OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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sábado, 13 de janeiro de 2018

LIBERTAÇÃO (2ª PARTE)

"(...) A libertação pode ser vista tanto como um fim quanto como um processo. A compreensão do processo no qual estamos envolvidos abrirá uma visão quanto ao fim.

O processo é contínuo, é a senda descrita na filosofia indiana como a senda do retorno. A senda na qual o homem não anseia por mais experiência do tipo provido pelo mundo, mas, tendo chegado a um ponto de saturação, busca conhecer o valor e significado de tudo isso, e ao compreender, descobrir a si mesmo. Ele então atinge o estágio de descobrir o que está sendo limitado e o que o limita. 

Aquilo que deve ser liberado na realidade somos nós mesmos, como somos profundamente dentro de nós, e não como normalmente sentimos que somos. O puro fluir de nossa consciência tornou-se dividido e estreitado, e coloriu-se de apegos, repulsões, ganância, medo, convencionalismos e hábitos.

Libertação é essencialmente se libertar do carcereiro do egoísmo frio e venenoso do qual todo mal que vemos é apenas o resultado monstruoso. Nossa experiência diária pode ensinar-nos que o amor, como uma emoção ou força abnegada, é o único e supremo libertador de nosso egocentrismo.

Infelizmente, nos dias de hoje, a palavra amor assumiu uma importância aviltada. Passou a conotar excitação sexual física, sua indulgência e um estado de possessividade baseado na ânsia por tal excitação. Não é o amor de São Paulo em sua carta aos Coríntios ou bhakti (devoção com autoentrega) do verdadeiro devoto. 

O principal meio de libertação em relação ao nosso próximo só pode ser amor expresso em serviço, ação na qual o eu é esquecido e através da qual um Eu Superior é manifestado, resultando na criação de beleza e felicidade. (...)"

(N. Sri Ram – O Interesse Humano – Ed. Teosófica, Brasília, 2015 – p. 38/39


quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

CLAREZA DE VISÃO (1ª PARTE)

"Os ensinamentos da Sabedoria Perene podem nos ajudar a ser artistas exímios. Madhava Ashish apontou a necessidade de uma visão clara de nós mesmos, ao comentar que a nossa habilidade de manter os pés na estrada depende da clareza da visão. Ele observou que, 'quanto mais entendemos aquilo que somos, e como chegamos a ser o que somos, mais entenderemos o que temos que nos tornar, e como nos tornar'. Quando realmente enxergamos, a maneira e o método tornam-se claros. Para isso é preciso fortalecer os aspectos mais elevados da nossa natureza, e, por outro lado, enfraquecer o poder compulsivo dos velhos hábitos.

Para entendermos a nós mesmos, é necessário considerar os vários hábitos e desejos da personalidade de maneira tão imparcial quanto possível: gostos e aversões, amores e temores, respostas às outras pessoas - particularmente as respostas negativas -, tendências duradouras e repetitivas, habilidades que possuímos e as que precisamos desenvolver, áreas em que nosso desenvolvimento é assimétrico e deficiente. Em suma, é preciso segurar um espelho e revelar a nós mesmos aquilo que somos.

Esse no entanto, não é um processo narcisista. É possível ser uma testemunha relativamente imparcial de nossas forças e fraquezas, que podem, então, clarear 'aquilo que temos de nos tornar'. Krishnamurti falou do autoconhecimento no sentido de 'conhecer cada pensamento, cada estado de ser, cada palavra, cada sentimento, conhecer a atividade de sua mente'. Isso não era complicado nem analítico; era simplesmente observar a mente, pois a mente com frequência colore a nossa sensibilidade, conforme esteja tingida por desejos ou pela faculdade da intuição.

Há um termo sânscrito que resume o processo de enfraquecimento dos hábitos e desejos, enquanto o ser interior começa a emergir: vairagya. Geralmente traduzido como desapego, seus significados incluem também 'mudança ou perda de cor' e 'palidez crescente'. Mas o que está perdendo a cor e se tornando pálido? Pode-se dizer que a personalidade empalidece, à medida que as compulsões retrocedem; ao mesmo tempo, as verdadeiras cores da individualidade se tornam cada vez mais pronunciadas.

Todo esse processo pode parecer assustador, porém, mais uma vez, devemos nos considerar como artistas. Não temos que realizar tudo isso em uma semana, mas podemos começar aqui e agora, com apenas um pequeno aspecto de nós mesmos. Como o pintor, precisamos ter paciência; esse pode ser um processo muito positivo e criativo. (...)"

(Linda Oliveira - Os artistas do destino - Revista Sophia, Ano 13, nº 58 - p. 14)


sexta-feira, 3 de novembro de 2017

O CARÁTER DE UM HOMEM

P 137: Considerando o primeiro fio da corda do destino, como é que o pensamento cria o caráter?  

R: O caráter de um homem é a totalidade de suas qualidades morais e mentais. 'Homem' significa 'O Pensador; e a relação entre pensamento e caráter acha-se reconhecida nas Escrituras de todas as nações. Uma escritura hindu diz: 'O homem é criado pelo pensamento; como um homem pensa, assim chega a ser'; e na Bíblia se lê: 'Tal como pensa um homem, assim é'; e também: 'Quem olhar cobiçosamente uma mulher, cometeu já adultério com ela em seu coração'; e 'Aquele que odeia seu irmão, é um assassino'.  

