OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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terça-feira, 8 de março de 2016

O SENTIDO DO PERDÃO (PARTE FINAL)

"(...) O autotormento do ressentimento pode acabar. Podemos acordar a qualquer momento. Podemos começar a conhecer a nós mesmos, e através de autoconhecimento e do esforço projetado, deixar algumas dessas armadilhas para trás.

Estamos tentando trilhar o caminho espiritual e desenvolver nossos poderes latentes. Um desses poderes é o perdão. Os poderes que H. P. Blavatsky nos encorajou a desenvolver são os do espírito, que nos aproximam dos mestres instrutores da humanidade, que nos aproximam de nossas verdadeiras naturezas, do espírito uno. O perdão é uma disciplina importante no desenvolvimento desses poderes espirituais. Ele nos liberta de sérios constrangimentos e ressentimentos, disponibiliza recursos internos para um trabalho mais elevado e nos inicia em um nível de vida superior. Nós podemos trabalhar para formar um núcleo da fraternidade universal da humanidade e aprender a perdoar os outros em nossos encontros diários. 

No livro Cartas dos Mahatmas a A.P. Sinnett (Ed. Teosófica), o Mahatma K.H. estimula seus correspondentes a se colocar além do autofoco, a abrir mão do passado e se mover com esperança para o futuro. Essa é a essência do perdão.

'Acautelai-vos então de um espírito não caritativo, pois ele poderá elevar-se como um lobo faminto em vossa caminho e devorar as melhores qualidades de vossa natureza, que estão brotando para a vida. Ampliai em vez de estreitar vossas afinidades; tentai identificar-vos com vosso próximo em vez de contrair vosso círculo de afinidades', disse o Mahatma.

Se tivermos algum ressentimento ou animosidade com relação ao próximo, então o momento presente é verdadeiramente uma oportunidade de abrir mão e crescer em nossa humanidade. A vida, o grande iniciador, está sinalizando: vamos em frente!"   

(Betty Bland - O sentido do perdão - Revista Sophia, Ano 12, nª 51 - p. 8/9)


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

SOFRIMENTO - CRÉDITO (PARTE FINAL)

"(...) O sofrimento-crédito é fator de aperfeiçoamento, ou autorrealização, quando realizado devidamente.

De maneira que nenhum sofredor tem motivo para desânimo, pessimismo ou desespero. Em hipótese alguma, pode o fenômeno objetivo do sofrimento ser prejudicial ao homem. O principal não é sofrer ou não sofrer; a principal tarefa de todo o homem, aqui na terra, é realizar-se cada vez mais.

E, por mais desagradável que seja nossa autorrealização, ela é, quase sempre, mais favorecida pelo sofrimento do que pelo gozo. Uma vida de gozo reforça o ego humano, uma vida de sofrimento fortalece o Eu divino do homem. 

A revolta habitual contra o sofrimento prova que o homem não compreendeu a verdadeira razão de ser da sua existência terrestre, que não é gozo nem sofrimento, mas autorrealização. E, como a autorrealização é impossível sem reconhecimento, deve o homem, acima de tudo, realizar o seu autoconhecimento, saindo da ilusão tradicional de se identificar com o seu ego humano, e entrar na verdade libertadora de se identificar com o seu Eu divino, com sua alma, com o Cristo interno, com o Pai imanente: 'Eu e o Pai somos um'.

A maior acerbidade do sofrimento não é o sofrimento em si mesmo, mas é a absurdidade do sofrimento. Mas essa absurdidade desaparece quando o homem sabe realmente o que ele é.

Então, todo o sofrimento é, pelo menos, tolerável. Tudo pode o homem tolerar quando ele se tolera a si mesmo."

(Huberto Rohden - Porque Sofremos - Ed. Martin Claret, São Paulo, 2004 - p. 30/31)

sexta-feira, 24 de abril de 2015

QUE É SER FELIZ? (PARTE FINAL)

"(...) Onde não há autoconhecimento, experiência da realidade divina do Eu espiritual, não há felicidade, paz, alegria. Enquanto o homem conhece apenas o seu ego físico-mental-emocional, vive ele no plano da guerra e do armistício; quando descobre o seu Eu espiritual, faz o grande tratado de paz e de alegria no templo da Verdade Libertadora.

Armistício, certamente, é melhor que guerra - mas não é paz, e por isto não garantem felicidade duradoura ao homem.

Por isto, o homem, no plano da guerra e do armistício infelizes, procura por todos os modos esquecer-se, por umas horas, por uns dias, por umas noites da sua falta de felicidade, dando caça desenfreada a todas as diversões; uns se narcotizam com dinheiro, negócios, comércio, indústria; com ciências e artes; outros ainda se embriagam com luxúria sexual, com álcool, e outros entorpecentes; outros, os mais ricos viajam de país em país, de mar em mar, e, enquanto assim se esquecem da sua infelicidade, julgam ser felizes.

Praticam, no mundo espiritual, o mesmo charlatanismo que praticam no mundo material: reprimem os sintomas do mal, por meio de anestésicos e analgésicos e nunca chegam a erradicar a raiz do mal, que seria o autoconhecimento, e a subsequente autorrealização, que lhes dariam saúde e paz definitivas. (...)

O ego de boa vontade é, certamente, melhor que o ego de má vontade - mas somente o Eu sapiente é que está definitivamente remido de todas as suas irredenções e escravidões. Somente a Verdade, intuída e vivida, é que dá libertação real e definitiva.

