OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


Mostrando postagens com marcador morte. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador morte. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 2 de junho de 2020

A MORTE

A vida após a morte em diferentes religiões"Ao ocorrer a morte física, não no momento exato de expirar, o duplo etéreo se desliga por completo do corpo denso que, sem sua sutil contraparte, já não pode subsistir como organismo coerente e vai se desintegrando até que toda a matéria que o constituía recobre sua independência. Pouco a pouco o duplo etéreo se desprende do cadáver, que se vai esfriando, primeiro nas extremidades e depois em todo o corpo. O momento preciso da morte não é quando a pessoa expira, muito embora possa com ele coincidir, e sim quando o duplo etéreo se desliga por completo do cadáver, deixando-o hirto no leito mortuário. Então os clarividentes vêem flutuar o duplo etéreo como roupagem externa do ego, que continua vivendo em todos os seus corpos, menos no físico denso. Não obstante, o duplo etéreo vai se desintegrando também pari passu com o cadáver até deixar o corpo astral como roupagem externa do ego. Daí ser o incineramento dos cadáveres o melhor meio de apressar sua desintegração e com ela o duplo etéreo, que assim não pode ser aproveitado pelas entidades maliciosas e intrometidas do mundo astral."

(Annie Besant - A Vida do Homem em Três Mundos - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 57/58)

terça-feira, 21 de abril de 2020

INCORPORAÇÃO DA CONSCIÊNCIA

Gotinhas de Luz: Mediunidade: INCORPORAÇÃO / Semi-Consciente"Ao traçar-se a circunferência de um círculo, pode-se começar por qualquer de seus pontos e tornar a ele depois da volta completa. O ponto de partida é convencional. Assim também o círculo ou ciclo de uma vida humana nos três mundos pode ser começado em qualquer dos seus pontos. Não obstante, é costume tornar-se por início o nascimento na terra com o corpo físico, pois tem este a vantagem de ser sólido,¹¹ tangível e mui conhecido do leitor. Porém existe a desvantagem de se considerar os corpos do homem em ordem inversa à do revestimento, de modo que à primeira vista parece que o corpo mental, o mais interno do três, começa a atuar depois da morte física, em vez de atuar, segundo o faz incessantemente, durante toda a vida no corpo físico e depois da morte. Começando a contar o ciclo de vida com o nascimento na terra, dá-se à morte física uma excessiva importância e parece uma quebra ou interrupção da vida do homem, como se entrasse ao morrer em uma estranha ou ignorada região, em vez de um país, já por ele muito conhecido.

Para evitar este inconveniente, parece-me preferível tomar outro ponto de partida e considerar os corpos do homem na mesma ordem em que se vá revestindo deles, isto é, ao começar em novo ciclo de vida. Por isto defini, no capítulo anterior, o ciclo da vida dizendo que abrange 'desde o começo de uma descida ao mundo físico até abandonar o mundo celeste para retornar ao físico'. Cada vida humana percorre a circunferência de um círculo circunscrito aos três referidos mundos; e, portanto, pode escolher-se para ponto inicial qualquer parte da circunferência. Eu, por exemplo, escolho aquela em que o homem se reveste do primeiro corpo da sua nova peregrinação, ou seja, o corpo mental, porque muito embora seja um novo ponto de partida, facilita de modo mais claro a compreensão do estudo.

Possivelmente o leitor prufundamente científico ache estranho o emprego da palavra 'círculo', porque esta figura geométrica, como sabemos, tem por limite a curva chamada circunferência, que contorna e se completa ao voltar ao ponto de partida. Portanto, a vida humana resultaria neste caso algo semelhante a uma roda sem raios na qual o homem giraria repetidamente sem resultado algum. O reparo é justo, porque a evolução do homem não pode ser representada graficamente por uma série de círculos concêntricos e sim por uma espiral. A curva não se fecha em si mesma e sim ascente até chegar mais além do ponto inicial; e, portanto, o novo ciclo ou período de vida começa num ponto situado em nível superior ao da vida precedente, de modo que a cada nascimento na terra o homem traz mais do que trazia no nascimento anterior. O ciclo de vida é como os anos na terra, que sempre são os mesmos na sucessão dos meses e estações, e, no entretanto, o corpo, as emoções e a mente da pessoa são diferentes de ano por ano, ao par dos períodos naturais de crescimento e transição."

¹¹. Sem dúvida esta solidez não é absoluta, mas apenas relativa aos corpos astral e mental. (N. do T.)

(Annie Besant - A Vida do Homem em Três Mundos - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 27/29)

terça-feira, 14 de abril de 2020

DESTINO DOS CORPOS

Resultado de imagem para corpos espirituais do homem"Os corpos têm de ser utilizados, gastos e, por último, abandonados. O homem utiliza seu corpo mental durante todo o ciclo de evolução nos três mundos, desde o nascimento no mundo físico até que deixa o mundo celeste para renascer na terra. É o primeiro corpo do qual se reveste em cada ciclo de vida e o último que abandona. Depois do corpo mental, se reveste do astral para descer do mundo mental ao mundo das emoções e o abandona quando deste mundo emocional ascende ao mental. Finalmente se reveste do corpo físico ou de ação, que abandona ao morrer na terra, ou seja, quando do mundo físico ascende ao astral em seu caminho para o mental.