A razão desses fatos é que, quando a mente se ocupa de um pensamento particular, estabelece-se na matéria um tipo definido de vibração, e, quanto maior for a frequência com que se origina esta vibração, adquirirá maior tendência a repetir-se automaticamente na matéria do corpo mental, até que chega a constituir um hábito (...).  

Para criar um hábito de pensamento, deverá o homem escolher uma qualidade desejável (uma virtude, uma emoção), e pensar então persistentemente na qualidade escolhida. Deverá meditar deliberadamente nela todas as manhãs por alguns minutos, e persistir naquela criação mental até que se forme um hábito e se tenha criado a virtude dentro de seu próprio caráter, o que se efetua especialmente quando põe em prática o pensamento em sua vida diária. Como tudo se acha sob lei, não poderá obter habilidades mentais ou virtudes morais sentando-se a esperá-las; somente poderá edificar seu caráter mental e moral pensando esforçadamente e atuando de conformidade. Suas aspirações chegarão a ser capacidades; seus repetidos pensamentos se converterão em tendências e hábitos. No passado criou seu caráter com o qual nasceu nesta vida, e agora está criando o caráter com que morrerá, e com o qual renascerá; e o caráter é a parte mais importante do carma (...).  

Se um homem é hábil para certas coisas, é porque numa vida anterior dedicou muito de seus esforços naquela direção. O gênio e a precocidade se explicam, assim, satisfatoriamente. As aspirações elevadas de uma vida florescem como capacidades na seguinte; e uma vontade decidida de serviço não Egoísta tem como resultado a espiritualidade." 

(Pestanji Temulji Pavri - Teosofia explicada em perguntas e respostas - fl. 122)


domingo, 24 de setembro de 2017

A MUDANÇA NO CORPO MENTAL

"Consideremos agora o corpo mental e sua completa mudança. Em certos aspectos, a mudança a ser buscada no corpo mental é a mais essencial de todas, porque nele estão nossas reais possibilidades de perigo, embora o desconheçamos.

Nunca agimos nem falamos sem que antes tenhamos pensado, sem antes haver concebido uma imagem, isto é, sem haver 'imaginado' o que vamos fazer. Contudo, não atentamos para isso porque as operações da mente são tão rápidas - e nossa consciência é para nós um terreno tão desconhecido - que ignoramos o que ali sucede. Porém, mesmo antes de levantar a mão, pensamos nesse movimento, produzimos uma imagem dele; e como essa imagem é criadora, concretiza-se em ação.

O pensamento humano é a manifestação do Espírito Santo, o Deus Criador, cuja suprema Energia criadora se manifesta em nossa força mental, tornando-a uma espada de dois gumes, muito mais perigosa para quem desconhece o seu poder. Ao pensar, geramos uma imagem no corpo mental, criamos uma forma e a preenchemos com a Energia divina criadora, que então se lançará em ação. Às vezes, necessita-se de certo número de repetidos pensamentos para que a carga de Energia criadora seja suficiente para trazer uma ação. Quando frequentemente repetidos, os pensamentos criam um hábito ou costume; e muitas vezes ficamos impotentes para resistir àquilo que nós mesmos criamos.

Nada disso representa perigo se nós determinamos nossas imagens mentais a partir do interior, se nós - o Ser divino - criamos as imagens com plena consciência. O perigo, o terrível perigo de toda a nossa vida, está em permitirmos a criação de imagens mentais para incitações externas, em tolerar que os estímulos do mundo exterior concebam imagens no corpo mental; em lançar a criadora matéria mental em formas de pensamentos que, carregadas de energia, terão necessariamente que ser descarregadas, concretizando-se em ação.

Nessa indisciplinada atividade do corpo mental está a causa de praticamente todas as nossas lutas internas e dificuldades espirituais. É a ignorância que permite o funcionamento desgovernado do instrumento, que deveria ser útil a nós e não se utilizar de nossa energia criadora. Quando consentimos que os estímulos do exterior motivem o corpo mental a produzir imagens, nos desnorteamos, e começa a luta."

(J. J. Van Der Leeuw - Deuses no Exílio - Ed. Teosófica, Brasília, 2013 - p. 28/29)
www.editorateosofica.com.br


terça-feira, 5 de setembro de 2017

SUCESSO E PROSPERIDADE AUTÊNTICOS

"Milhões de crianças encetam a jornada da vida às cegas. Agem como brinquedos mecânicos que se põem em movimento com um pouco de corda, correm sem destino e batem contra qualquer coisa que lhes barra o caminho. Essas jornadas sem rumo são o quinhão de muitas pessoas porque, no começo, não avançaram para o objetivo certo nem estavam devidamente equipadas com os poderes que as manteriam numa senda definida.

Nessa fase da vida, elas agem como marionetes manipuladas pelo ambiente, os instintos pré-natais e o destino. Nunca sabem que papéis poderão desempenhar com êxito nem podem harmonizar seus deveres com o roteiro do Drama Cósmico. Milhões, por assim dizer, cumprem seus deveres na vida como se estivessem em estado de sonambulismo.

Você deve descobrir de vez seu caminho na vida, analisando a primeira infância e a etapa atual, para não tomar inconsideradamente o rumo errado. Depois, determinada a direção certa, tentar elaborar com base nela todos os métodos criativos de enriquecimento ao seu dispor. Esses métodos, porém, devem ficar nos limites do seu idealismo - de outro modo, terá dinheiro, mas não felicidade. A felicidade só é possível quando o desejo de enriquecer não o induz a enveredar pelo caminho errado.