A felicidade, a alegria, a paz - são os frutos da Verdade Libertadora."

(Huberto Rohden - O Caminho da Felicidade - Alvorada Editora e Livraria Ltda., São Paulo, 7ª edição - p. 21/22)

quarta-feira, 22 de abril de 2015

QUE É SER FELIZ? (3ª PARTE)

"(...) Remediar é remendar - não é curar, erradicar o mal.

A cura e erradicação consiste unicamente na entrada numa nova dimensão de consciência e experiência. Não consiste numa espécie de continuísmo - mas sim num novo início, numa iniciativa inédita, numa verdadeira iniciação.

Não se trata de 'pôr remendo novo em roupa velha', na linguagem do Nazareno; trata-se de realizar a 'nova creatura em Cristo', que é a transição da consciência do ego horizontal e ilusório para a consciência do Eu vertical e verdadeiro.

Todos os mestres da humanidade afirmam que a verdadeira felicidade do homem, aqui na terra, consiste em 'amar o próximo como a si mesmo'. Ou então em 'fazer aos outros o que queremos que os outros nos façam'. 

Existe essa possibilidade de eu amar meu semelhante assim como me amo a mim mesmo?

Em teoria, muitos o afirmam - na prática poucos o fazem.

Donde vem essa dificuldade?

Da falta de verdadeiro autoconhecimento. Pouquíssimos homens têm uma visão nítida da sua genuína realidade interna; quase todos se identificam com alguma facticidade externa, com o seu ego físico, seu ego mental ou seu ego emocional. E por esta razão não conseguem realizar o amor-alheio igual ao amor-próprio, não conseguem amar o seu próximo como se amam a si mesmo. Alguns, num acesso de heróica estupidez, tentam amar o próximo em vez de si mesmos, o que é flagrantemente antinatural, como também contrário a todos os mandamentos dos mestres da humanidade. Todos sabem que o amor-próprio de todo ser vivo é a quintessência do seu ser; nenhum ser vivo pode existir por um só momento sem se amar a si mesmo; esse amor-próprio é idêntico à sua própria existência. (...)"

(Huberto Rohden - O Caminho da Felicidade - Alvorada Editora e Livraria Ltda., São Paulo, 7ª edição - p. 19/20)

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

DISCERNIMENTO¹

“(§05) Entre o certo e o errado não deveria ser difícil escolher, pois aqueles que desejam seguir o Mestre já se decidiram a seguir o certo a todo custo. Mas o corpo e o homem são dois, e a vontade do homem não é sempre a que o corpo deseja. Quando o teu corpo deseja alguma coisa, para e pensa se tu realmente desejas isso. Pois tu és Deus, e tu queres somente o que Deus quer; mas deves penetrar fundo dentro de ti mesmo para encontrar Deus dentro de ti e ouvir a Sua voz, que é a tua voz. Não confundas teus corpos contigo mesmo - nem o corpo físico, nem o astral, nem o mental. Cada um deles pretende ser o Ego, para obter o que deseja. Precisas, porém, conhecê-los todos, e conhecer-te a ti mesmo como senhor deles.”

Após mostrar, no parágrafo anterior, que o discernimento deve ser exercitado e entendermos que discernimento gera mais discernimento, deveremos, através do autoconhecimento, buscar dentro de nós a voz interior “mas deves penetrar fundo dentro de ti mesmo para encontrar Deus dentro de ti e ouvir a Sua voz, que é a tua voz.” Essa é uma tarefa árdua e que leva muitas vidas, uma vez que já estamos identificados com outros nossos corpos. Nos envolvemos tanto na matéria, criamos tantos hábitos, que nem percebemos que somos comandados pelas nossas emoções e pensamentos. Somente através de uma investigação interior, perscrutando cada sentimento e pensamento é que poderemos iniciar o trabalho de domínio dos corpos inferiores. Essa é a parte árdua do trabalho onde poderemos cair nas armadilhas da autopiedade ou então da autocondenação, o que não nos levaria a lugar algum.

Em determinada etapa desse processo, mesmo após identificar o que não é a voz do nosso Eu Superior, ainda não conseguimos controlar os corpos emocional e mental. O apóstolo Paulo já nos falava sobre isso: “Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico.” E temos dificuldade de entender essa luta que existe dentro de nós. 

Ricardo Lindemann coloca muito bem essa luta interior no seu livro A Tradição-Sabedoria no capítulo I, A Contradição Humana. Portanto, a origem do mal que existe em nós é a nossa identificação com nossos desejos e quando buscamos realizá-los na esperança de uma satisfação. Nesse mesmo capítulo, Ricardo Lindemann cita o Katha Upanishad, “Saiba que o Ser é o passageiro e o corpo, a carruagem; que o intelecto é o cocheiro e a mente, as rédeas. Os sentidos, diz o sábio, são os cavalos, as estradas que percorre são os labirintos do desejo.” Como bem diz Lindemann, “nessa bela alegoria oriental”, podemos perceber que podemos nos enredar vida após vida somente cedendo aos desejos dos nossos pensamentos, emoções e sensações e que esses corpos têm vontade própria e essa é a grande batalha de “Kurukshetra”, que cada um deve enfrentar dentro de si mesmo, a fim de que possa dominar esses corpos.

