OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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quinta-feira, 20 de abril de 2017

O PASSADO NÃO CONSEGUE SOBREVIVER DIANTE DA PRESENÇA

"Uma eventual curiosidade quanto ao passado inconsciente poderá ser satisfeita através dos desafios do presente. Quanto mais penetramos no passado, mais ele se torna um buraco sem fundo. Haverá sempre alguma coisa a mais. Você pode pensar que precisa de mais tempo para entender o passado ou se livrar dele, ou, em outras palavras, que o futuro irá finalmente livrá-lo do passado. Isso é ilusão. Só o presente pode nos livrar do passado. Uma maior quantidade de tempo não consegue nos livrar do tempo.

Acesse o poder do Agora. Essa é a chave. O poder do Agora nada mais é do que o poder da sua presença, da sua consciência libertada das formas de pensamento. Portanto, lide com o passado no nível do presente. Quanto mais atenção você der ao passado, mais energia estará dando a ele e mais probabilidades terá de construir um 'eu interior' baseado nele.

Não confunda as coisas. A atenção é essencial, mas não em relação ao passado como passado. Dê atenção ao presente. Dê atenção ao seu comportamento, às suas reações, ao seu humor, seus pensamentos, suas emoções, medos e desejos, da forma como eles acontecem no presente. Ali está o seu passado. Se você consegue estar presente o bastante para observar todas essas coisas, não de modo crítico ou analítico, mas sem julgamentos, significa que você está lidando com o passado e dissolvendo-o através do poder da sua presença.

Não é procurando o passado que você vai se encontrar. Você vai se encontrar estando no presente."

(Eckhart Tolle - Praticando o Poder do Agora - GMT Editores Ltda., Rio de Janeiro, 2016 - p. 52/53)


quarta-feira, 29 de março de 2017

A PRECIOSIDADE DA NOSSA VIDA HUMANA (PARTE FINAL)

"(...) Com a nossa vida humana podemos, ao colocar o Dharma em prática, obter a suprema paz mental permanente, conhecida como 'nirvana', e a iluminação. Uma vez que essas aquisições são não enganosas e são estados últimos de felicidade, elas são o verdadeiro sentido da vida humana. No entanto, porque o nosso desejo por prazer mundano é tão forte, temos pouco ou nenhum interesse pela prática de Dharma. Do ponto de vista espiritual, essa ausência de interesse pela prática de Dharma é um tipo de preguiça denominado 'preguiça do apego'. A porta da libertação permanecerá fechada para nós enquanto tivermos essa preguiça e, consequentemente, continuaremos a vivenciar infortúnio e sofrimento nesta vida e em incontáveis vidas futuras. A maneira de superar essa preguiça, o principal obstáculo para a nossa prática de Dharma, é meditar sobre a morte. 

Precisamos contemplar a nossa morte e meditar sobre ela repetidamente, até obtermos uma profunda realização sobre a morte. Embora, num nível intelectual, todos nós saibamos que definitivamente iremos morrer, nossa percepção sobre a morte permanece superficial. Na medida em que a nossa compreensão intelectual da morte não toca o nosso coração, continuamos a pensar todos os dias 'eu não vou morrer hoje, eu não vou morrer hoje'. Mesmo no dia da nossa morte, ainda estaremos pensando sobre o que faremos no dia ou na semana seguintes. Essa mente que pensa todo dia 'eu não vou morrer hoje' é enganosa – ela nos conduz na direção errada e faz com que a nossa vida humana se torne vazia. Por outro lado, meditando sobre a morte, substituiremos gradativamente o pensamento enganoso 'eu não vou morrer hoje' pelo pensamento não enganoso 'pode ser que eu morra hoje'. A mente que espontaneamente pensa todos os dias 'pode ser que eu morra hoje' é a realização sobre a morte. É essa realização que elimina diretamente a nossa preguiça do apego e abre a porta para o caminho espiritual. 

Em geral, podemos ou não morrer hoje – não sabemos. No entanto, se pensarmos todos os dias 'talvez eu não morra hoje', esse pensamento irá nos enganar porque vem da nossa ignorância; porém, se em vez disso pensarmos todos os dias 'pode ser que eu morra hoje', esse pensamento não irá nos enganar porque vem da nossa sabedoria. Esse pensamento benéfico impedirá a nossa preguiça do apego e irá nos encorajar a preparar o bem-estar das nossas incontáveis vidas futuras ou a aplicar grande esforço para ingressarmos no caminho da libertação e da iluminação. Desse modo, tornaremos significativa nossa vida humana atual. Até agora desperdiçamos, sem sentido algum, nossas incontáveis vidas anteriores: não trouxemos nada conosco das nossas vidas passadas, exceto delusões e sofrimento."

(Geshe Kelsang Gyatso - Budismo Moderno, O Caminho de Compaixão e Sabedoria - Tharpa Brasil, São Paulo, 2016 - p. 30/31)

segunda-feira, 27 de março de 2017

A PRECIOSIDADE DA NOSSA VIDA HUMANA (1ª PARTE)

"O propósito de compreender a preciosidade da nossa vida humana é encorajarmo-nos a extrair o sentido da nossa vida humana e não desperdiçá-la em atividades sem significado. Nossa vida humana é muito preciosa e significativa, mas somente se a usarmos para obter libertação permanente e a felicidade suprema da iluminação. Devemos nos encorajar a realizar o verdadeiro significado da nossa vida humana por meio de compreender e contemplar a seguinte explicação. 

Muitas pessoas acreditam que o desenvolvimento material é o verdadeiro sentido da vida humana, mas podemos ver que não importa quanto desenvolvimento material exista no mundo, ele nunca reduz os sofrimentos e os problemas humanos. Em vez disso, ele frequentemente faz com que os sofrimentos e os problemas aumentem; portanto, ele não é o verdadeiro sentido da vida humana. Devemos saber que, vindos das nossas vidas anteriores, alcançamos agora o mundo humano por apenas um breve instante e que temos a oportunidade de obter a felicidade suprema da iluminação praticando o Dharma. Essa é a nossa extraordinária boa fortuna. Quando alcançarmos a iluminação, teremos satisfeito todos os nossos desejos e poderemos satisfazer os desejos de todos os demais seres vivos; teremos libertado a nós próprios permanentemente dos sofrimentos desta vida e de incontáveis vidas futuras, e poderemos beneficiar diretamente todos e cada um dos seres vivos, todos os dias. A conquista da iluminação é, portanto, o verdadeiro sentido da vida humana. 