Desperte! Nunca é tarde para fazer o diagnóstico da vida. Analise o que você é e qual a natureza verdadeira do seu trabalho, para fazer de si mesmo aquilo que deve ser. Possui talento e poderes que nunca utilizou antes. Possui toda a força de que precisa. E não há força mais formidável que a da mente. Afaste-a de hábitos mesquinhos que mantêm você preso às coisas mundanas. Sorria o sorriso perpétuo de Deus. Sorria o vigoroso sorriso do esforço equilibrado, o sorriso de um bilhão de dólares que ninguém poderá arrancar de você."

(Paramhansa Yogananda - A Sabedoria de Yogananda, Como ser feliz o tempo todo - Ed. Pensamento, São Paulo, 2012 - p. 81/82


domingo, 6 de agosto de 2017

LIVRE COMO UMA CRIANÇA

"A luz do puro percebimento incondicionado é a capacidade do próprio ser humano ver a vida de uma forma natural, sem as impurezas acumuladas pelos condicionamentos. O propósito da disciplina é devolver a mente ao seu estado original, como uma criança, livre das frustrações e dos processos neuróticos que acumulamos com as experiências da vida.

Esses processos de condicionamento tornam a mente 'escrava' dos aprendizados de prazer e dor que modelam a nossa conduta, dos níveis mais superficiais aos mais profundos. Um exemplo fácil de entender são as limitações que as pessoas sofrem por toda a vida em função de traumas que vivenciaram na infância.

No sutra 29, Patañjali explica que 'os oito instrumentos do yoga são abstinências, observâncias, postura, controle de respiração, abstração, percebimento, atenção e comunhão, ou absorção.' A parte desses instrumentos relacionada à moral são as abstinências e observâncias (yama e niyama), especificadas nos sutras seguintes.

'Não violência, não falsidade, não roubar, não indulgência e não possessividade são as abstinências.' Mehta afirma que, num nível superficial, essas abstinências são fáceis de praticar por qualquer pessoa educada; porém, num nível mais profundo, são muito difíceis.

Parece fácil cumprir as normas de não agressão do Código Penal, mas quando a abstinência diz respeito a um estado psicológico, ela se torna quase impossível, pois a não violência (ahimsa) implica não sentir violência. Isso se aplica ao ódio, à hostilidade ou a um estado mental violento.

A abrangência desse conceito demonstra o grau de profundidade do yoga, que nos remete à origem das nossas emoções. O sutra 28 indica que os processos de condicionamento geram impurezas que devem ser eliminados, mas é evidente que o processo de repressão de emoções não é o yoga; a repressão a que estamos acostumados não é eficaz para eliminar as emoções."

(Cristina Szynwelski - O yoga e a moral espiritual - Revista Sophia, Ano 2, nº 6 - p. 31/32)
www.revistasophia.com.br


sábado, 22 de julho de 2017

TRAZENDO A MENTE PARA CASA (PARTE FINAL)

"(...) O que Buda viu foi que a ignorância sobre a nossa verdadeira natureza é a raiz de todos os tormentos do samsara, e a raiz da ignorância em si é a tendência habitual da nossa mente para a distração. Para terminar com a distração da mente era preciso acabar com o próprio samsara; a chave para isso, ele percebeu, era trazer a mente de volta à sua verdadeira natureza pela prática da meditação.

O Buda se sentou no chão em serena e humilde dignidade, com o céu sobre ele e à sua volta, como para mostrar-nos que na meditação você se senta com uma atitude mental aberta como o céu, embora permaneça presente na terra e com os pés no chão. O céu é a nossa natureza absoluta, sem barreiras e infinita, e o chão é a nossa realidade, nossa condição relativa e ordinária. A postura que assumimos quando meditamos significa que estamos ligando absoluto e relativo, céu e terra, espaço e chão, como duas asas de um pássaro, integrando a imortal natureza da mente, semelhante ao céu, e o solo da nossa natureza mortal e transitória. 

A dádiva de aprender a meditar é o maior presente que você pode se dar nesta vida. Porque é apenas através da meditação que você pode empreender a jornada para descobrir sua verdadeira natureza e assim encontrar a estabilidade e a confiança de que necessitará para viver e morrer bem. A meditação é o caminho para a iluminação."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 86


sexta-feira, 30 de junho de 2017

A PROMESSA DE ILUMINAÇÃO (PARTE FINAL)

"(...) Pelo fato de que em nossa cultura supervalorizamos o intelecto, imaginamos que tornar-se iluminado exige uma inteligência excepcional. Na realidade, vários tipos de agilidade mental não são mais do que obscurecimentos ainda maiores. Há um provérbio tibetano que diz: 'Se você é muito esperto, pode deixar de ver inteiramente o ponto básico'. Como disse Patrul Rinpoche: 'A mente lógica parece interessante, mas ela é a semente do engano e da ilusão'. As pessoas podem ficar obcecadas com as suas próprias teorias e deixar de ver o ponto básico de tudo. Dizemos, no Tibete: 'As teorias são como remendos num casaco, um dia se desfazem'. Deixe-me contar-lhe uma história animadora:

