OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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quinta-feira, 11 de novembro de 2021

DEUS É O AMANTE POR TRÁS DE TODO AMOR

"Enquanto buscava o amor duradouro, vim a compreender que Alguém Mais cuidava de mim por intermédio de todos os amores humanos. O Divino me tem amado como mãe, pai e amigo. Procurei o único Amigo por trás de todos os amigos, aquele Amante a Quem agora vejo brilhando nas faces de todos vocês. E esse amigo nunca me abandona.

Deus está por trás de tudo. 'Honrarás teu pai e tua mãe',³ mas 'amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força'.⁴ Vocês precisam compreender como é importante cultivar a amizade divina com Ele, sem mais perda de tempo. Ao dormir, como podem ter certeza de acordar no dia seguinte? Um a um, nós deixamos esta terra. Mas não se deve lamentar nada. Ao morrer, seremos chamados a renascer aqui, iniciando outra vida a partir do ponto em que interrompemos esta. 

Vejo a vida e a morte como o subir e o descer das ondas do mar. No nascimento, uma onda levanta-se da superfície e, na morte, ela cai adormecida no seio de Deus. Realmente percebi isto. Sei que jamais morrerei, pois, quer esteja dormindo no oceano do Espírito, quer desperto em um corpo físico, estou sempre com Ele. Essa suprema felicidade não pode ser encontrada no mundo; mas não precisamos fugir para a floresta para buscá-Lo. Podemos encontrá-Lo nesta floresta da vida cotidiana, na gruta do silêncio interior.

Não importa quantos erros tenham cometido; são apenas temporários. Vocês são feitos à imagem do Espírito. O Senhor criou o filme ilusório da terra e de todos os seus prazeres com um só objetivo: que vocês não se deixassem iludir pelo jogo de maya, abandonando-o para amar só a Ele. Esta é a verdade; não pode ser diferente. Por que somos levados a sentir amor pelos membros de nossa família, somente para vê-los partir, um a um? Essas coisas acontecem para ajudar-nos a compreender que é Ele quem nos ama, por detrás de todos os entes queridos. 

A dificuldade, no filme da vida, é que todas as irrealidades parecem reais e todas as realidades parecem irreais. Todas as noites, quando dormimos, o mundo desaparece de nossa consciência, para que possamos compreender que o universo material não é real. Essa lição do sono não é dada para amedrontar-nos, e sim para que busquemos a realidade de Deus. A alma jamais poderá satisfazer-se com coisa alguma, exceto com Ele e Seu amor. O espírito de Deus é a realidade que nada mais pode igualar.⁵"

³ Mateus 19:19.
⁴ Deuteronômio 6:5.
⁵ 'Para o irreal, não há existência. Para o real, não há inexistência. Os homens de sabedoria conhecem a verdade final a respeito de ambos' (Bhagavad Gita II:16).

(Paramahansa Yogananda - A Eterna Busca do Homem - Self-Realization Fellowship - p. 179/180)


quinta-feira, 4 de novembro de 2021

A MORTE NO MUNDO MODERNO (PARTE FINAL)

"Mesmo quando alguém que conhecemos ou amamos está morrendo, muito frequentemente percebemos que não temos quase nenhuma ideia sobre como ajudar; e quando morre, não nos animamos a pensar no futuro do morto, como seguirá, ou como poderemos continuar a ajudá-lo. De fato, toda tentativa de pensar sobre essas coisas corre o risco de ser rejeitada como disparatada e ridícula.

O que tudo isso nos mostra, com uma clareza dolorosa, é que agora mais do que nunca estamos precisando de uma mudança fundamental em nossa atitude em relação à morte e aos que estão morrendo. (...)

As pessoas que estão morrendo precisam de amor e carinho, porém também precisam de alguma coisa ainda mais profunda. Precisam descobrir um significado real para a morte e para a vida. Sem isso, como podemos dar-lhes conforto definitivo? A ajuda aos que estão morrendo, então, deve incluir a possibilidade de ajuda espiritual, porque só com conhecimento espiritual podemos de fato encarar e compreender a morte. 

Sinto-me encorajado com a abertura que ocorreu no Ocidente, nos últimos anos, para o tema morte e do morrer, graças a pioneiros como Elisabeth Kübler-Ross e Raymond Moody. Olhando profundamente para o modo como cuidamos dos que estão morrendo, Elisabeth Kübler-Ross mostrou que, com amor incondicional, a morte pode se tornar uma experiência pacífica e até transformadora. Estudos científicos dos muitos diferentes aspectos da experiência da morte, que se seguiram ao corajoso trabalho de Raymond Moody, deram à humanidade forte e viva esperança de que a vida não acaba com a morte, e de que há, de fato, uma 'vida após a vida'.

Alguns, infelizmente, não entenderam o significado completo dessas revelações sobre a morte, e cheguei a ouvir falar de casos trágicos em que jovens cometeram suicídio porque acreditaram que a morte era bela, e uma saída para a depressão de suas vidas. Mas, quer tenhamos medo da morte e nos recusemos a encará-la, quer a romantizemos, ela é banalizada. O desespero e a euforia diante da morte são formas de evasão. Ela não é nem deprimente nem excitante, mas tão somente um fato da vida.

Como é triste que a maioria de nós apenas comece a apreciar a vida quando estamos a ponto de morrer! Penso sempre nas palavras do grande mestre budista, Padmasambhava: 'Os que creem ter muito tempo, preparam-se somente na hora da morte. Aí são devastados pelo remorso. Mas já não será tarde demais?' Não há comentário mais desalentador sobre o mundo moderno do que esse: a maioria das pessoas morrer despreparada para morrer, como viveu despreparada para viver." 

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 27/28


terça-feira, 2 de novembro de 2021

A MORTE NO MUNDO MODERNO (2ª PARTE)

"O medo da morte e a ignorância sobre a vida após a morte estão alimentando essa destruição do meio ambiente que está ameaçando tudo em nossas vidas. O mais perturbador nisso tudo não é o fato de que as pessoas não recebam instrução sobre o que é a morte, ou como morrer? Ou que não tenham esperança alguma no que vem após a morte, no que está por trás da vida? Pode alguma coisa ser mais irônica do que a existência de jovens altamente educados em todos os campos do conhecimento, exceto naquele que detém a chave do sentido global da vida, e talvez até da nossa sobrevivência?

Sempre me intrigou que alguns mestres budistas que eu conhecia fizessem uma simples pergunta às pessoas que se aproximavam deles buscando ensinamento: 'Você acredita numa vida depois desta?' Não se trata de saber se a pessoa acredita nisso como uma proposição filosófica, mas se sente isso no fundo do seu coração. O mestre sabe que, se alguém acredita numa vida futura, sua visão de mundo será diferente e terá um outro sentido de responsabilidade e moralidade pessoal. O que os mestres suspeitam é que aqueles que não têm uma crença firme numa vida após a morte, vão criar uma sociedade fixada em resultados a curto prazo, sem qualquer preocupação com as consequências dos seus atos. Seria essa a principal razão pela qual criamos um mundo brutal como este em que vivemos, um mundo em que a verdadeira compaixão está quase ausente?