A iluminação é a luz interior de sabedoria que é permanentemente livre de toda aparência equivocada e que atua concedendo paz mental para todos e cada um dos seres vivos, todos os dias – essa é a função da iluminação. Agora mesmo obtivemos um renascimento humano e temos a oportunidade de alcançar a iluminação pela prática do Dharma; assim sendo, se desperdiçarmos esta preciosa oportunidade em atividades sem significado, não haverá maior perda nem maior insensatez do que essa. O motivo é que tal oportunidade preciosa será extremamente difícil de ser encontrada no futuro. Em um Sutra, Buda torna isso claro por meio da seguinte analogia. Ele pergunta aos seus discípulos: 'Imaginem que exista um vasto e profundo oceano do tamanho deste mundo; que, em sua superfície, haja uma canga dourada flutuando; e que, no fundo do oceano, viva uma tartaruga cega que vem à superfície apenas uma vez a cada cem mil anos. Quantas vezes a tartaruga colocaria sua cabeça no meio da canga?'. Ananda, seu discípulo, respondeu que, certamente, isso seria extremamente raro. 

Nesse contexto, o vasto e profundo oceano refere-se ao samsara – o ciclo de vida impura que temos experienciado desde tempos sem início, continuamente, vida após vida, sem fim; a canga dourada refere-se ao Budadharma, e a tartaruga cega refere-se a nós. Embora não sejamos fisicamente como uma tartaruga, mentalmente não somos muito diferentes; e embora os nossos olhos físicos possam não ser cegos, os nossos olhos de sabedoria o são. Na maioria das nossas incontáveis vidas anteriores, permanecemos no fundo do oceano do samsara, nos três reinos inferiores – no reino animal, no reino dos fantasmas famintos e no reino do inferno – emergindo como ser humano apenas a cada cem mil anos, mais ou menos. Mesmo quando alcançamos brevemente o reino superior do oceano do samsara como um ser humano, é extremamente raro encontrar a canga dourada do Budadharma: o oceano do samsara é extremamente vasto, a canga dourada do Budadharma não permanece num único lugar, mas move-se de um lugar a outro, e os nossos olhos de sabedoria estão sempre cegos. Por essas razões, Buda diz que, no futuro, mesmo se obtivermos um renascimento humano, será extremamente raro encontrar o Budadharma novamente; encontrar o Dharma Kadam é ainda mais raro que isso. Podemos ver que a grande maioria dos seres humanos no mundo, embora tenham brevemente alcançado o reino superior do samsara como seres humanos, não encontraram o Budadharma. O motivo é que os seus olhos de sabedoria não se abriram. (...)"

(Geshe Kelsang Gyatso - Budismo Moderno, O Caminho de Compaixão e Sabedoria - Tharpa Brasil, São Paulo, 2016 - p. 27/29)
Fonte:  https://cienciaespiritualidadeblog.wordpress.com



sábado, 25 de março de 2017

CRIATIVIDADE (1ª PARTE)

"O carma, assim, não é fatalista nem predeterminado. Carma significa a nossa habilidade de criar e mudar. É criativo porque podemos determinar como e por que agimos. Nós podemos mudar. O futuro está em nossas mãos, e nas mãos do nosso coração. (...)

Como tudo é impermanente, fluido e interdependente, o modo como agimos e pensamos inevitavelmente muda o futuro. Não há situação, por mais que pareça desesperançada ou terrível, como uma doença terminal, que não possa ser usada para crescermos através dela. E não há crime ou crueldade que o arrependimento sincero e a verdadeira prática espiritual não possam purificar.

Milarepa é considerado, no Tibete, o maior dos iogues, poetas e santos. Lembro-me, ainda criança, da emoção que sentia ao ler a história de sua vida e estudar minuciosamente as pequenas ilustrações pintadas em minha cópia manuscrita de sua biografia. Ainda jovem, Milarepa treinou-se para ser feiticeiro, e por vingança matou e arruinou incontáveis vidas com sua magia negra. Ainda assim, pelo remorso e com os sacrifícios que fez sob a orientação de seu grande mestre Marpa, conseguiu purificar-se de todas essas ações negativas. Finalmente iluminou-se, tornando-se aquele que inspirou milhões de pessoas através dos séculos. 

Dizemos no Tibete: 'A ação negativa tem uma qualidade boa: ela pode ser purificada'. Assim, sempre há esperança. Mesmo os assassinos e os malfeitores mais cruéis podem mudar e superar o condicionamento que os conduziu aos seus crimes. Nossa condição presente, se a usarmos com habilidade e sabedoria, pode servir de inspiração para nos libertar do cativeiro do sofrimento. (...)"

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 132/133)
www.palasathena.org


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

OPORTUNIDADES PARA CRESCER

"Uma das grandes características de uma pessoa madura é a habilidade para discernir o verdadeiro valor da adversidade e do sofrimento - não apenas como um consolo agradável para aliviar a dor, mas como uma genuína acuidade de percepção sobre o papel incalculável que as vicissitudes desempenham no nosso crescimento.

Não foi apenas pela poesia que Shakespeare escreveu as imortais linhas: 'Doces são os usos da adversidade, que como o sapo, feio e venenoso, usa, no entanto, uma joia preciosa na cabeça.'

O homem experiente sabe como isso é verdadeiro e aprendeu a dar as boas-vindas à adversidade como a uma amiga, não uma inimiga.

Alguns leitores podem dizer: 'É fácil para você dizer isso. Se passasse por tudo o que eu passei, talvez você não estivesse tão disposto a chamar o infortúnio de amigo.'

Pode ser que sim. Existem poucas pessoas para quem o fardo de dificuldades pode parecer imoderadamente pesado. Mas lembremos de uma sábia observação de Sócrates, repetida por Heródoto e Montaigne, entre outros: 'Se tivéssemos todos que trazer nossos infortúnios para um armazém comum, de modo que cada pessoa pudesse receber uma parte igual na distribuição, a maioria ficaria feliz de pagar sua parte e ir-se embora.'

Os anos de experiência revelam que o infortúnio é uma sina comum a todos os homens e mulheres. Algumas pessoas, no entanto, parecem jamais ser perturbadas pelos revezes, não importa o quão terríveis pareçam. Elas ainda conseguem manter a placidez e a alegria genuínas, e confiantemente buscam uma carreira de sucesso. A maior parte das pessoas, no entanto, parece estar constantemente perturbada pelas adversidades passadas e presentes, como também se preocupa com os infortúnios que ainda não chegaram.