Um grande mestre do século passado tinha um discípulo que era muito obtuso. O mestre ensinou-lhe as mesmas coisas muitas e muitas vezes, tentando introduzi-lo à natureza da sua mente, mas foi inútil. Afinal, o mestre ficou furioso e lhe disse: 'Olhe, quero que leve esse saco de cevada até o alto daquela montanha ali. Mas você não deve parar para descansar. Continue simplesmente subindo até chegar ao alto'. O discípulo era um homem simples, mas possuía uma inabalável devoção e confiança em seu mestre, de modo que fez exatamente como lhe foi recomendado. O saco era pesado; pegando-o, partiu montanha acima, não ousando parar. Simplesmente seguiu e seguiu. O saco foi ficando cada vez mais pesado. Demorou um tempão. Por fim, ao chegar ao alto da montanha ele jogou o saco no chão. Atirou-se no chão, dominado pela exaustão mas profundamente relaxado. Sentia o ar fresco da montanha em seu rosto. Toda sua resistência se dissolvera, e com ela sua mente ordinária. Tudo parecia ter parado. Naquele exato instante ele, de súbito, obteve a realização da natureza de sua mente. 'Ah, era isso que meu mestre esteve me mostrando todo o tempo', pensou. Desceu correndo a montanha e, contrariando todas as convenções, invadiu o quarto do mestre.
- Acho que agora pesquei... Pesquei mesmo!'
Seu mestre lhe sorriu como quem sabe das coisas: 'Então a subida da montanha foi interessante, não foi?'

Você também, seja quem for, pode ter a experiência que o discípulo teve no alto da montanha e é essa experiência que lhe dará a coragem para transpor a vida e a morte. Mas qual é a melhor, mais rápida e mais eficiente maneira de chegar a isso? O primeiro passo é a prática da meditação. É a meditação que lentamente purifica a mente ordinária, desmascarando e exaurindo seus hábitos e ilusões, de maneira que possamos, no momento certo, reconhecer quem de fato somos."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 83/84

sexta-feira, 5 de maio de 2017

A MUDANÇA NO CORPO FÍSICO (PARTE FINAL)

"(...) Temos que manter essa atitude em tudo que fizermos na vida diária. Devemos continuamente perceber que atuamos conscientemente por meio do corpo físico e que ele não mais atua por si próprio. Para tanto, devemos submetê-lo a hábitos regulares de alimentação, sono e exercício, de sorte que seja um instrumento perfeito. Se não disciplinarmos os músculos de nosso corpo por meio do exercício físico diário, não esperemos que ele seja resistente e responsivo, pois a saúde física depende muito mais disso do que é reconhecido na prática. 

De maneira similar, devemos regular nossa alimentação de forma que seja possível ao corpo físico manter-se alerta e sensível. Em vez de comer qualquer coisa e de qualquer maneira, devemos ingerir tão somente os alimentos que o tornem um instrumento mais limpo, vigoroso e refinado para o nosso uso. E durante a refeição, devemos estar atentos ao que estamos fazendo - fornecendo nutrição ao corpo a partir do interior. Também isso é algo que temos de experimentar na prática, em lugar de tê-lo como uma abordagem intelectual. Devemos ter a percepção de comer conscientemente e de que, enquanto tomamos o alimento, construímos espiritualmente a estrutura do corpo. Os cristãos que reconheçam o valor dos Sacramentos compreendem o significado da Comunhão e sabem também o modo específico no qual os elementos consagrados são consumidos. E exatamente da mesma maneira devemos tomar todo alimento, pois toda matéria está consagrada pela presença de Cristo, cuja Vida está em todas as coisas, embora sua Presença se manifeste plenamente no Corpo e no Sangue consagrados.

Desse e de muitos outros modos podemos contribuir para a mudança dos corpos denso e etérico - tal como os filósofos herméticos tão bem a conheciam como regeneração do corpo -, tornando-os instrumentos apropriados ao Ser interno. É uma verdadeira transmutação; e uma vez realizada, fica quebrado para sempre o domínio do corpo físico sobre nossa consciência, convertendo-o em instrumento bem sintonizado ao nosso uso."

(J.J. Van Der Leeuw - Deuses no Exílio - Ed. Teosófica, Brasília, 2013- p. 24/25)

domingo, 23 de abril de 2017

COMO SEGUIR O CAMINHO (2ª PARTE)

"(...) Quando você continua procurando o tempo todo, a busca em si se torna uma obsessão que o domina. Você se torna uma espécie de turista espiritual, circulando muito sem nunca chegar a parte alguma. Como disse Patrul Rinpoche: 'Você deixa o elefante em casa e fica procurando as pegadas dele na floresta'. Seguir um ensinamento não é um modo de confinar você ou de, por ciúme, monopolizá-lo. É uma maneira compassiva e hábil de mantê-lo centrado e sempre no caminho, apesar de todos os obstáculos que você e o mundo inevitavelmente enfrentarão.

Assim, quando tiver explorado as tradições místicas, escolha um mestre e siga-o. Uma coisa é sair para a jornada da espiritualidade; outra completamente diversa é encontrar a paciência e a persistência, a sabedoria, a coragem e a humildade para ir até o fim. Você pode ter o carma para encontrar um professor, mas deve então criar o carma para segui-lo; pois poucos entre nós sabem verdadeiramente seguir um mestre, o que em si é uma arte. Assim, não importa quão grande seja o ensinamento ou o mestre, o essencial é que você encontre em si mesmo a percepção interior e a habilidade para aprender como amar e seguir o mestre e o ensinamento.

Isso não é fácil. As coisas nunca são perfeitas. Como poderiam ser? Estamos ainda no samsara. Mesmo quando você já escolheu seu mestre e está seguindo os ensinamentos tão sinceramente quanto possível, frequentemente irá se deparar com dificuldades e frustrações, contradições e imperfeições. Não se deixe abater por obstáculos e dificuldades mesquinhas. Em geral são apenas emoções infantis do ego. Não deixe que o ceguem para o valor fundamental e duradouro daquilo que você escolheu. Não permita que sua impaciência o afaste do seu compromisso com a verdade. Tenho me entristecido muitas vezes ao ver quantas pessoas adotam um ensinamento ou um mestre com entusiasmo promissor, apenas para desanimar quando surge o mínimo obstáculo, inevitável, caindo de volta no samsara e nos velhos hábitos, e desperdiçando anos, talvez a vida inteira. (...)"