Portanto, vemos que o homem está revestido de três corpos ou roupagens inseparáveis durante a série de reencarnações, e sobrevestido de outros três corpos ou roupagens transitórias e separáveis, que nascem e morrem e cuja matéria componente reverte à massa geral de seu respectivo mundo, para fazer parte de outras agregações de matéria mineral, vegetal, animal e humana. Pode-se dizer que durante cada uma das três etapas de sua vida o homem tem seus copos em arrendamento, e também assim não são sempre as mesmas as partículas que os contituem, mas que estão em contínuo fluxo e refluxo de assimilação e desassimilação. Daí o contágio das enfermidades e da saúde; o das covardias e dos heroísmos; das superstições e dos nobres pensamentos. Continuamente passam de uma a outra pessoa partículas dos três corpos mental, astral e físico, e cada um de nós é responsável pela índole mórbida ou saudável de suas próprias emanações físicas, astrais e mentais.

As partículas de matéria adequada aos elevados pensamentos, nobres emoções, pura e límpida conduta se aglomeram ao redor de nós formando uma atmosfera de saúde moral, mental e física, enquanto que as partículas de matéria adequada aos baixos pensamentos, emoções grosseiras e conduta libertina criam um ambiente mórbido repleto de germes patogênicos de toda espécie. Há micróbios morais e mentais, como os há físicos."

(Annie Besant - A Vida do Homem em Três Mundos - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 20/21)

terça-feira, 24 de março de 2020

O HOMEM E SUA ROUPAGEM

Resultado de imagem para três corpos do homem"As palavras nascimento e morte significam tão somente as portas onde o homem passa de um mundo para o outro. Em realidade não nasce e nem morre e sim vive sempre. Porém quando deixa um mundo, os habitantes do mesmo, dizem: 'Morreu', enquanto os habitantes do mundo em que acaba de ingressar por sua vez exclamam: 'Nasceu'. Em verdade, é o mesmo homem que vai de mundo em mundo aprendendo as lições que em cada um o ambiente lhe oferece, permanecendo a maior parte do tempo em que percorre este ciclo¹ na pura felicidade das mansões celestes. O homem é semelhante à ave que tendo o seu ninho na adorável beleza de um bosque, ao sentir fome, deixa sua ditosa morada e voando para o lago vizinho, em suas águas busca com o bico o alimento, regressando ao seu silvestre retiro logo que satisfaça sua necessidade, a fim de ali consumir o alimento encontrado. Assim o homem vive normalmente no mundo celeste;  consome ali o alimento que levou consigo e, quando sente fome,² bate as suas asas para o lago que chamamos mundo físico onde reúne as experiências que lhe servem de alimento, voltanto a seguir para a sua primitiva morada, onde vai assimilar convenientemente, alcançando deste modo o crescimento que pouco a pouco lhe dará a envergadura do homem perfeito. 

A fim de compreender como vive o homem nos três mundos, necessário se torna conhecer sua constituição, isto é, em sua natureza e em suas roupagens ou invólucro, pois do contrário temerosos e confundidos ficaríamos quanto à clareza sobre esta matéria de todo imprescindível."

¹ Este ciclo ou período é computado pelo tempo gasto entre um nascimento e o seguinte renascimento no mundo físico, ou seja: dois nascimentos sucessivos na terra.
² Necessidade latente em todo o homem de alcançar o progresso.

(Annie Besant - A Vida do Homem em Três Mundos - Ed. Pensamento, São Paulo - p. 11/12)


terça-feira, 10 de março de 2020

PROCUREM A COMPANHIA DE HOMENS SANTOS

Resultado de imagem para HOMENS SANTOS"No momento em que se dedicarem inteiramente à contemplação de Deus, experimentarão uma alegria sem limites. Passarão dias e noites de bem-aventurança, absortos na consciência de Deus.

Não comentem a respeito de suas sensações e experiências espirituais com ninguém, muito menos com pessoas de natureza mundana. Isso pode retardar seu desenvolvimento. Em contrapartida, trocar experiências com alguém de natureza semelhante, cujo temperamento encontra-se em harmonia com o seu, pode ajudar o progresso espiritual. Considerem-se viajantes que seguem pela mesma estrada. É bem possível que seu companheiro já tenha trilhado o caminho e conheça suas armadilhas. Beneficiados por suas experiências, vocês talvez sejam capazes de evitar esses perigos e dificuldades.

Vocês sabem por que devem procurar sempre a companhia de homens santos? Suas experiências são de grande ajuda para o aspirante espiritual. Se ao visitarem uma terra estrangeira tiverem a orientação de um guia confiável, sem demora verão tudo o que merece ser visto no lugar. Ele também os salvará de todos os perigos e dificuldades que um estrangeiro provavelmente irá enfrentar. De forma semelhante, na companhia de almas evoluídas vocês irão acumular muitas dicas valiosas e seus esforços serão simplificados.

A vida pode terminar a qualquer instante. Ninguém sabe quando isso vai acontecer. Por isso, nessa jornada, tratem de levar sua bagagem repleta de tesouros espirituais. Chegar de mãos vazias a um lugar desconhecido pode significar muito sofrimento e infelicidade. Nascimento e morte são coisas inevitáveis. Ao morrer, iremos para um lugar desconhecido, por essa razão, todos devem preparar-se para a jornada. Estejam sempre prontos para atender ao grande chamado."


(Swami Prabhavananda/Swami vijouananda - O Eterno Companheiro, Ed. Vedanta, São Paulo, 2011, p. 274/275)


terça-feira, 21 de janeiro de 2020

O IMUTÁVEL

Resultado de imagem para céu com nuvens"A impermanência já nos revelou muitas verdades, mas há um tesouro final ainda sob sua guarda, que fica profundamente escondido de nós, cuja existência não suspeitamos e não reconhecemos, embora seja nosso do modo mais íntimo.

