OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

DISSOLVENDO A INCONSCIÊNCIA

"É fundamental colocar mais consciência em sua vida durante as situações comuns, quando tudo está correndo de modo relativamente tranquilo. É assim que se aumenta o poder da presença. Ele gera um campo energético de alta frequência vibracional em você e ao seu redor. Nenhuma inconsciência, nenhuma negatividade, nenhuma discórdia ou violência podem penetrar nesse campo e sobreviver, do mesmo modo que a escuridão não consegue sobreviver na presença da luz.

Quando você aprender a ser uma testemunha de seus pensamentos e emoções, o que é uma parte essencial do estado de presença, talvez se surpreenda ao perceber pela primeira vez o ruído 'estático' da inconsciência comum e ao verificar como é raro você se sentir à vontade consigo mesmo. 

No nível do pensamento, você encontrará uma significativa porção de resistência na forma de julgamentos, descontentamentos e projeções mentais distanciados do Agora. No nível emocional haverá uma tendência para o desconforto, a tensão, o enfado ou o nervosismo. Ambas são aspectos da mente em seu modo de resistência habitual.

OBSERVE AS MUITAS maneiras pelas quais o desconforto, o descontentamento e a tensão surgem dentro de você, através de julgamentos desnecessários, resistência àquilo que é e negação do Agora. Qualquer coisa inconsciente se dissolve quando a luz da consciência brilha sobre ela.

Se soubermos como dissolver a inconsciência comum, a luz da nossa presença irá brilhar intensamente e será muito mais fácil lidarmos com a inconsciência profunda. Mas no início, talvez não seja muito fácil detectar a inconsciência comum porque a consideramos uma coisa normal.  

HABITUE-SE A MONITORAR o seu estado mental e emocional através da auto-observação.
'Estou me sentindo à vontade neste momento?' é uma pergunta que você deve se fazer com frequência.
Ou pode se questionar: 'O que está acontecendo dentro de mim neste exato momento?'

Mantenha o mesmo nível de interesse pelo que vai tanto no seu interior quanto no exterior. Se você captar corretamente o interior, o exterior se encaixará no lugar. A realidade principal está no interior, a realidade externa é secundária. 

MAS NÃO RESPONDA logo a essas questões. Direciona e a sua atenção para o interior. Olhe para dentro de você. 
Que tipo de pensamentos a sua mente está produzindo?
O que sente?
Dirija a atenção para o seu corpo. Existe alguma tensão?
Quanto você perceber um certo desconforto, um ruído estático ao fundo, verifique que caminhos você está usando para evitar, resistir ou negar a vida, o Agora.

Existem muitos caminhos pelos quais resistimos, inconscientemente, ao momento presente. Com a prática, o seu poder de auto-observação, de monitorar o seu estado interior, se tornará mais aguçado." 

(Eckhart Tolle - Praticando o Poder do Agora - GMT Editores Ltda., 2016 - p. 45/47)


quinta-feira, 8 de outubro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (1ª PARTE)

"Em qualquer discussão sobre a doutrina do karma, geralmente ela é descrita sob três categorias: São elas, samcita, ou acumulado, prãrabdha ou operativo e ãgami, ou o futuro. Samcita contém todas as tendências acumuladas que se tornam ativas quando provocadas por estímulos externos. É óbvio que essas tendências não se tornam ativas todas de uma vez, mas apenas quando surgem provocações e estímulos. As tendências que vão sendo ativadas constituem as condições de prãrabdha. O homem considera prãrabdha como uma grande limitação; isso se deve ao fato de que ele deve funcionar sob a força que compele as tendências ativadas. Ãgami, ou o karma futuro, depende de novas tendências  que são geradas no decorrer de nossas ações no presente. Sabe-se que as tendências inativas e não maduras não constituem qualquer problema. É a tendência que se tornou ativa e operativa que faz de prãrabdha um problema. É verdade que não é possível eliminar todas as tendências acumuladas, por não sabermos o que são. Tornamo-nos cônscios delas quando são estimuladas sob provocações externas. É claro que não podemos saber quais são as tendências que serão evocadas como resultado de estímulos externos. Mas, se pudéssemos estar em um estado de consciência que tornasse as tendências estimuladas inoperantes no mesmo instante em que despertassem, então, certamente, não precisaríamos ter qualquer temos quanto ao futuro. Tal estado de consciência de uma só vez resolve o problema do karma com relação ao passado, presente, e futuro. O segredo está em tornar as tendências inoperantes, sempre que forem estimuladas pelas provocações do ambiente externo. Se o homem pudesse viver sujeito a todas as provocações e, ainda assim, manter as tendências inoperantes, com certeza não temeria o que pudesse acontecer. Para tal pessoa o futuro cessaria de ser um problema. Sua ação no presente torná-lo-ia livre das compulsões tanto do passado quanto do futuro." 

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 93)


quinta-feira, 24 de setembro de 2020

A ACEITAÇÃO DAS RELIGIÕES

"Há várias gradações mentais. Talvez você seja racionalista, cheio de bom senso e espírito prático, e não se interesse por ritos e cerimônias. Você quer fatos intelectuais rigorosos e relevantes para convencer-se. Os puritanos e muçulmanos também não admitem imagem ou estátua no recinto de culto. Muito bem. Entretanto, outra pessoa tem um temperamento mais artístico. Deseja cercar-se de arte - a beleza de linhas e curvas, cores, flores, cerimônias; quer velas, luzes e todos os símbolos e acessórios ritualísticos para que possa ver Deus. A mente dessa pessoa apreende Deus por essas formas, enquanto a sua o apreende por meio do intelecto. Há também o homem piedoso; sua alma chora por Deus, a quem ele só pensa em adorar e glorificar. E há ainda o filósofo, que se mantém à parte e de todos zomba. Ele pensa: 'Como são absurdas as ideias que eles fazem de Deus!'

Eles podem rir uns dos outros, mas cada um tem seu lugar no mundo. A diversidade de mentalidades e a variedade de temperamentos são necessárias. Se algum dia existir uma religião ideal deverá ser bastante nobre e ampla para suprir todas essas mentes. Oferecerá ao filósofo a força da filosofia, ao adorador de Deus o coração piedoso, ao ritualista tudo o que o simbolismo mais maravilhoso pode transmitir, ao poeta tanta emoção quanto ele pode aguentar, e assim por diante. Para criar essa religião ampla, teremos de voltar aos primórdios das religiões e adotá-las todas. 