[1] Comentários sobre o parágrafo 5º de Aos Pés do Mestre, de J. Krishnamurti, Ed. Teosófica, p.19-21

Tirza Fanini



quinta-feira, 9 de outubro de 2014

HÁBITOS DESTRUTIVOS (1ª PARTE)

"Um corpo doente fica estressado, e uma mente com temores, esperanças e incertezas também se estressa. Esse estresse está em alta no mundo moderno, com sua filosofia de competitividade e autopromoção. Por isso bastante pessoas estudam o budismo, o Zen, o Vedanta, ouvem palestras e frequentam templos, tentando escapar de tudo.

O monge erudito Srngeri afirmou: ‘As pessoas acreditam que é necessário ir para uma floresta praticar tapas, mas ela pode ser praticada onde quer que se esteja.’ Tapas significa ‘queimar’ os elementos do mundanismo e da impureza. Tapas corporal inclui ser honrado, inofensivo e casto.  Tapas verbal são palavras corretas, que não causem dor, que sejam úteis, que levem ao autoconhecimento. Tapas mental é ser sereno, ter sentimentos puros e uma mente controlada.

Estar fora do mundo significa ser livre, controlar a própria vida sem ser levado a adotar atitudes, valores e crenças por compulsão. No Yoga-Vasishtha e na Bíblia, encontramos conselhos de Vasishtha e Jesus, respectivamente, para sermos como criancinhas. As crianças são felizes por natureza. Elas não lutam contra o mundo, não se preocupam em adquirir bens nem em se autoengrandecer. São apenas elas mesmas.

Em contraste, a essência do mundanismo expressa-se nos adultos em uma atitude de confrontação, consciente ou inconsciente. Mesmo em pessoas que não vivem em circunstâncias duras, o tempo todo existe algo que luta, em um nível sutil. Existe competição na família, no trabalho, nas outras obrigações. Então fatigados pela luta, as pessoas se esforçam para se livrar dela. Ainda não ousam permanecer quietas e em paz; querem sempre realizar algo, chegar a algum lugar. (...)"

(Radha Burnier - Estar no mundo e viver em paz -  Revista Sophia, Ano 11, nº 41 - p. 29/31)


sábado, 31 de maio de 2014

0S CAMINHOS DO AUTOCONHECIMENTO (PARTE FINAL)

"(...) Para compreendermos o processo do que se é devemos seguir cada pensamento, cada sentimento, cada ação. É dificílimo compreender o que é, porque o que é nunca é estático, está sempre em movimento. A compreensão do fato real requer vigilância, com uma mente muito atenta e veloz. Se começamos condenando o que é, ou resistindo a isso, não compreenderemos seu movimento. Para compreender alguém não posso condená-lo; devo observá-lo, estudá-lo. E devo amar o que estou estudando. Se desejamos compreender uma criança, devemos amá-la e não criticá-la. Devemos brincar com ela, observar-lhe os movimentos, as idiossincrasias, os modos de conduta. Se apenas a condenamos, não pode haver compreensão. Da mesma forma, temos que observar o que pensamos, sentimos e fazemos, momento a momento. É preciso ao mesmo tempo um espírito alerta, atento e calmo.

A maioria de nós não é criativa; somos relógios de repetição, e retemos lembranças, experiências e conclusões, nossas ou de outros. Ser criativo não significa pintar quadros ou escrever poesias e tornar-se famoso. A potência criadora é um 'estado de ser' em que a mente se aquieta, já não se focaliza em experiências, ambições ou desejos. A criação não é um estado contínuo, ela se renova a cada momento, é um movimento em que não existe o 'eu', o 'meu'; só assim pode haver compreensão de nós mesmos.

O homem pequeno quer tornar-se um grande homem, o não virtuoso quer ser virtuoso, o fraco e o obscuro anseia por poder, posição e autoridade. É essa a incessante atividade da mente, que nunca pode estar quieta para compreender o estado de criação.

Para transformar esse mundo de angústias, guerras, desemprego, fome e divisões de classes que nos rodeia, urge operar uma transformação em nós mesmos, compreendendo o processo integral do nosso pensamento e do nosso sentimento nas relações. Se pudermos compreender a nós mesmos tais como somos, de momento em momento, ganharemos uma tranquilidade que não é produto da mente. Só nesse estado pode haver criatividade e paz."

(J. Krishnamurti - Os Caminhos do Autoconhecimento - Revista Sophia, Ano 12, nº 49 - Pub. da Ed, Teosófica, Brasília - p. 06/07)

sexta-feira, 30 de maio de 2014

OS CAMINHOS DO AUTOCONHECIMENTO ( 2ª PARTE)

"(...) Para compreendermos a nós mesmos é preciso ter a intenção de compreender, e aí reside nossa dificuldade. Embora descontentes, quase todos nós desejamos realizar uma alteração súbita; nosso descontentamento é canalizado no sentido de chegar a um certo resultado. Quando estamos descontentes procuramos, por exemplo, uma ocupação diferente. O descontentamento, ao invés de nos encher de entusiasmo e nos fazer investigar a vida e todo o seu processo, canaliza-se para algo superficial. Em consequência disso nós nos tornamos medíocres, perdendo daquele ímpeto, aquela intensidade necessária para compreender o significado pleno da existência.