Às vezes penso que os países mais poderosos e influentes do mundo desenvolvido são como o reino dos deuses descrito nos ensinamentos budistas. Diz-se que esses deuses vivem suas vidas em meio a um luxo fabuloso, mergulhados em todos os prazeres imagináveis, sem um único pensamento sobre a dimensão espiritual da vida. Todos parecem muitos felizes até que a morte se aproxima, e aí alguns sinais inesperados de desintegração aparecem. Então, as esposas e amantes desses deuses não mais se atrevem a se aproximar deles, atirando-lhes flores à distância, com preces ocasionais para que eles renasçam novamente como deuses. Nenhuma de suas lembranças de felicidade ou conforto pode agora protegê-los do sofrimento que eles enfrentam; isso só faz com que fiquem mais desesperados, de tal modo que esses deuses são deixados para morrerem sozinhos e miseravelmente.  

O destino dos deuses me faz pensar na maneira com os velhos, os doentes e os que estão morrendo são tratados hoje. Nossa sociedade é obcecada por juventude, sexo e poder, e nós nos esquivamos da velhice e da decadência. Não é terrível que desprezemos as pessoas idosas quando sua vida de trabalho se encerrou e elas já não mais pareçam úteis? Não é perturbador que nós as joguemos em asilos, onde morrem solitárias e abandonadas? 

Não é tempo também de olharmos de um modo diferente a maneira como tratamos os que sofrem de doenças terminais como o câncer e a AIDS? Conheci um bom número de pessoas que morreram de AIDS, e sei como elas foram muitas vezes tratadas como párias, até por seus amigos, e como o estigma da doença levou-as ao desespero e fez com que achassem a vida horrível, sentindo que aos olhos do mundo já estavam acabadas." ... continua. 

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 26/27


quinta-feira, 28 de outubro de 2021

A MORTE NO MUNDO MODERNO (1ª Parte)

"Quando vim pela primeira vez ao Ocidente, fiquei chocado com o contraste entre as atitudes em relação à morte com que eu havia sido criado e as que então encontrei. Apesar de todas as suas conquistas tecnológicas, a sociedade ocidental moderna não tem uma compreensão real da morte ou do que acontece durante ou depois dela.

Aprendi que as pessoas hoje são ensinadas a negar a morte e a crer que ela nada significa, a não ser aniquilação e perda. Isso quer dizer que a maior parte do mundo vive negando a morte ou aterrorizado por ela. Até falar da morte é considerado mórbido, e muitos acham que fazer uma simples menção a ela pode atraí-la sobre si. 

Outros olham a morte de modo ingênuo, com uma jovialidade irrefletida, achando que por alguma razão desconhecida vão se sair bem ao passar por ela, não havendo motivo para preocupação. Quando penso neles lembro-me do que diz um mestre tibetano: 'As pessoas frequentemente cometem o erro de ser frívolas em relação à morte e pensam: 'Ora a morte chega para todo mundo. Não é nada de mais, é apenas natural. Tudo irá bem para mim'. Essa é uma bela teoria, até que se esteja morrendo'.²

Dessas duas atitudes diante da morte, uma a vê como algo de que se deve fugir correndo, outra como um fato que simplesmente irá cuidar de si próprio. Como ambas estão distantes da compreensão do seu verdadeiro significado!

Todas as grandes tradições espirituais do mundo, inclusive, é claro, o cristianismo, dizem explicitamente que a morte não é o fim. Todas falam em algum tipo de vida futura, o que infunde em nossa vida atual um sentido sagrado. Mas, não obstante esses ensinamentos, a sociedade moderna é em larga escala um deserto espiritual em que a maioria imagina que esta vida é tudo o que existe. Sem qualquer fé autêntica numa vida futura, a maioria das pessoas vive toda a sua existência destituída de um sentido supremo.

Cheguei a conclusão de que os efeitos desastrosos da negação da morte vão muito além da esfera individual; eles afetam o planeta inteiro. Crendo basicamente que esta vida é a única, as pessoas do mundo moderno não desenvolveram uma visão a longo prazo. Assim, nada as refreia de saquear o planeta em que vivem para atingir suas metas imediatas, e agem com um egoísmo que pode tornar-se fatal no futuro. (...)"

². Chagdud Tulku Rinpoche. Life in Relation to Death (Cottage Grove, OR: Padma Publishing, 1987), 7. [Traduzido para o português sob o título Vida e Morte no Budismo Tibetano (Porto Alegre: Paramita, 1994).]

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 24/25


terça-feira, 19 de outubro de 2021

A INVESTIGAÇÃO POR PRAZER - V

"Quando parece que o fim foi alcançado, o desígnio logrado e que o homem não tem já nada mais que fazer, então justamente, quando parece que o melhor para ele é comer, beber e viver à larga como as bestas e sumido no mortal ceticismo, então, de fato, se olhar quisesse tão só, as Portas de Ouro que ante ele estão. Com a cultura do século em seu interior e tendo perfeitamente assimilado que ele é uma encarnação da mesma, então está em disposição de intentar o grande passo que, apesar de ser absolutamente possível, é intentado por tão poucos, mesmo entre aqueles que podem fazê-lo. É intentado tão raras vezes, em parte devido às profundas dificuldades que o rodeiam, mas muito mais influi no mesmo, não se convencer o homem de que esta é a direção, na atualidade, na qual a satisfação e o prazer têm que ser obtidos. 

Cada indivíduo se sente atraído por certos prazeres; cada um dos homens conhece que numa ou noutra espécie de sensação encontra suas maiores delícias. E, naturalmente, durante sua vida, a ela de um modo sistemático se dirige, não de outra maneira, o girassol na direção do sol se volta e o lírio sobre a água se inclina. Porém, está lutando continuamente com o fato terrível que oprime sua alma, ou seja que tão depressa como obteve seu prazer, o perde, e uma vez mais tem que andar em sua busca. Mais do que isto jamais na atualidade alcança, porque no momento final lhe escapa. Acontece-lhe isto, porque procura colher o que é impalpável a satisfazer a sede da sua alma com a sensação, por intermédio do contato dos objetos externos. Como pode o que é exterior satisfazer, ou tão somente agradar, ao homem interno, que é o que reina no interior e que não tem olhos para a matéria, nem mãos para tocar os objetos, nem sentidos com os quais se informar do que fora das suas mágicas paredes existe? Aqueles encantadas barreiras que o rodeiam carecem de limites, porque está em todas as partes; deve ser descoberto em todas as coisas viventes e não se pode conceber sem ele nenhuma parte do universo, se este é considerado como um todo coerente. Se desde o começo não se concede o anterior, é completamente inútil considerar a questão da vida. Na verdade, a vida precisa de significação, a menos de ser universal e coerente e a menos que sustenhamos nossa existência devido ao fato de que somos uma parte daquilo que é; não pela razão da nossa própria existência.    

Este é um dos mais importantes fatores do desenvolvimento do homem, o reconhecer o profundo e completo reconhecimento da lei de universal unidade e coerência. A separação existe entre os indivíduos, entre os mundos, entre os diverso polos do universo e da fantasia mental e física chamado espaço, é um pesadelo da imaginação humana. Que os pesadelos existem e que existem só para atormentar, não há criança que não o saiba e o que necessitamos é a faculdade de distinguir entre a fantasmagoria do cérebro que a nós unicamente concerne e a fantasmagoria da vida diária, na qual outros também estão interessados. Esta regra se aplica também ao caso mais amplo. A ninguém importa mais que a nós mesmos que vivamos no meio de um pesadelo de horror ilusório e que nos imaginemos sós no universo e capazes de ação independente, durante tão longo tempo, como nossos associados são só aqueles que constituem uma parte do sonho. Mas quando desejamos falar com aqueles que chegaram às Portas de ouro e, empurrando-as, as abriram, é então inteiramente necessário, de fato é essencial, distinguir e não levar à nossa vida as confusões do nosso sonho. Se isto fazemos, somos considerados loucos e nos aprofundamos nas trevas onde não existe outro amigo que o caos. Este caos tem vindo em continuação de cada um dos esforços do homem que a história registra; depois que a civilização reinou, a flor cai e morre, o inverno e a obscuridade a destroem. Enquanto o homem recusa fazer o esforço de distinção que lhe permitiria distinguir entre as formas noturnas e as ativas figuras do dia, deve isto acontecer inevitavelmente. 