Quando a adversidade é vista simplesmente como um acontecimento doloroso e nada mais, então a pessoa não se elevou acima do ponto de vista estreito do indivíduo médio que reclama dos problemas e que é por eles amargurado. A superfície da Terra está cheia de pessoas assim - infelizes, aflitas, defensivas e desmoralizadas.

A pessoa que viu o verdadeiro valor da adversidade é aquela que praticamente se libertou da dor aguda e destrutiva trazida pelos acontecimentos ruins. Ela ainda sente a dor, mas a utiliza para vantagem própria, e não se deixa abater."

(Vicente Hao Chin Jr - Oportunidades para crescer - Revista Sophia, Ano 7, nº 26 - p. 32)


domingo, 26 de fevereiro de 2017

O ESTADO ANORMAL DE SEPARATIVIDADE

"Dificilmente nos ocorre a ideia de refletirmos nos persistentes e excelsos esforços que todos temos de desenvolver para manter a ilusão de nossa personalidade separada. Durante todo o dia temos que nos afirmar, defender nossa adorada individualidade de todo ataque, cuidar que não seja ignorada, desrespeitada, ofendida ou, de qualquer forma, que lhe seja negado o reconhecimento que sentimos lhe é devido. Além disso, em tudo que almejamos para nós mesmos, procuramos vigorizar nossa personalidade separada pela aquisição dos objetos desejados.

É através da identificação de nosso verdadeiro Ser espiritual com os corpos temporários pelos quais se manifesta que nasce a ilusão de nosso eu separado. É como se a consciência do verdadeiro Ser ou Ego fosse esticada para dentro dos corpos, e lá fosse presa e torcida de tal maneira a formar uma esfera separada de consciência, centrada em volta dos corpos a que está aderida. Esse, porém, não é um estado normal, mas essencialmente anormal e não natural. Do mesmo modo, poderíamos dizer que seria normal e natural esticar uma faixa de borracha por uma de suas pontas e aderir a superfície assim formada a um objeto fixo. Entretanto, essa aderência seria anômala, pois o momento em que separássemos a borracha do objeto, a faixa de borracha recobraria seu formato natural e harmonioso. De maneira similar, só necessitamos liberar nossa consciência dos corpos aos quais a aderimos. Precisamos apenas renunciar à ilusão de separatividade, que tão ternamente acariciamos de contínuo, para que a porção de consciência que constitui a personalidade separada se reintegre automaticamente ao Eu Superior, ao nosso verdadeiro Ser.

Muito se fala do esforço e da força necessários para alcançar a consciência espiritual; mas que consideração é dada à tensão e ao empenho necessários para manter a ilusão de separatividade? É verdade que nós nem percebemos que a mantemos; tornou-se uma segunda natureza para nós afirmar nossa personalidade à custa do que nos rodeia, para adquirir o que desejamos e conservar o que temos. E, como consequência, não nos apercebemos do gigantesco esforço necessário para essa autoafirmação e engrandecimento de nossa personalidade. No entanto, ele está lá.

Então, nos livramos, mediante um resoluto empenho da Vontade, da potente superstição que nos mantém escravizados aos mundos da matéria e nos impede de reconhecer o que verdadeiramente somos; e reconheçamos, asseguremos e mantenhamos nossa divindade. Não há orgulho nem separatividade nessa afirmação, já que a tônica desse mundo no qual entramos dessa forma, nosso verdadeiro mundo, é a unidade; e condições como vaidade e orgulho pessoal não podem existir em tal atmosfera. O orgulho é uma planta que só pode florescer nas regiões mais grosseiras dos mundos da matéria; e tudo isso necessariamente deixa de existir desde o momento em que entramos em nosso verdadeiro Lar.

Somente libertando nossa consciência da escravidão dos corpos, reconhecendo os poderes que todos temos como Ser divino ou Ego, e finalmente nos negando a envolver de novo na teia da existência material, é que poderemos alcançar aquilo a que nos propusemos - a libertação da dolorosa e esgotante luta entre o Eu Superior e o eu inferior, que envenena a vida de tantos fervorosos aspirantes; ou seja afastando o inferior da Iniciação do Ser Superior."

(J.J. Van Der Leeuw - Deuses no Exílio - Ed. Teosófica, Brasília, 2013 - p. 20/22)


terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

KARMA INDIVIDUAL E KARMA COLETIVO (PARTE FINAL)

"(...) 6. Karma Universal. Esse refere-se a toda a Raça Humana, aos Deuses dos Poderes Celestiais, e a toda a classe de seres desenvolvidos num Sistema Solar. Cada planeta está destinado a desenvolver-se ao longo de cer­tas linhas, mas ao fim todos se encontrarão. Devemos, porém, estender a influência do Karma Universal para além da sepultura, porque a unidade espiritual de todos os seres não pode ser alterada, de forma alguma, pelo simples desprendimento do corpo. Os que sofrem nos Nârakas, ou Infernos, ou Purgatórios — seja como for que gostemos de chamá-los, precisam ao máximo da nos­sa ajuda. Naquelas profundas e escuras regiões do Mun­do Astral, onde as paixões violentas estão sendo trabalhadas para se extinguirem — profundas, sujas, miseráveis e sem raios, onde os mais degradados, e aparentemente de uma irreparável maldade, afundam, de forma inevitá­vel, rastejantes, em densa obscuridade e escuridão, cum­pre-nos encontrar outro campo de trabalho. Muitas pes­soas fazem um bom trabalho entre os seus habitantes, e cada bom pensamento ajuda um pouco, cada sentimen­to de amor por eles é um bálsamo. Melhor ainda, cada poderosa 'oração-desejo' pela sua libertação é potente. Devemos compreender que nossos bons pensamentos, e as forças superiores dos que estão acima de nós, são as únicas migalhas de luz e conforto que eles chegam a ter. Luz e mais luz! Alívio das dores cruéis! Dores de apeti­tes que não podem ser satisfeitos! Gritos de socorro vin­dos da escuridão! Eles, com certeza, despertam nossa compaixão, porque anseiam pela visão de um rosto sobre o qual um raio de amor deslize e abençoe, pelo toque de uma mão que possa curar e erguer. O Cristo desceu aos Infernos: o Buda também fez a mesma coisa, porque Seu amor incluía os mais baixos planos do Cosmos. O amor humano pode ajudar a apagar o fogo por ele mesmo ace­so, e os Mestres mostram a forma, como a história e a lenda dizem. De Orfeu — o Grande Mestre da antiga Gré­cia, cuja verdadeira vida está envolvida em Mitos divinos — aprendemos que ele desceu aos Infernos. A maioria das religiões tem ensinado essa doutrina. Os judeus, ou pelo menos alguns grupos deles, acreditavam nisso, por­que lemos no Segundo livro dos Macabeus, xii, 46: 'É um pensamento santo e saudável orar pelos mortos, a fim de que eles possam libertar-se de seus pecados.' En­tre os hindus, dois dos 'Cinco Atos de Culto' (cinco Yajnas) são o Pitri-Yajna e o Bhuta-Yajna, ou reverência e lembrança pelos ancestrais e por toda a classe de espíritos. Oferecem libações e presentes pelo bem-estar deles. (...)

