OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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terça-feira, 10 de novembro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (10ª PARTE)

"25. Com a dissolução da ignorância, desaparece o fenômeno observador-observado, resultando na emergência da percepção pura.

Percepção pura indica ver as coisas como de fato são. Se conhecemos a vida como ela é a qualquer momento, sem nenhuma projeção da mente, então podemos conhecer o segredo do reto relacionamento com esta vida. A percepção pura é o ponto crucial de todo o problema do Yoga. Da reta percepção surge o reto relacionamento, naturalmente e sem esforço. Mas como pode haver reta percepção, enquanto estivermos presos em avidyã? Portanto, a questão é: como podemos sair desta ignorância, uma vez que sem sua dissolução não há perspectiva para o homem de libertar-se da dor e do sofrimento? Há uma maneira pela qual podemos dissolver avidyã? Patañjali diz: 

26. Um percebimento ininterrupto é a única maneira de dissolver avidiã ou ignorância. 

A palavra utilizada neste sutra é aviplavã, significando contínuo. O que precisa ser contínuo? Mais uma vez, a palavra utilizada é viveka-khyãti, aquele percebimento através do qual as coisas são claramente distinguidas. Se este percebimento que destingue claramente as coisas for mantido ininterrupto, ele nos levará à dissolução de avidyã. Patañjali chama isso de hãnopãyah, um instrumento que dispersa as nuvens da ignorância. Pode-se perguntar: do que precismos ser côncios? Deve ser em relação ao fenômeno observador-observado. Isso significa que precisamos estar cônscios de todo o processo de continuidade pelo qual asmitã ou o senso do eu mantém-se ativo. Exige a observação do processo dos apegos e das repulsões, uma vez que constituem o campo onde será visto o abhinivesa da própria asmitã. Em outras palavras, é por meio de rãga e dvesa que o senso do eu busca dar continuidade a si mesmo . Obviamente, não há ignorância maior do que a continuidade de algo que tende a dissolver-se. No senso do eu há uma falsa identidade. A maneira mais correta de dissolvê-la está em observar como esta falsa identidade busca sua continuidade através dos apegos e repulsões. Mas o percebimento deve ser ininterrupto. Quando ele é interrompido? Quando o pensamento entra no campo do percebimento. A entrada do pensamento é deliberada, pois a mente não quer que o processo de percebimento continue de uma maneira ininterrupta. Ela compreende que um percebimento causaria a dissolução da própria entidade que busca dar continuidade. Esta entidade, o senso do eu, é produto da mente. A mente investiu tudo nesta entidade, e se ela for dissolvida, ficaria completamente falida. A fim de que não tenha que enfrentar esta condição nada invejável de falência total, ela deseja que o processo de percebimento seja constantemente interrompido. Mas aquela ignorância pode ser dissolvida apenas através de um percebimento ininterrupto. É possível impedir a mente de interferir no processo de percebimento? Essa é uma questão que faz parte da meditação, e, portanto, sua resposta pode ser encontrada somente após termos conhecido o que é meditação. Neste sutra, Patañjali preocupa-se em mostrar o caminho que conduz à dissolução de avidyã. Ele acrescenta no próximo sutra que: (...)"

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 99/100)
ww.editorateosofica.com.br


quinta-feira, 5 de novembro de 2020

O OBSERVADOR E O OBSERVADO (9ª PARTE)

"23. O fenômeno observador-observado cria um relacionamento de possuir e de ser possuído.

Aqui as palavras utilizadas são sva-sakti e svãmi-sakti. O sutra indica que cada um tenta satisfazer a si mesmo. Svãmi-sakti é o possuidor e quer possuir, seja um objeto ou um indivíduo. Mas aquilo que o homem busca possuir, por sua vez, quer possuir o possuidor. O relacionamento do possuidor e do possuído é obviamente de uso. É uma estranha lei da vida que aquele que quer possuir deve também estar pronto para ser possuído. Ambos estão comprometidos com svarupa-upalabdhi, que significa tentar satisfazer seu próprio fim. Possuir é ser possuído. Os dois seguem juntos. Ter um sem o outro é uma impossibilidade. Este é o ponto crucial do relacionamento de uso. O explorador e o explorado seguem juntos. A necessidade de ser explorado dá origem ao explorador. No relacionamento de uso vemos a pior forma de exploração do homem pelo homem. Patañjali diz no sutra subsequente que:

24. Este desejo de possuir e de ser possuído é motivado por avidiã ou ignorância.

Certamente tal relacionamento de uso nasce da ignorância. Patañjali tem discutido o problema das aflições. A maior aflição que surge na vida do homem deve-se aos relacionamentos infelizes. Este é o maior problema do homem. Ele seria intensamente feliz se pudesse conhecer o segredo do reto relacionamento. Mas o reto relacionamento pode surgir apenas quando a couraça de avidyã é quebrada. Precisamos nos lembrar de que o relacionamento de uso tem sua origem no desejo de continuidade. A questão de uso pela própria continuidade de si é o que dá origem à rãga e dvesa. Porém este desejo por continuidade não tem valor a menos que conheçamos a entidade que quer ser contínua. O relacionamento de uso é motivado pelo desejo de posse. Contudo, antes que possamos possuir o outro, precisamos possuir a nós mesmos. Mas o Ser⁷ pode ser possuído? Se ele é não nascido, como pode ser possuído? Se aquilo que é vivo está em um estado de fluxo, como pode um fluxo ser possuído? Então, o que é aquilo que possuímos? Certamente, podemos possuir apenas nossa imagem, e é esta imagem que consideramos como nós mesmos, que é asmitã no verdadeiro sentido. Tendo formado uma imagem de nós mesmos, movemo-nos na direção de possuir a imagem do outro. É o que chamamos de relacionamento. Não é de admirar-se que tal relacionamento não leve à alegria e à felicidade. Transformamo-nos em uma imagem, e considerar esta imagem como nós mesmos é a mais elevada forma de ignorância. O relacionamento de uso com sua consequente aflição pode desaparecer apenas quando esta ignorância colossal sobre nós mesmos tiver sido removida. Patañjali diz no próximo sutra: (...)"    

⁷ No original em inglês: Self. (N.E.)