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 177

domingo, 2 de abril de 2017

FALAR MENOS E FALAR COM DOÇURA

"Seja cuidadoso para que o sucesso que obteve na promoção da virtude, na vitória sobre hábitos banais, na tomada regular da disciplina não seja desperdiçado pela companhia de pessoas medíocres, por palavras perdidas em críticas cínicas e em esforços sem objetivo.

Quando o pé resvala, a ferida resultante pode ser curada, mas se é a língua que escorrega, a ferida provocada no coração dos outros pode durar vidas. A língua é passível de praticar quatro graves erros - pronunciar falsidade, escandalizar, comentar os erros alheios e falar em demasia. Tudo isso deve ser evitado, se pretendemos paz individual e bem-estar para a sociedade.

O vínculo da fraternidade será estreitado se as pessoas falarem menos e falarem com doçura. Daí por que o silêncio (maunam) é recomendado, pelas escrituras, aos discípulos em estágios vários da estrada. Esta disciplina é valiosa para todos vocês."

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 171/172)


domingo, 26 de março de 2017

CRIATIVIDADE (PARTE FINAL)

"(...) Tudo o que acontece conosco agora reflete nossa carma passado. Se sabemos disso e o sabemos realmente, sempre que sofrimento e dificuldades nos atingem não os vemos mais como falhas ou catástrofes, nem os vemos de modo algum como punição. Não nos culpamos mais, nem nos permitimos odiar a nós mesmos. Vemos que a dor que atravessamos é a culminância dos efeitos, a fruição de um carma passado. Os tibetanos costumam dizer que o sofrimento é 'uma vassoura que varre todo o nosso carma negativo'. Podemos até ser-lhes gratos porque um carma está chegando ao fim. Sabemos que a 'boa sorte', um fruto do bom carma, pode logo passar se não a usarmos bem, e a 'má sorte', o resultado do carma negativo, pode na verdade estar dando a nós uma maravilhosa oportunidade de evoluir.

Para os tibetanos, o carma tem um significidado realmente vivo e prático no seu cotidiano. Eles vivem de acordo com o princípio do carma, no conhecimento da verdade que contém, e essa é a base da ética budista. Eles o entendem como um processo justo e natural. O carma inspira neles, portanto, um sentido de responsabilidade pessoal em tudo o que fazem. Quando eu era jovem, minha família tinha um excelente empregado chamado A-pé Dorje, que gostava muito de mim. Ele era realmente um santo, e nunca fez mal a ninguém em toda sua vida. Sempre que, em minha infância, eu dizia ou fazia algo prejudicial, ele replicava gentilmente: 'Oh, isso não está certo'; desse modo, instilava em mim um profundo senso da onipresença do carma e um hábito quase automático de transformar minhas reações, caso algum pensamento nocivo me invadisse o coração.

É realmente tão difícil perceber o carma em ação? Não basta apenas olhar para trás em nossas vidas para ver com clareza as consequências de alguns de nossos atos? Quando aborrecemos ou ferimos alguém, isso não veio de volta contra nós? Não fomos deixados com uma amarga e negra recordação, e com as sombras da autodesaprovação? Essas recordações e sombras são o carma. Nossas hábitos e medos também provêm do carma, o resultado de ações, palavras e pensamentos que tivemos no passado. Se examinarmos nossas ações e tomarmos realmente consciência delas, veremos que há um padrão que se repete: sempre que agimos negativamente, isso resulta em dor e sofrimento; sempre que agimos positivamente, isso no final resulta em felicidade."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 133/134)


sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

O HOMEM NOS TRÊS MUNDOS (2ª PARTE)

"(...) Uma pessoa se embriaga. Acaso poderá dizer: 'Meu karma é embriagar-me'? Essa pessoa embriaga-se devido a certas tendências que tem, por causa da presença de companheiros libertinos e graças a um ambiente onde a bebida é vendida. Suponhamos que essa pessoa deseja dominar esse hábito pernicioso. Ela conhece as três condições que a levaram à embriaguez. Pode dizer: 'Não sou forte o bastante para resistir às minhas tendências quando estou na presença da bebida e na companhia de libertinos. Não irei mais a lugares onde há bebidas, nem andarei mais com homens que me estimulem a beber.' Ela muda as condições, eliminando duas delas, embora não consiga eliminar imediatamente a terceira, e o novo resultado é que ela não se embriaga mais. Ela não estará 'interferindo em seu karma', mas confiando nele, e um amigo seu estará 'interferindo no karma dela' se a convencer a se manter distante de companheiros de farra. Não há ordem kármica para que um homem se embriague, o que existe é apenas a presença de certas condições em cujo meio ele certamente irá embriagar-se. Há, na verdade, uma outra forma de modificar essas condições: o desenvolvimento de uma vigorosa força de vontade. Isso também introduz uma condição nova, que modificará o resultado - por adição, e não por eliminação.

No único sentido em que um homem pode 'interferir' com as leis da natureza ele tem completa liberdade para fazer isso, tanto quanto quiser e puder. Ele pode inibir a gravidade através de um esforço muscular. Nesse sentido, ele pode interferir no karma tanto quanto quiser, e deve interferir quando os resultados forem contestáveis. Esta expressão, entretanto, não é feliz, sendo possível que seja mal compreendida. (...)"