A cerimônia budista do Pitri é feita em benefício dos espíritos e almas dos que partiram. Os antigos perua­nos e os egípcios foram muito devotos nesse particular. Entre os cristãos, a vasta maioria acredita nas preces pelos mortos, a saber, as Igrejas Romana e Grega, bem como algumas das divisões Protestantes. Os moradores do Naraka são, portanto, ajudados pelas nossas 'preces-desejos', tanto quanto seus Karmas o permitirem, e não po­demos saber quanto isso será. Embora não possamos ti­rar deles as suas cargas, ainda assim podemos, às vezes, encurtar sua estada ali, ou melhorá-la até certo ponto. O Karma Universal opera nos Três Mundos do Tribhuvana e, tal como podemos auxiliar os que partiram, os que estão no Devachan podem auxiliar-nos."

(Irmão Atisha - A Doutrina do Karma - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 33/34

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

PROCESSO EGOICO (1ª PARTE)

"Krishnamurti afirmou o seguinte: 'Você cultivou a investigação com relação ao mundo externo, como a ciência investigando a natureza; você cultivou a pesquisa quanto aos problemas sociais para resolvê-los; mas você não cultivou a pesquisa para compreender a si próprio. Você é tão ignorante de si mesmo!'

No livro A Educação e o Significado da Vida, ele disse também: 'O homem ignorante não é o homem sem cultura, mas aquele que não conhece a si mesmo. E o homem culto é estúpido quando confia no seu conhecimento para obter compreensão.'

Ideias semelhantes foram ensinadas por Buda, Sócrates e vários outros. Nós os temos em alta estima; entretanto, damos ouvido a eles? Não. Por quê? Será que não estamos realmente convencidos da verdade do que eles dizem, mesmo após conhecermos todos os argumentos?

Logicamente, pode-se demonstrar o quanto o ego é destrutivo. Se escolhermos qualquer virtude, qualquer qualidade, e acrescentarmos a ela o ego, vejamos no que se torna. Escolhemos o amor, juntamos a ele o ego e temos apego, possessividade, ciúme, dependência. Escolhemos a humildade, juntamos a ela o ego e temos complexo de inferioridade, servilismo, humilhação. Escolhemos o poder e a habilidade de fazer as coisas, juntamos a eles o ego e teremos dominação e exploração. Escolhemos a sexualidade, juntamos a ela e ego e temos a pornografia.

O ego é a fonte de todos os problemas tanto em nossa vida pessoal quanto na sociedade, porque nós somos o mundo. Se compreendermos esse fato, o que quer que aconteça na sociedade passará a ser um reflexo do que acontece dentro de nós, em nossa consciência.

Será possível nos libertarmos desse processo egoico? Se ele for algo que a natureza criou em nós, como os rins ou os pulmões, não poderemos nos livrar dele, mas apenas lidar com ele. Mas se for algo que criamos a partir do nosso próprio pensamento, ou da maneira como abordamos a vida, então poderemos aprender a abordar a vida de outra maneira. (...)"

(P. Krishna - Novas maneiras de ver o mundo - Revista Sophia, Ano 7, nº 25 - p. 6/7)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

ILUMINAÇÃO: ELEVANDO-SE ACIMA DO PENSAMENTO

“No processo de crescimento, construímos uma imagem mental de nós mesmos, baseada em nosso condicionamento pessoal e cultural. Podemos chamar isso de ‘o fantasma pessoal do ego’. Consiste em uma atividade mental e só pode ser mantido através do pensar constante. A palavra ‘ego’ tem sentidos diferentes para pessoas diferentes, mas aqui significa um falso eu interior, criado por uma identificação inconsciente com a mente.

Para o ego, o momento presente dificilmente existe. Só o passado e o futuro são considerados importantes. Essa total inversão da verdade explica por que, para o ego, a mente não tem função. O ego está sempre preocupado em manter o passado vivo, porque pensa que sem ele não seríamos ninguém. E se projeta no futuro para assegurar a continuação de sua sobrevivência e buscar algum tipo de escape ou satisfação lá adiante. Ele diz assim: ‘Um dia, quando isso ou aquilo acontecer, vou ficar bem, feliz, em paz.’

Mesmo quando o ego parece estar preocupado com o presente, não é o presente que ele vê, porque constrói uma imagem completamente distorcida, a partir do passado. Ou então reduz o presente a um meio para obter o fim desejado pela mente. Observe sua mente e verá que é assim que ela funciona. O momento presente tem a chave para a libertação. Mas você não conseguirá percebê-lo enquanto for a sua mente.

A iluminação significa chegar a um nível acima do pensamento. No estado iluminado, continuamos a usar nossas mentes quando necessário, mas de um modo mais focalizado e eficiente. Assim, utilizando nossas mentes com objetivos práticos, não ouvimos mais o diálogo interno involuntário e sentimos uma serenidade interior.

Quando usamos de fato nossas mentes e, em especial, quando necessitamos de uma solução criativa, há uma oscilação, de segundos, entre o pensamento e a serenidade, entre a mente e a mente vazia. O estado de mente vazia é a consciência sem o pensamento. Só assim é possível pensar criativamente, porque somente desse modo o pensamento tem alguma força real. O pensamento sozinho, quando não mais conectado com a área da consciência, que é muito mais ampla, rapidamente se torna árido, doentio e destrutivo.”