Mas se o homem tem coragem para resistir a esta tendência reacionária e permanecendo firme na altura à qual chegou, adiante seu pé para dar outro passo, porque não há de poder encontrar o que busca? Nada existe que nos dê motivos para supor que a senda termina em um certo ponto, exceto a tradição que assim o tem dito e que os homens tem aceitado e abraçado como uma justificação para sua indolência."

(Mabel Collins - Pelas Portas de Ouro - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 22/24)  


quinta-feira, 7 de outubro de 2021

A INVESTIGAÇÃO POR PRAZER - II

"É indubitável que muitos mais que aqueles que o fazem, o recorreriam ao suicídio com o fim de se livrar do fardo da vida, se pudessem convencer-se que daquele modo se pode lograr o olvido. Porém, aquele que duvida antes de esgotar o veneno, por ter medo de mudar unicamente de modo de existência e de se encontrar o sujeito a uma forma talvez mais ativa de miséria, é um homem de mais conhecimento que as almas temerárias que, de um modo selvagem, se atiram no seio do desconhecido, esperando seus favores. As águas do esquecimento são um tanto completamente diferentes das águas da morte e a raça humana não pode se extinguir pela morte, enquanto a lei do nascimento acione. O homem volta à vida física, do mesmo modo que o bebedor volta ao frasco de vinho; ele não sabe porque, sabe unicamente que deseja a sensação produzida pela vida, como o bebedor deseja a sensação pelo vinho originada. As verdadeiras águas do esquecimento existem longe, atrás da nossa consciência, e podem unicamente ser alcançadas, deixando de existir naquela consciência, fazendo cessar o exercício da vontade, que nos enche de sentidos e de sensibilidade.

Porque não volta a criatura-homem àquela grande e silenciosa matriz, da qual veio e permanece nela em paz, como o menino não nascido que goza da mesma antes que os impulsos da vida o tenham alcançado? Não o faz porque sua sede pelo prazer e a dor, pela alegria e a tristeza, pelo amor e a cólera lhe impedem. O homem desgraçado susterá que não tem o menor apego à vida; e, apesar disso, prova a falsidade das suas palavras, vivendo. Ninguém o obriga a viver; o galeote pode permanecer encadeado ao seu remo, porém sua vida não pode ser encadeada ao seu corpo. O soberbo mecanismo do corpo humano é tão inútil como uma máquina cujos fogos estão apagados, se a vontade de viver cessa; vontade que mantemos firme e continuadamente e que nos conduz às coisas, que, de outro modo, verificá-las nos encheriam de desalento, como, por exemplo, o momento da inspiração e da expiração. Esforços hercúleos, tais como estes, suportarmos sem lamentações e, na verdade, com prazer, com tanto que possamos existir no meio de sensações inúmeras.

E mais ainda: a maior parte de nós, nos contentamos com ir para diante sem objetivo, sem desígnio, sem a menor ideia de um motivo, sem compreender que caminho é que estamos investigando. Quando, pela primeira vez, o homem reconhece esta falta absoluta de objetivo e se convence profundamente de que está trabalhando com grandes e constantes esforços e sem nenhuma ideia a respeito do fim, na direção do qual sem esforço se dirige, então desce sobre ele a miséria do século dezenove, a miséria intelectual. Encontra-se perdido, desencaminhado e para ele não há esperança. Converte-se em cético, a desilusão e o aborrecimento apoderam-se dele e faz a pergunta em aparência incontestável: se, depois de tudo, merece a pena se tomar o trabalho de respirar, perante tais resultados desconhecidos e incognoscíveis, ao parecer. Porém, são incognoscíveis semelhantes resultados? Pelo menos, para perguntar algo de menor importância, é impossível fazer uma conjetura a respeito da direção na qual nosso fim existe?"

(Mabel Collins - Pelas Portas de Ouro - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 16/18)


quinta-feira, 23 de setembro de 2021

COLONIZAÇÃO ECONÔMICA

"Se alguém acumula riqueza para consumir o que é desnecessário, ele retira essa riqueza daquilo que pertence a outros; portanto, nada mais é do que um ladrão. Mas, se uma pessoa é incapaz de acumular  riqueza segundo o modo moderno, ele não pode levar uma 'vida digna'. Uma pessoa assim é classificada entre aqueles que estão abaixo da linha de pobreza, que precisam de mais assistência, mais fundo de desenvolvimento e mais oportunidades de emprego. Portanto, mais empréstimos e mais know-how são necessários, segundo os termos determinados pelo Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a Organização Mundial de Comércio e os governos das chamadas ' nações desenvolvidas'. Assim, as nações do Terceiro Mundo estarão sempre curvadas. O sistema econômico não apenas nos priva de nossa sabedoria e discriminação; rouba-nos também nossa dignidade e autorrespeito. 

Hoje, todos os sistemas geopolíticos e socioculturais são governados por um fator único, que é a economia de mercado. Outros ideais políticos e sociais, como democracia, direitos humanos, diversidade cultural e liberdade de consciência são meras palavras, destituídas de significado, usadas de maneira ornamental e metafórica e, se necessário, como simulacro de apoio. 

O colonialismo político chegou ao fim devido ao despertar dos povos sujeitos a essa dominação durante os últimos séculos. Atualmente essa prática foi substituída pela colonização econômica, que é muito mais perigosa. A ocupação política pode ser derrubada em pouco tempo, mas serão necessárias várias décadas ou séculos para se recuperar da dominação econômica - presumindo-se que haja uma chance de reconquistar essa liberdade. 

Como as prioridades econômicas suplantaram tudo o mais, o indivíduo se tornou egoísta, violento e destituído de fundação moral e ética. O moderno estilo de vida também destruiu as inclinações espirituais da maioria das pessoas. A essência da religião tem sido ignorada; as religiões e suas instituições têm sido usadas para fortalecer a intolerância e o conflito. A maioria das pessoas pensa que espiritualidade, moralidade e ética são empecilhos ao desenvolvimento material. Muitos dizem abertamente que 'religião é veneno' em termos de progresso. Uma pequena minoria pode não concordar totalmente com isso, mas diz mansamente que não há solução senão se submeter.

Na ausência de sabedoria e coragem para se opor ao mal, a pergunta natural é: 'O que podemos fazer?' Esta é uma pergunta muito importante. Seguindo o princípio de satyagraha de Gandhi, recomendo aos indivíduos que 'pulem fora' do moderno estilo de vida materialista, com seu consumismo excessivo e imoral, e compreendam qual é a sua responsabilidade com relação ao bem-estar universal. O macrouniverso é construído de microuniversos de indivíduos; o que quer que o indivíduo faça tem relevância e produz efeitos sobre o universo. Portanto, quando um indivíduo se dissocia do mal, um microuniverso desarmonizado pode se sintonizar. Assim, o planeta em mais chances de recobrar sua harmonia com o universo."

