O ser humano vem a este mundo, certamente, com o mesmo princípio que ele vive em qualquer cidade; em todo caso, se é demais afirmar isso, pode-se perguntar com segurança, por que não é assim? Não existem para isso razões nem pró e nem contra pelas quais os materialistas possam apelar ou que pesariam em um tribunal de justiça; mas eu afirmo isso a favor do argumento - que nenhum indivíduo, tendo uma vez considerado isso seriamente, pode voltar-se às teorias formais dos céticos. Seria o mesmo que se envolver em cueiros, como um recém-nascido. 

Concordando com esse argumento, que o ser humano é uma consciência poderosa, seu próprio criador, seu próprio juiz e que em seu interior reside, potencialmente, toda a vida, até o objetivo final, consideremos, então, as razões pelas quais ele se inflige o sofrimento. (...)" continua... 

(Mabel Collins - Através dos Portais de Ouro - Ed. Teosófica, Brasília, 2019 - p. 84/87)


terça-feira, 9 de março de 2021

O SIGNIFICADO DA DOR

"Lance um olhar para o âmago profundo da vida. De onde vem a dor que obscurece a existência dos seres humanos? Ela está sempre no limiar, e atrás dela encontra-se o desespero. 

O que são essas duas figuras esqueléticas e por que lhes é permitido serem nossas companheiras constantes?

Somos nós que as permitimos, nós que as ordenamos, quando permitimos e ordenamos a ação dos nossos corpos; e fazemos isso inconscientemente. Mas, por meio de experimentos e investigações científicas, aprendemos muito sobre nossa vida física; e parece que podemos obter, pelo menos, igual resultado em relação à nossa vida interior, adotando métodos semelhantes.

A dor desperta, suaviza, quebra e destrói. Considerada de um ponto de vista suficientemente distante, ela surge, por sua vez, como um remédio, uma faca, uma arma, um veneno. Evidentemente, é um instrumento, uma coisa que é usada. O que desejamos descobrir é quem é o usuário; qual parte de nós que exige a presença dessa coisa tão odiosa para o restante? 

O medicamento é usado pelo médico, o bisturi pelo cirurgião; mas a arma da destruição é usada pelo inimigo, por aquele que odeia.

Será que apenas usamos meios, ou desejamos usá-los para o benefício de nossas almas, como também travamos guerra dentro de nós e combatemos no santuário interno? Aparentemente é assim, pois é certo que, se a vontade humana descontraísse em relação a essa batalha, não manteria mais a vida no estado em que a dor existe. Por que ele deseja sua própria dor?

A primeira vista, parece que ele deseja principalmente o prazer, e assim está disposto a continuar naquele campo de batalha, onde trava guerra com a dor, esperando sempre que o prazer conquiste a vitória e a leve para casa. Esse é apenas o aspecto externo do estado em que se encontra o ser humano.

Ele sabe, por si mesmo, que a dor é codirigente com o prazer e que, embora sempre se trave a guerra, ela nunca vencerá. O observador superficial conclui que o indivíduo se submete ao inevitável. Mas isso é uma falácia, indigno de discussão. Pensando um pouco mais seriamente, veremos que o indivíduo não existe, exceto pelo exercício de suas qualidades positivas; logicamente, supõe-se que ele escolhe, pelo exercício dessas mesmas qualidades, o estado em que viverá.

Admitido, então, devido ao nosso argumento, que o ser humano deseja a dor, porque ele deseja algo tão desagradável para si mesmo?" continua...

(Mabel Collins - Através dos Portais de Ouro - Ed. Teosófica, Brasília, 2019 - p. 81/84)


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

MORTE

"O nosso nascimento também dá origem aos sofrimentos da morte. Se, durante a nossa vida, tivermos trabalhado arduamente para adquirir posses, e se tivermos nos tornado muito apegados a elas, experienciaremos grande sofrimento na hora da morte, pensando: 'Agora, tenho de deixar todas as minhas preciosas posses para trás'. Mesmo agora, achamos difícil emprestar algum dos nossos mais preciosos bens, quanto mais dá-lo! Não é de surpreender que fiquemos tão infelizes quando nos damos conta de que, nas mãos da morte, temos de abandonar tudo. 