(Rohit Mehta - Yoga a arte da integração - Ed. Teosófica, Brasília, 2012 - p. 98/99)
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quinta-feira, 17 de setembro de 2020

A NATUREZA HUMANA

A natureza humana | JORGE REIS SA"Há duas espécies de paixões mundanas que corrompem e ocultam a pureza da natureza de Buda.

A primeira é a paixão pela discriminação e discussão, pela qual os homens se confundem nos julgamentos. A segunda é a paixão pela experiência emocional, pela qual os méritos das pessoas se tornam confusos.

As ilusões do raciocínio e as ilusões da prática parecem ser a síntese de todas as falhas humanas, mas, na realidade, há outras duas em suas bases. A primeira é a ignorância, a segunda é o desejo.

As delusões de raciocínio baseiam-se na ignorância e as delusões da prática apoiam-se no desejo, assim, estes dois conjuntos formam, na realidade, apenas um conjunto, e juntos são a fonte de todo o infortúnio.

Se os homens são ignorantes, não podem raciocinar correta e seguramente. Quando se sujeitam ao desejo pela existência o sentimento de posse e o apego a tudo, inevitavelmente, os seguirão. É este constante apego a tudo agradável, visto ou ouvido, que leva os homens à delusão do hábito. Alguns cedem mesmo ao desejo pela morte do corpo.

Destas fontes primárias surgem todas as paixões mundanas da cobiça, ira, tolice, equívoco, ressentimento, ciúme, lisonja, fraude, orgulho, desprezo, embriaguez e egoísmo."

(A Doutrina de Buda - Bukkyo Dendo Kyokai, 3ª edição revista, 1982 - p. 161/163)


terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

PEREGRINOS NO CAMINHO

Resultado de imagem para peregrino no caminho"'Dá  luz e conforto ao cansado peregrino, e procura aquele que sabe ainda menos do que tu.' Com estas palavras A Voz do Silêncio instrui o aprendiz na senda espiritual a agir positivamente em auxílio de seus irmãos e irmãs. Todos somos peregrinos, movendo-nos consciente ou inconscientemente rumo à meta da vida unificada. Mas aos poucos, aqueles que estão despertos para o seu próprio desenvolvimento e o da humanidade, nesta peregrinação, têm tanto o privilégio quanto a responsabilidade da obediência a uma regra mais exigente. 

'Dá luz...'  Para consegui-lo, devemos ter luz para dar. A Tradição-Sabedoria afirma que a luz está no interior, seu brilho aguardando apenas a remoção dos obscurecedores véus da ignorância e do egoísmo. Como eles são dissolvidos lentamente pelo conhecimento e o aumento do altruísmo, a luz começa a se mostrar na ação compassiva, num vivo interesse nas crenças, necessidades e interesses dos outros, no compartilhamento de nossos modestos insights quanto a verdade. 

'Se tu sabes, é teu dever ajudar outros a saberem.' Mas ouve-se a reclamação: não sei o suficiente. Aqui está um daqueles termos incompletos ignorado pelo especialista em lógica por ser destituído de significado genuíno. Suficiente para quê? A instrução diz: 'Procura aquele que sabe ainda menos do que tu', e, para isso, não há quem não saiba o suficiente. 

A vontade de ajudar, de aprender para ajudar, o amor que libera a vontade, tudo isso nos permite dar nossa pequena luz àqueles que têm ainda menos. Estamos cercados de pessoas que não compreendem o propósito da vida, a grande lei que leva à retidão, a oportunidade perene e a certeza da realização última, o significado da imortalidade e o fenômeno recorrente do nascimento e da morte. Mas nós devemos estudar para compreender essas coisas, se quisermos ajudar os outros a também compreender.

'...e conforto...'  Uma lanterna em frente aos olhos traz uma luz dolorosa. Em vez de mostrar o caminho, ela impossibilita vê-lo. A mesma luz, projetada e direcionada para a senda à frente, parece muito menos clara, mas permite um avanço firme. O mesmo se dá com a luz da Tradição-Sabedoria. Lançada imprudentemente no rosto do peregrino que ainda está tateando no caminho rumo à verdade, torna-se um motivo de tropeços e um obstáculo ao progresso.

Acompanhando a insistência sobre o dever de compartilhar o conhecimento, o estudante teosófico encontra forte oposição ao proselitismo ou qualquer tentativa para controlar os pensamentos dos outros pela alegação de autoridade. A luz deve ser oferecida, não imposta, e deve ser modificada a tal ponto que auxilie o viajente ao longo de seu próprio caminho. Oferecer-lhe a luz que seus olhos podem ver exige que o pretenso ajudante penetre compreensivamente a experiência do outro, busque compreender suas necessidades e o tipo de inspiração à qual ele consegue responder. Paulo, em sua sabedoiria, tornou-se todas as coisas para todos os homens, para que eles pudessem encontrar, em seus próprios caminhos, em seus próprios eus, a luz que ilumina cada homem."

(Ianthe Hoskins - Peregrino no caminho - Revista Sophia, Ano 16, nº 76 - p. 9)


quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

DEUS NÃO É INJUSTO

Resultado de imagem para flores de deus"Se, para achar os seus defeitos, vocês fazem metade do esforço que comumente despendem achando os defeitos dos outros, vocês verão a ligação com a lei de causa e efeito e só isso os libertará, mostrando a vocês mesmos que não existe injustiça. Só isso lhes será a prova de que não é Deus, nem o destino, tampouco uma ordem injusta no mundo em que vocês tem de sofrer as consequências das limitações das outras pessoas, mas a ignorância, o medo, o orgulho e o egoísmo de vocês que direta ou indiretamente causarão aquilo que pareceu, até aqui, entrar no caminho de vocês sem que vocês nada fizessem para tanto. Descubram esse elo oculto e verão a verdade. Então compreenderão que vocês não são vítimas das circunstâncias nem da imperfeição dos outros, mas são realmente os que criam a própria vida. As emoções são forças criativas de grande efeito, porque o inconsciente de vocês afeta o da outra pessoa. Essa verdade talvez seja a mais importante para a descoberta de como vocês provocam os acontecimentos, quer bons, quer maus, favoráveis ou desfavoráveis da vida.