O poeta ocidental Rainer Maria Rilke disse que nossos temores mais profundos são como dragões guardando nosso tesouro mais profundo. O medo que a impermanência desperta em nós, de que nada seja real e que nada tenha duração e, como chegamos a descobrir, nosso maior amigo porque nos leva a perguntar: se tudo morre e se transforma, então o que é realmente verdadeiro? Há alguma coisa por trás das aparências, alguma coisa sem limite e infinitamente vasta, alguma coisa em que a dança da impermanência e das mutações tem lugar? Há na realidade alguma coisa com que possamos contar, que sobrevive ao que chamamos morte?

Permitindo que essas perguntas nos ocupem com urgência e refletindo sobre elas, lentamente passamos a fazer uma profunda mudança no modo como vemos toda a vida. Com contemplação constante e praticando o desprendimento, descobrimos em nós mesmos 'alguma coisa' que não podemos nomear, descrever ou conceituar, 'alguma coisa' que começamos a perceber que está além de todas as mudanças e mortes do mundo. Os desejos mesquinhos e distrações a que nos condena nosso apego obsessivo à permanência começam a se dissolver e depois desaparecem. 

Enquanto isso ocorre, temos repetidos e vívidos lampejos de algumas das vastas implicações subjacentes à verdade da impermanência. É como se tivéssemos vivido toda nossa vida num avião atravessando negras nuvens, em meio à turbulência, e agora ele subitamente se alça acima delas, num céu tranquilo e ilimitado. Inspirados e estimulados por essa chegada a uma nova dimensão de liberdade, descobrimos a profundeza da paz, da alegria, da confiança em nós mesmos, que nos enchem de encantamento e geram, gradualmente, a certeza de que há em nós aquela 'alguma coisa' que nada destrói, que nada altera, e nem pode morrer. Milarepa escreveu:
Aterrorizado pela morte, refugiei-me nas montanhas -
Muitas e muitas vezes meditei sobre a incerteza da hora da morte,
Conquistando o forte da natureza da mente - infinita e imortal Agora, todo medo da morte acabou para sempre."
Aos poucos então começamos a perceber em nós uma presença calma, vasta como céu, daquilo que Milarepa chama de a imortal e infinita natureza da mente, presença que é calma e tem as qualidades do céu. E quando essa nova consciência começa a tornar-se vívida e quase indestrutível ocorre o que os Upanixades chamam 'uma virada na sede da consciência', uma revelação profunda, pessoal e não conceitual do que somos, por que estamos aqui, e como deviamos agir, o que resulta no final em nada menos do que numa nova vida, num novo nascimento e quase no que se poderia chamar de uma ressurreição.

Que mistério belo e restaurador é, através da contemplação contínua e corajosa da verdade da mudança e da impermanência, lentamente chegarmos a nos encontrar face a face, em gratidão e alegria, com a verdade imutável, imortal e infinita natureza da mente!" 

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Palas Athena, São Paulo, 2000 - p. 65/66)

terça-feira, 22 de outubro de 2019

O CICLO DO SER E DO EXISTIR

Resultado de imagem para o ciclo do ser e do existir"Tudo que Existe egressa do Ser
E regressa ao Ser.
O Ser é o Insondável Tao.
Das profundezas do Ser
Nascem todos os seres que existem
O Ser, porém,
É o abismo do Não existir.

EXPLICAÇÃO: O Ser é eterno, sem princípio nem fim. É Brahman, a Divindade, o Infinito, o Uno. Mas é da íntima natureza do Ser manifestar-se sempre de novo em existir, assim como o Uno se revela no Verso, o Infinito no Finito.

Quando o Finito egride do Infinito, falamos em 'nascer' - quando ele regride à sua origem, falamos em 'morrer'.

Nascer e morrer não são princípios nem fins, são apenas etapas evolutivas na base do eterno Ser. São como ondas que se erguem e recaem no seio do mar."

(Lao-Tse - Tao Te King, o Livro Que Revela Deus - Tradução e Notas de Huberto Rohden - Fundação Alvorada para o Livro Educacional, Terceira Edição Ilustrada - p. 113/114)


quinta-feira, 1 de agosto de 2019

SOFRIMENTO CONSCIENTE E SOFRIMENTO INCONSCIENTE

"Sofrimento é luto, incerteza, a sensação de absoluta solidão. Há o sofrimento da morte, de não ser capaz de se realizar, de não ser reconhecido, de amar e não ser correspondido. Há inúmeras formas de sofrimento e, sem entendê-lo, não haverá fim para o conflito, para a infelicidade, para o esforço diário da corrupção e da deterioração. 

Há o sofrimento consciente, e há também o inconsciente, o sofrimento que parece não ter base, não ter causa imediata. A maioria de nós conhece o sofrimento consciente - e sabemos lidar com ele. Ou fugimos dele mediante a crença religiosa ou o racionalizamos; ou tomamos algum tipo de droga, intelectual ou física; ou distraímos nossa atenção com palavras, diversões, entretenimento superficial. Fazemos tudo isso, e ainda assim não conseguimos nos livrar do sofrimento consciente. 

O sofrimento inconsciente, nós herdamos ao longo dos séculos. O homem sempre buscou superar essa coisa extraordinária chamada sofrimento, luto, infelicidade. Mas mesmo quando está superficialmente feliz e tem tudo o que quer, no fundo do insconsciente ainda existem as raízes do sofrimento. Portanto, quando falamos sobre o fim do sofrimento, nos referimos ao fim de todo ele, consciente e inconsciente.