Nossa palavra de ordem será então aceitação e não exclusão. Não apenas tolerância, pois esta suposta tolerância geralmente é um insulto, e não estou de acordo com ela. Acredito em aceitação. Por que deveria eu tolerar? Tolerância significa que acho que você está errado e estou apenas permitindo que exista. Não é uma blasfêmia pensar que você e eu estamos consentindo que os outros vivam? Aceito as religiões do passado e presto culto a Deus em todas elas: juntamente com cada uma, adora a Deus na cerimônia ou rito que usarem. Entrarei na mesquita do muçulmano; entrarei na capela do cristão e ajoelhar-me-ei ante o crucifixo do altar; entrarei no templo budista onde me refugiarei em Buda e sua Lei. Entrarei na floresta e sentarei em meditação com o hindu que está tentando ver a Luz que ilumina o coração de cada ser. 

Não só farei isso, mas conservarei meu coração aberto para tudo o que vier no futuro. O livro de Deus está terminado ou é uma constante e contínua revelação? É um livro maravilhoso - as revelações espirituais do mundo. A Bíblia, os Vedas, o Alcorão e todas as escrituras sagradas são apenas algumas páginas de um número sem fim que ainda resta para folhear. Eu o deixaria aberto para todos. Vivemos no presente, porém estamos abertos para o futuro infinito. Acolhemos o passado, desfrutamos da luz do presente e abrimos todas as janelas do coração para o tempo que há de vir. Saudações aos profetas antigos, aos grandes seres da nossa época e aos que virão no futuro!"

(Swami Vivekananda - O que é Religião - Lótus do Saber Editora, Rio de Janeiro, 2004 - p. 23/24)


quinta-feira, 10 de outubro de 2019

A IDEOLOGIA IMPEDE A AÇÃO

"O mundo está sempre próximo de catástrofe. Mas agora parece estar ainda mais próximo. Observando a catástrofe que se aproxima, a maioria de nós a abriga na ideia. Achamos que essa catástrofe, essa crise, pode ser resolvida por uma ideologia. A ideologia é sempre um impedimento ao relacionamento direto, o que também impede a ação. Queremos a paz apenas como ideia, mas não como realidade. Queremos a paz no nível verbal, ou seja, no nível do pensamento, que orgulhosamente chamamos de nível intelectual. Mas a palavra paz não significa paz. A paz só pode existir quando cessar a confusão que o homem criou. Estamos ligados ao mundo das ideias e não à paz. Buscamos novos padrões sociais e políticos, não a paz. Estamos preocupados com a reconciliação dos efeitos, e não em pôr de lado a causa da guerra. Essa busca trará apenas respostas condicionadas pelo passado. E esse condicionamento é o que chamamos de conhecimento, experiência; os fatos recentemente alterados são traduzidos e interpretados segundo esse conhecimento. Então, há conflito entre o que existe e a experiência que foi acumulada. O passado, que é o conhecimento, estará sempre em comflito com o fato, que sempre está no presente. Portanto, isso não resolverá o problema, mas perpetuará a condição que o criou."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 66)


terça-feira, 18 de junho de 2019

UMA NOVA AURORA

"Uma verdadeira transformação social não é algo que possa ser alcançado por meio de leis. Não pode ser imposta de cima. O fator mais implortante em relação a isso é a perspectiva dos que querem produzir a transformação social. Como sabemos, quando se considera transformação no contexto teosófico, a ênfase é colocada sobre a transformação no nível individual. A ênfase está na transformação da natureza, da conduta e da perspectiva da pessoa com relação à vida. 

É sempre pertinente entender a natureza da transformação que ocorre no interior do indivíduo; uma transformação na própria psique, em todo o seu ser - que é a verdadeira fonte, o verdadeiro manancial da revolução exterior. Somente a mudança interna pode produzir mudança no mundo externo, pois muda a perspectiva da pessoa com relação à vida. É a agitação interior, as questões e dúvidas, que ajudam a perceber a beleza da vida interna - uma vida que não se opõe à vida mundana, mas que é mais plena, mais rica e mais completa. 

Questões como a ânsia de saber nos levarão à compreensão da unidade da vida e da harmonia na vida interna e externa. Um ponto que merece consideração é: que valores humanos buscamos preservar em nosso progresso rumo às transformações sociais?

Precisamos examinar nosso próprio eu para ver se há alguma falta de comprometimento de nossa parte. O que não nos permite tomar a iniciativa, agir espontânea e voluntariamente quando a situação exige? Quais são os fatores e as forças que nos oprimem e que não nos deixam praticar uma correta ação no momento certo? Pensar seriamente nessas questões, com consciência, pode nos ajudar a resolver diversos problemas e tensões, com a compreensão e a boa vontade apropriadas.

Para isso é preciso que cada indivíduo se torne genuinamente forte internamente, porque só assim suas boas qualidades poderão criar um impacto positivo sobre as pessoas. É necessário despertar a força moral interna, já que apenas ela deve guiar pensamentos e ações na direção certa. É preciso que haja completa coordenação entre o que sabemos, o que absorvemos e o que fazemos. Assim, nossos pensamentos e ações terão um impacto positivo e podem gerar uma atmosfera que encoraje outros a praticar valores elevados no dia a dia. 

Para sair da crise, não podemos ignorar o presente. Que o presente seja a plataforma para um futuro melhor para nós e também para toda a sociedade. Mas não devemos esperar passivamente que a inspiração seja servida numa bandeja. Precisamos trabalhar muito e aplicar nossos melhores esforços. Então a harmonia, a sabedoria e a verdade inatas poderão desabrochar através de nós. Precisamos não de uma abordagem casual ou indiferente, mas de uma atitude uma abordagem e uma perspectiva positiva e construtiva. Temos que utilizar o presente da melhor maneira possível, tanto em pensamento quanto em ação. Que cada momente seja uma nova aurora - então, o que quer que pensemos e façamos será verdadeiro, bom e belo."

(S. Sundaram - Uma nova autora - Revista Sophia, Ano 17, nº 79 - p. 34)


sexta-feira, 30 de março de 2018

NOSSA NATUREZA É ILIMITADA (1ª PARTE)

"Ser o novo dia significa viver sempre no presente, não no passado com suas memórias, ou no futuro, com suas expectativas e temores, que são reflexos de experiências passadas. A cada dia, a cada momento, novas praias acenam para serem descobertas. Atrás de cada horizonte outros horizontes estão ocultos.