(Annie Besant - Os Mistérios do Karma e a sua Superação - Ed. Pensamento, São Paulo, 2009 - p. 44/46)

domingo, 1 de janeiro de 2017

UM REVIGORADO COMEÇO PARA O ANO NOVO

"Começamos o Ano Novo com a consciência renovada. Que nos empenhemos, todos os dias, em trocar tendências e hábitos negativos por bons hábitos e boas ações. Que todos possamos perceber a alegria de ocasiões como esta Convenção e receber um alento tão grande deste tipo de experiência que a escuridão da ignorância seja para sempre dispersada pelo farol desta alegria. Abençoado sou por contemplá-Lo nesta ocasião, e por contemplar a inspiração Dele em todos vocês. Sou infinitamente abençoado por tê-Lo ouvido falar através dos lábios dessas almas divinas.

Foi Deus quem me falou de Sua apreciação. Vocês todos são deuses, só precisam se dar conta disto. Por trás da onda da consciência está o mar da presença de Deus. Olhem para dentro. Não se concentrem na pequena onda do corpo, com suas fraquezas; olhem para além disso. Fechem os olhos e verão a vasta onipresença diante de vocês, em todos os lados. Vocês estão no centro desta esfera, e quando elevam a consciência acima do corpo e das experiências físicas, encontram a esfera preenchida com a grande alegria e bem-aventurança que ilumina as estrelas e dá vida aos ventos e às tempestades. Deus é a fonte de todas as nossas alegrias e de todas as manifestações da natureza. (...)

Desperte da sombra da ignorância. Você fechou os olhos no sono da ilusão. Desperte! Abra os olhos e contemple a glória de Deus - a vasta paisagem de luz de Deus que se derrama por todas as coisas. Eu lhe digo para ser um realista divino, pois em Deus você encontra a respostas a todas as perguntas. A meditação é o único caminho. Crenças ou leituras de livros não podem lhe dar a realização. Só meditando da maneira correta é que poderá ter essa grande alegria e realização. Se seguir por este caminho, saberá que Deus não Se comove com elogios nem orações mecânicas, mas pode Se comover pela lei, pela devoção e pelo amor de seu coração. Junto com a prática das técnicas de meditação, entregue-se a Deus. Resgate seu divino direito de nascimento. A oração constante, a determinação incansável e o desejo incessante por Deus farão com que Ele quebre Seu extraordinário voto de silêncio e responda a você. Acima de tudo, no templo do silêncio Ele oferecerá o presente de Si mesmo, que poderá ser levado para além dos portais da sepultura."

(Paramahansa Yogananda - o Romance com Deus - Self-Realization Fellowship - p. 411/412)


quarta-feira, 2 de novembro de 2016

VIVA NO MAIS ELEVADO

"Muito frequentemente as pessoas pensam que uma mudança de circunstâncias irá ajudá-las a atingir o seu ideal. Ou julgam que a prática sincera de sua fé religiosa ou o trabalho que fazem para transformar o mundo em uma utopia devem ser a sua preocupação principal. Todavia, a única mudança que vale a pena deve ocorrer na consciência do próprio indivíduo. Cada um de nós deve parar de projetar seus próprios problemas para o mundo e depois culpar o mundo pelos problemas que são nossos. A maioria de nós faz isso o tempo todo. Construímos grandes edifícios e instituições intelectuais para justificar e reforçar as barreiras contra o autoexame. Por exemplo, minha própria profissão, a psicologia, como disciplina intelectual, é um produto do esforço e da consciência humana e, portanto, tende a sofrer de síndrome de superdeterminismo. O debate 'hereditariedade versus ambiente' começou cedo na história da psicologia. Primeiramente, o desajuste foi atribuído a causas paternais e sociais. Hoje em dia não é popular e se considera ingenuidade atribuir mais do que poderes determinantes menores às características herdadas. Um caso em questão é a malevolência com que muitos psicólogos atacam as teorias do professor Eysenck sobre as diferenças herdadas de raça e de classe na inteligência. Tais reações são compreensíveis, já que as pessoas se sentem mais confortáveis se puderem provar que as causas têm origem fora delas mesmas e que estão sofrendo como resultado dos pecados de seus pais.

Não se pode superestimar o valor da profecia que se autorrealiza. Atualmente, é comum acreditar que as pessoas são ruins, que o mundo está em um estado lastimável, e que de algum modo devemos combater o sistema para conseguir nossa fatia do bolo, ou que devemos desistir e afundar. O futuro parece sombrio. As pessoas estão inundadas em pensamentos desagradáveis e depressivos. Definimos a nós mesmos por meio da negação - pelo que somos e pelo que as outras pessoas não são. E, pelo que se lê nos jornais, a nossa consolação geralmente vem do pensamento de que pelo menos as coisas não estão tão ruins para nós como parecem estar para os outros. É de admirar que as pessoas tenham a tendência a serem desagradáveis? Contudo, pense naquelas pessoas que você conhece e que tendem a considerar o que é possível e melhor à sua volta. Elas não apenas são proeminentes, assim como sua atitude em relação à vida faz curvar toda situação que enfrentam em direção ao preenchimento de suas expectativas. Em outras palavras, sendo aquilo que há de mais elevado nelas mesmas, respondendo ao que há de melhor em si mesmas e nos outros, continuamente corrigindo seus hábitos negativos e tentando viver de maneira positiva, essas pessoas estão começando a realizar um mundo de beleza e de bondade. Parece ser verdadeiro o antigo ensinamento chinês de que a melhor maneira de se combater o mal é fazer progresso vigoroso em direção ao bem. Uma tal atitude de necessidade envolve abandonar a ansiedade referente aos resultados das próprias ações."