Quando morremos, temos de nos separar até mesmo dos nossos amigos mais próximos.Temos de deixar nosso companheiro ainda que tenhamos estado juntos durante anos, sem passar sequer um dia separados. Se formos muito apegados aos nossos amigos, experienciaremos grande sofrimento na hora da morte, mas tudo o que poderemos fazer será segurar suas mãos. Não seremos capazes de parar o processo da morte, mesmo se eles implorarem para que não morramos. Geralmente, quando somos muito apegados a alguém, sentimos ciúme caso ele (ou ela) nos deixe sozinhos e passe o seu tempo com outra pessoa; mas, quando morrermos, teremos de deixar nossos amigos com os outros para sempre. Teremos de deixar todos, incluindo nossa família e todas as pessoas que nos ajudaram nesta vida. 

Quando morrermos, este corpo que temos apreciado e cuidado de tantas e variadas maneiras terá de ser deixado para trás. Ele irá se tornar insensível como uma pedra e será sepultado sob a terra ou cremado. Se não tivermos a proteção interior da experiência espiritual, na hora da morte experienciaremos medo e angústia, assim como dor física. 

Quando a nossa consciência deixar nosso corpo na hora da morte, todas as potencialidades que acumulamos em nossa mente, por meio das ações virtuosas e não virtuosas que fizemos, irão conosco. Não poderemos levar nada deste mundo além disso. Todas as outras coisas irão nos decepcionar. A morte interrompe todas as nossas atividades – as nossas conversas, a nossa refeição, o nosso encontro com amigos, o nosso sono. Tudo chega ao fim no dia da nossa morte e temos de deixar todas as coisas para trás, até mesmo os anéis em nossos dedos. No Tibete, os mendigos carregam consigo um bastão para se defenderem dos cachorros. Para compreender a completa privação provocada pela morte devemos lembrar de que, na hora da morte, os mendigos têm de deixar até esse velho bastão, a mais insignificante das posses humanas. Ao redor do mundo, podemos ver que os nomes esculpidos em pedra são a única posse dos mortos."

(Geshe Kelsang Gyatso - Budismo Moderno - Ed. Tharpa Brasil, 3ª edição, 2015 - p. 53/54)


terça-feira, 13 de outubro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (2ª PARTE)

16. O sofrimento que ainda não chegou pode ser evitado.

Todavia, a questão é: ele é evitável? Como alguém pode dizer o que o futuro trará? E sem conhecê-lo, como podemos tomar qualquer medida para evitar o sofrimento futuro? É possível conhecer o futuro, pois de outro modo como poderíamos tratar com o futuro desconhecido? Estas são realmente questões relevantes. Se o futuro pudesse ser conhecido com absoluta precisão, então, com certeza todos os problemas poderiam ser resolvidos, pois tomaríamos as providências necessárias para enfrentar aquele futuro. A vida é tão imprevisível que falar de conhecer o futuro, sem dúvida, é incorrer em ilusões. Mas, como podemos nos preparar com antecedência para enfrentar o desconhecido? Como podemos fazer qualquer preparação contra os desafios do desconhecido? Qualquer preparação em função do conhecido, ou mesmo do conhecido modificado, não seria de proveito algum. O que é preciso, então, fazer para evitar o sofrimento que possa surgir do seio do futuro? É necessário compreender na íntegra o problema do sofrimento sem restrição do passado, presente ou futuro. O que é sofrimento e por que o homem sofre? No sutra que se segue, Patañjali aborda um ponto crucial com relação a todo o problema do sofrimento."

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 93/94)


terça-feira, 29 de setembro de 2020

ATRAÇÃO E REPULSÃO

 "A natureza da matéria é atração e repulsão. A estrutura atômica se mantém pelo equilíbrio dessas duas forças: o positivo e o negativo. Também no espaço infinito os satélites e planetas formam sistemas sob o comando de uma estrela, graças à atração e repulsão. Na vida da natureza esse jogo está presente, significando harmonia. Somente no reino humano o equilíbrio se desfaz. Por quê? Graças ao livre-arbítrio.

Ao mesmo tempo em que a liberdade para agir eleva o homem na escala da natureza - desenvolvendo poderes divinos dentro dele -, pesa-lhe a condição de sofrer enquanto atuar menos racionalmente que seus próprios irmãos menores, os animais. 