(Eckhart Tolle - Praticando o Poder do Agora - GMT Editores Ltda., Rio de Janeiro, 2016 - p.20/21)


terça-feira, 20 de dezembro de 2016

O QUE DEVEMOS ALCANÇAR

"No Sutra das Quatro Nobres Verdades, Buda diz: 'Deves alcançar as cessações'. Neste contexto, 'cessação' significa a cessação permanente do sofrimento e de sua raiz, a ignorância do agarramento ao em-si. Ao dizer isso, Buda nos aconselha a não ficarmos satisfeitos com uma libertação temporária de sofrimentos particulares, mas que tenhamos a intenção de realizar a meta última da vida humana: a suprema paz mental permanente (nirvana) e a felicidade pura e eterna da iluminação. 

Todo ser vivo, sem exceção, tem que experienciar o ciclo de sofrimentos da doença, envelhecimento, morte e renascimento, vida após vida, sem fim. Seguindo o exemplo de Buda, devemos desenvolver forte renúncia por esse ciclo sem fim. Quando vivia no palácio com sua família, Buda observou como o seu povo estava experienciando constantemente esses sofrimentos e tomou a forte determinação de obter a iluminação, a grande libertação, e conduzir cada ser vivo a esse estado. 

Buda não nos estimula a abandonar as atividades diárias que proporcionam as condições necessárias para viver ou aquelas que evitam a pobreza, problemas ambientais, doenças específicas e assim por diante. No entanto, não importa o quanto sejamos bem sucedidos nessas atividades, nunca alcançaremos a cessação permanente de problemas desse tipo. Teremos ainda que experienciá-los em nossas incontáveis vidas futuras e, mesmo nesta vida, embora trabalhemos arduamente para evitar esses problemas, os sofrimentos da pobreza, poluição ambiental e doença estão aumentando em todo o mundo. Além disso, por causa do poder da tecnologia moderna, muitos perigos graves estão a se desenvolver agora no mundo, perigos que nunca haviam sido experienciados anteriormente. Portanto, não devemos ficar satisfeitos com uma mera libertação temporária de problemas específicos, mas aplicar grande esforço em obter liberdade permanente enquanto temos essa oportunidade. 

Devemos nos lembrar da preciosidade da nossa vida humana. Por exemplo, os seres que agora estão sob uma forma animal tiveram esse tipo de renascimento animal devido as suas visões deludidas passadas, que negavam o valor da prática espiritual. Visto que a prática espiritual constitui-se no único fundamento para uma vida significativa, eles não têm agora chance alguma, sob uma forma animal, de se envolverem em uma prática espiritual. Visto que para eles é impossível ouvir, entender, contemplar e meditar nas instruções espirituais, seu renascimento presente como animal é, por si só, um obstáculo. Como foi mencionado anteriormente, somente os seres humanos estão livres de tais obstáculos e têm todas as condições necessárias para se empenharem nos caminhos espirituais – os únicos caminhos que conduzem à paz e felicidade duradouras. Essa combinação de liberdade e de posse de condições necessárias é a característica especial que faz com que a nossa vida humana seja tão preciosa. (...)"

(Geshe Kelsang Gyatso - Budismo Moderno, O Caminho de Compaixão e Sabedoria - Tharpa Brasil, São Paulo, 2016 - p. 63/65)
Fonte: https://cienciaespiritualidadeblog.wordpress.com



domingo, 13 de novembro de 2016

A SENDA DO EQUILÍBRIO

"Qual é a melhor maneira de viver? Em algum estágio de sua vida a pessoa tem que responder a essa pergunta por si mesma. Nesta sociedade cada vez mais caótica e em um mundo de crescente complexidade, a questão torna-se mais urgente e a resposta mais importante.

Uma outra questão no mesmo contexto, e igualmente desconcertante, diz respeito ao objetivo da pessoa na vida. Isso é um pouco mais complicado por causa dos princípios éticos aparentemente contraditórios que são propostos. Os sábios e os santos, cuja meta é a salvação, tentam levar uma vida de pureza espiritual. Eles veem a criação como uma peça da Divindade, onde todos os fenômenos são uma manifestação de Brahman, a Realidade Última. Eles disciplinam suas mentes para transcender a multiplicidade de coisas, e finalmente fundir-se com a realidade ao libertar-se de Maya, o mundo das aparências.

Por outro lado, os assim chamados homens práticos, para quem o mundo é a única realidade, têm por meta o acúmulo de posses materiais e a obtenção do poder mundano. Não são para eles as especulações filosóficas referentes à libertação espiritual, que consideram como uma ilusão baseada nas alucinações de mentes anormais.

Entre esses dois extremos existem outros grupos que têm como meta suprema na vida as aquisições no campo do conhecimento, seja artístico ou científico.

O homem comum, na busca de uma meta e uma ética para sua própria vida, fica desnorteado com todas essas visões conflitantes. Ele acha difícil fazer uma escolha, já que elas são diferentes e opostas entre si.

Porque não têm certeza em suas mentes quanto à meta que buscam, alguns desesperadamente adotam uma filosofia após outra, enquanto outros ainda se sentem levados a adotar uma atitude fatalista, abandonando todos os pontos de vista e ignorando todos os ensinamentos. Essa é uma doença mais comum e mais insidiosa, e é grandemente responsável pela atual doença da humanidade.

As escrituras antigas ofereciam respostas para isso, mas, com tristeza, elas são invariavelmente mal interpretadas e consequentemente mostram-se mais danosas do que úteis, tirando a humanidade do caminho e levando-a para mais distante da meta por ela almejada." 

(Ajaya Upadyay - A senda do equilíbrio - TheoSophia - Outubro/Novembro/Dezembro de 2009 - Pub. da Sociedade Teosófica no Brasil - p. 20)
http://www.sociedadeteosofica.org.br/


quarta-feira, 9 de novembro de 2016

O QUE DEVEMOS ABANDONAR

No Sutra das Quatro Nobres Verdades, Buda diz: 'Deves abandonar as origens'. Ao dizer isso, Buda nos aconselha a abandonar as origens caso tenhamos o desejo de nos libertar permanentemente dos sofrimentos das nossas incontáveis vidas futuras. O termo 'origens' significa as nossas delusões, principalmente a delusão do agarramento ao em-si. O agarramento ao em-si é chamado de 'origem' porque ele é a fonte de todo o nosso sofrimento e problemas, e também é conhecido como o 'demônio interior'. As delusões são percepções errôneas que atuam destruindo a nossa paz mental, a fonte de felicidade; elas não têm outra função que não seja a de nos prejudicar. As delusões, como o agarramento ao em-si, habitam em nosso coração e continuamente nos prejudicam dia e noite sem descanso, destruindo nossa paz mental. No samsara, o ciclo de vida impura, ninguém tem a chance de experienciar verdadeira felicidade porque sua paz mental, a fonte de felicidade, está continuamente sendo destruída pelo demônio interior do agarramento ao em-si.