Para pôr fim ao sofrimento devemos ter uma mente muito clara, muito simples. A simplicidade não é uma mera ideia. Ser simples exige muita inteligência e sensibilidade."

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil, São Paulo, 2016 - p. 225)


terça-feira, 25 de junho de 2019

O MOMENTO DA MORTE

"Lembre-se de que todos os hábitos e tendências acumulados na base da nossa mente ordinária estão prontos para ser ativados por qualquer influência. Sabemos que basta a menor provocação para trazer as nossas reações instintivas e habituais à superfície. Isso é especialmente verdadeiro no momento da morte. O Dalai Lama explica:

No momento da morte, as atitudes com que temos familiaridade há muito tempo impõem-se e determinam o renascimento. Por essa mesma razão, o eu gera um forte apego, já que tememos que esse eu esteja se tornando inexistente. Tal apego serve como elo de conexão com o estado intermediário entre as vidas, enquanto o desejo de um corpo age por sua vez como causa que estabelece o corpo do ser que está no estado intermediário (bardo).

Desse modo, o estado da nossa mente no instante da morte é absolutamente importante. Se morremos com a mente estruturada de maneira positiva podemos melhorar nosso próximo nascimento, apesar do nosso carma negativo. E se estamos aborrecidos e angustiados, isso exerce um efeito prejudicial, mesmo que tenhamos vivido bem nossa vida. Isso significa que o último pensamento ou emoção que temos antes de morrer tem um efeito determinante e extremamente poderoso no nosso futuro imediato. Assim como a mente de um louco está quase sempre ocupada por uma obsessão que volta de tempo em tempo, no instante da morte também nossa mente está totalmente vulnerável e exposta a quaisquer pensamentos que então nos preocupem. Esse último pensamento ou emoção que tempos pode ser ampliado além de toda proporção e impregnar toda nossa percepção. É por isso que os mestres afirmam que a qualidade da atmosfera que nos cerca quando morremos é crucial. Com os nossos amigos e parentes devemos fazer tudo o que estiver ao alcance para inspirar emoções positivas e sentimentos sagrados como amor, compaixão e devoção, e igualmente ajudá-los a 'abandonar toda possessividade, anseio e apego'."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Palas Athena, São Paulo, 2.000 - p. 286/287)


quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

ESTA VIDA: O BARDO NATURAL

"Vamos explorar o primeiro dos Quatro Bardos, o bardo natural desta vida, e todas as suas muitas implicações; (...) O bardo natural desta vida compreende todo o período da nossa vida que vai do nascimento à morte. Seus ensinamentos deixam claro para nós porque esse bardo é uma oportunidade tão preciosa, o que realmente significa ser um ser humano e o que há de mais importante - o único essencial - a ser feito com a dádiva desta vida humana. 

Os mestres nos dizem que há um aspecto das nossas mentes que é seu terreno fundamental, um estado chamado de 'a base da mente ordinária'. Longchenpa, o destacado mestre tibetano do século XIV, descreve-o deste modo: 'É um estado não iluminado e neutro que pertence à categoria da mente e dos eventos mentais, e que se tornou a base ou fundação de todos os carmas e 'engramas' do samsara e do nirvana'.¹ Ele funciona como um armazém em que são estocados como sementes todas as impressões das ações passadas causadas por nossas emoções negativas. Quando surgem as condições propícias, elas germinam e manifestam-se como circunstâncias e situações da nossa vida.

Imagine essa base da mente ordinária como um banco no qual o carma é depositado na forma de impressões e tendências habituais. Se temos o hábito de pensar seguindo um padrão característico, positivo ou negativo, então essas tendências serão acionadas e provocadas muito facilmente, repetindo-se de maneira contínua e recorrente. Com essa repetição constante, nossas inclinações e hábitos entrincheiram-se cada vez mais e persistem, acumulando mais e mais poder, mesmo quando estamos dormindo. É dessa forma que chegam a determinar nossa vida, nossa morte e nosso renascimento.

Sempre nos perguntamos: 'Como será quando eu morrer?' A resposta a isso é que seja qual for o estado da mente que temos agora, seja lá qual for o tipo de pessoa que somos agora, assim seremos no momento da morte, se não mudarmos. Por isso é de importância tão absoluta usar esta vida para purificar nosso fluxo mental e, por decorrência, nosso ser e nosso caráter fundamentais, enquanto podemos."

¹ Tulku Thondup, Buddha Mind (Ithaca, Nova York: Snow Lion, 989), 211.

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 152/153

sábado, 20 de janeiro de 2018

O MAIOR DOS MALES ENTRE OS HOMENS CONSTITUI IGNORÂNCIA RELATIVAMENTE A DEUS

"1 'Corai, ó humanos, ébrios que sois, tendo bebido até a última gota do vinho sem mistura da doutrina da ignorância, que não mais podeis conter, mas que já estais prestes a vomitar. Deixai a embriaguez, parai! 

'Olhai para o alto com os olhos do coração. E se não o podeis todos, pelo menos os que o podem. Pois o mal da ignorância inunda toda a terra, corrompe a alma aprisionada no corpo, sem permitir-lhe lançar a âncora no porto de salvação. Não vos deixeis arrastar pela violência da onda, mas, aproveitando-vos da contra-corrente, vós que podeis aportar ao porto de salvação, lançai a âncora e buscai um guia que vos mostre a rota até as portas do conhecimento, onde a luz flamejante brilha, livre de toda obscuridade, onde ninguém está embriagado, mas todos permanecem sóbrios, elevando o olhar do coração para Aquele que quer ser visto. Pois não se deixa ouvir nem descrever e não é visível para os olhos corporais, mas somente ao intelecto e ao coração. 