O Budismo refere-se ao 'caminho do meio', que é a opção do equilíbrio, a ser alcançada pelo exercício da moderação em tudo que fazemos. Por essa razão, no texto conhecido como Óctupla Senda, Buda menciona uma das principais fontes de dualidade e sofrimento: o desejo, que é movido por atração e repulsão.

Ao entrar em contato com algo que nos desagrada, o que acontece? Buscamos imediatamente o lado contrário, à semelhança do vaivém do pêndulo de um relógio. Esse impulso se alimenta do desejo (corpo emocional) e também da reatividade (corpo mental), funcionando como 'almas gêmeas' dentro de nossa própria alma. Tudo aquilo que repelimos é o oposto que não queremos ver - mas obviamente continua a existir - e segue nossos passos. Temo algo que aprender ali. 

Fruto da mente em estado de excitação, apego e temor, a reatividade não deixa margem à reflexão. Nossa incapacidade de ouvir começa por aí, especialmente se o argumento do outro contraria a 'verdade' que é simplesmente o nosso interesse. Enquanto fingimos prestar atenção ao que o outro diz, estamos arquitetando a resposta. A grande dificuldade experimentada nos relacionamentos - sob o nome de 'incompatibilidade de gênios' - tem nessa característica mental sua principal origem. 

Quanto ao desejo, sua direção obviamente é o prazer. Nosso movimentos são baseados na expectativa do prazer, seja emocional ou mental - o que acontece no corpo físico é somente um reflexo. Por trás do prazer, no entanto, há o fatalismo da dor, assim como as duas faces de uma moeda: uma não existe sem a outra.

Na questão dos vícios que envolvem atos físicos (alcoolismo, tabagismo), o oposto do prazer é visível no corpo, que reage e adoece ao longo do tempo. O reverso do prazer está ali, mas não conseguimos vê-lo. E se por acaso vemos - mantendo o vício -, naturalmente achamos que o sacrifício compensa, não percebendo a real extensão da dor pelo bloqueio na consciência. Dentro do jogo de atração e repulsão, fechamos os olhos ao sofrimento em gestação, escolhendo o prazer fatídico de agora. 

Em outros tipos de vício, ligados ao pensamento e aos sentimentos, a dificuldade de enxergar o oposto ainda é maior. Sendo ações repetitivas fora de nosso controle, os vícios geram automatismos energéticos impostos à nossa maneira de sentir e de pensar, facilitando o retorno daqueles pensamentos e sentimentos com mais força.

O vício, portanto, não é só uma questão física. Pensamentos repetidos de inveja, maledicência, luxúria e mentira são comportamentos viciosos, cujo prazer tem como oposto a angústia, falta de autoconfiança, o vazio interior e outros reflexos da ausência de amor e de comprometimento em nossa vida. Às vezes chamamos isso de 'má sorte', ignorando que a sorte - seja ela qual for - é criação exclusiva de nossa mente, e está em nossas próprias mãos." 

(Walter S. Barbosa - Atração e repulsão - Revista Sophia, Ano 14, nº 59 - p. 9)


terça-feira, 18 de agosto de 2020

OS CORPOS EM SEU ASPECTO DE PONTES

Semeando Luz: 21 Verdades sobre evolução espiritual"Durante largo tempo, o ego utiliza seus corpos astral e mental como se fossem pontes para chegar ao mundo físico, e não como instrumentos para se relacionar com os mundos aos quais respectivamente pertençam devido à sua constituição.

A consciência do ego flui e reflui através de suas roupagens astral e mental, e as vibrações da matéria que acompanham as permutas de consciência em cada uma das ditas roupagens se transmitem de uma a outra até atingir a física.

Convém ter presente que as três classes de matéria se interpenetram mutuamente, como sucede com os sólidos, líquidos e gases no corpo físico; e assim a vibração de uma delas provoca a vibração nas outras duas, Os contatos do mundo físico levantam na matéria do corpo físico vibrações que, transmitidas pelos corpos astral e mental, chamam a atenção do ego, afetando sua consciência de modo a perceber algo exterior a ela.