(Samdhong Rinpoche - Uma cura para o planeta - Revista Sophia, Ano 13, nº 54 - p. 34/35)


terça-feira, 14 de setembro de 2021

LEVE DEUS A SÉRIO, NÃO A VIDA

"A vida está repleta de tragédias e comédias, um caleidoscópio de variedade infinita. Não há duas coisas iguais. A vida de cada um é singular. Cada pessoa tem um diferente tipo de rosto, de mente e de desejos. Seria monótono passar exatamente pelas mesmas experiências todos os dias; logo nos cansaríamos da vida. Se o próprio céu fosse o mesmo todos os dias, ninguém o quereria. Gostamos de variedade. A ideia estereotipada que se faz do céu está totalmente errada. Se fosse monótono, todos os santos rezariam para voltar à terra, em busca de uma pequena mudança! O céu é algo infinitamente variado, sempre agradavelmente novo, enquanto a terra costuma ser desagradavelmente nova!

Contudo, apesar das dificuldades da vida, a maioria das pessoas acostuma-se e supõe que não há outro modo de viver. Não podendo compará-la com a vida espiritual, não avaliam a dor e o tédio que existem na vida terrena.

Efetivamente, a vida não é real; é apenas um entretenimento. Assim como velhos filmes são reprisados várias vezes, basicamente os mesmos velhos incidentes ocorrem e voltam a ocorrer na vida. Embora a vida vá prosseguir eternamente, os mesmos temas retratados em filmes antigos serão representados de novo, vezes sem conta. É verdade que a história se repete. Somos todos peças de museu!

Em sua vida, aconteça o que acontecer, aceite tudo alegremente, impessoalmente, como se assistisse a um filme. A vida é divertida quando não a levamos a sério. Uma boa risada é um excelente remédio para os males humanos. Uma das melhores características do povo americano é sua capacidade de rir. Ser capaz de rir da vida é maravilhoso. Isso o meu mestre [Swami Sri Yukteswar] ensinou. No início do treinamento em seu eremitério, eu andava sempre com uma expressão solene; não sorria nunca. Um dia, o Mestre observou criticamente: 'O que é isso? Você está numa cerimônia fúnebre? Não sabe que encontrar Deus é o funeral de todas as tristezas? Então, por que está tão sombrio? Não leve esta vida muito a sério.' Ele me ensinou que é preciso estar mentalmente acima de todas as crucificações da experiência terrena, para encontrar a completa felicidade em Deus. 

Krishna ensinou: 'Sereno na ventura e na desventura, no ganho e na perda, no triunfo e no fracasso - assim deves enfrentar a batalha da vida! Desse modo, não adquirirás pecado.'³ Permanecer equânime, aconteça o que acontecer, é um dos melhores meios de vencer desejos ilusórios. Isso aprendi pelo exemplo do meu grande mestre - imutável até o fim. Cristo também demonstrou esse espírito. E o amor de Deus não lhe foi tirado; apesar de torturado. Jesus não perdeu a consciência divina. A proteção de Deus à nossa paz e alegria é a maior fortaleza possível. Durante todas as privações e sofrimentos, lembre-se das coisas boas que Deus lhe deu. Sua alma é o tempo celestial de Deus. As trevas da ignorância e das limitações mortais precisam ser expulsas desse templo. É maravilhoso estar na consciência da alma- fortalecido, robusto!

Nada tema. Não odiar, oferecer amor a todos, sentir o amor de Deus, ver a presença Dele em todos e ter apenas um desejo - o desejo de Sua constante presença no templo da consciência -, este é o modo de viver neste mundo. Os que tiverem outros desejos não conhecerão a verdadeira satisfação."

³ Bhagavad Gita II.38.

(Paramahansa Yogananda - A Eterna Busca do Homem - Self-Realization Fellowship - p. 126/128)


quinta-feira, 2 de setembro de 2021

A IMPERMANÊNCIA

"O que é a nossa vida senão uma dança de formas transitórias? Não está tudo sempre mudando: as folhas nas árvores do parque, a luz em seu quarto enquanto você lê este livro, as estações, o clima, as horas do dia, as pessoas passando por você na rua? E nós? Tudo que fizemos no passado não parece agora um sonho? Os amigos com os quais crescemos, os fantasmas de nossa infância, os pontos de vista e opiniões que uma vez defendemos com tamanha e sincera paixão: deixamos tudo isso para trás. (...)

As células do nosso corpo estão morrendo, os neurônios do nosso cérebro estão se deteriorando. Até a expressão em nosso rosto está sempre mudando, dependendo do nosso humor. O que nós chamamos nossa personalidade básica é apenas um 'fluxo mental', nada mais. Hoje nos sentimos bem porque as coisas estão indo bem; amanhã sentiremos o contrário. Para onde foi esse sentir-se bem? Novas influências tomaram conta de nós à medida que as circunstâncias mudaram: somos impermanentes, as influências são impermanentes, e não há em parte alguma algo sólido ou duradouro a ser apontado.

O que pode ser mais imprevisível do que nossos pensamentos e emoções: você tem qualquer ideia do que vai pensar ou sentir nos próximos minutos? Nossa mente, de fato, é tão vazia, tão impermanente e transitória quanto um sonho. Olhe para um pensamento, como ele vem, fica e vai. O passado é o passado, o futuro ainda não surgiu, e mesmo o pensamento presente, como nós experimentamos, torna-se logo o passado.

A única coisa que realmente temos é o presente, é o agora. 

Algumas vezes, quando ensino essas coisas, depois alguém se aproxima de mim e diz: 'Tudo isso parece tão óbvio! Eu sempre soube disso. Diga alguma coisa nova'. Respondo então: 'Você realmente entendeu e realizou a verdade da impermanência? Você de fato a integrou em cada um dos seus pensamentos, respirações e movimentos a tal ponto que sua vida se transformou? Faça a si mesmo estas duas perguntas: lembro a cada instante que estou morrendo, e todos e tudo ao meu redor também, e desse modo trato todos os seres a todo momento de forma compassiva? Meu entendimento da morte e da impermanência tem sido tão forte e urgente para mim a ponto de que dedique cada segundo da existência à busca da iluminação? Se você pode responder 'sim', a ambas as perguntas, então você compreendeu de fato a impermanência."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Palas Athena, São Paulo,  1999 - p. 48/49)


terça-feira, 24 de agosto de 2021

MUDANÇA REAL

"Uma mudança só é possível do conhecido para o desconhecido, não o contrário. Por favor, pense nisso junto comigo. Na mudança do conhecido para o conhecido há autoridade, uma perspectiva de vida hierárquica - 'você sabe, mas eu não sei'. Por isso, eu crio um sistema, vou atrás de um guru, sigo alguém porque ele me dá  o que eu preciso saber, uma certeza de conduta que produzirá resultado, sucesso. O sucesso é o conhecido. Eu sei o que é ser bem-sucedido. É isso o que eu quero. Então prosseguimos do conhecido para o conhecido, em que a autoridade precisa existir - a autoridade da sanção, do líder, do guru, a hierarquia, aquele que sabe e o outro que não sabe -, e aquele que sabe deve me garantir o sucesso, o sucesso em meu esforço, na mudança, para que eu seja feliz, eu tenha o que quero. Isso não é motivo para a mudança da maioria de nós? Por favor, observe seu próprio pensamento e verá os caminhos da sua própria vida e da sua própria conduta. Quando você olha para elas, isso é mudança? A mudança, a revolução, é algo do conhecido para o desconhecido, em que não há autoridade, em que pode haver um total fracasso. Mas se você está assegurado de que vai progredir, de que vai ser bem-sucedido, de que ficará feliz, terá uma vida eterna, então não há problema. Você busca o curso de ação conhecido, ou seja, você se coloca sempre no centro das coisas."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 339)


terça-feira, 27 de julho de 2021

ACUSAÇÃO E CRÍTICA - III

"Culpar alguma coisa ou pessoa pela infelicidade em nossa vida raramente resolve um problema. As queixas constantes, em silêncio ou em voz alta, nos distanciam da real causa de nossa tristeza e impedem de crescer interiormente.