2 'Mas, agora, é necessário que laceres pouco a pouco a túnica que te reveste, o tecido da corrupção, o suporte da malícia, a cadeia da corrupção, a prisão tenebrosa, a morte vivente, o cadáver sensível, a tumba que levas para todos os lados contigo, o assaltante que habita em tua casa, o companheiro que pelas coisas que ama te odeia e pelas coisas que odeia, tem ciúme de ti. 

3 'Tal é o inimigo que revestiste como uma túnica, que te estrangula e atira sob si, de modo que, tendo elevado os olhos e contemplado a beleza da verdade e o bem que nela reside, venhas a odiar a malícia do inimigo, tendo compreendido todas as ciladas que preparou contra ti, tornando insensíveis os órgãos dos sentidos que não aparecem e não são tidos por tal, tendo-os obstruído pela massa da matéria e preenchido de uma voluptuosidade odiosa, a fim de que não possuas ouvidos para as coisas que deves ouvir, nem visão para as coisas que precisas ver'"

(Hermes Trismegisto - Corpus Hermeticum - p. 12/13)


domingo, 7 de janeiro de 2018

O EGO E O CASTIGO KÁRMICO

"P: Se depois da destruição de meu corpo meu Ego some em um estado de inconsciência completa, onde terá lugar o castigo pelos pecados cometidos durante minha vida passada? 

T: Nossa filosofia ensina que somente em sua próxima encarnação o Ego encontra o castigo kármico. Depois da morte, apenas recebe o prêmio dos sofrimentos imerecidos que experimentou durante sua encarnação passada⁷. Todo o castigo depois da morte - até para um materialista - consiste, portanto, em não receber recompensa alguma e na perda total da consciência da própria felicidade e descanso. Karma é filho do Ego terrestre, o fruto das ações da árvore que constitui a personalidade objetiva visível para todos, assim como o fruto de todos os pensamentos e até dos motivos do 'Eu' espiritual, mas Karma é também a mãe carinhosa e eterna que cura as feridas infligidas por ela durante a vida anterior, sem torturar aquele Ego, causando-lhe novos sofrimentos. Se se pode dizer que não existe nenhum sofrimento - mental ou físico - na vida de um mortal, que não seja fruto e consequência direta de algum pecado cometido em uma existência prévia; por outro lado, o homem não conservando a menor recordação disto em sua vida atual, considera que não merece tal castigo e que está sofrendo por um crime que não é seu. Basta isso para que a alma humana tenha direito ao consolo, descanso e bem-aventurança mais completos, em sua existência post-mortem

Para nossos Egos espirituais a morte sempre se apresenta como salvadora e amiga. Para o materialista, que não foi mau apesar de seu materialismo, será o intervalo entre as duas vidas semelhante ao sono tranqüilo e não interrompido de uma criança, ou seja, inteiramente livre de sonhos ou cheio de imagens de que não tem percepção definida; enquanto que para o mortal comum, será um sonho tão vivo e animado como a própria vida, cheio de felicidade e visões reais."  

⁷ Alguns teósofos discordaram desta frase, mas as palavras são do Mestre, e seu sentido unido à palavra 'imerecidos', é o que foi dado antes. No folheto número 6, da T.P.S. (Sociedade Teosófica de Publicações), empregava-se uma frase com a mesma ideia, de que depois se fez uma crítica em Lúcifer. A palavra era 'desgraçada' e se prestava à crítica que se fez dela; mas a ideia essencial era que os homens sofrem frequentemente por efeito de ações consumadas por outros; efeito que não faz parte essencialmente de seu próprio Karma, e, como é natural, merecem a compensação desses sofrimentos.

(Blavatsky - A Chave da Teosofia - Ed. Três, Rio de Janeiro, 1973 - p. 156/157

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

DE PATINHO FEIO A CISNE ENCANTADO (1ª PARTE)

"Diante de uma experiência tão forte como a morte de um ente querido, duas pessoas podem ter reações totalmente distintas. Um mesmo fato pode significar coisas diferentes, dependendo da moldura preestabelecida pela experiência cultural. Na cultura ocidental e em várias outras, quando alguém morre é motivo de luto, tristeza e desespero por parte dos parentes. Mas, em algumas culturas indígenas a morte é sinônimo de vida nova, e os funerais são momentos alegres e festivos.

Quanto mais sedimentados forem esses padrões culturais, menos flexível é a pessoa. Você deve conhecer algumas pessoas que se movimentam pela vida estritamente dirigidas por esses moldes culturais. Para a maioria dos eventos, elas já possuem uma reação predeterminada. Elas deixam pouco espaço para a criatividade, preferindo ter mais segurança do que liberdade. A mudança, o novo, o arriscado são vistos com grande desconfiança. E a experiência de viver, para essas pessoas, passa por um denso filtro cultural. Elas se assustam com as grandes transformações do mundo contemporâneo.

Mas você já sabe que as mudanças continuarão ocorrendo e cada vez num ritmo mais acelerado. Passamos milhares de anos cultivando a terra como forma básica de subsistência, mas a Era da Indústria não chegou a completar dois séculos e já estamos em plena Era da Informação. (...) Portanto, quanto maior for nossa abertura para mudanças, melhor nos adaptaremos ao mundo do futuro. Não só teremos condições de entender melhor o mundo, mas de viver de forma mais produtiva e saudável. 