Depois que vocês passam por essa experiência, podem acabar com a imagem que têm de Deus independentemente de vocês terem medo de Deus, porque acreditam que vivem num mundo de injustiça e receiam tornar-se vítima das circunstâncias sobre as quais não têm controle, ou de rejeitarem a responsabilidade e ficarem à espera de um Deus flexível que os mime, que lhes oriente a vida, tome decisões por vocês, os poupem de dificuldades que vocês mesmos criam. A compreensão de como vocês são a causa dos efeitos da vida de vocês acabará com essa imagem de Deus. Isso constitui um dos momentos decisivos da vida de vocês.

Só esse momento lhes facultará o reconhecimento de que vocês não são vítimas; de que têm poder sobre a vida; de que são livres e de que essas leis de Deus são infinitamente boas, sábias, amáveis e seguras! Elas não visam transformá-los em fantoches, mas fazer de vocês pessoas totalmente livres e independentes."

(Eva Pierrakos, Donovan Thesenga - Entrega ao Deus Interior - Ed. Cultrix, São Paulo, 2010 - p. 53/54)

terça-feira, 26 de novembro de 2019

TRISTEZA

Resultado de imagem para tristeza"A tristeza não tem existência concreta. Se você afirmá-la o tempo todo, ela existirá, se negá-la em sua mente, ela deixará de existir. É a isso que chamo 'o herói no homem': sua natureza divina ou essencial. Para se livrar da tristeza, o homem precisa impor seu Eu heroico às atividades diárias.

A raiz da tristeza é a carência de heroísmo e coragem no homem normal. Quando o elemento heroico falta no quadro mental de uma pessoa, sua mente fica sujeita a todas as aflições que aparecem. A vitória mental traz felicidade à vida; a derrota mental só lhe traz sofrimento. Enquanto o vencedor estiver desperto no homem, nenhum desgosto poderá mergulhar nas sombras os umbrais de seu coração.

Lágrimas e suspiros no campo de batalha da vida são a covardia, em estado puro, de uma mente fraca. Quem renuncia à luta se torna prisioneiro dentro das muralhas de sua própria ignorância. A vida não passa de uma perpétua superação de problemas. Todo problema que aguarda solução de sua parte é um dever religioso que a vida lhe impôs.

Não há vida sem problemas. No fundo, as condições não são boas nem más: são simplesmente neutras e só parecem desalentadoras ou estimulantes por causa da atitude desiludida ou entusiástica da mente.

Quando a pessoa desce abaixo do nível das circunstâncias, cede à influência dos tempos ruins, da má sorte e da tristeza. Quando paira acima das circunstâncias valendo-se da coragem interior, todas as condições da vida, não importa quão sombrias e ameaçadoras sejam, parecem o manto de névoa que se dilui aos primeiros calores do sol. Os aborrecimentos do homem normal não são inerentes às condições da vida. Eles nascem da fraqueza da mente humana. Conclame o vencedor que há em você, desperte o herói que dorme em seu interior e pronto: nenhuma tristeza obscurecerá sua porta!"

(Paramhansa Yogananda - A Sabedoria de Yogananda, Como Ter Coragem, Serenidade e Confiança - Ed. Pensamento, São Paulo, 2012 - p. 20/22)
www.editorapensamento.com.br


terça-feira, 24 de setembro de 2019

DEUS NÃO É INJUSTO

"Se, para achar os seus defeitos, vocês fazem metade do esforço que comumente despendem achando os defeitos dos outros, vocês verão a ligação com a lei de causa e efeito e só isso os libertará, mostrando a vocês mesmos que não existe injustiça.  Só isso lhes será a prova de que não é Deus, nem o destino, tampouco uma ordem injusta no mundo em que vocês tem de sofrer as consequências das limitações das outras pessoas, mas a ignorância, o medo, o orgulho e o egoísmo de vocês que direta ou indiretamente causarão aquilo que pareceu, até aqui, entrar no caminho de vocês sem que vocês nada fizessem para tanto. Descubram esse elo oculto e verão a verdade. Então compreenderão que vocês não são vítimas das circunstâncias nem da imperfeição dos outros, mas são realmente os que criaram a própria vida. As emoções são forças criativas de grande efeito, porque o inconsciente de vocês afeta o da outra pessoa. Essa verdade talvez seja a mais importante para a descoberta  de como vocês provocam os acontecimentos, quer bons, quer maus, favoráveis ou desfavoráveis da vida. 

Depois que vocês passam por essa experiência, podem acabar com a imagem que têm de Deus independentemente de vocês terem medo de Deus, porque acreditam que vivem num mundo de injustiça e receiam tornar-se vítima das circunstâncias sobre as quais não têm controle, ou de rejeitarem a responsabilidade e ficarem à espera de um Deus flexível que os mime, que lhes oriente a vida, tome decisões por vocês, os poupem de dificuldades que vocês mesmos criam. A compreensão de como vocês são a causa dos efeitos da vida de vocês acabará com essas imagens de Deus. Isso constitui um dos momentos decisivos na vida de vocês. 

Só esse momento lhes facultará o reconhecimento de que vocês não são vítimas; de que têm poder sobre a vida; de que são livres e de que essas leis de Deus são infinitamente boas, sábias, amáveis e seguras! Elas não visam transformá-los em fantoches, mas fazer de vocês pessoas totalmente livres e independentes."

(Eva Pierrakos/Donovan Thesenga - Entrega ao Deus Interior - Ed. Cultrix, São Paulo, 1997 - p,54/55)


quinta-feira, 20 de junho de 2019

POR QUE SOMOS NEGLIGENTES?