Atitudes de queixa ou acusação como: 'Foi ele que me fez agir assim!', 'É tudo culpa dela', 'Não tive escolha', 'Todo mundo está fazendo isso', 'Ninguém me compreende', 'Não tenho amigos', 'Ele merecia esse castigo', 'Vou mostrar a ela' e 'Não vou pedir desculpas enquanto ele não o fizer' são exemplos das reações infantis que muitas vezes levamos para nossa vida de adulto.

Se quando estivermos dispostos a assumir a responsabilidade pelas nossas próprias atitudes, ações e descasos - sem culpar outras pessoas por eles - encontraremos a paz e harmonia interiores que estamos buscando.

Hoje pararei para ouvir meus pensamentos, tanto os profundos como os mais evidentes. Estou me queixando ou acusando demais? Se for esse o caso, voltarei minha atenção para a verdadeira fonte da infelicidade: minha insatisfação comigo mesmo.

Assumir a responsabilidade pelas nossas atitudes, ações e descasos é mais difícil do que dirigir a vida dos outros. Dar conselhos a outra pessoa, por exemplo, é mais fácil do que praticar o que ensinamos. Se aplicássemos os conselhos em nossa própria vida, teríamos menos tempo para criticar, tentar corrigir ou interferir nas dificuldades alheias. Além disso, ficaríamos surpresos com quantos opções temos dentro do nosso alcance que resolveriam, ou pelo menos aliviariam, os problemas de nossa vida. 

Hoje deixe-me entender que sou muito mais positivo e produtivo quando concentro meus esforços e pensamentos em modificar a mim mesmo e minhas próprias ações. Dê-me coragem de agir com base em minha sabedoria interior.

Só existe um canto no universo que você pode ter certeza de que é capaz de melhorar e ele é o seu próprio eu. Assim, é lá que você tem de começar e não fora de si, nem em outras pessoas. Isso vem depois, quando você já tiver seu próprio canto arrumado.
- Aldous Huxley


(Por Liane Cordes - O Lago da Reflexão, Meditações para o autoconhecimento - Ed. Best Seller, 3ª Edição - p. 85/86)



quinta-feira, 8 de julho de 2021

CONHECIMENTO ESPIRITUAL

"H.P.B. diz que o conhecimento espiritual é inatingível por métodos intelectuais comuns, tais como autoanálise. Penso que temos aqui a chave para compreender alguma coisa que Krishnamurti diz. Ele fala frequentemente da atenção aos nossos processo de pensamento e sentimento, sem escolha e sem personalização. Esta observação absolutamente impessoal do eu pessoal pelo superior é uma forma elevada de Ioga. Lentamente todo o processo da mente e das emoções são observadas e compreendidas, camada após camada, desde a consciência superficial do dia-a-dia até o nível mais profundo da 'subconsciência.' Isto não é a autoanálise comum. O motivo é inteiramente diferente. Na autoanálise comum, o eu comum está julgando o eu comum, no ponto de vista de elogio ou condenação, lucro ou perda. A autoconscientização de Krishnamurti, sinto, é a compreensão de toda a vida até que a vida, Ela mesma, seja alcançada.  

Obter esse conhecimento é a maior das realizações, diz H.P.B., maior, muito maior e mais nobre do que as assim chamadas, 'artes ocultas.' 'Poucos há que a encontram,' disse o Senhor Cristo.

Assim o primeiro passo para encontrar o verdadeiro Eu é encarar nosso corpo como não sendo nós próprios, como a casa em que vivemos temporariamente, ou as roupas que vestimos, ou, como diz o Mestre K.H. em Aos Pés do Mestre, 'o cavalo em que montamos.' Este último é a melhor expressão de todas, pois nosso corpo é uma coisa viva com uma obscura vida elemental própria separada da nossa. Suponha que só pudéssemos ir a qualquer lugar cavalgando; então cuidaríamos desse cavalo, o trataríamos e o exercitaríamos devidamente. Assim também devemos tratar nossos corpos, que são valiosos, mas não identificar nossa consciência com eles. Um efeito indesejável dessa identificação comum, tremendamente próxima, é seu efeito sobre a radiação psíquica interpenetrante que, infalivelmente, segue o pensamento e o sentimento. Pensar que somos este corpo atrai a radiação da 'aura' e concentra demasiada matéria psíquica ou astral sob a periferia da pele, causando congestão psíquica e ligeira tensão nervosa. Muita gente tem radiação suficiente. 

O 'Caminho' é sempre o mesmo, a descoberta do verdadeiro homem interior. Tudo o mais deriva daí. Viveka é, assim, discernimento inteligente e percepção espiritual, e seu corolário, Vairagya, é a consequente firmeza diante dos 'pares dos opostos.' O objetivo de Viveka é aquilo que está na prece do Rei Salomão: 'Dai, portanto, ao vosso servo um coração compreensivo.' Quando começamos a compreender a nós mesmos e aos outros, sem elogio ou reprimenda, talvez comecemos a ouvir a doce voz que tanto desejamos ouvir. Através do pensamento, da aspiração, da meditação, da determinação, lentamente o mundo divino e suas qualidades começarão a tornar-se visíveis. Mas não há metáforas que possam descrever essa visão interior. Está além da imaginação humana, pois nunca a mente humana conheceu alguma coisa semelhante, sua beleza gloriosa, certeza e verdade.

'Não sou este corpo que pertence ao mundo das trevas; não sou os desejos que o afetam; não sou os pensamentos que enchem a minha mente; não sou a própria mente. Sou a Chama Divina em meu coração, eterna, imortal, invisível. Mais radiante que o sol, mais puro que a neve, mais sutil que o éter é o Ser, o espírito dentro do meu coração.'"

(Clara Codd - As Escolas de Mistérios - Ed. Teosófica, Brasília, 1998 - p. 183/185)


terça-feira, 6 de julho de 2021

A LIÇÃO DO SOFRIMENTO

"O Sofrimento nada mais é do que o outro lado do prazer.

Segundo Buda, a primeira das quatro grandes verdades é: 'a vida é sofrimento.' Esta afirmação nos ajuda a entender que a dor não é exclusividade nossa, mas parte da vida de todos. Por vezes aprendemos sobre ela da maneira mais dolorosa. Importante, porém, é não ficarmos passivos frente ao sofrimento e buscar a lição e o aprendizado que ele nos pode oferecer.

A morte é presença permanente na vida de todos nós. Quando acompanhamos o enterro de alguém de quem gostamos, levando tristeza no coração, convém nos lembrarmos de que quanto maior for o número de pessoas que amamos, mais ocasiões como essas iremos viver durante nossa vida. Se conquistarmos a felicidade de ter muitos amigos, muitas vezes iremos comparecer a um cemitério para deles nos despedirmos. Mas, por outro lado, muitas vezes participaremos de festas e comemorações e nascimentos e aniversários; e alegrias e tristezas, junto com as pessoas que amamos, são as maiores riquezas que podemos usufruir. O sofrimento nada mais é do que o outro lado do prazer.