O autoconhecimento não pode ser dado por outros. O indivíduo precisa conhecer a si mesmo tal como é, e não como deseja ser, pois o que ele deseja ser é apenas um ideal imaginário. Para conhecer a si mesmo, o indivíduo precisa de extraordinária vigilância por parte da mente. Tudo está sujeito à constante mudança, por isso a mente não deve ser restringida por dogmas. Se você é ganancioso ou violento, o simples fato de nutrir um ideal de não violência ou de generosidade é de pouco valor. Mas compreender que somos violentos ou gananciosos requer um percebimento extraordinário. Requer honestidade e lucidez de pensamento, ao passo que simplesmente seguir um ideal representa uma fuga que nos impede de perceber e de atuar diretamente sobre o que somos.

A compreensão do que somos, não importa como - feios, bonitos, perversos, malignos - é o começo da virtude. A virtude é essencial, porque dá liberdade. É só na virtude que se pode descobrir e viver - mas não apenas no cultivo da virtude, que leva somente à respeitabilidade, porém não traz compreensão nem liberdade.

Há diferença entre ser virtuoso de fato e o 'vir a ser' virtuoso. O ser virtuoso vem com a compreensão do que é, ao passo que o 'vir a ser' virtuoso é adiamento, ocultação do que é pelo cultivo de um ideal. Se observarmos atentamente, verificaremos que o ideal não tem essa qualidade. A virtude é essencial numa socidedade que se está desintegrando rapidamente. Para criar um novo mundo é preciso liberdade para descobrir; e para ser livre é indispensável a virtude, porque sem virtude não há libertação do medo do que se é.(...)"

(J. Krishnamurti - Os Caminhos do Autoconhecimento - Revista Sophia, Ano 12, nº 49 - Pub. da Ed, Teosófica, Brasília - p. 06)


quinta-feira, 29 de maio de 2014

OS CAMINHOS DO AUTOCONHECIMENTO ( 1ª PARTE)

"Os problemas do mundo são tão colossais e complexos que, para compreendê-los e resolvê-los, temos de estudá-los de maneira muito simples e direta: e a simplicidade não depende de circunstâncias exteriores nem de nossos preconceitos e caprichos. A solução não se encontra em conferências ou projetos, nem na substituição de velhos por novos líderes. Ela se encontra, evidentemente, no criador do problema, na origem dos malefícios, do ódio e da enorme incompreensão entre os seres humanos. A origem é o indivíduo, você e eu, não o mundo, tal como o concebemos. O mundo é uma expressão de nossas relações com os outros, não é algo separado de você e de mim. O mundo é construído pelas relações que estabelecemos entre nós.

Você e eu, portanto, somos o problema, e não o mundo, porque o mundo é a projeção de nós mesmos. Para compreendê-lo, precisamos nos compreender. Nós somos o mundo, e nossos problemas são os problemas do mundo. Nunca é demais repetir isso. Porque temos uma mentalidade indolente, pensamos que os problemas do mundo não nos dizem respeito e têm de ser resolvidos pelas Nações Unidas, ou pela substituição dos velhos líderes. Mostramos uma mentalidade muito elementar ao pensar dessa maneira, porque nós somos os responsáveis pela aterradora miséria e pelo constante perigo de guerra no mundo.

A transformação precisa começar por nós mesmos. O mais relevante é a intenção de compreendermos a nós mesmos, e não esperar que os outros se transformem. Essa obrigação é nossa. Porque, por mais insignificante que seja a vida que vivemos, se pudermos nos transformar, introduzir na existência diária um ponto de vista radicalmente diferente, então talvez venhamos a influir no mundo como um todo, porque ele é fruto das nossas relações com os outros, em escala ampliada.

A compreensão de nós mesmos não é um processo isolado. Não implica se retirar do mundo, porque não se pode viver em isolamento. 'Ser' é estar em relação. É a falta de relações corretas que gera conflitos, angústias e lutas. Por menor que seja o nosso mundo, se pudermos transformar nossas relações, essa transformação, da mesma forma que uma onda sonora, se propagará constantemente no mundo exterior. Se pudermos operar uma transformação aqui, não uma transformação superficial, porém radical, começaremos a transformar o mundo. O autoconhecimento é o começo da sabedoria e, portanto, o começo da transformação e da regeneração de valores. (...)"

(J. Krishnamurti - Os Caminhos do Autoconhecimento - Revista Sophia, Ano 12, nº 49 - Pub. da Ed. Teosófica, Brasília - p. 05/06)

sábado, 17 de maio de 2014

O REINO DA ALEGRIA ESTÁ EM TI (2ª PARTE)

"(...) Será possível definir as condições da felicidade e conquistá-la pouco a pouco? Definições das mais penetrantes continuam a ser dadas pelos pensadores desde o tempo de Confúcio. Mas os homens realmente racionais para aproveitá-las têm sido sempre raros. A maioria dos homens, não tendo encontrado à felicidade onde a procuravam, não se dão conta de que erraram o caminho e passam a acusar o destino, como se a felicidade dependesse simplesmente da sorte e como se a encontrássemos por acaso, sem mérito pessoal, como encontramos um trevo de quatro folhas.

Um sábio oriental comparou a felicidade a um templo sustentado por sete pilares. O templo está dentro de nós, e os pilares são hábitos de pensar e sentir que podemos adquirir.

São eles que criam esse clima habitual de felicidade que faz a diferença entre um homem e outro.