"O pensador raciocina mediante o hábito, a repetição, a cópia, produzindo ignorância e tristeza. O hábito não é uma negligência? A consciência cria ordem, mas nunca o hábito. As tendências acomodadas só produzem negligência. Por que somos negligentes? Porque pensar é doloroso, cria perturbações, oposição, pode fazer com que nossas ações sejam contrárias ao padrão estabelecido. Pensar-sentir de maneira extensiva, tornar-se conciente sem escolha, pode conduzir a profundidades desconhecidas, e a mente se rebela contra o desconhecido. Então, ela se move do conhecido para o conhecido, do hábito para o hábito, do padrão para o padrão. Tal mente jamais abandona o conhecido para descobrir o desconhecido. Entendendo a dor do pensamento, o pensador torna-se negligente mediante a cópia, ao hábito; temendo pensar, ele cria padrões de negligência. Quando o pensador está com medo, suas ações nascem do medo, e então ele encara suas ações e tenta mudá-las. O pensador tem medo de suas próprias criações, mas a ação é o agente, por isso o pensador tem medo de si mesmo. O pensador é a causa da ignorância, da tristeza. Ele pode se dividir em muitas categorias de pensamento, mas o pensamento é ainda o pensador. O pensador e seus esforços para ser, tornar-se, são a verdadeira causa do conflito e da confusão."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil, São Paulo, 2016 - p. 289)


domingo, 8 de abril de 2018

A CRÍTICA (1ª PARTE)

"Se quisermos fazer algum progresso no Ocultismo, precisamos aprender a tratar da nossa vida e deixar as outras pessoas em paz. Elas têm suas razões e suas linhas de pensamento, que nós não compreendemos. Ficam de pé ou caem diante do próprio Mestre. Mais uma vez, temos o nosso trabalho para executar, e nos negamos a ser desviados dele. Precisamos aprender a ter caridade e tolerência, e reprimir o desejo insensato de estar sempre descobrindo defeitos nos outros. 

É um desejo insensato, e domina a vida moderna - o espírito de crítica. Cada um de nós deseja interferir na obrigação de outrem, em vez de atender à nossa; cada um de nós cuida-se capaz de fazer o trabalho de outro homem melhor do que ele o está fazendo. Isso é constatado na política, na religião, na vida social. A obrigação manifesta de um governo, por exemplo, é governar, e a do povo  ser bons cidadãos e fazer com que o trabalho do governo seja fácil e eficiente. Nos dias que correm, porém, as pessoas anseiam tanto por ensinar seus governos a governar que se esquecem do dever primordial de ser bons cidadãos. Os homens querem compreender que, se se restringirem a fazer sua obrigação, o carma se encarregará dos 'direitos' a cujo respeito vociferam tanto.

Por que carga d'água esse espírito de crítica está tão generalizado e é tão selvagem neste período da história do mundo? Como a maioria dos outros males, é o excesso de uma qualidade boa e necessária. No discorrer da evolução chegamos à quinta sub-raça da quinta raça-raiz. Quero dizer que essa raça foi a última a ser desenvolvida, que o seu espírito domina o mundo neste momento, e que até os que não pertencem a ela são, por força, muito influenciados por esse espírito.

Ora, cada raça tem suas próprias lições especiais para aprender, sua própria qualidade especial para desenvolver. A qualidade da quinta raça é a que, às vezes, se denomina manas - o tipo de intelecto que discrimina, que nota as diferenças entre as coisas. Quando ela estiver perfeitamente desenvolvida, os homens notarão as diferenças com calma, unicamente com o propósito de compreendê-las e julgar qual delas é a melhor. Mas agora, nesta fase de semidesenvolvimento, a maioria das pessoas procura as diferenças do seu próprio ponto de vista, não para compreendê-las, senão para se opor a elas - e muitas vezes para persegui-las com violência. Este é simplesmente o ponto de vista do homem ignorante e não desenvolvido, cheio de intolerência e presunção, absolutamente seguro de estar certo (talvez o esteja, até certo ponto) e de que tudo o mais, portanto, há de ser inteiramente errado - uma coisa que não se segue à outra. Lembremo-nos do que disse Oliver Cromwell ao seu conselho: 'Irmãos, eu vos imploro, pelo nome sagrado do Cristo, que julgueis possível que às vezes estais enganados!' (...)"

(C. W. Leadbeater - A Vida Interior - Ed. Pensamento, São Paulo, 1999 - p. 97)
www.pensamento-cultrix.com.br


segunda-feira, 19 de março de 2018

A ORAÇÃO (PARTE FINAL)

"(...) Quando entrasse no seu longo repouso no mundo celeste, estaria inteiramente fora de qualquer possibilidade de ser perturbado por coisas terrenas; no entanto, até num caso desses, uma oração que lhe fosse dirigida talvez não ficasse sem efeito. Um homem assim estaria quase certamente despejando uma torrente constante de pensamentos de amor sobre a humanidade, e esses pensamentos seriam um verdadeiro e poderoso chuveiro de bênçãos, tendendo geralmente ao auxílio espiritual daqueles sobre os quais viesse a cair; e não há dúvida que o homem que estivesse pensando com fervor no santo, ou rezando para ele, estabeleceria relação com ele, e atrairia, por consequência, sobre si grande quantidade daquela força, se bem que inteiramente à revelia do santo de que ela provinha. Se o santo fosse suficientemente adiantado para ter entrado numa série especial de nascimento, que se seguissem, rápidos, uns aos outros, o caso seria igualmente diverso. Ele estaria então, durante o tempo todo, ao alcance da terra, ou vivendo no plano astral, ou numa encarnação no físico, e, se a oração fosse tão forte que lhe chamasse a atenção a qualquer momento em que estivesse fora do corpo, é provável que ele desse toda a ajuda de que fosse capaz.

Mas, felizmente para os muitos milhares que estão constantemente derramando suas almas em orações - na mais cega ignorância, porém com perfeita boa-fé - há ainda alguma coisa da qual podemos depender, mas que independe de todas essas considerações. Diz-nos Sri Krishna, no Bhagavad Gita, que todas as orações sinceras chegam a ele, sejam quais forem e a quem elas possam ter sido ignorantemente oferecidas; existe uma consciência suficientemente ampla para abranger tudo, que nunca falha em sua resposta a todo esforço sincero na direção de uma espiritualidade maior. Opera através de muitos meios; às vezes, talvez, dirigindo a atenção de um deva para o suplicante, às vezes através da mediação dos auxiliadores humanos, que trabalham no plano astral ou mental pelo bem da humanidade. Um deva ou auxiliador nessas condições, se se mostrasse, seria tomado inevitavelmente, pelo peticionário, como o santo ao qual ela orara, segundo o ilustram muitas histórias que se contam a respeito. (...)"

