OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


quinta-feira, 29 de setembro de 2016

MATA A AMBIÇÃO (PARTE FINAL)

"(...) Nenhum ambicioso jamais é feliz porque o que ele quer está no futuro, e assim existe sempre um senso de que algo está faltando no presente. E, quando finalmente alcança sua meta, ela não o satisfaz, e ele fica desapontado, frustrado. 'A distância empresta encantamento à visão', e, quando verdadeiramente chegamos à cena, descobrimos que a grama não é tão verde quanto pensávamos ser. A satisfação cessa e então queremos algo mais. Finalmente, todas as nossas ambições azedam, por 'trabalhar para o eu é trabalhar para o desapontamento'. É muito importante que compreendamos isso, pois nas muitas coisas que fazemos existe a autobusca por adulação, elogio e adiantamento. 

Assim, o comentário diz: 'Mas, embora esta primeira regra pareça tão simples e fácil, não a ultrapasse muito rapidamente'. Podemos pensar que estamos livres da ambição, mas é muito difícil que assim seja. Esse trabalhar para o eu é realmente o produto de nossos apegos, que podem ser as coisas em diferente níveis - físico, astral, mental. Assim, podemos estar apegados a uma pessoa, a nossas posses, ou a nossas ideias. Qualquer que seja a natureza do apego, seu centro é o eu, e trabalhar para o eu é estar descontente porque sua própria natureza é buscar mais. 

O artista puro que ama sua arte, simplesmente gosta de praticá-la, e ele o faz. Mas muito raramente encontramos alguém assim. Muitos artistas são muito autoenvolvidos, intolerantes e têm ciúmes de outros que atingiram a mesma eminência. Certamente, existem artistas que pintam ou compõem desinteressadamente e não para a glória do eu e seus componentes. Mas podemos enganar-nos ao acreditar que estamos fazendo tudo para a glória de Deus com a implicação de que o que quer que façamos tenha sua aprovação; ou podemos pensar que o fazemos em nome do Mestre, carimbando assim nossas ações com seu nome. A mente pode enganar-se extraordinariamente. Devemos estar cônscios de todas essas sutilezas, dos vários processos de autodecepção, antes que possamos dizer que somos verdadeiramente sinceros."

(N. Sri Ram - Mata a ambição - Revista Theosophia, Ano 100, Outubro/Novembro/Dezembro de 2011 - Pub. da Sociedade Teosófica no Brasil - p. 16) 


quarta-feira, 28 de setembro de 2016

MATA A AMBIÇÃO (1ª PARTE)

"'Mata a ambição', escreve Mabel Collins em Luz no caminho (Ed. Pensamento). A ambição é um mal primário, mas é geralmente considerada pelo mundo em geral como sendo uma qualidade boa. O homem ambicioso é invejado pelos outros, e mesmo seus superiores fazem dele bom conceito porque ela faz o esforço necessário para obter a promoção cobiçada. Mas, do ponto de vista oculto (ou secreto, esotérico), a ambição é destrutiva e deve ser extirpada. Ela torna a pessoa insensível aos sentimentos, necessidades e bem-estar dos outros. Toda sua atenção está fixa sobre o objeto que deseja alcançar, e essa mesma concentração exclui tudo o mais de sua atenção, mesmo o sofrimento causado aos outros no fomento de sua ambição.

Embora compreendamos a natureza desse mal quando o vemos sob uma forma exagerada, não conseguimos reconhecê-lo em nós mesmos. Mas é verdade que as faltas que notamos nos outros provavelmente estão presentes, pelo menos em germe, em nós mesmos. Não estamos preocupados com a destruição de ídolos populares - as diferentes coisas que as pessoas adoram -. mas com nossos próprios ídolos particulares que adoramos secretamente em nossos corações.

Luz no caminho fala da ambição como 'a primeira maldição' e adverte que ela assume formas sutis no Caminho oculto. Podemos pensar que destruímos a ambição em nós mesmos, mas ela pode reaparecer com aspecto diferente, pois podemos ambicionar várias coisas mesmo no próprio Caminho. Podemos não nos preocupar com o elogio da 'massa ignara', descartando-o como algo sem valor. Mas é bem possível sermos sutilmente presunçosos; embora pareçamos não nos preocupar com a apreciação dos outros, podemos ainda estar enraizados no amor próprio e na vaidade, muitíssimo cônscios de nossas supostas habilidade e de nosso valor no caminho espiritual.

Ou podemos querer estar à frente dos outros que são devotados ao mesmo Mestre, sentir que de algum modo demos um passo que eles não deram. Mesmo que os outros não saibam que demos um passo, o fato de pensarmos que demos é suficiente; sentimo-nos superiores e autossatisfeitos. Isso pode ser tão sutil que, a não ser que prestemos muita atenção a nossos pensamentos, sentimentos e motivos, seja impossível evitá-lo. Podemos continuar meditando sobre a virtude da humildade que pensamos querer possuir, e ao mesmo tempo estarmos plenos desse egoísmo que está tão profundamente enraizado em todos nós. (...)"