Eis como o sábio os definiu:

1.  Conhece-te e aceita-te tal como és, procurando tirar o máximo dos dons que a natureza depositou em ti. Se nasceste um musgo, não estragues tua vida procurando ser um cedro. Mas sê o melhor musgo que se possa encontrar.
2. Determina um objetivo para tua existência e põe tuas energias a serviço desses objetivos. ‘A maioria dos meus pacientes não padecem de doença alguma, afirma o Dr. Hehmann, mas são vítimas do vazio e da indefinição de suas vidas.’
3. Não te deixe atormentar por receios hipotéticos. Goza plenamente a hora presente e confia no futuro. Muitos homens vivem temendo desgraças que nunca materializam: acidentes, pobreza, insucessos, doenças, agressões, ou deixam o medo da morte entristecer-lhes os dias (para descobrir, no momento da morte, que ela é tão natural quanto a vida). (...)"

(Mansour Challita - Revista Thot - nº 24, 1981 - p. 27)


quinta-feira, 8 de maio de 2014

VICHARA (PARTE FINAL)

"(...) Pratica vichara a pessoa que toma sábia iniciativa de (com isenção, sem medo, sem pena de si mesmo, sem alvoroço e mesmo sem ânsia de curar-se) assistir ao desenvolvimento de um defeito ou ao desenrolar de uma crise, procurando, acima de tudo, perceber-lhe os motivos ocultos, sem pretender sustar, sem condenar, sem procurar explicar as coisas com racionalizações confortadoras. (...)

Eis um exemplo de racionalização. Uma pessoa não resiste à bebida, e mesmo após ter ensaiado uma resistência, fraqueja e bebe. Para não ficar mal perante a si mesma, manipula uma explicação, com a qual se engoda. Diz então que o álcool é um vasodilatador que dá energia, que protege contra o frio, que estimula...

Como se vê, a racionalização é o oposto de vichara. Enquanto vichara desilude, libertando, a racionalização escraviza, por esconder a verdade. Quem quiser conhecer-se a si mesmo, fique alerta contra tal cilada da mente, que é a racionalização.

Da próxima vez que começar a sentir as primeiras emoções de uma crise, em vez de amedrontar-se e correr para as bolinhas, faça o oposto. Sente-se relaxado, sereno, corajoso, calmo, sem luta, e comece a tomar consciência de tudo que for acontecendo. Procure conhecer as causas. Nada de pânico. Nada de apiedar-se de si mesmo. Nada de esforços para resistir e vencer. Faça ishwarapranidhana ou seja, entregue-se confiante a Deus e se comporte como um tranquilo observador, sem qualquer participação. Faz de conta que a 'coisa' se passa do outro lado de uma vitrina.

Isso o ajudará a descobrir que a cobra ameaçadora é somente uma inofensiva corda. Isso lhe dará confiança e domínio sobre o inimigo que até então parecia invencível. Faça o mesmo com todo o comportamento, impulso, compulsão, atitude, e verá que irá se tornando cada vez menos vulnerável e cada vez mais senhor de si."

Hermógenes - Yoga para Nervosos - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 2004 - p. 150/151)


quarta-feira, 7 de maio de 2014

VICHARA (2ª PARTE)

"(...) O Verdadeiro Eu está escondido daqueles que, pessimistas, negativistas, se consideram inferiores, imperfeitos, fracos e degradados, e filhos do pecado. Está também fora do alcance do orgulhoso, que se considera o maior do mundo. Está iludido quem se julga arrasado e perdido. Também o está quem se analisa, mas imbuido de vaidade. Tanto o sentimento de inferioridade como seu oposto são produtos do egoísmo. São a 'cobra' e não a 'corda'. 

Os obstáculos que mais dificultam o julgamento de nós mesmos são: autocomplacência, autopiedade, autosseveridade. Pelo primeiro, o indivíduo, desejando uma agradável visão de si mesmo, obscurece os defeitos e enfatiza tudo o que considera perfeição. Pelo segundo, desejando sentir-se um coitado, uma vítima, um perseguido, exagera tudo o que o faça sofrer mais um pouco. O terceiro obstáculo é o oposto do primeiro. Por ele, o perfeccionista de si mesmo se fixa sobre o que precisa ser corrigido em seu caráter, temperamento ou personalidade, e não se interessa por saber o que ele tem de positivo e de bom.

Qualquer dessas três atitudes é fonte de egoísmo, e do egoísmo nasce. Qualquer delas impede o autoconhecimento, além de servirem como amplificadores das emoções e, consequentemente, do estresse.

Vichara requer uma atitude de isenção. Quem quer chegar à conclusão de que é uma peste de ruim, ou, ao contrário, uma santa criatura, ou um infeliz esquecido de Deus, está cometendo o absurdo de iniciar a pesquisa já procurando confirmar um diagnóstico prévio e, assim, não chega a saber quem realmente é. Quem teme descobrir suas próprias inferioridades e mesmo anormalidades, bem como quem deseja cada vez mais orgulhar-se do perfeito que é, não realiza vichara. É preciso serena coragem e perfeita isenção para conseguir tirar proveito da desilusão, que lhe permite conhecer-se. 

Somente quando serena e corajosamente, sem temor ou vergonha, sem severidade ou piedade, descobrimos que somos mentirosos, mentirosos deixamos de ser. Mentirosos continuamos a ser enquanto só nos outros vemos a mentira. A condição de curar-se da vaidade é chegar, com isenção, ao diagnóstico da própria vaidade. Na opinião de algumas escolas de pensamento, nos libertamos da insegurança assim que nos reconhecemos inseguros. Até mesmo comportamentos obsessivos, tiques nervosos, hábitos errados e vícios não são vencidos sem a conscientização dos mesmos. (...)"  