(C.W. Leadbeater - A Vida Interior - Ed. Pensamento, São Paulo, 1999 - p. 80/81)
www.pensamento-cultrix.com.br


sexta-feira, 16 de março de 2018

FORME BONS HÁBITOS

"Passo a passo, você atingirá o fim da estrada. Um bom ato seguido por outro conduz a um bom hábito. Escutando, você é estimulado a agir. Decida agir; junte-se somente com pessoas boas; leia somente livros elevados; forme o hábito de namasmarana (repetição do nome do Senhor) - e, então, a ignorância (ajnana) automaticamente desaparecerá. Anandam (Bem-aventurança), que crescerá dentro de você, pela contemplação sobre Anandaswarupa (a forma divina que personifica a bem-aventurança), afastará toda aflição e toda preocupação.

Esta proximidade é ganha pelo bhaktha (devoto), o qual não pode estar firme, exceto após a anulação do 'eu' e do 'meu'. Quando um preso é conduzido de um lugar a outro, é escoltado por dois policiais. Não é? Quando o homem que é prisioneiro nesta cadeia² se move de um lugar a outro, é também acompanhado por ahamkara (egoísmo) e mamakara (possessividade). Quando ele se movimenta sem estes dois, esteja certo, ele é um homem livre, libertado da prisão."

² ',,,nesta cadeia...' - a cadeia de nascimentos e mortes, isto é, samsara.

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 52)


quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

O CAMINHO DO CONHECIMENTO (3ª PARTE)

"(...) Tendo-se retirado e descansado completamente, enviai uma ardente invocação aos Deuses da Luz e ao Senhor da Luz, para que possais ser iluminados em vossa busca, e professai um voto solene de que todo o conhecimento eventualmente obtido será dedicado ao serviço de vossos irmãos. Procurai o conhecimento, só assim podereis ensinar; procurai a luz, só assim podereis iluminar os outro; procurai o poder que o conhecimento dá, para que possais rasgar os véus do preconceito e da ignorância nos quais a raça humana está tão fundamente envolta. Vosso ofício deve ser dúplice: deveis ser um tocheiro e um desvelador.

Tendo erguido vossa prece e professado vosso voto, pratiqueis a arte de colocar vosso corpo inteiramente em repouso, de domar as tempestades das emoções, de aquietar vossa mente, pois são preliminares imprescindíveis. E quando a calma reinar em vossa natureza interna e externa, pensai fortemente em vosso coração como uma gruta, onde vossa alma possa penetrar em sua busca de luz. Pensai firmemente, durante vários dias, na gruta de vosso coração, e tentai concentrar vossa mente lá; gradualmente, onde só havia escuridão, uma luz começará a brilhar – uma luz que o guiará no caminho. Aprofundai-vos na contemplação da verdadeira luz, que brilha em cada homem, cujos lampejos finalmente aprendeis a discernir. À medida em que a luz cresce e começa a vos envolver, alçai-vos em pensamento, dentro de vós mesmos, em direção ao meio de vossa cabeça, onde encontrareis uma luz maior; tendo encontrado esta passagem, continuai a meditar sobre a luz. Pensai em vós como um fulgor da Luz Única, uma centelha da Chama Única, e forçai com todos vossos poderes de pensamento e vontade ainda mais acima, ainda dentro de vós, para dentro daquela Luz paternal de onde saístes. Alçai-vos através de vossa cabeça, através dos sentimentos para os pensamentos, ansiando beber a essência-pensamento, para tornar-se pensamento encarnado, e fixai vossa mente de modo inflexível sobre a luz, procurando a porta do Templo. 

A chave está em vossas mãos, eu vo-la dei; é o conhecimento de que o clarão que constitui vosso ser emana da Luz Única, a faísca que sois é parte da Chama Única: que possais ser o que em verdade sois. 

Gradualmente vós aprendereis a viajar por esta estrada que leva do coração à cabeça, e da cabeça ao lugar da luz. Encontrareis vossa luz iluminada por outra luz, que vem do alto, e aprendereis a reconhecer seu brilho. Através destes exercícios diários tereis dominado todas as muitas tendências do sentimento e do pensamento de escapar ao controle. Tereis construído os degraus que vos levarão às portas do Templo. A chave está em vossas mãos, colocai-a direto na fechadura e, girando-a, entrai no Templo da Luz. (...)" 

(Geoffrey Hodson - Sede Perfeitos - Canadian Theosophical Association



quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

O CAMINHO DO CONHECIMENTO (2ª PARTE)

"(...) Tendo se tornado uma criancinha, prontamente lance fora tudo que pensa conhecer ou saber, tudo que é prezado pelos homens, e deixemo-lo buscar o caminho que leva da carne ao espírito. A entrada para o caminho está no coração; do coração, deve encontrar uma passagem para o cérebro, e, através do cérebro, para os mundos do pensamento e sentimento, nos quais as fundações do Templo da Luz estão lançadas. O Templo está adiante, e a partir do mundo do pensamento ele deve construir uma firme escadaria que o levará até os portões do Templo. Esta escadaria é construída pelo estudo, pela concentração de pensamento, e pela incansável busca de conhecimento. 

Esta é a maneira de encontrar e trilhar o caminho do conhecimento, construir a escadaria e chegar aos portões do Templo. Deixe-se que o estudante lance fora seus livros, seus tubos de ensaio e suas réguas para trás, pois ele deve aprender a ler nos livros da natureza, entesourar suas descobertas no tubo de ensaio de sua mente, e aferir suas descobertas na balança de sua mais alta intuição. Emancipando-se destes instrumentos superficiais, que se retire para algum lugar onde possa desfrutar de algum tempo de paz imperturbada. Uma cela de retiro, um jardim, as florestas, os campos, alguma praia recôndita, algum refúgio na montanha, qualquer um destes poderá ser suficiente para lançar-se à viagem de descoberta. Deixe-se que trilhe o caminho que todos os sábios e mestres do mundo trilharam em sua busca pela luz, luz que ora brilha através daqueles olhos, gloriosa e resplandecente. 

Que não tema a estranheza desta procura, não tema despojar-se de todos os suportes até então considerados essenciais; não tema o ridículo imposto pelos que ainda sentem-se dependentes dessas coisas, e que cegamente disfarçam sua ignorância numa ilusão de conhecimento. Para a luz que buscais, tal conhecimento é como trevas, pois todo aquele que alto pusestes em vosso apreço não possui senão a pele, a penugem, a casca, e o cerne sempre lhe foge; então eles montam sobre as cascas e a oferecem como conhecimento. Talvez haja apenas um punhado, dentre vossos homens de conhecimento, que não esteja cego pelo preconceito, que não confunda aprendizado com conhecimento. 