Os órgãos sensoriais do corpo físico vão se aperfeiçoando durante a idade de evolução, e a faculdade perceptiva do ego se aproveita destes órgãos para indagar a causa da comoção. Seus primeiros esforços mentais relacionam a comoção de seus corpos com a causa que a reproduz no mundo físico.

A comoção do corpo astral é umas vezes prazenteira e outras penosa, determinando no primeiro caso o desejo de reiteração e no segundo o de evitação. O corpo físico se aproxima então ou se afasta do objeto causador do prazer ou da dor. Assim começa a educação do ego em seu contato com o mundo físico. Estimulam esta educação homens altamente evoluídos em mundos passados, que lhe ensinam a ordenação em que nasceu a pessoa e com a qual deve conformar-se se quiser evitar a dor. O homem conhece por experiência que é  verdade quanto lhe ensinam seus mestres, pois sofre ou goza segundo o advertiram, e assim vai adquirindo experiência. Enquanto sua percepção do mundo externo se resume ao físico, onde fixa sua atenção, a constante transferência de ondas vibratórias ao corpo mental, através do físico e do astral, assim como as respectivas vibrações do corpo mental, transferidas pelo astral, organizam os corpos astral e mental de modo que, sem cessar, estão evolucionando e se dispondo a perceber mais adiante seus respectivos mundos. Depois, são evoluídos notavelmente por experiências de além-túmulo. Somente é consciência física o que se manifesta no cérebro físico por transmissão dos corpos mental e astral."

Annie Besant - A Vida do Homem em Três Mundos - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 104/105)

quinta-feira, 30 de abril de 2020

O CORPO DOS DESEJOS

Arquivo para corpo de desejos - Gnosis Online"Emprego aqui a palavra desejo em seu significado geral, muito embora se possa aplicar à atração ou repulsão de múltiplos objetos. A consciência procura desfrutar o prazer e evitar a dor, motivo por que propende para os objetos de prazer, recusando os dolorosos. O prazer pode elevar o homem a um supremo êxtase de amor, devoção e sacrifício, ou atirá-lo ao mais profundo plano de luxúria bestial, ou dizendo melhor, infrabestial, pois raramente se constata dor ou prazer no reino animal. Do mesmo modo como o homem pode se elevar acima do bruto, também pode se depravar até muito abaixo dele. Sempre que o desejo de prazer busque um objeto prazeroso, a consciência tem de dispor de um centro sensorial para a tentação e de um órgão também sensorial para a atividade.

Os centros sensoriais estão no corpo dos desejos ou corpo astral, e os órgãos sensoriais no corpo de ação ou corpo físico. Os sutilíssimos desejos em que intervém poderosamente o pensamento se chamam emoções, e a matéria de que estão formados os centros sensoriais é do grau mais sutil do mundo astral, muito embora também se encontre nele matéria mental interfundida com o astral, da mesma sorte que o éter interpenetre os sólidos, líquidos e gasosos do nosso corpo físico. A matéria astral de grau mais denso e grosseiro serve para expressão dos desejos ignóbeis e maus.

Quando o homem, ajudado pelo seu deva ou anjo custódio, chega a certo ponto na construção do seu corpo mental, vivifica o núcleo de matéria astral que consigo reteve latente e inativo durante sua larga permanência no mundo celeste.¹³ As Escrituras hinduístas dizem que este núcleo de matéria astral se oferece a Parjanya, o deva da chuva ou da água. Em todas as religiões a matéria astral está simbolizada pela água, e portanto na citada frase se usa a água como símbolo do corpo astral ou segunda roupagem do homem. É o corpo instrumental da consciência Svapna ou superfísica que atua durante o sono comum do corpo físico, e o homem o conserva até sua passagem do mundo astral para o mundo mental depois da morte física. Está o novo corpo astral construído em congruência com o mental já parcialmente formado, pois deve ser formado logo em seguida, da mesma forma que se ajustam em um mesmo tom os bordões e primas de um violino. Se existe discordância embora passageira, dela resultará muitas aflições. 

Também esta segunda roupagem intercepta ou eclipsa algumas faculdades da consciência, que não encontram na matéria astral a plasticidade suficiente para todas as suas manifestações mentais. Os apetites, concupiscências, desejos, paixões, vícios e emoções têm no corpo astral seu campo de manifestação, e suas violentas vibrações afetam o corpo físico até o ponto de ocasionar fenômenos de que trataremos mais adiante."