Cada um deve descobrir isso sozinho, à sua própria maneira. Dizem que existem tantos caminhos quantos são os homens.

Um belo dia, a imagem mental que a princípio nos satisfez passa a não mais nos satisfazer. Ela nos aborrece, parece muito estreita. Precisamos desistir dela. A casinha perfeita que construímos e mobiliamos em pensamento, onde tudo tinha seu lugar, tornou-se pequena demais para nós; devemos abandoná-la. Assim, vivemos durante um certo tempo na incerteza, até que construímos uma casa maior que mais uma vez satisfaça nossa mente, até que ela também se torna pequena demais para nós.

Assim seguimos em frente, de casa em casa, de praia em praia, de horizonte em horizonte, de uma imagem de vida para outra, até que compreendemos que nenhum quadro mental, nenhum sistema, nenhuma forma consegue nos satisfazer. Somente o sem forma, que é a fonte de todas as formas possíveis, pode ser o nosso verdadeiro lar, pois o sem forma é ilimitado e nossa verdadeira natureza também é ilimitada, porque contém todas as possibilidades.

Assim, finalmente surge a aurora, mostrando não mais as velhas praias, mas lugares verdadeiramente novos, que estão sempre além - além da mente. (...)"

(Mary Anderson - Para alcançar um novo dia - Revista Sophia, Ano 7, nº 26 - p. 28)


domingo, 25 de março de 2018

O PODER DA SUA PRESENÇA

"PERCEBER, DE REPENTE, que você está ou tem estado preso ao sofrimento pode lhe causar um choque. No momento em que percebe isso, você acabou de romper com a ligação.

O sofrimento é um campo de energia, quase como uma entidade que se alojou temporariamente  no seu espaço interior. É a energia da vida que foi aprisionada, uma energia que não está mais fluindo.

Claro que o sofrimento está ali por causa de certas coisas que aconteceram no passado. Ele é o passado vivo em você. E, se você se identifica com ele, se identifica com o passado. Uma identidade vítima acredita que o passado é mais poderoso do que o presente, o que não é verdade. É a crença de que outras pessoas e o que fizeram a você são responsáveis pelo que você é hoje, pelo seu sofrimento emocional, ou por sua incapacidade de ser o verdadeiro eu interior.

A verdade é que o único poder está bem aqui neste momento: o poder da sua presença. Uma vez que saiba disso, perceberá também que só você é responsável pelo seu espaço interior no presente instante e o passado não consegue prevalecer contra o poder do Agora.

A inconsciência cria o sofrimento. A consciência transforma o sofrimento nela mesma. São Paulo expressa esse princípio universal de forma linda ao dizer: 'Tudo é revelado ao ser exposto à luz, e o que for exposto à própria luz se torna luz.'

Assim como não se pode lutar contra a escuridão, não se pode lutar contra o sofrimento. Tentar fazer isso poderia gerar um conflito interior e um sofrimento adicional. Observar o sofrimento já é o bastante. Observá-lo implica aceitá-lo como parte do que existe naquele momento."

(Eckhart Tolle - Praticando o Poder do Agora - Ed. Sextante, Rio de Janeiro, 2005 - p. 81/82)


quarta-feira, 14 de março de 2018

COM SABEDORIA E DISCERNIMENTO, RESGATE SUA LIBERDADE

"Resgate sua liberdade. Você consegue cumprir as decisões que toma? Se não consegue, está preso ao karma. Mas se tem conseguido fazer o que se propõe a fazer, guiado pelo discernimento - e não pelas influências do karma passado ou presente -, então isto é liberdade. Julgue tudo de acordo com o ponto de vista do discernimento e da sabedoria. Não permita que suas ações sejam governadas pelo hábitos nem pela obediência cega aos costumes sociais ou ao que as outras pessoas pensam. Seja livre.

De vez em quando você vê uma pessoa livre - alguém que não vive a vida dos outros, que é livre porque suas ações só são influenciadas pela sabedoria. Esta é a marca da grandeza de Mahatma Gandhi. Quando ele foi à Inglaterra e visitou o casal real, não se vestiu formalmente como era o costume. Foi recebido pelos reis usando uma simples tanga de pano e um xale, como se usava nas aldeias indianas. Ele desfruta de grande liberdade porque vive seus ideais e não está preso aos costumes da sociedade.

Sempre que você fizer alguma coisa, pergunte a si mesmo se é só por causa do que os outros podem pensar de você ou se é porque está seguindo a sabedoria e o discernimento. Este é o critério que uso para agir. Mesmo como americanos nascidos livres vocês não conhecem a verdadeira liberdade. Muitos acham que fazer o que querem é a liberdade - mas a verdadeira liberdade está em fazer o que se deve fazer no momento em que aquilo deve ser feito. Do contrário você é um escravo. Seja influenciado apenas pela sabedoria. Se não conseguir isso, permanecerá escravo por séculos de encarnações.

Agora, seguir a verdade não quer dizer que você precia atacar os outros com suas convicções. Compartilhe a verdade somente quando for pedida ou bem-vinda. Do contrário, aprenda a ficar em silêncio, mantenha suas opiniões para si mesmo. Mas quando achar que deve falar, fale. Enfrente o mundo inteiro, se necessário. Galileu afirmou que a Terra gira em torno do Sol e foi crucificado por isto. Posteriormente se descobriu que ele estava certo. Mas nunca faça nada só por orgulho; isto o fará cair."

(Paramahansa Yogananda - Jornada para a Autorrealização - Self-Realization Fellowship - p. 234/235)


domingo, 4 de março de 2018

FELICIDADE NÃO É SENSAÇÃO

"A mente nunca consegue encontrar a felicidade. A felicidade não é uma coisa a ser buscada e encontrada, como a sensação. A sensação pode ser encontrada repetidas vezes, pois ela nunca fica perdida. A felicidade lembrada é apenas uma sensação, uma reação pró ou contra o presente. O que está acabado não é felicidade: a experiência da felicidade que está acabada é sensação. Felicidade não é sensação.

O que você conhece é o passado, não o presente. E o passado é sensação, reação, memória. Você se lembra de que foi feliz, mas o passado consegue dizer o que é a felicidade? Ele consegue lembrar, mas não consegue ser. Reconhecimento não é felicidade, saber o que é ser feliz não é felicidade. O reconhecimento de, saber o que é ser feliz não é felicidade. O reconhecimento é a resposta da memória. Afinal, a mente, o complexo de lembranças, experiências, pode ser feliz? O próprio reconhecimento impede a experiência.