Tomai como guia esta voz que vos ensina agora, a voz de um anjo que conquistou a meta através destes mesmos caminhos na busca de conhecimento, e agora oferece-se àqueles que buscam uma luz maior da que brilha em universidades, pois é professor mais sábio que qualquer professor mortal pode ser; traz a luz do conhecimento espiritual para iluminar as trevas do mero aprendizado terreno, e pode conduzir o estudante até a verdadeira cátedra do conhecimento, a qual jaz no fundo de vosso Eu mais verdadeiro. Vinde, irmão humano, aceitai minha direção, e eu vos guiarei até vosso destino. (...)"

(Geoffrey Hodson - Sede Perfeitos - Canadian Theosophical Association



terça-feira, 23 de janeiro de 2018

O CAMINHO DO CONHECIMENTO (1ª PARTE)

"O caminho do conhecimento é o caminho da luz, e aquele que deve trilhar esta vereda deve aprender a deixar de lado todos os atributos que toldem esta luz, pois seu destino é encher-se tanto de luz até que ela possa irradiar através de si para iluminar o mundo inteiro. Desde o início, portanto, deve despir-se de tudo possa velar a luz dos olhos daqueles que, mais tarde, irá iluminar. 

O preconceito é o grande lançador de véus, o maior inimigo de todos os que procuram conhecimento, a maior barreira à iluminação. Deixe-se que o neófito, em sua busca de conhecimento, comece a estudar a si mesmo, pois somente conhecendo a si vai um dia conhecer o grande Eu; somente pelo autoconhecimento ele poderá descobrir os muitos véus em que sua longa peregrinação o envolveu; somente pelo autoconhecimento ele poderá descobrir a maneira de lançar fora tais véus. Para dentro, pois, e não para fora, deve o estudante lançar-se nesta pesquisa; tendo encontrado o Eu dentro de si, o Eu externo lhe será revelado. 

Há um caminho levando do não-eu ao Eu, do material ao espirirtual, da ignorância para a iluminação; este caminho é o caminho do conhecimento; uma das extremidades está na carne, a outra, no espírito. O homem de carne deve procurar entrar na carne, enquanto sua contraparte espiritual - o homem interno - deve buscar a entrada no espírito. Encontradas as duas entradas, deve procurar o centro ao qual as duas entradas conduzem. Este centro comum é a Mansão de Luz, o lugar de iluminação, o Santo dos Santos, onde espírito e matéria são unidos pela luz. Não é um edifício, ou algum sacrário terreno, é o Templo da Luz, de onde brilha a 'verdadeira luz que ilumina cada homem no mundo'; é o vaso através do qual a Luz Única, que brilha eterna do sol espiritual, alcança a escuridão dos mundos materiais em sua caminhada em direção à iluminação. Dentro do templo há um altar, e no altar arde uma chama que acendeu quando sua alma foi formada, e arde continuamente até que um dia o próprio homem se transforme na labareda; então, como Sansão na antiguidade, ele investe com todas as forças contra os pilares do templo, que cai em ruínas ante seus pés; pois ele, que se tornou um Deus, não precisa mais de um altar para cultuar aquilo em que se tornou; assim o templo cai em ruínas, e os milhares de mortos soterrados são os inúmeros véus que ele agora aprendeu a descartar, para que a luz brilhe em plenitude sobre o mundo. 

Antes desta grande consumação, muitas vidas de estudo e pesquisa ainda há pela frente, para o neófito que anda pela trilha do conhecimento. Em suas muitas vidas, antes que a grande decisão tenha nascido, ele tem estado cercando a si mesmo com véu após véu, cada um velando mais e mais a luz que vem da chama sobre o altar de seu Eu Superior. Doravante ele deve entender-se como um desvelador, pois tal é sua missão no caminho do conhecimento. Primeiro ele deve romper os véus que lançou sobre si mesmo, e depois retirar os véus alheios, pois cada professor verdadeiro é um desvelador. O maior de todos os véus é o preconceito, e daqui em diante, em seu caminho, ele deve ser como uma criancinha, professando a mais chã ignorância, pois, possuindo nenhum conhecimento, ele não pode ter nenhum preconceito; para que, esvaziando-se, possa ser preenchido; para que, tendo uma mente aberta e desanuviada, possa oferecê-la como cálice perfeitamente traslúcido, para ser enchido com a luz do conhecimento. (...)"

(Geoffrey Hodson - Sede Perfeitos - Canadian Theosophical Association



sábado, 20 de janeiro de 2018

O MAIOR DOS MALES ENTRE OS HOMENS CONSTITUI IGNORÂNCIA RELATIVAMENTE A DEUS

"1 'Corai, ó humanos, ébrios que sois, tendo bebido até a última gota do vinho sem mistura da doutrina da ignorância, que não mais podeis conter, mas que já estais prestes a vomitar. Deixai a embriaguez, parai! 

'Olhai para o alto com os olhos do coração. E se não o podeis todos, pelo menos os que o podem. Pois o mal da ignorância inunda toda a terra, corrompe a alma aprisionada no corpo, sem permitir-lhe lançar a âncora no porto de salvação. Não vos deixeis arrastar pela violência da onda, mas, aproveitando-vos da contra-corrente, vós que podeis aportar ao porto de salvação, lançai a âncora e buscai um guia que vos mostre a rota até as portas do conhecimento, onde a luz flamejante brilha, livre de toda obscuridade, onde ninguém está embriagado, mas todos permanecem sóbrios, elevando o olhar do coração para Aquele que quer ser visto. Pois não se deixa ouvir nem descrever e não é visível para os olhos corporais, mas somente ao intelecto e ao coração. 

2 'Mas, agora, é necessário que laceres pouco a pouco a túnica que te reveste, o tecido da corrupção, o suporte da malícia, a cadeia da corrupção, a prisão tenebrosa, a morte vivente, o cadáver sensível, a tumba que levas para todos os lados contigo, o assaltante que habita em tua casa, o companheiro que pelas coisas que ama te odeia e pelas coisas que odeia, tem ciúme de ti. 