Não ficar passivo frente ao sofrimento significa superar dores e aflições e ajudar os outros a também fazê-lo. Certamente o futuro ainda nos reservará festas e comemorações. Mas alguns acontecimentos estão acima de nosso entendimento. Devemos aceitar com serenidade o que não pode ser mudado e usar nossa energia para melhorar o que estiver ao nosso alcance. O tempo alivia o sofrimento."

(Luiz Alberto Py - Olhar Acima do Horizonte - Ed. Rocco Ltda., Rio de Janeiro, 2002 - p. 83/84)


quinta-feira, 1 de julho de 2021

DESCOBRE A DEUS DENTRO DE TI!

"Será esta a mais gloriosa aventura da tua vida: descobrir a Deus dentro de ti.

Vives na ilusão tradicional de que Deus habita no céu, palavra com que entendes infantilmente alguma região longínqua do universo, e que esse Deus deva ser procurado em longas e incertas odisséias centrífugas.

Disseram-te que em alguns lugares da nossa terra está Deus mais presente do que em outras - e por isto empreendeste árduas peregrinações e romarias a zonas distantes do globo terráqueo, a fim de te aproximares um pouco mais do Deus ausente.

Tão grande é a distância entre ti e Deus, disseram-te, que ninguém sabe se tem forças suficientes para chegar ao termo da jornada.

Mais ainda, essa jornada nem parece ser tarefa da vida presente, mas algum acontecimento post-mortem; Deus parece estar oculto por detrás do espesso véu de carne corpórea, como a efígie de Ísis por detrás do pesado véu do templo de Saís - uma vez destruído esse véu de carne e osso, Deus aparecerá visível, pensas tu...

Grande será a tua ilusão, meu pobre viajor! Maior que a do jovem do santuário da Saís, que levantou o misterioso véu para ver a divindade - e contemplou o vácuo...

Deus, é verdade, está em toda parte, mas tu só podes ter com ele um ponto de contato consciente no ponto de confluência entre a tua consciência individual e a Consciência Universal, lá onde o pequeno arroio da tua pernosalidade deságua no oceano imenso da Divindade, donde surgiu, fechando o vasto ciclo.

Pois, do Oceano divino vieste, qual tênue vapor, condensado, depois, em branca nuvem, que os ventos levaram por todas as latitudes e longitudes do mundo - até descer em forma de chuva benéfica - ou talvez de granizo destruidor? - sobre a vida terrestre, demandando o leito de um regato, de um rio, de uma torrente - e acabaste novamente no seio profundo do Pélago donde surgiras...

Depois que descobrires a Deus dentro de ti, é fácil descobri-lo por toda a parte - não projetando-o ficticiamente para dentro das coisas, mas descobrindo-o verazmente em todos os seres, onde ele está de fato; pois, do contrário, esses seres não teriam o ser, não seriam algos, mas nadas, uma vez que fora de 
Deus não há realidade autônoma, original, senão apenas pseudorrealidade heterônoma, derivada...

Descobre a Deus em ti - e te verás em Deus...

E em Deus verás teus semelhantes e o mundo inteiro..."

(Huberto Rohden - Imperativos da Vida - Alvorada Editora e Livraria Ltda., São Paulo, 1983 - p. 79/80


terça-feira, 29 de junho de 2021

DEIXA DE SER BONECO DE ENGONÇOS!

"O mundo em derredor é um mundo de efeitos visíveis - cuja causa é invisível. Por detrás dessa vasta tela multicor de fenômenos transitórios atua a misteriosa causa incolor, o eterno e imutável Númeno - Deus.

O homem profano é constantemente impelido pelo mundo externo; não é ele que decide - é o mundo fenomenal que determina o que esse homem deve fazer ou deixar de fazer.

O homem profano é antes um objeto atuado do que um sujeito atuante.

É escravo dos seus sentimentos e pensamentos, que lhe tolhem a liberdade de ser ele mesmo, seu verdadeiro Eu divino.

Está à mercê das paixões do egoísmo, da cobiça, da sensualidade, do medo, do ódio, da aversão - vítima passiva de todos os impactos vindos da periferia da sua personalidade.

É um 'caniço agitado pelo vento' - e não um baluarte firmado em rochedos eternos.

Qual boneco de engonços manobrado por cordéis invisíveis, assim move o profano mãos e pés, mente e coração, ao sabor de agentes alheios.

O profano não se guia - é guiado.

Mas, quando o homem ultrapassa a fronteira do mundo fenomenal das aparências e entra na zona da grande realidade; quando, de vítima dos efeitos heterônomos, passa a ser senhor da causa autônoma, das creaturas ao Creador, das aparências à essência, do temporal ao eterno - então deixa de ser escravo das ilusões e se torna senhor da verdade.

'Conhecereis a verdade - e a verdade vos libertará'...

Abandona o movediço areal do mundo periférico e alicerça sua casa sobre o rochedo central da realidade divina.

Proclama a sua verdadeira liberdade - 'a gloriosa liberdade dos filhos de Deus'.

E das excelsas e sólidas alturas do seu Himalaia espiritual contempla esse homem, com jubilosa serenidade, todas as rampas e baixadas da vida humana e do mundo em derredor.

Não com o sobranceiro desdém do orgulhoso - mas com a humilde benevolência do sábio.

Que tudo compreende desconhece desprezo, orgulho e ódio - abrange todas as coisas com a potente suavidade e a suave potência de um amor universal.

No coração desse homem têm lar e querência segura todos os seres do universo de Deus.

Porque o iniciado sabe por experiência íntima que todos os filhos de Deus são seus irmãos e suas irmãs, membros da grande família do Pai celeste.

Verdade é liberdade.

Liberdade é compreensão.

Deixa, pois, meu amigo, de ser fantoche de compulsão externa - e torna-te senhor do impulso interno.

Senhor da tua vida.

Senhor do teu destino..."

(Huberto Rohden - Imperativos da Vida - Alvorada Editora e Livraria Ltda., São Paulo, 1983 - p. 143/145)



 

terça-feira, 22 de junho de 2021

TRABALHE PELO SEU PROGRESSO COM DEUS A SEU LADO

"Se você não está realizando nada na vida, comece agora: verifique sua saúde e mude a alimentação, se for necessário: acabe com os maus hábitos alimentares. Mude seu modo de pensar - abandone os pensamentos negativos e sombrios e seja mais positivo, de modo a poder adquirir algo material quando desejar. Acima de tudo, trabalhe pelo seu progresso com Deus a seu lado. Isso é a aplicação mais importante de todo o pensamento criativo. Se apesar da sua determinação espiritual a vontade falhar, faça alguma coisa. Assim que você desejar a Deus, tudo virá tentá-lo. Você é levado a acreditar que encontrará felicidade nas diversões mundanas, mas elas o afastam da busca espiritual, destruindo a força de vontade. Quando comecei neste caminho eu nunca ia ao cinema, nem procurava outras distrações. Tinha intenções sérias com Deus - e agora, depois que O encontrei, tudo o que faço parece uma brincadeira. Ele me deu tudo, mas para mim nada é mais interessante do que a comunhão constante, em meu interior, com o Amado de meu universo.