Você já conhece a fábula do patinho feio, que era feio apenas enquanto vivia com os patos. Quando cresceu, percebeu que era um cisne, muito mais belo que os patos com quem se comparava antes. O que mudou? Seu contexto de comparação. A resignificação ou reestruturação é a habilidade de colocar um evento corriqueiro dentro de uma moldura mais útil ou prazerosa. Por isso, é um dos elementos básicos da criatividade.

O inventor da máquina de costura passou, por muito tempo, tentando inventar uma máquina que utilizava uma agulha comum de costurar, isto é, uma agulha onde a linha passava pela extremidade menos afiada. Depois de um sonho, durante o qual era atacado por selvagens que portavam lanças perfuradas, ele conseguiu resolver a questão. As lanças estavam perfuradas justamente nas pontas. Daí ele passou a utilizar-se de agulhas com orifícios nas pontas. Do contexto do sonho ele passou para sua realidade e inventou a máquina de costurar. (...)"

(Dr. Ômar Souki - A Essência do Otimismo, Ed. Martin Claret, São Paulo, 2002 -  p. 84/85)

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

PARADOXOS

"Reconhecemos todos que a proposta de Cristo e de todos os grandes Mestres e Encarnações Divinas são evidentes paradoxos.

Vejamos:

É dando que enriquecemos.

É humildando-nos que realmente crescemos.

Renunciando é que conseguimos alcançar.

Morrendo é que vivemos para a vida eterna.

Quem quer salvar sua vida perdê-la-á.

Ao dar a outra face - igualzinho a Gandhi - é que vencemos a batalha.

Tornando-nos servos do Senhor é que podemos viver a mais perfeita e irrestrita liberdade.

Voltando a ser crianças, alcançamos a plena maturidade.

Quem usa a violência sempre sairá vencido.

Para a horizontalidade da lógica - a tão incensada lógica humana - tudo isto é absurdo.

É com absurdos que Eles preferem acordar os surdos.

Que nos ajude, Senhor, a ter 'ouvidos de ouvir'."

(Hermógenes - Deus investe em você - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1995 - p. 196/197)


quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

OS BARDOS (PARTE FINAL)

"(...) 2. O bardo doloroso da morte se estende do início do processo de morrer até o fim do que é conhecido como 'respiração interior'; esta, por sua vez, culmina no despontar da natureza da mente, o que chamamos a 'Luminosidade Base', no momento da morte.

3. O bardo luminoso do dharmata abrange a experiência pós-morte da radiância da natureza da mente, a luminosidade ou 'Clara Luz', que se manifesta como som, cor e luz.

4. o bardo cármico do vir a ser é o que em geral denominamos 'bardo ou estado intermediário', que dura até o momento em que assumimos um novo nascimento.

O que distingue e define cada um dos bardos é que todos eles são intervalos ou períodos em que a possibilidade do despertar está particularmente presente. As oportunidades de liberação estão ocorrendo de maneira contínua e ininterrupta ao longo da vida e da morte; os ensinamentos do bardo são a chave ou a ferramenta que nos permitirá descobrir ou reconhecer essas oportunidades e fazer o uso mais pleno delas."

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 143/144)


terça-feira, 19 de dezembro de 2017

OS BARDOS (1ª PARTE)

"Devido à popularidade do Livro Tibetano dos Mortos, as pessoas comumente associam a palavra bardo com a morte. É verdade que 'bardo' é usado na linguagem diária dos tibetanos para designar o estado intermediário entre a morte e o renascimento, mas ele tem um sentido muito mais amplo e profundo. É nos ensinamentos sobre o bardo que, talvez mais do que em qualquer outro lugar, podemos ver como é profunda e abrangente a sabedoria dos budas sobre a vida e a morte, e como é inseparável essa coisa chamada 'vida' daquilo que chamamos 'morte', quando vistas e entendidas claramente a partir da perspectiva da iluminação.

Podemos dividir o conjunto da nossa existência em quatro realidades: vida, o morrer e a morte, o pós-morte e o renascimento. São esses os Quadro Bardos:
  • o bardo 'natural' desta vida
  • o bardo 'doloroso' da morte
  • o bardo 'luminoso' do dharmata
  • o bardo 'cármico' do vir a ser
1. O bardo natural desta vida abarca todo o período entre o nascimento e a morte. No nosso presente estado de conhecimento, isso pode parecer mais do que apenas um bardo, uma transição. Mas se refletirmos sobre isso ficará claro que o tempo que dispomos nesta vida, se comparado com a enorme extensão e duração da nossa história cármica, é de fato relativamente curto. Os ensinamentos nos dizem uma e outra vez que o bardo desta vida é o único momento, e portanto o melhor, para nos prepararmos para a morte: familiarizando-nos com os ensinamentos e estabilizando a prática. (...)"

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 142/143)


sábado, 2 de dezembro de 2017

A SABEDORIA DA AUSÊNCIA DO EGO (1ª PARTE)

"Às vezes imagino o que sentiria o habitante de um vilarejo tibetano se, de repente, você o trouxesse para uma cidade moderna com toda sua sofisticada tecnologia. Ele talvez pensasse que havia morrido e que se encontrava agora no estado de bardo. Incrédulo, olharia boquiaberto para os aviões voando no céu acima dele, ou para alguém falando ao telefone com uma pessoa do outro lado do mundo. Pensaria estar testemunhando milagres. E no entanto tudo isso parece normal a alguém morando no Ocidente, no mundo moderno, tendo sido educado à maneira ocidental, que fornece as explicações científicas sobre essas coisas, passo a passo.