Quando há consciência de que é ser feliz, há felicidade? Quando há felicidade, você tem consciência dela? A consciência só chega com o conflito - o conflito da lembrança de mais. A felicidade não é a lembrança de mais. Onde há conflito, não há felicidade. O conflito está onde a mente está. O pensamento, em todos os níveis, é a resposta da memória; e um pensamento, invariavelmente, gera conflito. Pensamento é sensação, e sensação não é felicidade. As sensações estão sempre em busca de gratificações. O fim é sensação, mas a felicidade não é um fim, ela não pode ser buscada."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 215)


sábado, 9 de dezembro de 2017

RENDIÇÃO

"Quando não aceitamos o mundo tal como ele é, estamos presumindo que não se pode confiar nele e que o universo não se apresenta como deveria. Nosso ego carrega um enorme fardo de crenças sobre como as coisas teriam de ser. Mesmo que nossa crença seja positiva e profundamente espiritual, precisamos encarar o fato de que, caso ela não corresponda à realidade, estamos gerando sofrimento interior e, portanto, conflito - por nos apegarmos a uma imagem falsa.

Em seu livro Loving What Is, Byron Katie vai diretamente ao ponto: 
Se você quiser que a realidade seja diferente, que tal também ensinar um gato a latir? Poderá tentar infatigavelmente, mas no fim o gato olhará para você e dirá: 'Miau'. É inútil desejar um mundo diferente do que é... Deveríamos saber que as coisas são boas assim como elas se apresentam, pois quando as questionamos sentimos tensão e frustração. Se deixarmos de nos opor à realidade, a ação se tornará simples, fluida, amorosa e sem riscos. 
É isso: quando deixamos de nos opor à realidade e aceitamo-la, tornamo-nos amáveis e destemidos. E, quando o medo se vai, nossas ânsias desaparecem e estamos prontos a, sem esforço, abrirmo-nos para a plena participação no momento presente e eterno.

Sugiro que você explore plenamente o que significa submeter-se à realidade. Com isso, deixará de lutar contra ela. Não perca nem mais um segundo desejando que ela seja diferente. Agora mesmo, é imperativo aceitar a realidade porque você nada poderá fazer para mudar o momento presente. Essa é a compreensão espiritual da vida. O momento presente é perfeito - simplesmente, porque não pode ser de outra maneira. Ele é o que é.

A magia da lógica reside em que apenas pela entrega total ao agora adquirimos o poder de participar de seu desdobramento e influenciar positivamente os momentos que virão. Vivendo intensamente o aqui e agora, sem nenhuma resistência à realidade, tornamo-nos partícipes plenos do momento atual. E graças a essa entrega, aceitação e participação, trazemos o poder do amor e da verdade espiritual ao momento presente - todas as nossas ações se tornam naturais, em harmonia e consonância com a verdade do espírito. Nossa realidade e a realidade do mundo que nos cerca entram em sintonia.

Só quando isso acontece fazemos progresso genuíno - não por meio da manipulação da nossa mente crítica, mas da participação da nossa alma. Submetendo-nos à realidade, submetemo-nos a Deus e permitimos ao Espírito agir por intermédio de nós, impedindo assim que o ego cheio de medos determine nossos atos. Dessa maneira, aprendemos a fazer com que o elemento meditativo da mente e da alma atue no mundo."

(John Selby - Sete Mestres, Um Caminho - Ed. Pensamento-Cultrix Ltda., São Paulo, 2004 - p. 94/95


domingo, 22 de outubro de 2017

DUAS BOAS DEFINIÇÕES (KARMA)

"E. D. Walker, em sua obra Reencarnação,  nos oferece a seguinte explicação: 

"A doutrina de Karma explica que nós mesmos nos fizemos o que somos por atos anteriores e que formamos nossa eternidade futura com as ações presentes. Não existe outro destino além daquele que nós mesmos determinamos.  Não há salvação nem condenação alguma, exceto aquela originada por nós mesmos... Como Karma não oferece nenhum amparo aos gestos culpáveis e requer muito valor, não encontra entre as naturezas débeis tão boa acolhida como as fáceis doutrinas de remissão dos pecados, a intercessão, o perdão e as extremas-unções... No domínio da eterna justiça, a ofensa e o castigo estão unidos inseparavelmente como um único fato porque não existe real diferença entre a ação e sua consequência... Karma ou nossos antigos atos são os responsáveis pela nossa volta à vida terrestre. A residência do espírito muda segundo seu Karma que não permite uma larga permanência na mesma condição, uma vez que sempre está se modificando. Enquanto a ação for governada por motivos materiais e egoístas manifestará seus efeitos com renascimentos físicos; somente o homem perfeitamente desinteressado pode livrar-se do peso da vida material; poucos o conseguiram, mas esta é a meta à qual tende a Humanidade...". 

Outro ilustre escritor teosófico diz (Objeto da Teosofia, por A. P. Sinnett): 

"Cada indivíduo, com cada ato e pensamento diário, está criando bom ou mau Karma e está ao mesmo tempo esgotando nesta vida o Karma produzido pelos atos e desejos da anterior. Quando vemos pessoas atormentadas por sofrimentos naturais pode-se dizer que esse sofrimento são resultados inevitáveis de causas originadas pelas mesmas num nascimento anterior. Poderá alguém argumentar que pelo fato dessas aflições serem hereditárias nada têm a haver com uma encarnação passada, mas é preciso lembrar que o Ego, o homem real, a individualidade, não tem sua origem espiritual na parentela que o reencarna, mas que é atraído pelas afinidades que seu gênero de vida agrupou na corrente que o leva, quando chega a hora do renascimento, para a morada mais adequada para o desenvolvimento dessas tendências... A doutrina de Karma bem compreendida guia e ajuda àqueles que compreendem sua verdade, elevando e melhorando sua vida; porque não se deve esquecer que não apenas nossos atos, mas também nossos pensamentos atraem com certeza um acúmulo de circunstâncias determinantes no nosso futuro e o que é mais importante, ainda no futuro de nossos semelhantes. Se os pecados por omissão ou cometimento somente interessassem ao Karma do pecado, o fato teria menores consequências; porém, como cada pensamento e ato na vida acarreta uma influência correspondente, boa ou má, nos outros membros da família humana, o sentido estrito da justiça, moralidade e generosidade é necessário à felicidade ou progresso futuros. Nenhum arrependimento, por maior que seja, pode apagar os resultados de um crime já cometido ou os efeitos de um mal pensamento. O arrependimento se é sincero deterá o homem, impedindo-o de cometer novamente as mesmas faltas, porém não pode livrá-lo e aos demais dos efeitos já produzidos por aquelas que infalivelmente recairão sobre ele nesta vida ou no próximo renascer"."