Entrega total a Deus é o único objetivo que consigo conceber na vida. Somente através de Deus, e em Deus, é que posso ver a perfeição que buscava, e portanto é só a Ele que posso dar fidelidade total, pois tudo o mais nos decepciona. Quando você observa as pessoas com os olhos da sabedoria, todas  deixam a desejar. Só Deus satisfaz. Ele me deu muito mais do que esperei na vida. Eu me recusei a pensar, a agir e a ser como os outros. Sabia que havia algo mais na vida. Não há problema em ter coisas materiais, mas elas têm seu lugar. Pessoalmente, não preciso nem desejo essas coisas, Para mim só existe Um, o Senhor. A alegria de Sua presença está sempre comigo.

Quero que saiba que, quando falo de experiências pessoais, não o faço para vangloriar-me, mas para contar da alegria da realização; é para incentivá-lo, para que você também tente. Você só será um fracassado enquanto pensar que foi derrotado. Mas não importa quantas vezes você seja atingido pelas flechadas das circunstâncias: levante a cabeça mais uma vez! Diga para si mesmo: 'O corpo pode estar abatido, mas o espírito não será vencido!'  Esse é o caminho para o sucesso. É preciso o poder da mente, o poder de criar. Então você conhecerá a alegria da realização."

(Paramahansa Yogananda - O Romance com Deus - Self-Realization Fellowship - p. 101/102)


quinta-feira, 17 de junho de 2021

CONTEMPLAR AS FALHAS DA INDOLÊNCIA NESTA VIDA

"Shantideva, agora dirige-se à mente governada pela indolência e a castiga severamente como segue:

[4-5] Assim como os cervos e pássaros capturados na armadilha de um caçador serão finalmente mortos; sob a influência da delusão, os seres estão emaranhados na rede do samsara. Não vês que, no passado, todos os seres sencientes foram devorados pelo Senhor da Morte e que tu também terás o mesmo fim? Indiferente à idade, ao estado de saúde ou a qualquer outra consideração, o Senhor da Morte massacra sistematicamente todos aqueles ao teu redor. Se entendes isso, por que não praticas o Darma, em vez de perseguir desejos mundanos e entregar-se ao sono? (...)

Conforme diz Shantideva, como podemos continuar envolvidos em atividades sem sentido, quando a morte está se aproximando furtivamente de nós? [6] Embora o Senhor da Morte esteja tentando nos matar e impedir nossa viagem pelo caminho que leva à cidade da libertação, não sentimos medo e continuamos viciados nos apegos mesquinhos e nos prazeres de dormir e de comer. [7] Em breve, a hora da morte chegará e, então, será tarde demais para abandonarmos a preguiça. Devemos acordar desse estupor indolente e praticar o Darma agora mesmo!

[8] Nossa vida está repleta de tarefas que impomos a nós mesmos; algumas nem foram começadas, outras acabam de ser iniciadas e outras foram parcialmente concluídas. No entanto, qualquer que seja o estado dos nosso assuntos mundamos, a morte descerá sobre nós subitamente. Completamente despreparados, ficaremos aterrorizados e será tarde demais para nos arrepender. Pensem no que acontecerá quando a morte finalmente chegar. Estaremos repletos de ansiedade. [9] Haverá muito choro quando nossos familiares, ao redor do nosso leito de morte, perderem qualquer esperança de nos ver recuperados. [10] Visões apavorantes, um reflexo da nossa não virtude do passado, vão aparecer diante de nós, e ficaremos envoltos em um sentimento de profunda melancolia. (...) A morte chegará um dia sem sombra de dúvida e, se nada fizermos para livrar nossa mente da delusão, ela será tão temível qanto o que foi descrito. Portanto, precisamos superar a indolência e começar nossa prática de Darma imediatamente."

(Geshe Kelsang Gyatso - Contemplações Significativas - Ed. Tharpa Brasil, 2009 - p. 275/276)


terça-feira, 11 de maio de 2021

EM SUA VIDA: PARTICIPAÇÃO ÍNTIMA (PARTE FINAL)

"(...) Considere cada passo como parte do processo. Quando alguém diz 'É tudo parte do processo', percebe-se um tom de resignação, como se a vida tomasse tempo e paciência, mas se você puder tolerar o aborrecimento por tempo suficiente, o processo acabará sendo eficaz. O processo que estou descrevencdo nada tem de mecânico. Ele é dinâmico, imprevisível, fascinante e em constante mutação. Ser conduzido pelo processo leva à plenitude e à felicidade definitiva. Os grandes mestres espirituais, aqueles que veem a vida pelo aspecto metafísico, frequentemente afirmam que o processo acontece por si próprio. Um conhecido guru indiano foi uma vez indagado:

- Minha evolução pessoal é algo que estou realizando ou algo que está acontecendo comigo? 

A resposta:

- São ambas, mas se tivermos de escolher, é algo que está acontecendo com você.

Por tudo isso, o caminho espiritual não é uma coisa automática. A vida participa aqui e agora, mais pela perspectiva da formiga que pela da águia. Você deve focar em cada minuto; novos desafios aparecem constantemente e não podem ser ignorados. Assim fica bem fácil observar sua vida como uma sequência de momentos, com passos para a frente ou para trás. Muitas pessoas vivem suas vidas exatemente dessa maneira, 'vivendo um dia de cada vez', conforme diz o ditado. Essa perspectiva faria de nós todos sobreviventes. Ela estaria negando a plenitude da vida e, se você não inclui essa fator, uma participação irrestrita torna-se impossível. É claro que você aceitará uma fatia do pão de cada vez se você não souber que o pão inteiro pode ser seu.

Somos forçados a falar por metáforas porque o processo da vida é misterioso. Está acontecendo exatamente agora, esteja você enchendo seu tanque de gasolina, trocando a fralda de um bebê ou sentado na cadeira do dentista. Será que ele chega a uma conclusão gloriosa com data marcada? A mescla do visível com o invisível, do sublime com o aflitivo, é inevitável. A única conclusão viável acaba sendo 'É isso aí'. Algumas vezes 'isso' não significa nada; você não pode esperar que isso termine. Outras vezes 'isso' dá a impressão de que os céus se partiram; você só pode esperar que dure para sempre. Porém, 'isso' é como um pássaro em voo. Você nunca o agarrará. O milagre é que as maiores criações, como o cérebro humano, foram feitas para caçar o pássaro. Nós nos entrelaçamos em um bordado de experiências que fica mais compacto com o passar do tempo, em que cada fio não é nada mais que um fragmento de pensamento, desejo ou sentimento. Cada movimento vivido acrescenta outro ponto de costura e mesmo que você não consiga visualizar como será o padrão final, ajuda saber que o fio é de ouro."

(Deepak Chopra - Reinventando o Corpo, Reanimando a Alma - Ed. Rocco Ltda., Rio de Janeiro, 2010 - p. 264/265)


quinta-feira, 6 de maio de 2021

EM SUA VIDA: PARTICIPAÇÃO ÍNTIMA (5ª PARTE)

"(...) Peça por nada menos que inspiração. A vida diária pode se tornar enlouquecedoramente mundana. Você pode escapar do tédio, reunindo o maior número de interesses possíveis, mas no fim poderá descobrir que nunca saiu da superficialidade. Pois o que torna a vida mundana é a frivolidade. Você se sente vigoroso, não importa como sua vida esteja na superfície. Em algumas tradições espirituais, tornar vibrante sua rotina diária é um objetivo final. A ideia é de que você pode transportar água e cortar lenha, possuído de um sentimento universal. Respeito tais tradições, mas às vezes sinto falta da qualidade mais vibrante que a vida pode oferecer, que é a inspiração. Elas limitam a alma a pedir iluminação para sua rotina diária. Por que não iluminar realizações extraordinárias?