(Nicky Hamid - Rumo a um estado de consciência mais elevado - Revista TheoSophia Abril/Maio/Junho de 2010 - Pub. Sociedade Teosófica no Brasil - p. 42/43)


segunda-feira, 31 de outubro de 2016

LEIS IDEAIS DA VIDA CONJUGAL

"As pessoas que planejam casar-se devem averiguar honestamente se suas naturezas se harmonizam ou não e se seu amor conseguirá sobreviver a quaisquer condições em quaisquer circunstâncias sociais. Devem descobrir se seu amor se baseia numa cooperação real em torno de um ideal comum. Procure um parceiro que esteja em sintonia com seus princípios éticos, hábitos hereditários e atuais, objetivos financeiros, gostos, tendências e aspirações místicas. 

Antes do casamento, ponha o futuro cônjuge a par de seus negócios e de sua vida social, informalmente, e descubra se ele é capaz de adaptar-se a seus hábitos e ideais. Do mesmo modo, determine se você mesmo poderá aceitar as ambições, temperamento e ideais do parceiro.

O grande segredo para preservar o matrimônio reside na arte do autocontrole. Aprenda a amar seu cônjuge mais no plano espiritual e trate-o como um amigo íntimo, sem insistir exageradamente no plano físico. Se puder fazer isso, vencerá a maior das batalhas; manter seu cônjuge fiel, respeitoso e afetuoso. De quando em quando, una-se fisicamente a ele e considere esse acontecimento um privilégio; sinta como se o estivesse encontrando após muito tempo de separação. Que os dois se unam por inteiro, atentos e corteses. Quando a dedicação começa a arrefecer, é tempo de parar."

(Paramhansa Yogananda - A Sabedoria de Yogananda, A Espiritualidade nos Relacionamentos - Ed. Pensamento, São Paulo, 2011 - p. 54/55)


quarta-feira, 5 de outubro de 2016

POR QUE AS EXPERIÊNCIAS SENSÓRIAS SÃO SEDUTORAS

"Tentações são sedutoras; não há dúvida sobre isso. Todas as nossas faculdades sensórias estão dirigidas para o mundo exterior. Existe uma corrente de energia vital fluindo através dos nervos, que vai do cérebro aos olhos, ouvidos, nariz, língua e pele. As sensações que experimentamos por meio desses instrumentos resultam da corrente que flui para o exterior, e tendemos a gostar disso. Este é o apelo dos sentidos. Abusar deles é perigoso; enquanto o homem não se estabelecer na sabedoria, a energia que flui para fora o fará ser escravo dos sentidos.

Como o holofote de cinco raios dos sentidos, percebemos e exploramos o mundo material. Com os sentidos, aprendemos a gostar do que é agradável ver, ouvir, cheirar, saborear e tocar. O desejo de determinada sensação torna-se um hábito. O problema é que a maioria das pessoas não teve nenhuma experiência do Espírito, oculto atrás da matéria; por isso, não tem um padrão para comparar as percepções dos sentidos, agradáveis e empolgantes, com a desconhecida e inefável bem-aventurança da alma. E não conseguirão comparar até renunciarem a todos os estímulos sensórios, ou até serem mentalmente impermeáveis a eles. O único meio de evitar a armadilha é compreender, pela razão ou pela experiência, que existem alegrias mais sublimes."

(Paramahansa Yogananda - A Eterna Busca do Homem - Self-Realization Fellowship - p. 191)


sábado, 24 de setembro de 2016

ESFORÇO (1ª PARTE)

"Para a maioria de nós, toda a vida está baseada no esforço, em alguma espécie de volição. Não podemos conceber ação sem volição, sem esforço; nisso está baseada nossa vida. A vida social, econômica, e a chamada vida espiritual são uma série de esforços, culminando sempre em certo resultado. E pensamos que o esforço é essencial, necessário. 

Por que fazemos esforço? Não é, falando com simplicidade, com o fim de alcançarmos um resultado, de nos tornarmos alguma coisa, de alcançarmos um objetivo? Se nenhum esforço fazemos, pensamos cair na estagnação. Temos uma idéia a respeito do alvo que estamos lutando para alcançar e esta luta se tornou parte da nossa vida. Se desejamos modificar-nos, mudar radicalmente, fazemos um esforço tremendo para eliminar os velhos hábitos, resistir às influências ambientes, etc. Estamos, pois, habituados a essa série de esforços no sentido de encontrar ou realizar alguma coisa, para vivermos de alguma maneira. 

Todo esse esforço não representa atividade do 'ego'? Esforço não significa atividade egocêntrica? Se fazemos um esforço, procedente do centro do 'eu', esse esforço inevitavelmente produzirá mais conflito, mais confusão e amargura. Entretanto, continuamos, obstinadamente, a fazer esforço sobre esforço. Pouquíssimos dentre nós compreendem que a atividade egocêntrica do esforço não nos livra de nenhum dos nossos problemas. Pelo contrário, aumenta nossa confusão, nossa amargura, nosso sofrimento. Sabemo-lo, e entretanto continuamos a nutrir a esperança de nos libertarmos, de algum modo, dessa atividade egocêntrica do esforço, da ação da vontade. 