A nossa ignorância do agarramento ao em-si é uma mente que acredita equivocadamente que o nosso self, o nosso corpo e todas as outras coisas que normalmente vemos existem verdadeiramente. Por causa dessa ignorância, desenvolvemos apego pelas coisas de que gostamos e raiva pelas coisas de que não gostamos. Então, fazemos diversos tipos de ações não virtuosas e, como resultado dessas ações, experienciamos diversos tipos de sofrimento e problemas nesta vida e vida após vida. 

A ignorância do agarramento ao em-si é um veneno interior que causa um prejuízo muito maior do que qualquer outro veneno. Por estar poluída por esse veneno interior, nossa mente vê tudo de modo equivocado e, como resultado, experienciamos sofrimentos e problemas parecidos com alucinações. Na realidade, o nosso self, o nosso corpo e todas as outras coisas que normalmente vemos não existem. O agarramento ao em-si pode ser comparado a uma árvore venenosa; todas as demais delusões são como seus galhos; e todo o nosso sofrimento e problemas são como seus frutos – o agarramento ao em-si é a verdadeira origem de todas as demais delusões e de todo o nosso sofrimento e problemas. Podemos entender por meio dessa explicação que, se abandonarmos permanentemente nosso agarramento ao em-si, todos os nossos sofrimentos e problemas desta vida e das incontáveis vidas futuras irão cessar permanentemente. O grande iogue Saraha disse: 'Se a tua mente for libertada permanentemente do agarramento ao em-si, não há dúvida alguma de que serás liberto permanentemente do sofrimento'. Compreendendo isso e tendo contemplado as explicações acima, devemos pensar:
Devo aplicar grande esforço em reconhecer, reduzir e finalmente abandonar minha ignorância do agarramento ao em-si completamente .
Devemos meditar nessa determinação continuamente, e colocar essa nossa determinação em prática."

(Geshe Kelsang Gyatso - Budismo Moderno, O Caminho de Compaixão e Sabedoria - Tharpa Brasil, São Paulo, 2016 - p. 59/60)


domingo, 30 de outubro de 2016

O QUE DEVEMOS PRATICAR (PARTE FINAL)

"(...) Os três treinos superiores são o método verdadeiro para obter libertação permanente dos sofrimentos desta vida e das incontáveis vidas futuras. Isso pode ser compreendido com a seguinte analogia. Quando cortamos uma árvore usando uma serra, a serra sozinha não pode cortar a árvore sem que usemos nossas mãos, que, por sua vez, dependem do nosso corpo. Treinar em disciplina moral superior é como o nosso corpo, treinar em concentração superior é como nossas mãos, e treinar em sabedoria superior é como a serra. Usando os três juntos, podemos cortar a árvore venenosa da nossa ignorância do agarramento ao em-si e, automaticamente, todas as demais delusões (seus galhos) e todos os nossos sofrimentos e problemas (seus frutos) cessarão por completo. Então, teremos obtido a cessação permanente dos sofrimentos desta vida e das vidas futuras – a suprema paz mental permanente conhecida como 'nirvana', ou libertação. Teremos solucionado todos os nossos problemas humanos e realizado o verdadeiro sentido da nossa vida. 

Contemplando a explicação acima, devemos pensar:
Já que os três treinos superiores são o método verdadeiro para obter a libertação permanente dos sofrimentos desta vida e das incontáveis vidas futuras, eu preciso aplicar grande esforço em praticá-los.
Devemos meditar nessa determinação continuamente, e colocar essa nossa determinação em prática."

(Geshe Kelsang Gyatso - Budismo Moderno, O Caminho de Compaixão e Sabedoria - Tharpa Brasil, São Paulo, 2016 - p. 62/63)
Fonte: https://cienciaespiritualidadeblog.wordpress.com


sábado, 29 de outubro de 2016

O QUE DEVEMOS PRATICAR (1ª PARTE)

"No Sutra das Quatro Nobres Verdades, Buda diz: 'Deves praticar o caminho'. Neste contexto, 'caminho' não significa um caminho exterior que conduz de um lugar a outro, mas um caminho interior, uma realização espiritual que nos conduz à felicidade pura da libertação e da iluminação. A prática das etapas do caminho à libertação pode ser condensada nos três treinos de disciplina moral superior, concentração superior e sabedoria superior. Esses treinos são chamados de 'superiores' porque são motivados por renúncia. Eles são, portanto, o verdadeiro caminho à libertação que precisamos praticar. 

A natureza da disciplina moral é a determinação virtuosa de abandonar ações inadequadas. Quando praticamos disciplina moral, nós abandonamos as ações inadequadas, mantemos um comportamento puro e fazemos toda ação corretamente, com uma motivação pura. A disciplina moral é muito importante para todos, porque ela evita problemas futuros para nós e para os outros. Ela nos torna puros porque torna nossas ações puras. Precisamos ser limpos e puros; ter um corpo limpo, apenas, não é suficiente, pois o nosso corpo não é o nosso self. Disciplina moral é como um vasto solo que sustenta e nutre o plantio das realizações espirituais. Sem praticar disciplina moral, é muito difícil fazer progressos no treino espiritual. Treinar disciplina moral superior é aprender a tornar-se profundamente familiarizado com a prática de disciplina moral motivada por renúncia. 

O segundo treino superior é treinar em concentração superior. A natureza da concentração é ser uma mente virtuosa estritamente focada. Enquanto mantivermos essa mente, experienciaremos paz mental e, consequentemente, seremos felizes. Quando praticamos concentração, impedimos distrações e nos concentramos em objetos virtuosos. É muito importante treinar concentração, pois, com distrações, não conseguimos realizar nada. Treinar em concentração superior é, com a motivação de renúncia, aprender a nos tornarmos profundamente familiarizados com a habilidade de parar as distrações e de nos concentrarmos em objetos virtuosos. Com relação a qualquer prática de Dharma, se a nossa concentração for clara e forte será muito fácil fazer progressos. Normalmente, distração é o principal obstáculo à nossa prática de Dharma. A prática de disciplina moral impede as distrações densas, e a concentração impede as distrações sutis; juntas, elas produzem resultados rápidos em nossa prática de Dharma. 