3 'Tal é o inimigo que revestiste como uma túnica, que te estrangula e atira sob si, de modo que, tendo elevado os olhos e contemplado a beleza da verdade e o bem que nela reside, venhas a odiar a malícia do inimigo, tendo compreendido todas as ciladas que preparou contra ti, tornando insensíveis os órgãos dos sentidos que não aparecem e não são tidos por tal, tendo-os obstruído pela massa da matéria e preenchido de uma voluptuosidade odiosa, a fim de que não possuas ouvidos para as coisas que deves ouvir, nem visão para as coisas que precisas ver'"

(Hermes Trismegisto - Corpus Hermeticum - p. 12/13)


sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

VERDADE (PARTE FINAL)

"(...) Entre conhecimento e sabedoria existe uma diferença imensa, e é muito mais fácil obter conhecimento do que sabedoria. A sabedoria não depende nem um pouco do conhecimento, apesar de ambos serem, numa certa medida, até idênticos. A fonte da sabedoria está em Deus, a portanto no princípio das coisas primordiais (no Akasha), em todos os planos do mundo material denso, do astral a do mental.

Portanto, a sabedoria não depende da razão e da memória, mas, da maturidade, da pureza a da perfeição da personalidade de cada um. Poderíamos também considerar a sabedoria como uma condição da evolução do 'eu'. Em função disso a cognição chega a nós não só através da razão, mas principalmente através da intuição ou da inspiração. O grau de sabedoria determina portanto o grau de evolução da pessoa. Mas com isso não queremos dizer que se deve menosprezar o conhecimento; muito pelo contrário, o conhecimento e a sabedoria devem andar de mãos dadas. Por isso o iniciado deverá esforçar-se em evoluir, tanto no seu conhecimento quanto na sabedoria, pois nenhum dos dois deve ser negligenciado nesse processo. 

Se o conhecimento e a sabedoria andarem lado a lado no processo de evolução, então o iniciado terá a possibilidade de compreender, reconhecer a utilizar algumas leis do micro a do macrocosmo, não só do ponto de vista da sabedoria, mas também em seu aspecto intelectual, portanto dos dois pólos. 

Já tomamos conhecimento de uma dentre muitas dessas leis, a primeira chave principal, ou seja, o mistério do Tetragrammaton ou do magneto quadripolar, em todos os planos. Como se trata de uma chave universal, ele pode ser empregado na solução de todos os problemas, em todas as leis a verdades, em tudo enfim, sob o pressuposto de que o iniciado saberá usá-lo corretamente. Com o passar do tempo, à medida em que ele for evoluindo a se aperfeiçoando na ciência hermética, ele passará a conhecer outros aspectos dessa chave e a assimilá-los como leis imutáveis. Ele não terá que tatear na escuridão a no desconhecido, mas terá uma luz em suas mãos com a qual poderá romper todas as trevas da ignorância." 

(Franz Bardon - Iniciação ao Hermetismo - p. 31/32)

domingo, 3 de dezembro de 2017

A SABEDORIA DA AUSÊNCIA DO EGO (PARTE FINAL)

"(...) Enquanto não tiramos a máscara do ego, ele continua a nos vendar os olhos como um político sem-vergonha reprisando continuamente suas falsas promessas, ou um advogado inventando engenhosas mentiras, ou um animador de auditório falando sem cessar, de quem jorra um palavrório maneiroso, ocamente convincente, que na realidade não diz absolutamente nada.

Vidas inteiras de ignorância nos levaram a identificar a totalidade do nosso ser com o ego. Seu maior triunfo é nos convencer de que seus maiores interesses são os nossos, e chega a identificar a nossa própria sobrevivência com a sua. Isso é uma terrível ironia, considerando-se que o ego e o seu agarrar-se são a raiz de todo nosso sofrimento. Mas o ego é tão convincente e nós temos sido seu trouxa por tanto tempo, que só o pensamento de ficarmos sem ego nos aterroriza. Ficar sem ego, ele nos sussurra, é perder todo o rico romantismo de ser humano, ser reduzido a um robô sem cor ou a um vegetal sem cérebro.

O ego tem um desempenho brilhante no nosso medo fundamental de perder o controle, e em face do desconhecido. Podemos dizer a nós mesmos: 'Eu realmente devia abrir mão do ego, estou sofrendo tanto! Mas se fizer isso, o que me acontecerá?'

O ego fará coro docemente: 'Sei que às vezes sou inconveniente e, pode me acreditar, compreendo perfeitamente que você queira que eu me vá. Mas é isso mesmo o que você quer? Pense: se eu for mesmo, o que será de você? Quem tomará conta de você? Quem o protegerá e cuidará, como fiz todos estes anos?'

E ainda que possamos ver além das mentiras do ego, estamos assustados demais para abandoná-lo; porque sem um verdadeiro conhecimento da natureza da nossa mente, ou real identidade, simplesmente não temos outra alternativa. Vez após vez nós nos afundamos diante das suas exigências, com o mesmo triste ódio de si próprio do alcoólatra buscando o copo que ele mesmo sabe vai destruí-lo, ou da drogada tateando em busca da dose que, ela sabe, depois da breve viagem só vai deixá-la deprimida e desesperada."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 159/160)


sábado, 2 de dezembro de 2017

A SABEDORIA DA AUSÊNCIA DO EGO (1ª PARTE)

"Às vezes imagino o que sentiria o habitante de um vilarejo tibetano se, de repente, você o trouxesse para uma cidade moderna com toda sua sofisticada tecnologia. Ele talvez pensasse que havia morrido e que se encontrava agora no estado de bardo. Incrédulo, olharia boquiaberto para os aviões voando no céu acima dele, ou para alguém falando ao telefone com uma pessoa do outro lado do mundo. Pensaria estar testemunhando milagres. E no entanto tudo isso parece normal a alguém morando no Ocidente, no mundo moderno, tendo sido educado à maneira ocidental, que fornece as explicações científicas sobre essas coisas, passo a passo.

Do mesmo modo, no budismo tibetano há uma educação espiritual básica, normal e elementar, um treinamento espiritual completo para o bardo natural desta vida que dá a você o vocabulário essencial, o ABC da mente. A base desse treinamento são as chamadas 'três ferramentas da sabedoria': a sabedoria de ouvir e escutar, a sabedoria da contemplação e da reflexão, e a sabedoria da meditação. Através delas somos levados a despertar para a nossa verdadeira natureza, a descobrir a incorporar a alegria e a liberdade daquilo que de fato somos, que podemos chamar de 'sabedoria da ausência do ego'.