(H. P. Blavatsky - A Doutrina Teosófica - Ed. Hemus, São Paulo - p. 78/80)


sábado, 14 de outubro de 2017

ABANDONANDO O TEMPO PSICOLÓGICO (PARTE FINAL)

"(...) O que percebemos como futuro é uma parte intrínseca do nosso estado de consciência do momento. Se a nossa mente carrega um grande fardo do passado, vamos sentir isso. O passado se perpetua pela falta de presença. O que dá forma ao futuro é a qualidade da nossa percepção do momento presente, e o futuro, é claro, só pode ser vivenciado como presente. 

Se é a qualidade da nossa percepção neste momento que determina o futuro, então o que é que determina a qualidade da nossa consciência? O nosso grau de presença. Portanto, o único lugar onde pode ocorrer uma mudança verdadeira e onde o passado pode se dissolver é no Agora.

Talvez seja difícil reconhecer que o tempo é a causa do nosso sofrimento ou de nossos problemas. Acreditamos que eles são causados por situações específicas em nossas vidas, e, de um ponto de vista convencional, isso é uma verdade. Mas, enquanto não lidarmos com a disfunção básica da mente - o apego ao passado e ao futuro e a negação do presente -, os problemas apenas mudarão de figura.

Se todos os nossos problemas, ou causas identificadas de sofrimento ou infelicidade, fossem milagrosamente solucionadas no dia de hoje, sem que nos tornássemos mais presentes e mais conscientes, logo nos veríamos com um outro conjunto de problemas ou causas de sofrimento semelhantes, como uma sombra que nos seguisse aonde quer que fôssemos. Em última análise, o único problema é a própria mente limitada pelo tempo.

Não há salvação dentro do tempo. Você não pode se libertar no futuro.

A PRESENÇA É A CHAVE para a liberdade. Portanto, você só pode ser livre agora."

(Eckhart Tolle - Praticando o Poder do Agora - Ed. Sextante, Rio de Janeiro, 2016 - p. 35/36)


sexta-feira, 13 de outubro de 2017

ABANDONANDO O TEMPO PSICOLÓGICO (1ª PARTE)

"Aprenda a usar o tempo nos aspectos práticos da sua vida - podemos chamar de 'tempo de relógio' -, mas retorne imediatamente para perceber o momento presente, tão logo esses assuntos práticos tenham sido resolvidos. Assim, não haverá acúmulo do 'tempo psicológico', que é a identificação com o passado e uma projeção compulsiva e contínua do futuro.

Se estabelecemos um objetivo e trabalhamos para alcançá-lo, estamos empregando o tempo do relógio. Sabemos bem aonde queremos chegar, mas respeitamos e damos atenção total ao passo que estamos dando neste momento. Se insistimos demais nesse objetivo, talvez porque estejamos em busca de felicidade, satisfação ou de um sentido mais completo do eu interior, deixamos de respeitar o Agora. E ele é reduzido a um mero degrau para o futuro, sem nenhum valor intrínseco. O tempo do relógio se transforma então em tempo psicológico. Nossa jornada deixa de ser uma aventura e passa a ser encarada como uma necessidade obsessiva de chegar, de possuir, de 'conseguir'. Aí não somos mais capazes de ver nem de sentir as flores pelo caminho, nem de perceber a beleza e o milagre da vida que se revela em tudo ao redor, como acontece quanto estamos presentes no Agora.

Você está sempre tentando chegar a algum outro lugar além daquele onde você está? A maior parte do que você faz é apenas um meio para alcançar um determinado fim? A satisfação está sempre em outro lugar ou restrita a breves prazeres como sexo, comida, bebida e drogas, ou relacionada a uma emoção ou excitação? Você está sempre pensando em vir a ser, adquirir, alcançar, ou, em vez disso, está à caça de novas emoções e prazeres? Você acha que, quanto mais bens adquirir, uma pessoa se sentirá melhor ou psicologicamente completa? Está à espera de um homem ou de uma mulher que dê um sentido à sua vida?

No estado normal de consciência, o poder e o infinito potencial criativo do Agora estão completamente encobertos pelo tempo psicológico. Nossa vida perde a vibração, o frescor, o sentido de encantamento. Os velhos padrões de pensamento, emoção, comportamento, reação e desejo são encenados repetidas vezes, como um roteiro dentro da nossa mente que nos dá uma identidade, mas distorce ou encobre a realidade do Agora. A mente, então, desenvolve uma obsessão pelo futuro, buscando fugir de um presente insatisfatório. (...)"

(Eckhart Tolle - Praticando o Poder do Agora - Ed. Sextante, Rio de Janeiro, 2016 - p. 33/35)


quarta-feira, 11 de outubro de 2017

TEMPO E TRANSFORMAÇÃO (PARTE FINAL)

"(...) Nosso problema é: pode um conflito, uma perturbação ser superada num período de tempo - de dias, de anos, de vidas? Que acontece quando dizeis: 'vou praticar a não violência durante certo período de tempo'? O praticar, em si mesmo, indica que estais em conflito, não é verdade? Não praticarieis se não estivésseis resistindo ao conflito; dizeis que a resistência ao conflito é necessária, para que se possa dominar o conflito, e para essa resistência necessitais de tempo. Mas a própria resistência ao conflito é ainda uma forma de conflito. Estais consumindo vossa energia resistindo ao conflito, sob a forma que chamais ambição, inveja ou violência, mas vossa mente continua em conflito, e por isso importa perceber a falsidade do processo de dependência do tempo, como meio de dominarmos a violência e de nos livrarmos daquele processo. Podeis então ser o que sois: uma perturbação psicológica, a própria violência.