(N. Sri Ram - Mata a ambição - Revista Theosophia, Ano 100, Outubro/Novembro/Dezembro de 2011 - Pub. da Sociedade Teosófica no Brasil - p. 15/16) 


terça-feira, 27 de setembro de 2016

EU OU EGO

"P: Mas qual é a distinção entre essa 'verdadeira individualidade' e o 'Eu ou Ego' de que todos temos consciência?

T: Antes de responder devo discorrer sobre o que você entende por 'Eu ou Ego'. Distinguimos entre o fato simples de consciência própria, o sentimento simples de que 'Eu sou eu', e o pensamento complexo de que sou o 'sr. Smith' ou 'a sra. Brown'. Acreditando como acreditamos, em uma série de nascimentos para o mesmo Ego, ou reencarnação, essa distinção é o eixo fundamental da ideia inteira. 'Sr. Smith' na realidade significa uma longa série de experiências diárias, todas unidas pela continuação da memória, formando aquilo que o sr. Smith chama de 'meu eu'. Mas nenhuma dessas 'experiências' é realmente o 'Eu' ou o 'Ego', nem produz ao sr. Smith a sensação de ser ele mesmo, pois esquece a maior parte de suas experiências diárias, e produzem nele o sentimento de egoidade unicamente enquanto duram. Portanto, nós, os teósofos, distinguimos entre esse conjunto de 'experiências' que chamamos de falsa personalidade (por ser tão fugaz e finita), e aquele elemento do homem a que se deve o sentimento do 'eu sou eu'. Para nós, é este 'eu sou eu' a verdadeira individualidade: e sustentamos que este 'Ego' ou individualidade representa como o ator nos palcos muitos papéis na peça da vida. Consideramos cada nova vida na terra, do mesmo Ego, como uma representação diferente no cenário de um teatro: aparece uma noite como Macbeth, na seguinte como Júlio César, depois será Romeu, na próxima Hamlet ou o Rei Lear, e assim sucessivamente, até que tenha completado o ciclo de encarnações. O Ego começa sua peregrinação de vida em papéis bem secundários como o de um espectro, um Ariel ou um duende; logo representa um papel de coadjuvante: é um soldado, um criado, um cantor de coro; depois ascende a 'papéis falados': desempenha alternadamente papéis principais e outros insignificantes, até que, finalmente, despede-se da cena como Próspero, o mago."

(Blavatsky - A Chave da Teosofia - Ed. Três, Rio de Janeiro, 1973 - p. 51/52


segunda-feira, 26 de setembro de 2016

ESFORÇO (PARTE FINAL)

"(...) Para compreendermos o 'estado de ser' em que não há luta, o estado de existência criadora, é claro que temos de investigar integralmente o problema do esforço. Por esforço entendemos a luta para nos preenchermos, para nos tornarmos alguma coisa, não é isso ? Sou isto e quero tornar-me aquilo; não sou tal coisa e devo tornar-me tal coisa. No vir a ser tal coisa há emulação, batalha, conflito, luta. Nesta luta, estamos necessariamente interessados no preenchimento pela consecução de um fim; buscamos preenchimento pessoal num objetivo, numa pessoa, numa ideia, o que exige uma batalha, uma luta constante, um constante esforço para 'vir a ser', realizar. Nessas condições, aceitamos o esforço como inevitável; e eu tenho minhas dúvidas sobre se ele é inevitável, se é inevitável essa luta para 'vir a ser' alguma coisa. Por que há essa luta? Onde há o desejo de preenchimento, em qualquer grau e em qualquer nível que seja, tem de haver luta. O preenchimento é o motor, a mola impulsora do esforço; quer se trate do chefe todo-poderoso, da simples dona de casa, ou do mendigo, há em todos esta batalha para 'vir a ser', realizar. 

Ora, por que existe esse desejo de nos preenchermos? Evidentemente, o desejo de nos preenchermos, de nos tornarmos alguma coisa, surge quando percebemos que nada somos. Porque sou nada, porque sou insuficiente, vazio, interiormente pobre, luto por 'vir a ser' alguma coisa; exterior ou interiormente, luto por me preencher numa pessoa, numa coisa, numa ideia. Preencher esse vazio — nisso consiste todo o processo da nossa existência. Tendo consciência de que estamos vazios, de que somos pobres interiormente, lutamos com o fim de acumular coisas, exteriormente, ou de cultivar riquezas interiores. Só há esforço quando há a fuga ao vazio interior, pela ação, pela contemplação, pela aquisição, pela realização, pelo poder, etc. Tal é nossa existência de cada dia. Estou cônscio de minha insuficiência, de minha pobreza interior, e luto para dela fugir ou preenchê-la. Esta fuga, este esforço para evitar, para tapar o vazio, acarreta luta, agitação, desgaste. 

Pois bem, se não fazemos esforço para fugir, que acontece? Ficamos 'vivendo com aquela solidão', com aquele vazio; e, no aceitar esse vazio, ver-se-á que surge um estado criador que nada tem a ver com a luta, com o esforço. Só existe esforço quando procuramos evitar a solidão e o vazio interior; mas se encararmos o fato, se o observarmos, se aceitarmos o que é, sem tentar evitá-lo, veremos surgir um 'estado de ser', em que cessou de todo a luta. Aquele 'estado de ser' é criação, e não resulta de luta. 