Imagine uma pessoa que subitamente acorda num hospital depois de sofrer um acidente de carro na estrada, e percebe que está com amnésia total. Por fora, tudo está intacto: ela tem o mesmo rosto, a mesma forma, os sentidos e a mente estão lá, mas não tem a menor ideia ou o menor vestígio de memória de quem é. Exatamente do mesmo modo, não conseguimos nos lembrar da nossa verdadeira identidade, nossa natureza original. Freneticamente e na realidade apavorados, procuramos e improvisamos outra identidade, uma em que possamos nos agarrar com todo o desespero de alguém que vai cair num abismo. Essa identidade falsa e assumida em ignorância é o 'ego'.

Desse modo, o ego é a ausência do conhecimento verdadeiro de quem somos, juntamente com o seu resultado: um malfadado apego, mantido não importa a que preço, a uma imagem remendada e improvidada de nós mesmos, um eu inevitavelmente charlatanesco e camaleônico que está sempre mudando e que precisa mudar para manter viva a ficção da sua existência. Em tibetano, o ego é chamado dak dzin, que quer dizer 'agarrado a um eu'. O ego é assim definido como um movimento incessante de agarrar-se em uma noção ilusória de 'eu' e 'meu', de si mesmo e de outro, e em todos os conceitos, ideias, desejos e atividades que sustentam essa falsa construção. Esse agarrar-se é fútil desde o início e condenado à frustração, uma vez que não tem nenhuma base ou verdade, e aquilo a que nos agarramos é, por sua própria natureza, impossível de reter. O fato de que precisamos nos agarrar e continuar agarrados a alguma coisa mostra que nas profundezas do nosso ser sabemos que o eu não existe inerentemente. Desse conhecimento secreto e assustador nascem todas as nossas inseguranças fundamentais e o nosso medo. (...)" 

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 158/159


terça-feira, 21 de novembro de 2017

A PERCEPÇÃO DA UNIDADE

"Como lhe será possível ir além? Vida após vida, ele aprendeu a identificar-se com o homem; vida após vida, aprendeu a responder a todo grito de dor. Pode, agora que é livre, prosseguir e deixar os outros acorrentados? Pode entrar na bem-aventurança deixando o mundo no sofrimento? Ele, a quem chamamos Mahatma, é a Alma liberta que tem o direito de prosseguir mas, em nome do Amor, regressa trazendo seu conhecimento para remediar a ignorância, sua pureza para absolver a infâmia, sua luz para afugentar a escuridão; aceita novamente o peso da matéria até que toda a humanidade seja libertada, e então prosseguirá, não sozinho, porém como o pai de uma grande família, levando com ele a humanidade para compartilhar do mesmo fim e da mesma bem-aventurança no Nirvana.

Esse é o Mahatma. Vidas sucessivas de esforço coroadas com a suprema renúncia; perfeição obtida através da luta e do trabalho, e depois o regresso para ajudar aos outros a chegarem onde ele chegou. Sua mão está pronta para ajudar a toda Alma que lhe estende as mãos à procura de ajuda. Seu coração responde à súplica de todo irmão que peça sua orientação; e eles estão lá, esperando o momento em que desejemos ser ensinados, dando-lhes a oportunidade de obter o Nirvana, ao qual renunciaram."

(Annie Besant - Os Mestres - p. 28/29)
Fonte: http://universalismoesoterico.blogspot.com.br/


quinta-feira, 2 de novembro de 2017

NA ALEGRIA ESTÁ A VERDADEIRA VIDA ESPIRITUAL

"Tente, e perceba a beleza do sofrimento, quando o que o sofrimento faz é só tornar a pessoa mais apta para o trabalho. Certamente jamais devemos anelar a paz se na luta o mundo puder ser ajudado. Tente, e sinta que embora a treva pareça estar em toda sua volta, ainda assim ela não é real. Se algumas vezes Eles se ocultam em uma Maya (ilusão - NT) de indiferença aparente, é apenas para conceder Suas bênçãos com maior abundância quando a estação for propícia. As palavras não ajudam muito quando a escuridão é opressiva, ainda que o discípulo deva tentar manter inabalada sua fé na proximidade dos Grandes Seres, e sentir que embora a luz seja temporariamente retirada da consciência mental, mesmo assim ela cresce dia a dia no interior sob a Sua sábia e misericordiosa dispensação. Quando a mente se torna novamente sensível, ela reconhece com surpresa e alegria como o trabalho espiritual foi feito sem que se tivesse consciência alguma dos detalhes. Nós conhecemos a Lei. No mundo espiritual noites de maior ou menor horror seguem o dia, e aquele que é sábio, reconhecendo que a treva é o fruto de uma lei natural, deixa de se incomodar com isso. Podemos descansar certos de que a escuridão, por sua vez, se dissipará. Lembre sempre que detrás da mais espessa fumaça sempre existe a luz dos Pés de Lótus dos Grandes Senhores da Terra. Fique firme e jamais perca a fé n'Eles, e então não haverá nada a temer. Podem e devem haver provações, mas você deve estar certo de que conseguirá suportá-las. Quando a sombra que caiu como uma mortalha sobre a Alma se retira, então somos capazes de ver quão realmente evanescente e ilusória ela era. Mesmo assim esta sombra, enquanto perdura, é real o bastante para levar a ruína para muitas almas nobres que ainda não adquiriram força suficiente para suportá-la. 

A vida e o amor espirituais não se esgotam quando são dispendidos. A doação apenas acrescenta ao reservatório e o torna mais rico e intenso. Tente, e seja tão feliz e contente quanto puder, porque na alegria está a verdadeira vida espiritual, e a tristeza é apenas o resultado de nossa ignorância e falta de visão clara. Assim, você deve resistir, até onde puder, ao sentimento de tristeza: ele anuvia a atmosfera espiritual. E embora você não possa evitar inteiramente sua chegada, mesmo assim você não deve ceder completamente a ele. Pois lembre-se de que no verdadeiro coração do universo existe a Beatitude. (...)"

(Annie Besant - A Doutrina do Coração - Ed. Teosófica, Brasília - p. 5)
www.editorateosofica.com.br