(Hermógenes - Yoga para Nervosos - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 2004 - p. 149/150)


terça-feira, 6 de maio de 2014

VICHARA (1ª PARTE)

"'Conhecer-te a ti mesmo' era o dístico, que tendo achado no pórtico do templo de Delfos, Sócrates ensinava a seus díscipulos. Autoanalisa-te, díriamos hoje. Pratica vichara (autopesquisa), ensina o yoga. Em outras palavras, eu sugeriria: desilude-te em relação a ti mesmo. 

Tal sugestão soa como um conselho pessimista. Não é?

Desiludir-se não é negativismo. É libertar-se. É melhorar. É progredir para Deus. É salvar-se. Os iludidos ou estão no ou vão para o inferno. Só os desiludidos chegam ao céu. Que Deus abençoe minhas desilusões!

Quando um ser humano consegue desiludir-se do falso diagnóstico que de si mesmo fazia, as portas do céu lhe são abertas. Ninguém é tão bom como orgulhosamente se acredita, nem tão inferior quanto pessimistamente pensa ser. Tanto a primeira como a segunda ilusão devem ceder à judiciosa e redentora autognose, isto é, o conhecimento (gnose) real de si mesmo. Vichara é a busca, o inquérito no estilo 'quem sou eu'.

Cada um de nós é - quando livre da ilusão - a própria Realidade. O homem foi feito à imagem e semelhança de Deus. Não é o que se sabe?! - Pois bem, vamos procurar Deus através de conhecer aquilo que somos, descartando-nos, para isso, dos falsos juízos que de nós fazemos. Simples, não é?

Pois lhe digo que é obra ciclópica, que quase ninguém consegue realizar. No entanto, o pouco que conseguirmos na procura de nosso Verdadeiro Eu já pode nos melhorar a úlcera; dar-nos alegria se estivermos tristes, e vida, se desanimados. (...)"

(Hermógenes - Yoga para Nervosos - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 2004 - p. 148/149)


domingo, 19 de janeiro de 2014

CONHECE-TE A TI MESMO

"O antigo ditado grego Gnothi seauton, conhece-te a ti mesmo, é um excelente conselho. O autoconhecimento é absolutamente necessário a qualquer candidato a progresso, porém, precisamos tomar muito cuidado para que esse autoexame não degenere em introspecção mórbida, como frequentemente acontece com alguns de nossos melhores estudantes. Muitas pessoas preocupam-se, com receio de estarem ‘recuando’ sem saber, como elas dizem. Caso conhecessem um pouco melhor o método da evolução, veriam que ninguém pode recuar quando a corrente toda está movendo-se constantemente para a frente. 

A correnteza de um rio forma redemoinhos por trás das pedras, onde a água gira em torno de um ponto e, por um momento, parte dela move-se para trás, mas toda massa d’água, incluindo os redemoinhos, está sendo arrastada pela correnteza. Assim, aquela água do redemoinho que aparentemente desliza para trás em relação ao resto da corrente está sendo levada para frente junto com toda a água. Até mesmo as pessoas que nada fazem por sua evolução e deixam as coisas seguirem à deriva estão gradualmente evoluindo, pois a força irresistível do Logos pressiona-as continuamente para a frente, mas se movem tão lentamente que passarão por milhões de anos de encarnações, transtornos e inutilidades para conseguirem dar um simples passo."

(C. W. Leadbeater -  A Vida Interna – Ed. Teosófica, Brasília, 1996 - p. 119)


sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O QUE É A FELICIDADE?

"Todo ser humano tem, em seu âmago, uma ânsia pela felicidade. Mas a vida humana, em geral, é de ansiedade, busca de prazer, desconfortos e sofrimento. A sede da felicidade, na maioria das vezes, é direcionada ao atingimento de objetivos externos. Isso move as pessoas, mas não resulta em felicidade. Inconscientemente, o indivíduo projeta a felicidade para quando passar no vestibular, para quando conquistar aquela garota, quando comprar uma casa, etc. Cada vez que um objetivo é atingido, há um  sentido de satisfação, uma alegria efêmera, e a pessoa passa, então, a correr atrás de outro objetivo. A felicidade está sempre lá, adiante. A condição presente acaba sendo a de uma pessoa incompleta, em busca da satisfação.

O que é a felicidade? Onde ela pode estar? Em uma visão superficial, poder-se-ia dizer que ela estaria no atingimento dos objetivos da pessoa, que variam de uma para outra. Muitas vezes o indivíduo luta muito por algum objetivo e, quando o atinge, vê que não era o que queria. Outras vezes, não o atingindo, descobre que foi muito melhor não tê-lo atingido, e acaba vendo que a vida é muito mais sábia do que ele mesmo.

A vida é um movimento infinito. Os átomos, as células, a natureza, os planetas, o universo todo pulsa dentro e fora de nós. Esse movimento é inteligente, por mais que não o percebamos. Então, para sermos felizes, precisamos harmonizar-nos com o movimento da vida, fluir com ela, ver o que ela quer, o que é sempre muito mais amplo e verdadeiro do que o meu pequeno querer, restrito e limitado.

Quando o tema relaciona-se com o autoconhecimento, como é o caso da busca da felicidade, palavras como consciência, percepção, compreensão, verdade e ilusão precisam sempre estar na pauta de nossas reflexões."