Quando há compreensão do que é, que é o vazio, a insuficiência interior, quando 'vivemos com essa insuficiência' e a compreendemos integralmente, surge a realidade criadora, a inteligência criadora, a qual, e só ela, pode trazer-nos a felicidade. 

A ação, por conseguinte, tal como a conhecemos, é, com efeito, reação, incessante 'vir a ser', quer dizer, negação, fuga do que é. Mas, quando temos conhecimento do vazio, sem escolher, condenar nem justificar, nesse entendimento do que é, há ação, e esta ação é existência criadora. Compreendereis isso, se observardes a vós mesmos, na ação. Observai-vos, quando agis, não só exteriormente, mas observai também o movimento de vosso pensar e sentir. Quando estiverdes cônscios desse movimento, vereis que o processo do pensamento, que é também sentimento e ação, está baseado na idéia de 'vir a ser'. A ideia de 'vir a ser' só se apresenta quando há sentimento de insegurança, e este se manifesta quando estamos cônscios do vazio interior. Se estiverdes cônscios desse processo do pensamento e sentimento, vereis que há uma batalha constante, um esforço contínuo, para transformar modificar, alterar o que é. é este o esforço de 'vir a ser', e o 'vir a ser' é uma maneira direta de evitar o que é. Pelo autoconhecimento, pelo constante percebimento, vereis que a luta, a batalha, o conflito de 'vir a ser', conduz à dor, ao sofrimento, e à ignorância. Só se estiverdes cônscios da insuficiência interior e 'viverdes com ela', sem tentardes fugir, mas aceitando-a inteiramente, descobrireis uma extraordinária tranquilidade, uma tranquilidade não arranjada, não ajustada, mas uma tranquilidade que vem com a compreensão do que é. Só nesse estado de tranquilidade é possível a existência criadora."

(Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 60/62)

domingo, 25 de setembro de 2016

ESFORÇO (2ª PARTE)

"(...) Esforço não significa luta para transformar o que é no que não é, ou no que deveria ser ou deveria 'vir a ser'? Porque não queremos enfrentar o que é, vivemos em luta constante, tentando fugir ou transformar, modificar o que é. O homem que tem em si o verdadeiro contentamento é aquele que compreende o que é, dando ao que é sua exata significação. Este é o verdadeiro contentamento. Nele, não há preocupação de ter poucas posses ou muitas posses, mas só interesse pela compreensão do total significado do que é. E esse contentamento só pode vir quando reconhecemos o que é, quando o percebemos lucidamente, e não quando estamos tentando modificá-lo ou transformá-lo. 

Vemos, pois, que o esforço é uma luta para transformar o que é, noutra coisa que desejais que ele seja. Estou me referindo apenas a luta psicológica, e não a luta com um problema físico, como um problema de engenharia ou qualquer problema atinente a algum descobrimento ou transformação de ordem puramente técnica. Estou falando, apenas, daquela luta que é psicológica e que sempre se sobrepõe ao que é técnico. Podemos edificar com todo o esmero uma sociedade maravilhosa, com o emprego do saber imenso que a ciência nos deu. Mas enquanto não for compreendido o esforço e a luta e a batalha psicológica, e não forem superadas todas as sobrecargas e correntes psicológicas, a estrutura da sociedade, por mais soberbamente edificada, está condenada a desabar, como tem acontecido tantas e tantas vezes. 

O esforço é uma distração do que é. No momento em que aceito o que é, não há mais luta. Toda forma de luta ou de esforço é um indício de distração, e a distração, que é esforço, existe necessariamente, enquanto, psicológicamente, desejo transformar o que é em alguma coisa que não é. 

Temos primeiro de ser livres, para vermos que a alegria e a felicidade não resultam de esforço. Há criação pelo esforço, ou só há criação com a cessação do esforço? Quando é que escreveis, pintais ou cantais? Quando é que criais? Sem dúvida, quando não há esforço, quando estais completamente abertos, quando em todos os níveis há comunhão completa entre vós, completa integração. Há então alegria, e começais a cantar, ou a escrever um poema, ou a modelar alguma coisa. O momento criador não nasce da luta.

Talvez, se compreendermos o problema da criação, estejamos aptos a entender o que significa esforço. Criação é produto de esforço, e temos consciência dos momentos em que somos criadores? Ou a criação é um estado de completo autoesquecimento, aquele estado em que não há agitação, em que estamos por completo inconscientes do movimento do pensamento, quando só há Ser, completo, pleno, rico? Esse estado resulta de labor, luta, conflito, esforço? Não sei se já tendes notado que quando executais uma coisa com facilidade, com destreza, não há esforço e sim uma ausência completa de luta; mas, visto que nossas vidas são, pela maior parte, uma série de batalhas, conflitos e lutas, não podemos imaginar uma vida, um 'estado de ser' em que haja cessado completamente a luta. (...)"

(Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 59/60)