¹³. Em termilogia teosófica chamam-se átomos permanentes os núcleos de matéria mental, astral e física que o verdadeiro homem retém consigo de uma a outra vida.

(Annie Besant - A Vida do Homem em Três Mundos - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 35/37)

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

CRISE EXTERIOR E CRISE INTERIOR

"O rigor e a dor de uma crise não são em absoluto determinados pelo fato objetivo. Penso que a maioria das pessoas pode verificar isso facilmente. A maioria das pessoas passou por mudanças sérias, exteriormente. Você pode ter perdido uma pessoa amada, pode ter-se defrontado com mudanças as mais drásticas e com fatos objetivamente traumáticos - guerras, revolução, perda de fortuna e habitação, doença. Entretanto, interiormente, você pode ter-se agitado e sofrido menos do que em situações que exteriormente não se poderiam comparar com a agitação de seus sentimentos interiores. Podemos assim dizer que uma crise exterior pode deixá-lo interiormente mais tranquilo do que uma crise interior. Às vezes o fato objetivamente mais traumático fere menos do que o fato objetivamente menos traumático. Na primeira instância, a mudança necessária ocorre num nível externo, e seu ser interior aceita com mais facilidade, ajusta-se ao melhor, e encontra um novo modo de lidar com ela. No segundo caso, a necessidade de mudança interior esbarra numa resistência maior. Sua interpretação  subjetiva do fato torna a crise desproporcionalmente dolorosa. Às vezes uma pessoa procura encontrar explicações racionais para uma intensidade emocional peculiar dessas - explicações que podem ser chamadas de racionalizações. Às vezes tanto as mudanças e crises interiores como as exteriores encontram a mesma atitude interior.

Quando o processo da crise é aceito e não é mais obstruído, quando a pessoa se põe a andar junto com ele em vez de lutar contra ele, o alívio chega de modo relativamente rápido. Quando o pus escorre do abscesso e as atitudes são ajustadas, a autorrevelação traz paz; a compreensão proporciona nova energia e vitalidade. O processo de cura está em andamento, mesmo quando o abscesso estoura.

A negação desse processo, a atitude interior prolonga a agonia, em meio à qual se diz: 'Eu não quero passar por isso. Tenho de passar por isso? Isto, isso e aquilo está errado com os outros. Se não estivesse, eu não precisaria passar pelo que passo agora.' Essa atitude procura evitar a erupção necessária do abscesso, que consiste num emaranhado doloroso de energia negativa sempre crescente cuja força torna cada vez mais difícil alterar o curso. O ciclo negativo continuado e sua repetição vã e automática de que a consciência não é capaz de parar produzem a desesperança. A repetição e a desesperança podem parar somente através de sua atitude de não mais negar a mudança necessária.

Toda experiência negativa, todo sofrimento, é resultado de uma ideia errada. Um aspecto importante desse trabalho é a articulação dessas ideias. E, entretanto, quantas vezes todos vocês ainda deixam de perceber isso por não manterem em mente esses fatos incontestáveis quando se defrontam com uma situação de infelicidade?

(Eva Pierrakos - O Caminho da Autotransformação - Ed. Cultrix, São Paulo, 2006 - p. 161/162)

terça-feira, 11 de junho de 2019

COMPAIXÃO, PAZ E LIBERDADE

"Quando a mente é virtuosa e paciente, temos tranquilidade. Quando ela está sob o controle da ira, não há paz nem felicidade, mesmo que vivamos num apartamento que custe milhões de reais, que nos alimentemos em restaurantes de luxo e usemos roupas caríssimas. Se não subjugarmos nossa mente e dela cuidarmos, nossa vida será sempre vivida em sofrimento, mesmo que sejamos ricos. Nosso sofrimento mental será maior do que se fôssemos mendigos.