Para compreender qualquer coisa, qualquer problema humano ou científico, o que é importante, o que é essencial? Ter a mente tranquila, não é verdade? — ter a mente toda aberta à compreensão. Esta não é mente exclusiva, mente que procura concentrar-se, pois isto é, também, esforço de resistência. Se desejo, na realidade, compreender uma coisa, apresenta-se logo um estado mental tranquilo. Quando desejais ouvir música, ou contemplar um quadro que amais, um quadro que apreciais, qual é o estado de vossa mente? Há imediata tranqüilidade, não há? Quando escutais música, vossa mente não está divagando em todas as direções; está escutando. Idênticamente, quando desejais compreender o conflito, já não estais na dependência do tempo, mas apenas em presença do que é, do conflito. Vem então, de pronto, a tranqüilidade, a serenidade da mente. Quando não mais dependeis do tempo como meio de transformar o que é, por verdes a falsidade desse processo, estais então frente a frente com o que é, e visto que estais interessados em compreender o que é, tendes naturalmente a mente tranquila. Nesse estado mental vigilante, e ao mesmo tempo passivo, há compreensão. Enquanto a mente está em conflito, reprovando, resistindo, condenando, não haverá compreensão. Se desejo compreender-vos, não posso condenar-vos, é claro. É essa mente quieta, essa mente tranquila, que efetua a transformação. Quando a mente já não está resistindo, evitando, rejeitando, ou reprovando o que é, mas se acha simplesmente, passivamente, vigilante, então, nessa passividade da mente vereis - se de fato examinardes o problema - vereis como vem a transformação. 

A revolução só é possível agora, e não no futuro; a regeneração é hoje, e não amanhã. Se experimentardes o que estou dizendo, vereis que há regeneração imediata, um estado novo, uma qualidade nova, porque a mente está sempre tranquila quando está interessada, quando tem o desejo ou a intenção de compreender. A dificuldade, no que respeita à maioria de nós, é que não temos a intenção de compreender, pois receamos que a compreensão produza uma ação revolucionária em nossa vida, e por isso resistimos. Está em ação o mecanismo de defesa, quando empregamos o tempo ou um ideal como meio de gradativa transformação. 

A regeneração, pois, só é possível agora, e não no futuro, não amanhã. O homem que conta com o tempo como meio de alcançar a felicidade ou de conhecer a verdade ou Deus, está simplesmente enganando a si mesmo, está vivendo na ignorância e, por conseguinte, em conflito. O homem que reconhece não ser o tempo o caminho por onde sairá de suas dificuldades e que, por conseguinte, está livre do falso, esse homem, naturalmente, tem a intenção de compreender. Sua mente, portanto, está espontaneamente tranquila, sem compulsão, sem disciplina. Quando a mente está tranquila, serena, quando não está buscando resposta ou solução alguma, quando não está resistindo nem evitando, só então pode haver regeneração, porque a mente é assim capaz de perceber o que é verdadeiro. A verdade é que liberta, não o esforço que fazemos para libertar-nos."

(J. Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 114/115
http://www.pensamento-cultrix.com.br/


terça-feira, 10 de outubro de 2017

TEMPO E TRANSFORMAÇÃO (1ª PARTE)

"Desejo falar um pouco a respeito do tempo, porque acredito que a riqueza, a beleza e significação daquilo que é atemporal, daquilo que é verdadeiro, só podem ser experimentadas quando compreendemos integralmente o processo do tempo. Afinal de contas, estamos buscando, cada um à sua maneira, um sentimento de felicidade, de enriquecimento. Ora, uma vida que tem significado, que tem as riquezas da verdadeira felicidade, não está em relação com o tempo. Qual o amor, essa vida é atemporal e para compreendermos o que é atemporal, não devemos considerá-lo através do tempo, porém antes, compreender o tempo. Não devemos utilizar o tempo como meio de alcançar, compreender, apreender o atemporal. No entanto, é o que estamos fazendo, na maior parte da nossa vida: consumindo tempo, procurando aprender o que é atemporal - e por isso é importante compreender o que se entende por 'tempo', pois creio que é possível ser livre do tempo. É importantíssimo compreender o tempo como um todo e não por partes.

É interessante compreender que quase toda nossa vida se consome no tempo - tempo, não no sentido de sequência cronológica de minutos, horas, dias e anos, mas no sentido de memória psicológica. Vivemos pelo tempo, somos resultado do tempo. Nossas mentes são o produto de muitos dias passados, e o presente é apenas a passagem do passado para o futuro. Nossas mentes, nossas atividades, nosso ser, fundam-se no tempo. Sem o tempo, não podemos pensar, porque o pensamento é resultado do tempo, o produto de muitos dias passados, e não há pensamento sem memória. Memória é tempo, pois há duas espécies de tempo: o cronológico e o psicológico. Há o tempo, o ontem do relógio, e o ontem da memória. Não se pode rejeitar o tempo cronológico, pois seria absurdo: poderiamos perder o trem. Existirá realmente tempo, fora do tempo cronológico? É claro que há o tempo, o ontem, mas existe o tempo tal como a mente o concebe? Existe tempo, separado da mente? Não há dúvida que o tempo, o tempo psicológico é produto da mente. Sem a base do pensamento, não existe o tempo - sendo 'tempo' apenas a memória do dia de ontem em conjunção com o de hoje, moldando o amanhã. Quer dizer, a memória da experiência de ontem, em reação ao presente, está criando o futuro - o que constitui ainda um processo de pensamento, uma senda da mente. O processo de pensamento determina progresso psicológico no tempo, mas esse tempo será real, tão real como o tempo cronológico? Podemos utilizar esse tempo produzido pela mente, como meio de compreender o eterno, o atemporal? Como disse, a felicidade não é produto de ontem, a felicidade não é produto do tempo, a felicidade está sempre no presente, é um estado atemporal. Não sei se já notastes, que quando tendes um êxtase, uma alegria criadora - uma série de nuvens radiosas cercadas de nuvens negras - nesse momento não existe o tempo: só há o presente imediato. A mente, interferindo depois desse experimentar, do presente, lembra-se dele e deseja continuá-lo, acrescentando-se a si mesma, mais e mais, e criando assim o tempo. O tempo é criado pelo 'mais'; o tempo é aquisição e, também, renúncia, que é por sua vez uma aquisição da mente. Logo, disciplinar apenas a mente no tempo, condicionar o pensamento dentro da estrutura do tempo, que é memória, por certo não nos revela o que é atemporal. 