A consciência é de livre valia. Ela pode ser moldada em coisas feias, insípidas, inertes, se sua intenção for essa. Como a aquarela de um artista, que é cheia de cores, mas não dá nenhuma garantia de que resultará e um belo quadro, a consciência contém entusiasmo, brilho e fascínio. Entretanto, mesmo uma pessoa autoconsciente não adquire automaticamente uma vida com essas qualidades. É preciso moldar a consciência com intenção, motivo pelo qual pedir por inspiração é crucial. Já disse anteriormente que sua alma deixa sinais ao longo do caminho, pistas da próxima coisa que o estimulará . Para ser mais preciso, esses sinais dependem de onde você vem e para onde você vai. Se você está trilhando um caminho de baixas expectativas, a próxima coisa que irá encontrar dará suporte a essas baixas expectativas. 

A alma não segue uma agenda. Ela não se expõe para torná-lo o melhor que puder, mas sim para preencher o potencial que você descobre em si mesmo, o que significa que você e sua alma estão em um empreendimento cooperativo. Você pede, ela supre. O suprimento que ela fornece o leva a pedir pela próxima coisa. Por ser raro manter uma intenção clara em todas as ocasiões, frequentemente pedimos por coisas confusas e conflituosas. E quando o fazemos, a alma acaba por prover-nos com oportunidades aquém do ideal. Terminamos sem ter o que fazer ou seguindo pistas falsas. Para que isso não aconteça, peça por nada menos que inspiração. Isso é o mesmo que dizer mantenha sua visão mais elevada em mente, e em qualquer situação procure o resultado mais elevado segundo essa visão.

Como sempre, essa estratégia é puramente subjetiva; ela acontece interiormente. Mas somente apegando-se com firmeza à sua visão é que você poderá se alinhar para expressar o potencial mais elevado com que nasceu. O melhor que você pode ser se resume a uma série de decisões que recusar 'menos que o melhor'. Não estou me referindo a compras consumistas. Não é a 'menos que a melhor' amante, casa, 'menos que o melhor' carro ou emprego. Você evita a ideia, a motivação, o propósito, a solução e o objetivo 'menos que o melhor' escolhendo, em vez disso, aguardar por algo melhor, e confiando que sua alma lhe trará o que deseja." ...continua

(Deepak Chopra - Reinventando o Corpo, Reanimando a Alma - Ed. Rocco Ltda., Rio de Janeiro, 2010 - p. 262/264)


terça-feira, 4 de maio de 2021

EM SUA VIDA: PARTICIPAÇÃO ÍNTIMA (4ª PARTE)

"(...) Espere até que sua intenção fique clara. Inúmeras pessoas procuram por motivação nos lugares errados. Elas procuram aumentar sua energia e vigor. Querem a mais alta recompensa. Ficam à espera de uma ideia luminosa que lhes revele a próxima grande invenção ou um novo negócio para ganhar dinheiro. A fonte real da motivação não é nada disso. O tipo de motivação que faz ideias embrionárias desabrocharem com energia e paixão vem de uma intenção clara. Saber exatamente o que você quer, com resoluta convicção, é a centelha que gera tudo o mais, inclusive as grandes ideias e as grandes recompensas. Confusão e incerteza dividem o fluxo da vida em canais fracos e separados. Em razão de a intenção clara não poder ser imposta, muita gente nunca encontra uma. Elas se dedicam um pouco a meia dúzia de áreas em suas vidas. No entanto, não existe segredo para se encontrar uma intenção clara; basta, simplesmente, esperar.
Esperar não é um ato passivo, apenas parece passivo. O modo certo de esperar envolve discriminação: você está selecionando em seu íntimo o que parece certo do que não parece. Você permite que fantasias confusas e esquemas idealistas se desenrolem - aquelas fora de propósito se dissolvem a tempo. Você ainda se fixa em uma centelha que se recusa a apagar. Há muito mais em questão - a busca ansiosa, a luta da dúvida interior, a sedução de grandiosas ambições e o desejo de caprichos impossíveis. Ao fim, uma intenção clara surgirá, e uma vez que isso aconteça, as forças invisíveis ancoradas na alma virão em seu auxílio. Para muita gente, esperar por uma intenção clara é tão cansativo que elas só o fazem poucas vezes, geralmente naqueles anos de indefinição, quando o jovem adulto se sente impelido a iniciar uma carreira. Na procura, sentem-se pressionadas e sem um objetivo concreto; ficam paradas, observando enquanto os colegas mais motivados as vão deixando para trás no mercado de trabalho.
Pode-se notar, porém, que os indivíduos que esperaram até que uma clara intenção fosse revelada foram os que tiveram mais sorte. Apesar do estresse, pressão dos colegas e dúvidas, eles tiveram uma força interior para confiar que 'alguma coisa melhor ainda estava para acontecer'. Trata-se de um potencial oculto que precisou ser cuidadosamente extraído da complicada estrutura psíquica. O melhor que você pode fazer é passar por esse processo tantes vezes quanto possível. A névoa que encobre sua alma pode ser densa, mas ela se dissipará, se você quiser, por mais longo que seja o processo.

Compreenda que nada é pessoal - o universo está agindo através de você. Pode parecer estranho ouvir que você não deveria considerar sua vida em caráter pessoal. O que poderia haver de mais pessoal? Ainda assim, o plano do universo é composto inteiramente de forças impessoais, Elas se aplicam igualmente a qualquer objeto, qualquer acontecimento. Elas não são elaboradas contra você ou para você, mais do que é a própria gravidade. Encontrar sua alma é o mesmo que encontrar o eu impessoal, porque a alma tem acesso direto às forças invisíveis que sustentam o cosmos. A inteligência é impessoal, assim como a criatividade e a evolução. Elas são descobertas somente em seu estado de mais profunda consciência. Par que tenho o melhor aproveitamento delas, considere a vida como uma escola, e a consciência como seu currículo.
O ego toma tudo pessoalmente, o que acaba sendo um grande obstáculo; a experiência está acontecendo para 'mim'. O budismo dispende muito tempo tentando dissipar a ideia de que esse 'mim' tenha algum direito a reivindicar a experiência. Em vez disso, dizem os budistas, a experiência se desenrola por si própria, e você, como experimentador, é somente um canal. Dessa forma produzimos formulação do tipo 'o pensamento é o pensamento em si'. Pode ser desconcertante desenredar as complexidades de uma afirmação tão simples como 'ser é' ou 'o dançarino é a dança'. Ainda assim, o ponto essencial é prático: quanto menos você tomar sua vida pessoalmente, maior a facilidade com que ela fluirá através de você. Aguardar com tranquilidade funciona. Aguardar com ansiedade não funciona. Nem tampouco assumindo que cada experiência o eleva ou derruba. O fluxo da vida não seleciona em colunas de mais e menos. Tudo tem seu próprio valor intrínseco, medido em energia, criatividade, inteligência e amor. Para encontrar esses valores, a pessoa deve para de inquirir 'que bem isso pode me fazer?'. Em vez disso, você atesta o que acontece, deslumbrando-se com tudo." ...continua 

(Deepak Chopra - Reinventando o Corpo, Reanimando a Alma - Ed. Rocco Ltda., Rio de Janeiro, 2010 - p. 250/262)