(Marcos Luis Borges de Resende - Sem Medo de Ser Feliz - Revista Sophia, Ano 8, nº 29 - Ed. Teosófica, Brasília - p. 34)


quinta-feira, 22 de agosto de 2013

AUTOCONHECIMENTO

"A insuficiência do conhecimento é uma coisa que a cultura de hoje mascara. Ela nos vende a ideia de que o conhecimento é autossuficiente. Isto é um mito, é uma mentira. Uma vez o Sr. Krishnamurti fez a seguinte afirmação em uma de suas palestras ‘Todo o conhecimento ainda está no campo da ignorância’. Provavelmente porque ainda não é autoconhecimento. Autoconhecimento é o conhecimento da essência, do solo do ser.

A impureza mental gera escuridão psicológica. A impureza mental é tudo aquilo que é gerado pela mente no que diz respeito a nós mesmos, às nossas preferências, aos nossos hábitos, aos nossos condicionamentos. Se deixarmos nossa mente vagar apenas nessa dimensão pessoal não há muita possibilidade de uma experiência mais profunda. É por isso que as tradições dizem: reservem um espaço no dia para ficarem quietos consigo mesmos, em silêncio.

Se vocês quiserem orar, orem; se quiserem meditar, meditem; se quiserem não pensar, não pensem, mas isto é importante porque é o momento em que podemos começar a abrir um canal de comunicação entre a personalidade externa e a alma. Os gregos estavam certos quando eles diziam ‘soma sema’ (o corpo é o cárcere da alma). É claro que isto interpretado de uma forma mecanicista leva a uma demonização do corpo. Não se trata disso.

O corpo é instrumento da consciência, mas precisamos manter nossa mente vigilante e este processo de purificação deve continuar dia após dia. Este processo de purificação não tem nada a ver com moralismos, não tem nada a ver com adotar um código externo de conduta e ficar se policiando para cumprir tal código. O processo de purificação é um processo constante, onde se identifica os elementos de egocentrismo que surgem na nossa mente, em nossa consciência."

(Pedro R. M. Oliveira - Religião como Experiência - Revista Theosophia - julho/agosto/setembro 2007 - Pub. Sociedade Teosófica do Brasil)


sábado, 17 de agosto de 2013

UNIDADE COM A VIDA (PARTE FINAL)

"(...) As dificuldades e os perigos do caminho espiritual surgem da presença de um eu ainda ativo. Por isso os gurus alertavam os aspirantes a não tentar seguir adiante sem o preparo adequado, na expectativa de conseguir resultados cedo demais. Isso também se aplica a nós. Os estados de crescimento variam e aquilo que é útil em um estágio pode não servir em outro; pode até mesmo se tornar danoso ou estagnar o progresso. 

O egoísmo e a presunção são mais danosos quando alojados nos princípios superiores do que quando associados aos princípios inferiores e ao corpo físico. A metáfora da escada ilustra isso: diz-se ao aspirante para não tentar colocar o pé sujo nem mesmo no mais baixo degrau da escada que leva à ascensão espiritual.

O livro Luz da Ásia, de Edwin Arnold, fala sobre isso. Quando Gautama encontra Sujata, come arroz cozido e leite adoçado, abençoa seu filhinho e pergunta a ela se apenas viver é suficiente - se bastam a vida e o amor. Sujata diz: 'O meu coração é pequenino, e um pouco de chuva que mal umedece o campo enche a copa do lírio.' Ela fala do seu trabalho diário, os cuidados com a família, a oração pela manhã e a visita ao templo à noite, a caridade e as boas ações; segue os ensinamentos dos livros sagrados, confiante de que aquilo que virá será bom.

Gautama então disse: 'Mais sábio que a sabedoria é o teu saber simples. Ficai contente em não saber, sabendo assim, a teu modo, o que é certo e qual o teu dever: crescei, ó flor, com a tua doce espécie à sombra pacífica - a luz do sol do meio-dia não é para as tenras folhas que deverão desdobrar-se sob outros sóis e elevar em vidas futuras uma cabeça coroada aos céus.'

O autoconhecimento é um estado de unidade com a vida. A vida espiritual começa a reluzir em pureza, liberdade, alegria e compaixão ilimitadas. Todos atingirão esse estado - alguns mais cedo, outros mais tarde. O progresso está nas mãos da própria pessoa, desde que haja um profundo impulso interior de seguir adiante."

(Surendra Narayan - Revista Sophia nº 38 - Ed. Teosófica, Brasília - p. 27)


domingo, 4 de agosto de 2013

A OBSERVAÇÃO INTERNA

"A existência do eu é conhecida através dos seus movimentos na forma de pensamentos, emoções, motivações e assim por diante. Se não há movimento, é impossível ter consciência do eu. Para compreender a sua natureza, é preciso, portanto, entender o que está acontecendo interiormente, o que não é fácil, porque a natureza e a qualidade das atividades da mente estão constantemente se modificando. Se a mente aprendeu a ser sofisticada, essas mudanças são rápidas e sutis. São necessárias clareza, lógica e perspicácia para que a pessoa possa perceber e entender estes movimentos.

A observação dos fatos externos aumenta a perspicácia e a clareza. A pessoa que não está acostumada a observar fica, inevitavelmente, em desvantagem diante da tarefa de conhecer o eu. Assim, deve-se aprender a ver as árvores, a terra, o céu e as estrelas, a feiura e a beleza, a dor e a alegria.