A transformação depende do tempo? Quase todos estamos acostumados a pensar que o tempo é necessário para a transformação: sou 'tal coisa', e para modificar o que sou e transformá-lo naquilo que deveria ser, é preciso tempo. Sou ambicioso, e dessa ambição resulta confusão, antagonismo, conflito, aflição. Para realizar a transformação, que é a não ambição, pensamos ser necessário o tempo. Isto é, consideramos o tempo como meio de evolvermos para algo superior, como meio de nos tornarmos alguma coisa. O problema é este: sou violento, ambicioso, invejoso, irascível, vicioso, ou apaixonado. Para transformar o que é, há necessidade de tempo? Em primeiro lugar, por que desejamos modificar o que é, efetuar uma transformação? Por quê? Porque o que é não nos satisfaz, o que é cria conflito, perturbações, e, como não gostamos desse estado, desejamos algo que seja melhor, mais nobre, mais idealístico. Assim, desejamos a transformação porque existe sofrimento, desconforto, conflito. O conflito pode ser dominado pelo tempo? Se dizeis que sim, continuais em conflito. Podemos dizer que bastarão vinte dias, ou vinte anos, para nos livrarmos do conflito, para modificarmos o que somos, mas durante esse tempo continuaremos em conflito, e por conseguinte, o tempo não efetua transformação alguma. Quando nos servimos do tempo como meio de adquirir uma qualidade, uma virtude, ou um 'estado de ser', estamos apenas adiando, estamos evitando o que é. Julgo importante compreender este ponto. A ambição, ou a violência, causam sofrimento e perturbações no mundo das nossas relações, que constituem a sociedade; cônscios deste estado de perturbação, que denominamos ambição ou violência, dizemos para nós mesmos: 'sairei dele com o tempo; praticarei a não violência, praticarei a não inveja; praticarei a paz'. Ora, desejais praticar a não violência, porque a violência é um estado de perturbação, de conflito, e pensais que com o tempo alcançareis a não violência e dominareis o conflito. Que está realmente acontecendo? Achando-vos em estado de conflito, desejais alcançar um estado em que não haja conflito. Ora, esse estado de não conflito é resultado do tempo, de uma duração? evidentemente não é; porque enquanto estais alcançando o estado de não violência, continuais violentos e, por conseguinte, em conflito. (...)"

(J. Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 111/114)
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quinta-feira, 28 de setembro de 2017

IMAGEM DA ETERNIDADE

"A Teoria da Relatividade surgiu depois da época de Helena Blavatsky. Mas ela já considerava o tempo multidimensional, com muitos aspectos que dependem da nossa observação. Nossas ideias sobre o tempo, originadas das nossas sensações, estão 'inelutavelmente vinculadas à relatividade do conhecimento humano.' e vão se desvanecer quando evoluirmos ao ponto de ver além da existência fenomênica.

Segundo Blavatsky, a duração ilimitada, ou atemporalidade, além da relatividade, é o 'tempo incondicionalmente eterno e universal', o númeno do tempo, não condicionado pelos fenômenos que surgem e desaparecem periodicamente. A duração é 'eterna e, portanto, imóvel, sem começo, sem fim, além do tempo dividido e além do espaço'.

É esse aspecto da realidade que produz o tempo como 'a imagem móvel da eternidade', nas palavras de Platão. Os ciclos de manifestação ocorrem dentro da duração infinita, à medida que o atemporal dá origem ao tempo. Assim como ocorre com o espaço e o movimento, nosso mundo familiar de tempo 'dividido' é gerado a partir desse reino indiviso e informe.

A duração abarca tudo simultaneamente, enquanto o tempo que experimentamos precisa se adaptar à visão sequencial: uma coisa de cada vez. É difícil imaginar a realidade como um todo presente simultaneamente na duração, porque nossa mente é parte do processo do tempo. A atemporalidade nos escapa.

Blavatsky explica que aquilo que é visto em um momento específico é a soma de todas as suas diferentes condições, desde o seu surgimento em forma material até o seu desaparecimento da Terra. Ela compara esse somatório com uma barra de metal lançada ao mar. O momento presente de uma pessoa é representado pela seção transversal da barra, no ponto em que o oceano e o ar se encontram. Ninguém diria que a barra surgiu no momento em que deixou o ar ou que desapareceu quanto entrou na água. Da mesma forma, surgimos do passado para mergulhar no futuro, apresentando, momentaneamente, uma faceta de nós mesmos no presente."

(Tempo e atemporalidade - Do livro Sabedoria Antiga e Visão Moderna, Shirleu Nicholson, Ed. Teosófica - Revista Sophia, Ano 2, nº 7 - p. 17)
www.revistasophia.com.br


quarta-feira, 27 de setembro de 2017

UMA PROPRIEDADE DA MENTE (PARTE FINAL)

"(...) As crianças ficam à vontade com o tempo não linear; ao brincar, parecem abolir o relógio. Nós também podemos modificar nossas sensações sobre  o tempo e torná-lo mais lento. Com isso, os processos biológicos também ficam mais lentos e saudáveis. A 'doença da pressa' pode ser revertida através das chamadas 'terapias do tempo', de acordo com Dossey. Isso pode ser feito por meio de técnicas como biofeedback, meditação, hipnose, jogos criativos e visualização de fantasias.

Nessas experiências, passado, presente e futuro se fundem, o que libera as pressões do tempo e quebra momentaneamente o seu domínio sobre nossa vida. Essas práticas também tendem a modificar nosso conceito linear do tempo como algo que avança inexoravelmente para a frente. Podemos aprender a sair dessa prisão e viver um 'presente em fluxo eterno', sentindo a atemporalidade da duração.

Quando não estamos mais dominados pelo tempo linear, vivemos em harmonia os aspectos cíclicos do tempo. Para as pessoas que vivem mais próximas à natureza, os ciclos das estações, do dia e da noite, as fases da lua, o plantio e a colheita - e nossos ciclos internos, como vigília e sono, respiração, menstruação - desempenham um papel importante. O tempo, para essas pessoas, é moldado por eventos recorrentes; a vida se ordena de acordo com ritmos naturais, em vez da segmentação artificial dos relógios.

Para essas pessoas, o tempo é um processo dinâmico e interminável, que retorna continuamente - uma espiral, em vez de um rio. O ritmo do viver representa a preservação do princípio dos ciclos, que a teosofia e a filosofia oriental traduzem como uma espécie de movimento circular por toda a realidade manifestada. Viver em harmonia com os ciclos é estar em harmonia com o universo."