Do mesmo modo, no budismo tibetano há uma educação espiritual básica, normal e elementar, um treinamento espiritual completo para o bardo natural desta vida que dá a você o vocabulário essencial, o ABC da mente. A base desse treinamento são as chamadas 'três ferramentas da sabedoria': a sabedoria de ouvir e escutar, a sabedoria da contemplação e da reflexão, e a sabedoria da meditação. Através delas somos levados a despertar para a nossa verdadeira natureza, a descobrir a incorporar a alegria e a liberdade daquilo que de fato somos, que podemos chamar de 'sabedoria da ausência do ego'.

Imagine uma pessoa que subitamente acorda num hospital depois de sofrer um acidente de carro na estrada, e percebe que está com amnésia total. Por fora, tudo está intacto: ela tem o mesmo rosto, a mesma forma, os sentidos e a mente estão lá, mas não tem a menor ideia ou o menor vestígio de memória de quem é. Exatamente do mesmo modo, não conseguimos nos lembrar da nossa verdadeira identidade, nossa natureza original. Freneticamente e na realidade apavorados, procuramos e improvisamos outra identidade, uma em que possamos nos agarrar com todo o desespero de alguém que vai cair num abismo. Essa identidade falsa e assumida em ignorância é o 'ego'.

Desse modo, o ego é a ausência do conhecimento verdadeiro de quem somos, juntamente com o seu resultado: um malfadado apego, mantido não importa a que preço, a uma imagem remendada e improvidada de nós mesmos, um eu inevitavelmente charlatanesco e camaleônico que está sempre mudando e que precisa mudar para manter viva a ficção da sua existência. Em tibetano, o ego é chamado dak dzin, que quer dizer 'agarrado a um eu'. O ego é assim definido como um movimento incessante de agarrar-se em uma noção ilusória de 'eu' e 'meu', de si mesmo e de outro, e em todos os conceitos, ideias, desejos e atividades que sustentam essa falsa construção. Esse agarrar-se é fútil desde o início e condenado à frustração, uma vez que não tem nenhuma base ou verdade, e aquilo a que nos agarramos é, por sua própria natureza, impossível de reter. O fato de que precisamos nos agarrar e continuar agarrados a alguma coisa mostra que nas profundezas do nosso ser sabemos que o eu não existe inerentemente. Desse conhecimento secreto e assustador nascem todas as nossas inseguranças fundamentais e o nosso medo. (...)" 

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 158/159


sábado, 21 de outubro de 2017

SOBRE O MEDO (PARTE FINAL)

"(...) Ora, de que temos medo? Temos medo de um fato ou de uma ideia relativa ao fato? Temos medo da coisa, tal qual, ou temos medo daquilo que pensamos que ela é? Consideremos, por exemplo, a morte. Temos medo do fato da morte ou da ideia da morte? O fato é uma coisa e a ideia outra. Tenho medo da palavra 'morte', ou do fato em si? Porque tenho medo da palavra, da ideia, nunca chego a compreender o fato, nunca considero o fato, nunca estou em relação direta com o fato. Só quando estou em completa comunhão com o fato, não há temor. Se não estou em comunhão com o fato, há temor. E não estou em comunhão com o fato enquanto tenho uma ideia, uma opinião, uma teoria, relativamente ao fato. É necessário, portanto, que eu me esclareça bem se estou com medo da palavra, da ideia, ou do fato. Se me vejo frente a frente com o fato, nada há que compreender, nele; estou em presença do fato, e sei como proceder. Se tenho medo da palavra, devo então compreender a palavra, examinar todo o processo do qual decorre a significação da palavra, do termo. 

Por exemplo: uma pessoa teme a solidão, a dor, o sofrimento da solidão. Ora, esse medo existe porque a pessoa, em verdade, nunca encarou a solidão, nunca esteve em comunhão direta com ela. No momento em que alguém está completamente aberto para o fato da solidão, compreende o que ela é; mas se só se tem uma ideia, uma opinião a respeito do fato, baseado em conhecimento prévio, essa ideia, essa opinião, esse conhecimento prévio relativo ao fato, cria o temor. O temor, evidentemente, é produto do dar nome, do designar, do projetar um símbolo para representar o fato; isto é, o temor não é independente da palavra, do termo. 

Tenho uma reação, digamos, ligada à solidão, isto é, digo que tenho medo de ser nada. Temo o fato em si, ou esse temor é despertado por um conhecimento prévio do fato, sendo esse conhecimento a palavra, o símbolo, a imagem? Como pode haver temor em relação a um fato? Quando estou frente a frente a um fato, em comunhão direta com ele, posso olhá-lo, observá-lo, por conseguinte, não há medo deste fato. O que causa medo é minha apreensão relativamente ao fato, o que o fato possa ser ou fazer. 

Minha opinião, minha ideia, minha experiência, meu conhecimento relativo ao fato é que cria o temor. Enquanto houver verbalização do fato, que significa dar um nome ao fato e por conseguinte identificar-se com ele ou condená-lo; enquanto o pensamento estiver julgando o fato, na qualidade de observador, haverá temor. O pensamento é produto do passado, só pode existir por efeito da verbalização, dos símbolos, das imagens. Enquanto o pensamento estiver considerando ou traduzindo o fato, tem de haver temor. 