Quando a mente é virtuosa e vibra na frequência da gentileza e da compaixão amorosa, há grande contentamento e uma incrível realização de paz. O sofrimento mental vem de uma sensação de descontentamento. Temos um apartamento, mas pensamos em adquirir um maior ou melhor. Temos uma TV, mas depois de algum tempo queremos uma melhor. O mesmo acontece com os automóveis. Se seguirmos essa atitude egoísta, será sempre assim: um caminho sem fim, o tempo todo buscando mais. Quando não obtemos as coisas que desejamos, vem o sofrimento.

A mente insatisfeita traz problemas demais, como brigas com familiares e amigos, desarmonia, medo, preocupação. Sentimos necessidade de tantas coisas que, mesmo quando envelhecemos, ainda não estamos felizes. Isso continua indefinidamente. Enquanto não pararmos a doença da mente insatisfeita, o sofrimento continuará presente.

Precisamos refrear a mente quando os problemas aparecem. Precisamos pensar, simplesmente: 'Esta é a mente insatisfeita; ela não tem fim. Enquanto eu prosseguir assim, isso jamais terminará. Não tenho certeza de que viverei muito tempo - talvez mais trinta ou quarenta anos. Minha existência não é permanente. A certeza de que viverei por muito tempo até que chegue o momento da minha morte não é confiável. Então, para mim basta. Tenho problemas demais apenas porque estou seguindo a mente insatisfeita.'

Se conseguirmos realmente refrear a mente e pensar dessa forma, a dor causada pela mente insatisfeita será imediatamente pacificada. Virá uma grande paz e uma sensação de liberdade. Quando nossa mente está satisfeita, vivemos a prática do dharma. O benefício de praticar o dharma é a paz imediata."

(Kyabje Lama Zopa Rinpoche - A mente insatisfeita - Revista Sophia, Ano 17, nº 79, p. 6)

sexta-feira, 6 de abril de 2018

A PULSAÇÃO DA MORTE (1ª PARTE)

"Não haveria nenhuma possibilidade de chegar a conhecer a morte se ela acontecesse só uma vez. Mas felizmente a vida não é mais que uma contínua dança de nascimento e morte, um bailado de mudanças. Toda vez que ouço o sussurrar de um ribeirão de montanha, ou as ondas quebrando na praia, ou ainda as batidas do meu coração, escuto o som da impermanência. Essas mudanças, essas pequenas mortes, são nossos elos vivos com a morte. Elas são o pulso da morte, o coração dela batendo, incitando-nos a largar todas as coisas a que somos apegados.

Vamos então trabalhar com essas mudanças agora, durante a vida: esse é o verdadeiro modo de nos prepararmos para a morte. A vida pode ser cheia de dor, de sofrimento e dificuldades, mas todas essas experiências são oportunidades que nos são dadas para nos ajudar a aceitar emocionalmente a morte. E só quando acreditamos que as coisas são permanentes que perdemos a oportunidade de aprender com a mudança.

Se desperdiçarmos essa possibilidade, fechamo-nos e nos deixamos dominar pelo apego. O apego é a fonte de todos os nossos problemas. Uma vez que a impermanência para nós é sinônimo de angústia, agarramo-nos desesperadamente às coisas, mesmo que todas elas mudem. Vivemos com pavor de soltar, com pavor do próprio viver, já que aprender a viver é aprender a soltar. E essa é a tragédia e a ironia da nossa luta pela permanência: ela não só é impossível, como nos traz exatamente a dor que procuramos evitar.

A intenção por trás da atitude de agarrar pode não ser ruim em si mesma; não há nada de errado com o desejo de ser feliz, mas aquilo a que tentamos nos agarrar é por natureza impossível de ser agarrado. Os tibetanos dizem que não se pode lavar a mesma mão suja duas vezes na mesma água corrente, e acrescentam: 'Não importa o quanto você esprema um punhado de areia, jamais obterá óleo dele'. (...)"


(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 57)


quarta-feira, 4 de abril de 2018

EMPATIA

"A você que aderiu à ideia de tornar-se 'servo bom e fiel', mais um pedido:

Procure conhecer, aí na vizinhança, em seu bairro, em lugar que lhe for acessível, uma ou mais instituições que prestam caridade. Sempre existe alguma e, infalivelmente, se debatendo em crises de sobrevivência, estará dependendo de sua colaboração. Há sempre indivíduos ou casas assistenciais que dependem de você e de mim. Há sempre pessoas desamparadas na velhice, esmagadas pela solidão ou por doenças, há sempre crianças cujo futuro - feliz ou desgraçado - estão precisando de sua cooperação e da minha.