(Tempo e atemporalidade - Do livro Sabedoria Antiga e Visão Moderna, Shirleu Nicholson, Ed. Teosófica - Revista Sophia, Ano 2, nº 7 - p. 16/17)


terça-feira, 26 de setembro de 2017

UMA PROPRIEDADE DA MENTE (1ª PARTE)

"Helena Blavatsky, assim como muitos filósofos, viu que o tempo, como sucessão de eventos, é tanto uma propriedade da nossa mente quanto uma parte da realidade. Nós percebemos de forma seriada e classificamos como passado, presente e futuro; os eventos, entretanto, simplesmente são.

O tempo é uma generalização, um conceito que formulamos a partir da experiência. Depois atribuímos a ele uma existência separada da nossa vivência dos eventos. Blavatsky, contrariando a noção de que o tempo flui e nós permanecemos parados, afirma que 'o tempo é apenas uma ilusão produzida pelos sucessivos estados da nossa consciência, à medida que atravessamos a duração eterna'.

A forte tendência de ordenar as coisas em sequência atua sobre a nossa percepção do mundo. O sentido de tempo linear fragmenta o panorama ininterrupto das mudanças interconectadas da natureza, percebido claramente pelos índios hopi.

Quando sonhamos ou mergulhamos em pensamentos o tempo pode se expandir, de modo que minutos ou segundos parecem horas, ou horas passam num relance. A sensação de passagem rápida ou lenta do tempo pode resultar de fatores físicos, como temperatura corporal, temperatura do ar ou influência de café, chá ou álcool, ou ainda fatores psicológicos como tédio ou interesse. É comum sentir que a semana de trabalho se arrasta, enquanto os fins de semana 'passam voando'.

A 'progressão ordenada, militar, do tempo medido' é muito diferente do 'tempo ilimitado da mente', segundo as expressões de Bérgson. Para alguns o tempo normalmente parece fluir mais lentamente do que para outros. Ao longo do dia, nossa percepção do passar do tempo também muda. Há momentos em que ele é uma corrente que se desloca montanha abaixo; depois, é como um rio sereno na planície. Nenhum dos padrões está 'correto'; o tempo não possui velocidade absoluta. Mas a pressa excessiva pode ser prejudicial e o ritmo lento pode ter efeitos curativos sobre nossa saúde. (...)"

(Tempo e atemporalidadeDo livro Sabedoria Antiga e Visão Moderna, Shirleu Nicholson, Ed. Teosófica - Revista Sophia, Ano 2, nº 7 - p. 16)


quarta-feira, 6 de setembro de 2017

DANDO UM TEMPO

"As pessoas perguntam sempre: 'Por quanto tempo devo meditar? E quando? Devo praticar vinte minutos pela manhã e à noite, ou é melhor fazer várias sessões curtas, ao longo do dia?' Sim, é bom meditar durante vinte minutos, mas isso não significa que vinte minutos é o limite. Nunca li nada sobre vinte minutos nas escrituras; acho que essa é uma noção que foi inventada no Ocidente, e costumo chamá-la de 'Tempo-Padrão Ocidental de Meditação'. A questão não é por quanto tempo você vai meditar, a questão é saber se a meditação de fato lhe traz certo estado de presença mental em que você está um pouco aberto e pode entrar em contato com a essência do seu coração. E cinco minutos de prática sentado, plenamente consciente, têm valor muito maior do que vinte minutos de cochilo!

Dudjom Rinpoch dizia que um iniciante devia praticar em sessões curtas. Praticar por quatro ou cinco minutos e então fazer uma pequena pausa de apenas um minuto. Durante a pausa deixar o método de lado, mas não abandonar o estado desperto de sua consciência. É curioso que às vezes, quando você está lutando para praticar corretamente, no exato momento em que descansa do método - se ainda está alerta e no presente - é que a meditação de fato acontece. Por isso a interrupção é parte tão importante da meditação quanto o sentar-se em si. Às vezes digo a alunos que estão tendo problemas com a prática para praticarem durante a interrupção e descansarem durante a meditação!

Sente-se por um curto período de tempo, então descanse, um pequeno descanso de cerca de trinta segundos ou um minuto. Mas mantenha-se consciente do que faz, e não perca sua presença e seu relaxamento natural. Então ponha-se desperto e sente-se outra vez. Se fizer muitas sessões curtas como essas, os intervalos frequentemente farão sua meditação mais real e mais inspiradora; elas podem livrar sua prática da rigidez, solenidade e artificialismo toscos e maçantes, trazendo mais concentração e leveza. De modo gradativo, através dessa ação recíproca do descanso e do sentar-se, a barreira entre a meditação e a vida cotidiana desmoronará, o contraste entre elas se dissolverá e você se encontrará cada vez mais em sua pura presença natural, sem distração. Então, como diz Dudjom Rinpoche, 'mesmo que o meditador deixe a meditação, a meditação não deixará o meditador'."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 110/111


segunda-feira, 28 de agosto de 2017

POSSO CONFIAR NA MINHA EXPERIÊNCIA?

"A maioria de nós está satisfeita com a autoridade porque ela nos proporciona uma continuidade, uma certeza, uma sensação de proteção. Mas aquele que entendesse as implicações dessa profunda revolução psicológica deveria estar livre da autoridade, não é? Não se pode buscar nenhuma autoridade, seja de criação própria ou imposta por outra pessoa. Isso é possível? É possível para não confiar na autoridade da própria experiência?

Mesmo tendo rejeitado todas as expressões externas da autoridade - livros, professores, sacerdotes, igrejas, crenças -, ainda tenho a sensação de que pelo menos posso confiar no meu próprio julgamento, em minhas próprias experiências, minha própria análise. Mas será que eu posso confiar na minha experiência, no meu julgamento, na minha análise? Minha experiência é o resultado do meu condicionamento, assim como o de qualquer pessoa, não é? Posso ter sido criado como muçulmano, budista ou hindu, e minha experiência vai depender dos meus antecedentes cultural, econômico, social e religioso. Eu posso confiar nisso? Posso confiar na orientação, na esperança, na visão que me dará fé no meu próprio julgamento, que mais uma vez é o resultado de lembranças acumuladas, experiências, o condicionamento do passado encontrando o presente?... Ora, quando eu coloco todas essas questões para mim mesmo e estou consciente do problema, vejo que pode haver apenas um estado em que a realidade e a novidade podem ser geradas, o que provoca uma revolução. Nesse estado a mente está completamente vazia do passado, não há analista, experiência, julgamento nem qualquer tipo de autoridade."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 35)