O terceiro treino superior é treinar em sabedoria superior. A natureza da sabedoria é ser uma mente inteligente virtuosa que atua compreendendo objetos significativos, como a existência de vidas passadas e futuras, o carma e a vacuidade. Compreender esses objetos traz grande significado para esta vida e para as incontáveis vidas futuras. Muitas pessoas são muito inteligentes em destruir seus inimigos, cuidar de suas famílias, encontrar aquilo de que necessitam e assim por diante, mas isso não é sabedoria. Até os animais têm uma inteligência assim. A inteligência mundana é enganosa, ao passo que a sabedoria nunca irá nos enganar ou desapontar. A sabedoria é o nosso Guia Espiritual interior que nos conduz aos caminhos corretos, e é o olho divino através do qual podemos ver as vidas passadas e futuras e a conexão especial entre as nossas ações em vidas passadas e as nossas experiências nesta vida, conhecida como 'carma'. O carma é um assunto muito extenso e sutil e somente podemos compreendê-lo através de sabedoria. Treinar em sabedoria superior é aprender a desenvolver e aumentar nossa sabedoria que realiza a vacuidade por meio de contemplar e meditar sobre a vacuidade, com uma motivação de renúncia. Essa sabedoria é extremamente profunda. O seu objeto, a vacuidade, não é um nada, mas a verdadeira natureza de todos os fenômenos. (...)"

(Geshe Kelsang Gyatso - Budismo Moderno, O Caminho de Compaixão e Sabedoria - Tharpa Brasil, São Paulo, 2016 - p. 61/62)
Fonte: https://cienciaespiritualidadeblog.wordpress.com


segunda-feira, 22 de agosto de 2016

VIVEKA (1ª PARTE)

"Não importa que todos estejam suando de tanto calor, num dia de verão vigoroso em zona tórrida. Se o hipnotizador sugeriu ao paciente que ele está se acabando de frio, em qualquer ponto da calota polar, ele tirita de frio. Todo seu corpo está reagindo contra a morte pelo congelamento.

Em relação à Realidade estamos, naturalmente, hipnotizados, pois só lhe conhecemos as aparências sob o ângulo das sugestões particulares que em cada um predomina.

A mais aproximada tradução para viveka é discriminação, isto é, a capacidade de discernir entre o falso e o verdadeiro, o efêmero e o eterno, a meta e os meios para atingi-la... É através de viveka que nos desiludimos, que deixamos de ser engodados pelos aparentes do mundo. Somente viveka abre a porta do conhecimento da Realidade.

Na história da cobra e da corda, narrada nos Upanishads, o que era real: a cobra ou a corda?

A mente destituída de viveka viu uma cobra e caiu presa do medo, com todas as consequências desagradáveis dessa emoção-choque. Na mente iluminada pela discriminação, a candeia de viveka afastou a ilusão. E, desiludido, o homem percebeu que não era uma cobra mas uma corda. Isso restaurou-lhe a calma e a segurança. Viveka, salvando-nos da ilusão do mundo, propicia-nos a paz. Cada vez que nos capacitamos de que o mundo, com suas ameaças, desventuras, misérias, decepções e vicissitudes não é mais do que uma corda, que não é uma cobra, começa a instalar-se em nós a imperturbalidade divina. À medida que o mundo, diante da luz de viveka, já não nos hipnotiza e ilude com suas fantasias, com seus prazeres ou dissabores, com seus atrativos ou ameaças, vamos caminhando para a libertação final, até atingirmos o Real. (...)"

(Hermógenes - Yoga para Nervosos - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 2004 - p. 145/146)


sexta-feira, 5 de agosto de 2016

CORAGEM E DETERMINAÇÃO

"Nem sempre a vida do Buda correu em meio ao reconhecimento geral e tranquilidade. Ao contrário, existem dados que mostram obstáculos e calúnias que o Mestre enfrentava no meio dos ascetas e brâmanes para os quais ele, como verdadeiro guerreiro, se fortalecia e firmava o significado da sua conduta. Para os primeiros ele dizia: 'Se o homem pudesse conseguir libertar-se dos grilhões que o prendem à terra, apenas pela recusa do alimento ou condições físicas desfavoráveis, o cavalo e a vaca já teriam atingido isto há muito tempo.' Para os segundos: 'Pelo que faz o homem ele é um sudra (casta inferior), da mesma forma é um brahmana (casta superior, sacerdote). O fogo aceso pelo brâmane, ou pelo sudra, tem a mesma chama, calor e luz. Por que a separatividade?' 

Sentia-se coragem e intrepidez no fundo de suas afirmações: 'Não há verdadeira compaixão e renúncia sem coragem, sem coragem não se pode alcançar a autodisciplina; sem paciência e coragem, não se pode penetrar no fundo do real conhecimento e alcançar a sabedoria de um Arahant.'

'Vigoroso e alerta, tal é o discípulo, ó irmão. Seguindo o Caminho do Meio, suas energias são equilibradas; não é nem ardente sem medida, nem dado à intolerância. Ele está compenetrado desse pensamento: Que minha pele, meus músculos, meus nervos, meus ossos e meu sangue se dessequem, antes que eu renuncie a meus esforços, até atingir o que pode ser atingido pela perseverança e pela energia humana.' (Majjhima Nikaya

Certa ocasião, no meio de um discurso, quando a maioria dos ouvintes se retirou, Buda declarou: 'A semente se separou da polpa, a comunidade forte em convicção está estabelecida; ótimo que esses orgulhosos tenham-se afastado.'"

(Georges da Silva e Rita Homenko - Budismo - Psicologia do Autoconhecimento - Ed. Pensamento, São Paulo, p. 16/17)

terça-feira, 26 de julho de 2016

TRABALHAR É SERVIR A DEUS

"O mundo é passageiro. Vocês só poderão encontrar estabilidade através do comportamento altruísta: ele leva o homem a Deus e concede-lhe a libertação. A lei do carma é de tamanha profundidade, que as palavras não são suficientes para descrevê-la. No dia em que o carma deixar de existir, terá chegado o fim do mundo. Eu já lhes disse muitas vezes que vocês só encontrarão salvação através do carma-ioga. Além disso, é através dele que todos os desejos materiais podem ser realizados. Carma-ioga é o caminho supremo que leva à unificação com Deus. Tanto Rama como Krishna ensinaram-no igualmente. E, eles não só o ensinavam, como também o praticavam, obtendo grande sucesso através dele.