Assim, é a mente que cria o temor, sendo a mente o processo do pensar. Pensar é verbalização. Não se pode pensar sem palavras, sem símbolos, imagens. Estas imagens, que são nossos preconceitos, que é o conhecimento antecipado, as apreensões da mente, projetam-se sobre o fato, gerando o temor. Só há um estado livre de temor, quando a mente é capaz de observar o fato sem o traduzir, sem lhe dar nome, sem lhe pôr um rótulo. Isto é deveras difícil, porque os sentimentos, as reações, as ansiedades que temos, são logo identificados pela mente e ligados a uma palavra. O sentimento de ciúme é identificado por esta palavra. É possível não identificar um sentimento, olhar um sentimento sem lhe dar nome algum? E a atribuição de um nome ao sentimento, que lhe dá continuidade, que lhe dá força. No momento em que dais um nome à coisa que chamais temor, dais-lhe força. Mas se puderdes encarar o sentimento sem lhe aplicar um termo, vê-lo-eis dissipar-se. Por conseguinte, se desejamos ficar completamente livres do medo, é essencial compreendermos integralmente este processo de projetar símbolos, imagens e dar nomes aos fatos. Só pode haver libertação do temor, quando há autoconhecimento. O autoconhecimento é o começo da sabedoria, a qual é o fim do temor."

(J. Krishnamurti - A Primeira e Última Liberdade - Ed. Cultrix, São Paulo - p. 157/159
http://www.pensamento-cultrix.com.br/


domingo, 15 de outubro de 2017

VOCÊ ACREDITA NUMA VIDA DEPOIS DESTA?

"Sempre me intrigou que alguns mestres budistas que eu conhecia fizessem uma simples pergunta às pessoas que se aproximavam deles buscando ensinamento: 'Você acredita numa vida depois desta?' Não se trata de saber se a pessoa acredita nisso como uma proposição filosófica, mas se sente isso no fundo do seu coração. O mestre sabe que, se alguém acredita numa vida futura, sua visão de mundo será diferente e terá um outro sentido de responsabilidade e moralidade pessoal. O que os mestres suspeitam é que aqueles que não têm uma crença firme numa vida após a morte, vão criar uma sociedade fixada em resultados a curto prazo, sem qualquer preocupação com as consequências dos seus atos. Seria essa a principal razão pela qual criamos um mundo brutal como este em que vivemos, um mundo em que a verdadeira compaixão está quase ausente?

Às vezes penso que os países mais poderosos e influentes do mundo desenvolvido são como o reino dos deuses descrito nos ensinamentos budistas. Diz-se que esses deuses vivem suas vidas em meio a um luxo fabuloso, mergulhados em todos os prazeres imagináveis, sem um único pensamento sobre a dimensão espiritual da vida. Todos parecem muito felizes até que a morte se aproxima, e aí alguns sinais inesperados de desintegração aparecem. Então, as esposas e amantes desses deuses não mais se atrevem a se aproximar deles, atirando-lhes flores à distância, com preces ocasionais para que eles renasçam novamente como deuses. Nenhuma de suas lembranças de felicidade ou conforto pode agora protegê-los do sofrimento que eles enfrentam; isso só faz com que fiquem mais desesperados, de tal modo que esses deuses são deixados para morrerem sozinhos e miseravelmente.

O destino dos deuses me faz pensar na maneira como os velhos, os doentes e os que estão morrendo são tratados hoje. Nossa sociedade é obcecada por juventude, sexo e poder, e nós nos esquivamos da velhice e da decadência. Não é terrível que desprezemos as pessoas idosas quando sua vida de trabalho se encerrou e elas já não mais pareçam úteis? Não é perturbador que nós as joguemos em asilos, onde morrem solitárias e abandonadas? (...)"

(Sogyal Rinpoche - O Livro Tibetano do Viver e do Morrer - Ed. Talento/Ed. Palas Athena, 1999 - p. 26/27

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

O MUNDO ASTRAL TEM MUITAS ESFERAS

"Quando acordamos de manhã, vemos que somos as mesmas pessoas que éramos antes de dormir. Igualmente, quando nós e nossos entes queridos acordamos no mundo astral, após a morte, somos exatamente os mesmos; só que, de modo geral, podemos ter uma aparência mais jovem e estar livres de doenças. 

Não nos tornamos anjos simplesmente por morrer. Se somos anjos agora, também o seremos no além. Se temos uma personalidade obscura e negativa, após a morte seremos do mesmo jeito. Assim como neste mundo existem favelas e paisagens bonitas, o mesmo acontece no outro mundo. Dependendo de como você viveu na Terra - se foi uma vida boa e pura ou má e feia - você irá para uma região melhor ou mais escura no mundo astral. Jesus falou dessas diferentes regiões: 'Na casa de meu Pai há muitas moradas'?⁷

Os planos astrais possuem várias atmosferas ou vibrações e cada alma que lá chega, proveniente da Terra, é atraída pela atmosfera que estiver em maior harmonia com sua vibração particular. Assim como os peixes vivem na água, os vermes abaixo do solo, o ser humano na superfície e os pássaros no ar, também as almas no mundo astral vivem na esfera que for mais adequada à sua vibração. Quanto mais nobre e espiritual for uma pessoa na Terra, mais elevada a esfera para a qual será atraída, e maior será sua liberdade, alegria e experiência de beleza.

Nos planetas astrais, os seres não dependem de ar ou eletricidade para existir; eles se alimentam de raios multicoloridos de luz. Há mais liberdade no mundo astral do que no mundo físico. Lá não há ossos para serem quebrados, pois não existem sólidos; tudo é feito de raios luminosos. E tudo é movido pelo poder do pensamento. Quando as almas no astral desejam fazer um jardim, basta querer, que o jardim se torna realidade, e ele aparece e permanece enquanto se quiser. Quando a alma quer que o jardim desapareça, ele se vai."

⁷ João 14:2.

(Paramahansa Yogananda - O Romance com Deus - Self-Realization Fellowship - p. 293/294)