Precisamos - você e eu - poder dizer assim:

'Meu Deus, estou cumprindo meus deveres de caridade, e nisto estamos encontrando a verdadeira felicidade, a de estarmos Te ajudando nas pessoas necessitadas.'

Se trocarmos a posição de quem pede pela posição de quem dá, nos enriqueceremos.

A dor dos outros dói em mim."

(Hermógenes - Deus investe em você - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1995 - p. 80/81)


terça-feira, 27 de março de 2018

CONTEMPLAR AS FALHAS DESTA VIDA

"Todos nós, seres humanos, desejamos ter felicidade nesta vida, mas passamos a maior parte do tempo sob o jugo do sofrimento. Para obter algum prazer ou felicidade, lutamos contra nossos inimigos e agradamos nossos parentes e amigos. Como nossos desejos não são satisfeitos, sentimos grande ansiedade e insatisfação e temos problemas. Na tentativa de satisfazer nossos desejos, passamos por grandes provações e encontramos muitas dificuldades. Sempre que somos prejudicados ou quando nossos desejos são obstruídos, revidamos o mal, envolvemo-nos em brigas e disputas e ferimo-nos uns aos outros com armas; por causa disso, imensa é a nossa dor física. Para satisfazer os desejos desta vida, também cometemos muitas ações não virtuosas por meio da nossa fala e da nossa mente. Esse precioso corpo humano plenamente dotado, tão raro de se obter, é inutilmente desperdiçado; gastamos todo o nosso tempo à procura da felicidade insignificante deste vida, expondo-nos a provações desnecessárias."

(Geshe Kelsang Gyatso - Contemplações Significativas - Ed. Tharpa Brasil, São Paulo, 2009 - p. 478)


sexta-feira, 23 de março de 2018

TEXTO ZAZEN WASAN

"Desde o princípio todos os seres são Budas.

Como a água e o gelo, sem água não há gelo,

Fora de nós não há Budas

Quão próximos da verdade, todavia quão longe a buscamos.

Como alguém dentro d'água gritando 'Tenho sede'.

Como uma criança de rica linhagem

vagueando neste terra como se fosse pobre,

nós vagueamos eternamente e damos voltas aos seis mundos.

A causa de nossa dor é a ilusão do ego.

De um caminho sombrio a outro vagueamos nas trevas,

Como podemos nos livrar da roda de samsara?

A passagem para a liberdade é o Samadhi Zazen,

além da exaltação, além de nossos louvores,

o puro Mahayana.

A observação dos preceitos, o arrependimento e o doar-se,

as incontáveis boas ações e o caminho do reto viver

surgem todos de Zazen.

Assim, um verdadeiro Samadhi extingue os males;

purifica o carma, dissolvendo as obstruções.

Então, onde estão os caminhos sombriso que nos fazem extraviar?


A Terra do Lótus Puro não é distante.

Ouvir esta verdade, coração humilde e agradecido,

louvá-la e abraçá-la, praticar sua sabedoria,

traz bênçãos intermináveis, montanhas de mérito.


Mas se nos voltarmos para o interior e provarmos de nossa Verdadeira natureza,

que o Verdadeiro eu é não eu,

que o nosso próprio Eu é não eu,

vamos além do ego e das palavras astutas.

Então o portal que leva à unidade de causa e efeito é aberto.

Nem dois e nem três, em frente segue o Caminho.

Sendo a nossa forma agora a não forma,

para virmos e irmos jamais saímos de casa.

Sendo o nosso pensamento agora não pensamento,

as nossas danças e as nossas canções são a voz do Dharma.

Como é vasto o céu de ilimitado Samadhi!

Como é claro e transparente o luar da sabedoria!

O que existe fora de nós, o que nos falta?

O Nirvana está totalmente aberto aos nossos olhos.

Esta terra onde estamos é a Terra do Lótus Puri.

É este mesmo corpo, o corpo de Buda."

(Hakuin Zenji - Além do Despertar - Ed. Teosófica, Brasília, 2006 - p. 27/28)