Penso que chegaremos a compreender o significado da vida, se entendermos o que quer dizer fazer um esforço. Vem a felicidade como resultado do esforço? Já tentastes alguma vez ser felizes? E impossível isso, não achais? Lutais para ser felizes, e não há felicidade, há? A alegria não vem como resultado de coerção, de refreamento ou transigência. Podeis ceder, mas no fim encontrareis amargura. Podeis refrear ou controlar, mas há sempre luta, subterrâneamente. A felicidade, pois, não se consegue pelo esforço, nem a alegria pelo controle e refreamento. Entretanto, toda nossa vida é uma série de esforços, de refreamento, de controle, e uma série de lamentáveis capitulações. Há também um constante esforço de domínio, uma luta constante com nossas paixões, nossa ganância e estupidez. Não é certo que estamos lutando, agitando-nos, esforçando-nos, na esperança de acharmos a felicidade, de acharmos alguma coisa que nos dê um sentimento de paz, um sentimento de amor? Mas o amor ou a compreensão resulta de luta? Julgo importantíssimo compreender o que se entende por luta ou esforço. (...)"

(Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 58/59)


sábado, 10 de setembro de 2016

O CONCEITO DE 'DHARMA' NO GITA (1ª PARTE)

"O Bhagavad Gita abre com a palavra dharma; e o Mahabharata encerra com a palavra dharma. Tentemos entender o que se quer dizer por dharma.

Em inglês a palavra é interpretada como 'lei'. Uma das interpretações da palavra dharma é dever, mas a palavra é traduzida também como 'lei'. Dharma é derivada da raiz sânscrita dhri, que significa segurar, sustentar, unir. Assim pode-se interpretar dharma  como significando 'aquilo que segura e une indivíduos, grupos ou comunidades, como unidades shakti'. O que 'segura', 'mantém' é dharma. A palavra 'lei' é derivada da raiz latina, 'ligar'. Não pode haver sociedade sem uma força aglutinadora. Aqui estamos uma pequena família; vivemos juntos neste ashram. Vocês acreditam que seria possível vivermos juntos, compartilharmos de uma vida comum, sermos membros de uma fraternidade comum, se não houvesse algo que nos unisse? Suponhamos que todos vocês fizessem o que quisessem, o que aconteceria? Suponhamos que, quando toca o sino para a aula de preces, eu insista em fazer minha caminhada matinal, um de vocês insista em tomar um copo de leite, e outro insista em continuar na cama dormindo, qual seria o resultado? O ashram se desfaria. Não pode haver vida no ashram sem alguma harmonia. Deve haver alguma força aglutinadora, a que chamamos 'lei'. Dharma é o que nos une, nos segura, nos mantém.

A palavra 'lei' precisa ser melhor compreendida. Existe algo chamado 'lei de costume' ou mores (em latim) ou Sitte (em alemão). Dharma não é costume. Nos primitivos estágios da evolução humana, os grupos tinham de viver juntos, e algum poder aglutinador era necessário. Certos costumes tornaram-se muito úteis como conservadores de hábitos e adquiriram força de lei. Nas sociedades primitivas, tais costumes ainda prevalecem. Dharma não é costume.

O costume desempenha seu papel na evolução. Contudo, dharma não é costume porque existem ocasiões em que vocês podem não obedecer aos costumes, quando vocês podem voltar-se contra um costume, e seguir seu próprio caminho. (...)"

(Sadhu Vaswani - O Conceito de 'Dharma' no Gita - TheoSophia - Ano 101, Janeiro/Fevereiro/Março de 2012 - Pub. da Sociedade Teosófica do Brasil - p. 39)


quarta-feira, 17 de agosto de 2016

MANTER A CONSCIÊNCIA DO EGO

"Por termos passado por eras de evolução, durante as quais estivemos satisfeitos em sofrer exílio nas trevas do mundo exterior, resulta que, mesmo que tenhamos nos reconhecido como Egos por um curto tempo, haverá sempre a tendência para escorregarmos de volta aos antigos hábitos de identificação com os corpos.

Tal é o nosso erro frequente. Quando, durante a meditação ou o transcurso de alguma cerimônia, experimentamos um instante de grande elevação espiritual, dizemos depois para nós mesmos: 'Quão agradável foi isso! Sinto que haja terminado.' Não cometamos esse engano. Quando experimentamos algo sublime, quando nos reconhecemos como o divino Ser, digamos: 'Isto é muito aprazível e há de subsistir em mim.' Essa é a grande diferença. Nossa fraqueza está em, ao experimentarmos esses sublimes sentimentos, nós os deixarmos desvanecerem-se. Não devemos tolerar isso, mas nos rebelar dizendo: 'Não permito que esse sentimento se desvaneça. Vou manter essa divina realização; Eu, o divino Ser, vou preservá-la.' E isso é possível porque já foi realizado; e deve sê-lo. Todos realizaremos algum dia nossos poderes divinos, e aprenderemos a manter como uma permanente realidade a consciência que comumente só temos durante uns poucos minutos. Por que não começarmos desde já?

Se nos reconhecemos como Egos participantes da vida de divino contentamento e inefável felicidade, decidamos permanecer em tal estado. Não voltemos às trevas do exílio. Por que retornar àquela existência limitada em uma masmorra sombria, que é a vida da personalidade, quando podemos viver no fulgor da Vida divina? Por que não permanecer ali, atuar a partir dali, viver ali?"

(J.J. Van Der Leeuw - Deuses no Exílio - Ed. Teosófica, Brasília, 2013 - p. 40/41)