Todas as nações ergueram-se como serpentes com bocas escancaradas e só esperam devorar-se umas às outras. Este momento crítico precisa de pessoas corajosas: enquanto vocês trabalham, independente do que vocês estejam fazendo, vocês devem incessantemente invocar com os lábios o nome de Deus.

Agora é o momento da ação desprendida. É o caminho da realização nesta época. Agora quero ver ação. O trabalho é vida. Trabalhar é servir a Deus. Uma pessoa que desperdiça seu tempo está morta. (...)

Vocês vieram ao mundo pelo trabalho. Portanto, estejam sempre prontos e empenhados em trabalhar. Uma pessoa preguiçosa é semelhante a um defunto. Mas vocês devem viver neste mundo e não morrer nele. Não tenham medo de queimar no fogo ou de se afogar nas torrentes. Se vocês forem corajosos, nada poderá acontecer-lhes (...) Vocês precisam ser destemidos por si próprios e por toda a humanidade. Existe só uma humanidade. (...)"

(Maria-Gabriele Wosien - Eu Sou Você, Mensagem de Babaji, o Mestre do Himalaia - TRIOM Centro de Estudos Mariana e Martin Harvey, Editorial e Comercial, 1ª edição, São Paulo, 2002, p. 48/49)
www.triom.com.br


segunda-feira, 18 de julho de 2016

CAMINHO ESTREITO

"Há pessoas que têm me dito que minhas propostas são difíceis de aceitar e seguir.

Perdoar, doar, doar-se, compreender, voltar a ajudar um ingrato...

Sim. São propostas difíceis, mas sábias e eficazes.

O que é fácil de fazer é melhor aceito.

Mas, resolve?!

Soluções fáceis geralmente são falsas.

São medíocres, vulgares...

Minhas propostas fazem apelo ao seu lado divino, não ao seu lado humano.

São propostas dirigidas a melhorar sua vida, a libertar seu Espírito.

A solução e a salvação nunca são alcançadas a 'preços módicos'."

(Hermógenes - Deus investe em você - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1995 - p. 55)


segunda-feira, 27 de junho de 2016

A VISÃO RELIGIOSA DE EINSTEIN

"Einstein teve uma enorme influência sobre o pensamento e as ideias que dominaram grande parte do pensamento científico durante a maior parte do Século XX. A mente inovadora de Einstein inspirou aqueles que buscavam um modo de pensar que abrisse novas avenidas nos campos da ciência, filosofia e visão espiritual. Ele escreveu inúmeros artigos e livros durante a sua vida e outras pessoas escreveram muito mais comentários sobre seus conceitos e sua vida. Talvez seus livros mais importantes tenham sido Relativity: The Special and General Theory (publicado em alemão em 1916 e em inglês em 1920); The World As I See It (1949) e Cosmic Religion (1931).

É nos dois últimos livros que encontramos sua filosofia de vida. Ele inicia The World As I See It assim: 'Qual é o significado da vida humana, ou da vida orgânica como um todo? Responder a essa pergunta sob qualquer condição implica uma religião. Haverá sentido então, você indaga, em se fazer essa pergunta? Eu respondo que o homem que considera sua própria vida e a de seu próximo como sem sentido, não apenas é infeliz, mas está quase que desqualificado para a vida.' Ele continua: 'Cada um de nós está aqui para uma curta estadia, cujo propósito desconhecemos (...). Existimos para os nossos próximos (...) a quem o nosso destino está preso.' Nas primeiras páginas desse livro ele se revela um ardoroso humanista, e, na obra Cosmic Religion, começa a contemplar o significado da vida nos níveis religioso e espiritual.

Nesse livro ele escreveu que 'tudo que a raça humana fez e pensou diz respeito à satisfação de necessidades profundamente sentidas e ao alívio da dor. Deve-se manter isso o tempo todo na mente para entender os movimentos espirituais e seu desenvolvimento. Sentimento e desejo estão entre as forças motivadoras por trás de todo esforço e de toda criação humana.'

Einsten descreve sua visão da religião dizendo que ela preenche três necessidades humanas básicas: libertação do medo e da dor; aceitação social; e transcendência psicológica. 'A primeira religião está baseada no medo, quando a humanidade tenta apelar para um Deus que ajudará a evitar a doença, a fome e a morte. No homem primitivo, é o medo de tudo que evoca noções religiosas. Esses medos estão baseados no instinto de sobrevivência. A segunda religião está baseada na necessidade humana de aceitação social e no desejo de ser amado, apoiado e orientado por alguém ou algo que seja de algum modo superior e que possa proteger. Assim, os indivíduos criam uma concepção social e moral de Deus.' Para Einstein, a religião mais importante inclui essas duas abordagens, mas também as transcende. Este é 'o terceira estágio da experiência religiosa, e pode ser chamado de sentimento religioso cósmico. Os gênios religiosos de todas as épocas distinguiram-se por esse tipo de sentimento, que não conhece dogma nem Deus concebido à imagem do homem.'"

(Barry Seabourne - A visão religiosa de Einstein - Revista Sophia, Ano 12, nº 52 - p. 11)


sexta-feira, 10 de junho de 2016

VIDA ESPIRITUAL

"Nos primeiros passos na senda espiritual, o aspirante, já convencido da impossibilidade de ser feliz mediante o agir somente para si (e às vezes em detrimento do descanso, e sem pensar em Deus e no próximo), deseja libertar-se e, para tanto, se decide a administrar seu tempo e suas energias.

Passa a orar, a meditar... como que se dedicando a Deus. Mas, lá no fundo da alma, o que pretende é convencer Deus de lhe dar mais poder, mais alegrias, mais preenchimento, mais satisfação...

Passa a desenvolver atividade caridosa ostensiva... Mas, lá no fundo da alma, pensa assim: 'Com isto estou agradando a Deus, portanto,  Ele vai me dar isto e aquilo...'

Como é bom fazer uma autoanálise em nossas motivações!

Senhor, ajuda-me a desmascarar os truques com que meu eu se defende e me retém."

(Hermógenes - Deus investe em você - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1995 - p. 37)