Pode parecer uma perda de tempo fazer algo tão banal como olhar e observar as coisas. Mas isso é necessário para que cada candidato ao autoconhecimento perceba as limitações de seu poder de observação; como ele perde modulações sutis e nuances, e de que forma pode aprender sobre cores, formas, movimentos e sentimentos através da observação cuidadosa.

Ao fazer isso, a mente aprende a olhar, ganha lucidez e perspicácia, flexibilidade e sutileza, e faz uma preparação para olhar para dentro. Também é preciso que a mente aprenda a ser racional e lógica na observação dos fatos, pois sem essa capacidade, provavelmente ela será enganada ao olhar as atividades internas."

(Radha Burnier - O Caminho do Autoconhecimento - Ed. Teosófica, Brasília - p. 67/70)


quarta-feira, 12 de junho de 2013

ATITUDE FUNDAMENTAL DO BHAGAVAD GITA

"Segundo a concepção cósmica da filosofia oriental, toda a atividade do homem profano é fundamentalmente trágica, eivada de culpa, ou karma, porque quem age é o ego, e esse ego é uma ilusão funesta, e tudo o que o elo ilusório faz é necessariamente negativo, contaminado de culpa e maldade. 

Se tal é toda e qualquer atividade do homem profano, então estamos diante de um dilema inevitável: ou agir e onerar-se de culpa - ou não agir e assim preservar-se da culpa.

Grande parte da filosofia oriental optou pela segunda alternativa do dilema: não agir, entregar-se a uma total inatividade, abismar-se numa eterna meditação passiva, a fim de não aumentar o débito negativo do karma

O Bhagavad Gita, porém, não recomenda nenhuma dessas duas alternativas: nem o não agir e preservar-se de culpa, nem o agir e cobrir-se de culpa. O Gita descobriu um terceiro caminho: o do agir sem culpa ou karma. O Bhagavad Gita recomenda o caminho do reto agir, equidistante do falso agir e do não agir.

Como pode o homem agir sem se onerar de culpa?

O falso agir é um agir por amor ao ego; mas o reto agir age por amor ao Eu, embora através do ego, e assim a sua atividade não é culpada. 

O reto agir, por amor ao Eu verdadeiro, não só não cria uma nova culpabilidade no presente e no futuro, mas neutraliza também o karma do falso agir do passado, libertando assim o homem de todos os seus débitos. É nisso que consiste a suprema sabedoria do Bhagavad Gita.

Mas para que o homem possa agir assim por amor ao Eu verdadeiro, deve conhecer esse Eu, deve conhecer a verdade sobre si mesmo.

É o que Krishna explica a seu discípulo Arjuna através dos 18 capítulos que perfazem o diálogo deste poema metafísico; autoconhecimento para tornar possível a autorrealização pelo reto agir.

A quintessência do Gita é, pois, um convite para o reto agir, porque o homem não se realiza nem pelo não agir, nem pelo falso agir.

A alma do Bhagavad Gita é um poema de autorredenção pela autorrealização baseada no autoconhecimento.

Homem, conhece-te a ti mesmo!

Homem, realiza-te!"

(Huberto Rohden - Bhagavad Gita - Krishna - Ed. Martin Claret, São Paulo - p. 1/12)


segunda-feira, 29 de abril de 2013

KRIYA YOGA - OS TRÊS COMPONENTES - SVADHYAYA (4ª PARTE - II)

"Consiste na insistente busca de nosso Ser Real. É a busca do autoconhecimento (conhece-te a ti mesmo!). Equivale à Jnana Yoga ou Yoga da sabedoria. Trata-se de um permanente esforço para remover o manto das aparências (maya) a fim de chegar a Verdade. O empenho pessoal pela "Verdade que liberta" ou svadhyaya conduzirá você por meio de um processo de redentora desilusão. Para tanto, você deverá exercer e exercitar viveka, sua capacidade de discernir (ou discriminar) entre o ilusório e o verdadeiro, entre o temporário e o eterno, entre o cambiante e o imutável etc. O estudo reflexivo e aprofundado sobre as escrituras sagradas (shastras), a meditação (dhyana), o escutar (shravana) conferências e aulas de pessoas sábias são processos clássicos de buscar a sabedoria. Os métodos védicos mais eficientes para vencer a ignorância são a meditação sobre o Pranava OM, O Atma Vichara e o Gayatri Mantra. Tudo que você aprendeu no capítulo sobre Jnana Yoga é válido para Svadhyaya. São a mesma coisa.

Svadhyaya longe está de ser especulação puramente intelectual. O intelecto não passa de uma simples parte da Consciência Suprema, da qual recebe a luz que parece ter; as extravagâncias intelectuais, por mais avançadas, ocorrem ainda no reino do relativo e do transitório, sendo-lhe, portanto, impossível alcançar a jnana (gnose) da própria Luz, do Ser Transcendente. A Verdade só pode vir de dentro e nunca de fora. A Verdade não é uma aquisição, mas uma des-velação. A Verdade já é. O que nos falta é remover o véu que a esconde. A intuição - e não a razão - é o instrumento capaz. Svadhyaya não resulta de um simples acumular conhecimentos. Ao contrário, é muito mais um despojar-se de supostos conhecimentos. Svadhyaya é uma captação do abissal saber e não um mero conhecer epidérmico. (...)"

(José Hermógenes - Iniciação ao Yoga - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro - p. 53/54)